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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA PESQUISA: O USO DAS CIÊNCIAS ECONÔMICAS NO ENSINO DE GEOGRAFIA NO ENSINO FUNDAMENTAL Gladstonier Roberto Pereira Serrano - 83128 Viçosa, 2016. UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA 2 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 2 2. JUSTIFICATIVA ..................................................................................................................... 3 3. OBJETIVO GERAL ................................................................................................................ 3 4. OBJETIVO ESPECÍFICO ...................................................................................................... 3 5. METODOLOGIA .................................................................................................................... 4 6. REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................................... 4 6.1. PRINCIPAIS TEORIAS ECONÔMICAS ..................................................................... 5 6.1.1. OS DEZ PRINCÍPIOS DA ECONOMIA .............................................................. 6 6.1.2. OBSERVAÇÕES GERAIS SOBRE AS TEORIAS ECONÔMICAS ............... 12 6.2. A GEOGRAFIA ECONÔMICA ................................................................................... 13 6.3. GEOGRAFIA PARA A CIDADANIA ......................................................................... 15 6.4. EDUCAÇÃO FINANCEIRA ........................................................................................ 16 6.4.1. SITUAÇÃO ECONOMICA BRASILEIRA ........................................................ 16 6.4.2. EDUCAÇÃO FINANCEIRA E GEOGRAFIA ................................................... 18 7. O LIVRO DIDÁTICO ........................................................................................................... 19 8. ENTREVISTA ........................................................................................................................ 23 9. QUESTIONARIOS ................................................................................................................ 25 10. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 27 11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 27 1. INTRODUÇÃO A Geografia escolar tem como um de seus objetivos contribuir para a formação cidadã dos alunos. Para uma formação cidadã adequada é necessário que se conheça a sociedade e as relações entre os atores que compõem essa sociedade, por isso o conhecimento econômico é uma ferramenta muito importante, visto que as sociedades em um mundo eminentemente capitalista são movidas por fatores econômicos. A Geografia como uma ciência que busca informações em várias ciências corre o UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA 3 risco de algumas vezes não procurar entender de forma mais consistente os conceitos da ciência que incorporou, seja na Geografia física ou humana. A economia é uma ciência importante para formar cidadãos, mas em muitos momentos é negligenciada, mesmo quando se trata de temas que precisam deste conhecimento para compreender de forma mais ampla o assunto em questão. A geografia econômica teria a função de estudar os aspectos econômicos que regem a sociedade e por consequência alteram o espaço geográfico. A questão suscitada a partir disso é: em que medida a Geografia escolar, sobretudo a Geografia econômica, se utiliza dos conceitos da Economia ao apresentar conteúdos relacionados com as Ciências Econômicas? 2. JUSTIFICATIVA A economia permeia grande parte das relações sociais nas sociedades modernas, sobretudo nas capitalistas, por isso entender como essas relações ocorrem é imprescindível para ter uma leitura mais clara da realidade. A economia, como ciência, é um instrumento capaz de conceder aos que por ela se interessa capacidade de compreender como as decisões dos agentes que controlam a economia afetam suas vidas e qual o papel delas no mercado, possibilitando uma maior clareza ao escolher o que comprar, como comprar, quando comprar, quais políticos escolher, etc. A Geografia, sendo uma ciência que estuda a relação entre sociedade e natureza, tem o papel de estudar como essas relações funcionam e como elas afetam o espaço e são afetadas por ele. Já a Geografia escolar tem como um de seus papéis a formação cidadã, portanto deve dotar os alunos de uma capacidade crítica para compreender essas correlações, em grande medida permeadas por um viés econômico. Daí a necessidade do ensino de economia na Geografia e um dos motivos de existir um ramo desta ciência denominado Geografia Econômica. 3. OBJETIVO GERAL O objetivo desta pesquisa é entender como a Geografia trabalha os conceitos econômicos importantes para a formação cidadã dos alunos de escolas públicas do ensino fundamental. 4. OBJETIVO ESPECÍFICO ● Identificar como os conteúdos de Geografia econômica são aplicados nas escolas. UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA 4 ● Descrever os conceitos e métodos utilizados. ● Procurar as principais características do ensino da Geografia econômica. ● Relacionar os conteúdos aplicados ao que se vislumbra como ideal para alguns autores, como Callai (2001), Ferreira (2009 e Junior (2010). ● Comparar com as principais teorias defendidas pelos economistas, segundo a análise de Mankiw (2005). 5. METODOLOGIA O método de pesquisa utilizado será o de estudo de caso, neste método deve-se delimitar a unidade de pesquisa, com limites bem definidos. O objeto de pesquisa deve ser analisado em seu contexto, buscando diferentes visões teóricas. Este método estuda eventos contemporâneos, a partir da situação encontrada in loco ou por meio de estudo de materiais documentais. Segundo Yin (2001) “o estudo de caso exemplar é aquele que, judiciosa e efetivamente, apresenta as evidências mais convincentes, para que o leitor possa fazer um julgamento independente em relação ao mérito da análise”. No caso do estudo em questão, será analisada a presença ou não das teorias econômicas nos materiais didáticos de Geografia, e também como o tema é trabalhado, por quais autores, bem como o pensamento predominante nesses materiais. O uso de entrevistas também é uma ferramenta importante para compreender qual o contato que os alunos possuem com a Geografia Econômica, visto que muitos professores usam os livros didáticos apenas como apoio, trazendo outros materiais para complementar o aprendizado dos alunos. Haverá também o uso de questionários para saber o nível de aprendizagem dos alunos. Os estudos serão feitos em escolas estaduais e municipais da cidade de Ponte Nova, Minas Gerais. São elas: Escola Municipal Reinaldo Alves Costa e Escola Municipal José Maria da Fonseca. 