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Ruan Didier Bruzaca (Org.) ATUAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES DO SISTEMA DE JUSTIÇA NA PROTEÇÃO DA POSSE E DO TERRITÓRIO NAS AÇÕES POSSESSÓRIAS AJUIZADAS CONTRA COMUNIDADES QUILOMBOLAS NO BAIXO PARNAÍBA MARANHENSE Atuação das instituições do sistema de justiça na proteção da posse e do território nas ações possessórias ajuizadas contra comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense Programa de Assessoria Jurídica Universitária Popular – PAJUP Orientadores Ruan Didier Bruzaca Arnaldo Vieira Sousa Igor Martins Coelho Almeida Unidade de Ensino Superior Dom Bosco – UNDB Reitora Maria Ceres Rodrigues Murad Fundação de Amparo à pesquisa e ao desenvolvimento Tecnológico e Científico do Maranhão – FAPEMA Presidente Alex Oliveira de Souza Ruan Didier Bruzaca (Org.) Doutorando em Ciências Jurídicas pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB, com período sanduíche na Università degli Studi di Firenze – UNIFI, Itália. Mestre em Direito e Instituições do Sistema de Justiça pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA. Graduado em Direito pela UNDB. Professor licenciado da UFMA e da UNDB. Orientador do PAJUP. Arthur Nunes Lopes Martins Advogado. Graduado em Direito pela UNDB. Integrou a equipe enquanto bolsista da FAPEMA e integrante do PAJUP. Jordana Letícia Dall Agnol da Rosa Graduanda em Direito pela UNDB. Integrou a equipe enquanto bolsista da FAPEMA e integrante do PAJUP. Ruan Didier Bruzaca (Org.) Atuação das instituições do sistema de justiça na proteção da posse e do território nas ações possessórias ajuizadas contra comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense 2018 São Luís PAJUP Diagramação e capa: Ruan Didier Bruzaca Foto da capa: Igor Martins Coelho Almeida ´ B914d Bruzaca, Ruan Didier, 1989- Atuação das instituições do sistema de justiça na proteção da posse e do território nas ações possessórias ajuizadas contra comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense/ Ruan Didier Bruzaca. São Luís: PAJUP, 2018. 266 p. ISBN 978-85-69617-17-4 1. Instituições do sistema de justiça. 2. Ações possessórias. 3. Comunidades quilombolas. 4. Baixo Parnaíba Maranhense. I. Título. II. Ruan Didier Bruzaca. CDD: 340 CDU: 342.7 Este livro é resultado de pesquisa fomentada pelo Edital BIC PARTICULAR/FAPEMA nº 04/2016, referente ao projeto BIC-05682/19. Sumário Apresentação Ruan Didier Bruzaca ............................................................................... 11 Prefácio Igor Martins Coelho Almeida ................................................................. 15 Atuação das instituições do sistema de justiça na proteção da posse e do território nas ações possessórias ajuizadas contra comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense: projeto Ruan Didier Bruzaca ............................................................................... 19 Atuação das instituições do sistema de justiça na proteção da posse e do território nas ações possessórias ajuizadas contra comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense: relatório Ruan Didier Bruzaca ............................................................................... 39 Atuação do judiciário na tutela de direitos de comunidades quilombolas nas ações possessórias no Baixo Parnaíba Maranhense Arthur Nunes Lopes Martins ................................................................... 76 Tutela de direitos das comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense pela postulação de instituições de justiça estatais nas ações possessórias Jordana Letícia Dall Agnol da Rosa ....................................................... 94 Deslegitimando a propriedade: luta quilombola no judiciário maranhense sob a ótica descolonialista Arthur Nunes Lopes Martins e Ruan Didier Bruzaca ........................... 125 Rompendo o direito tradicional: a atuação da advocacia popular junto às comunidades quilombolas do Baixo Parnaíba Maranhense Jordana Letícia Dall Agnol da Rosa e Ruan Didier Bruzaca ................ 139 Entrevistas Entrevista com Yuri Michael Pereira Costa, Defensor Público da União no Estado do Maranhão .,............................................................. 159 Entrevista com Hilton Araújo de Melo, Procurador da República no Estado do Maranhão ................................................................................. 169 Entrevista com Filipe Farias Correia, assessor jurídico do Centro de Cultura Negra ........................................................................................... 180 Entrevista com Alexandre Silva Soares, Procurador da República no Estado do Maranhão ................................................................................. 194 Entrevista com Antônio Fernando Rites do Sacramento, assessor jurídico da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos e Diogo Diniz Ribeiro Cabral, assessor jurídico da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos e da Diocese de Brejo .............................................................. 207 Entrevista com Izalmir Sousa Santos, quilombola e representante da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do Estado do Maranhão .................................................................................................. 211 Entrevista com Entrevista com José Carlos do Vale Madeira, juiz federal da 5ª Vara da Justiça Federal no Maranhão ............................ 233 Entrevista com Ana Carolina Quadros Costa Reis Sousa e Martfran Albuquerque de Sousa, representantes do setor quilombola do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária no Maranhão ................ 242 Lista de siglas ACP Ação Civil Pública ADCT Ato das Disposições Constitucionais Transitórias ADIN Ação Direta de Inconstitucionalidade BIC Bolsa de Iniciação Científica BR Rodovia federal CCN Centro de Cultura Negra CPISP Comissão Pró-Índio de São Paulo CPT Comissão Pastoral da Terra DPU Defensoria Pública da União FAPEMA Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Tecnológico e Científico do Maranhão FETAEMA Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado do Maranhão FETRAF Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Maranhão FUNAI Fundação Nacional do Índio GERUR Grupo de Estudos Rurais e Urbanos JF/MA Justiça Federal no Maranhão IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária ITERMA Instituto de Terras do Maranhão MA Maranhão MOQUIBOM Movimento Quilombola do Maranhão MPF Ministério Público Federal PAJUP Programa de Assessoria Jurídica Universitária Popular PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar OIT Organização Internacional do Trabalho PA Projeto de Assentamento PT Partido dos Trabalhadores RTIR Relatório Técnico de Identificação e Delimitação SEMA Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais SINTRAF Sindicato da Agricultura Familiar SMDH Sociedade Maranhense de Direitos Humanos UFMA Universidade Federal do Maranhão UNDB Unidade de Ensino Superior Dom Bosco 11 Apresentação O presente livro é resultado de um projeto desenvolvido por membros do Programa de Assessoria Jurídica Popular (PAJUP), da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco (UNDB), amparado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Tecnológico e Científico do Maranhão (FAPEMA). O pontapé inicial para tal surgiu da preocupação em compreender a realidade das comunidades quilombolas no Maranhão, principalmente pelo fato de o PAJUP, não raro, ter contato com demandas do referido grupo étnico – a exemplo de ocupações ocorridas no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Precisamente, buscou-se estudar as ações possessórias envolvendo comunidades quilombolas e o tratamento dado pelas instituições do sistema de justiça a tais conflitos. Para tal, elegeu-se o Baixo Parnaíba Maranhense como delimitação espacial da pesquisa, justificada pelo fato de a região ser marcada historicamente por conflitos fundiários decorrentes da expansão do agronegócio e consequente ameaça aos direitos territoriais de quilombolas. Do projeto obtiveram-se relatórios, artigos científicos, entrevistas, compilados no presente livro, que objetiva difundir não somente as reflexões, os resultados e as análises realizadas ao longo de um ano, mas também dificuldades e empecilhos no desenvolver da pesquisa. Com isso, a obra inicia-se com os escritos produzidos pelo orientador do Projeto, Ruan Didier Bruzaca, intitulados “Atuação das instituições do 12 sistema de justiça na proteção da posse e do território nas ações possessórias ajuizadas contra comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense: projeto” e “Atuação das instituições do sistema de justiça na proteção da posse e do território nas ações possessórias ajuizadas contra comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense: relatório”. Em seguida, tem-se os relatórios apresentados à FAPEMA pelos bolsistas do projeto, Arthur Nunes Lopes Martins e Jordana Letícia Dall Agnol da Rosa, respectivamente “Atuação do judiciário na tutela de direitos de comunidades quilombolas nas ações possessórias no Baixo Parnaíba Maranhense” e “Tutela de direitos das comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense pela postulação de instituições de justiça estatais