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Acumulação Primitiva gênese do progresso, manutenção do Status Quo ou começo da transição para um mundo de igualdade

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO 
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS 
CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS 
 
 
 
 
Acumulação Primitiva: gênese do progresso, manutenção do 
Status Quo ou começo da transição para um mundo de igualdade? 
 
 
 
Trabalho apresentado como exigência parcial para 
obtenção de nota na disciplina de Colonialismo, Guerras e 
Descolonização, do curso de Relações Internacionais da 
Faculdade de Ciências Sociais, ministrada pelo Prof. Antônio 
Rago Filho. 
 
 
 
 
Henrique Lanzarotti Nolasco Prates de Rezende 
RA:00181998 
 
 
 
 
 
 
São Paulo 
 2019 
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Sumário 
 
1. Introdução............................................................................................................................2 
2. Uma Breve Biografia de Karl Marx...................................................................................3 
3. Resumo do Livro “O Capital”............................................................................................5 
4. Resenha do Capítulo “A Chamada Acumulação Primitiva”...........................................8 
4.1. O Segredo da Acumulação Primitiva..........................................................................8 
4.2. Expropriação dos Camponeses...................................................................................9 
4.3. Leis Sanguinárias.........................................................................................................9 
4.4. Gênese do Arrendatário Capitalista.........................................................................10 
4.5. Repercussões da Revolução Agrícola na Indústria..................................................10 
4.6. Gênese do Capitalista Industrial...............................................................................11 
4.7. Tendência Histórica da Acumulação Primitiva.......................................................11 
5. Conclusão...........................................................................................................................13 
5.1. Gênese do Progresso..................................................................................................13 
5.2. Manutenção do Status Quo.......................................................................................14 
5.3. Começo Transição para um Mundo de Igualdade.................................................14 
Bibliografia..............................................................................................................................17 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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1. Introdução 
 
Hoje a humanidade chegou em um patamar de desigualdade e de concentração de capital 
nunca visto, levando à miséria de bilhões de pessoas e apenas alguns poucos milhões podem 
ser considerados milionários. Isso é causado pelo modo de produção capitalista. A sociedade 
se vê com esse sistema desde o final do século XVIII, após a Revolução Francesa1 e a Primeira 
Revolução Industrial2. 
Para que ocorresse a gênese do capitalismo foi necessário a formulação de todo um 
processo prévio a este, para que se tivesse as condições necessárias para a produção e 
reprodução do capital. Esse processo é chamado de Acumulação Primitiva. 
A sociedade a partir da Acumulação Primitiva foi transformada completamente em suas 
estruturas, com formas de expropriação do trabalhador de seu meio de trabalho, violência dos 
mais diversos tipos, formação de uma nova elite e, talvez, sua própria estrutura seja sua ruína. 
Primeiro, antes de entrar na discussão sobre a Acumulação Primitiva, é necessário 
introduzir quem primeiro usou o termo, Karl Marx, a fim de se entender um pouco sua trajetória 
e em qual momento ele escreveu suas obras. Em seguida um breve resumo sobre o livro “O 
Capital” e, mais especificamente, uma resenha do capítulo “A Chamada Acumulação 
Primitiva”, sendo feita uma análise e reflexão do capítulo, a fim de se entender melhor sobre a 
acumulação primitiva. Por fim, uma conclusão sobre os conceitos aprendido e reflexões geradas 
ao se estudar o capítulo e no decorrer dr todo o trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 Revolução que se deu no ano de 1789, cujas causas foram o grande descontentamento social com a aristocracia 
francesa e o Clero. Seu estopim foi uma crise de falta de comida, gerada por um grande período de frio, impedindo 
o cultivo. Tinha como princípio e lema a “Igualdade, Liberdade e Fraternidade”. 
2 Processo de modernização do modo de produção, no período entre 1760 e 1820. passando da produção artesanal 
e caseira para a manufatura de caráter fabril (com máquinas), voltado para a produção têxtil em seu primeiro 
momento. 
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2. Uma Breve Biografia de Karl Marx 
 
