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BRUZACA, RD Atuação das instituições na proteção da posse e do território nas ações possessórias contra comunidades quilombolas no BPM (1)

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Ruan Didier Bruzaca 
(Org.) 
 
 
 
 
ATUAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES DO SISTEMA DE JUSTIÇA 
NA PROTEÇÃO DA POSSE E DO TERRITÓRIO NAS AÇÕES 
POSSESSÓRIAS AJUIZADAS CONTRA COMUNIDADES 
QUILOMBOLAS NO BAIXO PARNAÍBA MARANHENSE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Atuação das instituições do sistema de justiça na proteção da posse e 
do território nas ações possessórias ajuizadas contra comunidades 
quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense 
 
 
 
 
 
 
 
Programa de Assessoria Jurídica Universitária Popular – PAJUP 
Orientadores 
Ruan Didier Bruzaca 
Arnaldo Vieira Sousa 
Igor Martins Coelho Almeida 
 
Unidade de Ensino Superior Dom Bosco – UNDB 
Reitora 
Maria Ceres Rodrigues Murad 
 
Fundação de Amparo à pesquisa e ao desenvolvimento Tecnológico e Científico do 
Maranhão – FAPEMA 
Presidente 
Alex Oliveira de Souza 
 
 
Ruan Didier Bruzaca (Org.) 
Doutorando em Ciências Jurídicas pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB, com 
período sanduíche na Università degli Studi di Firenze – UNIFI, Itália. Mestre em Direito e 
Instituições do Sistema de Justiça pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA. 
Graduado em Direito pela UNDB. Professor licenciado da UFMA e da UNDB. Orientador do 
PAJUP. 
 
Arthur Nunes Lopes Martins 
Advogado. Graduado em Direito pela UNDB. Integrou a equipe enquanto bolsista da 
FAPEMA e integrante do PAJUP. 
 
Jordana Letícia Dall Agnol da Rosa 
Graduanda em Direito pela UNDB. Integrou a equipe enquanto bolsista da FAPEMA e 
integrante do PAJUP. 
 
Ruan Didier Bruzaca 
(Org.) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Atuação das instituições do sistema de justiça na proteção da posse e 
do território nas ações possessórias ajuizadas contra comunidades 
quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense 
 
 
 
 
 
 
 
2018 
São Luís 
PAJUP 
Diagramação e capa: Ruan Didier Bruzaca 
Foto da capa: Igor Martins Coelho Almeida 
 
 
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B914d 
 
 
 
 
 
 
Bruzaca, Ruan Didier, 1989- 
Atuação das instituições do sistema de justiça na proteção da posse e do 
território nas ações possessórias ajuizadas contra comunidades quilombolas no 
Baixo Parnaíba Maranhense/ Ruan Didier Bruzaca. São Luís: PAJUP, 2018. 
266 p. 
 
ISBN 978-85-69617-17-4 
 
1. Instituições do sistema de justiça. 2. Ações possessórias. 
3. Comunidades quilombolas. 4. Baixo Parnaíba Maranhense. I. Título. 
II. Ruan Didier Bruzaca. 
 
CDD: 340 
CDU: 342.7 
 
 
 
Este livro é resultado de pesquisa fomentada pelo 
Edital BIC PARTICULAR/FAPEMA nº 04/2016, 
referente ao projeto BIC-05682/19. 
Sumário 
 
Apresentação 
Ruan Didier Bruzaca ............................................................................... 11 
 
Prefácio 
Igor Martins Coelho Almeida ................................................................. 15 
 
Atuação das instituições do sistema de justiça na proteção da posse e 
do território nas ações possessórias ajuizadas contra comunidades 
quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense: projeto 
Ruan Didier Bruzaca ............................................................................... 19 
 
Atuação das instituições do sistema de justiça na proteção da posse e 
do território nas ações possessórias ajuizadas contra comunidades 
quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense: relatório 
Ruan Didier Bruzaca ............................................................................... 39 
 
Atuação do judiciário na tutela de direitos de comunidades 
quilombolas nas ações possessórias no Baixo Parnaíba Maranhense 
Arthur Nunes Lopes Martins ................................................................... 76 
 
Tutela de direitos das comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba 
Maranhense pela postulação de instituições de justiça estatais nas ações 
possessórias 
Jordana Letícia Dall Agnol da Rosa ....................................................... 94 
 
Deslegitimando a propriedade: luta quilombola no judiciário 
maranhense sob a ótica descolonialista 
Arthur Nunes Lopes Martins e Ruan Didier Bruzaca ........................... 125 
 
Rompendo o direito tradicional: a atuação da advocacia popular 
junto às comunidades quilombolas do Baixo Parnaíba Maranhense 
Jordana Letícia Dall Agnol da Rosa e Ruan Didier Bruzaca ................ 139 
 
Entrevistas 
 
Entrevista com Yuri Michael Pereira Costa, Defensor Público da 
União no Estado do Maranhão .,............................................................. 159 
 
Entrevista com Hilton Araújo de Melo, Procurador da República no 
Estado do Maranhão ................................................................................. 169 
 
Entrevista com Filipe Farias Correia, assessor jurídico do Centro de 
Cultura Negra ........................................................................................... 180 
 
Entrevista com Alexandre Silva Soares, Procurador da República no 
Estado do Maranhão ................................................................................. 194 
 
 
 
Entrevista com Antônio Fernando Rites do Sacramento, assessor 
jurídico da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos e Diogo Diniz 
Ribeiro Cabral, assessor jurídico da Sociedade Maranhense de Direitos 
Humanos e da Diocese de Brejo .............................................................. 207 
 
Entrevista com Izalmir Sousa Santos, quilombola e representante da 
Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do Estado do 
Maranhão .................................................................................................. 211 
 
Entrevista com Entrevista com José Carlos do Vale Madeira, juiz 
federal da 5ª Vara da Justiça Federal no Maranhão ............................ 233 
 
Entrevista com Ana Carolina Quadros Costa Reis Sousa e Martfran 
Albuquerque de Sousa, representantes do setor quilombola do Instituto 
Nacional de Colonização e Reforma Agrária no Maranhão ................ 242 
 
 
 
Lista de siglas 
 
ACP Ação Civil Pública 
ADCT Ato das Disposições Constitucionais Transitórias 
ADIN Ação Direta de Inconstitucionalidade 
BIC Bolsa de Iniciação Científica 
BR Rodovia federal 
CCN Centro de Cultura Negra 
CPISP Comissão Pró-Índio de São Paulo 
CPT Comissão Pastoral da Terra 
DPU Defensoria Pública da União 
FAPEMA Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento 
Tecnológico e Científico do Maranhão 
FETAEMA Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e 
Agricultoras Familiares do Estado do Maranhão 
FETRAF Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na 
Agricultura Familiar do Maranhão 
FUNAI Fundação Nacional do Índio 
GERUR Grupo de Estudos Rurais e Urbanos 
JF/MA Justiça Federal no Maranhão 
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos 
Naturais Renováveis 
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária 
ITERMA Instituto de Terras do Maranhão 
MA Maranhão 
MOQUIBOM Movimento Quilombola do Maranhão 
MPF Ministério Público Federal 
PAJUP Programa de Assessoria Jurídica Universitária Popular 
PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura 
Familiar 
OIT Organização Internacional do Trabalho 
PA Projeto de Assentamento 
PT Partido dos Trabalhadores 
RTIR Relatório Técnico de Identificação e Delimitação 
SEMA Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais 
SINTRAF Sindicato da Agricultura Familiar 
SMDH Sociedade Maranhense de Direitos Humanos 
UFMA Universidade Federal do Maranhão 
UNDB Unidade de Ensino Superior Dom Bosco 
11 
 
Apresentação 
 
O presente livro é resultado de um projeto desenvolvido por membros do 
Programa de Assessoria Jurídica Popular (PAJUP), da Unidade de Ensino 
Superior Dom Bosco (UNDB), amparado pela Fundação de Amparo à 
Pesquisa e ao Desenvolvimento Tecnológico e Científico do Maranhão 
(FAPEMA). 
O pontapé
inicial para tal surgiu da preocupação em compreender a 
realidade das comunidades quilombolas no Maranhão, principalmente pelo 
fato de o PAJUP, não raro, ter contato com demandas do referido grupo 
étnico – a exemplo de ocupações ocorridas no Instituto Nacional de 
Colonização e Reforma Agrária. 
Precisamente, buscou-se estudar as ações possessórias envolvendo 
comunidades quilombolas e o tratamento dado pelas instituições do sistema 
de justiça a tais conflitos. Para tal, elegeu-se o Baixo Parnaíba Maranhense 
como delimitação espacial da pesquisa, justificada pelo fato de a região ser 
marcada historicamente por conflitos fundiários decorrentes da expansão do 
agronegócio e consequente ameaça aos direitos territoriais de quilombolas. 
Do projeto obtiveram-se relatórios, artigos científicos, entrevistas, 
compilados no presente livro, que objetiva difundir não somente as 
reflexões, os resultados e as análises realizadas ao longo de um ano, mas 
também dificuldades e empecilhos no desenvolver da pesquisa. 
Com isso, a obra inicia-se com os escritos produzidos pelo orientador do 
Projeto, Ruan Didier Bruzaca, intitulados “Atuação das instituições do 
12 
 
sistema de justiça na proteção da posse e do território nas ações possessórias 
ajuizadas contra comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense: 
projeto” e “Atuação das instituições do sistema de justiça na proteção da 
posse e do território nas ações possessórias ajuizadas contra comunidades 
quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense: relatório”. 
Em seguida, tem-se os relatórios apresentados à FAPEMA pelos bolsistas 
do projeto, Arthur Nunes Lopes Martins e Jordana Letícia Dall Agnol da 
Rosa, respectivamente “Atuação do judiciário na tutela de direitos de 
comunidades quilombolas nas ações possessórias no Baixo Parnaíba 
Maranhense” e “Tutela de direitos das comunidades quilombolas no Baixo 
Parnaíba Maranhense pela postulação de instituições de justiça estatais nas 
ações possessórias”. 
Quanto aos artigos científicos, o artigo “Deslegitimando a propriedade: 
luta quilombola no judiciário maranhense sob a ótica descolonialista”, de 
autoria de Arthur Martins e Ruan Didier Bruzaca, que utilizando o marco 
teórico marxista e autores da antropologia, buscou-se questionar o instituto 
da propriedade no direito. Em seguida, no artigo “Rompendo o direito 
tradicional: a atuação da advocacia popular junto às comunidades 
quilombolas do Baixo Parnaíba Maranhense”, visou-se estudar a atuação da 
advocacia popular e sua importância para a luta pelo território de 
comunidades quilombolas, constituindo uma ruptura com o direito 
tradicional. 
O livro é composto por entrevistas com membros do movimento 
quilombola, de entidades da sociedade civil organizada, de instituições do 
13 
 
sistema de justiça e de órgãos estatais, que desde já agradecemos pela 
contribuição para o desenvolvimento da pesquisa. Algumas das entrevistas 
foram adaptadas para que o leitor tenha uma leitura mais agradável, assim 
como redimensionada, com a devida autorização dos entrevistados. 
Por fim, agradecemos ao imprescindível incentivo dado pela FAPEMA, 
com a concessão de bolsas de iniciação científica aos discentes Arthur 
Martins e Jordana da Rosa, bem como à Unidade de Ensino Superior Dom 
Bosco (UNDB) e à Coordenação do Curso de Direito, pelo constante apoio à 
pesquisa e à extensão. 
 