nas ações possessórias”. Quanto aos artigos científicos, o artigo “Deslegitimando a propriedade: luta quilombola no judiciário maranhense sob a ótica descolonialista”, de autoria de Arthur Martins e Ruan Didier Bruzaca, que utilizando o marco teórico marxista e autores da antropologia, buscou-se questionar o instituto da propriedade no direito. Em seguida, no artigo “Rompendo o direito tradicional: a atuação da advocacia popular junto às comunidades quilombolas do Baixo Parnaíba Maranhense”, visou-se estudar a atuação da advocacia popular e sua importância para a luta pelo território de comunidades quilombolas, constituindo uma ruptura com o direito tradicional. O livro é composto por entrevistas com membros do movimento quilombola, de entidades da sociedade civil organizada, de instituições do 13 sistema de justiça e de órgãos estatais, que desde já agradecemos pela contribuição para o desenvolvimento da pesquisa. Algumas das entrevistas foram adaptadas para que o leitor tenha uma leitura mais agradável, assim como redimensionada, com a devida autorização dos entrevistados. Por fim, agradecemos ao imprescindível incentivo dado pela FAPEMA, com a concessão de bolsas de iniciação científica aos discentes Arthur Martins e Jordana da Rosa, bem como à Unidade de Ensino Superior Dom Bosco (UNDB) e à Coordenação do Curso de Direito, pelo constante apoio à pesquisa e à extensão. Florença, Itália, 24 de julho de 2018 Ruan Didier Bruzaca 14 15 Prefácio Estado do Maranhão. Ano de 2018. A Constituição da República Federativa do Brasil completa 30 anos e nela está inscrita, dentre os seus dispositivos originais, uma das mais importantes políticas de reparação histórica da sociedade brasileira: o reconhecimento e a titulação de propriedade de áreas ocupadas por comunidades remanescentes de quilombos. Infelizmente, como será bem demonstrado ao longo dessa obra, o Estado Brasileiro (nesse caso, os Poderes Executivo Federal e Estaduais) ainda falha enormemente na efetivação desse direito. Até então, nada de novidade para muitas pessoas, principalmente aquelas que já têm alguma imersão nesse problema. Mas aqui encontramos o grande valor da presente obra: apresentar um olhar sobre as demais instâncias estatais acionadas quando da falha do executivo no cumprimento de seu dever constitucional: o sistema de justiça. Por si só, realizar uma análise sobre as instituições do sistema de justiça já apresenta ao pesquisador e acadêmico um certo grau de dificuldade por conta de diversos fatores (dentre eles a dificuldade no retorno de informações para pesquisadores). Ocorre que esta obra se apresenta ainda mais desafiadora (e alcança sucesso, de já adianto) em virtude do tema a ser abordado: a atuação do sistema de justiça na proteção da posse e do território nas ações possessórias ajuizadas contra comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense. 16 Dentre os desafios, podemos elencar sucintamente dois (sem prejuízo de outros que serão apresentadas ao leitor): a primeira por se tratar de uma pesquisa que envolve a presença e análise da atuação do sistema de justiça para um dos grupos em situação de vulnerabilidade mais invisíveis da sociedade brasileira (em especial, da sociedade maranhense, mesmo esta sendo majoritariamente negra e rural): as comunidades remanescentes de quilombos. O segundo desafio é retratar a realidade de violações contra comunidades quilombolas em uma das áreas do território maranhense que passa por um significativo processo de expansão de sua fronteira agrícola, em especial com a implantação da sojicultora e do cultivo de eucalipto. Ou seja, apresentando e enfrentando os atores sociais e econômicos que se utilizam do sistema de justiça para se colocar em oposição aos direitos garantidos aos quilombolas. A obra está dividida em duas partes. Na primeira apresenta o projeto, seu relatório e artigos sobre a atuação do Judiciário, da advocacia popular, bem como a (re)construção de conceitos, como o da propriedade dentro da esfera do judiciário. Na segunda parte, são transcritas entrevistas com sujeitos que integram órgãos, instituições e entidades que acompanham diretamente as comunidades remanescentes de quilombo no sistema de justiça. Assim, apresenta-se como uma obra de grande valor na medida em que traz todas as informações necessárias tanto para aquele leitor que quer começar a imergir no tema, bem como para os pesquisadores e profissionais que atuam com essas comunidades, possibilitando que possam ser pensadas estratégias para a defesa das mesmas no sistema de justiça. 17 Portanto essa é mais uma obra acadêmica de grande importância não apenas para o fortalecimento da pesquisa sócio-jurídica no Maranhão, mas sobretudo na contribuição daqueles sujeitos que mesmo após trinta anos ainda travam árduas batalhas com o Estado e com outros oponentes para a efetivação do reconhecimento e titulação das terras que tradicionalmente ocupam. São Luís, 20 de dezembro de 2017 Igor Martins Coelho Almeida Mestre em Direito e Instituições do Sistema de Justiça pela UFMA Professor da UNDB e do Instituto Florence 18 19 Atuação das instituições do sistema de justiça na proteção da posse e do território nas ações possessórias ajuizadas contra comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense: projeto 1 Ruan Didier Bruzaca Problema e Objeto No Brasil, os conflitos possessórios que envolvem comunidades quilombolas são dotados de grande complexidade, trazendo desafios para o Direito em razão das particularidades do referido grupo social. Tais desafios podem ser visualizados quando, na judicialização dos referidos conflitos, as instituições do sistema de justiça deparam-se com questionamentos à visão tradicional do direito, com dinâmicas sociais próprias das comunidades quilombolas e os modos diferenciados de viver, criar e fazer. As comunidades quilombolas, que podem ser consideradas enquanto povos e comunidades tradicionais 2 , têm seu direito ao território previsto nos 1 Projeto de pesquisa apresentado à Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA), cuja fundamentação teórica serviu de base para a elaboração do artigo “Linguagem dos juristas frente a representações jurídico- culturais de povos e comunidades tradicionais: o caso do conflito possessório envolvendo a comunidade quilombola de São Bento, Brejo/MA”, escrito em coautoria com Adriana Dias Vieira e publicado na revista Prisma Jurídico (BRUZACA, VIEIRA, 2017, in passim). 20 Atos das Disposições Constitucionais Transitórias que, em seu art. 68 determina: “as comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos” (BRASIL, 1988). O procedimento administrativo de titulação está previsto no Decreto nº 4.887/2003, cujo órgão responsável é o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, trazendo inclusive o conceito legal de comunidade quilombola 3 . 2 O termo “povos e comunidades tradicionais” é controverso, não se sabendo se nele pode se alocar o quilombola – o que remeteria ao fato deste ser espécie daquele gênero. Um exemplo de conceito legal de “povos e comunidades tradicionais” está previsto no art. 3º do Decreto nº 6.040/2007, que determina serem “grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição”. Trata-se de um conceito que não possibilita qualquer pacificação no termo. Entretanto, deve-se atentar à utilização do termo “povos e comunidades tradicionais” pelos movimentos, remetendo à construção da ideia de “tradicional”, redefinindo-se a ideia de “primitivo” e “natureza”, atribuídos às “comunidades locais”, sendo o termo “primitivo” deslocado pelos sujeitos coletivos e o termo “natureza” integrante do discurso e dos atos desses sujeitos, representados por “quilombolas, seringueiros, ribeirinhos, pescadores artesanais, quebradeiras de coco babaçu, castanheiros, faxinalenses, garaizeiros e piaçabeiros, dentre outros” (ALMEIDA, 2007, p. 11-12). 3 O Decreto nº 4.887/2013 traz o conceito de “remanescentes de comunidades de quilombos”, considerando-os como “grupos étnico-raciais, segundo critérios de auto-atribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida” (BRASIL, 2003). 21 Não obstante a previsão do direito ao território, existem conflitos possessórios decorrentes da ausência de titulação ou da morosidade da atuação da referida autarquia. Os problemas e embaraços a respeito do procedimento de titulação quilombola no INCRA são patentes, sendo objeto de pesquisas, cujas conclusões demonstram o cenário negativo na garantia do acesso ao território. Neste sentido, destaca-se a pesquisa realizada pela Comissão Pró-Índio de São Paulo (CPISP, 2016), apresentando um total de 164 terras tituladas em todo Brasil, assim divididas: Amapá (3), Bahia (17), Goiás (1), Maranhão (55), Mato Grosso do Sul (3), Pará (58), Pernambuco (2), Piauí (5), Rio de Janeiro (3), Rio Grande do Norte (1), Rondônia (1), Rio Grande do Sul (4), Santa Catarina (1), Sergipe (4) e São Paulo (6). O Estado do Maranhão, como se pode observar, é um dos estados com maior número de titulação de comunidades, ao lado do Estado do Pará. Entretanto, o referido número não reflete a inexistência de conflitos e de problemas, muito pelo contrário. Até o ano de 2013, não se verificava Não obstante, é necessário advertir problemas na utilização da referida expressão. Assim, O’Dwyer (2010, p. 42-43) destaca que o termo quilombo vem assumindo novos significados, sendo “ressemantizado” para designar situações de segmentos negros em várias regiões brasileiras – exemplo é o termo “remanescentes de quilombo”, instituído pela Constituição Federal de 1988, e que é utilizado por tais grupos. Ademais, não se refere a “resíduos ou resquícios arqueológicos de ocupação temporal ou de comprovação biológica”, não sendo também grupos isolados ou homogêneos, constituídos por movimentos insurrecionais ou rebelados, mas sim por práticas de “resistência na manutenção e reprodução de seus modos de vida característicos e na consolidação de um território próprio”. 