Marx nasceu em 1813 na antiga Prússia, um reino da ainda fragmentada Alemanha. 
Filho de Herschel Marx, advogado e descendente de judeu, sendo perseguido pelo reinado de 
Guilhemer III, e Henriette Pressburg. Em 1835 ingressou no curso de Direito da Universidade 
de Bonn, onde iniciou sua vida dentro das lutas políticas, através dos movimentos estudantis. 
Já em 1836 se transferiu para a Universidade de Berlim a fim de estudar Filosofia, o que 
definiria seu caminho. Lá Marx entra em contato com as ideias de Hegel, se alinhando com os 
“hegelianos de esquerda”, analisando questões sociais, principalmente a necessidade de 
transformação da burguesia. Doutora-se em Filosofia no ano de 1841 pela Universidade de 
Jena, com a tese “A diferença entre a filosofia da natureza de Demócrito e a de Epicuro”. 
Devido à sua ideologia alinhada com os ideais de Hegel, lhe é negado a nomeação para lecionar 
na universidade e sofre censura ao tentar escrever artigos para os “Anais Alemães”. 
Em 1842 muda para Colônia e começa a dirigir o jornal “Gazeta Renana”, que é fechado 
pelo governo após uma matéria sobre a monarquia russa. Porém, lá conhece Friedrich Engels, 
que seria um grande parceiro para desenvolver seus futuros projetos. Cria a revista “Anais 
Franco Alemãs” e publica artigos de Engels, além de produções próprias como o texto “Sobre 
a Questão Judaica”. Em 1843 se casa com Jenny von Westphalen e em 1844 se mudam para 
Paris e começa a escrever para o jornal “Vonaerts” que contestava o governo prussiano. Causa 
grande descontentamento do imperador Frederico Guilherme V, que pressionou o governo 
francês a expulsar quem colaborava com as publicações. Em 1845 foi obrigado a sair da França 
e muda-se para a Bélgica. 
Então começa a escrever sobre o socialismo e funda a “Sociedade dos Trabalhadores 
Alemães”. Mais tarde se junta, com Engels, à “Liga dos Justos”, que tinha como objetivo 
estabelecer uma república com os ideias iluministas3. Em 1848 Marx e Engels escrevem o 
“Manifesto do Partido Comunista”, que foi encomendado pela Liga dos Justos. O Manifesto 
critica fortemente o capitalismo, além de mostrarem o movimento operário a apelarem pela 
união de todos os operários do mundo. Também é onde são esboçadas as ideias de luta de classe 
e do materialismo histórico, dois conceitos fundamentais das teorias de Marx. 
Após escreverem e difundirem o livrete, Karl Marx é preso e expulso da Bélgica, se 
instalando em Londres posteriormente e se torna correspondente do “New York Tribune”. Nesse 
período escreveu “O 18 de Brumário de Luís Bonaparte”, que analisa os acontecimentos da 
 
3 Liberdade, igualdade e fraternidade. 
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França que levaram ao golpe de Napoleão III. Também começou a se dedicar mais aos estudos 
sobre economia. Em 1864 Marx funda a “Associação Internacional dos Trabalhadores”, 
comumente conhecida como “Primeira Internacional”. 
Em 1867 publica sua principal e obra, “O Capital”, com ajuda de seu amigo, Engels. O 
Capital é a síntese das críticas de Marx ao sistema econômico capitalista e seu funcionamento. 
Expõe sobre a exploração do trabalhador assalariado em que o capitalismo está baseado, que 
acaba porproduzir o excedente que fica nas mãos do capitalista, conceitos de Valor, Mais-
Valia, Fetichismo da Mercadoria e, a que será retratada neste trabalho, a Acumulação Primitiva. 
Sua esposa morre em 1881, fazendo com que Marx fique deprimido e desenvolva 
bronquite e pleurisia, que causaram a sua morte em 1883, na cidade de Londres. 
Posteriormente, Marx teve grande impacto na política mundial, além dos estudos sociais 
e econômicos. Influenciou diversas vertentes políticas, como o marxismo-leninismo, maoísmo 
e marxismo libertário. Contribuiu fortemente para a sociologia moderna, juntamente com Émile 
Durkheim e Max Weber, sendo citado pro Friedrich Nietzsche e Sigmund Freud. Rejeitou o 
positivismo para desenvolver os estudos das ciências da sociedade. Seu legado é 
importantíssimo para os movimentos políticos, econômicos e científicos do século XXI, mas 
principalmente do século XX, por ter sido influência dos movimentos socialistas e comunistas 
que tiveram força por quase toda a totalidade do século. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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3. Resumo do Livro “O Capital” 
 
