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1 ESTÉTICA PARTE I Conteudista Prof° Me. Djaine Damiati O surgimento da estética Podemos entender estética como ramo da filosofia relacionado com a essência e a percepção e cuja finalidade é mostrar se os objetos ou sujeitos são percebidos de modo particular (o modo estético) ou se têm, em si qualidades específicas, também chamadas de estéticas. O termo estética, enquanto nome atribuído ao estudo da arte e da beleza, foi cunhado no século XVIII por Alexandre Baumgarten (1714- 1762), a partir do grego aísthesis = sensação, para dar conta do que seria, na época, estritamente uma teoria da sensibilidade. No entanto, é possível afirmar que a estética, mesmo sem este nome, já existia na antiguidade e até mesmo na pré- história. E muito embora estivesse sempre ligada à arte, à literatura ou à filosofia, a estética só adquiriu seu status de ciência independente e com métodos próprios a partir de Baumgarten. (BAYER, 1978 p. 13) Baumgarten foi o primeiro a elaborar um dogma da beleza estética transformando-a em ciência autônoma. A grande questão elaborada por ele era a seguinte: Não haveriam, no campo da estética, leis que pudessem corresponder às leis da lógica? No grego Esthetica, faz referência ao mundo das sensações, faculdades consideradas inferiores para os pensadores do século XVIII, em oposição à lógica considerada superior. O próprio Baumgarten admitia a estética como “a irmã menor da lógica”, mas como passar do tempo, ele a converte em uma ciência do belo, dividindo-a em duas partes: a estética teórica e a estética prática. (BAYER, 1978 p. 183-184) Ainda segundo Bayer (1978), naquele momento, o objetivo da estética consistia em estabelecer o que é a beleza e Baumgarten tinha uma visão do belo bastante racionalista. Para ele, a estética seria a “ciência do conhecimento sensível”. Percebamos que ele não menciona o sentimento, mas sim o conhecimento sensível, no entanto este conhecimento não diz respeito a processos intelectuais. Assim, o belo seria o conhecimento sensível perfeito e como tal deveria ser universalmente compartilhado. Assim a beleza residiria num acordo entre pensamentos (uma abstração) e a beleza não é uma só, mas se constitui de um número infinito de partículas que são justamente os pensamentos abstratos. A multiplicidade de pensamentos só alcança a beleza quando reduzida a um único elemento; esta unidade não seria abstrata, mas concreta e palpável: neste caso, o objeto da sensação. (Ibidem p. 184) Sobre a definição do conceito de estética Definir o conceito de estética é algo extremamente complexo. A cada época que passa, juntamente com seus movimentos artísticos e perspectivas de pensamento filosófico, traz consigo novas concepções que vão sendo substituídas ou rejeitadas por novas, especialmente no que diz respeito à forma e ao conteúdo em arte. Antes de definir, procurar analisar, ou mesmo compreender o conceito de estética, é importante retomar a ideia de que este conceito foi construído historicamente, portanto, cabe a nós apenas delinear aspectos de suas principais manifestações e formas de compreensão que se alinhavaram ao longo do tempo. Apesar do grau de complexidade que distanciamento histórico permite- nos expressar, é importante dizer que nas épocas clássicas, não havia tanta dificuldade assim para definir a estética. De acordo com Suassuna (2008), enquanto a filosofia não era negada, não havia dificuldade em definir a estética que, naquele momento, era tida como a filosofia do belo. Por sua vez, o belo era uma propriedade do objeto disponível para ser captada e estudada. (SUASSUNA, 2008 p. 21) Sabemos que o conceito de estética, foi incorporando aos poucos uma imposição do pensamento ocidental e universalista, derivado de uma influência da produção artística elitizada e da cultura de massa, onde é flagrante a supervalorização da novidade, o imediatismo e também a busca de um belo idealizado, que levou a um esvaziamento de seu significado original. Além disso, conceito de estética ficou durante muito