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Template de Produção – Graduação Projeto Graduação Curso Administração Disciplina Administração, Sistemas e Ambiente Tema Professor(a) Daniel Weigert Cavagnari Coordenador(a) Fábio Vizeu Rota de Aprendizagem: 03 – Organização enquanto uma Entidade Social Tutor(a) Administração, Sistemas e Ambiente Figura 1: Doce de Brigadeiro tradicional de chocolate Fonte: http://img.elo7.com.br/product/original/92DF28/brigadeiro-tradicional-festa.jpg 2 Algumas coisas nunca mudam, ou pelo menos não precisam mudar para ficarem melhores, como vemos na foto anterior. A tradição muitas vezes pode garantir isso, uma qualidade insubstituível em qualquer tempo. Mas nem tudo funciona desta forma, embora os sistemas mecanicistas de grandes empresas, muitas vezes não pensem assim. Um exemplo clássico, se esses dois homens da figura a seguir continuassem suas vidas padronizadas (Steave Jobs trabalhava na Atari e Wosniak na Hewlett Packard), dificilmente conheceríamos o mundo como o vemos hoje. Figura 2: Steave Jobs e Steave Wosniak apresentando ao mundo que o padrão IBM tinha chegado ao fim. Fonte: http://ofuturoemac.files.wordpress.com/2013/10/steve-wozniak-e-steve-jobs-o-futuro-c3a9- mac.jpg Em 1984, antes do último lançamento de sucesso (Machintosh) com a figura de Steave Jobs (demitido em 1985 da sua própria companhia), a Apple apresentava um comercial que fazia referência à gigante e conservadora mecanicista IBM, fabricante de grandes computadores para grandes empresas. Praticamente um símbolo mecanicista (e de sucesso) para a época. Veja o vídeo aqui: 3 https://www.youtube.com/watch?v=2zfqw8nhUwA Mas calma. Isso é só um exemplo de que, para se fazer sucesso e progredir, não é preciso funcionar totalmente como máquina enquanto empresa. E claro, esse modelo da Apple de ver o mundo não era exatamente um modelo pioneiro. Digamos que a IBM era mecanicista demais e a Apple orgânica demais. Um exemplo para os anos 70 e 80 principalmente, temos a Hewlett Packard (HP), que unia os dois modelos, a qual a própria denominava HP Way. Vimos um vídeo demonstrando como funcionava a HP nesse modelo na nossa primeira aula. Se você não se lembra, esse é um bom momento para revê-lo: A História da HP: https://www.youtube.com/watch?v=T2dUcHs45qk. ROTA III – Organização enquanto uma Entidade Social 1. INTRODUÇÃO Quem conhece uma fábrica, como ela era na era taylorista-fordista e vê uma fábrica hoje percebe que a diferença é visível no seu desenho espacial, de trabalho, de organização técnica e de controle do trabalho. Não tem mais as divisórias. Não tem mais o restaurante do “peão” e o restaurante da gerência. É aparentemente mais “participativa”, aparentemente mais envolvente e aparentemente menos despótica. (ANTUNES, 2009, p. 30). Digamos que o processo mecanicista se dá pela necessidade de progresso contínuo na empresa. A eficiência garante grande parte desse progresso. Mas assim como muitas das máquinas que possuímos, todas atingem seus limites, necessitando algo de especial para atingir uma eficácia efetiva e alavancar. Isso não é de se estranhar, uma vez que, embora sejamos máquinas humanas em certos momentos, em outros deixamos de ser. Um smartphone que hoje lhe traz benefícios, desde sua utilidade até de bem estar, pode não causar o mesmo efeito após certo tempo. Isso ocorre porque nós seres humanos não conhecemos nossos limites. Das máquinas sim, e cada vez que elas satisfazem uma geração, é necessário uma mudança para que novas gerações percebam a mesma sensação de progresso da sua antecessora. Portanto, podemos ser máquinas sim, mas é porque podemos ser ou fazer qualquer coisa que uma máquina está programada a fazer. Mais, podemos ir além. Podemos fazer máquinas que imitam animais, pois cotidianamente são previsíveis. Humanos não podem ser imitados, quando isso ocorre, eles surpreendem novamente. [...] o que distingue, de antemão, o pior arquiteto da melhor abelha é que ele construiu o favo em sua cabeça, antes de construí-lo em cera. No fim do processo de trabalho obtém-se um resultado que já no início deste existiu na 4 imaginação do trabalhador, e, portanto, idealmente (MARX, 1983, p. 149). Mas vale lembrar que um modelo humanista de se levar uma empresa não é melhor ou pior que um sistema mecanicista. Um sistema mecanicista também não se enquadra nesta condição. Ou seja, são condições distintas que se aplicam a determinada condição da empresa. Lembrando ainda que os estremos fadigam nas duas condições. Ora temos uma grande estrutura mecanicista, dominando o mercado com suas práticas padronizadas e garantindo o progresso constante, ora temos os limites alcançados e uma necessidade de intervenção humana, nem que seja para replanejar um novo sistema e com novos padrões. Apelando para a história recente, temos a IBM (International Business Machine Corporation), claramente desde sua fundação no final do século XIX, construindo e entendendo máquinas simplesmente mecânicas, até o final do século XX com as eletrônicas. Quase um século de domínio de mercado não poderia ser de outra forma conquistado senão de uma forma padrão, hierárquica e precisa. Especialização horizontal e vertical em todas as suas formas. Figura 3: Fábrica de computadores IBM em San Jose, Califórnia, em 1957. Fonte: http://ds.haverford.edu/bitbybit/wp-content/uploads/2012/07/Chapter_6-192.jpg Nota: Os computadores em construção são do modelo IBM 305IRAMAC, que pode armazenar até cinco 5 milhões de caracteres alfanuméricos (próximo de 5 megabytes) em cinquenta discos magnéticos. Não há o que discutir em termos de tecnologia acerca desse gigante. Mas há de se convir que não teríamos nossos notebooks e até desktops se não quebrássemos esse ciclo contínuo e linear da ideia de que apenas as grandes empresas poderiam otimizar seus trabalhos engenhosos, com cálculos estatísticos e contábeis, em seus caros e imensos mainframes IBM. Somente com os computadores pequenos, ao alcance das pequenas e médias empresas, também dentro das casas como um brinquedo ou eletrodoméstico, é que pudemos conhecer vários outros métodos de controle gerencial, como o SIG, ERP, entre outros que otimizam nossas vidas até hoje. A IBM lançou seu computador pessoal, hoje conhecido como IBM-PC, ou padrão PC dos computadores modernos, em 1981, seis anos depois que a Apple lançou o primeiro computador pessoal no mundo, e atrás de dezenas de outros fabricantes que abraçaram o mercado. O porquê da IBM não ter sido a pioneira nesse mercado se dá pelo enrijecimento no seu processo, pela burocracia. Mas uma empresa onde os princípios tayloristas prevaleciam à quase um século, não precisou muito para que o resto do mundo adotasse esse padrão IBM de computadores pessoais, de uma empresa tão rígida quanto seus princípios e confiança do mercado. Parece que, como estudo de caso, ela dá razão à quem defende as empresas 6 mecanicistas e também para quem é contra. Uma discussão secular