6. REFERENCIAL TEÓRICO Foram escolhidos textos correlacionados ao tema, seja direta ou indiretamente. As escolhas foram baseadas em leitura prévia e na conclusão de que são pontos de vista interessantes e até mesmo divergentes em alguns aspectos, um texto de ideologia liberal e UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA 5 os demais de ideologia marxista, o que proporciona a possibilidade de se enxergar a questão por mais de um ângulo e favorecer o entendimento.6.1. PRINCIPAIS TEORIAS ECONÔMICAS O principal motivo da escolha do livro de Mankiw (2005) para compor este trabalho foi a quem o autor destinou o livro, livros de economia são geralmente voltados a economistas, mas ele teve a preocupação de tentar se colocar no lugar de quem tem o primeiro contato com a economia, evitando a teoria econômica formal e tentando dar um enfoque mais politizado, bem como aplicações políticas das teorias econômicas. Mankiw traz os conceitos de economia com uma abordagem simples, repleta de exemplos e outros recursos para facilitar ao leitor o entendimento das teorias econômicas, que muitas vezes assustam aqueles que buscam aprender esta indispensável ciência, que é muito importante para se compreender tudo o que envolve a vida em sociedade. O autor introduz o livro dizendo como se apaixonou pela economia, afirmou que as aulas de princípio à economia, nos dois primeiros anos da faculdade, foi o que mais o animou em sua vida acadêmica. Sempre teve predileção pelas ciências, porque elas sempre avançavam, mas os debates políticos pareciam sempre inertes, foi neste momento que ele teve contato com a economia e afirmou o que se segue: Meu curso sobre os princípios da economia abriu-me os olhos para uma nova maneira de pensar. A economia combina as virtudes da política e da ciência. É, na verdade, uma ciência social. Seu objeto de estudos é a sociedade - como as pessoas optam por levar suas vidas e como interagem umas com as outras. Mas ela aborda o tema com a imparcialidade de uma ciência. Trazendo os métodos científicos para as questões políticas, a economia tenta progredir em relação aos desafios enfrentados por todas as sociedades (MANKIW, 2005, p. XII). Apesar de ser questionável o fato da imparcialidade na ciência, a economia, enquanto ciência social, visa compreender as complexas relações entre as pessoas de uma determinada sociedade, bem como as relações entre sociedades diferentes. Mankiw afirma que "a economia é uma matéria em que um pouco de conhecimento nos leva por longos caminhos" (MANKIW, 2005, p.7), desta forma, quando se proporciona aos alunos um pouco de conhecimento em economia eles podem ser levados a caminhar rumo à compreensão da sociedade da qual eles fazem parte. Eles serão capazes de desenvolver um senso crítico necessário para torná-los cidadãos conscientes dos rumos que suas escolhas UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA 6 políticas (o voto, por exemplo) podem produzir no corpo social em que estão inseridos. Um exemplo da necessidade do conhecimento econômico para entender a política é a PEC 241/2016, é uma medida do governo federal que pode afetar de forma direta a vida de todas as pessoas, mas o que se vê nas discussões em rodas de amigos e comentários em redes sociais são opiniões formadas através de artistas, políticos e outras pessoas famosas, sem um aprofundamento, é notória a falta do viés econômico nas discussões, o que pode ser causa de um déficit no aprendizado sobre os conceitos desta disciplina. O livro é dividido em Microeconomia e Macroeconomia, o primeiro se refere às relações entre os compradores e vendedores, entre empresas e clientes, o segundo às economias de Estado. Mas antes de entrar na divisão escalar ele traz os dez princípios da economia, trazendo a visão de mundo dos economistas e sintetiza as ideias mais defendidas por eles, nesta resenha será feito um resumo de todo o conteúdo do livro a partir dos dez princípios, tanto de macroeconomia, quanto de microeconomia. 6.1.1. OS DEZ PRINCÍPIOS DA ECONOMIA O primeiro princípio é intitulado “As Pessoas Enfrentam Tradeoffs”. Tradeoff é o conflito da escolha, vem do princípio de que “nada é de graça”, para que se possa comprar algo tem que se abrir mão de outra coisa, o tradeoff clássico é o de “armas e manteigas”, um Estado tem de escolher se vai gastar mais em defesa do território/fronteiras ou investir em bens de consumo. Se o Estado investir mais em bens de consumo, pode vir a deixar suas fronteiras desprotegidas, porém se escolhe investir mais em defesa pode prejudicar o abastecimento da população e consequentemente provocar problemas de insatisfação do povo. Outro tradeoff é o entre equidade e eficiência, a eficiência em economia é quando a sociedade obtém o máximo de produção com poucos recursos, já a equidade é a divisão justa entre os recursos entre as pessoas da sociedade. Geralmente ao se fazer planejamentos os governos encontram esse conflito de escolhas. Há outros exemplos de tradeoffs, porém estes são suficientes para se ter um panorama geral desta importante teoria, da teoria do conflito das escolhas. Segundo Mankiw “reconhecer os tradeoffs em nossa vida é importante porque as pessoas somente podem tomar boas decisões se compreenderem as opções que lhes estão disponíveis” (2005, p. 5). O segundo princípio é intitulado “O Custo de Alguma Coisa é Aquilo de que Você UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA 7 Desiste para Obtê-la”. Este princípio é uma complementação do primeiro e para entendê-lo bem é preciso antes diferenciar a economia da contabilidade, para a contabilidade o custo de algo é apenas aquilo que se pode medir monetariamente, valor financeiro, para a economia tem que se avaliar o custo de oportunidade, este conceito é muito importante, pois pode definir demandas ou ofertas, o custo de oportunidade é tudo aquilo que se deva abrir mão para conseguir outra coisa. Um bom exemplo do custo de oportunidade é quando uma pessoa deve escolher entre trabalhar ou frequentar a faculdade, muitas pessoas colocariam na conta o que ele deixaria de ganhar e o que ele ganharia após terminar a faculdade, porém os custos vão muito além disso, para se estudar a pessoa deve abdicar de um status, que muitas vezes não se pode medir, abdicar de passar mais tempo com a família, dedicar tempo que teria com o lazer para as tarefas da universidade ou mesmo horas de sono, estas coisas não podem ser medidas monetariamente, mas são coisas muito importantes para se pesar ao calcular o custo de uma escolha, o custo de oportunidade é algo muito pessoal e pode variar em cada indivíduo. Outro exemplo um pouco mais simples é da escolha entre um carro popular ou um carro de luxo, a escolha pode ir desde a segurança até o status que um carro de luxo pode dar, é possível se medir a diferença entre dar menos ou mais segurança para a família ou de poder ser melhor aceito em determinado círculo social? A resposta é não, mas é possível mensurar alguns destes dados e conseguir cálculos bem aproximados de oferta/demanda. O terceiro princípio é “As Pessoas Racionais Pensam na Margem”, este ponto traz outro conceito usado pelos economistas, o de mudanças marginais. O autor define como mudanças marginais “ajustes ao redor dos extremos” (Mankiw, 2005, p.6). Um exemplo que ele traz no livro é o de uma pessoa que já tenha certo grau de instrução, mas decida passar mais um ano na universidade, ele deve analisar os benefícios e custos adicionais (salário mais altos, prazer em aprender ou custo da instrução, salário que vai deixar de receber enquanto estuda), se os benefícios marginais são maiores que os custos marginais o empreendimento é interessante de ser feito, mas se os custos marginais forem maiores não seria interessante, assim deve agir um tomador de decisões racional. O quarto princípio é intitulado “As Pessoas Reagem a Incentivos”, alguns incentivos do governo podem mudar completamente as atitudes das pessoas, o aumento do UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA 8 preço de um bem pode gerar o aumento no consumo de outro que seja substituto. Entender essa relação entre aumentodo preço e a demanda das pessoas é crucial para entender a economia. Outros incentivos que merecem destaque são incentivos do governo para que consiga certas atitudes da população. O aumento de impostos sobre determinados produtos, por exemplo, pode desestimular o consumo ou a redução de impostos estimular o consumo. Existem alguns exemplos muito bons para entender esse comportamento, o aumento de impostos nos cigarros, junto com as propagandas alertando dos efeitos nocivos do mesmo, tanto em mídias quanto na própria embalagem do produto é uma forma de tentar desincentivar o consumo, ou mesmo o uso de estacionamento rotativo, pode desestimular as pessoas a estacionarem nas áreas demarcadas, visto que terão que pagar uma taxa para estacionarem em determinado horário nestes locais, um exemplo de incentivo governamental que ocorreu nos Governos do Brasil nas administrações de Dilma/Lula foi a