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ESTÉTICA PARTE I 
Conteudista 
 Prof° Me. Djaine Damiati 
 
 
 
 
 
 
O surgimento da estética 
 Podemos entender estética como ramo da filosofia relacionado com a 
essência e a percepção e cuja finalidade é mostrar se os objetos ou sujeitos 
são percebidos de modo particular (o modo estético) ou se têm, em si 
qualidades específicas, também chamadas de estéticas. 
O termo estética, enquanto nome atribuído ao estudo da arte e da 
beleza, foi cunhado no século XVIII por Alexandre Baumgarten (1714- 1762), a 
partir do grego aísthesis = sensação, para dar conta do que seria, na época, 
estritamente uma teoria da sensibilidade. No entanto, é possível afirmar que a 
estética, mesmo sem este nome, já existia na antiguidade e até mesmo na pré-
história. E muito embora estivesse sempre ligada à arte, à literatura ou à 
filosofia, a estética só adquiriu seu status de ciência independente e com 
métodos próprios a partir de Baumgarten. (BAYER, 1978 p. 13) 
Baumgarten foi o primeiro a elaborar um dogma da beleza estética 
transformando-a em ciência autônoma. A grande questão elaborada por ele era 
a seguinte: Não haveriam, no campo da estética, leis que pudessem 
corresponder às leis da lógica? No grego Esthetica, faz referência ao mundo 
das sensações, faculdades consideradas inferiores para os pensadores do 
século XVIII, em oposição à lógica considerada superior. O próprio Baumgarten 
admitia a estética como “a irmã menor da lógica”, mas como passar do tempo, 
ele a converte em uma ciência do belo, dividindo-a em duas partes: a estética 
teórica e a estética prática. (BAYER, 1978 p. 183-184) 
Ainda segundo Bayer (1978), naquele momento, o objetivo da estética 
consistia em estabelecer o que é a beleza e Baumgarten tinha uma visão do 
belo bastante racionalista. Para ele, a estética seria a “ciência do conhecimento 
sensível”. Percebamos que ele não menciona o sentimento, mas sim o 
conhecimento sensível, no entanto este conhecimento não diz respeito a 
processos intelectuais. Assim, o belo seria o conhecimento sensível perfeito e 
como tal deveria ser universalmente compartilhado. 
 
 
 
 
Assim a beleza residiria num acordo entre pensamentos (uma 
abstração) e a beleza não é uma só, mas se constitui de um número infinito de 
partículas que são justamente os pensamentos abstratos. A multiplicidade de 
pensamentos só alcança a beleza quando reduzida a um único elemento; esta 
unidade não seria abstrata, mas concreta e palpável: neste caso, o objeto da 
sensação. (Ibidem p. 184) 
 
Sobre a definição do conceito de estética 
 
Definir o conceito de estética é algo extremamente complexo. A cada 
época que passa, juntamente com seus movimentos artísticos e perspectivas 
de pensamento filosófico, traz consigo novas concepções que vão sendo 
substituídas ou rejeitadas por novas, especialmente no que diz respeito à forma 
e ao conteúdo em arte. 
Antes de definir, procurar analisar, ou mesmo compreender o conceito 
de estética, é importante retomar a ideia de que este conceito foi construído 
historicamente, portanto, cabe a nós apenas delinear aspectos de suas 
principais manifestações e formas de compreensão que se alinhavaram ao 
longo do tempo. 
Apesar do grau de complexidade que distanciamento histórico permite-
nos expressar, é importante dizer que nas épocas clássicas, não havia tanta 
dificuldade assim para definir a estética. De acordo com Suassuna (2008), 
enquanto a filosofia não era negada, não havia dificuldade em definir a estética 
que, naquele momento, era tida como a filosofia do belo. Por sua vez, o belo 
era uma propriedade do objeto disponível para ser captada e estudada. 
(SUASSUNA, 2008 p. 21) 
Sabemos que o conceito de estética, foi incorporando aos poucos uma 
imposição do pensamento ocidental e universalista, derivado de uma influência 
da produção artística elitizada e da cultura de massa, onde é flagrante a 
 