diria. Figura 4: IBM-PC - Modelo 5150 Fonte: http://www.old-computers.com/museum/photos/IBM_5150_System_s1.jpg 2. PROBLEMATIZAÇÃO A Teoria da Burocracia na organização pós-moderna Tânia Maria Zambelli de Almeida Costa Uma das primeiras aplicações do termo burocracia foi no século XVIII, onde o termo era carregado de forte conotação negativa sob uma monarquia absoluta. Nas organizações ela surgiu ao redor dos anos 40 pela falta de uma teoria sólida e abrangente que servisse de orientação para o trabalho doadministrador. Foi criada por Max Weber, sociólogo alemão, por perceber, com o crescente tamanho e complexidade das empresas, a necessidade de um novo modelo organizacional mais bem definido, racional, capaz de caracterizar todas as variáveis envolvidas, bem como o comportamento dos membros dela participantes. Weber concebeu a Teoria da Burocracia como algo que tornasse a organização eficiente e eficaz, garantindo com ela a rapidez, racionalidade, homogeneidade de interpretação das normas; a redução dos atritos, das discriminações e subjetividades internas, assim como a padronização da liderança (decisões iguais em situações iguais) e, o mais importante, o alcance dos objetivos. A burocracia busca amenizar as consequências das influências externas à organização e harmonizar a especialização dos seus colaboradores e o controle das suas atividades, de modo a se atingir os objetivos organizacionais através da competência, mérito, capacidade e eficiência, sem considerações pessoais. 7 Mas, mesmo assim, a burocracia ainda é visualizada como um símbolo de ineficiência, demora e multiplicação de papéis desnecessários, pelas pessoas que compõem uma organização e que desconhecem a sua teoria. Ela também é utilizada para definir funcionários apegados a regulamentos e rotinas, assim como toda organização ineficiente é tida como “burocratizada”. Entretanto, este não é obviamente o propósito da teoria da burocracia, sendo que o leigo a utiliza para tratar na verdade de suas disfunções, não para definir o sistema propriamente dito. Em referência ao tipo ideal de burocracia, existem críticas duras sobre a não participação da estrutura informal, às distinções entre os tipos de autoridades exageradas, ao conflito interno na organização e ao conceito de objetivos organizacionais, que apresenta uma variedade de problemas. Mas, foi a partir dela que as organizações pós-modernas puderam inaugurar um período de mudanças radicais e dramáticas: em vez de arregimentação, desmobilização de pessoas; em vez de especialização do trabalho, a multifuncionalidade e trabalho em equipe; em vez de estruturas e controles rígidos, alta flexibilidade e descentralização; em vez de submissão, responsabilidade; e em vez de confidencialidades e comunicações restritas, alto domínio de informações e habilidades de comunicação ampla e intensiva. A multiplicidade de procedimentos, flexibilidade estrutural, ambiguidade na definição de tarefas, descentralização de controles, dualidade nas fronteiras de responsabilidade, variação em produtos e serviços, antes considerados inimigos da eficiência, passam a ser a chave do sucesso. Assim, pode-se dizer que o Modelo Burocrático foi um importante ponto de partida para as organizações e proporcionou um direcionamento administrativo para as mesmas, e de acordo com Merton (1978) apesar das suas limitações e consequentes disfunções, internalização das regras, excesso de formalismo e papelório, resistência a mudanças, despersonalização, categorização como base do processo decisório, super conformidade às rotinas e procedimentos, exibição de poderes de autoridade e dificuldade no atendimento a clientes, não se pode relegar sua grandeza. Pois, o modelo não foi proposto para conduzir as ações dos administradores, mas serve como base para reflexões positivas e normativas que visam explicar a realidade. Então, o que se percebe é que foi a burocracia quem levou as organizações pós-modernas às chamadas “desburocratizações”, a uma maior consciência de todo o processo administrativo e de perceber como esse processo é fundamental para a boa manutenção das organizações, além de ter participação no desenvolvimento do próprio estado da arte da administração. Porque o papel do administrador é identificar a necessidade das regulamentações identificando e eliminando o apego exagerado a elas, evitando assim o excesso de formalismo e intermediando as resistências às mudanças. Para isso, as organizações precisam aproveitar mais do potencial de seus recursos criativos, porque eles não vêem recebendo a atenção devida na grande maioria dos cursos de formação profissional. Tal processo implica não apenas uma nova forma de pensar, mas especialmente o cultivo de uma atitude diante da vida, marcada pela coragem de correr riscos, experimentar e criar. Os ingredientes essenciais da criatividade necessitam ser conhecidos e cultivados ao nível do indivíduo e das instituições, com vistas a promover um melhor aproveitamento de seus recursos humanos e evocar as mudanças que se fazem necessárias na estrutura básica da organização. Portanto, os gestores devem também contribuir para o desenvolvimento crítico e pessoal de seus colaboradores, incentivando a criatividade e o amadurecimento das teorias internas que levam ao atingimento dos objetivos propostos de forma eficiente e eficaz. Se essas mudanças são boas ou ruins, é um julgamento de valor muito pessoal. O novo sistema, algumas vezes, é considerado liberal, podendo trazer dignidade e autonomia para todos os funcionários e eliminando a teia de normas controladoras e confusas que envolvem a maioria das pessoas em sua vida funcional. Em outro momento, ele pode ser visto como um mundo novo, insensível e cruel, onde apenas os mais capazes sobrevivem – e apenas temporariamente. Vai depender de quem está fazendo a análise do processo. Portanto, o que se pode concluir é que tudo isso não é apenas teoria; é realidade. A organização pós-moderna se caracteriza pela responsabilidade, pela autonomia, pelo risco e pela incerteza. Talvez não seja um ambiente tranquilo, mas é muito humano. Acabaram a rigidez e a disciplina artificiais da empresa convencional. Em seu lugar, existe um mundo cheio de confusões, desafios e insucessos característicos do mundo verdadeiramente humano. Disponível em: http://www.taniazambelli.com.br/conhecimento-tania-zambelli/a-teoria-da- burocracia-na-organizacao-pos-moderna 8 Dado o texto acima, pesquise acerca de uma grande empresa de sua preferência e relacione as seguintes questões: - Aponte pelo menos três motivos que justifiquem um posicionamento da empresa no contexto de burocratização. Seja claro, apontando desde o departamento até a qualidade deste procedimento. - Também, aponte pelo menos três motivos que justifiquem um melhor desempenho da empresa sem burocracia. Da mesma forma, seja claro, sem omissões. - Por fim, conclua suas observações apontando os riscos e incertezas causados pelo excesso de burocratização e também pela falta dela. 9 3. OBJETIVOS DA AULA DE ACORDO COM A TAXONOMIA DE BLOOM 3.1. Conhecimento Efetivo Dominar os conceitos relacionados às organizações enquanto orgânicas, sua relação com sistemas mecanicistas e culturas correlatas, bem como estruturas simplificadas. 