redução de IPI em veículos novos, com a redução a venda de veículos automotores novos aumentou vertiginosamente, enquanto que o de usados diminuiu, com o preço menor muitas pessoas procuraram adquirir veículos novos, o que trouxe alguns pontos negativos para a economia, como aumento de endividamento e de veículos poluentes nas cidades, mas aqui vemos outro tradeoff, entre poluição e renda. Uma política governamental não deve ser analisada apenas pelos seus efeitos diretos, mas também pelos indiretos, como no caso do IPI ou mesmo no auxílio desemprego que garante ao trabalhador melhores condições de subsistência, apesar deste efeito imediato e positivo ele pode desincentivar o trabalhador a buscar um novo emprego já no primeiro mês, o que poderá dificultar que ele seja reinserido no mercado de trabalho. Estes quatro princípios que foram discutidos são relativos às decisões tomadas pelas pessoas individualmente, os próximos três princípios são relativos à forma como as pessoas interagem umas com as outras. O princípio cinco é denominado “o Comércio Pode Ser Bom para Todos”, se as famílias estivessem isoladas teriam que produzir exatamente tudo o que precisam - vestuário, suas casas, todos os alimentos que consomem, meios de transporte e mesmo produtos eletrônicos, tão indispensáveis na vida da sociedade moderna. Há competição entre as empresas e famílias, as famílias competem ao ofertar sua UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA 9 mão de obra e ao procurar preços menores ao comprar produtos, da mesma forma as empresas competem umas com as outras pelos clientes de determinados produtos, e até mesmo países. Um exemplo citado no texto é o Japão e os EUA, eles competem em alguns setores, como o automobilístico, a Toyota e a Ford disputam os mesmos clientes em vários países do mundo, e isso é bom para todos, inclusive para os clientes, pois as empresas precisam investir em tecnologia para tornar seus produtos mais atrativos para as pessoas, e para as empresas que podem usufruir os avanços da outra empresa, ocorreu com freio ABS, com Airbag e outros itens muito importantes para a segurança dos consumidores. O comércio permite que eles se especializem naquilo que fazem melhor e desfrutem de uma maior variedade de bens e serviços. Os japoneses, os franceses, os egípcios, são tanto nossos parceiros na economia mundial quanto nossos concorrentes (MANKIW, 2005, p. 9). O sexto princípio é intitulado “os Mercados São Geralmente uma Boa maneira de Organizar a Atividade Econômica”, aqui ele faz um contraponto entre a definição e preços nos mercados comunistas e nos mercados com mais liberdade econômica. Os comunistas (como em Cuba, China e URSS) acreditam que a melhor forma de definir os preços é deixar que os planejadores centrais do governo conduzam as atividades econômicas, decidindo o que produzir, quanto produzir e quem produzir e consumir. Este tipo de intervenção provou não ser efetivo ao longo da história e hoje a maioria dos países que adotaram essas medidas mudaram para um mercado com maior liberdade econômica. Para Mankiw (2005) as forças de mercado podem gerir melhor os preços, trazendo maior equilíbrio, ele cita o famoso economista Adam Smith e sua teoria da “mão invisível”, as ofertas e demandas de milhões de famílias e empresas das sociedades são capazes de conseguir os preços mais justos. Uma empresa só vai produzir e vender se as pessoas estiverem dispostas a comprar aquele produto pelo preço que a empresa oferecerem. Os preços precisam ter equilíbrio, caso estejam acima do equilíbrio, a demanda vai diminuir e se estiver abaixo pode-se enfrentar o problema da escassez de produtos. A “mão invisível” do mercado ajusta os preços à medida que, se um produto for abundante na economia, mesmo que as pessoas queiram este determinado produto, vai haver uma grande quantidade de empresas concorrendo por esses clientes, o que vai ajustar os preços para baixo, do mesmo modo que a escassez de determinado produto pode provocar alta nos preços, já que a oferta será menor e as pessoas vão demandar mais deste UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA 10 produto. Se um produto estiver muito barato as pessoas vão comprar mais, porém isso vai diminuir a quantidade do produto no mercado o que vai ajustar o preço para cima, da mesma forma que se o preço subir além do que as pessoas estão dispostas a pagar os preços serão reajustados para baixo. Outros fatores que podem alterar essas dinâmicas, além do preço em si, são: o desejo das pessoas pelos produtos, as expectativas quanto a alterações futuras nos preços, aumento de tecnologias e consequente barateamento dos insumos de produção, entre outros. O sétimo princípio é nomeado “às Vezes os Governos Podem Melhorar os Resultados dos Mercados”, apesar de a “mão invisível” ser geralmente boa para gerir o mercado é preciso que o Estado a proteja, é preciso defender o direito de propriedade e garantir a segurança para que o mercado produza bem, um fazendeiro não vai se sentir motivado a produzir caso não tenha garantia de que seus produtos não serão roubados, ou pelo menos que haverá alguém que julgará alguém que violar seu direito de propriedade. A “mão invisível” é geralmente boa, mas existem exceções importantes, por isso é necessário que o Estado intervenha algumas vezes para organizar as atividades econômicas, os dois motivos genéricos e principais são garantir a equidade e a eficiência do mercado, ou seja, aumentar a quantidade produzida ou mudar a forma como a produção é dividida. Além disso, ainda existem as falhas de mercado, uma expressão utilizada pelos economistas para definir algumas situações em que o mercado não consegue alocar recursos de forma eficiente, um exemplo citado por Mankiw é a externalidade, que é quando as ações de uma pessoa podem interferir de forma negativa na vida de outras pessoas. A poluição, por exemplo, é um fato em que o Estado deve intervir, se uma pessoa produz não respeitando os limites de poluição prejudica as pessoas que estão próximas, temos aqui um tradeoff importante, já citado anteriormente. Outro exemplo é o poder de mercado, se uma cidade possui apenas uma porção de terra fértil, o proprietário não terá competição e poderá vender o seu produto ao preço que quiser, já que não haverá qualquer controle, visto que sem competição a “mão invisível” não pode controlar o mercado. Outro problema é que a mão invisível nem sempre garante equidade na divisão da prosperidade econômica, um jogador de futebol ganha mais que um jogador de xadrez, porque as pessoas estão mais dispostas a assistir uma partida de futebol que uma de xadrez, UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA 11 ou uma modelo feminina ganha mais que um modelo masculino,visto que as pessoas estão mais dispostas a assistir desfiles de moda feminina que masculina. Desta forma a “mão invisível” não pode garantir que as pessoas tenham alimento suficiente, acesso a vestuário, educação ou atendimento médico, para tanto o Estado pode prover políticas públicas para suprir essas necessidades, dando mais equidade e bem-estar econômico à sociedade. Vale ressaltar que o Estado pode melhorar os resultados do mercado, porém nem sempre vai melhorar. A política não é feita apenas por pessoas idôneas, mas possui muitas pessoas que estão interessadas a governar apenas para os que detêm maior poder econômico, outras vezes é composta por pessoas idôneas, mas não capacitadas, que têm boas intenções, mas não competência. Mankiw destaca aqui que “um dos objetivos do estudo da economia é ajudar você a julgar quando uma política governamental é justificável para promover a eficiência ou a equidade e quando não é” (2005, p. 12). A já citada PEC 241/16, visa claramente a eficiência, mas não a equidade. Os três últimos princípios falam especificamente de como a economia funciona, os primeiros falaram das decisões individuais de cada um, o