tempo atrelado a beleza, no entanto, esta relação acabou por romper-se, já que na atualidade, sabe-se que o belo está muito mais condicionado à questões culturais do que a um conceito pré-estabelecido. Por isso, para um indivíduo, ser belo ou não, vai depender dos signos da cultura onde o mesmo encontra-se inserido. Nas épocas clássicas, pensava-se o belo, tanto na arte, como na natureza, sendo por influência do pensamento platônico, o belo na natureza considerado superior ao belo da arte. Foi apenas a partir do idealismo alemão que o belo da arte começou a ser considerado superior, é mais especificamente Hegel que formula a ideia de que o belo da arte tem mais dignidade que o da natureza já que para o filósofo, a natureza teria nascido apenas uma vez, enquanto que a arte teria nascido duas do Espírito, razão pela qual a estética deveria ser, então, uma filosofia da arte. (Ibidem) Da filosofia do belo à ciência do estético Sob a influência do filósofo prussiano Immanuel Kant (1724 – 1804), considerado um dos últimos grandes filósofos da era moderna, os pensadores do século XIII começaram a criar subdivisões para o campo estético. De acordo com Suassuna (2008), o belo já não ocupava mais todo este campo isoladamente, passando a ser apenas uma de suas categorias, sendo que para Kant, a segunda seria o sublime. Suassuna (2008) nos diz que apesar da ampliação das categorizações ocorrerem neste momento histórico, Aristóteles já considerava a comédia, por exemplo, como a arte do feio, incluindo-a também no campo estético. (SUASSUNA, 2008 p. 22) Outras categorias foram pensadas como parte do campo estético ao longo da história, como o cômico, o feio e o grotesco, por isso não era possível restringir-se a uma filosofia do belo. A grande questão é que para os pós- kantianos, a estética deveria firmar-se enquanto uma ciência englobando todos os campos estéticos, incluindo o próprio belo, passando então a ser chamada de a Ciência do Estético como descreve Suassuna (2008): O nome estético passou então a designar o campo geral da estética que incluía todas as categorias pelas quais os artistas e os pensadores tivessem mostrado interesse, como o Trágico, o Sublime, o Gracioso, o Risível, o Humorístico etc., reservando-se o nome de Belo para aquele tipo especial, caracterizado pela harmonia, pelo senso de medida, pela fruição serena e tranquila – o Belo chamado clássico, enfim. (Ibidem) É bem verdade que a arte não produz apenas o belo. É possível listar uma enormidade de obras-primas que nos proporcionam incômodo, bem como são capazes de nos colocar diante de verdadeiros pesadelos. Pensemos num Bosch ou num Goya na fase negra, este pensamento certamente nos trará inquietação e muitos outros sentimentos não tão harmônicos ou serenos. Eles talvez possam ainda nos fazer misturar sensações e confundir-nos ao tentarmos organizá-las em categorias como o trágico e o sublime, bem diferentes do prazer proporcionado pelo belo puro. No mais, qualquer que seja a categoria identificada, esta estaria à sombra de toda a apreensão que fizemos até hoje da cultura ocidental europeia e do universalismo a que fomos levados a crer ao longo da vida. O campo de atuação da estética Podemos dizer que o campo de atuação da estética nos dias de hoje é bastante amplo. Interessa para estes estudos o que se relaciona à metafísica da beleza, bem como suas categorias fundamentais, as tentativas de delimitar suas fronteiras e ainda a arte como forma de conhecimento poético, atividade criadora, seus métodos, suas diversas teorias e sua concretização enquanto obra. Há também dentro da gama de interesses da estética a psicologia da arte no quediz respeito à criação e a fruição, bem como as relações entre beleza e ética. Deste modo, Suassuna define então o campo da estética como “uma reformulação inteira da Filosofia em relação à Beleza e à Arte.” (SUASSUNA, 2008 p. 26) Sendo então a estética uma reformulação da beleza como nos diz Suassuna (2008), é preciso ter em mente que entre as várias coisas que, como citamos, fazem parte de seu