O Capital pode ser considerada como a obra prima de Karl Marx, pois estuda de forma 
precisa e detalhada as raízes e as causas da desigualdade social e econômica, além de ser uma 
análise crítica e sistemática sobre a economia política, consequentemente sobre a estrutura 
capitalista. 
O livro trata principalmente de 7 assuntos intimamente interligados: Os Bens e seu 
Valor; Produtividade do Trabalho; O Trabalho como Mercadoria; O Fetichismo da Mercadoria; 
A Circulação de Mercadorias e Dinheiro; A Acumulação de Capital; A Luta de Classe; e A 
Acumulação Primitiva. 
Os bens são a base da riqueza capitalista, sendo mercadorias que satisfazem as 
necessidades e desejos do ser humano. Pode ser consumível, como roupas, ou não consumíveis, 
como cadeiras e até mesmo máquinas de produção. Existem dois tipos de valores que o produto 
carrega, o Valor de Uso e o Valor de Troca. O Valor de Uso é a utilidade que determinado 
produto tem e é independente da quantidade de trabalho exigida para sua produção. O Valor de 
Troca é a relação de valor entre dois produtos diferentes e tem nele a quantidade de trabalho 
necessária para sua criação. Todos os produtos possuem trabalho embutidos em sua criação, 
sendo ele que atribui valor ao produto e deriva o seu próprio valor do produto. Ademais, o valor 
surge a partir do trabalho abstrato e do tempo necessário para a conclusão do item. 
A produtividade do trabalho influencia diretamente no tempo de produção necessário 
para determinado produto, depende de alguns fatores básicos como a divisão do trabalho, 
especialização do trabalhador e a introdução de máquinas na cadeia produtiva. A divisão do 
trabalho permite que um item seja feito mais rapidamente ao especializar o operário a apenas 
saber realizar uma tarefa da linha de produção, enquanto a introdução de maquinário se dá 
principalmente na forma de esteira, aumentando a eficiência ao ditar a velocidade da produção 
e de transportar mais facilmente o produto após a tarefa ser concluída. 
O trabalho é visto como uma mercadoria após o advento do capitalismo, o que acaba 
levando à “mais-valia” Isso ocorre pois os trabalhadores não possuem os meios de produção 
(máquinas, insumos e local). Então é necessário que o trabalhador passe a vender parte da sua 
força de trabalho, enquanto a outra é doada. A troca que ocorre aqui é entre a mercadoria 
trabalho e um salário, que é apenas necessário passa a sobrevivência do trabalhador - é 
necessário ressaltar que essa troca é feita entre pessoas iguais, mas a troca em si é desigual. A 
mais-valia surge dessa troca injusta, pois é “a diferença entre o valor do produto do trabalho e 
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os custos de produção daquele trabalho, ou seja, a subsistência do trabalhador”. Em outros 
termos, a mais-valia é o lucro do capitalista, sendo o seu valor o grau de exploração do 
trabalhador. O capitalista ganha em cima das horas a mais que o trabalhador despende após as 
horas que cobrem seu salário, sendo que o capitalista tenta aumentar o horário ou a carga de 
trabalho, aumentando a produtividade sem aumento do salário. Também é feita uma 
diferenciação entre o capital constante, que são as máquinas, equipamentos e matérias-primas, 
do capital variável, que é o trabalho convertido em valor no produto. No final, o trabalhador 
recebe dinheiro pelo seu trabalho e não o produto que criou, levando assim à alienação sobre o 
trabalho que faz, pois o resultado não lhes pertence mais. Apesar do trabalho ser parte do ser 
humano, este não se conecta com a atividade que realiza. 
Para se explicar o Fetichismo da Mercadoria, é antes necessário explicar as relações de 
troca antes do capitalismo. Antes as trocas eram de produtos entre produtos, vacas por cadeiras 
artesanais, por exemplo, tendo caráter essencial nas relações humanas. Porém, com o tempo, 
moedas foram feitas, que facilitavam essas trocas, sendo, o seu valor, algo socialmente aceito, 
tornando-se um valor de troca abstrato, ou seja, ele não tem valor real algum, que o represente, 
apenas a ideia de que é dinheiro. Esse conceito é levado para as mercadorias, pois, apesar de 
elas terem todo um trabalho embutido na sua criação, ele não é visto e é ignorado. Isso ocorre 
uma vez que o produto não está mais relacionado diretamente com o trabalho e o trabalhado. 
A circulação de mercadorias apenas ocorre quando pessoas trocam mercadorias por 
dinheiro, pois, após a venda de determinado produto, o dinheiro adquirido será utilizado para a 
compra de outro produto. Ou seja, mercadoria leva a dinheiro que leva a outra mercadoria. No 
final, quem produziu está apenas trocando seu produto pelo produto de outro. Porém, dentro da 
lógica capitalista o dinheiro já tem um papel principal, onde se compra determinado produto na 
intenção de revendê-lo e ganhar mais dinheiro. Ou seja, mais dinheiro leva a mais produtos que 
levam a mais dinheiro. Aqui o que se busca é o valor de troca de determinado produto, não seu 
valor de uso. O capitalista impulsiona essa circulação com o único objetivo de se tornar mais 
rico e não pela sua necessidade. 
Então ocorre a acumulação de capital a partir, principalmente, do reinvestimento do 
capital obtido através da mais-valia, adquirindo mais meios de produção, que, com o aumento 
do nível tecnológico voltado para a produção, ocasionana no aumento da produtividade. Assim, 
forma-se o “exército industrial de reserva”, sendo uma massa de pessoas desempregadas a 
procura de trabalho. Isso proporciona ao capitalista a habilidade de ditar níveis salariais, horas 
e condições de trabalho, pois pode escolher novos e desesperados trabalhadores a qualquer 
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momento. Eles acabam competindo entre si pelas mesmas oportunidades de trabalho. Outra 
forma que permitia aos capitalistas adquirirem mais capital era através da contratação de 
mulheres e crianças, pois recebiam menos salário do que os homens 
Toda essa relação que se da entre o trabalhador e o capitalista mostra como o operário 
é extremamente prejudicado, com a sua situação tendendo a piorar. As condições de trabalho 
nas indústrias eram degradantes, com expedientes de mais de 12 horas, insalubres, descalços e 
mal agasalhados. Juntando esses fatores com o aumento do exército industrial de reserva, 
levaria a um crescimento da insatisfação e uma maior agitação da classe trabalhadora, que 
acabariam por gerar revoltar contra os capitalistas e, a depender, contra os próprios governantes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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4. Resenha do Capítulo “A Chamada Acumulação Primitiva” 
 