segundo das relações entre diferentes agentes, a última fala sobre o funcionamento estrutural da economia. Oitavo princípio: “O Padrão de Vida de um País Depende de sua Capacidade de Produzir Bens e Serviços”. O principal fator para aumento da qualidade de vida das pessoas é a capacidade do país em produzir bens e serviços, é notória a diferença entre os países mais produtivos e os menos produtivos, nos EUA o aumento da produtividade trouxe grandes avanços na qualidade de vida da população em geral, apesar de haverem diferenças entre os mais ricos e os mais pobres, as coisas melhoraram significativamente para todas as classes sociais. Já em países onde a capacidade produtiva é baixa a qualidade de vida tende a ser bem menor. Apesar de a produtividade ser algo importante para a qualidade de vida existem fatores secundários que podem contribuir para a melhora na vida dos cidadãos. Sindicatos podem garantir melhores salários e mais direitos trabalhistas, mas sem produtividade eles não poderiam garantir melhoras, já que uma economia doente não pode dar melhores condições aos seus cidadãos simplesmente por não ter recursos. Nono princípio: “Os preços Sobem Quando o Governo Emite Moedas Demais”. A inflação é um aumento no nível de preços geral da economia, isso tem um impacto UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA 12 econômico e social muito grande na sociedade. No Brasil, na década de 1980 e início da década de 1990, houve um fenômeno denominado hiperinflação, havia taxas de inflação de mais de dois mil por cento ao ano, isso provocava sérios danos à economia, como desemprego, alta dos preços de todos os produtos, incluindo a cesta básica, a remarcação de preços era diária neste período, até que no governo do ex-presidente Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso implantou-se o plano real, que obteve êxito no combate à inflação e o país pôde respirar aliviado. O principal motivo para o aumento da inflação é quando o governo imprime moedas demais, quando mais moedas circulando na economia menor o valor da moeda, assim como qualquer produto. Muitas vezes a solução mais simples para alguns governantes é imprimir mais moedas, mas isso causa um dano indesejável e que pode persistir por anos, afetando diretamente a qualidade de vida da população. O décimo e último princípio e o mais questionável é “a Sociedade Enfrenta um tradeoff de Curto Prazo entre Inflação e Desemprego”. Esta teoria é a mais questionável das já apresentadas até aqui, a curva de Philips que é base desta teoria, afirma que quando se diminui a inflação há uma queda de empregos e quando se aumenta a inflação o emprego aumenta também, isso no curto prazo, no longo prazo pode-se ter a pior situação possível, inflação alta e desemprego alto. Esta situação pode até ser encontrada em alguns lugares, mas nem sempre é comprovada na prática, no final da década de 1990, no governo de Fernando Henrique Cardoso, apesar do controle da inflação houve aumento do desemprego, o que poderia sim corroborar para a teoria da curva de Philips, porém não se pode deixar de observar que apesar disso o governo de FHC trabalhou também para a valorização da moeda nacional, frente ao dólar, isso favoreceu a importação e aumentou o poder de compra das pessoas, mas ao mesmo tempo prejudicou as exportações e aumentou a competição no mercado interno, o que trouxe impactos negativos na economia (algo que corrobora também para o princípio sete, já que neste caso o governo foi bem-intencionado, mas não calculou os danos colaterais da valorização da moeda nacional). 6.1.2. OBSERVAÇÕES GERAIS SOBRE AS TEORIAS ECONÔMICAS A economia é a ciência social que estuda a administração do lar, é a utilização de recursos escassos para a máxima satisfação das sociedades, é importante entender que a economia trabalha com hipóteses, o objeto de estudos da economia ao contrário de outras ciências não pode ser reproduzido em laboratórios, portanto ela trabalha com observação UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA 13 das economias já existentes, e os cálculos são realizados a partir do isolamento de determinada variável, já que os fatores de influência das economias são muitos, para tal se utiliza a expressão “ceteris paribus”, todas as demais variáveis são mantidas constantes. As análises são feitas a partir de gráficos, diagramas e equações. O livro Introdução à Economia de Mankiw consegue desenvolver no leitor uma visão que lhe permite pensar como um economistas e compreender as principais questões que envolvem a vida das pessoas, torna o leitor capaz de entender as decisões do governo, o que o âncora do jornal fala sobre PIB, Inflação, taxas de Juros e como alterações na economia podem afetar sua vida como um todo. 6.2. A GEOGRAFIA ECONÔMICA Aloysio Marthins de Araújo Junior, da Universidade Federal de Santa Catarina, apresentou no 10º Encontro Nacional de Prática de Ensino em Geografia, entre os dias 30 de agosto e 2 de setembro de 2009 em Porto Alegre, um trabalho intitulado "o Ensino de Geografia Econômica: Dificuldades e Alternativas", este trabalho foi baseado em 2 paradigmas distintos, um‚ o paradigma padrão, onde o professor é o detentor de conhecimento e autoridade máxima no ambiente da sala de aula. Como ele é mais preparado e domina a disciplina bem melhor que os alunos, estes devem ser receptáculos do conhecimento difundido pelo professor, como uma página em branco que deve ser cuidadosamente escrita pelo mestre e detentor do saber acadêmico, esse paradigma é conhecido como educação bancária. O outro paradigma é o reflexivo, neste paradigma o professor acaba por se tornar um mediador entre o aluno e o conhecimento, e cabe a ele ajudar o aluno a entender o conteúdo, podendo considerar seus conhecimentos anteriores, neste paradigma o aluno não é mais uma página em branco, mas um ser dotado de conhecimentos anteriores, o professor deve estimular o senso crítico no aluno, para que ele possa compreender o espaço que o cerca e entender como os conteúdos aprendidos podem ser eficazes para a transformação da sua vida. A geografia econômica é a área da geografia que estuda as relações sociais, que se dão na maioria das vezes influenciadas por aspectos econômicos. O objeto de estudo da geografia econômica vai desde uma escala mundial até as relações sócio-econômicas locais, buscando a compreensão de determinados espaços. A Geografia Econômica pretende entender os processos que culminam para a situação econômica global, e a UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS, LETRAS EARTES DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA 14 importância das relações de trabalho, geopolíticas, evolução da economia mundial, da produção de energia e exploração de recursos naturais, o autor elenca como conceitos importantes para entender essa dinâmica: o de sociedade em rede, espaços de fluxos e espaço de lugares. Ao contrário do texto de Mankiw (2005), Aloysio (2009) possui uma abordagem Marxista elencando conceitos de desenvolvimento desigual, e atribui ao desenvolvimento do capitalismo a intensificação da desigualdade, segundo o autor “a organização do espaço no sistema capitalista é feita de acordo com as suas necessidades para a reprodução e acumulação do capital” (2009, p. 5). Para ele a geografia precisa se apropriar do conceito de materialismo histórico-dialético como metodologia para a aprendizagem da Geografia econômica, para uma concepção de cidadania e transformação social. A dificuldade para se entender o desenvolvimento desigual‚ a diferença entre países e mesmo entre regiões de um mesmo país, para tanto é necessário que a Geografia busque informações em outras ciências, como a economia por exemplo. Uma boa explicação para o desenvolvimento desigual é a concentração de capital, no Brasil as regiões Sul e Sudeste são claramente as mais desenvolvidas, isso se deve principalmente a um processo