3.2. Conhecimento Conceitual Conhecer e diferenciar estruturas orgânicas de estruturas mecanicistas e a integração de ambas à uma nova concepção. 3.3. Conhecimento Procedural Identificar sistemas orgânicos, sistemas sociotécnicos e estruturas simples, de acordo com suas características e conforme são apresentados. 3.4. Conhecimento Metacognitivo Integrar os preceitos de sistemas fechados aos sistemas abertos, dadas as intervenções externas, dada as mudanças do pensamento administrativo. 3.5. Quanto ao Processo Cognitivo 3.5.1. Lembrar dos conceitos, suas diferenças e particularidades, acerca de cada termo. O que é, como funciona. 3.5.2. Entender as nuances de cada conceito e sua aplicabilidade nos ambientes da empresa e na organização como um sistema sociotécnico. 3.5.3. Aplicar cada termo na condição certa e na medida certa. 3.5.4. Analisar as questões de organização mecanicista e orgânica, determinando o momento da sua condição como estruturas simples. 3.5.5.Sintetizar o conjunto de conceitos, objetivando o entendimento como um todo. 3.5.6. Classificar/Avaliar a organização enquanto sistema mecanicista limitado. 10 4. LIMITES DA ESTRUTURA MECANICISTA Segundo Morgan (2006), as empresas se comportam como sistemas, mas é um equívoco imaginá-la apenas como um sistema mecanicista, ou seja, como se tudo o que fizesse a empresa funcionar estaria ligado à engrenagens. Destaca que pensamos nas pessoas como parte do sistema e da seguinte forma: - Quando os administradores planejam as organizações, frequentemente planejam uma estrutura formal de cargos em que as pessoas possam se "encaixar". - Quando abre uma vaga numa organização, os administradores frequentemente falam sobre um "buraco" a ser preenchido. - Grande parte de nosso treinamento e educação visa tornar-nos "adequados" e fazer-nos sentir à vontade no lugar que nos é dado para que a organização possa continuar de maneira racional e eficiente. Enquanto humanos sabemos que blocos e peças se encaixam, roupas são adequadas a determinados eventos e buracos no asfalto são tampados para manter a estrada segura. Então se não somos máquinas humanas, como Taylor imaginava, como podemos nos enquadrar às organizações? Em que termos a ciência exata se confunde com a ciência social? Uma coisa temos que concordar, poucos seres humanos conseguem desenhar formas de objetos com medidas perfeitas e sem auxílio nenhum de pelo menos uma calculadora e uma régua. Mas isso não significa que todos os demais seres não são capazes de superar uma máquina. Imitar as máquinas nós já fazemos e muito bem, mas as máquinas ainda não conseguem nos superar, sequer na perfeição dos movimentos. E não me refiro ao processo mecânico de andar, mas de mover as pernas de forma irregular e perfeitamente. 11 Figura 5: Pintura em 3D ao ar livre de Edgar Müller (Humano?) Fonte: http://4.bp.blogspot.com/- LEuY5OGFYYY/UAWuVvfCqfI/AAAAAAAAALA/fQZb7fpzBQ4/s1600/muller.PNG Segundo Morgan (2006), os sistemas mecanicistas funcionam muito bem, desde que as máquinas, em seus movimentos limitados, também funcionem bem: - Quando existe uma tarefa pré-determinada a ser desempenhada. - Quando o ambiente é estável e previsível o suficiente para garantir que os produtos produzidos sejam adequados. - Quando se quer produzir todos os produtos da mesma forma. - Quando a precisão e a eficiência são muito valorizadas. - Quando as partes humanas da "máquina" precisam ser submissas e se comportar como planejado. Algumas organizações têm um sucesso espetacular usando o modelo mecanicista porque preenchem todas estas condições. O McDonald's e muitas empresas do setor de lanchonetes são os melhores exemplos. (Morgan, 2006, Pág. 50) Estudo sobre a Rotatividade de funcionários no McDonald’s – Erechim Faisal Awad Camila Cruz Both Daniel Vinícius Demarchi Na atualidade, vivemos o aprofundamento das questões pertinentes à inovação e a 12 Não só o McDonalds como muitos outros sistemas de franquias têm suas formas de trabalhar no contexto taylorista e dada tanta eficiência, com eficácia garantida. Mas muitas outras empresas também são eficazes e também usam da forma mecanicista para operar, mas não totalmente, apenas em parte. O problema maior das empresas totalmente mecanicistas é a dificuldade que têm em se adaptar à mudanças, como o que ocorreu com a IBM ao final dos anos 70, em que só inovaram após seis anos e seguindo outras empresas menores. Por outro lado, tivemos dois benefícios históricos: A IBM deu a chance de progresso de potenciais concorrentes, condição perfeita para a inovação e a chance de Steave Jobs ficar rico, criar a Pixar e a Next, e posteriormente voltar à frente da Apple e lançar os smartphones no século XXI. Outra questão é a limitação imposta pelos sistemas burocráticos, comuns em globalização, estas enquanto vantagens competitivas sustentáveis dentro das organizações. Esse movimento de evolução tecnológica e interdependência de mercados fazem com que as mudanças sejam cada vez mais rápidas. Pode-se afirmar que dificilmente as pessoas tenham como objetivo fazer sua carreira dentro de uma organização até a sua aposentadoria, coisa que era normal há poucas décadas atrás. A organização caracteriza-se pelo incessante fluxo de recursos que precisa para desenvolver suas operações e obter resultados. Um dos problemas que atualmente vêm preocupando os executivos da área de recursos humanos das organizações é exatamente a intensificação das saídas ou perdas de pessoas, provocando a necessidade de compensá-las através da intensificação das entradas (CHIAVENATO, 2004, p.34). Um dos efeitos é a crescente rotatividade de pessoal, que nada mais é do que a relação entre admissões e demissões, ou à taxa de substituição de trabalhadores antigos por novos, normalmente expressa em termos percentuais. A cada dia cresce a consciência das organizações de que esse é um mal que afeta tanto as finanças quanto o próprio dia a dia das mesmas (clima organizacional). Um alto nível de rotatividade é considerado problema grave dentro de qualquer organização pelo fato de comprometer os resultados da mesma, em face de perda técnica (com a saída de profissionais) e financeira (com os custos desta saída e os custos de atração de um novo colaborador). Desta forma justifica-se a importância desta pesquisa pelo fato de que o elevado índice de rotatividade aponta que algo não está bem na empresa e precisa ser melhorado. Cabe a gestão de pessoas encontrar uma maneira mais eficaz de se manter um baixo índice de rotatividade de pessoal. Continue o artigo acessando: http://www.convibra.org/upload/paper/2014/34/2014_34_9011.pdf 13 empresas mecanicistas, onde o talento de muitos pode estar