Por se tratar do foco do trabalho, esta parte foi separada do resumo feito sobre “O 
Capital”. O capítulo será trabalhado de uma forma diferente, contendo análises e reflexões. 
Inicialmente é necessário falar que Marx expõesobre transição entre o modo de 
produção feudal para o capitalista, mais especificamente os fatores que a possibilitaram, e como 
este foi firmado. Vale ressalta que o caso estudado por ele é o da Inglaterra local onde morava 
quando escrevia o livro. 
 
4.1. O Segredo da Acumulação Primitiva 
 
Após fazer uma comparação das origens do capitalismo com o Pecado Original bíblico 
e nos afirmar que a história da acumulação primitiva não é idílica, é apresentado a problemática 
da qual irá tratar: 
 
A chamada acumulação primitiva é apenas o processo histórico que dissocia o 
trabalhador dos meios de produção. É considerada primitiva porque constitui a pré-
história do capital e do modo de produção capitalista. 
A estrutura econômica da sociedade capitalista nasceu da estrutura econômica da 
sociedade feudal. A decomposição desta liberou elementos para a formação daquela. 
(MARX, 1998, p.836). 
 
Nesse trecho Marx mostra 3 coisas importantes: primeiro que a acumulação primitiva 
serviu para criar a massa de proletariados, fundamental para o capitalismo; segundo que a 
acumulação primitiva é prévia ao capitalismo; e terceiro, o capitalismo adveio das estruturas 
feudais. Sendo assim, já é possível identificar que o surgimento dessa nova sociedade surgiu, 
também, com duas classes, o burguês capitalista, dono dos meios de produção e proprietário do 
dinheiro, e o trabalhador assalariado, que é expropriado dos meios de produção e vende a sua 
força de trabalho para poder sobreviver. 
Ao se “libertar” os trabalhadores das amarras da servidão no mundo feudal, agora eles 
se tornam livres e passiveis de vender sua força de trabalho. Assim, se tem apenas uma 
“transformação da exploração feudal em exploração capitalista” (MARX, 1998, p.837). 
Ainda mais, Marx afirma, pela seguinte citação – “a história da expropriação que 
sofreram foi inscrita a sangue e fogo nos anais da humanidade.” (MARX, 1998, p.837) – como 
esse processo foi violento e injusto com os trabalhadores e a história está marcada e que sempre 
se lembrará do que aconteceu. Tanto o é que enquanto existir seu livro, e as pessoas o lerem, 
essa história será, de fato, lembrada. 
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4.2. Expropriação dos Camponeses 
 
