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Autora: Profa. Nancely Huminhick Vieira Colaborador: Prof. Alexandre Ponzetto Artes Visuais Brasileiras Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 Professora conteudista: Nancely Huminhick Vieira É graduada em Artes Plásticas pela Unesp (1994), além de mestre (2004) e doutora em Educação (2010) – sendo que em ambas as titulações a fotografia foi seu objeto de pesquisa. Atuou durante dois anos como professora da pós‑graduação EaD em Artes pelo projeto Redefor em parceria com a Secretaria da Educação e a Unesp. É professora da UNIP e do Mackenzie em diversas disciplinas da área fotográfica, além de ser coordenadora da pós‑graduação em Fotografia da UNIP. Trabalhou como fotógrafa durante vários anos nas seguintes áreas: book, cult, still e eventos. Atualmente desenvolve pesquisa com o tema fotografia cultural. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) V658a Vieira, Nancely Huminhick. Artes Visuais Brasileiras. / Nancely Huminhick Vieira. – São Paulo: Editora Sol, 2016. 144 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXII, n. 2‑058/16, ISSN 1517‑9230. 1. Artes visuais. 2. Artes brasileiras. 3. Fotografia. I. Título. CDU 77 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Kleber Souza Vitor Andrade Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 Sumário Artes Visuais Brasileiras APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 A ARTE RUPESTRE NO BRASIL ......................................................................................................................9 1.1 A Pré‑História ...........................................................................................................................................9 1.2 Tradições da arte rupestre brasileira ............................................................................................. 14 2 AS ARTES INDÍGENAS .................................................................................................................................... 20 2.1 O grafismo ............................................................................................................................................... 21 2.1.1 Pintura corporal....................................................................................................................................... 24 2.1.2 Cerâmica e cestaria ................................................................................................................................ 29 2.2 Arte plumária ......................................................................................................................................... 34 3 A ARTE COLONIAL NO BRASIL .................................................................................................................... 39 3.1 O período jesuítico ............................................................................................................................... 39 3.2 O Aleijadinho .......................................................................................................................................... 47 4 ARTE IMPERIAL ................................................................................................................................................. 52 4.1 Fotografia e ofícios no Brasil ........................................................................................................... 52 4.2 Preços dos retratos praticados no País ........................................................................................ 55 4.3 O salão de pose ..................................................................................................................................... 58 4.4 Fotografia de paisagem e experiências pictóricas .................................................................. 59 Unidade II 5 ARTE IMPERIAL NO BRASIL VISTA PELA FOTOGRAFIA ...................................................................... 66 5.1 O fotógrafo Militão Augusto de Azevedo .................................................................................. 66 5.2 Marc Ferrez (carte de visite: escravos – nobres) ...................................................................... 71 6 A ARTE MODERNA .......................................................................................................................................... 76 6.1 A semana de Arte Moderna no Brasil .......................................................................................... 80 6.2 O Grupo dos Cinco e os movimentos modernistas ................................................................ 87 7 FIGURAÇÃO X ABSTRAÇÃO ......................................................................................................................... 94 7.1 Alfredo Volpi ........................................................................................................................................... 