engessado pela mediocridade de um CEO. Um exemplo. Lembra-se do conceito HP Way que vimos na história da empresa? Talvez fosse mais elástico no seu princípio, mas claramente se distorceu e se igualou a outros sistemas burocráticos do anos 70. Veja o filme a seguir (Piratas do Vale do Silício: Steave Wosniak e a HP): https://www.youtube.com/watch?v=Wic7Ka652Fk Como vimos no filme da história da Apple, onde o inventor do computador pessoal (Steave Wosniak) se vê obrigado, por contrato de prestação de serviços, apresentar sua invenção à um CEO, seguindo a hierarquia definida da empresa, percebemos que nem tudo na HP foi “Way”, como esperavam seus fundadores. A Hewlett Packard e a IBM perderam a chance de não ter a Apple como concorrente, e segundo Morgam (2006) dada as seguintes consequências de uma empresa burocratizada e mecanizada: - Novas questões e resoluções não podem ser resolvidas, pois não há uma norma estabelecida para o novo. - As comunicações podem ser ineficientes porque procedimentos e canais padronizados de comunicação em geral são incapazes de lidar com circunstâncias novas; - Paralisia e falta de iniciativa podem levar ao acúmulo de trabalhos não terminados; - Administradores de nível mais alto podem tornar-se distantes porque não têm contato direto com os problemas da linha de frente; - Alto grau de especialização pode criar visões míopes porque não existe um apanhado geral da situação enfrentada pela empresa em sua totalidade. - Definições mecanicistas de responsabilidades dos cargos podem encorajar muitos membros da organização a adotar atitudes de descaso. Lembra-se do filme “Não é minha responsabilidade!”? O que pode ser mais abrangente do que a palavra gestão? Assim, se a palavra pode ser tão abrangente,por que uma organização não poderia transcender o conceito de sistema alienado à padronização e hierarquização dos processos? Uma das principais questões acerca do sistema mecanicista é sua orientação a um sistema fechado. É como se pensássemos no planeta Terra como uma caixa, onde nenhuma influência cósmica orienta seu funcionamento. Assim, as regras podem ser aplicadas sem qualquer intervenção. Mas a realidade é que há um Sol brilhando e uma Lua movendo as marés. E se para essas duas influências não há muitas regras, imagine para uma empresa. As grandes empresas já descobriram que normas e procedimentos são garantia de qualidade, qualidade total para ser mais específico. Mas qualidade total não garante que seu produto será vendido e o sistema empresa continue a funcionar sem combustível. Nos dias de hoje as maiores influências são as diversas mudanças nas mais variadas ciências e que tornam práticas e até mesmo produtos obsoletos em pouco 14 tempo. Podemos classificar qualquer produto como um objeto de consumismo, mas temos que abrir mão desse discurso naturalista para entender os ganhos realizados na biologia, química, física e até mesmo na comunicação, que pode nos orientar a tomar decisões para a própria sobrevivência. O que eu me refiro é nas mudanças efetivas. Na troca, por exemplo do CD pelo MP3, onde tendemos a jogar menos plástico nos aterros sanitários e até mesmo ter mais tempo, dada sua praticidade e velocidade. Tempo esse que pode ser muito bem aproveitado nas empresas, dando certa liberdade para se pensar. Empowerment. Nas organizações industriais do Japão, caso qualquer operário perceba alguma não-conformidade, ele pode parar o fluxo de produção de uma linha de montagem sem necessariamente ter sido autorizado para tal. Isso mostra que cada vez mais os níveis hierárquicos diretivos diminuem, abrindo espaço para equipes multidisciplinares com atribuições, responsabilidades e poder de tomada de decisões compatíveis. (CERVI, 2009) Segundo Morgan (2006), as abordagens modernas acerca das organizações refletem a importância de cada vez mais das necessidades sociais no ambiente de trabalho. Isso se dá pela necessidade das pessoas em se desenvolverem profissionalmente (teoria da motivação de Abraham Maslow). Muitas teorias da administração apontaram que os cargos e as relações interpessoais poderiam ser planejados para o crescimento pessoal, levando as próprias organizações no mesmo sentido dessas buscas. Quanto mais interessado e engajado o funcionário, maior reconhecimento e autonomia, maior seria o interesse no trabalho. Mas quando se abre a autonomia e enquadra a modelos antigos, técnicos e repressores mecanicistas dessa mão de obra, suas consequências podem ser contrárias ao esperado, como ilustra Morgam (2006): Isto foi claramente ilustrado no estudo de Eric Trist e de Ken Bamforth sobre a mudança tecnológica da mineração de carvão na Inglaterra no final da década de 1940. A tentativa de mecanizar a mineração de carvão através da introdução do método de linha, na realidade, trouxe a linha de montagem para o corte do carvão e criou graves problemas porque destruiu a rede de relações sociais informais presentes na mina. A nova tecnologia prometia aumentar a eficiência, mas trouxe todos os problemas sociais hoje associados com a moderna fábrica. Ela isolou os mineiros, quebrou a coesão e apoio grupais e impediu os indivíduos de controlar seu próprio trabalho. A solução dos problemas foi achar um meio de reconciliar as necessidades técnicas com a eficiência. Leitura obrigatória: “Ferreira, Maria Cristina; Mendonça, Helenides (orgs.). Saúde e Bem-Estar no Trabalho: Dimensões Individuais e Culturais. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2012. Páginas 303 a 306. Biblioteca Virtual: http://uninter.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788580400298/pages/303 15 5. SISTEMA SOCIOTÉCNICO Nos anos 60 houve um grande avanço na indústria norte-americana, onde o consumo era medida de desempenho e enriquecimento. Nos anos 70 o desempenho das indústrias, principalmente as mais tradicionais, como automobilística e a tão recente eletrônica, inaugurando empresas pioneiras em tudo que conhecemos, principalmente em matéria de tecnologia. Destaque maior ainda vem da qualidade crescente dos produtos no Japão, que em meio a um mercado em fase de princípio da globalização, assumiu o comando com reputação de qualidade e confiança. Tudo que era bom e altamente tecnológico provinha do Japão. Até mesmo os consumidores dos seus idealizados automóveis americanos, se curvaram à qualidade e conforto de um veículo japonês. Nesse período de constante ascensão, o Japão cresceu mais que qualquer outro país, driblando facilmente as crises que ocorreram na década de 70, como a crise do petróleo em 1973 e 1979, crise então que balançou mercados e colocou a América latina, dada sua instabilidade política (ou crise de identidade) e baixos níveis de educação, na sua condição de pobres a emergentes. Apelido que nos referenciamos até hoje. CURIOSIDADE A Crise do Petróleo de 1973 Devido a queda real da moeda americana, os países do Oriente Médio (Maiores fornecedores de Petróleo), sofreram grandes desajustes na balança comercial: - Produto único de exportação (petróleo) - Dependência de importações. Crise no Mundo: - Aumento do preço do barril de petróleo de US$ 1,80 para US$ 2,50 em 1971; - Guerra árabe-israelense do Yom Kippur (6 a 25 de Outubro de 1973) - Boicote pela OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) com o corte na distribuição do petróleo. - Aumento do preço do barril de petróleo de US$ 2,59 em Outubro de 1973, para US$ 13,00 em média em 1974. No Brasil: - O Petróleo participava de 42,9% da energia consumida em 1973. - Produção interna de apenas 23,5%. - Inflação de Custos, de 15% em média (1972/1973) para 34,5% em 1974. - Recessão – Desvio de investimentos do setor produtivo para o mercado financeiro (Atratividade pelos títulos públicos – maior rentabilidade e segurança) - Aumento de 246% da dívida externa (1973-78) A Crise do Petróleo de 1979 Em março de 1979 a OPEP decidiu aumentar em 8,7% o preço do barril (Arabian light) – países membros livres para sobretaxar. 