Com o final do feudalismo, corre então a expropriação dos camponeses do seu meio de 
produção, que era a terra, ou seja, a dissociação entre trabalhador e a propriedade. “Com a 
dissolução das vassalagens feudais, é lançada ao mercado de trabalho uma massa de proletários, 
de indivíduos sem direito(...)” (MARX, 1998, p.839). Assim, uma minoria se aproveita para se 
apropriar das terras dos camponeses, pois 
 
(...) o grande senhor feudal criou um proletariado incomparavelmente maior, 
usurpando terras comuns e expulsando os camponeses das terras, os quais possuíam 
direito sobre elas (...) (MARX, 1998, p.840). 
 
O motivo principal para isso era a própria vontade empreendedora da “nova nobreza”, 
que queria transformar as terras de cultivo em pastagem de ovelhas, voltada para a manufatura 
da lã (Marx, 1998, p.840). Os camponeses foram expulsos de forma violenta, com suas casas 
sendo demolidas e não tendo mais onde morar. 
Mais tarde, as terras foram dadas, vendidas a preços baixos ou anexada pelo rei 
Guilherme III4 à nova classe de nobres e capitalistas que surgiram após a Revolução Gloriosa5. 
Após a morte de Guilherme III, novas leis surgem para legitimar o roubo das terras dos 
camponeses, “O roubo assume a forma parlamentar que lhe dão as leis relativas ao cercamento 
das terras comuns (...)” (MARX, 1998, p.846), comumente conhecida como Lei dos 
Cercamento de Terras. 
Marx usa de muitos exemplos e citações para avivar as atrocidades cometidas pelas 
classes dominantes da época contra a população. Todos trazem os mesmos tipos de discurso e 
de ação, mostrando como os burgueses não ligavam para as condições de vida da classe 
trabalhadora, apenas no seu próprio benefício. 
 
4.3. Legislação Sanguinária Contra os Expropriados 
 
Após serem expulsos de suas terras, os camponeses ainda têm que lidar com que os 
tratavam de formas brutais. Atrocidades, desde humilhação pública até morte por 
enforcamento, encontravam respaldo na jurisprudência inglesa, como se já não bastassem os 
 
4 Nascido em 1650, morte em 1702. Reinado de 1689 a 1702. 
5 1688-1689. Fim do absolutismo monárquico. 
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cercamentos. Julgavam aqueles que não trabalhassem como vagabundos, independente das 
condições ou até mesmo das ofertas de trabalho, muitas vezes inexistente. 
 
Assim, a população rural, expropriada e expulsa de suas terras, compelida à 
vagabundagem, foi enquadrada na disciplina exigida pelo sistema de trabalho 
assalariado, por meio de um grotesco terrorismo legalizado que empregava o açoite, 
o ferro em brasa e a tortura. (MARX,1998, p.858). 
 
Ademais, o capítulo mostra como a violência cria uma classe trabalhadora que, por 
tradição e costume, aceita as “leis naturais da produção”, quebrando qualquer resistência com 
o capitalismo plenamente desenvolvido (MARX, 1998, p.859). Dessa forma, os trabalhadores 
se submetem à necessidade de trabalhar para sobreviver, aceitando leis que permitem abusos 
salariais, maior jornada de trabalho e piores condições nas fábricas. Tudo em nome da mais-
valia do capitalista. 
 
4.4. Gênese do Arrendatário Capitalista 
 
Nesta parte, Marx fala um pouco sobre os servos que acabaram por virar arrendatários. 
Estes acabam por enriquecer devido à emprego de trabalhadores assalariados, visando a 
produção agrícola ou de pastoreio, a fim de entregar parte do excedente ao dono da terra 
(MARX, 1998, p.864). Assim surge uma classe de arrendatários capitalistas, que promovem as 
mesmas lógicas e condições das fábricas, enriquecendo rapidamente enquanto empobrecia os 
trabalhadores, através da usurpação das pastagens, contratos de arrendamento leoninos, 
rebaixamento dos salários, elevação dos produtos agrícolas e pagamentos ao dono da terra. 
 