campo de estudo, estão principalmente as relações entre a arte, o conhecimento e a natureza. O que se dá então é o surgimento de uma visão de mundo empreendida em direção a aproximação da essência da beleza. Ainda de acordo com Suassuna (2008), quando se pensa em estética, há um vasto e complexo campo a ser investigado, no entanto, ao nos confrontarmos com a realidade do pensamento estético, nos deparamos de imediato com uma primeira grande questão: Num campo onde há a dominância do gosto e sua infinidade de variações, bem como “a chamada relatividade do juízo estético”, qual seria a vantagem de dissecarmos a arte e a beleza com a frieza do olhar da razão? Para o irracionalismo, corrente filosófica que tomou força ao final do século XIX apoiada na metafísica e em contraposição ao pensamento científico racionalista dominante na época, esta hipótese seria inviável e a experiência infrutífera, já que para eles, a arte e a beleza “são tão sagradas vivas e fecundas quanto a vida e submetê-las a especulações da estética é como mata-las no que elas tem de mais nobre e atraente.” (GEIGER apud SUASSUNA, 2008 p. 28) Vale lembrar que o irracionalismo estético é apenas uma das vertentes do pensamento irracionalista dentro da filosofia como um todo, pensamento este que foi influenciado por Darwin e mais tarde por Freud. Os artistas no entanto, viam a estética com desconfiança pelo temor de que esta viesse a “legislar sobre a arte” se transformando numa espécie de ameaça à imaginação criadora e à liberdade artística, o que não faz sentido já que seu campo de atuação é outro. (SUASSUNA, 2008 p. 29) Alguns paradigmas da estética. Parte I – Pré-história Desde a antiguidade e a idade média até os dias atuais, muitas foram as formas de conceber o belo, a beleza e a arte de um modo geral. No entanto, algumas concepções caracterizaram importantes inflexões que levaram ao entendimento da estética tal como a entendemos hoje. Não iremos aqui realizar algum tipo de digressão sobre todas as visões da estética ao longo da história, passando pelo renascimento italiano no século XV e XVI, pela estética francesa e italiana do século XVII e XVIII, o romantismo do século XIX, o ecletismo francês, a estética norte americana ou a russa nesta mesma época até chegar ao século XX. Nosso objetivo será apenas compreender os mais importantes paradigmas da estética para a formação de um entendimento sobre o que a estética é hoje. Neste sentido, certamente a pré-história nos forneceu subsídios importantes para que pudéssemos extrair uma ciência da arte acerca do que se produziu neste período, mesmo que não houvesse autores da estética como nos mostra Bayer (1978): Pode-se imaginar a mentalidade e a sensibilidade dos homens que criaram essas obras, mesmo sendo inconsciente essa mentalidade. A criação duma qualquer obra de arte supõe sempre uma certa direção das energias do homem, que corresponde muito exatamente ao que nós pedimos à estética. (BAYER, 1978 p. 15) É óbvio que o sentido das formas, dos volumes e das cores fazia parte da percepção do homem pré-histórico e constituía a sua concepção de representação do mundo seja com objetivos práticos ou mesmo para ilustrar alguma ideia de beleza. Mas, de acordo com Bayer (1978), o primeiro problema se apresenta ao observarmos a evolução dos utensílios e principalmente pela procura progressiva pela perfeição que eles traduzem. Poderíamos pensar que os utensílios não pertencem ao campo da arte, que eles tem um fim prático e utilitário e que a arte em si é constituída pela criação desinteressada, porém já foi demonstrado que o surgimento da arte está fortemente atrelado à utilidade e que a criação nada mais é que modificações intencionais que o humano realiza na natureza. O desinteresse decorre de forma gradativa. Além disso, se observarmos os instrumentos pré-históricos, compreenderemos a satisfação que deve ter sido para este homem conseguir fazê-los. (Ibidem p. 15-16) Alguns paradigmas da estética. Parte I – Pré-história (continuação) É notório na arte primitiva a preocupação