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Síntese A síntese ou sutura é conceituada como o conjunto de manobras que visam aproximar os tecidos divididos ou separados durante os atos cirúrgicos de incisão ou divulsão. A sutura corresponde à fase final dos procedimentos cirúrgicos ou dos tratamentos das lacerações dos tecidos moles, e é de fundamental importância em relação a cicatrização, posicionamento e estabilização dos tecidos na fase pós-operatória. Além de manter as bordas das feridas aproximadas, facilitando a reparação tecidual, as suturas funcionam auxiliando na hemostasia pela coaptação dos pequenos vasos e impedindo o aparecimento de espaço morto entre os tecidos a serem suturados. Suturas bem realizadas melhoram a qualidade final das cicatrizes locais. O fio de sutura é que, na realidade, mantém os tecidos na posição desejada, e, segundo Magalhães (1989), as qualidades ideais para um fio de sutura são: ▪ Grande resistência a tração e torção; ▪ Calibre fino e regular; ▪ Mole, flexível e pouco elástico; ▪ Ausência de reação tecidual; ▪ Fácil manuseio; ▪ Custo baixo. Como nenhum único fio de sutura possui todas as caraterísticas ideais, torna-se necessário realizar uma seleção ideal para cada procedimento cirúrgico. A sutura tem como finalidade facilitar a cicatrização, prevenir infecções, proteger o coágulo, evitar formação de “espaço morto” e minimizar a cicatriz local. INSTRUMENTAL PARA SUTURA Os instrumentos utilizados para realização das suturas são porta-agulha, fio de sutura, pinça cirúrgica (dissecção ou dente de rato) e tesoura cirúrgica para sutura. Os porta-agulhas apresentam-se em diversos modelos, sendo o mais utilizado nas cirurgias bucais o porta-agulha do tipo Hegar. A empunhadura deste instrumento é realizada com os dedos anelar e polegar, sendo que o dedo indicador orientará o movimento. FIOS DE SUTURA Os fios de sutura são confeccionados em uma ampla variedade de materiais com indicações e propósitos determinados. Existem vários tipos disponíveis de fios de sutura, e podem ser classificados pela sua composição (orgânicos, sintéticos e metálicos), diâmetro, permanência (reabsorvíveis e não absorvíveis) e pelo tipo de filamento (mono ou polifilamentos). Os fios orgânicos podem ser de origem animal (seda, categute) ou vegetal (linho, algodão), e, destes, o único absorvível é o categute. São exemplos de fios sintéticos: polipropileno, polietileno, Teflon®, e-PTFE (não absorvíveis); ácido poliglicólico, poligalactina 910, poliglecaprone, polidioxanone (absorvíveis). Os fios de sutura podem ser absorvíveis e não absorvíveis. Os fios absorvíveis são aqueles que o próprio organismo decompõe, não sendo necessária a sua remoção no pós- operatório. Existem três tipos de fios absorvíveis mais frequentemente utilizados em Odontologia: categute, ácido poliglicólico e poligalactina 910 (ácido glicólico e láctico em proporção 9:1). O categute é de origem animal, sendo constituído de submucosa de intestino de carneiro ou serosa do intestino do boi. O categute simples é suscetível à rápida digestão por enzimas proteolíticas, produzidas por células inflamatórias (absorção rápida), enquanto o categute cromado, por ser um fio tratado com sais de cromo básico, apresenta mais resistência a estas enzimas e maior tempo de absorção (absorção lenta). Suturas de categute simples conservam sua resistência por período de 5 a 7 dias, enquanto as de categute cromado conservam sua resistência por 9 a 14 dias. Os fios de categute apresentam-se em embalagens metálicas, que os mantêm umidificados, e deverão ser também mantidos úmidos em água ou solução salina durante o procedimento de sutura. Os fios à base de ácido poliglicólico e de poligalactina 910 são fios absorvíveis sintéticos e não sofrem decomposição enzimática. Estes fios sofrem hidrólise lenta e são posteriormente absorvidos por macrófagos. Os fios absorvíveis promovem grande reação tissular quando comparados aos não absorvíveis, não sendo, por isto, indicados para suturas de pele. Os fios não absorvíveis podem ser naturais (seda, linho e algodão), ou sintéticos (náilon, poliéster e polipropileno). Os fios não absorvíveis podem ser mono ou multifilamentados. Os fios monofilamentados são relativamente rígidos e mais inertes aos tecidos, e apresentam relativa dificuldade para a fixação do nó cirúrgico. A forma multifilamentada aumenta a força do fio de sutura e também sua abrasividade, sendo estes mais propícios a causarem