Florença, Itália, 24 de julho de 2018 
Ruan Didier Bruzaca 
14 
 
15 
 
Prefácio 
 
Estado do Maranhão. Ano de 2018. A Constituição da República 
Federativa do Brasil completa 30 anos e nela está inscrita, dentre os seus 
dispositivos originais, uma das mais importantes políticas de reparação 
histórica da sociedade brasileira: o reconhecimento e a titulação de 
propriedade de áreas ocupadas por comunidades remanescentes de 
quilombos. Infelizmente, como será bem demonstrado ao longo dessa obra, o 
Estado Brasileiro (nesse caso, os Poderes Executivo Federal e Estaduais) 
ainda falha enormemente na efetivação desse direito. Até então, nada de 
novidade para muitas pessoas, principalmente aquelas que já têm alguma 
imersão nesse problema. 
Mas aqui encontramos o grande valor da presente obra: apresentar um 
olhar sobre as demais instâncias estatais acionadas quando da falha do 
executivo no cumprimento de seu dever constitucional: o sistema de justiça. 
Por si só, realizar uma análise sobre as instituições do sistema de justiça já 
apresenta ao pesquisador e acadêmico um certo grau de dificuldade por 
conta de diversos fatores (dentre eles a dificuldade no retorno de 
informações para pesquisadores). Ocorre que esta obra se apresenta ainda 
mais desafiadora (e alcança sucesso, de já adianto) em virtude do tema a ser 
abordado: a atuação do sistema de justiça na proteção da posse e do território 
nas ações possessórias ajuizadas contra comunidades quilombolas no Baixo 
Parnaíba Maranhense. 
16 
 
Dentre os desafios, podemos elencar sucintamente dois (sem prejuízo de 
outros que serão apresentadas ao leitor): a primeira por se tratar de uma 
pesquisa que envolve a presença e análise da atuação do sistema de justiça 
para um dos grupos em situação de vulnerabilidade mais invisíveis da 
sociedade brasileira (em especial, da sociedade maranhense, mesmo esta 
sendo majoritariamente negra e rural): as comunidades remanescentes de 
quilombos. O segundo desafio é retratar a realidade de violações contra 
comunidades quilombolas em uma das áreas do território maranhense que 
passa por um significativo processo de expansão de sua fronteira agrícola, 
em especial com a implantação da sojicultora e do cultivo de eucalipto. Ou 
seja, apresentando e enfrentando os atores sociais e econômicos que se 
utilizam do sistema de justiça para se colocar em oposição aos direitos 
garantidos aos quilombolas. 
A obra está dividida em duas partes. Na primeira apresenta o projeto, seu 
relatório e artigos sobre a atuação do Judiciário, da advocacia popular, bem 
como a (re)construção de conceitos, como o da propriedade dentro da esfera 
do judiciário. Na segunda parte, são transcritas entrevistas com sujeitos que 
integram órgãos, instituições e entidades que acompanham diretamente as 
comunidades remanescentes de quilombo no sistema de justiça. 
Assim, apresenta-se como uma obra de grande valor na medida em que 
traz todas as informações necessárias tanto para aquele leitor que quer 
começar a imergir no tema, bem como para os pesquisadores e profissionais 
que atuam com essas comunidades, possibilitando que possam ser pensadas 
estratégias para a defesa das mesmas no sistema de justiça. 
17 
 
Portanto essa é mais uma obra acadêmica de grande importância não 
apenas para o fortalecimento da pesquisa sócio-jurídica no Maranhão, mas 
sobretudo na contribuição daqueles sujeitos que mesmo após trinta anos 
ainda travam árduas batalhas com o Estado e com outros oponentes para a 
efetivação do reconhecimento e titulação das terras que tradicionalmente 
ocupam. 
 
São Luís, 20 de dezembro de 2017 
Igor Martins Coelho Almeida 
Mestre em Direito e Instituições do Sistema de Justiça pela UFMA 
Professor da UNDB e do Instituto Florence 
18 
 
 
19 
 
Atuação das instituições do sistema de justiça na proteção da posse e do 
território nas ações possessórias ajuizadas contra comunidades 
quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense: projeto
1
 
 
Ruan Didier Bruzaca 
 
Problema e Objeto 
 
No Brasil, os conflitos possessórios que envolvem comunidades 
quilombolas são dotados de grande complexidade, trazendo desafios para o 
Direito em razão das particularidades do referido grupo social. Tais desafios 
podem ser visualizados quando, na judicialização dos referidos conflitos, as 
instituições do sistema de justiça deparam-se com questionamentos à visão 
tradicional do direito, com dinâmicas sociais próprias das comunidades 
quilombolas e os modos diferenciados de viver, criar
e fazer. 
As comunidades quilombolas, que podem ser consideradas enquanto 
povos e comunidades tradicionais
2
, têm seu direito ao território previsto nos 
 
1 Projeto de pesquisa apresentado à Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento 
Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA), cuja fundamentação teórica serviu de 
base para a elaboração do artigo “Linguagem dos juristas frente a representações jurídico-
culturais de povos e comunidades tradicionais: o caso do conflito possessório envolvendo a 
comunidade quilombola de São Bento, Brejo/MA”, escrito em coautoria com Adriana Dias 
Vieira e publicado na revista Prisma Jurídico (BRUZACA, VIEIRA, 2017, in passim). 
20 
 
Atos das Disposições Constitucionais Transitórias que, em seu art. 68 
determina: “as comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas 
terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes 
os títulos respectivos” (BRASIL, 1988). O procedimento administrativo de 
titulação está previsto no Decreto nº 4.887/2003, cujo órgão responsável é o 
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, trazendo inclusive o 
conceito legal de comunidade quilombola
3
. 
 
2 O termo “povos e comunidades tradicionais” é controverso, não se sabendo se nele pode se 
alocar o quilombola – o que remeteria ao fato deste ser espécie daquele gênero. Um exemplo 
de conceito legal de “povos e comunidades tradicionais” está previsto no art. 3º do Decreto nº 
6.040/2007, que determina serem “grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem 
como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios 
e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e 
econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela 
tradição”. Trata-se de um conceito que não possibilita qualquer pacificação no termo. 
Entretanto, deve-se atentar à utilização do termo “povos e comunidades tradicionais” pelos 
movimentos, remetendo à construção da ideia de “tradicional”, redefinindo-se a ideia de 
“primitivo” e “natureza”, atribuídos às “comunidades locais”, sendo o termo “primitivo” 
deslocado pelos sujeitos coletivos e o termo “natureza” integrante do discurso e dos atos 
desses sujeitos, representados por “quilombolas, seringueiros, ribeirinhos, pescadores 
artesanais, quebradeiras de coco babaçu, castanheiros, faxinalenses, garaizeiros e piaçabeiros, 
dentre outros” (ALMEIDA, 2007, p. 11-12). 
3 O Decreto nº 4.887/2013 traz o conceito de “remanescentes de comunidades de quilombos”, 
considerando-os como “grupos étnico-raciais, segundo critérios de auto-atribuição, com 
trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de 
ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida” (BRASIL, 
2003). 
21 
 
Não obstante a previsão do direito ao território, existem conflitos 
possessórios decorrentes da ausência de titulação ou da morosidade da 
atuação da referida autarquia. Os problemas e embaraços a respeito do 
procedimento de titulação quilombola no INCRA são patentes, sendo objeto 
de pesquisas, cujas conclusões demonstram o cenário negativo na garantia 
do acesso ao território. 
Neste sentido, destaca-se a pesquisa realizada pela Comissão Pró-Índio 
de São Paulo (CPISP, 2016), apresentando um total de 164 terras tituladas 
em todo Brasil, assim divididas: Amapá (3), Bahia (17), Goiás (1), 
Maranhão (55), Mato Grosso do Sul (3), Pará (58), Pernambuco (2), Piauí 
(5), Rio de Janeiro (3), Rio Grande do Norte (1), Rondônia (1), Rio Grande 
do Sul (4), Santa Catarina (1), Sergipe (4) e São Paulo (6). 
O Estado do Maranhão, como se pode observar, é um dos estados com 
maior número de titulação de comunidades, ao lado do Estado do Pará. 
Entretanto, o referido número não reflete a inexistência de conflitos e de 
problemas, muito pelo contrário. Até o ano de 2013, não se verificava 
 