 
 
supervalorização da novidade, o imediatismo e também a busca de um belo 
idealizado, que levou a um esvaziamento de seu significado original. 
Além disso, conceito de estética ficou durante muito tempo atrelado a 
beleza, no entanto, esta relação acabou por romper-se, já que na atualidade, 
sabe-se que o belo está muito mais condicionado à questões culturais do que a 
um conceito pré-estabelecido. Por isso, para um indivíduo, ser belo ou não, vai 
depender dos signos da cultura onde o mesmo encontra-se inserido. 
Nas épocas clássicas, pensava-se o belo, tanto na arte, como na 
natureza, sendo por influência do pensamento platônico, o belo na natureza 
considerado superior ao belo da arte. Foi apenas a partir do idealismo alemão 
que o belo da arte começou a ser considerado superior, é mais 
especificamente Hegel que formula a ideia de que o belo da arte tem mais 
dignidade que o da natureza já que para o filósofo, a natureza teria nascido 
apenas uma vez, enquanto que a arte teria nascido duas do Espírito, razão 
pela qual a estética deveria ser, então, uma filosofia da arte. (Ibidem) 
 
Da filosofia do belo à ciência do estético 
 
Sob a influência do filósofo prussiano Immanuel Kant (1724 – 1804), 
considerado um dos últimos grandes filósofos da era moderna, os pensadores 
do século XIII começaram a criar subdivisões para o campo estético. De acordo 
com Suassuna (2008), o belo já não ocupava mais todo este campo 
isoladamente, passando a ser apenas uma de suas categorias, sendo que para 
Kant, a segunda seria o sublime. 
Suassuna (2008) nos diz que apesar da ampliação das categorizações 
ocorrerem neste momento histórico, Aristóteles já considerava a comédia, por 
exemplo, como a arte do feio, incluindo-a também no campo estético. 
(SUASSUNA, 2008 p. 22) 
 
 
 
 
Outras categorias foram pensadas como parte do campo estético ao 
longo da história, como o cômico, o feio e o grotesco, por isso não era possível 
restringir-se a uma filosofia do belo. A grande questão é que para os pós-
kantianos, a estética deveria firmar-se enquanto uma ciência englobando todos 
os campos estéticos, incluindo o próprio belo, passando então a ser chamada 
de a Ciência do Estético como descreve Suassuna (2008): 
 
O nome estético passou então a designar o campo geral 
da estética que incluía todas as categorias pelas quais os 
artistas e os pensadores tivessem mostrado interesse, 
como o Trágico, o Sublime, o Gracioso, o Risível, o 
Humorístico etc., reservando-se o nome de Belo para 
aquele tipo especial, caracterizado pela harmonia, pelo 
senso de medida, pela fruição serena e tranquila – o Belo 
chamado clássico, enfim. (Ibidem) 
 
É bem verdade que a arte não produz apenas o belo. É possível listar 
uma enormidade de obras-primas que nos proporcionam incômodo, bem como 
são capazes de nos colocar diante de verdadeiros pesadelos. Pensemos num 
Bosch ou num Goya na fase negra, este pensamento certamente nos trará 
inquietação e muitos outros sentimentos não tão harmônicos ou serenos. Eles 
talvez possam ainda nos fazer misturar sensações e confundir-nos ao 
tentarmos organizá-las em categorias como o trágico e o sublime, bem 
diferentes do prazer proporcionado pelo belo puro. No mais, qualquer que seja 
a categoria identificada, esta estaria à sombra de toda a apreensão que 
fizemos até hoje da cultura ocidental europeia e do universalismo a que fomos 
levados a crer ao longo da vida. 
 
 
 
 
 
 
 
O campo de atuação da estética 
 Podemos dizer que o campo de atuação da estética nos dias de hoje é 
bastante amplo. Interessa para estes estudos o que se relaciona à metafísica 
da beleza, bem como suas categorias fundamentais, as tentativas de delimitar 
suas fronteiras e ainda a arte como forma de conhecimento poético, atividade 
criadora, seus métodos, suas diversas teorias e sua concretização enquanto 
obra. Há também dentro da gama de interesses da estética a psicologia da arte 
no quediz respeito à criação e a fruição, bem como as relações entre beleza e 
ética. Deste modo, Suassuna define então o campo da estética como “uma 
reformulação inteira da Filosofia em relação à Beleza e à Arte.” (SUASSUNA, 
2008 p. 26) 
 Sendo então a estética uma reformulação da beleza como nos diz 
Suassuna (2008), é preciso ter em mente que entre as várias coisas que, como 
citamos, fazem parte de seu campo de estudo, estão principalmente as 
relações entre a arte, o conhecimento e a natureza. O que se dá então é o 
surgimento de uma visão de mundo empreendida em direção a aproximação 
da essência da beleza. 
 Ainda de acordo com Suassuna (2008), quando se pensa em estética, 
há um vasto e complexo campo a ser investigado, no entanto, ao nos 
confrontarmos com a realidade do pensamento estético, nos deparamos de 
imediato com uma primeira grande questão: Num campo onde há a dominância 
do gosto e sua infinidade de variações, bem como “a chamada relatividade do 
juízo estético”, qual seria a vantagem de dissecarmos a arte e a beleza com a 
frieza do olhar da razão? 
Para o irracionalismo, corrente filosófica que tomou força ao final do 
século XIX apoiada na metafísica e em contraposição ao pensamento científico 
racionalista dominante na época, esta hipótese seria inviável e a experiência 
infrutífera, já que para eles, a arte e a beleza “são tão sagradas vivas e 
fecundas quanto a vida e submetê-las a especulações da estética é como 
mata-las no que elas tem de mais nobre e atraente.” (GEIGER apud 
SUASSUNA, 2008 p. 28) 
 