22 qualquer titulação finalizada pelo INCRA, autarquia federal responsável pela titulação, sendo todas as existentes provenientes do Instituto de Terras do Estado do Maranhão (ITERMA). Neste sentido, a CPISP (2016b) traz que, do total de 55 comunidades tituladas no Maranhão, 52 foram tituladas pelo Instituto de Terras do Maranhão e apenas 3 pelo INCRA. Tais problemas administrativos 4 agravam os conflitos territoriais envolvendo comunidades quilombolas. Na medida em que não se assegura a titulação das comunidades quilombolas, particulares ajuízam ações visando manter-se na área ou expulsar os quilombolas. Consistem principalmente em ações possessórias (reintegração de posse, manutenção de posse e interdito proibitório) que, no 4 Além dos problemas administrativos, as comunidades quilombolas sofrem com investidas que questionam seus direitos ao território. Primeiramente, atenta-se aos questionamentos ao Decreto nº 4.887/2003 na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 3.239-DF, ajuizada pelo atual Partido Democrata, no qual se questiona a constitucionalidade do decreto anteriormente citado, em seu aspecto formal e material – quanto a este, chega-se a levantar a incongruência em se prever a possibilidade de desapropriação de terras particulares, visto que a Constituição apenas prever o reconhecimento, não desapropriação; questiona-se a autoatribuição da condição de quilombola; e indefinição do sujeito beneficiado pela legislação (BRASIL, 2012, p. 2-3). Ademais, existem outras investidas que buscam evitar a concretização do direito à terra e ao território dos povos e comunidades tradicionais, principalmente indígenas e quilombolas. Neste sentido, Santos (2013, p. 105-107) destaca a Proposta de Emenda à Constituição nº 215, que tem como objetivo transferir do Poder Executivo para o Poder Legislativo (Congresso Nacional) o poder de decidir sobre a demarcação de terras indígenas e a titulação de terras quilombolas. 23 cenário de conflitos rurais, marcam-se por situações de injustiça e de ofensa a direitos. Tais ações trazem diversos debates para a ciência jurídica, como no embate entre a interpretação contemporânea do Direito Privado e a visão tradicional, sendo que aquela se volta para observância dos princípios do Estado Democrático de Direito, apesar do Código Civil de 2002 conceituar a posse de forma abstrata e unitariamente, sujeita à propriedade “ameniza-se a concepção patrimonialista e utilitarista no restante do tratamento da matéria” (FARIAS, ROSENVALD, 2014, p. 57). Não obstante, a problemática de tais conflitos é ainda mais grave. Neste sentido, Wolkmer (2001, p. 105) apresenta que há uma falência no modelo jurídico estatal (de seu ordenamento positivo e de seu órgão de decisão, ou seja, o judiciário) ao se limitar à regulação de conflitos interindividuais/patrimoniais e não sociais de massa – não garante uma regulamentação de tensões coletivas que digam respeito ao acesso à terra e ocupações de áreas rurais e urbanas. Observa-se no contexto brasileiro um confronto, que envolve disputa pela posse, uso e distribuição da terra, que se desenrola em uma estrutura agrária de privilégios e injustiças, assentada na dominação política autoritária e clientelista, marcada pelo capitalismo especulativo e pelo comprometimento com os interesses das tradicionais elites agrárias (WOLKMER, 2001, p. 106). Em outros termos, trata-se de uma visão elitista, patrimonialista e individualista que marca o direito brasileiro – incluindo as decisões e 24 atuações envolvendo conflitos possessórios. A insuficiência do modelo jurídico estatal, do judiciário e, quiçá, das demais instituições do sistema de justiça envolvidas (Ministério Público, Defensoria Pública, advocacia etc) pode estar presente também no específico caso dos conflitos envolvendo comunidades quilombolas. Não bastasse o cenário marcado pela insuficiência administrativa na titulação quilombola, pelo questionamento do direito ao território e à autodeterminação das comunidades, e pelas pressões políticas para controlar o procedimento de titulação, pode-se operar simultaneamente o agravamento das situações de conflitos no campo envolvendo territórios quilombolas com a tramitação de ações possessórias. Shiraishi Neto (2007, p. 28) atenta que o reconhecimento do plural e multiétnico têm favorecido a construção de um campo jurídico do “direito étnico” e de uma forma própria de refletir o direito, Resultando no afastamento de posturas cristalizadas de “práticas jurídicas”, abrindo espaço para novas interpretações jurídicas. Conclui que pensar o direito sob a ótica dos povos e comunidades tradicionais resulta em uma ruptura com esquemas jurídicos pré-concebidos. Entretanto, no que tange as ações possessórias decorrentes de conflitos territoriais, inseridas no cenário de tentativas de deslegitimar os direitos de comunidades quilombolas e no predomínio de um modelo jurídico estatal elitista, patrimonial e burguês, mostra-se salutar compreender como as instituições do sistema de justiça atuam na concretização dos direitos do referido grupo social. 25 Wolkmer (2001, p. 115-116) aduz que os conflitos envolvendo a terra transcendem o caráter de mero conflito por Direito à propriedade, “pois abrangem um amplo espectro reivindicatório de direitos à vida, à vida digna com segurança e com garantia de subsistência”. Em relação às comunidades quilombolas, em razão das suas particularidades étnicas, o conflito perde ainda mais o caráter de mero conflito por Direito à propriedade. Inclusive, Almeida (2008, p. 134-135) apresenta que a forma de uso da terra por comunidades tradicionais, como as comunidades quilombolas, colide com disposições jurídicas e econômicas vigentes, cujo catálogo por instituições estatais é quase inexistente, dependendo o reconhecimento desse sistema por atuações de pesquisadores e técnicos que realizam pesquisas e vistorias in loco. Em outras palavras, as práticas do referido grupo não necessariamente coadunam com as formas legais tradicionais envolvendo os Direitos Reais. Resumir a atuação das instituições de justiça a esta visão pode resultar na desconsideração de diversos direitos em favor de direitos individuais e patrimoniais. Duprat (2007, p. 23) destaca que é necessário que o aplicador do direito, em relação aos direitos de comunidades quilombolas, deve compreender o ambiente que recai a norma e dar atenção às pessoas que lhe conferem – compreender, ao invés de interpretar, é sair do pensamento e iro à prática, fazendo-a falar. Utilizando-se o judiciário como exemplo, é possível observar em jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça a preservação do direito à posse de comunidades quilombolas: 26 ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. TERRENO DE MARINHA. ILHA DA MARAMBAIA. COMUNIDADE REMANESCENTE DE QUILOMBOS. DECRETO N.º 4.887, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2003, E ART. 68 DO ADCT. [...] 6. Os quilombolas tem direito à posse das áreas ocupadas pelos seus ancestrais até a titulação definitiva, razão pela qual a ação de reintegração de posse movida pela União não há de prosperar, sob pena de por em risco a continuidade dessa etnia, com todas as suas tradições e culturas. O que, em último, conspira contra pacto constitucional de 1988 que assegura uma sociedade justa, solidária e com diversidade étnica. 7. Recurso especial conhecido e provido (BRASIL, 2010, grifos nossos). Por outro lado, existem decisões que concedem reintegração de posse em desfavor das comunidades: PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. IMÓVEL INSERIDO EM ÁREA CUJA POSSE FORA ASSEGURADA À COMUNIDADE QUILOMBOLA DO SÃO FRANCISCO DO PARAGUAÇU. CONTROVÉRSIA ACERCA DA EFETIVA LOCALIZAÇÃO DO IMÓVEL. I - Restando comprovado os requisitos constantes no art. 927 do CPC, afigura-se devida, na espécie, a reintegração de posse de imóvel objeto do litígio até que seja realizado, pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, o devido procedimento de 27 delimitação e demarcação da área rural em discussão, a fim de comprovar se o imóvel está inserido em área destinada à Comunidade Quilombola do São Francisco do Paraguaçu. II - Agravo de instrumento provido (BRASIL, 2013). Neste compasso, as dificuldades não se restringem ao procedimento de titulação quilombola, mas também podem ser observadas nas ações possessórias, impedindo o amplo acesso ao território e o desenvolvimento dos modos de viver, criar e fazer das comunidades quilombolas. O Baixo Parnaíba Maranhense 5 é marcado por diversos conflitos agrários, como os decorrentes das investidas do agronegócio, que causam problemas socioambientais, violência e expulsão da população do campo (GERUR, 2014, passim) – além de ser marcado por problemas decorrentes da histórica ausência de distribuição de terras. Neste cenário, também se inserem 5 A respeito da referida região, Gaspar e Andrade (2015, p. 111) destacam: “Oficialmente denominada de Leste Maranhense pelo IBGE, essa Mesorregião é conhecida também genericamente como Baixo Parnaíba. Esta denominação é adotada, principalmente, por integrantes de movimentos sociais como o Fórum em Defesa da Vida do Baixo Parnaíba Maranhense, membros de associações comunitárias, instituições confessionais e sindicatos de municípios da região. A referência ao chamado Baixo Parnaíba não coincide com a área oficial correspondente à Mesorregião Leste Maranhense, mas se refere, principalmente, às áreas geográficas que integram alguns municípios dessa região, como Santa Quitéria do Maranhão, Brejo, Anapurus, Mata Roma, Chapadinha, Buriti, Urbano Santos, São Bernardo, Barreirinhas, Belágua, São Benedito do Rio Preto, Santana do Maranhão, Milagres do Maranhão”. 