Não obstante, é necessário advertir problemas na utilização da referida expressão. Assim, 
O’Dwyer (2010, p. 42-43) destaca que o termo quilombo vem assumindo novos significados, 
sendo “ressemantizado” para designar situações de segmentos negros em várias regiões 
brasileiras – exemplo é o termo “remanescentes de quilombo”, instituído pela Constituição 
Federal de 1988, e que é utilizado por tais grupos. Ademais, não se refere a “resíduos ou 
resquícios arqueológicos de ocupação temporal ou de comprovação biológica”, não sendo 
também grupos isolados ou homogêneos, constituídos por movimentos insurrecionais ou 
rebelados, mas sim por práticas de “resistência na manutenção e reprodução de seus modos de 
vida característicos e na consolidação de um território próprio”. 
22 
 
qualquer titulação finalizada pelo INCRA, autarquia federal responsável pela 
titulação, sendo todas as existentes provenientes do Instituto de Terras do 
Estado do Maranhão (ITERMA). 
Neste sentido, a CPISP (2016b) traz que, do total de 55 comunidades 
tituladas no Maranhão, 52 foram tituladas pelo Instituto de Terras do 
Maranhão e apenas 3 pelo INCRA. Tais problemas administrativos
4
 agravam 
os conflitos territoriais envolvendo comunidades quilombolas. 
Na medida em que não se assegura a titulação das comunidades 
quilombolas, particulares ajuízam ações visando manter-se na área ou 
expulsar os quilombolas. Consistem principalmente em ações possessórias 
(reintegração de posse, manutenção de posse e interdito proibitório) que, no 
 
4 Além dos problemas administrativos, as comunidades quilombolas sofrem com investidas 
que questionam seus direitos ao território. Primeiramente, atenta-se aos questionamentos ao 
Decreto nº 4.887/2003 na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 3.239-DF, ajuizada pelo 
atual Partido Democrata, no qual se questiona a constitucionalidade do decreto anteriormente 
citado, em seu aspecto formal e material – quanto a este, chega-se a levantar a incongruência 
em se prever a possibilidade de desapropriação de terras particulares, visto que a Constituição 
apenas prever o reconhecimento, não desapropriação; questiona-se a autoatribuição da 
condição de quilombola; e indefinição do sujeito beneficiado pela legislação (BRASIL, 2012, 
p. 2-3). 
Ademais, existem outras investidas que buscam evitar a concretização do direito à terra e ao 
território dos povos e comunidades tradicionais, principalmente indígenas e quilombolas. 
Neste sentido, Santos (2013, p. 105-107) destaca a Proposta de Emenda à Constituição nº 215, 
que tem como objetivo transferir do Poder Executivo para o Poder Legislativo (Congresso 
Nacional) o poder de decidir sobre a demarcação de terras indígenas e a titulação de terras 
quilombolas. 
23 
 
cenário de conflitos rurais, marcam-se por situações de injustiça e de ofensa 
a direitos. 
Tais ações trazem diversos debates para a ciência jurídica, como no 
embate entre a interpretação contemporânea do Direito Privado e a visão 
tradicional, sendo que aquela se volta para observância dos princípios do 
Estado Democrático de Direito, apesar do Código Civil de 2002 conceituar a 
posse de forma abstrata e unitariamente, sujeita à propriedade “ameniza-se a 
concepção patrimonialista e utilitarista no restante do tratamento da matéria” 
(FARIAS, ROSENVALD, 2014, p. 57). 
Não obstante, a problemática de tais conflitos é ainda mais grave. Neste 
sentido, Wolkmer (2001, p. 105) apresenta que há uma falência no modelo 
jurídico estatal (de seu ordenamento positivo e de seu órgão de decisão, ou 
seja, o judiciário)
ao se limitar à regulação de conflitos 
interindividuais/patrimoniais e não sociais de massa – não garante uma 
regulamentação de tensões coletivas que digam respeito ao acesso à terra e 
ocupações de áreas rurais e urbanas. 
Observa-se no contexto brasileiro um confronto, que envolve disputa pela 
posse, uso e distribuição da terra, que se desenrola em uma estrutura agrária 
de privilégios e injustiças, assentada na dominação política autoritária e 
clientelista, marcada pelo capitalismo especulativo e pelo comprometimento 
com os interesses das tradicionais elites agrárias (WOLKMER, 2001, p. 
106). 
Em outros termos, trata-se de uma visão elitista, patrimonialista e 
individualista que marca o direito brasileiro – incluindo as decisões e 
24 
 
atuações envolvendo conflitos possessórios. A insuficiência do modelo 
jurídico estatal, do judiciário e, quiçá, das demais instituições do sistema de 
justiça envolvidas (Ministério Público, Defensoria Pública, advocacia etc) 
pode estar presente também no específico caso dos conflitos envolvendo 
comunidades quilombolas. 
Não bastasse o cenário marcado pela insuficiência administrativa na 
titulação quilombola, pelo questionamento do direito ao território e à 
autodeterminação das comunidades, e pelas pressões políticas para controlar 
o procedimento de titulação, pode-se operar simultaneamente o agravamento 
das situações de conflitos no campo envolvendo territórios quilombolas com 
a tramitação de ações possessórias. 
Shiraishi Neto (2007, p. 28) atenta que o reconhecimento do plural e 
multiétnico têm favorecido a construção de um campo jurídico do “direito 
étnico” e de uma forma própria de refletir o direito, Resultando no 
afastamento de posturas cristalizadas de “práticas jurídicas”, abrindo espaço 
para novas interpretações jurídicas. Conclui que pensar o direito sob a ótica 
dos povos e comunidades tradicionais resulta em uma ruptura com esquemas 
jurídicos pré-concebidos. 
Entretanto, no que tange as ações possessórias decorrentes de conflitos 
territoriais, inseridas no cenário de tentativas de deslegitimar os direitos de 
comunidades quilombolas e no predomínio de um modelo jurídico estatal 
elitista, patrimonial e burguês, mostra-se salutar compreender como as 
instituições do sistema de justiça atuam na concretização dos direitos do 
referido grupo social. 
25 
 
Wolkmer (2001, p. 115-116) aduz que os conflitos envolvendo a terra 
transcendem o caráter de mero conflito por Direito à propriedade, “pois 
abrangem um amplo espectro reivindicatório de direitos à vida, à vida digna 
com segurança e com garantia de subsistência”. Em relação às comunidades 
quilombolas, em razão das suas particularidades étnicas, o conflito perde 
ainda mais o caráter de mero conflito por Direito à propriedade. 
Inclusive, Almeida (2008, p. 134-135) apresenta que a forma de uso da 
terra por comunidades tradicionais, como as comunidades quilombolas, 
colide com disposições jurídicas e econômicas vigentes, cujo catálogo por 
instituições estatais é quase inexistente, dependendo o reconhecimento desse 
sistema por atuações de pesquisadores e técnicos que realizam pesquisas e 
vistorias in loco. 
Em outras palavras, as práticas do referido grupo não necessariamente 
coadunam com as formas legais tradicionais envolvendo os Direitos Reais. 
Resumir a atuação das instituições de justiça a esta visão pode resultar na 
desconsideração de diversos direitos em favor de direitos individuais e 
patrimoniais. Duprat (2007, p. 23) destaca que é necessário que o aplicador 
do direito, em relação aos direitos de comunidades quilombolas, deve 
compreender o ambiente que recai a norma e dar atenção às pessoas que lhe 
conferem – compreender, ao invés de interpretar, é sair do pensamento e iro 
à prática, fazendo-a falar. 
Utilizando-se o judiciário como exemplo, é possível observar em 
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça a preservação do direito à 
posse de comunidades quilombolas: 
26 
 
 
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO 
ESPECIAL. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. 
TERRENO DE MARINHA. ILHA DA MARAMBAIA. 
COMUNIDADE REMANESCENTE DE QUILOMBOS. 
DECRETO N.º 4.887, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2003, E 
ART. 68 DO ADCT. [...] 6. Os quilombolas tem direito à 
posse das áreas ocupadas pelos seus ancestrais até a 
titulação definitiva, razão pela qual a ação de reintegração de 
posse movida pela União não há de prosperar, sob pena de por 
em risco a continuidade dessa etnia, com todas as suas 
tradições e culturas. O que, em último, conspira contra pacto 
constitucional de 1988 que assegura uma sociedade justa, 
solidária e com diversidade étnica. 7. Recurso especial 
conhecido e provido (BRASIL, 2010, grifos nossos). 
 
Por outro lado, existem decisões que concedem reintegração de posse em 
desfavor das comunidades: 
 
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE 
POSSE. IMÓVEL INSERIDO EM ÁREA CUJA POSSE 
FORA ASSEGURADA À COMUNIDADE QUILOMBOLA 
DO SÃO FRANCISCO DO PARAGUAÇU. 
CONTROVÉRSIA ACERCA DA EFETIVA 
LOCALIZAÇÃO DO IMÓVEL. I - Restando comprovado os 
requisitos constantes no art. 927 do CPC, afigura-se devida, na 
espécie, a reintegração de posse de imóvel objeto do litígio até 
que seja realizado, pelo Instituto Nacional de Colonização e 
Reforma Agrária - INCRA, o devido procedimento de 
27 
 
delimitação e demarcação da área rural em discussão, a fim de 
comprovar se o imóvel está inserido em área destinada à 
Comunidade Quilombola do São Francisco do Paraguaçu. II - 
Agravo de instrumento provido (BRASIL, 2013). 
 