4.5. Repercussões da Revolução Agrícola na Indústria 
 
Aqui é mostrado como a dissociação do camponês de sua terra promove o fim da 
indústria doméstica rural, uma vez que nada mais é produzido no meio rural, fazendo surgir as 
indústrias modernas e o capitalista industrial. Isso acaba, também, por criar um mercado interno 
devido a falta de produção local, sendo necessário consumir dos produtos manufaturados da 
indústria capitalista. 
 
Na realidade, os acontecimentos que transformam os pequenos lavradores em 
assalariados e seus meios de subsistência e meios de trabalho em elementos materiais 
do capital criam ao mesmo tempo, para este, o mercado interno. (MARX, 1998, 
p.869). 
 
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A revolução agrícola, atrelada à indústria moderna, proporcionou o aumento da 
exploração e a elevação da quantidade de camponeses excluídos do meio rural, gerando um 
exército industrial de reserva maior, preciso para o funcionamento da mesma indústria 
capitalista moderna. 
 
4.6. Gênese do Capitalista Industrial 
 
Aqui é mostrado como o capitalista industrial surge, também, a partir da camada de 
comerciantes marítimos, ligados fortemente à exploração das populações nativas e dos recursos 
da América, da Índia e da África. 
 
As descobertas de ouro e prata na América, o extermínio e escravização das 
populações indígenas, forçadas a trabalhar no interior das minas, o início da conquista 
e pilhagem das Índias Orientais e a transformação da África num vasto campo de 
caçada lucrativa são os acontecimentos que marcam os albores da era da produção 
capitalista. Esses processos idílicos são fatores fundamentais da acumulação 
primitiva. (MARX, 1998, p.872). 
 
Na época, o comércio foi fator de suma importância para o surgimento da indústria, uma 
vez que os mecanismos coloniais proporcionaram ferramentas para a apropriação de suas 
riquezas. Porém, esse movimento se deu através de grande brutalidade, se utilizando da 
cristianizaçãoe da superioridade racial. 
 
No período manufatureiro...é a supremacia comercial que proporciona o predomínio 
industrial. Então o sistema colonial desempenhava o papel preponderante. Era o “deus 
estrangeiro” que subia ao altar onde se encontravam os velhos ídolos da Europa (...). 
(MARX, 1998, p.875). 
 
Assim surge a indústria moderna capitalista, onde crianças são escravizadas para 
trabalhar nas fábricas e mulheres são sacrificadas em longas e severas jornadas de trabalho. 
Tudo isso enquanto os capitalistas industriais lucram. 
 
4.7. Tendência Histórica da Acumulação Capitalista 
 
Por fim, Marx questiona a propriedade privada, a vendo como cerne do modo de 
produção capitalista. Esta propriedade, que pertencia ao trabalhador, foi transformada em 
propriedade privada capitalista, onde o proprietário capitalista não trabalhava, apenas explorava 
o trabalho do antigo dono. 
 
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(...) a transformação dos meios de produção individualmente dispersos em meios 
socialmente concentrados, da propriedade minúscula de muitos na propriedade 
gigantesca de poucos; a expropriação da grande massa da população, despojada de 
suas terras, de seus meios de subsistência e de seus instrumentos de trabalho, essa 
terrível e difícil expropriação, constitui a pré-história do capital. (MARX, 1998, 
p.883). 
 
Assim, o movimento de acumulação de propriedade do próprio capitalismo é o que seria 
a sua ruína. Em dado momento, a centralização da propriedade privada estaria na mão de tão 
poucos, levando a ter uma massa infinitamente superior aos capitalistas, o que acabaria gerando 
uma forma de trabalho cooperativa. 
 
À medida que diminui o número dos magnatas capitalistas que usurpam e 
monopolizam todas as vantagens desse processo de transformação, aumentam a 
miséria, a opressão, a escravização, a degradação, a exploração; mas cresce também 
a revolta da classe trabalhadora, cada vez mais numerosa, disciplinada, unida e 
organizada pelo mecanismo do próprio processo capitalista de produção. (MARX, 
1998, p.884). 
 