 
 
Vale lembrar que o irracionalismo estético é apenas uma das vertentes 
do pensamento irracionalista dentro da filosofia como um todo, pensamento 
este que foi influenciado por Darwin e mais tarde por Freud. Os artistas no 
entanto, viam a estética com desconfiança pelo temor de que esta viesse a 
“legislar sobre a arte” se transformando numa espécie de ameaça à 
imaginação criadora e à liberdade artística, o que não faz sentido já que seu 
campo de atuação é outro. (SUASSUNA, 2008 p. 29) 
 
Alguns paradigmas da estética. Parte I – Pré-história 
 
 Desde a antiguidade e a idade média até os dias atuais, muitas foram as 
formas de conceber o belo, a beleza e a arte de um modo geral. No entanto, 
algumas concepções caracterizaram importantes inflexões que levaram ao 
entendimento da estética tal como a entendemos hoje. 
 Não iremos aqui realizar algum tipo de digressão sobre todas as visões 
da estética ao longo da história, passando pelo renascimento italiano no século 
XV e XVI, pela estética francesa e italiana do século XVII e XVIII, o romantismo 
do século XIX, o ecletismo francês, a estética norte americana ou a russa nesta 
mesma época até chegar ao século XX. Nosso objetivo será apenas 
compreender os mais importantes paradigmas da estética para a formação de 
um entendimento sobre o que a estética é hoje. 
 Neste sentido, certamente a pré-história nos forneceu subsídios 
importantes para que pudéssemos extrair uma ciência da arte acerca do que se 
produziu neste período, mesmo que não houvesse autores da estética como 
nos mostra Bayer (1978): 
Pode-se imaginar a mentalidade e a sensibilidade dos 
homens que criaram essas obras, mesmo sendo 
inconsciente essa mentalidade. A criação duma qualquer 
obra de arte supõe sempre uma certa direção das 
energias do homem, que corresponde muito exatamente 
ao que nós pedimos à estética. (BAYER, 1978 p. 15) 
 
 
 
 
 É óbvio que o sentido das formas, dos volumes e das cores fazia parte 
da percepção do homem pré-histórico e constituía a sua concepção de 
representação do mundo seja com objetivos práticos ou mesmo para ilustrar 
alguma ideia de beleza. Mas, de acordo com Bayer (1978), o primeiro problema 
se apresenta ao observarmos a evolução dos utensílios e principalmente pela 
procura progressiva pela perfeição que eles traduzem. Poderíamos pensar 
que os utensílios não pertencem ao campo da arte, que eles tem um fim prático 
e utilitário e que a arte em si é constituída pela criação desinteressada, porém 
já foi demonstrado que o surgimento da arte está fortemente atrelado à 
utilidade e que a criação nada mais é que modificações intencionais que o 
humano realiza na natureza. O desinteresse decorre de forma gradativa. Além 
disso, se observarmos os instrumentos pré-históricos, compreenderemos a 
satisfação que deve ter sido para este homem conseguir fazê-los. (Ibidem p. 
15-16) 
 
Alguns paradigmas da estética. Parte I – Pré-história (continuação) 
 
É notório na arte primitiva a preocupação com a simetria e com a 
existência de linhas agradáveis à visão, para Bayer (1978), esta simetria não 
pode ser atribuída à imitação, visto que esta não se encontra na natureza, nem 
tão pouco à perfeição. “Explica-se hoje a origem da simetria pela consciência 
que o homem tem da simetria de seu corpo, por uma modificação original que a 
natureza nos dá”. (BAYER, 1978 p. 16) 
 Se nos dispusermos a olhar as obras estéticas por uma perspectiva mais 
ampla, teremos a impressão de que quanto mais nos afastamos no tempo, 
mais a arte se aproxima do simbolismo distanciando-se da representação das 
coisas como elas são na natureza. Bayer (1978), salienta que este é um 
fenômeno de mentalidade pré-lógica. 
 