Neste compasso, as dificuldades não se restringem ao procedimento de 
titulação quilombola, mas também podem ser observadas nas ações 
possessórias, impedindo o amplo acesso ao território e o desenvolvimento 
dos modos de viver, criar e fazer das comunidades quilombolas. 
O Baixo Parnaíba Maranhense
5
 é marcado por diversos conflitos agrários, 
como os decorrentes das investidas do agronegócio, que causam problemas 
socioambientais, violência e expulsão da população do campo (GERUR, 
2014, passim) – além de ser marcado por problemas decorrentes da histórica 
ausência de distribuição de terras. Neste cenário, também se inserem 
 
5 A respeito da referida região, Gaspar e Andrade (2015, p. 111) destacam: “Oficialmente 
denominada de Leste Maranhense pelo IBGE, essa Mesorregião é conhecida também 
genericamente como Baixo Parnaíba. Esta denominação é adotada, principalmente, por 
integrantes de movimentos sociais como o Fórum em Defesa da Vida do Baixo Parnaíba 
Maranhense, membros de associações comunitárias, instituições confessionais e sindicatos de 
municípios da região. A referência ao chamado Baixo Parnaíba não coincide com a área 
oficial correspondente à Mesorregião Leste Maranhense, mas se refere, principalmente, às 
áreas geográficas que integram alguns municípios dessa região, como Santa Quitéria do 
Maranhão, Brejo, Anapurus, Mata Roma, Chapadinha, Buriti, Urbano Santos, São Bernardo, 
Barreirinhas, Belágua, São Benedito do Rio Preto, Santana do Maranhão, Milagres do 
Maranhão”. 
28 
 
conflitos envolvendo comunidades quilombolas, várias sem titulação 
finalizada, situação agravada com o ajuizamento de ações possessórias. 
Com isso, é salutar problematizar a respeito da forma como as 
instituições de justiça reconhecem o direito à posse e ao território das 
comunidades quilombolas – tendo em vista que a proteção dos direitos 
destas conflitam com visões tradicionais dos direitos reais, acarretando no 
aprofundamento das desigualdades e na negação de direitos. 
 
Objetivo geral 
 
O projeto tem como objetivo geral analisar em que medida a atuação das 
instituições do sistema de justiça nas ações possessórias possibilitam a 
concretização do direito à posse e ao território de comunidades quilombolas 
no Baixo Parnaíba Maranhense. 
 
Objetivos
específicos 
 
O projeto tem como objetivos específicos: 1) mapear as ações 
possessórias envolvendo comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba 
Maranhense; 2) analisar a situação do acesso ao território das comunidades 
quilombolas envolvidas em conflitos possessórios e; 3) estudar a 
fundamentação utilizada pelas instituições do sistema de justiça nas ações 
possessórias envolvendo comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba 
Maranhense 
29 
 
Relevância 
 
Na medida em que a judicialização dos conflitos possessórios envolvendo 
comunidades quilombolas pode estar cercada por uma visão tradicional e 
civilista do Direito, é necessário compreender a forma como as suas 
particularidades étnicas e sociais são compreendidas nas decisões e 
instituições do sistema de justiça. Consistem em conflitos que acarretam no 
aprofundamento da histórica negação de direitos e desigualdade, servindo o 
Direito como instrumento que serve ao patrimonialismo, elitismo e 
individualismo. 
A relevância consiste em analisar a situação de conflito e violência em 
que as comunidades quilombolas do Baixo Parnaíba Maranhense estão 
inseridas; compreender a atuação das instituições do sistema de justiça frente 
a tais conflitos; colaborar para a percepção da relevância em superar uma 
visão tradicional e civilista frente a conflitos envolvendo comunidades 
quilombolas e, consequentemente, construir um conhecimento crítico a 
respeito dos referidos conflitos. 
 
Estado Atual do Conhecimento 
 
Os estudos e pesquisas referentes a povos e comunidades tradicionais, aos 
seus direitos reconhecidos nacional e internacionalmente, e aos problemas 
do acesso ao território são vastas, principalmente nas áreas da sociologia e 
da antropologia. Em relação à área jurídica, observam-se debates nas 
30 
 
subáreas do Direito Constitucional, do Direito Agrário e dos Direitos Reais. 
Não obstante, a interligação entre as múltiplas áreas pode não ocorrer. Com 
isso, é possível que existam visões estritamente legalistas, sem a 
compreensão das complexas relações sociais existentes nas comunidades 
quilombolas, que tornam insuficiente a pura e simples análise legal face à 
complexidade e pluralidade decorrente do caráter étnico diferenciado do 
referido grupo social. 
 
Metodologia 
 
A metodologia do projeto será constituída em primeiro lugar pelo 
levantamento de bibliografia relevante para a temática, não somente na área 
do Direito, mas também na sociologia e na antropologia. Ademais, serão 
levantadas as legislações pertinentes ao tema, para compreensão dos direitos 
assegurados às comunidades quilombolas. 
Em segundo lugar, será realizada pesquisa documental e de campo para 
identificar as comunidades quilombolas envolvidas em conflitos 
possessórios. Isto será feito junto às organizações da sociedade civil que 
atuam junto a comunidades quilombolas, como o Centro de Cultura Negra, o 
Fórum em Defesa da Vida do Baixo Parnaíba Maranhense, a Sociedade 
Maranhense de Direitos Humanos, a Comissão Pastoral da Terra, a 
Associação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas do Maranhão e o 
Movimento Quilombola do Maranhão – diálogo possibilitado pela atuação 
31 
 
junto a sociedade e os movimentos sociais realizada pelo Programa de 
Assessoria Jurídica Universitária Popular. 
Em terceiro lugar, averiguar-se-á a situação do acesso ao território das 
comunidades quilombolas em situação de conflito no Baixo Parnaíba 
Maranhense, analisando-se os procedimentos existentes no Instituto 
Nacional de Colonização e Reforma Agrária e no Instituto de Terras do 
Maranhão. 
Por fim, far-se-á a análise das ações possessórias ajuizadas em face de 
comunidades quilombolas tanto no âmbito estadual quanto no âmbito 
federal. Assim, será possível investigar tanto a atuação do judiciário quanto a 
atuação das demais instituições de justiça envolvidas no caso. 
 
Plano individual dos bolsistas 
 
Foram elaborados dois planos individuais para bolsistas. Um de título 
“Atuação do judiciário na tutela de direitos de comunidades quilombolas nas 
ações possessórias no Baixo Parnaíba Maranhense”. Teve como objetivo 
geral analisar a atuação do judiciário na tutela de direitos de comunidades 
quilombolas nas ações possessórias no Baixo Parnaíba Maranhense. Como 
objetivos específicos: estudar a concessão de decisões liminares pelo 
judiciário que repercutem na expulsão de comunidades quilombolas ou 
manutenção de particulares nas áreas conflituosas no Baixo Parnaíba 
Maranhense; identificar os fundamentos das decisões judiciais nas ações 
possessórias envolvendo comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba 
32 
 
Maranhense; investigar as consequências da morosidade na prestação 
jurisdicional em relação às comunidades quilombolas envolvidas em ações 
possessórias no Baixo Parnaíba Maranhense. A metodologia do plano de 
trabalho teve desenvolvimento semelhante à do projeto do orientador. 
O outro plano de pesquisa foi intitulado “Tutela de direitos das 
comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense pela postulação de 
instituições de justiça estatais nas ações possessórias”. Teve como objetivo 
geral investigar os atos postulatórios das instituições de sistema de justiça 
estatais face à tutela de comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba 
Maranhense nas ações possessórias. Como objetivos específicos: analisar as 
atribuições legais das instituições do sistema de justiça estatais passíveis de 
postular a tutela de direitos das comunidades quilombolas nos conflitos 
possessórios no Baixo Parnaíba Maranhense; investigar as implicações da 
atuação extrajudicial das instituições do sistema de justiça estatais face aos 
conflitos possessórios envolvendo comunidades quilombolas no Baixo 
Parnaíba Maranhense; identificar os fundamentos dos atos postulatórios em 
juízo das instituições do sistema de justiça estatais nos conflitos possessórios 
no Baixo Parnaíba Maranhense envolvendo comunidades quilombolas. A 
metodologia do plano de trabalho teve desenvolvimento semelhante à do 
projeto do orientador. 
 
 
 
 
33 
 
Perspectivas do Projeto 
 
O projeto tem como perspectiva: a) contribuir para uma tutela efetiva dos 
direitos de comunidades quilombolas, inseridas perenemente em situações de 
conflito e violência; b) conscientizar as instituições do sistema de justiça a 
respeito das particularidades étnicas que envolvem as comunidades 
quilombolas, sob pena de perpetuar uma visão elitista, patrimonialista e 
individualista do Direito que impossibilitam a tutela daquelas; d) contribuir 
para a construção de um conhecimento jurídico crítico que possibilite a 
compreensão das formas de viver, fazer e criar de comunidades quilombolas; 
e) consolidar uma atuação e produção científica crítica alinhada à atuação do 
Programa de Assessoria Jurídica Universitária Popular – PAJUP, projeto de 
pesquisa e extensão da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco – UNDB. 
 
Referências 
 
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NETO, Joaquim. Direito dos Povos e das Comunidades Tradicionais no 
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“castanhais do povo”, faixinais e fundos de pastos: terras tradicionalmente 
ocupadas. 2. ed. Manaus: PGSCA-UFMA, 2008. 
34 
 
 
BRASIL. Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988. 
Brasília, 1988. 
 
_____. Decreto nº 4.887 de 20 de novembro de 2003. Brasília, 2003. 
 
_____. STJ. REsp: 931060 RJ 2007/0047429-5, Relator: Ministro Benedito 
Gonçalves, Data de Julgamento: 17/12/2009, T1 – Primeira Turma, Data de 
Publicação: DJe 19/03/2010. Brasília, 2010. 
 
_____. TRF-1 - AG: 46537 BA 2006.01.00.046537-4, Relator: Des. Federal 
Souza Prudente. Data de Julgamento: 17/04/2013, Quinta Turma, Data de 
Publicação: e-DJF1
p.87 de 24/04/2013. Brasília, 2013. 
 
_____. STF. Adin nº 3.239-DF. Relator: Ministro Cezar Peluzo. Voto vista 
Ministra Rosa Weber. 25/03/2015. Brasília, 2015. Disponível em: 
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BRUZACA, Ruan Didier, VIEIRA, Adriana Dias. Linguagem dos juristas 
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tradicionais: o caso do conflito possessório envolvendo a comunidade 
quilombola de São Bento, Brejo/MA. In: Prisma Jurídico, v. 16, p. 181-
204, 2017. Disponível em: 
35 
 
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Acesso em 20 mar. 2018. 
 
CPISP. Terras quilombolas: pesquisa terras tituladas. São Paulo, 2016a. 
Disponível em: <http://www.cpisp.org.br/terras/asp/uf.aspx?terra=t>. Acesso 
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<http://www.cpisp.org.br/terras/Mapa/mapa.aspx?VerTerras=r>. Acesso em 
20 mai. 2016. 
 