2ª crise da década – ainda sob efeito da 1ª crise. Crise política no Oriente Médio: - Crise política no Irã – Destituição do Xá Reza Pahlevi e a ascensão do Aiatolá Khomeini ao Poder. - Retração da oferta de petróleo no mercado mundial. 16 Entre altos e baixos da economia mundial, novas estratégias deveriam aflorar e conceitos deveriam ser remanejados, onde as empresas, ora humanistas, ora mecanicistas, procurariam novas formas de contornar crises e ainda lidar com a diversidade que a eletrônica traria para os mercados. A questão mais importante é que as diferenças culturais trariam novos conceitos às organizações. Sistemas puramente técnicos se viam inclinados à observar sistemas mais humanizados, de liberdade. Embora os sistemas mecânicos, com seus padrões e lógica, ficavam limitados à capacidade das máquinas e de poucos engenheiros, extremamente técnicos e pouco interativos. O princípio sociotécnico agora parece muito óbvio e é claramente reconhecido nas teorias mais populares da organização, liderança e funcionamento de grupo. Mas ainda existe uma tendência da administração a voltar à visão estritamente técnica da organização. Como foi apontado no capítulo sobre a máquina, este foi o problema básico enfrentado pelo movimento de reengenharia. Ao colocar mais ênfase no planejamento dos sistemas técnicos como chave da mudança, a maioria dos programas dereengenharia mobilizou todo tipo de resistência social, cultural e política que minou sua eficácia. (Morgan, 2006, Pág. 59) Figura 6: Modelo Sociotécnico de Tavistock Fonte: http://image.slidesharecdn.com/diapositivasteoriadesistemas-141101191824-conversion- gate02/95/gerencia-diapositivas-teoria-de-sistemas-15-1024.jpg?cb=1414887554 Segundo Oliveira (2012), por mais engessadas que sejam as empresas, seus sistemas são abertos, interagem com o resto do mundo e por isso estão sujeitas a mudanças. Assim, a abordagem sociotécnica resulta em uma interação com os sistemas técnicos e social: A denominação deve-se aos desenvolvimentos teóricos da corrente sociotécnica levados a cabo por investigadores ligados ao Tavistock Institute - Venda da produção de petróleo no mercado livre pelo Irã – Maior preço e à vista. - Consequência – Início de 1979 US$ 12,37/barril – Dezembro de 1979 US$ 22,77/barril. - Política internacional de combate à inflação – Aumento das taxas de juros Veja mais sobre a crise em: http://oglobo.globo.com/infograficos/crise-do-petroleo/ Si st em a So ci o té cn ic o Subsistema técnico Subsistema social - Instalações - Máquina e equipamentos - Tecnologia - Normas e Procedimentos Eficiência potencial Eficiência efetiva - Pessoas - Relacionamentos - Habilidades e competências - Iniciativa e Ideias 17 de Londres, entre os anos 50 e 70 do século XX, que centram as suas análises nas implicações da mudança tecnológica no que respeita à relação entre o subsistema técnico e o subsistema social (Sistemas Sociotécnicos, Apud Oliveira, 2012). Por estarem ambos no mesmo sistema (técnico e humano) a influência entre ambos é mútua e recíproca. Se considerarmos as empresas sob o ponto de vista técnico, as máquinas, equipamentos e tecnologia disponível potencializa muito a garantia de que tudo funcionará como o esperado. Potencializará, porque a efetividade dessa garantia só se dará pela interação humana, mesmo seguindo normas ou não. A questão é, e para ir além? Então se as máquinas potencializam e um sistema social efetiva, controlar esse sistema social, assim como é feito na mecanização, é garantia de eficiência? De eficiência talvez seja, mas não de eficácia. Geert Hofstede (1990, apud Fonseca, 1997) explica melhor isso através da cultura das empresas, onde estudou 60 empresas do ocidente e oriente, onde Fonseca (1997) e Vergara (2006) apresentam esses estudos divididos em quatro dimensões: - Individualismo e coletivismo: Individualista porque as pessoas podem ser influenciadas ou comandadas através de pressão psicológica, levadas a um sentimento de culpa (exemplo: faça, para que outros não saiam prejudicados). Coletivista porque a sociedade em si exerce a influência das ações e o controle pode se dar pela vergonha. (como exemplo, mais comum no oriente, onde executivos japoneses por exemplo podem chegar ao ponto de se matarem se acusados de incompetência ou corrupção). - Fuga à incerteza: grau em que os indivíduos se sentem desconfortáveis com a incerteza e assim, buscariam empresas ou posição que lhes desse conforto ou certeza. Empresas que têm normas definidas podem ser mais atraentes porque já caracterizam pouca exigência à mudanças. Mudanças causam incertezas. - Distância do poder: Trata da forma como uma determinada sociedade lida com as desigualdades sociais. Isso explica um pouco da dificuldade de formação de equipes, uma vez que poucos são iguais e muitos mandam em muitos na hierarquia. - Masculinidade e feminilidade: Trata da forma como trabalhadores e até executivos são tratados. Masculinidade quando há valores associados à assertividade, firmeza, à aquisição de bens; feminilidade quando os valores estão associados aos relacionamentos entre pessoas, preocupação com o próximo e qualidade de vida. Essas dimensões culturais são alicerces que orientam a forma como as empresas se socializam em diversas regiões do planeta. A questão cultural é forte e influencia em diversos aspectos, onde muitas vezes empresas puramente mecanicistas encontram dificuldades de se adaptar. Religião, costumes, classes de renda, entre outros, embora possa até ser 18 alterados para as empresas se comunicarem comercialmente, fator predominante na globalização e que tem unificado muitos modos de consumir, por dentro da empresa pode se condicionar para simplesmente existir. Imagine uma cervejaria originada do Egito instalada no Brasil. De religião muçulmana, lá as sextas-feiras são guardadas para reza. Como poderíamos abrir uma empresa estrangeira no Brasil, seguindo a religião e os costumes, sem qualquer adaptação? Nas