 
 
No entanto, as descobertas da pré-história e da arte grega demonstram 
justamente o contrário, tanto que uma das características principais da pré-
história é o realismo, nos dando a ideia de que o artista era também caçador 
representando o animal da mesma forma como ele se apresenta durante uma 
caçada. Porém, vimos que isto não é verdade, pois a arte pré-histórica se 
mostra extremamente intelectual, uma vez que o artista concede a si próprio a 
liberdade deformar a parte que lhe convier do animal procurando dar-lhe maior 
expressividade e força. Há também a possibilidade da intervenção de 
preocupações da ordem mágica que, de alguma forma, induziram o traço do 
artista a deformações intencionais (BAYER, 1978 p. 17). 
 A arte parietal foi desenvolvida a medida que os caçadores 
aprofundavam seus conhecimentos sobre as formas e hábitos dos animais, por 
isso a arte da caça tão presente nas paredes das cavernas e grutas. Em 
decorrência disso, muitos se questionam se a arte pré-histórica tinha finalidade 
unicamente mágica ou se já era possível distinguir-se ali a presença da arte 
pela arte. Bayer nos diz que as duas finalidades não são incompatíveis uma 
vez que a arte pré-histórica tinha, acima de tudo, caráter social e portanto 
utilitário (Ibidem). 
 Na pré-histórica, a arte era condicionada à memória pois nas cavernas 
tudo era reproduzido pela memória visual, uma vez que não havia modelos 
presentes. O impulso que levou o homem a projetar e exteriorizar imagens dos 
animais é um sentimento semelhante ao que observamos nas crianças. A 
origem da arte reside nos sentidos, na memória e no mimetismo conduzidas 
pelo homem primitivo pelo caráter afetivo (Ibidem p. 21). 
 
Alguns paradigmas da estética. Parte II – A teoria platônica da 
beleza. 
Dentre os principais paradigmas da estética certamente está a teoria 
platônica da beleza. De acordo com Suassuna (2008), poderemos encontrar as 
primeiras indicações sobre a beleza na obra de Platão (427 a 348 a. C.) 
 
 
 
Para o idealismo platônico, a beleza de um ser material depende direta e 
proporcionalmente da sua comunicação com a beleza absoluta, pura, imutável 
e eterna que existe no mundo suprassensível das ideias ou mundo das 
essências. 
Para Platão o mundo era dividido em dois, o mundo em ruína e o mundo 
em forma sendo este mundo sensível que se disponibiliza aos nossos sentidos 
o mundo em ruína, aquele onde impera a decadência, a morte e o feio. O 
mundo em forma ficaria então com “as essências das ideias puras”. Podemos 
dizer que Platão via um mundo acima do nosso onde tudo é eterno e imutável, 
sendo nele, a verdade, abeleza e o bem, as essências superiores ligadas ao 
nosso ser. Para o filósofo grego, cada ser no mundo em ruína possuiria uma 
correspondência no mundo em forma ligada às essências superiores. 
Suassuna (2008) ainda nos mostra outros pontos fundamentais do 
pensamento de Platão para que possamos compreender melhor este 
paradigma: 
A alma é invencivelmente atraída pela beleza, pois sua 
pátria natural é o mundo das essências; e, exilada nesse 
nosso mundo, ela sente sempre saudade do outro. 
Segundo Platão, a alma humana, eterna, sofre uma 
decadência ao se unir ao corpo material. Precisamente 
por ser eterna, já contemplou no mundo das essências 
puras, a Beleza Absoluta de natureza divina; por isso, 
sente invencível saudade dela, vivendo como vive aqui, 
em desterro permanente. (SUASSUNA, 2008 p. 43 – 44) 
 
 Assim, dicotomia entre o corpo e a alma em Platão é perpassada pela 
ideia de que a alma já contemplou a verdade, a beleza e o bem absolutos, por 
isso ela tudo sabe. Se não somos capazes de acompanhar tal conhecimento é 
porque nossa materialidade faz com que nos esqueçamos dele. Portanto, a 
beleza não seria recriada na arte, nem tão pouco a verdade descoberta pelo 
conhecimento, segundo Platão, o que ocorre é que a alma se recorda das 
formas e verdades do mundo das essências contempladas antes de unir-se ao 
corpo. (Ibidem p. 45) 
 