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Povos e das Comunidades Tradicionais no Brasil: Declarações, 
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Política Nacional. Manaus: UEA, 2007. p. 19-24. 
 
FARIAS, Cristiano Chaves de Farias. ROSENVALD, Nelson. Curso de 
Direito Civil, vol 6: Reais. 10. ed. rev., ampl. e atual. Salvador: Editora 
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GASPAR, Rafael Bezerra. ANDRADE, Maristela de Paula. Gaúchos no 
Maranhão: agentes, posições sociais e trajetórias em novas fronteiras do 
36 
 
agronegócio. In: Revista Pós Ciências Sociais. v.11, n.22, p. 109-128, 
jul/dez. 2014 
 
GERUR (Grupo de Estudos Rurais e Urbanos). O agronegócio e os 
problemas socioambientais no Baixo Parnaíba Maranhense: a luta dos 
lavradores em defesa de um modo de vida. São Luís, 2014. 
 
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territoriais em construção. In: ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de (Org.). 
Caderno de debates Nova Cartografia Social: territórios quilombolas e 
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Prefácio. In: SHIRAISHI NETO, Joaquim. Direito dos Povos e das 
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37 
 
WOLKMER, Antonio Carlos. Pluralismo jurídico: fundamentos de uma 
nova cultura no Direito. 3 ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Alfa Omega, 
2001. 
38 
 
39 
 
Atuação das instituições do sistema de justiça na proteção da posse e do 
território nas ações possessórias ajuizadas contra comunidades 
quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense: relatório
1
 
 
Ruan Didier Bruzaca 
 
Objetivo geral 
 
Diante do objetivo geral de “analisar em que medida a atuação das 
instituições do sistema de justiça nas ações possessórias possibilitam a 
concretização do direito à posse e ao território de comunidades quilombolas 
no Baixo Parnaíba Maranhense”, entende-se que o mesmo foi cumprido em 
sua totalidade. Apesar da incerteza na listagem de todos os processos 
judiciais envolvendo comunidades quilombolas na região, foi possível 
esquematizar a atuação de diferentes instituições do sistema de justiça. 
Para tal, utilizou-se pesquisa documental, com a análise de processos, e 
de campo, com entrevistas com representantes das instituições do sistema de 
justiça e representantes do movimento quilombola. Neste sentido, importa 
destacar que se estabeleceu contato com: a Defensoria Pública da União; o 
Ministério Público da União; o Ministério Público Estadual; as varas da 
 
1 Relatório dos resultados gerais obtidos na execução do projeto “Atuação das instituições do 
sistema de justiça na proteção da posse e do território nas ações possessórias ajuizadas contra 
comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense”. 
40 
 
Justiça Federal; o Centro de Cultura Negra; a Sociedade Maranhense de 
Direitos Humanos; a assessoria jurídica da Diocese de Brejo; a assessoria 
jurídica da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do Estado 
do Maranhão e; lideranças comunitárias. 
Em especial, tem-se o destaque às instituições do sistema de justiça que 
representam em juízo tal grupo étnico, como é o caso da Defensoria Pública 
da União e do Ministério Público da União. Da mesma forma, a advocacia 
popular, especificamente em relação à Sociedade Maranhense de Direitos 
Humanos e ao Centro de Cultura Negra, referencia uma atuação que visa 
tutelar os direitos de comunidades quilombolas. Por outro lado, a advocacia 
enquanto instituição do sistema de justiça também é pontuada quando atua 
representando interesses de particulares, geralmente contrários aos direitos 
das comunidades. 
Ademais, não se pode deixar de lado o judiciário, crucial no debate sobre 
direitos possessórios e territoriais em jogo. No caso, foi possível analisar 
diferentes aspectos desta atuação por meio da análise das decisões judiciais. 
Interessante notar a existência de diferentes questões debatidas, 
principalmente quanto à concessão de liminares e à competência, na medida 
em que as ações analisadas tramitam tanto na justiça federal quanto na 
justiça comum. 
Deste modo, diante da diversidade das instituições e das atuações, cuja 
análise é possível pela coleta de informações por entrevistas e documentos, 
foi possível observar em que medida os direitos de comunidades 
quilombolas na região do Baixo Parnaíba Maranhense são ou não tutelados. 
41 
 
Objetivos específicos 
 
Quanto ao objetivo de mapear as ações possessórias envolvendo 
comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense, este foi 
parcialmente cumprido. Foi possível realizar um mapeamento de ações 
possessórias envolvendo comunidades na referida região, mas é necessário 
atentar que esse mapeamento pode não incluir todas as ações possessórias 
existentes, visto que apenas engloba aquelas acompanhadas pelo Ministério 
Público Federal, pela Defensoria Pública da União, pela Sociedade 
Maranhense de Direitos Humanos e pelo Centro de Cultura Negra. Inclusive, 
as dificuldades em acesso aos dados no judiciário, pela inexistência de uma 
ferramenta de busca mais específica e pelo grande volume de processos nas 
varas, impediram um levantamento mais preciso. 
Quanto a analisar a situação do acesso ao território das comunidades 
quilombolas envolvidas em conflitos possessórios, foi cumprido em sua 
totalidade. Conforme listagem apresentada pelo Instituto Nacional de 
Colonização e Reforma Agrária, foi possível pontuar todas as comunidades 
quilombolas que possuem processo administrativo de titulação na região. 
Ademais, junto a tal listagem, há a situação de cada comunidade, sendo 
possível observar a situação do acesso ao território conforme a respectiva 
fase processual da qual a comunidade encontra-se. 
Por fim, estudar a fundamentação utilizada pelas instituições do sistema 
de justiça nas ações possessórias envolvendo comunidades quilombolas no 
Baixo Parnaíba Maranhense foi cumprido em sua totalidade. Analisando os 
42 
 
processos listados a partir do contato com as instituições e entidades antes 
destacadas, foi possível observar o conteúdo da fundamentação das 
instituições envolvidas. Seja por meio das entrevistas, nas quais alguns 
deixam claro seus fundamentos de atuação, seja por meio das peças 
processuais elaboradas
pelos representantes das instituições, principalmente 
petições iniciais e decisões judiciais, identificou-se a referida fundamentação 
e, com isso, o alinhamento ou não à concretização de direitos de 
comunidades quilombolas. 
 
Resultados 
Conflitos possessórios envolvendo comunidades quilombolas no Baixo 
Parnaíba Maranhense 
 
Foram solicitados dados referentes aos conflitos possessórios que 
envolvem comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense a 
instituições do sistema de justiça e a órgãos estatais, por meio dos ofícios 
PAJUP-BIC nº 11/2017, endereçado ao Ministério Público Federal; PAJUP-
BIC nº 12/2017, endereçado ao Centro de Cultura Negra; PAJUP-BIC nº 
13/2017, endereçado à Defensoria Pública da União; PAJUP-BIC nº 
15/2017, endereçado ao setor quilombola do Instituto Nacional de 
Colonização e Reforma Agrária e; PAJUP-BIC nº 19/2017, endereçada à 
Sociedade Maranhense de Direitos Humanos. 
Neles, solicitava-se de forma padrão acesso às informações de processos 
administrativos e ações possessórias existentes na instituição de justiça ou no 
43 
 
órgão, bem como realização de entrevistas com seus representantes. 
Novamente, importa destacar que os dados se referiam às comunidades 
existentes nos municípios que envolvem o Baixo Parnaíba Maranhense. 
Inicia-se com os dados apresentados pelo setor quilombola do Instituto 
Nacional de Terras e Reforma Agrária. Obteve-se listagem de comunidades 
quilombolas em processo de titulação, mas não se obteve informação a 
respeito da existência de ações possessórias. Assim, na região do Baixo 
Parnaíba Maranhense, destaca-se a existência das seguintes comunidades em 
processo de titulação: 
 
1) Saco das Almas, município de Brejo, proc. nº 
54.230.003791/2014-87, com certidão da Fundação Cultural 
Palmares, em fase de elaboração do relatório antropológico, já 
contratado; 
2) Bonsucesso, município de Mata Roma, proc. nº 
54.230.00368/2005-47, com certidão da Fundação Cultural 
Palmares e com estudo antropológico; 
3) Santa Cruz, município de Buriti, proc. nº 
54.230.003910/2005-82, com certidão da Fundação Cultural 
Palmares, em fase de elaboração do relatório antropológico, já 
contratado; 
4) Arvore Verde, município de Brejo, proc. nº 
54.230.004960/2005-87, com certidão da Fundação Cultural 
44 
 
Palmares, sem Relatório Técnico de Identificação e Delimitação 
Territorial; 
5) Data Arraial, município de Brejo, proc. nº 
54.230.003615/2007-98, sem certidão da Fundação Cultural 
Palmares, sem Relatório Técnico de Identificação e Delimitação 
Territorial; 
6) Alto Bonito, município de Brejo, proc. nº 
54.230.005031/2007-57, com certidão da Fundação Cultural 
Palmares e Relatório Técnico de Identificação e Delimitação 
Territorial em conclusão; 
7) Barro Vermelho, município de Chapadinha, proc. nº 
54.230.005393/2009-18, com certidão da Fundação Cultural 
Palmares, em fase de elaboração do relatório antropológico, já 
contratado; 
8) Depósito, município de Brejo, proc. nº 54.230.009564/2010-
11, com certidão da Fundação Cultural Palmares, em fase de 
elaboração do relatório antropológico, já contratado; 
9) Bandeira, município de Brejo, proc. nº 54.230.012469/2010-
97, com certidão da Fundação Cultural Palmares, em fase inicial; 
10) Funil, município de Brejo, proc. nº 54.230.01269/2011-90, 
com certidão da Fundação Cultural Palmares, em fase inicial; 
11) Cana Brava, município de Santa Quitéria, proc. nº 
54.230.001929/2011-32, com certidão da Fundação Cultural 
Palmares, em fase inicial; 
45 
 