com a simetria e com a existência de linhas agradáveis à visão, para Bayer (1978), esta simetria não pode ser atribuída à imitação, visto que esta não se encontra na natureza, nem tão pouco à perfeição. “Explica-se hoje a origem da simetria pela consciência que o homem tem da simetria de seu corpo, por uma modificação original que a natureza nos dá”. (BAYER, 1978 p. 16) Se nos dispusermos a olhar as obras estéticas por uma perspectiva mais ampla, teremos a impressão de que quanto mais nos afastamos no tempo, mais a arte se aproxima do simbolismo distanciando-se da representação das coisas como elas são na natureza. Bayer (1978), salienta que este é um fenômeno de mentalidade pré-lógica. No entanto, as descobertas da pré-história e da arte grega demonstram justamente o contrário, tanto que uma das características principais da pré- história é o realismo, nos dando a ideia de que o artista era também caçador representando o animal da mesma forma como ele se apresenta durante uma caçada. Porém, vimos que isto não é verdade, pois a arte pré-histórica se mostra extremamente intelectual, uma vez que o artista concede a si próprio a liberdade deformar a parte que lhe convier do animal procurando dar-lhe maior expressividade e força. Há também a possibilidade da intervenção de preocupações da ordem mágica que, de alguma forma, induziram o traço do artista a deformações intencionais (BAYER, 1978 p. 17). A arte parietal foi desenvolvida a medida que os caçadores aprofundavam seus conhecimentos sobre as formas e hábitos dos animais, por isso a arte da caça tão presente nas paredes das cavernas e grutas. Em decorrência disso, muitos se questionam se a arte pré-histórica tinha finalidade unicamente mágica ou se já era possível distinguir-se ali a presença da arte pela arte. Bayer nos diz que as duas finalidades não são incompatíveis uma vez que a arte pré-histórica tinha, acima de tudo, caráter social e portanto utilitário (Ibidem). Na pré-histórica, a arte era condicionada à memória pois nas cavernas tudo era reproduzido pela memória visual, uma vez que não havia modelos presentes. O impulso que levou o homem a projetar e exteriorizar imagens dos animais é um sentimento semelhante ao que observamos nas crianças. A origem da arte reside nos sentidos, na memória e no mimetismo conduzidas pelo homem primitivo pelo caráter afetivo (Ibidem p. 21). Alguns paradigmas da estética. Parte II – A teoria platônica da beleza. Dentre os principais paradigmas da estética certamente está a teoria platônica da beleza. De acordo com Suassuna (2008), poderemos encontrar as primeiras indicações sobre a beleza na obra de Platão (427 a 348 a. C.) Para o idealismo platônico, a beleza de um ser material depende direta e proporcionalmente da sua comunicação com a beleza absoluta, pura, imutável e eterna que existe no mundo suprassensível das ideias ou mundo das essências. Para Platão o mundo era dividido em dois, o mundo em ruína e o mundo em forma sendo este mundo sensível que se disponibiliza aos nossos sentidos o mundo em ruína, aquele onde impera a decadência, a morte e o feio. O mundo em forma ficaria então com “as essências das ideias puras”. Podemos dizer que Platão via um mundo acima do nosso onde tudo é eterno e imutável, sendo nele, a verdade, abeleza e o bem, as essências superiores ligadas ao nosso ser. Para o filósofo grego, cada ser no mundo em ruína possuiria uma correspondência no mundo em forma ligada às essências superiores. Suassuna (2008) ainda nos mostra outros pontos fundamentais do pensamento de Platão para que possamos compreender melhor este paradigma: A alma é invencivelmente atraída pela beleza, pois sua pátria natural é o mundo das essências; e, exilada nesse nosso mundo, ela sente sempre saudade do outro. Segundo Platão, a alma humana, eterna, sofre uma decadência ao se unir ao corpo material. Precisamente por ser eterna, já contemplou no mundo das essências puras, a Beleza Absoluta de natureza divina; por isso, sente invencível saudade dela, vivendo como vive aqui, em desterro permanente. (SUASSUNA, 