28 conflitos envolvendo comunidades quilombolas, várias sem titulação finalizada, situação agravada com o ajuizamento de ações possessórias. Com isso, é salutar problematizar a respeito da forma como as instituições de justiça reconhecem o direito à posse e ao território das comunidades quilombolas – tendo em vista que a proteção dos direitos destas conflitam com visões tradicionais dos direitos reais, acarretando no aprofundamento das desigualdades e na negação de direitos. Objetivo geral O projeto tem como objetivo geral analisar em que medida a atuação das instituições do sistema de justiça nas ações possessórias possibilitam a concretização do direito à posse e ao território de comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense. Objetivos específicos O projeto tem como objetivos específicos: 1) mapear as ações possessórias envolvendo comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense; 2) analisar a situação do acesso ao território das comunidades quilombolas envolvidas em conflitos possessórios e; 3) estudar a fundamentação utilizada pelas instituições do sistema de justiça nas ações possessórias envolvendo comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense 29 Relevância Na medida em que a judicialização dos conflitos possessórios envolvendo comunidades quilombolas pode estar cercada por uma visão tradicional e civilista do Direito, é necessário compreender a forma como as suas particularidades étnicas e sociais são compreendidas nas decisões e instituições do sistema de justiça. Consistem em conflitos que acarretam no aprofundamento da histórica negação de direitos e desigualdade, servindo o Direito como instrumento que serve ao patrimonialismo, elitismo e individualismo. A relevância consiste em analisar a situação de conflito e violência em que as comunidades quilombolas do Baixo Parnaíba Maranhense estão inseridas; compreender a atuação das instituições do sistema de justiça frente a tais conflitos; colaborar para a percepção da relevância em superar uma visão tradicional e civilista frente a conflitos envolvendo comunidades quilombolas e, consequentemente, construir um conhecimento crítico a respeito dos referidos conflitos. Estado Atual do Conhecimento Os estudos e pesquisas referentes a povos e comunidades tradicionais, aos seus direitos reconhecidos nacional e internacionalmente, e aos problemas do acesso ao território são vastas, principalmente nas áreas da sociologia e da antropologia. Em relação à área jurídica, observam-se debates nas 30 subáreas do Direito Constitucional, do Direito Agrário e dos Direitos Reais. Não obstante, a interligação entre as múltiplas áreas pode não ocorrer. Com isso, é possível que existam visões estritamente legalistas, sem a compreensão das complexas relações sociais existentes nas comunidades quilombolas, que tornam insuficiente a pura e simples análise legal face à complexidade e pluralidade decorrente do caráter étnico diferenciado do referido grupo social. Metodologia A metodologia do projeto será constituída em primeiro lugar pelo levantamento de bibliografia relevante para a temática, não somente na área do Direito, mas também na sociologia e na antropologia. Ademais, serão levantadas as legislações pertinentes ao tema, para compreensão dos direitos assegurados às comunidades quilombolas. Em segundo lugar, será realizada pesquisa documental e de campo para identificar as comunidades quilombolas envolvidas em conflitos possessórios. Isto será feito junto às organizações da sociedade civil que atuam junto a comunidades quilombolas, como o Centro de Cultura Negra, o Fórum em Defesa da Vida do Baixo Parnaíba Maranhense, a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, a Comissão Pastoral da Terra, a Associação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas do Maranhão e o Movimento Quilombola do Maranhão – diálogo possibilitado pela atuação 31 junto a sociedade e os movimentos sociais realizada pelo Programa de Assessoria Jurídica Universitária Popular. Em terceiro lugar, averiguar-se-á a situação do acesso ao território das comunidades quilombolas em situação de conflito no Baixo Parnaíba Maranhense, analisando-se os procedimentos existentes no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária e no Instituto de Terras do Maranhão. Por fim, far-se-á a análise das ações possessórias ajuizadas em face de comunidades quilombolas tanto no âmbito estadual quanto no âmbito federal. Assim, será possível investigar tanto a atuação do judiciário quanto a atuação das demais instituições de justiça envolvidas no caso. Plano individual dos bolsistas Foram elaborados dois planos individuais para bolsistas. Um de título “Atuação do judiciário na tutela de direitos de comunidades quilombolas nas ações possessórias no Baixo Parnaíba Maranhense”. Teve como objetivo geral analisar a atuação do judiciário na tutela de direitos de comunidades quilombolas nas ações possessórias no Baixo Parnaíba Maranhense. Como objetivos específicos: estudar a concessão de decisões liminares pelo judiciário que repercutem na expulsão de comunidades quilombolas ou manutenção de particulares nas áreas conflituosas no Baixo Parnaíba Maranhense; identificar os fundamentos das decisões judiciais nas ações possessórias envolvendo comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba 32 Maranhense; investigar as consequências da morosidade na prestação jurisdicional em relação às comunidades quilombolas envolvidas em ações possessórias no Baixo Parnaíba Maranhense. A metodologia do plano de trabalho teve desenvolvimento semelhante à do projeto do orientador. O outro plano de pesquisa foi intitulado “Tutela de direitos das comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense pela postulação de instituições de justiça estatais nas ações possessórias”. Teve como objetivo geral investigar os atos postulatórios das instituições de sistema de justiça estatais face à tutela de comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense nas ações possessórias. Como objetivos específicos: analisar as atribuições legais das instituições do sistema de justiça estatais passíveis de postular a tutela de direitos das comunidades quilombolas nos conflitos possessórios no Baixo Parnaíba Maranhense; investigar as implicações da atuação extrajudicial das instituições do sistema de justiça estatais face aos conflitos possessórios envolvendo comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense; identificar os fundamentos dos atos postulatórios em juízo das instituições do sistema de justiça estatais nos conflitos possessórios no Baixo Parnaíba Maranhense envolvendo comunidades quilombolas. A metodologia do plano de trabalho teve desenvolvimento semelhante à do projeto do orientador. 33 Perspectivas do Projeto O projeto tem como perspectiva: a) contribuir para uma tutela efetiva dos direitos de comunidades quilombolas, inseridas perenemente em situações de conflito e violência; b) conscientizar as instituições do sistema de justiça a respeito das particularidades étnicas que envolvem as comunidades quilombolas, sob pena de perpetuar uma visão elitista, patrimonialista e individualista do Direito que impossibilitam a tutela daquelas; d) contribuir para a construção de um conhecimento jurídico crítico que possibilite a compreensão das formas de viver, fazer e criar de comunidades quilombolas; e) consolidar uma atuação e produção científica crítica alinhada à atuação do Programa de Assessoria Jurídica Universitária Popular – PAJUP, projeto de pesquisa e extensão da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco – UNDB. Referências ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de. Apresentação. In: SHIRAISHI NETO, Joaquim. Direito dos Povos e das Comunidades Tradicionais no Brasil: Declarações, Convenções Internacionais e Dispositivos Jurídicos definidores de uma Política Nacional. Manaus: UEA, 2007. p. 8-16. _____. Terra de quilombo, terras indígenas, “babaçuais livre”, “castanhais do povo”, faixinais e fundos de pastos: terras tradicionalmente ocupadas. 2. ed. Manaus: PGSCA-UFMA, 2008. 34 BRASIL. Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 1988. _____. Decreto nº 4.887 de 20 de novembro de 2003. Brasília, 2003. _____. STJ. REsp: 931060 RJ 2007/0047429-5, Relator: Ministro Benedito Gonçalves, Data de Julgamento: 17/12/2009, T1 – Primeira Turma, Data de Publicação: DJe 19/03/2010. Brasília, 2010. _____. TRF-1 - AG: 46537 BA 2006.01.00.046537-4, Relator: Des. Federal Souza Prudente. Data de Julgamento: 17/04/2013, Quinta Turma, Data de Publicação: e-DJF1 p.87 de 24/04/2013. Brasília, 2013. _____. STF. Adin nº 3.239-DF. Relator: Ministro Cezar Peluzo. Voto vista Ministra Rosa Weber. 25/03/2015. Brasília, 2015. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADI3239RW.pd f>. Acesso em 31 de mai. 2016. BRUZACA, Ruan Didier, VIEIRA, Adriana Dias. Linguagem dos juristas frente a representações jurídico-culturais de povos e comunidades tradicionais: o caso do conflito possessório envolvendo a comunidade quilombola de São Bento, Brejo/MA. In: Prisma Jurídico, v. 16, p. 181- 204, 2017. Disponível em: 35 <http://www4.uninove.br/ojs/index.php/prisma/article/view/7414/pdf_63>. Acesso em 20 mar. 2018. CPISP. Terras quilombolas: pesquisa terras tituladas. São Paulo, 2016a. Disponível em: <http://www.cpisp.org.br/terras/asp/uf.aspx?terra=t>. Acesso em 20 mai. 2016. _____. Terras de quilombos com processos no INCRA por estado. São Paulo, 2016b. Disponível em: <http://www.cpisp.org.br/terras/Mapa/mapa.aspx?VerTerras=r>. Acesso em 20 mai. 2016. DUPRAT, Deborah. Prefácio. In: SHIRAISHI NETO, Joaquim. 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São Paulo: Editora Alfa Omega, 2001. 38 39 Atuação das instituições do sistema de justiça na proteção da posse e do território nas ações possessórias ajuizadas contra comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense: relatório 1 Ruan Didier Bruzaca Objetivo geral Diante do objetivo geral de “analisar em que medida a atuação das instituições do sistema de justiça nas ações possessórias possibilitam a concretização do direito à posse e ao território de comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense”, entende-se que o mesmo foi cumprido em sua totalidade. Apesar da incerteza na listagem de todos os processos judiciais envolvendo comunidades quilombolas na região, foi possível esquematizar a atuação de diferentes instituições do sistema de justiça. Para tal, utilizou-se pesquisa documental, com a análise de processos, e de campo, com entrevistas com representantes das instituições do sistema de justiça e representantes do movimento quilombola. Neste sentido, importa destacar que se estabeleceu contato com: a Defensoria Pública da União; o Ministério Público da União; o Ministério Público Estadual; as varas da 1 Relatório dos resultados gerais obtidos na execução do projeto “Atuação das instituições do sistema de justiça na proteção da posse e do território nas ações possessórias ajuizadas contra comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense”. 40 Justiça Federal; o Centro de Cultura Negra; a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos; a assessoria jurídica da Diocese de Brejo; a assessoria jurídica da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do Estado do Maranhão e; lideranças comunitárias. Em especial, tem-se o destaque às instituições do sistema de justiça que representam em juízo tal grupo étnico, como é o caso da Defensoria Pública da União e do Ministério Público da União. Da mesma forma, a advocacia popular, especificamente em relação à Sociedade Maranhense de Direitos Humanos e ao Centro de Cultura Negra, referencia uma atuação que visa tutelar os direitos de comunidades quilombolas. Por outro lado, a advocacia enquanto instituição do sistema de justiça também é pontuada quando atua representando interesses de particulares, geralmente contrários aos direitos das comunidades. Ademais, não se pode deixar de lado o judiciário, crucial no debate sobre direitos possessórios e territoriais em jogo. No caso, foi possível analisar diferentes aspectos desta atuação por meio da análise das decisões judiciais. Interessante notar a existência de diferentes questões debatidas, principalmente quanto à concessão de liminares e à competência, na medida em que as ações analisadas tramitam tanto na justiça federal quanto na justiça comum. Deste modo, diante da diversidade das instituições e das atuações, cuja análise é possível pela coleta de informações por entrevistas e documentos, foi possível observar em que medida os direitos de comunidades quilombolas na região do Baixo Parnaíba Maranhense são ou não tutelados. 41 Objetivos específicos Quanto ao objetivo de mapear as ações possessórias envolvendo comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense, este foi parcialmente cumprido. Foi possível realizar um mapeamento de ações possessórias envolvendo comunidades na referida região, mas é necessário atentar que esse mapeamento pode não incluir todas as ações possessórias existentes, visto que apenas engloba aquelas acompanhadas pelo Ministério Público Federal, pela Defensoria Pública da União, pela Sociedade Maranhense de Direitos Humanos e pelo Centro de Cultura Negra. Inclusive, as dificuldades em acesso aos dados no judiciário, pela inexistência de uma ferramenta de busca mais específica e pelo grande volume de processos nas varas, impediram um levantamento mais preciso. Quanto a analisar a situação do acesso ao território das comunidades quilombolas envolvidas em conflitos possessórios, foi cumprido em sua totalidade. Conforme listagem apresentada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, foi possível pontuar todas as comunidades quilombolas que possuem processo administrativo de titulação na região. Ademais, junto a tal listagem, há a situação de cada comunidade, sendo possível observar a situação do acesso ao território conforme a respectiva fase processual da qual a comunidade encontra-se. Por fim, estudar a fundamentação utilizada pelas instituições do sistema de justiça nas ações possessórias envolvendo comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense foi cumprido em sua totalidade. Analisando os 42 processos listados a partir do contato com as instituições e entidades antes destacadas, foi possível observar o conteúdo da fundamentação das instituições envolvidas. Seja por meio das entrevistas, nas quais alguns deixam claro seus fundamentos de atuação, seja por meio das peças processuais elaboradas pelos representantes das instituições, principalmente petições iniciais e decisões judiciais, identificou-se a referida fundamentação e, com isso, o alinhamento ou não à concretização de direitos de comunidades quilombolas. Resultados Conflitos possessórios envolvendo comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense Foram solicitados dados referentes aos conflitos possessórios que envolvem comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense a instituições do sistema de justiça e a órgãos estatais, por meio dos ofícios PAJUP-BIC nº 11/2017, endereçado ao Ministério Público Federal; PAJUP- BIC nº 12/2017, endereçado ao Centro de Cultura Negra; PAJUP-BIC nº 13/2017, endereçado à Defensoria Pública da União; PAJUP-BIC nº 15/2017, endereçado ao setor quilombola do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária e; PAJUP-BIC nº 19/2017, endereçada à Sociedade Maranhense de Direitos Humanos. Neles, solicitava-se de forma padrão acesso às informações de processos administrativos e ações possessórias existentes na instituição de justiça ou no 43 órgão, bem como realização de entrevistas com seus representantes. Novamente, importa destacar que os dados se referiam às comunidades existentes nos municípios que envolvem o Baixo Parnaíba Maranhense. Inicia-se com os dados apresentados pelo setor quilombola do Instituto Nacional de Terras e Reforma Agrária. Obteve-se listagem de comunidades quilombolas em processo de titulação, mas não se obteve informação a respeito da existência de ações possessórias. Assim, na região do Baixo Parnaíba Maranhense, destaca-se a existência das seguintes comunidades em processo de titulação: 1) Saco das Almas, município de Brejo, proc. nº 54.230.003791/2014-87, com certidão da Fundação Cultural Palmares, em fase de elaboração do relatório antropológico, já contratado; 2) Bonsucesso, município de Mata Roma, proc. nº 54.230.00368/2005-47, com certidão da Fundação Cultural Palmares e com estudo antropológico; 3) Santa Cruz, município de Buriti, proc. nº 54.230.003910/2005-82, com certidão da Fundação Cultural Palmares, em fase de elaboração do relatório antropológico, já contratado; 4) Arvore Verde, município de Brejo, proc. nº 54.230.004960/2005-87, com certidão da Fundação Cultural 44 Palmares, sem Relatório Técnico de Identificação e Delimitação Territorial; 5) Data Arraial, município de Brejo, proc. nº 54.230.003615/2007-98, sem certidão da Fundação Cultural Palmares, sem Relatório Técnico de Identificação e Delimitação Territorial; 6) Alto Bonito, município de Brejo, proc. nº 54.230.005031/2007-57, com certidão da Fundação Cultural Palmares e Relatório Técnico de Identificação e Delimitação Territorial em conclusão; 7) Barro Vermelho, município de Chapadinha, proc. nº 54.230.005393/2009-18, com certidão da Fundação Cultural Palmares, em fase de elaboração do relatório antropológico, já contratado; 8) Depósito, município de Brejo, proc. nº 54.230.009564/2010- 11, com certidão da Fundação Cultural Palmares, em fase de elaboração do relatório antropológico, já contratado; 