94 7.2 Claudio Tozzi ........................................................................................................................................101 7.3 Gustavo Rosa .......................................................................................................................................109 8 A FOTOGRAFIA CONTEMPORÂNEA .........................................................................................................115 8.1 Novos meios .........................................................................................................................................115 8.2 Rosângela Rennó ................................................................................................................................116 7 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 APRESENTAÇÃO A disciplina Artes Visuais Brasileiras se baseia no conhecimento dos principais períodos e estilos da arte brasileira: arte indígena, pré‑colonial, colonial, arte imperial, neoclássica, barroco, rococó, arte moderna, ecletismo, contemporânea, abstração e novos meios. Nesta disciplina iremos apresentar aos estudantes os estilosde arte brasileira e os contextos nos quais eles foram produzidos em formas, cores e estética. Também daremos condições ao aluno para: aprender a arqueologia rupestre, cerâmica, plumária, pesquisar a arte indígena, estudar o romantismo e academicismo e compreender a arte imperial brasileira e a arte colonial, os requintes do barroco e do rococó, bem como conhecer os ofícios fotográficos da época do Império. Espera‑se que o estudante seja capaz de discutir a arte moderna e contemporânea, compreender o movimento Modernista e a Semana de Arte Moderna e ainda conhecer os novos meios e o trabalho de uma fotógrafa contemporânea. Sejam bem‑vindos à magia do universo das artes visuais brasileiras! Boa disciplina! INTRODUÇÃO O potencial de criação do homem é a mola propulsora da evolução. Ele afeta não só o mundo físico ao qual estamos acostumados, mas também a própria condição humana e os contextos culturais. Para tanto, “a percepção consciente na ação humana se nos afigura como uma premissa básica da criação, pois além de resolver situações imediatas, o homem é capaz de a elas se antecipar mentalmente” (OSTROWER, 2001, p. 10). Nossa capacidade de expressar a percepção vem de formas simbólicas de comunicação, como a fala, mas aquela que se encontra na essência da criação é a habilidade de expressar por meio de ordenações, ou seja, pelas formas. “Se a fala representa um modo de ordenar, o comportamento também é ordenação. A pintura é ordenação, a arquitetura, a música, a dança, ou qualquer outra prática significante” (OSTROWER, 1998, p. 24). Apesar de as formas de convivência coletiva dos primórdios da vida do homem primata serem desconhecidas, entendemos que seu comportamento era social, como observaram os arqueólogos a partir dos fósseis encontrados: mãos livres, caninos atrofiados, postura ereta, maior capacidade craniana em comparação com a dos outros primatas. Apesar de inconclusivos, vários indícios apontam a hominização do nosso ancestral. A manifestação artística é um deles. Será a partir dessa premissa que adentraremos no mundo da arte, mais precisamente, das artes visuais brasileiras. 8 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 No decorrer desta unidade, veremos a linguagem da arte rupestre presente como as primeiras manifestações artísticas do nosso homem pré‑histórico, as diversas formas de arte produzidas pelos povos indígenas, bem como a do período colonial, desde o período jesuítico à riqueza do barroco mineiro. Finalmente veremos a Fotografia e os seus ofícios no Brasil, assim como os preços dos retratos praticados no país, traçando um paralelo com os valores de produtos comuns da época, a fotografia de paisagem e experiências pictóricas, e ainda o salão de pose – estúdio com teto envidraçado da época. 9 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 ARTES VISUAIS BRASILEIRAS Unidade I 1 A ARTE RUPESTRE NO BRASIL Quase sempre a história da arte rupestre é o ponto de partida para analisar o princípio da transformação de nossa sociedade sob o aspecto midiático e imagético, afinal os registros das pinturas e desenhos na PréHistória são testemunhos dessa transformação. Os grupos étnicos foram evoluindo culturalmente, a princípio como desenhistas, na sequência, escultores, e, após, pintores, tendo em vista a maior capacidade de abstração que foram adquirindo, o que era exigido pela pintura. Tais mudanças não eram resultado de eventualidades, mas de uma mutação social que se manifestou gradativamente de diversas maneiras no ser humano. 