histórico de concentração de capital, que passou de capital rural para capital industrial e por fim para capital financeiro, favorecendo o desenvolvimento da região, por estar mais favorável ao desenvolvimento do meio técnico- científico-informacional (SANTOS, 1998). Mais especificamente sobre o ensino de Geografia o autor afirma que a Geografia escolar, sobretudo, possui ainda um viés mais descritivo, principalmente do meio físico. Ignora-se que as observações e descrições possuem um viés político, não há como se ter neutralidade nas ciências, por mais que se queira não é possível tirar a lente do observador, o que acaba por provocar uma despolitização da sociedade. Ele afirma que essa despolitização é baseada em um discurso ideológico de ordem social, visando camuflar as desigualdades sociais e os problemas ocasionados pela expansão desigual do sistema capitalista. Ele afirma que o ensino de geografia deve ser uma ferramenta de conscientização e politização do aluno, ensinando-o a entender, refletir e questionar as formas de organização do espaço bem como as relações do homem com o espaço que o cerca. UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA 15 O ensino de geografia - e em particular a geografia econômica - deve ter em conta a complexa relação da sociedade com a natureza e dos homens em sociedade, onde os alunos possam se aproximar de uma imagem do Brasil que mostre suas complexidades, diversidades, transformações e continuidades e descontinuidades do espaço (JUNIOR, 2009, p.13). Deste modo, a geografia necessitará criar e se apropriar de novas metodologias que incluam a interdisciplinaridade, ou seja, a utilização de ferramentas de análise de outras ciências como a História, a Economia, a Sociologia etc., tendo o marxismo como referencial teórico-metodológico; a Geografia Crítica (com um posicionamento mais político, principalmente nos países da periferia do sistema) e a formação sócio-espacial e sócio-econômica, com uma visão de totalidade (JUNIOR, 2009, p.13). 6.3. GEOGRAFIA PARA A CIDADANIA Um trabalho que pode enriquecer muito o debate do uso da economia no aprendizado de Geografia, apesar de não falar diretamente sobre o tema‚ é o texto da professora Helena Copetti Callai, ela busca com este texto dar bases para transformar o ensino da Geografia em uma ferramenta e transformação cidadã, de modo que aborde assuntos que não sejam alheios à vida dos alunos, para que estes se reconheçam nas aulas. Para tal se faz necessária uma abordagem mais dinâmica e que estimule o aluno a querer aprender Geografia, tornando-se assim parte integrante do conteúdo ensinado e não um “marciano” estudando a Terra. Para conseguir este objetivo ela busca conhecer o perfil do professor de Geografia, bem como seu trabalho diário no ambiente escolar, e como ele se relaciona com o aluno em relação à aprendizagem. A educação está fragmentada e descolada da realidade dos alunos, muitos não se vêm no que estudam, em muitos casos seria bom ensinar algo em escala local, para só assim passar para a global, isso facilitaria muito a compreensão do aluno, mas geralmente não é assim que acontece. A Geografia é uma importante ferramenta para se conhecer o mundo, mas enquanto a Geografia escolar tratar a Geografia como uma ciência de observação e descrição este objetivo não será alcançado. É preciso valorizar a vivência dos alunos para que a Geografia possa ser uma escada para um futuro melhor e não mais uma matéria chata que se precisa decorar. Esta é a idéia central da autora, que corrobora muito para a importância dos conteúdos de economia. Não é possível ter um senso crítico sobre a realidade posta se não houver um mínimo conhecimento de teorias econômicas. Como entender as relações de trabalho sem saber como as forças de mercado agem no cotidiano? A Geografia é uma ciência que por ter uma capacidade de sintetizar várias outras pode ajudar a transformar UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA 16 pessoas em protagonistas da própria vida, mas para tanto é preciso entender de forma mais profunda os conceitos das disciplinas que se pega como referência. Outro trabalho de igual importância e que vai ao encontro do texto da professora Callai (2001) é a dissertação de mestrado de Ferreira (2009, p.35), ele afirma que: A Geografia tradicional na escola sempre foi marcada pelo padrão natureza- homem-economia, (NHE) na qual todo o ensino de Geografia, irremediavelmente, inicia-se pelos estudos da natureza e, nos livros didáticos, os primeiros capítulos são os de relevo, clima vegetação, hidrografia. Posteriormente surgem os capítulos de geografia da população arrumados sempre na seguinte ordem: formação da população (raças, etnia), crescimento da população (natalidade x mortalidade) e dinâmica da população (imigrações); e na sequência seguem os estudos da economia (indústria, agrária e urbano e rural. (...)‚ sempre fragmentada, pois o mundo é visto pela Geografia por “partes” onde a totalidade é a soma das “partes”, o que é inerente ao positivismo. É claro na abordagem destes dois autores que a Geografia vem sendo empregada de uma forma destacada da realidade, dividida em “partes”, na tradicional dicotomia (física x humana) ou natureza-homem-economia como defende Ferreira (2009), mas sempre de uma forma a dificultar o entendimento de um todo, que é a concepção de sociedade-natureza, conceito muito caro à Geografia. 6.4. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 6.4.1. SITUAÇÃO ECONOMICA BRASILEIRA Outra questão que é importante para a formação dos alunos é a educação financeira, em um mundo de economia globalizada e com um mercado cada vez mais complexo, onde há diversos tipos de movimentação financeira, formas de consumo e do aumento de métodos para fazer cada vez mais vítimas fraudes, torna-se crucial saber quando e como usar o dinheiro. No Brasil, sobretudo após a década de 90, a economia vem se tornando cada vez mais complexa. Com as políticas neoliberais, sobretudo dos governos FHC, Lula e Dilma, ocorreram mudanças notáveis em vários âmbitos da economia, houve aumento e diversificação do crédito, estabilização da moeda e consequente aumento de comprar parceladas (o que vem se perdendo nos últimos anos, mas ainda em escala muito inferior ao que se tinha nas décadas anteriores), maior financeirização da economia, acentuação na globalização da economia nacional, etc. Já nos últimos três anoso Brasil vem sofrendo com a crise mundial que ocorreu em UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA 17 2008, devido, sobretudo a equívocos na forma de combater a crise, os governos Lula e Dilma subestimaram os impactos da crise e estimularam o consumo por meio de redução de impostos em produtos automobilísticos e em eletrodomésticos de linha branca. Em um primeiro momento isso trouxe um crescimento econômico ao país, porém, ao longo prazo, deixou o endividamento de grande parte da população e acúmulos de produtos, principalmente automóveis, nos estoques. Outro fator que agravou a crise foi a decisão do governo Dilma de subsidiar energia elétrica no ano de 2014, e contratar energia termoelétrica (energia muito mais cara que a hidroelétrica) a fim de não repassar à população os impactos da seca que o país enfrentara, provavelmente por se tratar de ano eleitoral. O governo, incapaz de poupar e realizar os investimentos propulsores do crescimento, procurou, nos últimos anos, ampliar a oferta de crédito, para incentivar o consumo de bens e serviços e, assim, aumentar a produção. No entanto, o consumo das famílias não consegue, sozinho, estimular os investimentos, que geram empregos e elevação da renda. Para agravar esse quadro, a população, despreparada para dimensionar o volume de comprometimento do seu orçamento, avança com ímpeto ao crédito fácil e, endividada, busca caminhos para restaurar o seu equilíbrio. O crescimento desorientado do crédito produz a inadimplência. A