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DIREITO EMPRESARIAL TEMA 4 Prof. Alberto Wunderlich 1 NESTE CAPÍTULO VOCÊ IRÁ APRENDER: • A compreender a teoria da empresa. • A interpretar os conceitos de empresário, microempreendedor individual e empresa individual de responsabilidade limitada. • A entender quem não é considerado empresário pela Lei. • A diferenciar as espécies de nome empresarial. INTRODUÇÃO Este quarto capítulo é destinado ao estudo da teoria da empresa, abrangendo os conceitos de empresa e seus elementos, do empresário, do microempreendedor individual (MEI) e da empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI). Abordaremos a personalidade jurídica, indicando quais são as pessoas jurídicas de direito privado previstas na legislação, bem como será estudado, também, o nome empresarial, sua proteção, seus princípios e espécies. A EMPRESA E O EMPRESÁRIO DIREITO EMPRESARIAL TEMA 4 Prof. Alberto Wunderlich 2 A EMPRESA – CONCEITOS ECONÔMICO E JURÍDICO ECONÔMICO - A empresa é a atividade econômica organizada. A produção de bens e serviços para o mercado não resulta de atividade acidental ou improvisada, mas sim de atividade especializada e profissional. A empresa é um organismo econômico, uma organização fundada em princípios técnicos e leis econômicas. Combina elementos pessoais e reais em função de um resultado econômico, realizada em vista de um objetivo de lucro. JURÍDICO: Para o direito positivo, empresa é toda organização destinada à exploração por pessoa física ou jurídica de qualquer atividade com fins lucrativos. Para Fábio Ulhoa Coelho, a empresa é a “atividade econômica organizada de produção ou circulação de bens ou serviços”. Pode-se perceber pelos conceitos acima apresentados que a empresa é fundamental para o desenvolvimento econômico da sociedade. Aproveitando o texto do artigo 966 do Código Civil, conclui-se que a empresa é a atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou serviços para o mercado. Importante se faz analisar e conceituar os cinco itens que compõem o conceito de empresa: a) Atividade – é conjunto de atos destinados a uma finalidade comum. Não basta um ato isolado, é necessária uma sequência de atos dirigidos a uma mesma finalidade, os quais organizam os fatores da produção, para produzir ou fazer circular bens ou serviços. b) Economicidade – é fator importante para a caracterização da empresa. A economicidade da atividade exige que a empresa seja capaz de criar novas riquezas, mesmo que a atividade não gere lucro. Nessa criação de novas riquezas, pode‐se transformar matéria‐prima (indústria), como também pode haver a interposição na circulação de bens, aumentando o valor destes. DIREITO EMPRESARIAL TEMA 4 Prof. Alberto Wunderlich 3 c) Organização - é a utilização dos meios necessários, relacionados entre si, para a realização de determinado fim. Na empresa, essa organização dos fatores da produção é um dos elementos diferenciadores de outras atividades, pois o fim produtivo da empresa pressupõe atos coordenados e programados para se atingir tal objetivo. Um dos critérios que pode ser usado para verificar a predominância da organização é a padronização e objetivação da atividade. d) Finalidade - A empresa deve abranger a produção ou circulação de bens ou serviços para o mercado. Na produção, ocorre a transformação de matéria‐prima, na circulação temos a intermediação na negociação de bens. Quanto aos serviços, deve-se compreender como toda a atividade em favor de terceiros apta a satisfazer uma necessidade qualquer, desde que não consistente na simples troca de bens. e) Dirigida ao mercado – A organização, tratada acima, deve ser endereçada ao mercado, ou seja, destinada à satisfação de necessidades alheias. Assim, é possível afirmar que não é empresa a atividade daquele que cultiva ou fabrica para o próprio consumo, pois a regra é que o titular da atividade deve ser diferente do destinatário último do produto. DISTINÇÃO ENTRE EMPRESA E SOCIEDADE EMPRESARIAL EMPRESA: É o objeto do direito (= o exercício da atividade empresarial). SOCIEDADE EMPRESARIAL: É o sujeito do direito (sujeito = ente capaz de direitos e obrigações; a própria pessoa jurídica; o empresário). DIREITO EMPRESARIAL TEMA 4 Prof. Alberto Wunderlich 4 PERSONALIDADE JURÍDICA A personalidade jurídica é a aptidão genérica para adquirir direitos e contrair obrigações. O Código Civil no artigo 45 informa que começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo. Assim, da mesma forma que a pessoa natural tem o início da sua personalidade civil a partir do nascimento com vida (art. 2º do Código Civil), a personalidade jurídica “nascerá” com o registro no órgão competente. A Lei aponta no artigo 44 C.C quais são as pessoas jurídicas de direito privado: a) as associações; b) as sociedades; c) as fundações; d) as organizações religiosas; e) os partidos políticos; f) as empresas individuais de responsabilidade limitada. Você deve estar se perguntando, e o empresário? O empresário