2008 p. 43 – 44) Assim, dicotomia entre o corpo e a alma em Platão é perpassada pela ideia de que a alma já contemplou a verdade, a beleza e o bem absolutos, por isso ela tudo sabe. Se não somos capazes de acompanhar tal conhecimento é porque nossa materialidade faz com que nos esqueçamos dele. Portanto, a beleza não seria recriada na arte, nem tão pouco a verdade descoberta pelo conhecimento, segundo Platão, o que ocorre é que a alma se recorda das formas e verdades do mundo das essências contempladas antes de unir-se ao corpo. (Ibidem p. 45) Alguns paradigmas da estética. Parte III – Do platonismo ao naturalismo aristotélico. Platão foi pintor e conviveu com muitos artistas de seu tempo. Bayer (1978), nos diz que ele não foi alguém que escreveu sobre a estética propriamente dita, mas que todo o seu pensamento foi perpassado pela estética. “(...) pode-se sustentar com mais razão que a metafísica platônica é uma estética.” A metafísica de Platão é constituída pelas Ideias que podem ser verificadas apenas pelos sentidos ou por uma espécie de intuição intelectual, pertencendo à intuição da inteligência, domínio próprio da estética (BAYER, 1978 p. 37). A estética platônica é hierárquica, subindo de plano em plano até a noção suprema de que o belo e o bem estariam identificados. Trata-se de uma estética objetiva permanecendo ao mesmo tempo sensual e sensualista, sendo o belo platônico autônomo em sua essência e em seu fim (Ibidem) . Em “O Banquete”, Platão fala do caminho místico como sendo o único capaz de elevar os homens do mundo sensível para o mundo das ideias, sendo que esse caminho pelo qual se deve elevar é o amor. De acordo com esta teoria, os humanos em princípio seriam andróginos, procurando cada qual a sua metade, sendo que somente os inferiores se satisfariam como o amor físico. O ser humano em busca da verdadeira beleza se apaixonaria inicialmente por um belo corpo, sendo conduzido em seguida a apaixonar-se pela beleza pura e simples. Há uma identificação final entre a Beleza, a Verdade e o Bem (SUASSUNA, 2008 p. 47). O amador descobre que a beleza corpórea é sujeita a ruina e à decadência, enquanto a beleza moral resiste ao passar do tempo. Então ele contemplará a beleza que existe nos costumes e nas leis morais, notando que a beleza está relacionada com todas as coisas e considerando, então, a beleza corpórea como pouco digna de estima. (Ibidem p. 48) É importante lembrar que o paradigma da visão idealística de Platão fixou fronteiras da beleza, por causa dele, a ideia de esplendor e brilho permaneceu atrelada à noção de beleza até os dias de hoje. Porém, Aristóteles segue um caminho totalmente diferente no que diz respeito ao entendimento da beleza. Ele abandona o idealismo e parte para o naturalismo. No pensamento aristotélico, a beleza não seria fruto do mundo das ideias puras, mas apenas decorrente da harmonia, de uma certa organização do objeto em si e em relação ao todo. Alguns paradigmas da estética. Parte III - Do platonismo ao naturalismo aristotélico. (continuação) Se por um lado toda a filosofia de Platão era estética, o mesmo não podemos dizer a respeito de Aristóteles. Naturalista, sua estética compreende opiniões práticas sobre a criação de uma obra artística e um capítulo sobre a ciência da arte no qual tratou sobre a tragédia. No mais, segundo Bayer (1978), o que houver sobre estética estará implícito em sua obra. Fundamentalmente em Aristóteles, diferente do que ocorre em Platão, a Ideia não tem existência em si, é abstraída por nós (BAYER, 1978 p. 47). Além da organização e da harmonia do objeto em si e em relação ao todo, Aristóteles atribuía também alguns outros critérios para o entendimento da beleza tais como a grandiosidade ou imponência e sua proporcionalidade nesta grandeza. “Aristóteles afirma, claramente, na retórica, que uma mulher bonita e bem proporcionada, mas pequena, pertence ao campo do Gracioso, mas não ao dom do Belo que exige, entre outras coisas, grandeza” (SUASSUNA, 2008 p. 51-52). De acordo com Suassuna (2008), Aristóteles