partir daí, os empréstimos são interrompidos e a economia reduz a sua atividade. Como conseqüência dessas ações, surge um círculo vicioso de expansão e retração do crescimento (Savoia, Sato e Santana, 2007, p. 1124). Dados esses fatores e somando-se com as pedaladas fiscais (usar dinheiro de bancos públicos para pagar programas sociais), houve uma grave crise financeira e política, agravada pela insatisfação do Senador Aécio Neves e aliados com a derrota nas eleições de 2014, alegando que houve irregularidades (caixa dois) na chapa Dilma/Temer. Com a instabilidade política e a já concretizada instabilidade financeira, a perda de apoio da base aliada, acrescida das denúncias de improbidade acarretaram no impeachment da Presidente Dilma e a ascensão do então Vice-Presidente Temer ao poder. Porém, com a adoção de medidas impopulares na tentativa de retomar o crescimento econômico e crescentes denúncias de corrupção a crise não parou de se agravar e assim se encontra até os dias atuais. Com uma situação econômica tão complicada como a atual no Brasil, urge a todos os brasileiros a necessidade de se saber administrar as próprias finanças. Como os pais muitas vezes não possuem conhecimentos de finanças caberia então à escola essa tarefa, e a Geografia pode ser um importante meio de educar financeiramente os alunos. UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA 18 Para responder a essa demanda foi criada pelo Decreto nº 7.397 de 2010 a Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF), “com a finalidade de promover a educação financeira e previdenciária e contribuir para o fortalecimento da cidadania, a eficiência e solidez do sistema financeiro nacional e a tomada de decisões conscientes por parte dos consumidores (BRASIL, 2010).” O artigo 2º, inciso IV diz que a ENEF será implementada por meio de informação, formação e orientação. O objetivo da ENEF nas escolas não é só preparar os alunos para saber lidar com o dinheiro, mas também para planejar sua trajetória de vida e se preparar para condições econômicas diversas, independente da quantidade de recursos que possuam ou venham a possuir (ENEF, 2010). Porém, mesmo na infância ou adolescência a maioria das crianças e adolescentes já está em situações onde precisam saber lidar com recursos financeiros, possuem telefones celulares (pré-pagos ou pós-pagos), crédito e financiamento estudantil e hábitos de consumo muitas vezes exagerados. A vida financeira deles é muito mais complexa do que a que os pais tiveram na mesma fase. 6.4.2. EDUCAÇÃO FINANCEIRA E GEOGRAFIA A educação financeira não é um tema tradicionalmente trabalhado na Geografia escolar, porém é uma área que pode trazer bons frutos ao processo de formação dos alunos. Por não ser um tema diretamente ligado à disciplina e que pode ser trabalhado também por outros campos do conhecimento, a educação financeira poderia ser trabalhada como um tema transversal. Segundo o Ministério da Educação (PCN, 1988), com a transversalidade “o currículo ganha em flexibilidade e abertura, uma vez que os temas podem ser priorizados e contextualizados de acordo com as diferentes realidades locais e regionais e que novos temas sempre podem ser incluídos.” O tema “educação financeira” não faz parte dos temas propostos pelo MEC, porém as diretrizes permitem a inclusão de novos temas, e há discussões recentes para a inclusão do tema. A educação financeira está entre os temas da atualidade sugeridos para compor a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Trata-se do conjunto de conhecimentos entendidos como essenciais para o fortalecimento da cidadania e voltados para ajudar a população a tomar decisões financeiras mais autônomas e conscientes (Amorin, 2016). A educação financeira está atrelada ao conceito de consumo, este faz parte diretamente dos temas transversais propostos pelo MEC, porém as noções de consumo não UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA 19 abarcam todas as questões da educação financeira, visto que o conceito de consumo definido pelo MEC é em escala mais global, e não abarca as noções individuais de educação e cidadania dos estudantes. O MEC define da seguinte forma: Quanto ao consumo, devem ser considerados também dois aspectos. O primeiro, das necessidades de sobrevivência. A produção e o consumo como soluções pensadas para resolver problemas. O segundo, discutir a sociedade consumista, sua face perversa e devoradora dos recursos naturais. As desigualdades de possibilidades de consumo. A divisão do mundo em segmentos que têm acesso aos benefícios das tecnologias e participam de um mercado altamente consumidor e os segmentos excluídos que não têm acesso nem mesmo às necessidades básicas (PCN, 1998). Savoia, Saito e Santana (2007, p. 1128) apresentam dados de pesquisas realizadas pela OCDE que geraram uma tabela intitulada “Princípios e recomendações de educação financeira”, onde no item sete diz que “a educação financeira deve começar na escola. É recomendável que as pessoas se insiram no processo precocemente.” Na pesquisa foram levantados dados de vários países e observou-se que muitos se preocupam com a educação financeira das crianças, porém outros deixam a desejar, o que produz adultos incapazes de gerir as próprias finanças. Sendo a educação financeira uma preocupação de vários setores da sociedade, tanto dos governos (inclusive o brasileiro), quanto de órgãos nacionais e internacionais, é um tema que pode e deve ser trabalhado nas escolas, quanto mais cedo as pessoas tiverem contato com a educação financeira, mais preparados estarão na fase adulta para viver em uma sociedade de relações sócio-econômicas tão complexas quanto a nossa. A Geografia pode contribuir em vários aspectos para a educação financeira, ao se trabalhar temas como indicadores econômicos, pode-se aprofundar nos conteúdos, a fim de conscientizar os alunos da influência desses indicadores em suas vidas. Um exemplo é o PIB, presente nos livros didáticos de Geografia, mas trabalhado de forma superficial. Ao se trabalhar o PIB, definindo as diferenças entre PIB real e PIB nominal, é possível falar sobre deflação e inflação, taxas de juros,entre outros indicadores, transformando um conceito de macroeconomia em microeconomia, dando ferramentas aos alunos para entender como esses indicadores afetam suas vidas. 7. O LIVRO DIDÁTICO Foram analisados três livros didáticos, dois do 8º ano (sendo um livro da coleção proposta pelo PNDE para os anos de 2014 a 2016 e um para os anos de 2017 a 2019) e um UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA 20 do 9º ano. A escolha dos livros foi baseada no conteúdo dos mesmos, os do 8º ano trazem uma abordagem mais direta de questões econômicas e o do 9º ano não traz questões diretamente, porém apresenta conteúdos econômicos dentro de outros temas como na apresentação de regiões por exemplo. Os de 8º e 9º ano, PNLD 2017 a 2019, são de autoria da autora Neiva Torrezani, e o do 8º ano, PNLD 2014 a 2016, de autoria do autor Fernando Carlo Vedovate. O primeiro livro analisado foi o do 8º ano de autoria do Vedovate (2010). Ele traz uma proposta interessante de organização do conteúdo, a primeira unidade fala sobre regionalização, mas apresenta uma discussão da divisão da economia global no cenário da Guerra Fria, a segunda unidade trata da economia global, as demais unidades são discussões sobre as divisões regionais no continente americano e suas particularidades, finalizando com o Brasil. A unidade um possui uma discussão interessante, ela discorre sobre algumas teorias econômicas, apresenta o sistema capitalista e socialista, cita o sistema feudal, a divisão do mundo na Guerra Fria, teorias de desenvolvimento, desigualdade, divisão do trabalho, entre outras coisas. Ao falar sobre o capitalismo o autor busca apresentar suas fases de desenvolvimento (comercial, industrial e financeiro), algumas características, como a lei de oferta e