9) Bandeira, município de Brejo, proc. nº 54.230.012469/2010- 97, com certidão da Fundação Cultural Palmares, em fase inicial; 10) Funil, município de Brejo, proc. nº 54.230.01269/2011-90, com certidão da Fundação Cultural Palmares, em fase inicial; 11) Cana Brava, município de Santa Quitéria, proc. nº 54.230.001929/2011-32, com certidão da Fundação Cultural Palmares, em fase inicial; 45 12) Caruaras, município de Santa Quitéria, proc. nº 54.230.001930/2011-67, sem certidão da Fundação Cultural Palmares, em fase inicial; 13) Boa Vista, município de Brejo, proc. nº 54.230.003933/2011-35, com certidão da Fundação Cultural Palmares, em fase inicial; 14) Bom Princípio, município de Brejo, proc. nº 54.230.003937/2011-13, com certidão da Fundação Cultural Palmares, em fase inicial; 15) São Bento da Data Genipapo, município de Brejo, proc. nº 54.230.001024/2013-24, com certidão da Fundação Cultural Palmares, em fase inicial; 16) Prata do Quirino, município de Chapadinha, proc. nº 54.230.001496/2013-87, com certidão da Fundação Cultural Palmares, em fase inicial; 17) Poço de Pedra, município de Chapadinha, proc. nº54.230.001503/2013-41, com certidão da Fundação Cultural Palmares, em fase inicial; 18) Povoado Quarimã, município de São Benedito do Rio Preto, proc. nº 54.230.001397/2017-29, com certidão da Fundação Cultural Palmares, sem Relatório Técnico de Identificação e Delimitação Territorial; 46 Seguindo, em resposta, o Ministério Público Federal apresentou quatro relatórios. Três deles decorrentes da busca na ferramenta “Consulta Aptus”, com texto para pesquisa “quilombola”, gênero “ato judicial”, UF Cadastramento “Maranhão”, UF Localização “Maranhão” e Unidade Cadastramento “PR-MA – PROCURADORIA DA REPÚBLOCA – MARANHÃO”. O quarto relatório traz um filtro manual apresentado pelo Ministério Público Federal. Diante do volume de processos apresentados, elenca-se aqui os que tem pertinência ao projeto desenvolvido, com inclusão de algumas ações de natureza distinta da possessória, mas consideradas afins, pois envolvem o cenário de conflito territoriais. Assim, obteve-se a seguinte listagem, quanto aos processos judiciais: 1) JF/MA-0023130-55.2013.4.01.3700-ACP – CÍVEL – TUTELA COLETIVA, referente à implementação do Programa Luz para Todos, na comunidade quilombola de Barro Vermelho, município de Chapadinha; Quanto aos inquéritos civis públicos: 1) 1.19.000.002228/2016-82 – CÍVEL – TUTELA COLETIVA, referente ao inquérito civil que averigua denúncia de violação de direitos na comunidade de Saco das Almas, município de Brejo, que teria resultado em ação possessória que tramita na justiça estadual; 47 2) 1.19.000.000197/2015-44 – CÍVEL – TUTELA COLETIVA, referente ao inquérito civil que averigua vícios na implantação do Programa Minha Casa Minha Vida na comunidade quilombola de Vila Tiúba, município de Chapadinha; 3) 1.19.000.001285/204-82 – CÍVEL – TUTELA COLETIVA, referente ao inquérito civil que averigua denuncia referente à agressão sofrida pelos quilombolas da Associação dos Moradores do Povoado de Santa Maria, município de Urbano Santos. No que se refere aos dados apresentados pelo Centro de Cultura Negra, destaca-se: 1) Proc. nº 98/2009, Justiça Estadual de Santa Quitéria, referente a ação de reintegração de posse face à comunidade de quilombola de Cana Brava, município de Santa Quitéria; 2) Proc. nº 0003737-81.2012.4.01.3700, JF/MA, referente a ação possessória face à comunidade de Depósito, município de Brejo. Solicitado informação à DPU, houve apresentação de doze Processos de Assistência Jurídica, dos quais os pertinentes à presente pesquisa são: 48 1) 2013.012.00880, Comunidade de Depósito, referente à ação civil pública com pedido de antecipação de tutela, proc. nº 84610- 63.2015.4.01.3700, JF/MA, que discutiu a implantação do Programa Luz Para Todos; A Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, em resposta ao ofício, apresentou os seguintes dados: 1) Processo nº 989-69.2014.8.10.0031 (9512014), Comarca de Chapadinha, referente à ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Estadual do Maranhão, quanto à comunidade de Barro Vermelho, município de Chapadinha; 2) Processo n° 243-17.2008.8.10.0031 (2432008), Comarca de Chapadinha, referente a ação possessória ajuizada em face da comunidade de Barro Vermelho, município de Chapadinha, que corre atualmente na Justiça Federal, sob o nº 003446979.2011.4.01.3700, JF/MA, em razão da identificação de interesse processual pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária; 3) Processo nº 003545040.2013.4.01.3700, JF/MA, referente à ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Federal, envolvendo a comunidade de Barro Vermelho, município de Chapadinha; 49 4) Processo nº 580-02.2007.8.10.0076 (5802007), Comarca de Brejo, referente à ação de despejo em face de Manoel Natal Bastos, da comunidade quilombola de Depósito, município de Brejo; 5) Processo nº 5182009, Comarca de Brejo, referente a Embargos de Terceiro com Pedido Liminar, ajuizada pela Associação Comunitária Afro Descendente do Povoado Depósito, município de Brejo; 6) Processo nº 0003737-81.2012.4.01.3700, JF/MA, referente à interdito proibitório em face da Associação Comunitária Afro Descendente do Povoado Depósito e outros, município de Brejo; 7) Processo nº 0051743-51.2014.4.01.3700, JF/MA, referente à ação de demarcação ajuizada pelo Ministério Público Federal, referente a área que envolve a comunidade de Depósito, município de Brejo; 8) Processo n.º 1534-33.2016.8.10.0076 (15342016), Comarca de Brejo, referente a ação possessória ajuizada em face de membros da comunidade quilombola de Saco das Almas, município de Brejo; 9) Processo n.º 0013982-88.2011.4.01.3700, JF/MA, referente à demarcação de terras quilombolas, de autoria do Ministério Público Federal, referente à titulação da comunidade quilombola de Saco das Almas, município de Brejo. 50 Com isso, apresenta-se a seguinte tabela, referente a ações possessórias ou que decorram do exercício do direito de propriedade: # Comunidade Município Número do processo Juízo Assunto 1 Barro Vermelho Chapadinha 003446979.2011.4.01.3700 JF/MA Possessória 2 Depósito Brejo 580-02.2007.8.10.0076 Com. Brejo Despejo 3 Depósito Brejo 0003737- 81.2012.4.01.3700 JF/MA Possessória 4 Saco das Almas Brejo 1534-33.2016.8.10.0076 Com. Brejo Possessória 5 Cana Brava Santa Quitéria 98/2009 Com. Santa Quitéria Possessória Tabela 1- Ações possessórias envolvendo comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense Fonte: Sociedade Maranhense de Direitos Humanos; Centro de Cultura Negra Elaboração: Ruan Didier Bruzaca 51 Atenta-se que apesar do processo nº 580-02.2007.8.10.0076 não ter natureza possessória, optou-se por incluí-la na tabela tendo em vista impactar, tal qual na disputa da posse, a manutenção da comunidade na área. Seguindo, em relação a ações de outra natureza, ajuizadas por instituições do sistema de justiça visando a concretização de direitos às comunidades quilombolas, tem-se como resultado a seguinte tabela: # Com. Município Número do processo Juízo Assunto 1 Barro Vermelho Chapadinha 003545040.2013.4.01.3700 JF/MA Ação civil pública – titulação quilombola 2 Barro Vermelho Chapadinha 0023130- 55.2013.4.01.3700 JF/MA Ação civil pública – implementação do PLPT 3 Barro Vermelho Chapadinha 989-69.2014.8.10.0031 Com. Chapadinha Ação civil pública – extração irregular de areia 4 Depósito Brejo 84610-63.2015.4.01.3700 JF/MA Ação civil pública – implementação do PLPT 5 Depósito Brejo 0051743- 51.2014.4.01.3700 JF/MA Ação civil pública – demarcação 52 6 Saco das Almas Brejo 0013982- 88.2011.4.01.3700 JF/MA Ação civil pública – titulação quilombola Tabela 2- Ações para satisfazer direitos de comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense Fonte: Sociedade Maranhense de Direitos Humanos; Defensoria Pública da União; Ministério Público Federal Elaboração: Ruan Didier Bruzaca Deste modo, elabora-se o seguinte mapeamento, deixando claro que diz respeito apenas aos dados levantados juntos às referidas instituições de justiça e órgãos, podendo haver outras ações que não sejam por eles acompanhadas. 