1.1 A Pré‑História A PréHistória é marcada por uma das épocas mais extraordinárias da evolução humana. Por conta de sua longa duração, os historiadores a dividiram, de acordo com a evolução técnica, em três períodos significativos: Paleolítico (ou a Idade da Pedra Lascada), que vai desde o aparecimento do homem até 12 mil anos atrás; Neolítico (ou a Idade da Pedra Polida), de 12 mil até 6 mil anos atrás; e Idade dos Metais, datada de 6 mil anos atrás até o aparecimento da escrita. A linguagem gráfica observada na arte rupestre era o manifesto do código social dos grupos étnicos da Era Paleolítica Superior (30 mil a 18 mil a.C.), que reproduzia a imagem na sua verdade visual, sem deformações ou estilizações. Temáticas dominadas pela crença nos poderes mágicos, pelo cotidiano que envolvia a luta pela sobrevivência. A abundância de sítios arqueológicos encontrados até hoje decifra as diferentes culturas que se formaram a partir dessas manifestações artísticas. Características particulares incluem o tipo da tinta, representações humanas pequenas ou grandes, cores dominantes, traçados geométricos cuidadosamente executados, animais desenhados por uma linha de contorno aberta, entre outras. Por meio das peculiaridades, técnicas ou não, foi possível traçar um estudo histórico das sociedades que se manifestavam culturalmente registrando seu cotidiano em imagens reproduzidas nas cavernas. O apogeu da arte rupestre paleolítica foi descoberto em 1880, nas cavernas de Altamira, na Espanha, também conhecida como gruta de Altamira, onde se conserva um dos conjuntos pictóricos mais importantes da Pré‑História. Até aquele momento se duvidava de que grupos étnicos e selvagens dispusessem de arte e cultura. A arte era sinônimo de civilização, e acreditava‑se que esses povos da Idade da Pedra fossem desprovidos de tal característica. Nos tetos e paredes das cavernas de Altamira, foram reproduzidos desenhos coloridos de bisões, cavalos e vários outros animais, em repouso, ou, o mais surpreendente, em movimento. Estudos iconográficos apontam as imagens de Altamira como símbolos sexuais e religiosos, ritos de fertilidade, cerimônias de súplicas aos deuses para caças bem‑sucedidas, bem como batalhas entre clãs. Independentemente dos motivos que levaram a tais manifestações do homem paleolítico, resta a 10 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 Unidade I certeza de que advinham de planejamento e organização, o que implica o processo cognitivo pelo qual as tribos buscavam codificar suas informações, registrando‑as em símbolos gráficos. Apesar da inegável importância histórica da gruta de Lascaux, um complexo de cavernas ao sudoeste de França descoberto em 1940 (famosa pelas suas pinturas rupestres), ela é relativamente pequena se comparada à gruta de Altamira. As cavernas espanholas proporcionaram maior impacto social no século XX, diante de sua variedade de riqueza cultural e artística. No mundo artístico moderno, por exemplo, influenciou a criação da Escola de Altamira, quando o artista espanhol Pablo Picasso, após uma visita, exclamou que, depois de Altamira, tudo parecia decadente. Apelidada de Capela Sistina da Arte Paleolítica, ela foi declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 1985. Figura 1 – Bisonte – La Cueva de Altamira, Espanha Figura 2 – Bull – State XI, Pablo Picasso, 1946 11 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 ARTES VISUAIS BRASILEIRAS Na Era Neolítica o homem começa a desenvolver um novo estilo de expressão artística, momento que ficou conhecido como o período das criações de armas e apetrechos mediante polimento das pedras, tornando‑as mais afiadas. Foi nessa época que o ser humano fixou residência, iniciou‑se na agricultura e dedicou‑se à domesticação de animais. Com a construção de moradias e o domínio da tecelagem e da cerâmica, desenvolveu‑se a divisão de tarefas na comunidade. O homem neolítico refletiu sua arte das conquistas técnicas. Uma característica que predominou na pintura foi a ausênciada imitação da natureza, passando para a representação do cotidiano em grupos coletivos. Outra grande revolução nas artes visuais foi sugerir movimentos por meio da imagem fixa; com essa preocupação, o artista desenvolveu figuras cada vez mais leves, ágeis, pequenas e com poucas cores. Na última fase do Neolítico, por volta de 3000 a.C., vemos um novo material dando forma à beleza. Com o domínio do fogo e da transformação de minerais, o homem cria peças metálicas muito benfeitas. Ornamentos, esculturas e armamentos, com riqueza de detalhes impressionantes, servem de documentação do período em que viveu esse homem pré‑histórico. Os sítios arqueológicos também no Brasil testemunham as primeiras evidências humanas em nosso continente. A riqueza de diversidade que se encontra na América do Sul já se manifestava desde 13.000 a.C., deixada por caçadores, pescadores e horticultores, cuja presença foi preservada por diferentes grupos sociais e em vários períodos através das pinturas e gravuras produzidas em paredes de grutas, abrigos, pedras, lajes e costões, perpetuando mensagens correlacionadas, principalmente, aos aspectos mais importantes da vida cotidiana da sociedade. À parte o campo de saber da arqueologia, a arte rupestre pode ser definida como um domínio associado às demais características da história social do grupo que a elaborou. Os desenhos rupestres eram uma forma de comunicação no qual as experiências eram trocadas, como complemento da expressão verbal e gestual, representando relações ancestrais, nação e sonhos de referências semânticas. Sob essa perspectiva, devemos entender que a linguagem visual, e não somente a verbal, é passível de possibilidades em termos de eficácia e viabilidade. A habilidade exclusiva do homem de desenvolver mensagens visuais só virá pelo desenvolvimento de sua inteligência visual. Lembrete Representações são sistemas de símbolos que chamamos de linguagem. São inventados pelo homem e já foram um dia percepção de uma imagem. Os números e os idiomas são exemplos de representação, assim como os ideogramas japoneses e hieróglifos egípcios são bons exemplos de linguagens de representações da forma e do conteúdo. 