Surgiria, então, uma classe massiva e predominante, preparada para transformar 
novamente o meio de produção, porém, dessa vez em algo que servisse ao bem de todos os 
trabalhadores. “Antes, houve a expropriação da massa do povo por poucos usurpadores; hoje, 
trata-se da expropriação de poucos usurpadores pela massa do povo.” (MARX, 1998, p.885). 
 
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5. Conclusão 
Após se ler o resumo sobre “O Capital” e, principalmente, do capítulo “A Chamada 
Acumulação Primitiva”, é possível analisar sob três olhares diferentes: como gênese do 
progresso; como manutenção do Status Quo; e como o começo da transição para um mundo de 
igualdade. 
 
5.1. Gênese do Progresso 
 
A primeira leitura é mais simples, pois é a mais disseminada e estudada. Ela trata da 
acumulação primitiva como o início do capitalismo e, consequentemente, o progresso. Em um 
primeiro momento, é impossível observar qualquer progresso na situação da população, 
inclusive houve uma piora nas condições de vida, trabalho e subsistência. 
Mas, se observado a longo prazo, é possível observar tal progresso nos últimos dois 
séculos, no qual se teve grandes avanços. Apesar das condições e violência retratada por Marx, 
a humanidade hoje se encontra nos melhores patamares em relação à pobreza extrema, 
mortalidade infantil, expectativa de vida, saúde, educação básica, alfabetização, liberdade, além 
de todo o desenvolvimento teórico e prático dentro das ciências. 
Claro que ainda se tem um longo caminho a percorrer, uma vez que existe uma grave 
crise ambiental no mundo inteiro, porém a tendência é que venha a diminuir com a urgência e 
conscientização sobre o tema. Outro ponto são os conflitos constantes, vivemos em um mundo 
que ainda se encontra sempre em guerra, porém não se vê mais confrontos diretos de longa 
duração entre grandes exércitos. Por fim, temos a questão da desigualdade entre os países, mais 
especificamente entre os continentes, pois a África é o continente com os piores índices, tudo 
devido ao imperialismo do século XIX e início do XX. Infelizmente se encontra no meio de 
uma possível nova onda imperialista, principalmente provinda da China. 
Portanto, é possível dizer que no momento histórico em que foi escrito, o progresso era, 
de certa forma, quase impossível de ser observado. Mas se tratando de um período histórico 
maior, se teve progresso e retrocesso. Talvez, se tudo for posto na balança, esse progresso pode 
ser dado como positivo, neutro ou negativo, irá depender do peso que cada um da para cada 
fator. 
 
 
 
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5.2. Manutenção do Status Quo 
 
Se tendo como base a teoria de Marx a afirmação que “a história de toda sociedade 
existente até hoje tem sido a história das lutas de classes” (MARX, manifesto), se vê que de 
fato a sociedade, desde seus primórdios viu algum tipo de conflito entre classes. Então, 
movimentos parecidos podem ser observados ao longo da história. Esses conflitos são sempre 
divididos entre uma ou mais classes dominantes e uma classe dominada. 
Na sociedade feudal a haviam duas classes dominantes, os nobre e o clero, enquanto a 
classe dominada eram os servos. Com o rompimento desta sociedade, a partir dos processos 
vistos acima da acumulação primitiva, surgiram duas novas classes, que substituiriam as 
anteriores: os burgueses, detentores dos meios de produção, e os trabalhadores, expropriados 
dos meios de produção. 
Em linhas gerais, na questão das classes sociais, a maior mudança foi o surgimento da 
elite capitalista, pois aqueles que eram servos viraram os trabalhadores. Sendo assim, sua 
condição social não teve melhora alguma, inclusive, houve uma piora, pois as condições de 
vida se deterioram, não tem mais terras para poderem subsistir e são obrigados a vender a sua 
força de trabalho para sobreviver, enquanto o capitalista lucra. 
Apesar das aparentes mudanças sociais que ocorram na sociedade após as revoltas e 
revoluções, o status quo se manteve, a classe dominada continua sendo dominada, reprimida e 
explorada, apenas mudando os nomes e quem se encontra no “topo”, que sempre segue seus 
próprios interesses e tem fortes conexões com a elite anterior. Portanto, fica a questão: A 
transformação do modo de produção pode ser considerada a mudança da estrutura de fato ou 
apenas uma perpetuação do status quo presente desde os primórdios da humanidade? 
 