53 Mapa 1- Mapeamento de processos de comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense Fonte do mapa: EcoDebate (https://ecodebate.com.br/foto/baixoparnaiba.jpg) Elaboração do mapeamento: Ruan Didier Bruzaca 54 De um total de 18 (dezoito) processos administrativos de titulação quilombola existentes no Instituto Nacional de Terras e Reforma Agrária no Maranhão, observa-se um total de 5 (cinco) ações possessórias e afins, incluída a ação de despeje – destas, importa destacar que quatro são as comunidades envolvidas, sendo elas Barro Vermelho (Chapadinha), Saco das Almas e Depósito (Brejo) e Cana Brava (Santa Quitéria). Com isso, conforme acompanhamento das instituições e órgãos anteriormente destacados, aproximadamente 27% das comunidades quilombolas em processo de titulação na região encontram-se em situação de conflito possessório. Por outro lado, levantam-se 6 (seis) processos de natureza distinta das possessórias, mas caracterizadas por serem ajuizadas por instituições do sistema de justiça para assegurar direitos às comunidades quilombolas, como acesso ao território, às políticas públicas e proteção da dignidade. Destaque para a comunidade de Barro Vermelho, que está envolvida em 3 (três) processos, envolvendo: 1) conclusão do procedimento administrativo de titulação quilombola; 2) implementação do Programa Luz para Todos e; 3) situação de dano ambiental provocada por retirada irregular de areia no território. Estas últimas ações não deixam de ser inseridas no contexto dos conflitos fundiários, servindo para a presente pesquisa por trazer um contraponto em relação à manutenção de uma tradição jurídica de vertente individual, liberal e burguesa. Por um lado, aqueles que ajuízam ações possessórias baseiam-se em instrumentos e direitos reconhecidos e pouco questionados, como os 55 referentes à propriedade e à posse. Por outro lado, ações civis públicas são ajuizadas por instituições do sistema de justiça, como a Defensoria Pública da União e o Ministério Público da União, debatendo direitos que são dificilmente efetivados, por exigir uma atuação estatal contínua e célere, e que são reiteradamente questionados, principalmente por envolver grupos étnicos postos em suspeita. Trata-se de uma constatação que corrobora com marcos teóricos estudados ao longo do projeto, bem como com aspectos empíricos presenciados tanto nas entrevistas quanto nas peças processuais existentes nos autos das ações possessórias e das de natureza diversa. Neste sentido, importa trazer aspectos dessas ações, com a finalidade de deixar clara a atuação das instituições de justiça e órgãos envolvidos enquanto parte, por um lado, e, de forma apartada, da atuação do judiciário, por outro. Com isso, verifica-se a existência de tratamentos diferenciados quanto às reivindicações quilombolas e, em especial, quanto à sua percepção de mundo e suas formas de ser, viver e criar, seja pela continuidade de uma tradição jurídica que impede avanços no reconhecimento dos direitos daqueles, seja pelas diferenciadas tentativas de assegurar o reconhecimento e a efetividade de direitos. 56 Atuação das instituições do sistema de justiça Ministério Público O Ministério Público Federal interveio nas seguintes possessórias: 1) 003545040.2013.4.01.3700, JF/MA (Barro Vermelho) e; 2) 0003737- 81.2012.4.01.3700, JF/MA (Depósito). Quanto às ações civis públicas, a referida instituição ajuizou as seguintes: 1) 003545040.2013.4.01.3700, JF/MA (Barro Vermelho); 2) 0051743-51.2014.4.01.3700, JF/MA (Depósito) e 3) 0013982-88.2011.4.01.3700, JF/MA (Saco das Almas). Atualmente, é 13º Ofício do Ministério Público Federal no Maranhão, representado pelo procurador Hilton Araújo de Melo, que acompanha as referidas ações. Sobre os conflitos possessórios, o procurador afirma em entrevista: Esses conflitos sempre desaguam na Justiça Federal, onde o MPF além de custos legis, atua também na defesa irrestrita dos direitos territoriais dessas comunidades. Não é pura e simplesmente defender o solo, mas sim o que ele representa para a manutenção dessas comunidades. Então o modo de fazer, de viver tem que ser mantido e é sempre de acordo com o meio ambiente que eles necessitam para se manter, subsistir basicamente. E subsistir está sendo uma tarefa das mais árduas para esses povos aqui no Maranhão (MELO, 2017, s. p., grifos nossos). 57 Nas duas possessórias observa-se a utilização de ações possessórias pela parte autora, pretensos proprietários, seguindo a concepção civilista da proteção da propriedade, apesar de inadequada, e da posse. Entretanto, sobre a atuação da instituição de justiça em comento, verifica-se a busca por inserir a compreensão da particularidade de comunidades tradicionais que seu autodeterminam como quilombolas. Em outros termos, a tutela não se resume a uma perspectiva pura e simplesmente civilista, como se observar reiteradamente nas ações possessórias. Trata-se de uma atuação que se sustenta nas especificidades culturais, territoriais e identitárias que marcam as comunidades quilombolas, sob pena de desconsiderar a realidade destas. Isto ocorre quando se resume os acontecimentos a situações de “posse”, “propriedade”, “esbulho”, “turbação”, por um lado, e não se compreende as formas de ser, viver e criar do grupo étnico. Sobre este conflito de traduções da realidade, o referido procurador afirma: Precisamos ser conscientes de que só existe um ordenamento jurídico brasileiro. As leis existem várias, mas o ordenamento, o que dá unidade para esse sistema, ele é uno. Então é preciso que a gente sempre concilie quando a gente se deparar com conceitos que aparentemente são adversos. [...] o conceito de posse na visão mais tradicional do nosso direito, que acompanha bem a nossa história civilista-patrimonialista, inclusive de séculos, ela é sim posse sempre relacionada a direito de propriedade e a um direito de produzir do ponto de 58 vista do enriquecimento, de produção econômica propriamente dita. Essa posse que é tutelada com esses institutos de direito civil tradicional, ela precisa ser coadunada, precisa conversar e é um esforço frequente do Ministério Público Federal quando se posiciona nas ações de conflito possessório, saber reconhecer que a realidade dessas comunidades quilombolas é bem distinta na forma como elas visualizam a relação com a terra do que de um modo geral o direito civil costuma fazer. Muitas vezes o Ministério Público Federal já conseguiu acordos onde se preservou a posse com o que a gente quase que chamou como sobreposições de posse (MELO, 2017, s. p., grifos nossos). Ademais, afirma que “na ordem do dia, para nós aqui do Ministério Público Federal, é fazer de fato a defesa territorial o primeiro aspecto a gente tem se preocupado” (MELO, 2017, s. p.). Assim, não somente nas possessórias, quanto nas ações civis públicas, observa-se a atuação do Ministério Público Federal no sentido de garantir o acesso ao território das comunidades quilombolas, bem como a outros direitos, como o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Quanto ao primeiro, utilizando- se como exemplo o processo nº 0051743-51.2014.4.01.3700, JF/MA, que trata da comunidade Depósito, Brejo/MA, destaca-se a busca pela tutela dos direitos territoriais. Diferente do uso de ações possessórias, a ação civil pública é identificada enquanto instrumento capaz de trazer com maior adequação as reivindicações das comunidades. Isto corrobora com a conformação do 59 referido instrumento, visto que, conforme apresenta Berclaz e Moura (2013), atribuiu ao representante do Ministério Público característica de Agente Político e, quanto maior a aproximação e o diálogo com a sociedade, mais legitimado e resolutivo será o seu trabalho. Na pesquisa realizada, observa- se que os canais de comunicação entre o Ministério Público Federal e as comunidades quilombolas são fortes, possibilitando, conforme destacado, uma atuação alinhada aos seus interesses e à sua realidade. Com isso, entende-se que a atuação do Ministério Público Federal tem como fundamento não uma perspectiva restrita a respeito dos direitos, principalmente no que diz respeito ao direito civil. Os referidos conflitos possessórios envolvendo comunidades quilombolas enseja uma compreensão diferente dos direitos e dos sujeitos envolvidos, empenhando-se o Ministério Público Federal para tal. Por fim, importa destacar a existência de uma ação civil pública ajuizada pela Promotor de Justiça da Comarca de Chapadinha, referente ao processo nº 989-69.2014.8.10.0031, visando impedir a continuidade de extração irregular de areia às margens do Rio Munim, que afetava a comunidade quilombola de Barro Vermelho. Trata-se de ação que resultou da provocação da comunidade e da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos ao Ministério Público Estadual. Novamente, identifica-se a busca da instituição e do instrumento da ação civil pública para dar continuidade às condições territoriais necessárias para as formas de ser, viver e criar da comunidade. 60 Defensoria Pública Conforme dados apresentados pela Defensoria Pública da União, não se observa habilitação em possessórias na região do Baixo Parnaíba Maranhense. Por outro lado, quanto às ações civis públicas, a referida instituição ajuizou as seguintes: 1) 0023130-55.2013.4.01.3700, JF/MA (Barro Vermelho) e; 2) 84610-63.2015.4.01.3700, JF/MA (Depósito). Tratam-se de ações civis públicas voltadas para garantir condições de vida digna para as populações quilombolas, que historicamente sofrem tanto pela ausência de reconhecimento de seu território quanto pela falta de prestação de serviços públicos pelo Estado. Quanto à atuação da referida instituição, o defensor público da união Yuri Costa (2017, s. p.) afirma: Predomina na atuação da DPU ações judiciais de natureza coletiva, com destaque para a ação civil pública. O objeto dessas ações é variado. Temos, por exemplo, demandas movidas contra a Fundação Cultural Palmares, para dar regularidade ou rapidez ao procedimento que certifica a autodeclaração de coletividades como quilombolas. Há ações que buscam viabilizar o acesso de quilombolas a políticas públicas, sobretudo ligadas à educação, à saúde, à moradia e à eletrificação. Outro relevante eixo de atuação são demandas possessórias ou de regularização fundiária de territórios, quer provocando o Judiciário em nome da comunidade, quer 61 defendendo os quilombolas em ações movidas por particulares, por empresas ou pelo próprio Estado. Quanto aos casos acompanhados, destaca-se o caso de Depósito, em que se