 
 
Alguns paradigmas da estética. Parte III – Do platonismo ao 
naturalismo aristotélico. 
 Platão foi pintor e conviveu com muitos artistas de seu tempo. Bayer 
(1978), nos diz que ele não foi alguém que escreveu sobre a estética 
propriamente dita, mas que todo o seu pensamento foi perpassado pela 
estética. “(...) pode-se sustentar com mais razão que a metafísica platônica é 
uma estética.” A metafísica de Platão é constituída pelas Ideias que podem ser 
verificadas apenas pelos sentidos ou por uma espécie de intuição intelectual, 
pertencendo à intuição da inteligência, domínio próprio da estética (BAYER, 
1978 p. 37). 
 A estética platônica é hierárquica, subindo de plano em plano até a 
noção suprema de que o belo e o bem estariam identificados. Trata-se de uma 
estética objetiva permanecendo ao mesmo tempo sensual e sensualista, sendo 
o belo platônico autônomo em sua essência e em seu fim (Ibidem) . 
Em “O Banquete”, Platão fala do caminho místico como sendo o único 
capaz de elevar os homens do mundo sensível para o mundo das ideias, sendo 
que esse caminho pelo qual se deve elevar é o amor. De acordo com esta 
teoria, os humanos em princípio seriam andróginos, procurando cada qual a 
sua metade, sendo que somente os inferiores se satisfariam como o amor 
físico. O ser humano em busca da verdadeira beleza se apaixonaria 
inicialmente por um belo corpo, sendo conduzido em seguida a apaixonar-se 
pela beleza pura e simples. Há uma identificação final entre a Beleza, a 
Verdade e o Bem (SUASSUNA, 2008 p. 47). 
O amador descobre que a beleza corpórea é sujeita a 
ruina e à decadência, enquanto a beleza moral resiste ao 
passar do tempo. Então ele contemplará a beleza que 
existe nos costumes e nas leis morais, notando que a 
beleza está relacionada com todas as coisas e 
considerando, então, a beleza corpórea como pouco 
digna de estima. (Ibidem p. 48) 
 
 
 
 
 
É importante lembrar que o paradigma da visão idealística de Platão 
fixou fronteiras da beleza, por causa dele, a ideia de esplendor e brilho 
permaneceu atrelada à noção de beleza até os dias de hoje. Porém, Aristóteles 
segue um caminho totalmente diferente no que diz respeito ao entendimento da 
beleza. Ele abandona o idealismo e parte para o naturalismo. No pensamento 
aristotélico, a beleza não seria fruto do mundo das ideias puras, mas apenas 
decorrente da harmonia, de uma certa organização do objeto em si e em 
relação ao todo. 
Alguns paradigmas da estética. Parte III - Do platonismo ao 
naturalismo aristotélico. (continuação) 
Se por um lado toda a filosofia de Platão era estética, o mesmo não 
podemos dizer a respeito de Aristóteles. Naturalista, sua estética compreende 
opiniões práticas sobre a criação de uma obra artística e um capítulo sobre a 
ciência da arte no qual tratou sobre a tragédia. No mais, segundo Bayer (1978), 
o que houver sobre estética estará implícito em sua obra. Fundamentalmente 
em Aristóteles, diferente do que ocorre em Platão, a Ideia não tem existência 
em si, é abstraída por nós (BAYER, 1978 p. 47). 
Além da organização e da harmonia do objeto em si e em relação ao 
todo, Aristóteles atribuía também alguns outros critérios para o entendimento 
da beleza tais como a grandiosidade ou imponência e sua proporcionalidade 
nesta grandeza. “Aristóteles afirma, claramente, na retórica, que uma mulher 
bonita e bem proporcionada, mas pequena, pertence ao campo do Gracioso, 
mas não ao dom do Belo que exige, entre outras coisas, grandeza” 
(SUASSUNA, 2008 p. 51-52). 
De acordo com Suassuna (2008), Aristóteles pressentia que na Beleza 
poderia haver outras categorias além do Belo, já que os gregos identificavam a 
Beleza como o Belo Clássico e para Aristóteles esta noção não era o bastante. 
Para Aristóteles as características essenciais da Beleza eram: ordem, 
harmonia, grandeza e proporção. “Essa referência a harmonia das partes de 
um todo – unidade e totalidade- veio aportar na célebre fórmula dos 
aristotélicos: “A Beleza consiste em unidade na variedade”.” (Ibidem p. 53) 
 