sextas-feiras a cervejaria deveria fechar? Imagine ainda uma empresa alemã que desde o início deste século trata rigorosamente as práticas ilegais, como corrupção e cartelização. Estaria ela tão adaptada em outro território que ignoraria esses princípios éticos? Parece que até nisso vale a cultura e os costumes. Empresa alemã Siemens delata cartel em licitações do metrô de SP CATIA SEABRA, JULIANA SOFIA, DIMMI AMORA BRASÍLIA, 14/07/2013 A multinacional alemã Siemens delatou às autoridades antitruste brasileiras a existência de um cartel --do qual fazia parte-- em licitações para compra de equipamento ferroviário, além de construção e manutenção de linhas de trens e metrô em São Paulo e no Distrito Federal. Gigante da engenharia, a empresa já foi condenada em outros países por conduta contra a livre concorrência. Multinacionais acusadas de formação cartel dizem colaborar com investigação A Folha apurou que o esquema delatado pela companhia envolve subsidiárias de multinacionais como a francesa Alstom, a canadense Bombardier, a espanhola CAF e a japonesa Mitsui. Essas empresas e a Siemens são as principais candidatas a disputar o megaprojeto federal do trem- bala que ligará Rio e São Paulo. O leilão deve ser no mês que vem. Combinações ilícitas entre empresas podem resultar em contratações com preços superiores (entre 10% e 20%, segundo estimativas) aos praticados caso elas concorressem normalmente. No início do mês, a Superintendência-Geral do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) realizou busca e apreensão nas sedes das companhias delatadas. A Operação Linha Cruzada executou mandados judiciais em São Paulo, Diadema, Hortolândia e Brasília. Segundo as denúncias, o cartel atuou em ao menos seis licitações. Mas ainda não se sabe ao certo o tamanho real, alcance, período em que atuou e o prejuízo causado. Ao entregar o esquema, a Siemens assinou um acordo de leniência, que pode garantir à companhia e a seus executivos isenção caso o cartel seja confirmado e condenado. A imunidade administrativa e criminal integral é assegurada quando um participante do esquema -- antes que o governo tenha iniciado apuração-- denuncia o cartel, suspende a prática e coopera com as investigações. No caso de condenação, o cartel está sujeito a multa que pode chegar a 20% do faturamento bruto da empresa no ano anterior à abertura de processo pelo Cade. No final da década de 90, houve uma troca no comando mundial da Siemens depois de escândalos de pagamento de propina em vários países. A empresa foi punida no exterior por formação de cartel. A análise do material apreendido levará até três meses. Confirmados os indícios de cartelização, o Cade abrirá processo contra as envolvidas. O conluio, segundo a apuração, inclui outras sete empresas: TTrans, Tejofran, MGE, TCBR Tecnologia, Temoinsa, Iesa e Serveng-Civilsan. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/07/1310864-empresa-alema-siemens-delata-cartel-em-licitacoes-do-metro-de-sp.shtml 19 Segundo Fonseca (1997), a base cultural é feita pelos seus valores, responsáveis pela ação de cada um, que muitas vezes preferem seguir seus princípios a adaptar-se a uma pré-condição. Imagine-se mudando de religião, de time de futebol, entre outros que já estão fielmente inseridos no seu subconsciente. Interessante essa questão cultural não é. Então vejamos, se comparássemos dois países de cultura diferente e até formação, como Brasil e Inglaterra por exemplo. Colocando-os nessa posição cultural entre preferir uma empresa mecanicista a uma empresa orgânica, qual seriam suas preferências. Segundo Hofstede, os britânicos, pontuais e lapidados como conhecemos, se sentem mais confortáveis com estruturas orgânicas. Já o brasileiro, nem sempre pontual, criativo desde que nasce à sua sobrevivência, preferem estruturas mecânicas. Curiosamente o Brasil não é tão orgânico quando poderíamos pensar, já que é tão comunicativo e feminino. Segundo Vergara (2006), Hofstede assegura que o Brasil é uma sociedade coletivista – embora não das mais coletivistas – sendo mais coletivista que o Japão. É um dos países onde mais se busca evitar a incerteza, e onde é grande a distância do poder, entendida tal distância como a aceitação da distribuição desigual de poder. O Brasil é também um pouco mais feminino do que masculino... Figura 7: Culturas Fonte:http://1.bp.blogspot.com/- jKMST5lCroU/UWXaomm7c7I/AAAAAAAAJ3o/hQjRC8Cjm1I/s1600/0.gif Leitura obrigatória: “Práticas Organizacionais e Cultura Organizacional”. Páginas 306 a 313. Biblioteca Virtual: 20 http://uninter.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788580400298/pages/306 6. ESTRUTURA SIMPLES Vamos à definição de empresa. Melhor, vamos à definição do que é uma pequena empresa: Segundo a legislação federal, Lei Complementar LC 123/2006 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp123.htm), capítulo II, temos: Art. 3º Para os efeitos desta Lei Complementar, consideram-se microempresas ou empresas de pequeno porte, a sociedade empresária, a sociedade simples, a empresa individual de responsabilidade limitada e o empresário a que se refere o art. 966 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), devidamente registrados no Registro de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, conforme o caso, desde que: I - no caso da microempresa, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais); e II - no caso da empresa de pequeno porte, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais). Para iniciarmos o tema “Estrutura Simples”, vamos à maior simplicidade possível. Tão simples que sequer a LC 123/2006 mencionada acima, interfere no seu GERÊNCIA GERAL Financeiro RH PRODUÇÃO Comercial 21 funcionamento. A empresa informal. A primeira coisa que nos vem à cabeça quando pensamos em montar nossa primeira empresa, seja por um sonho, oportunidade ou simplesmente porque estamos desempregados, é oferecer um produto ou serviço com a “grande vantagem” de não termos de pagar impostos altíssimos como toda e qualquer outra empresa. Mas isso é um mito. Parece que as únicas “empresas” que têm vantagem com esta opção são as compostas por quadrilhas de assalto ou pirataria (software e música) ou então de tráfico de drogas. Negócios lícitos não têm vantagem alguma em manter a informalidade, seja ele do tamanho que for. Vejamos no quadro abaixo algumas das principais vantagens e desvantagens em formalizar ou não uma empresa: Quadro 1: Comparativo Entre as Vantagens e Desvantagens das Empresas Formais / Informais VANTAGENS DESVANTAGENS Empresa Formal − Tem apoio de organizações e governo. − Possui sede fixa. − Divulgação aberta da empresa e produtos. − Público e mercado mais amplo. − Maior confiança do consumidor. − Crescimento progressivo. − Lucros maiores. − Empréstimos a baixos custos. − Paga impostos. − Sujeita a multas se mal administrada. − Burocracia na abertura e fechamento. − Submissão às Leis. Empresa Informal − Não recolhe impostos. − Preços