contaminação da ferida cirúrgica. Os fios de seda e algodão são indicados para suturas da mucosa bucal, enquanto os de náilon são amplamente utilizados para as suturas de pele. Os fios de sutura estão disponíveis em várias espessuras e sua numeração é em ordem decrescente em relação ao seu diâmetro. O número de zeros do fio de sutura aumenta à medida que sua espessura e seu diâmetro diminuem. Por exemplo, um fio de sutura 2-0 é mais espesso que um 3-0, e esse mais espesso que um 4-0 e assim por diante. Geralmente, a medida do fio de sutura é escolhida de acordo com a força tênsil dos tecidos a serem suturados, devendo-se sempre empregar o fio de menor espessura, mas que seja suficiente para manter a ferida fechada adequadamente. A maioria dos procedimentos cirúrgicos em cirurgia bucal requer o uso de fios de sutura 3-0 e 4-0. A. Sutura em planos. B. Formação de “espaço morto”. A facilidade para a manipulação dos fios de sutura é variável, de acordo com o tipo de material. Em geral, suturas multifilamentadas são mais facilmente manipuladas que as monofilamentadas. O fio de seda tem sido empregado largamente em cirurgia bucal e, para um nó adequado, este fio requer somente três laçadas. Fios como categute e poligalactina 910 requerem quatro laçadas para manter o nó seguro. AGULHAS DE SUTURA As agulhas para sutura são constituídas de aço inoxidável e compostas de corpo, ponta ativa e uma parte terminal que se une ao fio de sutura. As agulhas de sutura podem apresentar-se presas diretamente ao fio de sutura ou como agulhas isoladas, em que é inserido o fio de sutura durante o procedimento de síntese. Nos fios agulhados, esta parte terminal é prensada diretamente ao fio de sutura, facilitando e simplificando a manipulação durante a sutura, além de causar menos danos teciduais. A desvantagem deste tipo de fio de sutura é o custo mais elevado. As agulhas podem ser isoladas (1) ou prensadas diretamente no fio de sutura (2); As agulhas podem se apresentar retas, semicurvas ou curvas, sendo as últimas as mais utilizadas em Odontologia. Podem diferir também quanto a sua curvatura, diâmetro e comprimento. As agulhas prensadas diretamente ao fio de sutura causam menor dano tecidual e são mais fáceis de se manipular durante a sutura. As agulhas isoladas possuem orifícios para a introdução do fio de sutura. Estes orifícios são chamados de “olhos” e podem ser do tipo simples ou duplo; aberto e fechado. A ponta ativa da agulha e o corpo variam de forma em sua secção, podendo ser cônicas ou triangulares. As agulhas triangulares são cortantes e possuem extremidades afiadas que permitem penetrar facilmente em tecidos como pele ou mucosa. A ponta cônica apresenta-se sem extremidade cortante. Alguns autores preferem denominá-las agulhas traumáticas e atraumáticas, respectivamente. A maioria das cirurgias bucais é realizada com agulhas cortantes ou traumáticas. O último instrumento necessário para a sutura é a tesoura. A tesoura de sutura normalmente tem pontas cortantes, podendo ser reta ou curva. A tesoura mais comumente utilizada em cirurgia oral é a tesoura de Dean. Deve-se empunhar a tesoura da mesma maneira que o porta- agulhas. Outros tipos de tesoura podem ser utilizadospara corte e divulsão dos tecidos. São exemplos de tesoura para tecido as tesouras de Íris e Metzenbaum. As tesouras para tecido, como a Íris e a Metzenbaum, não devem ser usadas para cortar suturas, pois o material do fio de sutura cegará as margens das lâminas e irá torná-las menos efetivas e mais traumáticas para utilização nos tecidos. TÉCNICA BÁSICA DE SUTURA Para a realização de adequada sutura devem ser seguidas normas técnicas que, associadas à habilidade do cirurgião e ao uso correto do instrumental, são essenciais para o sucesso do procedimento. Os princípios básicos para a realização das suturas são: ▪ A agulha deverá ser apreendida pelo porta-agulha na metade ou a três quartos de distância da ponta; ▪ A agulha deverá penetrar perpendicularmente ao tecido a ser suturado; ▪ Durante a introdução da agulha, realizar movimentos circulares que acompanhem a sua curvatura, realizando movimento de rotação do pulso do cirurgião, evitando movimentos lineares que podem dilacerar as bordas do tecido. A agulha deverá ser apreendida pelo porta-agulha na metade ou a três quartos de distância da ponta. Durante a introdução da agulha, realizar movimentos circulares que acompanhem a sua curvatura, fazendo movimento de rotação do pulso