12 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 Unidade I o céu o firmamento estrangeiro rosto cabeça cabelo, dor, luto olho atividade do olho nariz, olfato orelha, sentidos dente canino, gosto, rir boca tocar casa porta, aberto caixa, sarcófago escrínio (estojo), esteira barca, navegação barca sagrada o gado o Sol a noite a escuridão as estrelas o fogo, o calor o vento a respiração, o ar as pedras os metais Figura 3 – Símbolos pictográficos egípcios Espirais, círculos, ondas, e outros grafismos comuns na arte rupestre, por exemplo, são simples desenhos geométricos que representam um significado realista, como ressalta a autora: [...] podem significar, ao mesmo tempo, dependendo do grupo cultural, símbolos femininos ou masculinos, incesto, movimento das águas ou piroga anaconda que transporta a humanidade. Quem poderia imaginar que uma simples linha, considerada em nossa cultura uma das mais elementares formas geométricas, pode conter tantos significados? (GASPAR, 2006, p. 12‑3). Figura 4 – Gravura da tradição Meridional. Sítio D. Josefa (RS) 13 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 ARTES VISUAIS BRASILEIRAS Figura 5 – Grafismo da tradição Litorânea Catarinense. Ilha dos Corais (SC) Figura 6 – A Pedra Lavrada, de Ingá (PB): tradição Geométrica (setentrional) Figura 7 – Tradição Geométrica (meridional). Morro do Avencal (SC) 14 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 Unidade I Figura 8 – Grafismos de animais, comuns na tradição Planalto, Iapó e Tibagi (PR) Lembrete O processo pelo qual reduzimos as linhas e traços mais fundamentais e típicos da representação denomina‑se abstração, podendo ser pura ou total. A abstração pura significa deduzirmos os elementos básicos, o que confere subtrair da mensagem visual a experiência representacional adquirida do meio. Por sua vez, a abstração total é direcionada para o simbolismo, seja ele decifrável, seja atribuído a ele uma significação aplicada. 1.2 Tradições da arte rupestre brasileira No Brasil a arqueologia classifica o ordenamento das diferentes manifestações iconográficas da arte rupestre em tradições, respeitando as semelhanças no estilo e na técnica de elaboração. Os principais costumes arqueológicos da arte rupestre brasileira são: Tradição Agreste, Nordeste, Planalto, São Francisco, Geométrica, Litorânea, Meridional e Amazônica. Veja no gráfico a seguir a ordenação praticada no Brasil que norteia as pesquisas arqueológicas em nosso teritório na Pré‑História: 15 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 ARTES VISUAIS BRASILEIRAS 1.000 1.000 Taperinha Sambaqui minã Cerâmico Arcaico Hachurado‑ zonada Saldoide‑ Barracóide Inciso‑ ponteada Policrônica Amazônia Planalto brasileiro Tu pig ua ran i Luzia Sítios esparsos com vestígios humanos que podem remontar até cerca de 50.000 anos Tr ad iç ão Ho m em d e La go a Sa nt a Hu m ai tã Um bu Ru pe st re N or de st e Ho lo ce no a. C . d. C . Pl ei st oc en o Tr ad iç ão R up es tr e Ag re st e Tr ad iç ão R up es tr e Ar at u Un ã Ge om êt ric a M er id io na l Ta qu ar a Ita ra rê Sa m ba qu is 3.000 5.000 7.000 10.000 Figura 9 – Tradições pré‑históricas do Brasil Identificar as características estéticas de cada grupo permite perceber as identidades culturais pré‑históricas por região e das condições de vida daquele homem (apesar de serem interpretações subjetivas, tendo em vista que é complexo determinar os significados das pinturas). Veja os principais traços de cada tradição da arte rupestre brasileira. • Tradição agreste Surgiu por volta de 9 mil anos atrás na região da Serra da Capivara; tem predominância de grafismos de imagens humanas, em geral masculinas e estáticas, ou seja, são raras cenas de ação; e possui pouco refinamento nas pinturas, o que dificulta a identificação das figuras. 