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Resumo Daens um grito de justiça

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O filme “Daens: um grito de justiça”, produzido em 1992 e dirigido por Stijn Coninx, é uma obra altamente crítica e atual, que acompanha Adolf Daens(Jan Decleir), um padre, que volta para sua cidade natal, Aalst, na Bélgica do final do século XIX. Após a sua chegada, grandes mudanças ocorreriam na vida dos trabalhadores.  
É possível notar no filme com que todas as instituições da época funcionam de modo a privar o trabalhador de sua dignidade. A burguesia, livre de quaisquer obrigações para com seus empregados, visam apenas melhorar sua margem de lucro. Os atores políticos, tanto o Rei Leopoldo II quanto o Parlamento, que é composto pelos próprios burgueses, criando leis que beneficiam apenas a si próprios. Por último, a Igreja Católica, da qual alguns de seus clérigos influenciavam o povo e apoiavam as escolhas dos donos das fábricas, a despeito do “Rerum Novarum”. 
Ao longo do filme, percebemos a precariedade dentro de uma das fábricas da cidade, na qual crianças trabalham exaustivamente coletando restos de tecido do chão, homens e, mais tarde, mulheres trabalhando nas máquinas durante 14 horas, com salário que mal consegue sustentar um dia de sobrevivência da família. Sem leis trabalhistas ou formações sindicais, os trabalhadores se encontravam à mercê dos burgueses, que apenas visam seu próprio lucro sem se importar com a vida do trabalhador, através de um sistema que promove a exploração, opressão, repressão e espoliação. 
Percebe-se, em uma passagem do filme, o maior exemplo de repressão do filme, em que a população geral fala a flamengo, a língua do norte da Bélgica, enquanto o comitê de investigação, enviado pelo governo, falava francês, mais elitizada e mais comum no sul. Assim, as trabalhadoras não conseguiam comunicar suas queixas, dependendo da tradução do capataz. 
 
Quando Daens chegar, se depara com uma situação de extrema precariedade dos trabalhadores da indústria.  Em seus primeiros momentos na cidade, presencia um grupo de crianças roubando batatas de uma senhora na rua e, logo depois disso, encontra um senhor querendo livrar-se do corpo de uma menina grávida, Nini, que havia morrido devido ao frio e a fome. Decide, então, utilizar o jornal “Land Van Aalst” de seu irmão, Pieter, para expor sua indignidade, começando assim, uma série de mudanças nas estruturas da sociedade de Aalst. 
Já nos primeiros 30 minutos do filme, somos expostos à também triste realidade que é a vida dos trabalhadores fora da fábrica. Daens é recebido por uma família foi oferecida para cuidar de seu ferimento causado por uma pedrada. Lá ele se depara com uma casa de cômodo único, onde havia cozinha, sala e quarto, onde moram 11 pessoas, sendo a maioria crianças. Nessa mesma cena, podemos ver cada membro da família se alimentando com apenas uma pequena batata e um pouco de sopa, demonstrando a péssima alimentação de quem era empregado nas fábricas e que, além de tudo, ainda tinham que trabalhar 14 horas por dia. 
No decorrer do longa, houve diversas modificações negativas nas condições de trabalho, como a substituição dos homens por mulheres e crianças, redução dos salários, menos pessoas por máquina, além da já existente opressão por parte dos capatazes e a alienação sobre a produção. Uma comitiva do governo foi à fábrica para realizar uma fiscalização e averiguar a situação, porém, as crianças foram escondidas dentro de um depósito e as trabalhadoras falavam flamengo enquanto os fiscalizadores falavam francês, tendo como único tradutor o capataz da fábrica que, independente das queixas das trabalhadoras, falava que estava tudo bem. Pouco tempo depois de os fiscais saírem da fábrica, houve uma revolta iniciada pelas mulheres da fábrica, liderada pela Nette, cujo estopim foi a morte de Peter, um menino que trabalhava coletando pedaços de tecidos do chão de baixo das máquinas de tear. Ao andar pela rua carregando o corpo de Peter, várias pessoas se juntaram à marcha, que foi em direção ao teatro onde se encontravam os fiscais. Porém, a mobilização foi impedida pela polícia montada da cidade, matando vários dos trabalhadores e, inclusive, pegando o corpo do menino para esconde-lo. Vale ressaltar que a peça teatral que os fiscais assistiam e riam era uma caracterização da vida dos operários, a falta de comida para as crianças, a bebedeira e a violência dentro de casa. 
Angustiado, Daens decide interromper a pregação de seu colega Padre, para dar um sermão na língua que todos entendessem, pregando a igualdade e melhores condições de vida para o proletariado. Certo momento, a grande maioria da elite que estava ali, foram em bora, menos a Mulher de um dos donos de fábrica. É importante destacar isso, pois mostra que aos poucos, até a camada mais abastada da sociedade, começam a criar consciência do quão desumano é o sistema fabril de acumulação de capital. 
A segunda hora do filme nos mostra uma luta pela representação política, que começa com a obtenção do sufrágio universal, que nada mais é do que os trabalhadores acima de 25 anos poderem votar. Daens cria o “Partido Popular Cristão” em contrapartida ao “Partido Católico”, que previa ser a voz dos trabalhadores, dos socialistas e dos liberais na cidade de Aalst. Nas eleições vemos a corrupção escancarada quando o antagonista do filme, Woeste, tenta comprar votos dando comida à população e quando o padre da cidade vai à casa da família de Nette e diz que “votar em Daens é votar contra Deus”. Apesar das dificuldades, Daens consegue ser eleito e leva as questões das condições de Aalst para o Parlamento Belga. Vemos ainda membros da própria Igreja tentando afastar Daens de seus serviços por alguns dias, enquanto os partidários de Daens são demitidos das fábricas e Nette é estuprada pelo capataz. Ao voltar, Daens é recebido com a oposição firme e vitoriosa, além de deus eleitores estarem desacreditados com as propostas do padre. 
Outra cena muito chocante no filme é em um jantar no qual o Rei Leopoldo II é o anfitrião, lá um dos garçons que servem bebidas é um negro, que é tratado com grande preconceito pela mulher que se senta ao lado do Rei. Ela, inclusive, pergunta se ele não é perigoso e o rei responde que ele é calmo, sociável e batizado. 
No final, Daens é perseguido por acharem que ele piorou a situação já precária dos trabalhadores. Logo após, é enviado a um mosteiro para cuidar de padres que estão loucos e, quando chega lá, decide quebrar suas amarras com a igreja e fazer o que acha certo para reparar e melhorar a situação do proletariado.

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