12) Caruaras, município de Santa Quitéria, proc. nº 
54.230.001930/2011-67, sem certidão da Fundação Cultural 
Palmares, em fase inicial; 
13) Boa Vista, município de Brejo, proc. nº 
54.230.003933/2011-35, com certidão da Fundação Cultural 
Palmares, em fase inicial; 
14) Bom Princípio, município de Brejo, proc. nº 
54.230.003937/2011-13, com certidão da Fundação Cultural 
Palmares, em fase inicial; 
15) São Bento da Data Genipapo, município de Brejo, proc. nº 
54.230.001024/2013-24, com certidão da Fundação Cultural 
Palmares, em fase inicial; 
16) Prata do Quirino, município de Chapadinha, proc. nº 
54.230.001496/2013-87, com certidão da Fundação Cultural 
Palmares, em fase inicial; 
17) Poço de Pedra, município de Chapadinha, proc. 
nº54.230.001503/2013-41, com certidão da Fundação Cultural 
Palmares, em fase inicial; 
18) Povoado Quarimã, município de São Benedito do Rio Preto, 
proc. nº 54.230.001397/2017-29, com certidão da Fundação 
Cultural Palmares, sem Relatório Técnico de Identificação e 
Delimitação Territorial; 
 
46 
 
Seguindo, em resposta, o Ministério Público Federal apresentou quatro 
relatórios. Três deles decorrentes da busca na ferramenta “Consulta Aptus”, 
com texto para pesquisa “quilombola”, gênero “ato judicial”, UF 
Cadastramento “Maranhão”, UF Localização “Maranhão” e Unidade 
Cadastramento “PR-MA – PROCURADORIA DA REPÚBLOCA – 
MARANHÃO”. O quarto relatório traz um filtro manual apresentado pelo 
Ministério Público Federal. Diante do volume de processos apresentados, 
elenca-se aqui os que tem pertinência ao projeto desenvolvido, com inclusão 
de algumas ações de natureza distinta da possessória, mas consideradas 
afins, pois envolvem o cenário de conflito territoriais. Assim, obteve-se a 
seguinte listagem, quanto aos processos judiciais: 
 
1) JF/MA-0023130-55.2013.4.01.3700-ACP – CÍVEL – 
TUTELA COLETIVA, referente à implementação do Programa 
Luz para Todos, na comunidade quilombola de Barro Vermelho, 
município de Chapadinha; 
 
Quanto aos inquéritos civis públicos: 
 
1) 1.19.000.002228/2016-82 – CÍVEL – TUTELA 
COLETIVA, referente ao inquérito civil que averigua denúncia 
de violação de direitos na comunidade de Saco das Almas, 
município de Brejo, que teria resultado em ação possessória que 
tramita na justiça estadual; 
47 
 
2) 1.19.000.000197/2015-44 – CÍVEL – TUTELA 
COLETIVA, referente ao inquérito civil que averigua vícios na 
implantação do Programa Minha Casa Minha Vida na 
comunidade quilombola de Vila Tiúba, município de 
Chapadinha; 
3) 1.19.000.001285/204-82 – CÍVEL – TUTELA COLETIVA, 
referente ao inquérito civil que averigua denuncia referente à 
agressão sofrida pelos quilombolas da Associação dos Moradores 
do Povoado de Santa Maria, município de Urbano Santos. 
 
No que se refere aos dados apresentados pelo Centro de Cultura Negra, 
destaca-se: 
 
1) Proc. nº 98/2009, Justiça Estadual de Santa Quitéria, 
referente a ação de reintegração de posse face à comunidade de 
quilombola de Cana Brava, município de Santa Quitéria; 
2) Proc. nº 0003737-81.2012.4.01.3700, JF/MA, referente a 
ação possessória face à comunidade de Depósito, município de 
Brejo. 
 
Solicitado informação à DPU, houve apresentação de doze Processos de 
Assistência Jurídica, dos quais os pertinentes à presente pesquisa são: 
 
48 
 
1) 2013.012.00880, Comunidade de Depósito, referente à ação 
civil pública com pedido de antecipação de tutela, proc. nº 84610-
63.2015.4.01.3700, JF/MA, que discutiu a implantação do 
Programa Luz Para Todos; 
 
A Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, em resposta ao ofício, 
apresentou os seguintes dados: 
 
1) Processo nº 989-69.2014.8.10.0031 (9512014), Comarca de 
Chapadinha, referente à ação civil pública ajuizada pelo 
Ministério Público Estadual do Maranhão, quanto à comunidade 
de Barro Vermelho, município de Chapadinha; 
2) Processo n° 243-17.2008.8.10.0031 (2432008), Comarca de 
Chapadinha, referente a ação possessória ajuizada em face da 
comunidade de Barro Vermelho, município de Chapadinha, que 
corre atualmente na Justiça Federal, sob o nº 
003446979.2011.4.01.3700, JF/MA, em razão da identificação de 
interesse processual pelo Instituto Nacional de Colonização e 
Reforma Agrária; 
3) Processo nº 003545040.2013.4.01.3700, JF/MA, referente à 
ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Federal, 
envolvendo a comunidade de Barro
Vermelho, município de 
Chapadinha; 
49 
 
4) Processo nº 580-02.2007.8.10.0076 (5802007), Comarca de 
Brejo, referente à ação de despejo em face de Manoel Natal 
Bastos, da comunidade quilombola de Depósito, município de 
Brejo; 
5) Processo nº 5182009, Comarca de Brejo, referente a 
Embargos de Terceiro com Pedido Liminar, ajuizada pela 
Associação Comunitária Afro Descendente do Povoado Depósito, 
município de Brejo; 
6) Processo nº 0003737-81.2012.4.01.3700, JF/MA, referente à 
interdito proibitório em face da Associação Comunitária Afro 
Descendente do Povoado Depósito e outros, município de Brejo; 
7) Processo nº 0051743-51.2014.4.01.3700, JF/MA, referente à 
ação de demarcação ajuizada pelo Ministério Público Federal, 
referente a área que envolve a comunidade de Depósito, 
município de Brejo; 
8) Processo n.º 1534-33.2016.8.10.0076 (15342016), Comarca 
de Brejo, referente a ação possessória ajuizada em face de 
membros da comunidade quilombola de Saco das Almas, 
município de Brejo; 
9) Processo n.º 0013982-88.2011.4.01.3700, JF/MA, referente 
à demarcação de terras quilombolas, de autoria do Ministério 
Público Federal, referente à titulação da comunidade quilombola 
de Saco das Almas, município de Brejo. 
 
50 
 
Com isso, apresenta-se a seguinte tabela, referente a ações possessórias 
ou que decorram do exercício do direito de propriedade: 
 
# Comunidade Município Número do processo Juízo Assunto 
1 Barro 
Vermelho 
Chapadinha 003446979.2011.4.01.3700 JF/MA Possessória 
2 Depósito Brejo 580-02.2007.8.10.0076 Com. 
Brejo 
Despejo 
3 Depósito Brejo 0003737-
81.2012.4.01.3700 
JF/MA Possessória 
4 Saco das 
Almas 
Brejo 1534-33.2016.8.10.0076 Com. 
Brejo 
Possessória 
5 Cana Brava Santa 
Quitéria 
98/2009 Com. 
Santa 
Quitéria 
Possessória 
Tabela 1- Ações possessórias envolvendo comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba 
Maranhense 
Fonte: Sociedade Maranhense de Direitos Humanos; Centro de Cultura Negra 
Elaboração: Ruan Didier Bruzaca 
 
 
 
 
51 
 
Atenta-se que apesar do processo nº 580-02.2007.8.10.0076 não ter 
natureza possessória, optou-se por incluí-la na tabela tendo em vista 
impactar, tal qual na disputa da posse, a manutenção da comunidade na área. 
Seguindo, em relação a ações de outra natureza, ajuizadas por instituições do 
sistema de justiça visando a concretização de direitos às comunidades 
quilombolas, tem-se como resultado a seguinte tabela: 
 
# Com. Município Número do processo Juízo Assunto 
1 Barro 
Vermelho 
Chapadinha 003545040.2013.4.01.3700 JF/MA Ação civil 
pública – 
titulação 
quilombola 
2 Barro 
Vermelho 
Chapadinha 0023130-
55.2013.4.01.3700 
JF/MA Ação civil 
pública – 
implementação 
do PLPT 
3 Barro 
Vermelho 
Chapadinha 989-69.2014.8.10.0031 Com. 
Chapadinha 
Ação civil 
pública – 
extração 
irregular de 
areia 
4 Depósito Brejo 84610-63.2015.4.01.3700 JF/MA Ação civil 
pública – 
implementação 
do PLPT 
5 Depósito Brejo 0051743-
51.2014.4.01.3700 
JF/MA Ação civil 
pública – 
demarcação 
52 
 
6 Saco das 
Almas 
Brejo 0013982-
88.2011.4.01.3700 
JF/MA Ação civil 
pública – 
titulação 
quilombola 
Tabela 2- Ações para satisfazer direitos de comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba 
Maranhense 
Fonte: Sociedade Maranhense de Direitos Humanos; Defensoria Pública da União; Ministério 
Público Federal 
Elaboração: Ruan Didier Bruzaca 
 
Deste modo, elabora-se o seguinte mapeamento, deixando claro que diz 
respeito apenas aos dados levantados juntos às referidas instituições de 
justiça e órgãos, podendo haver outras ações que não sejam por eles 
acompanhadas. 
 