5.3. Começo da Transição para um Mundo de Igualdade 
Esse talvez seja o tópico mais complicado de se analisar, refletir e desenvolver, 
principalmente se considerando toda a obra da Marx e, em especial, o último tópico do capítulo 
sobre a acumulação primitiva. Tanto que envolve uma profundidade a qual não se compete aos 
anteriores. 
Aqui é possível imaginar a acumulação primitiva como fórmula necessária para se 
atingir um grau superior de desenvolvimento social e humano, onde a sociedade se une em prol 
de um mesmo objetivo, com completa autonomia e igualdade, tanto jurídica quanto econômica. 
Isso ocorreria após se atingir um estado avançado do capitalismo onde a propriedade privada 
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estaria nas mãos de pouco, com uma grande população trabalhadora, ocorrendo uma ruptura 
com as tradições promovidas pelo capital. A propriedade privada deixaria de existir, se tornando 
uma propriedade do bem comum. A miséria, as péssimas condições de trabalho, a opressão, a 
exploração e a decadente subsistência, ficarão cada vez mais severas, até o ponto em que o 
proletariado a acordar, se organizando de forma sistemática para tomar o que é seu por direito, 
aquilo que lhes foi roubado muito antes de reconhecerem o fato. É muito bem representado pela 
seguinte passagem do livro: 
 
O Monopólio do capital passa a entravar o modo de produção que floresceu com ele 
e sob ele. A centralização dos meios de produção e a socialização do trabalho 
alcançam um ponto em que se tornamincompatíveis com o envoltório capitalista. O 
invólucro rompe-se. Soa a hora final da propriedade particular capitalista. Os 
expropriadores são expropriados. (MARX, 1998, p.884) 
 
Assim se daria início à revolução que levaria a dias supostamente melhores. 
Portanto, a acumulação primitiva seria fundamental para a classe operária, trabalhadora 
e dominada, pudesse atingir condições justas para a vida, alcançando seus verdadeiros direitos. 
Pois, caso ela não ocorresse, essa classe seria continuamente mantida na escuridão do 
feudalismo, alienada pelas bases religiosas, dispersos e sem sentido de união. Sentido esse que, 
caso seja excluído, torna impossível a organização e cooperação sistemática para atingir seus 
fins. A acumulação dá os meios necessários para o servo, agora trabalhador assalariado, 
entender suas dificuldades, entender a posição social imposta a ele e decidir, por si mesmo, 
mudar as estruturas dominantes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Bibliografia 
 
MARX, Karl. O Capital. Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1998. 
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. O Manifesto Comunista. Editora Ridendo Castigat Mores, 
Fonte Digital, 1999. 
JONES, Gareth Stedman. Karl Marx – Grandeza e Ilusão. Companhia das Letras, São Paulo, 
2017. 
Os gráficos que mostram o avanço espetacular da humanidade nos últimos dois séculos. El 
País. 25 de jan de 2018. Disponível em: 
<https://brasil.elpais.com/brasil/2018/01/23/actualidad/1516705169_487110.html> Acesso 
em: 02 de dez de 2019. 
Influência chinesa na África. Estadão. 02 de abr de 2015. Disponível em: 
<https://economia.estadao.com.br/blogs/fernando-dantas/influencia-chinesa-na-africa/> 
Acesso em: 02 de dez de 2019. 
Guerras entre Estados são cada vez mais raras no mundo, diz estudo. G1. 29 de jul de 2010. 
Disponível em: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2010/07/guerras-entre-estados-sao-cada-
vez-mais-raras-no-mundo-diz-estudo.html > Acesso em: 02 de nov de 2019. 
Mundo tem menos guerras hoje, diz estudo. Folha de S. Paulo. 22 de out de 2005. Disponível 
em: <https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2210200519.htm> Acesso em: 02 de dez de 
2019. 
SOUZA, Osmar Martins de. O Materialismo Histórico: Uma Nova Leitura da Forma de Ser dos 
Homens. IV EPCT. Outubro 2009. Disponível em: 
<http://www.fecilcam.br/nupem/anais_iv_epct/PDF/ciencias_humanas/10_MARTINS_DOMI
NGUES.pdf>

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