16 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 Unidade I Figura 10 – Antropomorfos e animais estáticos da tradição Agreste. Parque Nacional Serra da Capivara (PI) • Tradição Nordeste É a mais antiga e complexa tradição, surgiu por volta de 23 mil anos atrás e se concentra na área do Parque Nacional Serra da Capivara, mas se espalhou para outros estados do Nordeste, Centro‑Oeste e Sudeste; suas pinturas são monocromáticas, com aproximadamente 15 cm. Representa homens, animais, plantas e algumas figuras geométricas com conotação narrativa e interativa, ou seja, cenas de caça, guerra, dança, sexo, entre outras, onde se nota movimento na ação. Figura 11 – A tradição Nordeste é marcada por representações de figuras humanas e de animais como emas e cervídeos. Toca do Boqueirão da Pedra Furada (PI) • Tradição Planalto Está localizada em algumas áreas do Planalto Central, desde a Bahia até o Paraná; seu principal foco encontra‑se nos sítios de Lagoa Santa e da Serra do Espinhaço, em Minas Gerais. Tem a 17 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J effe rs on - 2 2/ 08 /1 6 ARTES VISUAIS BRASILEIRAS predominância de peixes e cervídeos, muito coloridos (embora existam formas geométricas e humanas em tamanho menor ao dos animais). Figura 12 – Peixes e outros animais, assim como a cor vermelha, são típicos da tradição Planalto. Essa pintura encontra‑se no abrigo de Santana do Riacho (MG) • Tradição São Francisco Os grupos denotavam extrema habilidade compositiva, combinavam em painéis figuras com cores vivas mesmo com a pouca variedade temática; possuía grafismos situados em lugares visíveis e uma tradição concentrada na região do Vale do Rio São Francisco, além de alguns focos na Bahia, Minas Gerais e Goiás. Figura 13 – Os répteis são formas frequentes na tradição São Francisco. Figuras com decoração interna simétrica demonstram forte sentido de efeito dos pintores. Lapa do Boquete, Januária (MG) 18 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 Unidade I • Tradição Geométrica Os grafismos eram mais abstratos, com gravuras complexas e diversificadas. Ela se concentra mais na região central do País, atravessando‑o pelo Centro‑Oeste e o Sudeste, chegando à região Sul (pouca presença na Serra da Capivara). Na parte setentrional brasileira, os grafismos se situam em áreas próximas a rios e cachoeiras; na meridional estão localizadas longe das águas e retocadas com pigmentos, predominantemente círculos, setas e linhas tracejadas. Figura 14 – Itaquatiaras de Cachoeira do Letreiro, em Carnaúba dos Dantas (RN): exemplo da tradição Geométrica • Tradição Litorânea Limita‑se a algumas ilhas de Santa Catarina, a 20‑5 km de distância uma das outras; possui grafismos em locais de difícil acesso e foram feitos de granito; utilizava‑se da técnica do polimento, com predominância de formas geométricas. Figura 15 – Tradição Litorânea Catarinense, com os desenhos e a forma humana geométrica característicos. Ilha Campeche (SC) 19 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 ARTES VISUAIS BRASILEIRAS • Tradição Meridional Está presente no Rio Grande do Sul, sobretudo em escarpas de planalto, blocos isolados, grutas e abrigos diversos; suas gravuras são predominantemente limitadas à combinação de traços retos ou curvos e círculos de vários tamanhos, muitos formando pegadas de felinos; é feita sobre superfíceis de arenito, utilizando‑se técnicas de incisão ou polimento. Figura 16 – Essas gravuras parecem representar pisadas de aves e mamíferos. Exemplo da tradição Meridional. Canhemborá, Nova Palma (RS) • Tradição Amazônica É extremamente rica e diversificada, espalhada por toda a região Norte, tendo os principais sítios arqueológicos em Monte Alegre e Alenquer, no Pará; considerada a mais antiga das Américas; tem grande variedade de temas e tipos de grafismos, como figuras antropomorfas estilizadas e humanas de várias dimensões (de até um metro), animais, parte de corpos e formas geométricas etc. Figura 17 – Antropomorfo da tradição Amazônica. A riqueza de detalhes chama a atenção: traços do rosto, cabelos e até outra figura humana na região da barriga, sugerindo gravidez. Serra da Careta, Prainha (PA) 20 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 Unidade I 2 AS ARTES INDÍGENAS A arte brasileira surgiu da combinação das manifestações artísticas pré‑históricas, com as artes primitivas dos povos indígenas e os estilos artísticos de outras sociedades. Entretanto, a arte indígena, também denominada tribal, tradicional ou nativa sofreu julgamentos calcados na visão colonialista como a própria nomenclatura sugere, ou seja, designa todos os povos que foram encontrados no território brasileiro pelos portugueses. Confundido com as Índias, o Brasil possuía vários grupos espalhados por todo o território e diferentes entre si quanto à cultura, costumes, rituais, idiomas, entre outras particularidades, como os Xavantes, Kadiwéu, Yanomami, Asurini, Kayapó, Bororo, Karajá etc., que somam cerca de 200 etnias diferentes. A partir dessa premissa, pensemos a arte e estética indígena brasileira como a expressão de várias manifestações e formas produzidas por diversos povos nativos brasileiros. Assim não teríamos a arte indígena, mas as artes indígenas. “Como não existe algo chamado índios do Brasil, não há também a arte de nossos índios” (VIDAL, 2000, p. 290). A nova forma de pensar esse conceito significa considerar a diversidade, diferenças e especificidades nas manifestações artísticas desses povos. O grafismo, principalmente, é produzido sobre uma rica e variável gama de suportes: máscaras, cestarias, madeira, esculturas, cerâmicas, painéis decorativos, couro, cascas, pedra e, enfim, a própria pele (a última, além dos grafismos, recebe ainda outro tipo de tratamento estético: escarificações e tatuagens). Além da