53 
 
 
Mapa 1- Mapeamento de processos de comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba 
Maranhense 
Fonte do mapa: EcoDebate (https://ecodebate.com.br/foto/baixoparnaiba.jpg) 
Elaboração do mapeamento: Ruan Didier Bruzaca 
54 
 
De um total de 18 (dezoito) processos administrativos de titulação 
quilombola existentes no Instituto Nacional de Terras e Reforma Agrária no 
Maranhão, observa-se um total de 5 (cinco) ações possessórias e afins, 
incluída a ação de despeje – destas, importa destacar que quatro são as 
comunidades envolvidas, sendo elas Barro Vermelho (Chapadinha), Saco 
das Almas e Depósito (Brejo) e Cana Brava (Santa Quitéria). Com isso, 
conforme acompanhamento das instituições e órgãos anteriormente 
destacados, aproximadamente 27% das comunidades quilombolas em 
processo de titulação na região encontram-se em situação de conflito 
possessório. 
Por outro lado, levantam-se 6 (seis) processos de natureza distinta das 
possessórias, mas caracterizadas por serem ajuizadas por instituições do 
sistema de justiça para assegurar direitos às comunidades quilombolas, como 
acesso ao território, às políticas públicas e proteção da dignidade. Destaque 
para a comunidade de Barro Vermelho, que está envolvida em 3 (três) 
processos, envolvendo: 1) conclusão do procedimento administrativo de 
titulação quilombola; 2) implementação do Programa Luz para Todos e; 3) 
situação de dano ambiental provocada por retirada irregular de areia no 
território. 
Estas últimas ações não deixam de ser inseridas no contexto dos conflitos 
fundiários, servindo para a presente pesquisa por trazer um contraponto em 
relação à manutenção de uma tradição jurídica de vertente individual, liberal 
e burguesa. Por um lado, aqueles que ajuízam ações possessórias baseiam-se 
em instrumentos e direitos reconhecidos e pouco questionados, como os 
55 
 
referentes à propriedade e à posse. Por outro lado, ações civis públicas são 
ajuizadas por instituições do sistema de justiça, como a Defensoria Pública 
da União e o Ministério Público da União, debatendo direitos que são 
dificilmente efetivados, por exigir uma atuação estatal contínua e célere, e 
que são reiteradamente questionados, principalmente por envolver grupos 
étnicos postos em suspeita. 
Trata-se de uma constatação que corrobora com marcos teóricos 
estudados ao longo do projeto, bem como com aspectos empíricos 
presenciados tanto nas entrevistas quanto nas peças processuais existentes 
nos autos das ações possessórias e das de natureza diversa. Neste sentido, 
importa trazer aspectos dessas ações, com a finalidade de deixar clara a 
atuação das instituições de justiça e órgãos envolvidos enquanto parte, por 
um lado, e, de forma apartada, da atuação do judiciário, por outro. 
Com isso, verifica-se a existência de tratamentos diferenciados quanto às 
reivindicações quilombolas e, em especial, quanto à sua percepção de mundo 
e suas formas de ser, viver e criar, seja pela continuidade de uma tradição 
jurídica que impede avanços no reconhecimento dos direitos daqueles, seja 
pelas diferenciadas tentativas de assegurar o reconhecimento e a efetividade 
de direitos. 
 
 
 
 
 
56 
 
Atuação das instituições do sistema de justiça 
Ministério Público 
 
O Ministério Público Federal interveio nas seguintes possessórias: 1) 
003545040.2013.4.01.3700, JF/MA (Barro Vermelho) e; 2) 0003737-
81.2012.4.01.3700, JF/MA (Depósito). Quanto às ações civis públicas, a 
referida instituição ajuizou as seguintes: 1) 003545040.2013.4.01.3700, 
JF/MA (Barro Vermelho); 2) 0051743-51.2014.4.01.3700, JF/MA 
(Depósito) e 3) 0013982-88.2011.4.01.3700, JF/MA (Saco das Almas). 
Atualmente, é 13º Ofício do Ministério Público Federal no Maranhão, 
representado pelo procurador Hilton Araújo de Melo, que acompanha as 
referidas ações. Sobre os conflitos possessórios, o procurador afirma em 
entrevista: 
 
Esses conflitos sempre desaguam na Justiça Federal, onde o 
MPF além de custos legis, atua também na defesa irrestrita 
dos direitos territoriais dessas comunidades. Não é pura e 
simplesmente defender o solo, mas sim o que ele 
representa para a manutenção dessas comunidades. Então 
o modo de fazer, de viver tem que ser mantido e é sempre de 
acordo com o meio ambiente que eles necessitam
para se 
manter, subsistir basicamente. E subsistir está sendo uma 
tarefa das mais árduas para esses povos aqui no Maranhão 
(MELO, 2017, s. p., grifos nossos). 
 
57 
 
Nas duas possessórias observa-se a utilização de ações possessórias pela 
parte autora, pretensos proprietários, seguindo a concepção civilista da 
proteção da propriedade, apesar de inadequada, e da posse. Entretanto, sobre 
a atuação da instituição de justiça em comento, verifica-se a busca por inserir 
a compreensão da particularidade de comunidades tradicionais que seu 
autodeterminam como quilombolas. 
Em outros termos, a tutela não se resume a uma perspectiva pura e 
simplesmente civilista, como se observar reiteradamente nas ações 
possessórias. Trata-se de uma atuação que se sustenta nas especificidades 
culturais, territoriais e identitárias que marcam as comunidades quilombolas, 
sob pena de desconsiderar a realidade destas. Isto ocorre quando se resume 
os acontecimentos a situações de “posse”, “propriedade”, “esbulho”, 
“turbação”, por um lado, e não se compreende as formas de ser, viver e criar 
do grupo étnico. 
Sobre este conflito de traduções da realidade, o referido procurador 
afirma: 
 
Precisamos ser conscientes de que só existe um ordenamento 
jurídico brasileiro. As leis existem várias, mas o ordenamento, 
o que dá unidade para esse sistema, ele é uno. Então é preciso 
que a gente sempre concilie quando a gente se deparar com 
conceitos que aparentemente são adversos. [...] o conceito de 
posse na visão mais tradicional do nosso direito, que 
acompanha bem a nossa história civilista-patrimonialista, 
inclusive de séculos, ela é sim posse sempre relacionada a 
direito de propriedade e a um direito de produzir do ponto de 
58 
 
vista do enriquecimento, de produção econômica propriamente 
dita. Essa posse que é tutelada com esses institutos de direito 
civil tradicional, ela precisa ser coadunada, precisa 
conversar e é um esforço frequente do Ministério Público 
Federal quando se posiciona nas ações de conflito 
possessório, saber reconhecer que a realidade dessas 
comunidades quilombolas é bem distinta na forma como 
elas visualizam a relação com a terra do que de um modo 
geral o direito civil costuma fazer. Muitas vezes o Ministério 
Público Federal já conseguiu acordos onde se preservou a 
posse com o que a gente quase que chamou como 
sobreposições de posse (MELO, 2017, s. p., grifos nossos). 
 
Ademais, afirma que “na ordem do dia, para nós aqui do Ministério 
Público Federal, é fazer de fato a defesa territorial o primeiro aspecto a gente 
tem se preocupado” (MELO, 2017, s. p.). Assim, não somente nas 
possessórias, quanto nas ações civis públicas, observa-se a atuação do 
Ministério Público Federal no sentido de garantir o acesso ao território das 
comunidades quilombolas, bem como a outros direitos, como o direito ao 
meio ambiente ecologicamente equilibrado. Quanto ao primeiro, utilizando-
se como exemplo o processo nº 0051743-51.2014.4.01.3700, JF/MA, que 
trata da comunidade Depósito, Brejo/MA, destaca-se a busca pela tutela dos 
direitos territoriais. 
Diferente do uso de ações possessórias, a ação civil pública é identificada 
enquanto instrumento capaz de trazer com maior adequação as 
reivindicações das comunidades. Isto corrobora com a conformação do 
59 
 
referido instrumento, visto que, conforme apresenta Berclaz e Moura (2013), 
atribuiu ao representante do Ministério Público característica de Agente 
Político e, quanto maior a aproximação e o diálogo com a sociedade, mais 
legitimado e resolutivo será o seu trabalho. Na pesquisa realizada, observa-
se que os canais de comunicação entre o Ministério Público Federal e as 
comunidades quilombolas são fortes, possibilitando, conforme destacado, 
uma atuação alinhada aos seus interesses e à sua realidade. 
Com isso, entende-se que a atuação do Ministério Público Federal tem 
como fundamento não uma perspectiva restrita a respeito dos direitos, 
principalmente no que diz respeito ao direito civil. Os referidos conflitos 
possessórios envolvendo comunidades quilombolas enseja uma compreensão 
diferente dos direitos e dos sujeitos envolvidos, empenhando-se o Ministério 
Público Federal para tal. 
Por fim, importa destacar a existência de uma ação civil pública ajuizada 
pela Promotor de Justiça da Comarca de Chapadinha, referente ao processo 
nº 989-69.2014.8.10.0031, visando impedir a continuidade de extração 
irregular de areia às margens do Rio Munim, que afetava a comunidade 
quilombola de Barro Vermelho. Trata-se de ação que resultou da provocação 
da comunidade e da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos ao 
Ministério Público Estadual. Novamente, identifica-se a busca da instituição 
e do instrumento da ação civil pública para dar continuidade às condições 
territoriais necessárias para as formas de ser, viver e criar da comunidade. 
 
 
60 
 
Defensoria Pública 
 
Conforme dados apresentados pela Defensoria Pública da União, não se 
observa habilitação em possessórias na região do Baixo Parnaíba 
Maranhense. Por outro lado, quanto às ações civis públicas, a referida 
instituição ajuizou as seguintes: 1) 0023130-55.2013.4.01.3700, JF/MA 
(Barro Vermelho) e; 2) 84610-63.2015.4.01.3700, JF/MA (Depósito). 
Tratam-se de ações civis públicas voltadas para garantir condições de vida 
digna para as populações quilombolas, que historicamente sofrem tanto pela 
ausência de reconhecimento de seu território quanto pela falta de prestação 
de serviços públicos pelo Estado. 
Quanto à atuação da referida instituição, o defensor público da união Yuri 
Costa (2017, s. p.) afirma: 
 
Predomina na atuação da DPU ações judiciais de natureza 
coletiva, com destaque para a ação civil pública. O objeto 
dessas ações é variado. Temos, por exemplo, demandas 
movidas contra a Fundação Cultural Palmares, para dar 
regularidade ou rapidez ao procedimento que certifica a 
autodeclaração de coletividades como quilombolas. Há ações 
que buscam viabilizar o acesso de quilombolas a políticas 
públicas, sobretudo ligadas à educação, à saúde, à moradia e à 
eletrificação. Outro relevante eixo de atuação são demandas 
possessórias ou de regularização fundiária de territórios, quer 
provocando o Judiciário em nome da comunidade, quer 
61 
 
defendendo os quilombolas em ações movidas por 
particulares, por empresas ou pelo próprio Estado. 
 