pressentia que na Beleza poderia haver outras categorias além do Belo, já que os gregos identificavam a Beleza como o Belo Clássico e para Aristóteles esta noção não era o bastante. Para Aristóteles as características essenciais da Beleza eram: ordem, harmonia, grandeza e proporção. “Essa referência a harmonia das partes de um todo – unidade e totalidade- veio aportar na célebre fórmula dos aristotélicos: “A Beleza consiste em unidade na variedade”.” (Ibidem p. 53) A visão de mundo de Aristóteles consistia na perspectiva de que o caos havia sido substituído pela ordem, passando a ser regido por uma harmonia, no entanto, ainda haveria vestígios deste caos do mundo, contra o qual os homens haveriam de permanecer lutando com o objetivo de estabelecer a vitória completa da harmonia. Esta é a ideia fundamental do pensamento aristotélico e dela advém a sua noção de Beleza. Muito se fala da harmonia na concepção de Beleza em Aristóteles, porém é preciso destacar que quando este tratou da comédia, falava de “homens inferiores e viciosos” o que nos leva a crer que Aristóteles admitia a desordem e a feiura como elementos estimuladores da criação da beleza na arte. (SUASSUNA, 2008 p. 54) Alguns paradigmas da estética. Parte IV – A estética kantiana Um importante paradigma para o pensamento estético foi sem dúvida a filosofia de Immanuel Kant (1724 – 1804), filósofo prussiano considerado como um dos últimos grandes filósofos dos princípios da era moderna. Sua perspectiva é considerada paradigmática para a estética, pois empreendeu o deslocamento do centro de existência da beleza do objeto para o sujeito. Kant não se ocupou da resolução dos problemas estéticos ligados ao entendimento da arte e da beleza, antes, ele tratou de demonstrar sua insolubilidade. Para o filósofo do século XVIII, a impossibilidade de resolver os problemas estéticos estaria diretamente relacionada à questão dos juízos estéticos, (ou juízos de gosto) e dos juízos do conhecimento. De acordo com Suassuna (2008), o pensamento de Kant com relação aos juízos do conhecimento se organizava da seguinte forma: os juízos do conhecimento possuiriam validade geral por serem baseados nas propriedades do objeto. Como exemplo Suassuna fala da rosa: Quando eu digo: “Esta rosa é branca” estou emitindo um juízo do conhecimento: o resultado dele é um conhecimento indiscutível, válido para todo mundo, de validez geral, porque baseado em qualidades objetivas da rosa. (SUASSUNA, 2008 p. 69) Para Kant os juízos estéticos atuam de uma outra maneira, que não a baseada em qualidades objetivas do objeto. Estes seriam, antes de tudo, o resultado de uma reação pessoal do contemplador em relação ao objeto. Resumindo, o juízo de gosto teria um princípio determinante puramente subjetivo, assim a representação é reportada ao sujeito, enquanto que para o juízo do conhecimento, o princípio determinante são as característicasobjetivas do objeto. Mas há ainda o juízo estético e o juízo sobre o agradável. O agradável para Kant é aquilo que agrada os sentidos, na sensação em si. Suassuna nos dá outro exemplo: “Quando digo “Este alimento é bom”, estou dizendo simplesmente que sinto uma sensação agradável.” O Juízo estético é um pouco mais ambíguo, se baseia, assim como o do agradável, na sensação de prazer que o sujeito experimenta sobre o objeto, porém difere à medida em que este sujeito quer que a mesma sensação seja igual para todos as outras pessoas. (SUASSUNA, 2008 p. 70-71) Referências BAYER, R. História da Estética. Trad. José Saramago. Lisboa: Editorial Estampa, 1978. COSTELLA, A.F. Para apreciar a arte- roteiro didático. São Paulo. SENAC 2001. OSBORNE, H. A apreciação da arte, São Paulo: Cultrix, 1978. RICHTER, Sandra R.S. O Sensível sob o admirar filosófico. Revista Educação e Realidade, Jul/Dez 2005. Disponível em:< http://seer.ufrgs.br/educacaoerealidade/article/viewFile/12452/14664> Acessado em 13/5/2013. SUASSUNA, Ariano. Iniciação à estética. Rio de Janeiro: José Olímpio, 2008. http://seer.ufrgs.br/educacaoerealidade/article/viewFile/12452/14664