procura, concorrência, economia de mercado, lucro, trabalho assalariado e conceitua monopólios e oligopólios, porém traz a discussão na ótica marxista de proletariado e burguesia. Sobre o socialismo o autor apresenta algumas características deste, como estatização, economia planificada, pleno emprego, relação social, fala sobre a experiência russa, apontando pontos positivos e negativos na visão do autor sobre a implantação do socialismo no país, como a dominação do Estado por alguns burocratas (o que parece ser característica comum a todos os países onde se tentou implantar o regime socialista). Depois ele faz uma discussão sobre a Guerra Fria de forma bem sucinta, sobre o desenvolvimento econômico, consumismo (obsolescência programada), qualidade de vida, índice de Gini, cidadania, dominação econômica e tecnológica de países desenvolvidos sobre os países em desenvolvimento e desigualdade social/concentração de renda. UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA 21 Na unidade dois o autor apresenta características da economia global, para tanto ele se utiliza de conceitos como mundialização, comércio internacional, fluxos financeiros, sociedade global, desemprego, transnacionais, trustes, holdings, cartéis, órgãos de financiamento da economia global, blocos econômicos, Nos demais capítulos se fala do desenvolvimento regional de alguns países e regiões do continente americano, mas não passa muito do que é tratado acima. Há apenas a descrição das principais atividades econômicas das regiões, porém há pouquíssima reflexão dos motivos, como escolhas governamentais, dos indivíduos e razões históricas para a situação econômica das regiões em questão. O autor fala sobre vários conceitos que podem favorecer o entendimento das relações econômicas, porém a divisão dos temas é feita de uma forma que prejudica o entendimento, fala-se de vários conceitos e questões sem uma ligação entre eles, divididos em “blocos” ou “gavetas”, parecendo que são coisas que fazem parte de realidades distintas. Fala-se de feudalismo e de capitalismo sem uma discussão sobre a transição e diferenças entre estes, fala-se sobre capitalismo e socialismo sem discutir os pontos positivos e negativos de ambos os modelos econômicos, os exemplos são vários. Outra crítica é com relação à discussão do que é apresentado, muitos dos conceitos utilizados não possuem uma explicação mais robusta, são explicações tão superficiais que surpreenderia se os alunos pudessem realmente compreender algumas das coisas que se fala no texto. Muitos dos termos não estão presentes no dia a dia das pessoas, mas são questão muito presentes. Quando se fala de oferta e procura, monopólio, oligopólio, trustes, holdings, cartéis, desigualdade social, qualidade de vida, não se fala de uma forma ampla e são poucos os autores usados para dar mais embasamento no texto, o único que pude identificar foi Milton Santos, o autor apresentou a discussão dele sobre a Globalização, no livro “Por Uma Outra Globalização”, mas ainda assim a discussão foi um tanto quanto rasa. Não houve a citação de nenhum economista no texto e vários conceitos marxistas foram empregados sem haver citação a Marx ou a algum autor marxista para discutir estes conceitos. Como diz a célebre frase de Isaac Newton: “se enxerguei mais longe é porque me apoiei sobre ombros de gigantes”, portanto quando um texto não se embasa em bons autores a discussão perde credibilidade e/ou não dá o devido crédito aos pensadores por UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA 22 trás das teorias usadas. O livro da coleção Vontade de Saber, de Neiva Torrenzani (2015a), a divisão dos temas é diferente, a discussão econômica que está na primeira unidade no livro de Vedovate, encontra-se no terceiro capítulo do livro de Torrenzani. Isso de certa forma prejudica o entendimento de alguns conteúdos, visto que os alunos não terão conhecimento sobre os conteúdos necessários para se entender o segundo capítulo do livro. Porém traz algumas coisas interessantes, como uma discussão territorial e alguns aspectos físicos, que não faziam parte do conteúdo do primeiro livro analisado. A discussão sobre o capitalismo se dá de uma forma mais didática, com uma linguagem mais simples, porém perde um pouco em conteúdo, faltam alguns conceitos apresentados no primeiro livro, como a lei de oferta e demanda, por exemplo. Ao abordar as fases do capitalismo a autora acrescenta a fase definida por ela como capitalismo técnico-científico-informacional, conceito criado por Milton Santos, porém o autor não recebe o crédito pela proposição do conceito. A história do capitalismo é contada com mais detalhes, porém faltou a transição entre o capitalismo e o feudalismo, tal qual o primeiro livro. O socialismo é tratado de forma bem similar ao livro anterior, porém com críticas mais fortes aos problemas nos países onde foi implantado e da mesma forma que os demais conteúdos, apresentado de forma mais didática, porém menos profunda (não que o primeiro livro seja suficientemente profundo). O índice de Gini também não aparece no segundo livro. Mas vale trazer alguns pontos sobre o índice de Gini, este índice mede o nível de desigualdade social e concentração de renda, porém isso não é um dado confiável para se definir a situação econômica e tão pouco, a qualidade de vida das pessoas de determinado país. O capitalismo é um sistema que exacerbou a desigualdade social, porém elevou o padrão geral de vida das pessoas. Um cidadão de classe média baixa hoje tem um padrão de vida superior ao que tinha um senhor feudal, por exemplo. A República Popular Democrática da Coréia, mais conhecida como Coréia do Norte, possui um índice de GINI de 0,31, melhor que o da Austrália (0,34), um dos países mais estáveis do mundo e considerado o país mais feliz para se viver por três anos consecutivos, e que o do Brasil. Porém a populaçãoda Coréia do Norte enfrenta UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA 23 condições de vida bem ruins, com uma economia instável e renda muito baixa. Desigualdade alta, quando os mais pobres têm boas condições de vida é preferível a um cenário onde há igualdade de pobreza, distribuição desigual de riquezas é melhor que distribuição igual de miséria. Hoje, nos países capitalistas, há relativamente pouca diferença entre a vida básica das chamadas classes altas e a das mais baixas: ambas têm alimento, roupas e abrigo. Mas no século XVIII, e nos que o precederam, o que distinguia o homem da classe média do da classe baixa era o fato de o primeiro ter sapatos, e o segundo, não (MISES, 2009). Outra questão é relativa ao uso do termo desenvolvimento e subdesenvolvimento, o livro não traz uma discussão que está muito presente nos cursos universitários de Geografia. Ao dizer que um país está em desenvolvimento é o mesmo que dizer que ele precisa atingir uma meta, que seriam os países desenvolvidos. Apesar de ser desejo geral que a qualidade de vida das pessoas dos países mais pobres melhore, temos um tradeoff entre desenvolvimento e uso consciente dos “recursos naturais”. Querer que todos os países tenham o padrão de consumo dos EUA, por exemplo, é algo que pode comprometer toda a vida do planeta. Os ocidentais, sobretudo os norte-americanos, possuem um padrão de consumo e consequente produção de lixo, que se aplicado aos mais de sete bilhões de habitantes da Terra causaria um colapso ambiental. O livro da mesma autora (Torrenzani), do 9º ano (2015b), não possui um capítulo específico sobre questão econômica, porém os aspectos econômicos estão presentes durante todos os capítulos do livro. A abordagem é bem simplificada, parece levar em consideração que tais conteúdos já foram apreendidos no 8º ano, o que, dada a falta de profundidade de conteúdo do material didático, é pouco provável. Os conteúdos também são divididos em blocos, não há uma ligação bem definida entre eles. 8. ENTREVISTA Sabendo