do cirurgião. ▪ Não forçar a agulha contra os tecidos, a fim de evitar quebras ou distorções; ▪ A ponta ativa da agulha não deve ser tocada pelos instrumentos; ▪ Realiza-se a sutura dos tecidos móveis em direção aos relativamente fixos; ▪ A sutura deverá aproximar as bordas da ferida, sem causar tensão ou distorção. Qualquer tensão excessiva comprometerá a vascularização do tecido a ser suturado; Sutura correta. B a E. Posições incorretas das bordas da ferida cirúrgica. ▪ A agulha deverá ser passada nos tecidos com auxílio de pinças de dissecção, transfixando suas bordas em uma etapa ou duas, de acordo com a proximidade entre elas; Técnica de sutura: A. Introduzir a agulha perpendicularmente ao tecido. B a D. Transfixação das bordas da ferida em uma única etapa. E e F. Nó cirúrgico. ▪ O primeiro ponto de sutura deverá ser realizado no meio da incisão, o segundo e o terceiro em suas extremidades. A partir de então, os pontos deverão ser distribuídos uniformemente e de forma equidistante; ▪ Na sutura de retalhos cirúrgicos com incisões relaxantes, o 1o ponto deverá ser realizado no ângulo das incisões, de forma a reposicionar o retalho; ▪ O nó cirúrgico poderá ser realizado manualmente ou com auxílio de porta- agulhas (comumente utilizados nas cirurgias bucais); ▪ O nó cirúrgico deverá ser sempre posicionado lateralmente ao traço da incisão e nunca sobre este. Sequência do nó cirúrgico realizado com porta-agulha. Existem diversos tipos e formas de suturas que poderão ser indicados para situações diferentes, de acordo com a preferência do cirurgião. As suturas podem ser dos tipos isolado ou contínuo. As suturas isoladas exigem mais tempo, mas proporcionam melhor orientação na adaptação dos bordos da ferida. O rompimento de um ou outro ponto isoladamente não prejudica a integridade da sutura. As suturas isoladas podem apresentar-se de diferentes formas: ▪ Sutura isolada simples: é uma das mais utilizadas, formando o fio uma única alça dentro do tecido, com um orifício de entrada e outro de saída. Sutura isolada simples. ▪ Sutura isolada em U vertical: é a associação de dois pontos simples, sendo cada lado perfurado duas vezes, ficando a alça do fio em posição vertical; Sutura isolada em U vertical. ▪ Sutura isolada em U horizontal: é um ponto semelhante ao anterior, ficando a alça do fio em posição horizontal; Sutura isolada em U horizontal. ▪ Sutura isolada em X ou 8: tem formato de X ou 8, sendo utilizada para aumentar a superfície de apoio da sutura. Sutura isolada em X ou 8. As suturas contínuas caracterizam-se pela não interrupção do fio cirúrgico e possuem formas semelhantes às das suturas isoladas. Têm como desvantagens a maior quantidade de fios que permanece entre os tecidos e o fato de que, se houver ruptura do fio no pós- operatório, toda a sutura será perdida. São elas: ▪ Sutura contínua simples: inicia-se a sutura com um primeiro ponto simples, passando-se, então, a agulha continuamente, formando um chuleio em torno da incisão. Sutura contínua simples. ▪ Sutura contínua do tipo festonado: consiste na realização de um chuleio simples, sendo que o fio depois de passado é ancorado sucessivamente na alça anterior. Sutura contínua do tipo festonado. ▪ Sutura contínua em U horizontal: formada por sucessivos pontos em U horizontal. Sutura contínua em U horizontal. ▪ Sutura contínua em U vertical: formada pela aplicação sucessiva de pontos em U vertical; ▪ Sutura intradérmica: tipo de sutura contínua em que os fios passam profundamente através da derme, evitando assim a possibilidade de cicatrizes visíveis causadas pela presença de pontos transversais externos sobre a incisão cirúrgica. São indicadas para pequenas incisões lineares em regiões estéticas. REMOÇÃO DOS FIOS DE SUTURA Os fios de sutura deverão ser removidos em períodos de tempo determinados, de acordo com a região do corpo que foi suturada. Suturas em locais de menor tensão são removidas em torno de 3 a 5 dias, e em locais de grande tensão, em 10 a 12 dias. As suturas intrabucais deverão ser removidas em 7 a 10 dias. Para a remoção do fio de sutura deve- se realizar antissepsia da região com soluções antissépticas bucais; em seguida traciona-se suavemente o fio e corta-se o nó na porção que estava dentro dos tecidos. Esta manobra evita que a porção do fio de sutura que estava em contato com o meio bucal passe, durante a remoção do fio, pelo interior dos tecidos .
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