diversidade cultural, os povos indígenas são extremamente habilidosos em artefatos decorativos como a arte plumária, de miçangas, tecelagem com fios e trançados de fibras vegetais. Saiba mais Os escravos moçambicanos, quando trazidos ao Brasil, vinham com a pele marcada por escarificações, que os identificavam como pertencentes a um determinado grupo. A escarificação era uma tatuagem “feita com espinho introduzido sob a pele, ao longo de traços previamente desenhados”. Depois “a pele [era] levantada, para em seguida ser cortada por lâmina de pedra ou de metal”. Outras informações estão em MARQUES, T. O Brasil tatuado e outros mundos. Rio de Janeiro: Rocco, 1997. O reducionismo com relação às artes indígenas não se limita apenas à imensa variedade de estilos e manifestações que cabe ao tema, mas o problema se remete à maneira de como definimos arte, pois os povos indígenas não designam o termo com a prática social a qual mantemos relação. Para eles, simplesmente não existe um domínio específico de objetos que possuem uma funcionalidade exclusivamente estética, apenas para serem contemplados. A cultura indígena não é, portanto, voltada para o mundo das artes dentro de um contexto específico, bem como não há, para eles, a necessidade de explicá‑la, defini‑la ou igualmente teorizá‑la. Esse 21 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 ARTES VISUAIS BRASILEIRAS imperativo veio incorporado à visão ocidental de raiz eurocêntrica, a qual justificamos e recolocamos em perspectiva a nossa própria atividade artística. A partir dessa concepção, Darcy Ribeiro nos fornece uma definição sobre a arte indígena: Que é arte índia? Com tal expressão designamos certas criações conformadas pelos índios de acordo com padrões prescritos, geralmente para servir a usos práticos, mas buscando alcançar a perfeição. Não todas elas, naturalmente, mas aquelas entre todas que alcançam tão alto grau de rigor formal e de beleza que se destacam das demais como objetos dotados de valor estético. Então a expressão estética indica certo grau de satisfação dessa indefinível vontade de beleza que comove a alenta aos homens como uma necessidade e um gozo profundamente arraigados. Não se trata de nenhuma obrigação imperativa como a fome ou a sede, bem o sabemos; mas de uma sorte de carência espiritual, sensível, na qual faltam oportunidades para atendê‑la; e de presença observável, gozosa e querida, em que floresce (RIBEIRO In ZANINI, 1983, p. 49). Para o antropólogo, a função estética e a efetiva se confundem na produção indígena, pois na fabricação de um artefato não há espaço para inovações que possam eliminar sua funcionalidade, conferindo a perfeição prática à tradição formal. Assim define o autor sobre a real funçãodas artes indígenas: A verdadeira função que os índios esperam de tudo que fazem é a beleza. Incidentalmente, suas belas flechas e sua preciosa cerâmica têm um valor de utilidade. Mas sua função real, vale dizer, sua forma de contribuir para a harmonia da vida coletiva e expressão de sua cultura, é criar beleza (RIBEIRO, 1999, p. 160). Será essa perfeição a percepção de arte a qual o observador atribui à arte indígena, mesmo que esse valor estético seja mais facilmente percebido por antropólogos, etnólogos e por historiadores da arte. Observação Para Platão, o belo era a própria ideia da perfeição, como unidade absoluta e imutável, pois não dependeria do plano material. Somente através da razão seria possível exprimir um juízo estético, capaz de conduzir o homem à perfeição pela união eterna entre o belo, a beleza, o amor e o saber. Seria a ideia, portanto, que determinaria o padrão do que é belo ou não, segundo o platonismo. 2.1 O grafismo A arte gráfica indígena brasileira é considerada de grande autenticidade e qualidade estética, empregando técnicas na pintura corporal e na decoração de objetos utilitários como cestarias e cerâmicas. 22 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 Unidade I Habilidade culturalmente transmitida e herdada pelos seus antepassados, o aprendizado do grafismo começa na infância do grupo, seja com o propósito ornamental, seja para o preparo para lutas e batalhas. O significado representativo do grafismo indígena brasileiro, além do estético, possui conceitos sociológicos e religiosos. As formas geométricas variam entre abstrações e formas naturalísticas simplificadas que demonstram não apenas códigos internos, mas coloca o artista/artesão indígena como protagonista pelo reconhecimento étnico do grupo ao qual pertence. Veja alguns exemplos de representação pictográfica utilizada entre os grupos Tukano como sistema de comunicação: Órgão secual feminino não impregnado. Sol ‑ símbolo que representa o princípio fertilizador. Uma espiral simboliza o incesto e representa as mulheres proibidas. Fileiras verticais de pequenos pontos representam a via láctea, que é imaginada como um rio celestial. Figura 18 – Representações pictográficas indígenas Também temos os povos Xerente, localizados no cerrado do estado do Tocantins, que possuem dois motivos básicos na pintura que servem como