individual, assunto que será tratado mais adiante, não possui personalidade jurídica. O empresário individual é uma pessoa física que exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços (art. 966 do Código Civil). A sociedade de responsabilidade limitada (LTDA – art. 1.052 do Código Civil), a sociedade anônima (S/A – Lei 6.404/76) e a empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI – art. 980A do Código Civil) são exemplos de tipos societários com personalidade jurídica (personificada), desde que devidamente registradas. DIREITO EMPRESARIAL TEMA 4 Prof. Alberto Wunderlich 5 NATUREZA JURÍDICA DA EMPRESA A empresa não possui personalidade jurídica, e nem pode possuí‐la e, consequentemente, não pode ser entendida como sujeito de direito, pois ela é a atividade econômica que se contrapõe ao titular dela, isto é, ao exercente daquela atividade. Desta forma, a empresa, entendida como a atividade econômica organizada, não se confunde nem com o sujeito exercente da atividade, nem com o complexo de bens por meio dos quais se exerce a atividade. ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL Estabelecimento empresarial, que é sinônimo de fundo de comércio, é um conjunto de bens corpóreos ou incorpóreos que o empresário reúne para exploração de sua atividade econômica. Compreende os bens indispensáveis ou úteis ao desenvolvimento da empresa, como as mercadorias em estoque, máquinas, veículos, marca e outros sinais distintivos, tecnologia, etc. Os bens corpóreos são aqueles que tem um corpo, uma existência física, material, tangível, dentre eles podemos destacar alguns: as mercadorias, as instalações, as máquinas, os utensílios e os veículos. Os bens incorpóreos são as coisas imateriais, sem corpo, intangível, dentre eles podemos destacar alguns: a patente de invenção, o modelo de utilidade, as marcas, os desenhos industriais, o ponto comercial e o título do estabelecimento. EMPRESÁRIO – Art. 966 C.C DIREITO EMPRESARIAL TEMA 4Prof. Alberto Wunderlich 6 Conceito empresário: no artigo 966 do Código Civil encontramos o conceito de empresário: “Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.” O empresário pode ser entendido como o agente econômico capaz de gerenciar a produção e a circulação de bens e serviços. Empreendedor, como gênero, do qual é espécie o empresário individual, em sentido estrito. Pode ele tanto ser uma pessoa física, na condição de empresário individual, quanto uma pessoa jurídica, na condição de sociedade empresária, de modo que as sociedades empresárias não são empresas, como afirmado na linguagem corrente, mas empresários. QUEM NÃO É CONSIDERADO EMPRESÁRIO PELA LEGISLAÇÃO - § único do Art. 966 C.C O Código Civil, após conceituar o empresário, no parágrafo único do mesmo artigo 966 traz a informação de quem não é considerado empresário: “Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa.” Pela ressalva transcrita, quem só tem por profissão o agir do intelecto não é considerado empresário, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. Assim, o profissional intelectual se tornará empresário quando organizar sua atividade como empresa, com o objetivo de empresário: a produção ou circulação de bens ou de serviços para atender indistintamente os agentes econômicos do mercado, sobretudo os consumidores. Exemplo: o médico no exercício da sua profissão não é considerado empresário pela legislação, pois exerce uma atividade intelectual. Porém, se a clínica desse médico vender planos de saúde (elemento de empresa) ele passa a ser considerado empresário. DIREITO EMPRESARIAL TEMA 4 Prof. Alberto Wunderlich 7 Elemento de empresa nada mais é do que a forma empresarial de exploração da atividade intelectual, científica, literária ou artística, onde preenche todos os requisitos do artigo 966 analisados acima (conceito de empresário), adicionado a outro elemento, ou seja, a descaracterização da pessoa que explora essa atividade. MICROEMPREENDEDOR INDIVIDUAL – MEI Com o intuito de retirar boa parte da economia da informalidade, a Lei Complementar nº 128/2008 introduziu a figura do Microempreendedor Individual – MEI, nos artigos 18‐A a 18‐C na Lei Complementar nº 123/2006. Considerando Microempreendedor Individual (MEI) o empresário individual que tenha receita bruta anual de até R$ 81.000,00 (oitenta e um mil reais) - valor referente ao ano de 2020, pois todo o ano é ajustado - desde que cumpra cumulativamente (todos) os seguintes requisitos: a) seja optante pelo Simples Nacional – adesão voluntária ao sistema simplificado de arrecadação de tributos; b) exerça, de forma independente, apenas as ocupações constantes do anexo XI da Resolução nº 140, da CGSN - Comitê Gestor do Simples Nacional (Ocupações Permitidas ao MEI). c) possua um único local de exercício da atividade; d) não seja empresário individual em outra atividade, nem seja sócio ou administrador de sociedade; e) contrate no máximo um empregado que receba exclusivamente um salário mínimo ou o piso salarial da categoria