 
 
A visão de mundo de Aristóteles consistia na perspectiva de que o caos 
havia sido substituído pela ordem, passando a ser regido por uma harmonia, no 
entanto, ainda haveria vestígios deste caos do mundo, contra o qual os 
homens haveriam de permanecer lutando com o objetivo de estabelecer a 
vitória completa da harmonia. Esta é a ideia fundamental do pensamento 
aristotélico e dela advém a sua noção de Beleza. 
Muito se fala da harmonia na concepção de Beleza em Aristóteles, 
porém é preciso destacar que quando este tratou da comédia, falava de 
“homens inferiores e viciosos” o que nos leva a crer que Aristóteles admitia a 
desordem e a feiura como elementos estimuladores da criação da beleza na 
arte. (SUASSUNA, 2008 p. 54) 
Alguns paradigmas da estética. Parte IV – A estética kantiana 
 Um importante paradigma para o pensamento estético foi sem dúvida a 
filosofia de Immanuel Kant (1724 – 1804), filósofo prussiano considerado como 
um dos últimos grandes filósofos dos princípios da era moderna. Sua 
perspectiva é considerada paradigmática para a estética, pois empreendeu o 
deslocamento do centro de existência da beleza do objeto para o sujeito. 
 Kant não se ocupou da resolução dos problemas estéticos ligados ao 
entendimento da arte e da beleza, antes, ele tratou de demonstrar sua 
insolubilidade. Para o filósofo do século XVIII, a impossibilidade de resolver os 
problemas estéticos estaria diretamente relacionada à questão dos juízos 
estéticos, (ou juízos de gosto) e dos juízos do conhecimento. De acordo com 
Suassuna (2008), o pensamento de Kant com relação aos juízos do 
conhecimento se organizava da seguinte forma: os juízos do conhecimento 
possuiriam validade geral por serem baseados nas propriedades do objeto. 
Como exemplo Suassuna fala da rosa: 
Quando eu digo: “Esta rosa é branca” estou emitindo um 
juízo do conhecimento: o resultado dele é um 
conhecimento indiscutível, válido para todo mundo, de 
validez geral, porque baseado em qualidades objetivas da 
rosa. (SUASSUNA, 2008 p. 69) 
 
 
 
 
 Para Kant os juízos estéticos atuam de uma outra maneira, que não a 
baseada em qualidades objetivas do objeto. Estes seriam, antes de tudo, o 
resultado de uma reação pessoal do contemplador em relação ao objeto. 
Resumindo, o juízo de gosto teria um princípio determinante puramente 
subjetivo, assim a representação é reportada ao sujeito, enquanto que para o 
juízo do conhecimento, o princípio determinante são as característicasobjetivas do objeto. 
 Mas há ainda o juízo estético e o juízo sobre o agradável. O agradável 
para Kant é aquilo que agrada os sentidos, na sensação em si. Suassuna nos 
dá outro exemplo: “Quando digo “Este alimento é bom”, estou dizendo 
simplesmente que sinto uma sensação agradável.” O Juízo estético é um 
pouco mais ambíguo, se baseia, assim como o do agradável, na sensação de 
prazer que o sujeito experimenta sobre o objeto, porém difere à medida em que 
este sujeito quer que a mesma sensação seja igual para todos as outras 
pessoas. (SUASSUNA, 2008 p. 70-71) 
 
 
 
 
 
 
Referências 
 
BAYER, R. História da Estética. Trad. José Saramago. Lisboa: Editorial 
Estampa, 1978. 
 
COSTELLA, A.F. Para apreciar a arte- roteiro didático. São Paulo. SENAC 
2001. 
 
OSBORNE, H. A apreciação da arte, São Paulo: Cultrix, 1978. 
 
RICHTER, Sandra R.S. O Sensível sob o admirar filosófico. Revista 
Educação e Realidade, Jul/Dez 2005. Disponível em:< 
http://seer.ufrgs.br/educacaoerealidade/article/viewFile/12452/14664> 
Acessado em 13/5/2013. 
 
SUASSUNA, Ariano. Iniciação à estética. Rio de Janeiro: José Olímpio, 2008. 
 
http://seer.ufrgs.br/educacaoerealidade/article/viewFile/12452/14664

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