identificação do clã e da própria comunidade a que pertencem: o traço (wahirê) e o círculo (doí). Observe os padrões aplicados na pintura corporal: Figura 19 – Padrões de pintura corporal Xerente 23 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 ARTES VISUAIS BRASILEIRAS Borboleta Casco de jabuti Casco de jabuti ou vértebra de cobra Vértebra de cobra Espinho de peixe Entrecasca de palmeira tucum Caixinha de fósforo Ã‑KA‑PRUK enviezado U:Ã‑OIRO: ziguezague Quadriculado Figura 20 – Motivos decorativos da face As cores usadas pelos indígenas na aplicação de motivos no corpo humano, nas máscaras, nas cestarias e nas flechas são confeccionadas a partir de materiais vegetais como o urucum, que dá o tom vermelho, além do jenipapo e da fuligem, que dão a cor negra. Utilizam ainda pigmentos de origem mineral que fornecem cores como o branco, o ocre, o vermelho‑castanho e o cinza‑azulado, empregados no adorno de cerâmicas, bandanas, rodas de teto, bancos etc. 24 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 Unidade I Figura 21 – Roda de teto maruana representando as lagartas sobrenaturais, Aldeia Apalai, Rio Paru de Leste Observação Maruana imirikut, literalmente “motivos da roda de teto”, é um painel cuja principal finalidade é permitir a visualização dos elementos constitutivos da alteridade Wayana: os sobrenaturais, os espíritos e o xamanismo, os inimigos e os homens brancos. Vejamos a seguir onde o grafismo é mais empregado pelos povos indígenas no Brasil: na pintura corporal, na cerâmica e na cestaria. 2.1.1 Pintura corporal A pintura corporal indígena é chamada de tonophé, mesmo termo usado para designar pintura, e é dotada de uma técnica complexa de significação. A característica mais peculiar dos índios Asurini, por exemplo, são os desenhos geométricos, utilizados também na decoração de objetos. São figuras relacionadas ao próprio sistema de comunicação ligado à cosmologia, obedecendo às regras estéticas e morfológicas. Elaborada pelas mulheres, divide‑se o corpo em áreas que, sujeitam‑se às formas geométricas dos signos visuais e critérios como sexo, idade e atividade que exerce. A posição que ocupa no grupo é um traço importante para muitos povos indígenas, como os Xerente. Observe: A pintura corporal Xavante marca, antes de mais nada, a participação do indivíduo em rituais e cerimônias, separando o cotidiano e a esfera doméstica da vida pública e cerimonial. Ela é exercida predominantemente pelos homens, os quais, por isso mesmo, são os que mais frequentemente se ornamentam. As mulheres o fazem, principalmente, em duas ocasiões: o casamento e a nominação (VIDAL, 2000, p. 134). 25 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 ARTES VISUAIS BRASILEIRAS A pintura corporal nos povos Kayapó difere entre as crianças e os adultos, mas ambos os sexos recebem o mesmo desenho. As mães passam horas ornamentando seus filhos, pois sabem da importância que têm no processo de socialização da criança; por sua vez, ela serve como laboratório e tela da jovem mãe, que ensaia, aprende e se qualifica como pintora. Figura 22 – Menina com pintura facial de jenipapo Figura 23 – Sequência de aplicação do motivo decorativo Observação Os Asurini do Tocantins – índios da família linguística tupi‑guarani – residem na Reserva Indígena do Trocará, localizada na margem esquerda do rio Tocantins, a 24 quilômetros ao norte do Tucuruí, cidade conhecida pela hidrelétrica ali construída. A população, que já esteve reduzida a aproximadamente 30 indivíduos na década de 1960, é atualmente de 150 pessoas. 26 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 Unidade I Saiba mais Para saber mais sobre os Asurini do Tocantins, leia: VIDAL, L. (Org.). Grafismo indígena: estudos de antropologia estética. 2. ed. São Paulo: Edusp, 2000. Entre as mulheres Xikrin, a pintura facial e corporal é organizada em sessões coletivas a cada oito dias mais ou menos. Pertencem a essa sociedade das mulheres somente as casadas e com filhos, que escolhem com antecedência o motivo decorativo, que deve ser o mesmo no corpo e podendo variar na face. Sobre essa ocasião da vida dos Xikrin, a autora expõe o seguinte: Exigem‑se muito tempo e prática para o domínio da técnica de aplicação correta dos desenhos no corpo. O produto final é uma obra de arte culturalmente orientada, na qual o ideal está relacionado à perfeição da técnica e ao prazer estético intimamente ligado a um sentimento de valorização pessoal e grupal (VIDAL, 2000, p. 147). Figura 24 – Instrumentos da pintura Xikrin: feixe de estiletes feitos com nervura de folha de babaçu, recipiente de ouriço de coco‑inajá contendo jenipapo misturado com água e carvão, pentes riscadores e carimbos 27 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 ARTES VISUAIS BRASILEIRAS 1. 4. 2. 5. 3. 