profissional. DIREITO EMPRESARIAL TEMA 4 Prof. Alberto Wunderlich 8 Preenchidos esses requisitos, o empresário poderá requerer seu enquadramento como microempreendedor individual (MEI) junto à Receita Federal do Brasil e junto ao registro público de empresas mercantis, o que permitirá o acesso ao microcrédito e, consequentemente, viabilizará a expansão da atividade. EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA - EIRELI Art. 980A C.C A empresa individual de responsabilidade limitada é constituída por uma única pessoa (física ou jurídica) titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o maior salário-mínimo vigente no País. A EIRELI não é um empresário individual nem uma sociedade unipessoal. Trata-se de uma espécie de pessoa jurídica de direito privado, prevista no art. 44 do C.C. Aplicam-se à empresa individual de responsabilidade limitada, no que couber, a legislação prevista para as sociedades limitadas. Assim, qualquer dúvida que surja sobre a regência da EIRELI, não encontrando solução nas regras previstas do artigo 980A do C.C, resolvem-se pela aplicação das normas da sociedade limitada, a partir ao artigo 1.052 do C.C. O patrimônio social da EIRELI responderá pelas dívidas da empresa, hipótese em que não se confundirá, com o patrimônio do titular que a constitui, ressalvados os casos de fraude. DIREITO EMPRESARIAL TEMA 4 Prof. Alberto Wunderlich 9 NOME EMPRESARIAL É o nome com o qual o empresário se apresenta no mercado (registra seu negócio), identificando o sujeito que exerce a atividade empresarial. O nome empresarial é também um dos elementos incorpóreos do estabelecimento empresarial, não se confundindo com a marca a qual serve para identificar produtos ou serviços. PRINCÍPIOS DO NOME EMPRESARIAL a) Princípio da veracidade - o nome empresarial não poderá conter nenhuma informação falsa, pois, sendo a expressão que identifica o empresário ou sociedade empresária em suas relações, é preciso que o nome empresarial forneça somente dados verdadeiros referentes àquele com quem se negocia. b) Princípio da novidade - proíbe que se registre um nome empresarial igual ou muito parecido com outro já registrado. A Junta Comercial (local onde ocorrem os registros empresariais), em que o empresário ou a sociedade empresária requereu o arquivamento de seus atos constitutivos, deve proceder à análise de semelhanças entre o nome empresarial do requerido registro e outro nome empresarial já registrado, fazendo uma consulta de seus arquivos e assentamentos. PROTEÇÃO DO NOME EMPRESARIAL Conforme a legislação o nome empresarial é um direito personalíssimo, inclusive o artigo 1.164 do C.C não permite a sua alienação (venda), sendo inerente a tal direito a irrenunciabilidade, a intransmissibilidade, a inalienabilidade e a impenhorabilidade. DIREITO EMPRESARIAL TEMA 4 Prof. Alberto Wunderlich 10 ESPÉCIES DE NOME EMPRESARIAL - Art. 1.155 C.C a) Firma - Só pode ter por base o nome civil do empresário individual ou dos sócios da sociedade empresária quando o núcleo do nome empresarial corresponde a um ou mais nomes civis do empresário, que corresponde também a sua assinatura. a.1) Firma individual: é aquela em que o empresário de forma individual, exerce sua atividade empresarial, corresponde a sua assinatura. Ex. João de Souza - tecidos. a.2) Firma em nome coletivo: as sociedades empresariais, sociedades de pessoas, podem estabelecer sua razão social baseada no nome ou prenome de um ou mais sócios. Ex. Souza, Oliveira e Silva; Souza & CIA; ou Souza Café LTDA. b) Denominação: optando-se por denominação, não se usa nome de sócios e indica-se o ramo de atividade. Ex. Banco do Brasil S/A ou Comercial de Café e Cereais LTDA. QUADRO RESUMO SOBRE O USO DE FIRMA OU DENOMINAÇÃO TIPO SOCIETÁRIO ESPÉCIE DE NOME EMPRESARIAL MEI — MICROEMPREENDEDOR INDIVIDUAL Firma (dispensável) EIRELI — EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA Firma ou Denominação EMPRESÁRIO (QUE NÃO SE ENQUADRE COMO MEI OU SE ESTRUTURECOMO EIRELI) Firma Individual LTDA — SOCIEDADE LIMITADA Firma ou Denominação S/A — SOCIEDADE ANÔNIMA Denominação DIREITO EMPRESARIAL TEMA 4 Prof. Alberto Wunderlich 11 SOCIEDADE EM NOME COLETIVO Firma SOCIEDADE EM COMANDITA SIMPLES Firma SOCIEDADE EM COMANDITA POR AÇÕES Firma ou Denominação COOPERATIVA Denominação SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO Não poderá utilizar nem firma, nem denominação – Art. 1.162 C.C. DIREITO EMPRESARIAL TEMA 4 Prof. Alberto Wunderlich 12 REFERÊNCIAS CHAGAS, Edilson Enedino das. Direito Empresarial Esquematizado. 7ª ed. Saraiva: São Paulo, 2020. MAMEDE, Gladston. Manual de Direito Empresarial. 14ª ed. Atlas: São Paulo, 2020. NEGRÃO, Ricardo. Manual de Direito Empresarial. 10ª ed. Saraiva: São Paulo, 2020. SACRAMONE. Marcelo, Barbosa. Manual de Direito Empresarial. Saraiva: São Paulo, 2020. TOMAZETTE. Marlon. Curso de Direito Empresarial: Teoria Geral e Direito Societário. 11ª ed. Saraiva: São Paulo, 2020.
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