mais atrativos. − Pouca ou nenhuma responsabilidade social1. − Nenhuma burocracia. − Facilidade de abertura ou fechamento. − Não tem apoio do governo, nem da sociedade. − Sem proteção da sociedade ou governo. − Pouca confiança no mercado. − Sem perspectivas de crescimento. − Baixos lucros. − Mercado restrito. − Necessidade de manter-se anônima. − Responsabilidades civis caem somente sobre o proprietário. − Impossibilidade de financiamento. Fonte: Pequenas e Médias Empresas no Brasil, 2007. Dada a comparação de um dos sistemas mais simples que conhecemos, como a empresa informal, percebemos que sua estrutura simples e extremamente orgânica, 1 Responsabilidade Social: Como o próprio nome diz, responsabilidade para com a sociedade. Para as empresas envolve todos os agentes do bem-estar de uma sociedade, como: garantir a qualidade do produto que vende, bem como o atendimento ao consumidor deste; evitar externalidades negativas que danifiquem ou prejudiquem o ambiente em que vivem; ser solidário à comunidade em que vive (assistência social), entre outros. 22 faz pouco uso de planejamento, treinamento ou instrumentos de ligação. (Mintzberg, 1995) Vejamos como seria uma empresa de estrutura simples e informal no seu cotidiano: Doces Amargos Dona Samirinha é uma dona de casa esforçada e muito querida no bairro onde vive. Há pouco tempo era muito feliz com o pouco que possuía. Não conversava muito como sua vizinha Eulália, pois tinha muito trabalho para criar seus 4 filhos e o marido, Sr. Pedro, ajudante de pedreiro desde o tempo em que namoravam. Desde que juntou-se com seu cônjuge, só fez criar os filhos e arrumar a casa da melhor maneira possível. Tinha uma certa fixação pela casa limpa e arrumada, pois quando ainda vivia com seus pais, convivia com seus irmãos e primos em um ambiente pouco higiênico. Sua mãe catava restos em um lixão próximo de onde vivia e seu pai era aposentado. Samirinha teve poucas oportunidades na vida, principalmente a de estudar. Tudo o que sabia era ler, escrever e fazer algumas contas básicas. Conseguiu concluir até a quarta série quando já era adulta e trabalhava como empregada doméstica. Além de estudar um pouco, também teve a oportunidade de aprender a cozinhar e também de fazer quitutes nas casas onde trabalhou. Dona Samirinha não era simplesmente boa em fazer doces porque aprendera da melhor forma possível. Tinha inteligência para tanto. É como um indivíduo que nasce para pintar, ou para música. Dona Samirinha nascera com o dom de criar doces a partir de misturas que nem sempre agradariam aos nossos paladares. Mas quase como uma alquimista, misturava tudo e criava seus doces com grande maestria. Sua vida nunca foi um mar de rosas, mas também não era em condições miseráveis como quando era jovem. Era pobre ainda, mas mesmo com poucas condições de vida, contornava esta situação em que mal podia presentear seus filhos em aniversários e Natais, fazendo os melhores doces que a vizinhança conhecia. Até pouco tempo atrás, João, seu cônjuge, trabalhava para uma grande construtora. Embora não fosse grande profissional, conseguia manter-se com o pouco que ganhava. Ainda por cima tinha alguns benefícios de serregistrado, como vale-compra, refeição e transporte. Porém, a empresa em que ele trabalhava e que tinha intenção de se aposentar, quebrou e João ficou sem emprego fixo. Teve que buscar diversos trabalhos, mas com remuneração mais baixa e muitas vezes trabalho incerto. Por isso, Dona Samirinha teve que buscar uma alternativa para não faltar pelo menos o feijão e arroz de todos os dias. Pensou em voltar a ser doméstica, mas imaginou que se deixasse seus filhos em creches seria um tipo de abandono. Então, aproveitando algumas economias e com a sugestão de amigos e vizinhos, resolveu montar seu próprio negócio, fazendo doces para fora. Planejou tudo, cada detalhe e em menos de uma semana iniciou. Já na primeira semana o negócio foi um sucesso. Ninguém do bairro ficava sem os doces da Dona Samirinha. Senão algumas vezes em que ela ficava tão cansada que não conseguia se levantar para atender a freguesia. Ou ainda, quando faltava matéria prima e tinha de buscar nas proximidades. Alguns meses se passaram e Dona Samirinha trabalhava horas por dia para atender a toda a clientela. Suas duas filhas mais velhas a ajudavam sempre que podiam na empreitada, pois ela, além de ter de cuidar da casa, ficava até altas horas preparando seus doces. A expansão do seu negócio era praticamente impossível, mas pelo menos resolvia alguns problemas de sobrevivência. Claro que Dona Samirinha até pensou em aumentar seu negócio. Não tinha problemas com demanda, pois era conhecida no bairro. O problema é que limitava-se a trabalhar sozinha. Muitas vezes até tentou contratar uma ajudante, mas como não obtinha a mesma performance que 23 O caso da Dona Samirinha é um bom exemplo dos problemas que a informalidade pode trazer para as empresas. E não é um caso qualquer. Muitas “empresas” passam por problemas similares e sem ter a quem recorrer. Salvo o caso dos mascates, que podem buscar mercados a cada problema que aconteça. Bom, mais isso é o extremo que podemos encontrar de uma estrutura básica e sem sofisticação. Mintzberg (1995), referência em estruturas organizacionais, define bem o perfil de uma estrutura simples e suas características: Acima de tudo, a Estrutura Simples é caracterizada pelo que ela não é – ou seja, elaboração. Basicamente, ela possui pequena ou nenhuma tecnoestrutura, poucos assessores de apoio, reduzida divisão do trabalho, diferenciação mínima entre suas unidades e pequena hierarquia administrativa. Pouco de seu comportamento é formalizado e faz o mínimo uso do planejamento, treinamento e instrumentos de interligação. Mais do que tudo, ela é orgânica. Por isso, nosso exemplo de excessiva estrutura simples, principalmente pela informalidade, demonstra bem que a estrutura simples não é exatamente uma estrutura, como a que vemos no sistema mecanicista, pois evita a formalização de diversos instrumentos. Mas calma, embora as empresas informais sejam tipicamente estruturas simples, não são os únicos exemplos desse tipo de estrutura. A sua condição de necessitava, desistiu. Fora ainda os casos em que funcionária alguma permanecia mais do que dois meses, dada a falta de formalidade nas atividades e no pagamento. Tudo corria bem, até que um certo dia não percebeu que o leite condensado que comprara no mercadinho próximo de sua casa estava vencido e aprontou seus doces como de costume, sem perceber a falta de atenção ou a má intenção do seu fornecedor. Confiava nele, embora não fosse realmente um parceiro comercial. Os doces preparados foram para o aniversário de uma colega de seu filho na escola próxima, encomenda dos próprios pais da menina. Ao final da tarde, a notícia que ninguém esperava, os doces da Dona Samirinha haviam feito mal às crianças. Duas até tiveram de ser hospitalizadas. Como a empresa da Dona Samirinha não era formalizada, tudo não passou de apenas algumas ameaças dos pais das crianças, pois nada poderia ser feito. Sequer a conta do hospital e dos remédios das crianças puderam ser cobrados da Dona Samirinha. E esta, sequer podia pôr a culpa no dono do mercado, o qual comprava sua matéria prima. Até tentou, mas isso só fez piorar ainda mais sua reputação. Por fim, Dona Samirinha teve que fechar seu negócio, pois como o bairro todo percebeu que apenas gostar da Vizinha, ou acreditar no seu talento, não era o suficiente para garantir a saúde de seus filhos e funcionamento da sua empresa. 