que o professor não fica e nem deve ficar preso no livro didático, que o mesmo pode e deve usar outros recursos e fontes para lecionar, foram feitas entrevistas com o fim de entender o que de fato os alunos aprenderam a respeito das questões econômicas na disciplina de Geografia. As entrevistas foram feitas com dois alunos voluntários, um da Escola Municipal UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA 24 José Maria da Fonseca, cursando o 9º ano e outro da Escola Municipal Reinaldo Alves Costa, cursando o 8º ano. Foram feitas algumas perguntas a fim de provocar os alunos a falarem sobre a Geografia escolar e as questões econômicas, para manter a identidade dos mesmos a salvo será usado os pseudônimos aluno_1 (9º ano) e aluno_2 (8º ano), as perguntas e os dados retornados serão expostos a seguir: 1) O que é Geografia e qual é a importância para a vida? A partir dessa provocação os alunos falaram um pouco da importância da Geografia e do que eles entendem por Geografia. Ambos definiram como uma disciplina importante para a localização geográfica, para aprender a cuidar da natureza, entender a cultura das sociedades e para saber ler mapas. O aluno_1 falou sobre questões de Geopolítica, desigualdade social, desigualdades regionais, conflitos territoriais e distribuição de terra. Foi uma resposta bem completa e de uma capacidade crítica muito boa, percebeu-se pela resposta dele que ele compreendeu as relações sociedade-natureza e soube interpretar as questões sociais, mas não falou tanto das questões físicas. O aluno_2 definiu a Geografia com características mais físicas, falou de relevo, divisão política do Brasil, clima, vegetação, sobre formação de rochas. Percebeu-se que o aluno_2 concebeu uma Geografia menos política e mais descritiva, ele não citou características econômicas ou sócio-espaciais. 2) Você acha que saber de economia é importante para a sua vida? As respostas foram para caminhos bem diferentes, o aluno_1 destacou a importância de se conhecer sobre economia para saber escolher em quem votar, para entender a situação do país e o mundo. Já o aluno_2 disse falou sobre a economia como uma questão de sobrevivência, que é importante para saber investir e ter uma vida financeira mais estável. Os alunos falaram sobre algumas importâncias das ciências econômicas, mas não demonstraram um conhecimento do todo, cada um focou em uma escala econômica, o aluno_1 pensou numa escala macro e o aluno 2 microeconômica. 3) Para você a Geografia pode te ajudar a entender as questões econômicas? UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA 25 O aluno_1 afirmou positivamente, e falou sobre a importância da Geografia para entender questões de desenvolvimento econômico e sobre conflitos causados por disputas de mercado ou de extração de recursos. Novamente ele focou na escala macroeconômica e mostrou preocupação com a Geopolítica. O aluno_2 por sua vez, disse que a Geografia pode ajudar a entender questões de índices econômicos e desenvolvimentos de países e regiões, mas que a Matemática seria mais eficaz para aprender sobre economia. 9. QUESTIONARIOS O questionário foi aplicado a 27 alunos do 9º ano, na Escola Municipal Reinaldo Alves Costa. As respostas foram anônimas, para garantir que os alunos não tivessem receio de responder com sinceridade. As perguntas foram as seguintes: 1) Você considera que o que você aprende na disciplina de Geografia te dá condições de entender sobre a situação econômica do país ao assistir ou ler algum jornal? Sim ( ) Não ( ) 2) Você sabe o que é o PIB? Sim ( ) Não ( ) 3) Você sabe o que é inflação? Sim ( ) Não ( ) 4) Sabe por que ela (a inflação) acontece? Sim ( ) Não ( ) 5) Você conseguiria identificar qual o sistema econômico predominante no Brasil? Sim ( ) Não ( ) 6) Marque as opções que você conseguiria dar uma definição: Livre-mercado ( ) Comunismo ( ) Capitalismo ( ) Socialismo ( ) Monopólio ( ) Oligopólio ( ) IDH ( ) Taxa de juros ( ) 7) Qual dos seguintes autores você conhece? Karl Marx ( ) Adam Smith ( ) Ludwing Von Mises ( ) David Harvey ( ) UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA 26 8) Cite 4 (quatro) palavras que você considera relacionadas à disciplina de Geografia: No quadro abaixo são apresentadas as respostas dos alunos: Quadro de respostas do questionário 1 Sim: 4 Não: 23 Branco: 0 2 Sim: 26 Não: 1 Branco: 0 3 Sim: 25 Não: 2 Branco: 0 4 Sim: 2 Não: 23 Branco: 2 5 Sim: 24 Não: 3 Branco: 0 6 Livre Mercado (12); Comunismo: 24; Capitalismo: 27; Socialismo: 25; Monopólio: 16; Oligopólio: 16; IDH: 24; Taxa de juros: 23 7 Karl Marx: 27; Adam Smith: 9; Ludwing Von Mises: 5; David Harvey: 0 8 Mapa: 23; Consumo: 13; Capitalismo: 12; Socialismo: 12; Amazônia: 12; Globalização: 10 Placa-tectônica: 6; Terra: 5; Migração: 5; Minas Gerais: 3; Brasil: 2; Sudeste: 1; Nordeste: 1; Norte: 1; Sul: 1; África: 1 A resposta à primeira questão mostrou que os alunos não aprendem na Geografia conteúdos que garantam uma capacidade de percepção e crítica das situações que os cercam, saber interpretar o que se fala sobre economianos jornais é uma forma de autonomia do pensamento, é um meio de garantir decisões políticas mais conscientes. As perguntas de dois a seis foram elaboradas para verificar o que os alunos sabem sobre o que está nos livros didáticos, e foram incluídas a inflação e taxa de juros, visto que são conceitos importantes para entender o capitalismo financeiro, citado no livro. Verificou-se que grande parte dos alunos conhecia os termos apresentados no livro, porém sobre inflação conheciam só de nome mas não sabiam explicar. A maioria está familiarizada com conceitos relativos aos sistemas econômicos. A pergunta sete foi elaborada para perceber se os alunos conheciam alguns autores que falam sobre as questões sócio-econômicas. Foram unânimes sobre Karl Marx, apenas 9 conheciam Adam Smith, 6 conheciam Mises e nenhum aluno conhecia David Harvey. Isso aponta para certa dependência do livro didático, autores importantes e renomados ficaram de fora das discussões econômicas. A última pergunta mostrou uma predominância de respostas voltadas para uma Geografia mais descritiva. Os únicos termos que fogem de uma Geografia mais descritiva são Globalização, socialismo e capitalismo, porém os dois últimos podem ter sido estimulados pelas perguntas anteriores. UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA 27 10. CONSIDERAÇÕES FINAIS A percepção que se teve sobre a noção dos alunos é que ainda há nas escolas uma Geografia muito descritiva, e mesmo quando se supera esse quadro ainda se esbarra em análises muito superficiais, não se trata com a devida profundidade ou não se abarca o todo. Questões importantes e que podem gerar um pensamento crítico e uma visão de sociedade ficam de fora da Geografia e não permite que ela cumpra o seu papel de formar cidadãos de forma plena. A proposta da educação financeira é uma boa saída para que professores, autores e alunos possam entender a importância das Ciências Econômicas para a vida das pessoas, para que possam entender que esses conhecimentos são capazes de trazer uma bagagem que concede emancipação de pensamento. Uma Geografia que trate as questões econômicas com a seriedade que deve é capaz de ser uma ferramenta de transformação social, transformando as pessoas em cidadãos capazes de entender o que os economistas dizem e criticar o que é passado como verdade nos jornais e revistas. 11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMORIN, Rovênia. MEC apoia inserção da temática educação financeira no currículo da educação básica. 25 de Fevereiro de 2016. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/component/content/211-noticias/218175739/34351> Acessado em 17 de Junho de 2017. BRASIL. Decreto nº 7.397, de 22 de Dezembro de 2010. CALLAI, Helena Copetti. A Geografia e a escola: muda a geografia? Muda o ensino? 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