Quanto aos casos acompanhados, destaca-se o caso de Depósito, em que 
se observa a ausência de infraestrutura (saneamento, água, energia etc), 
essencial à vida digna, agudizada pela situação de tensão social na qual as 
comunidades quilombolas estão inseridas. Isto é, marcada pelo conflito 
agrário que envolve tais comunidades em relação às áreas correspondentes 
aos seus territórios. Apesar de não se tratar de uma ação possessória, na 
inicial da referida ação civil pública destaca-se a existência de disputa pela 
posse, marcado por ameaças e ofensas a direitos da comunidade de Depósito. 
Trata-se de uma situação que não atinge somente aquela comunidade, 
mas também outras, como Barro Vermelho. Em outros termos, observa-se 
reiteradamente a ausência de prestação de serviços às comunidades em 
situação de conflito fundiário, impedido uma vida digna e, 
consequentemente, impactando na forma de vida daquelas. 
Importante destacar que, sobre as defensorias públicas, concorda-se com 
Santos (2011, p. 50), para quem a revolução democrática da justiça exige 
uma consulta e assistência jurídica diferente, possuindo papel relevante. 
Continua destacando que, no Brasil, são instituições essenciais à 
administração da justiça, objetivando a orientação jurídica e a defesa da 
população carente. 
Com isso, a fundamentação da Defensoria Pública da União, quando da 
tutela de direitos de comunidades quilombolas, o que não seria diferente das 
62 
 
ações possessórias, envolvem a compreensão dos direitos
territoriais, não se 
resumindo a uma visão restrita dos direitos. Assim, a fundamentação da 
instituição de justiça em comento aproxima-se daquela apresentada pelo 
Ministério Público Federal. 
 
Advocacia popular 
 
Duas foram as entidades analisadas que representam a advocacia popular: 
a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos e o Centro de Cultura Negra. 
Todos os processos listados foram acompanhados pelo menos por uma das 
duas entidades, apesar de não existir habilitação em todas elas. Não obstante, 
nos registros das referidas entidades, indicam-se os seguintes 
acompanhamentos: 1) quanto à Sociedade Maranhense de Direitos 
Humanos, os processos (1.1) 003446979.2011.4.01.3700, JF/MA (Barro 
Vermelho), (1.2) 5802007, Comarca de Brejo (Depósito), (1.3) 0003737-
81.2012.4.01.3700, JF/MA (Depósito), (1.4) 15342016, Comarca de Brejo 
(Saco das Almas); 2) quanto ao Centro de Cultura Negra, os processos (2.1) 
98/2009, Comarca de Santa Quitéria (Cana Brava) e (2.2) 0003737-
81.2012.4.01.3700, JF/MA (Depósito). 
Importa destacar ainda que, quanto às ações diversas, a Sociedade 
Maranhense de Direitos Humanos acompanha os seguintes processos: 1) 
989-69.2014.8.10.0031, Comarca de Chapadinha (Barro Vermelho); 2) 
003545040.2013.4.01.3700, JF/MA (Barro Vermelho); 3) 0051743-
63 
 
51.2014.4.01.3700, JF/MA (Depósito); 4) 0013982-88.2011.4.01.3700, 
JF/MA (Saco das Almas). 
Na atuação das referidas entidades, também se verifica o empenho na 
compreensão da particularidade da relação das comunidades quilombolas 
com a terra. Com isso, a despeito da conformação do caso à condição de 
ação possessória, a atuação não se resume em replicar a dominante visão 
individual, liberal e burguesa a respeito da posse e da propriedade. Esta 
visão é observada na inicial do processo nº 003446979.2011.4.01.3700, ação 
de manutenção de posse que inicialmente tramitou na justiça comum 
(processo nº 243-17.2008.8.10.0031, Comarca de Chapadinha). Na referida 
ação omite-se qualquer informação a respeito da identidade da Comunidade 
de Barro Vermelho, reduzindo membros desta a “agitador social” que 
incentiva “invasões de propriedades particulares”. Fundamenta-se no Código 
de Processo Civil o “direito a ser mantido na posse”, bem como no Código 
Civil. 
Entende-se que há uma aproximação da atuação de tais entidades de 
defensa de direitos humanos com o positivismo de combate que, ao lado do 
uso alternativo do direito e do direito alternativo em sentido estrito, constitui 
uma estratégia do movimento do direito alternativo, conforme apresenta 
Wolkmer (2008, p. 199). Isto é observado na contestação do caso 
supracitado, apresentada pelo então assessor jurídico da Sociedade 
Maranhense de Direitos Humanos, no qual destaca uma outra leitura do 
processo civil e do direito civil, baseado na cidadania e nos direitos da 
pessoa humana. 
64 
 
Sobre a atuação da advocacia, observa-se o afirmado por Santos (2011, p. 
65) para quem a evolução daquela representa a passagem de um modelo de 
base individualista para outro baseado na politização e coletivização do 
direito. Assim, ambas as entidades não se resumem a atuar processualmente, 
também atuando na organização política e coletiva das comunidades, além 
de romperem com uma concepção puramente individual e liberal dos 
direitos. 
Isto é patente na apresentação do Projeto Sementes da Esperança, projeto 
específico de acompanhamento de comunidades da região do Baixo Parnaíba 
Maranhense Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, financiada pela 
entidade Misereor, no qual afirma que “realiza acompanhamento socio-
jurídico às comunidades, intervenções junto aos órgãos fundiários, de gestão 
de politicas públicas e do sistema de justiça [...] e o fortalecimento das 
organizações que lutam por direitos na região” (SMDH, 2017, s. p.). 
Ademais, sobre a atuação no Baixo Parnaíba Maranhense, Filipe Farias 
Correia, assessor jurídico do Centro de Cultura Negra, destaca em entrevista: 
 
Olha, o Baixo Parnaíba, por conversa [...] quando a gente teve 
a reunião com a SMDH [Sociedade Maranhense de Direitos 
Humanos], o que pareceu que eles falaram é que lá tem uma 
situação meio peculiar, tanto que tem uma denúncia na OEA 
[Organização dos Estados Americanos], mas também não 
caminha. Mas me parece lá ser um pouco mais grave, porque o 
conflito a pessoa não deixa a incidência de políticas públicas 
de jeito nenhum, [...] tem extração mineral, tudo irregular, não 
tem nada de licenciamento ambiental. [...] o que me parece no 
65 
 
atual cenário é que apesar de ter esta instabilidade da questão 
possessória do direito à terra, o que me parece agora no 
contexto quilombola é que não está tão grave. Eles tão 
conseguindo desenvolver suas atividades, [...] mas Barro 
Vermelho, pelo que a gente escutou, está numa situação bem 
caótica, [...] tanto que eles tem ido sempre nas mesas 
quilombolas, que é nossa forma de atuação com o INCRA 
[Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária] e 
exposto a situação deles, que eles tem pedido até questão de 
cestas básicas, porque houve um incêndio lá muito grande e 
eles não tão conseguindo desenvolver suas atividades 
agrícolas rotineiramente [...] (CORREIA, 2017, s. p.). 
 
Entende-se que o acompanhamento por entidades de defesa de direitos 
humanos contribui para evitar que as atividades das comunidades 
quilombolas nas áreas em conflito sejam impedidas. Pensa-se nesse sentido 
principalmente pelo fato de a atuação, por vezes, existir indiretamente no 
âmbito processual, havendo reiteradas articulações com outras instituições 
do sistema de justiça, como o Ministério Público e a Defensoria Pública, 
conforme destacado anteriormente, além de outros órgãos e representantes 
estatais, como o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária e com 
o Delegado Agrário Nacional. 
O fundamento da atuação da advocacia popular na tutela de direitos de 
comunidades quilombolas em conflitos possessórios, a exemplo da 
Sociedade Maranhense de Direitos Humanos e do Centro de Cultura Negra, 
segue a esteira do reconhecimento dos direitos territoriais e de outros direitos 
66 
 
correlatos. Além disto, não se resume a intervenções pura e simplesmente 
jurídicas, contribuindo para articulação política e coletiva dos grupos étnicos 
acompanhados. 
 
Judiciário 
 
Por fim, destaca-se a atuação do judiciário nas ações possessórias 
envolvendo comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense, seja 
no âmbito da justiça comum, seja no âmbito da justiça federal. Para tal, 
destacam-se alguns processos e decisões, bem como a visão de 
representantes de outras instituições do sistema de justiça. 
De início, caso paradigmático é o de Barro Vermelho. Quando corria na 
justiça estadual, a ação de manutenção de posse atualmente sob nº 
003446979.2011.4.01.3700, JF/MA, teve liminar concedida em decisão de 
duas páginas, na qual conclui pela presença dos “requisitos indispensáveis a 
concessão da liminar, quais sejam: fumus boni iuris e periculum in mora”, 
destacando a alegação da posse pelo autor, fundamentada em escritura 
pública, e no dano sofrido. 
Há que se destacar que no processo nº 003446979.2011.4.01.3700, 
JF/MA, houve decisão da justiça federal em que se descarta interesse do 
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária em ação possessória e, 
com isso, sua competência. Afirma-se que “o processamento desta ação 
possessória em absolutamente nada repercute no processo administrativo de 
regularização fundiária”. Esta decisão foi posteriormente agrava, no qual em 
67 
 
juízo de retratação, admite a intervenção do referido órgão fundiário em 
ações possessórias. 
Em decisão interlocutória, o juízo federal entendeu que o conflito “diz 
respeito a tema exclusivo do Direito Civil” e declarou novamente a 
incompetência, remetendo à 13ª Vara da Justiça Federal do Maranhão. A 
questão referente ao conflito de competência

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