24 estrutura simples é consequência da informalidade. Figura 8: Fábrica de Sorvetes Fonte: http://www.sorvetesurca.com.br/img/fabrica2.jpg Podemos ter ainda como exemplo de estrutura simples uma média empresa, digamos uma fábrica de sorvetes, devidamente registrada e com faturamento anual ainda condizente com o a Lei Complementar Nº 123/2006. Embora tenhamos atividades similares a estruturas mecanicistas, ela apresenta condições básicas, principalmente de gerenciamento. Isso significa que todo seu funcionamento acontece aos olhos do proprietário e a dependência da sua continuidade é essa. Nessa fábrica, todo e qualquer procedimento, normal ou problemático, é resolvido pelo proprietários. Isso significa que mesmo tendo um supervisor encarregado do andamento da produção e até mesmo um gerente, as decisões são concentradas no proprietário da empresa. Quem conhece uma empresa familiar típica entende a similaridade dessa estrutura. Embora os filhos dividam a administração do estabelecimento, a centralização no “chefe de família” é clara. Talvez não objetiva. Muitas das empresas ao iniciarem seus negócios possuem essa característica básica na sua concepção. Empresas novas, mesmo que acima de médio porte, tendem a trabalhar suas experiências diretas e imediatas, até que caem em si pelo tamanho e veem a necessidade de uma estruturação mais complexa. Não que a experiência de um do proprietário e fundador não sejam importantes, mas geralmente questões de problemas, mesmo que já experientes, podem levar a 25 centralização do comando à tomada de decisões equivocadas, sem cunho técnico e simplesmente intuitiva. A exemplo disso, na nossa fábrica de sorvetes, imagine que a produção deve parar porque o pessoal de limpeza e esterilização não compareceu para trabalhar. Em uma empresa dependente da técnica, essa empresa deve tirar o dia de folga, pois sem substituição do pessoal, não há como proceder corretamente. Mas imagine se o sócio proprietário decide que ela funcionará, porque antes de 1995 essas questões de higienização eram puramente frescura. Nem precisa imaginar. Por outro lado, no mal funcionamento de uma máquina, essa pode ser reparada de imediato, sem a necessidade de seguir critérios determinados, como em uma estrutura burocratizada. Vejamos algumas condições e até vantagens para a estrutura simples, conforme sintetiza Mintzberg: - O ambiente tende a ser um só e ao mesmo tempo simples e dinâmico: Tomadas de decisão rápidas. Nem sempre a condição técnica da empresa exige controle acirrado ou metódico e a padronização não dinamiza o funcionamento da empresa. - A maioria das organizações passa através dessa estrutura em seus anos de formação: A necessidade de iniciar o negócio o mais breve possível, para alavancar no mercado e de pré-formulação da sua estrutura administrativa. - Pequenas organizações tendem a permanecer com essa estrutura, mesmo após seu amadurecimento: A informalidade sempre foi conveniente e eficaz. Pequena, não exige uma estrutura tão padronizada. - Pode ocorrer em organizações altamente elaboradas: Uma condição de crise ou de catástrofe pode fazer com que estruturas mas complexas tornem-se simples em determinado momento, para decisões mais imediatas. Exemplo: Enchente. - Organização empreendedora: Seja simplesou complexa, sua estrutura bem elaborada e até cautelosa, é agressiva e inovadora e busca estruturas simples para interagir e disseminar seus produtos. Uma adaptação ao meio. Outras questões importantes acerca da estrutura simples são os problemas que podem trazer, justamente por essa condição: - A formação pode ser sólida e bem dinamizada, pode alavancar no seu ramo mas pode acabar da mesma forma que é simples. Como a perda do centralizador, que pode fazer com que ela acabe. - A falta de progresso nas carreiras pode limitar o funcionário ao trivial, engessando a mesma como assim mesmo. - A mesma questão de progresso em altos cargos de gerência, limitados a indivíduos próximos à direção. Como o filho ou outro parente próximo do dono, que assume posição qualificada mesmo não sendo. 26 Leitura obrigatória: “Capítulo 1: Organizações e Eficácia Organizacional”. Páginas 1 a 16. Biblioteca Virtual: http://uninter.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788576055600/pages/1 Quizz: Pesquise a Lei Complementar 123/2006 e com base nela, responda a seguinte questão relacionada às pequenas e médias empresas. Analise as alternativas abaixo e marque “V” quando a questão for verdadeira e “F” quando for falsa. ( ) Pequenas empresas (ou de pequeno porte) são, segundo a legislação vigente, classificadas a partir do número de funcionários que emprega. ( ) De acordo com a LC 123/2006, microempresas são aquelas com receita bruta mensal de até R$ 360.000,00. ( ) Segundo a LC 123/2006, pequenas empresas são aquelas que faturam, anualmente, acima de R$ 60.000.000,00. ( ) Um dos maiores destaques da LC 123/2006 é a unificação de impostos Federais, Estaduais e Municipais, em uma única alíquota, para pequenas e médias empresas cadastradas. ( ) A grande desvantagem da LC 123/2006 é a manutenção dos grandes processos burocráticos. 27 7. SÍNTESE DA AULA Nesta Rota o objetivo proposto foi de conhecer os limites da estrutura mecanicista e seu sistema fechado, padronizado e altamente preciso, desde que não influenciado por mudanças. Acerca disso, dados esses limites mecanicistas, integramos os sistemas mecânicos ao sistemas orgânicos na compreensão das organizações enquanto sistemas também sociais, formando a estrutura sociotécnica e sua variação ideal e cultural. Na sequência fora abordado a estrutura básica e fundamental para as empresas, antes de qualquer estruturação complexa que as oriente para o futuro, permanecendo estruturas simples ou até mesmo informais, ou estruturas modernas e adaptadas às mudanças. 28 8. REFERÊNCIAS ANTUNES, Ricardo. Revista Germinal: Marxismo e Educação em Debate. Londrina- PR. v. 1, n. 1, p. 25-33. jun. 2009. BRASIL. Presidência da República. Leis Complementares – Lei Complementar 123/2006. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp123.htm>. Acesso em 11 mar. 2015. Caravantes, Geraldo R. Et. Al. ADMINISTRAÇÃO – Teorias e Processo. São Paulo: Pearson, 2005. Cavagnari, Daniel W. Pequenas e Médias Empresas no Brasil. Curitiba: Aymará, 2007. CORDEIRO, M. 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