observa a ausência de infraestrutura (saneamento, água, energia etc), essencial à vida digna, agudizada pela situação de tensão social na qual as comunidades quilombolas estão inseridas. Isto é, marcada pelo conflito agrário que envolve tais comunidades em relação às áreas correspondentes aos seus territórios. Apesar de não se tratar de uma ação possessória, na inicial da referida ação civil pública destaca-se a existência de disputa pela posse, marcado por ameaças e ofensas a direitos da comunidade de Depósito. Trata-se de uma situação que não atinge somente aquela comunidade, mas também outras, como Barro Vermelho. Em outros termos, observa-se reiteradamente a ausência de prestação de serviços às comunidades em situação de conflito fundiário, impedido uma vida digna e, consequentemente, impactando na forma de vida daquelas. Importante destacar que, sobre as defensorias públicas, concorda-se com Santos (2011, p. 50), para quem a revolução democrática da justiça exige uma consulta e assistência jurídica diferente, possuindo papel relevante. Continua destacando que, no Brasil, são instituições essenciais à administração da justiça, objetivando a orientação jurídica e a defesa da população carente. Com isso, a fundamentação da Defensoria Pública da União, quando da tutela de direitos de comunidades quilombolas, o que não seria diferente das 62 ações possessórias, envolvem a compreensão dos direitos territoriais, não se resumindo a uma visão restrita dos direitos. Assim, a fundamentação da instituição de justiça em comento aproxima-se daquela apresentada pelo Ministério Público Federal. Advocacia popular Duas foram as entidades analisadas que representam a advocacia popular: a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos e o Centro de Cultura Negra. Todos os processos listados foram acompanhados pelo menos por uma das duas entidades, apesar de não existir habilitação em todas elas. Não obstante, nos registros das referidas entidades, indicam-se os seguintes acompanhamentos: 1) quanto à Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, os processos (1.1) 003446979.2011.4.01.3700, JF/MA (Barro Vermelho), (1.2) 5802007, Comarca de Brejo (Depósito), (1.3) 0003737- 81.2012.4.01.3700, JF/MA (Depósito), (1.4) 15342016, Comarca de Brejo (Saco das Almas); 2) quanto ao Centro de Cultura Negra, os processos (2.1) 98/2009, Comarca de Santa Quitéria (Cana Brava) e (2.2) 0003737- 81.2012.4.01.3700, JF/MA (Depósito). Importa destacar ainda que, quanto às ações diversas, a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos acompanha os seguintes processos: 1) 989-69.2014.8.10.0031, Comarca de Chapadinha (Barro Vermelho); 2) 003545040.2013.4.01.3700, JF/MA (Barro Vermelho); 3) 0051743- 63 51.2014.4.01.3700, JF/MA (Depósito); 4) 0013982-88.2011.4.01.3700, JF/MA (Saco das Almas). Na atuação das referidas entidades, também se verifica o empenho na compreensão da particularidade da relação das comunidades quilombolas com a terra. Com isso, a despeito da conformação do caso à condição de ação possessória, a atuação não se resume em replicar a dominante visão individual, liberal e burguesa a respeito da posse e da propriedade. Esta visão é observada na inicial do processo nº 003446979.2011.4.01.3700, ação de manutenção de posse que inicialmente tramitou na justiça comum (processo nº 243-17.2008.8.10.0031, Comarca de Chapadinha). Na referida ação omite-se qualquer informação a respeito da identidade da Comunidade de Barro Vermelho, reduzindo membros desta a “agitador social” que incentiva “invasões de propriedades particulares”. Fundamenta-se no Código de Processo Civil o “direito a ser mantido na posse”, bem como no Código Civil. Entende-se que há uma aproximação da atuação de tais entidades de defensa de direitos humanos com o positivismo de combate que, ao lado do uso alternativo do direito e do direito alternativo em sentido estrito, constitui uma estratégia do movimento do direito alternativo, conforme apresenta Wolkmer (2008, p. 199). Isto é observado na contestação do caso supracitado, apresentada pelo então assessor jurídico da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, no qual destaca uma outra leitura do processo civil e do direito civil, baseado na cidadania e nos direitos da pessoa humana. 64 Sobre a atuação da advocacia, observa-se o afirmado por Santos (2011, p. 65) para quem a evolução daquela representa a passagem de um modelo de base individualista para outro baseado na politização e coletivização do direito. Assim, ambas as entidades não se resumem a atuar processualmente, também atuando na organização política e coletiva das comunidades, além de romperem com uma concepção puramente individual e liberal dos direitos. Isto é patente na apresentação do Projeto Sementes da Esperança, projeto específico de acompanhamento de comunidades da região do Baixo Parnaíba Maranhense Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, financiada pela entidade Misereor, no qual afirma que “realiza acompanhamento socio- jurídico às comunidades, intervenções junto aos órgãos fundiários, de gestão de politicas públicas e do sistema de justiça [...] e o fortalecimento das organizações que lutam por direitos na região” (SMDH, 2017, s. p.). Ademais, sobre a atuação no Baixo Parnaíba Maranhense, Filipe Farias Correia, assessor jurídico do Centro de Cultura Negra, destaca em entrevista: Olha, o Baixo Parnaíba, por conversa [...] quando a gente teve a reunião com a SMDH [Sociedade Maranhense de Direitos Humanos], o que pareceu que eles falaram é que lá tem uma situação meio peculiar, tanto que tem uma denúncia na OEA [Organização dos Estados Americanos], mas também não caminha. Mas me parece lá ser um pouco mais grave, porque o conflito a pessoa não deixa a incidência de políticas públicas de jeito nenhum, [...] tem extração mineral, tudo irregular, não tem nada de licenciamento ambiental. [...] o que me parece no 65 atual cenário é que apesar de ter esta instabilidade da questão possessória do direito à terra, o que me parece agora no contexto quilombola é que não está tão grave. Eles tão conseguindo desenvolver suas atividades, [...] mas Barro Vermelho, pelo que a gente escutou, está numa situação bem caótica, [...] tanto que eles tem ido sempre nas mesas quilombolas, que é nossa forma de atuação com o INCRA [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária] e exposto a situação deles, que eles tem pedido até questão de cestas básicas, porque houve um incêndio lá muito grande e eles não tão conseguindo desenvolver suas atividades agrícolas rotineiramente [...] (CORREIA, 2017, s. p.). Entende-se que o acompanhamento por entidades de defesa de direitos humanos contribui para evitar que as atividades das comunidades quilombolas nas áreas em conflito sejam impedidas. Pensa-se nesse sentido principalmente pelo fato de a atuação, por vezes, existir indiretamente no âmbito processual, havendo reiteradas articulações com outras instituições do sistema de justiça, como o Ministério Público e a Defensoria Pública, conforme destacado anteriormente, além de outros órgãos e representantes estatais, como o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária e com o Delegado Agrário Nacional. O fundamento da atuação da advocacia popular na tutela de direitos de comunidades quilombolas em conflitos possessórios, a exemplo da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos e do Centro de Cultura Negra, segue a esteira do reconhecimento dos direitos territoriais e de outros direitos 66 correlatos. Além disto, não se resume a intervenções pura e simplesmente jurídicas, contribuindo para articulação política e coletiva dos grupos étnicos acompanhados. Judiciário Por fim, destaca-se a atuação do judiciário nas ações possessórias envolvendo comunidades quilombolas no Baixo Parnaíba Maranhense, seja no âmbito da justiça comum, seja no âmbito da justiça federal. Para tal, destacam-se alguns processos e decisões, bem como a visão de representantes de outras instituições do sistema de justiça. De início, caso paradigmático é o de Barro Vermelho. Quando corria na justiça estadual, a ação de manutenção de posse atualmente sob nº 003446979.2011.4.01.3700, JF/MA, teve liminar concedida em decisão de duas páginas, na qual conclui pela presença dos “requisitos indispensáveis a concessão da liminar, quais sejam: fumus boni iuris e periculum in mora”, destacando a alegação da posse pelo autor, fundamentada em escritura pública, e no dano sofrido. Há que se destacar que no processo nº 003446979.2011.4.01.3700, JF/MA, houve decisão da justiça federal em que se descarta interesse do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária em ação possessória e, com isso, sua competência. Afirma-se que “o processamento desta ação possessória em absolutamente nada repercute no processo administrativo de regularização fundiária”. Esta decisão foi posteriormente agrava, no qual em 67 juízo de retratação, admite a intervenção do referido órgão fundiário em ações possessórias. Em decisão interlocutória, o juízo federal entendeu que o conflito “diz respeito a tema exclusivo do Direito Civil” e declarou novamente a incompetência, remetendo à 13ª Vara da Justiça Federal do Maranhão. A questão referente ao conflito de competência
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