6. Figura 25 – Desenhos‑base para a face. 1 e 2) Variante do desenho duas faces, 3) Atravessado,4) Rabo de peixe, 5) Resguardo feminino e 6) Resguardo masculino Outro exemplo de como a pintura corporal possui um sistema visual rigidamente estruturado são os corpos decorados dos povos Kayapó‑Xikrin por sinais gráficos que simbolizam a vida social comunitária e em atividades próprias a cada sexo e idade, mesmo que seja uma fase transitória. Funcionam como a exposição de uma comunicação publicamente por intermédio de mensagens visuais, como demonstra a autora: O resguardo e o seu fim pelo nascimento do primogênito de um casal afetam um certo número de pessoas da aldeia durante um período de tempo. Esse fato se expressa na pintura do corpo, pois cada pessoa recebe uma diferente, obedecendo‑se a uma sequência própria a cada categoria e com duração variável de acordo com o grau de proximidade com o recém‑nascido. Cada cor ou substância (jenipapo, urucum, carvão e resina) possui, em dado contexto e momento, um significado particular (VIDAL, 2000, p. 158). Interessante são os conjuntos de pinturas corporais referentes aos rituais de iniciação e a ocasiões especiais do homem Xikrin, como podemos observar na imagem a seguir: 28 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 Unidade I 1. 2. 3. 4. 5. Figura 26 – Pinturas masculinas para ocasiões especiais: 1) a‑mi‑kra: dedo de jacaré, fim do ritual de iniciação masculina, 2) djoi‑mrõ‑ko: fim de resguardo, 3) katob‑ôk: pintura cerimonial, 4) me‑ã‑tonk: pintura cerimonial, 5) mêmu‑bitchiangki: fim de resguardo Figura 27 – À esquerda, forma de aplicação da pintura corporal, e à direita, a mão paleta da pintora Xikrin Figura 28 – Pintura corporal Asurini 29 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 ARTES VISUAIS BRASILEIRAS 2.1.2 Cerâmica e cestaria Assim como cada povo indígena possui suas características, técnicas e outras peculiaridades na pintura corporal, a produção da cerâmica e da cestaria não é diferente. São manifestações culturais que expressam a identidade da tribo, de seus indivíduos e das atividades atribuídas a cada um deles. Como ainda observamos anteriormente, o grafismo também é predominante na cerâmica e no entrelaçamento (ou cestaria). Nas imagens subsequentes podemos observar a arte gráfica desenhada criada pelas mulheres Asurini na produção de suas cerâmicas: Figura 29 – Desenhos feitos por mulheres Asurini no papel 30 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 Unidade I A) C) B) D) Figura 30 – Cerâmica japepaí, utilizada nos principais rituais Asurini para servir mingau. Trata‑se da mesma forma da grande parte da cozinha, objeto símbolo da atividade de subsistência feminina por excelência. (A e B) padrão tayngava, (C) motivo kwasiarapana, (D) padrão tayngava Fator predominante na economia de alguns povos indígenas, a produção da cerâmica utiliza técnicas tradicionais, como podemos visualizar na sequência de imagens da produção entre os Kadiwéu: 31 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 ARTES VISUAIS BRASILEIRAS A) Superposição roletes de barro C) Detalhe da pintura – utilização de resina do pau‑santo E) Acabamento com os barros coloridos B) Utilização do cordão de caraguatá D) Pintura com o branco da cal sobre as marcas do cordão F) Peças finalizadas Figura 31 – (A‑F) Etapas da confecção da cerâmica Kadiwéu Entre as cerâmicas mais antigas feitas por indígenas brasileiros está a marajoara, produzida pelas índias da Ilha de Marajó. Sofisticadas e extremamente elaboradas, as mais antigas compreendem os anos entre 600 e 1.200 d.C. Estudos arqueológicos mostram que a região foi ocupada por agricultores e ceramistas provenientes dos Andes, o que explica o grau de acabamento muito detalhado em baixo e alto‑relevo, ou seja, produzidos por grupos com elevado nível de organização em camadas sociais. 32 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 Unidade I Além da sofisticação, a cerâmica marajoara apresenta grande diversidade de objetos que vai além dos famosos vasos, como estatuetas, carrancas, brinquedos, urnas funerárias, apitos, chocalhos e até tangas (tapa‑sexo). Figura 32 – Tanga de cerâmica, 19,9 x 14,1 cm, fase marajoara, procedente do Lago de Arari, Ilha de Marajó, PA, coleção do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP – MAE – USP Símbolo da cultura e objeto, a cestaria, como outras manifestações artísticas, materializa a subjetividade do grupo indígena, constituindo‑se em linguagem da vida cotidiana, mas expondo ainda referências mais profundas e complexas, como a ancestralidade, o sagrado e a natureza, como corrobora a autora: A arte do trançado é uma das mais antigas que o homem conhece. Representa diferentes categorias artesanais indígenas e revela seu modo de vida e sua adaptação ao meio. As formas e técnicas de entrelaçamentos representam as tramas sociais e uma visão cosmológica particular (IOKOI, 1998, p. 63). O povo Munduruku, do sul do Pará, é conhecido pela habilidade na produção da cestaria. O cesto carqueiro é confeccionado com palha de tucumã, costurado com cordéis de caroá e uma alça de envira. Ele é oferecido à esposa ou filha solteira, sendo usado no transporte de frutos e apetrechos de viagem. A pintura vermelha é produzida com urucum, e o grafismo dela informa o clã da linhagem paterna à qual pertence o artista. Figura 33 – Krikati, Cesto cargueiro Figura 34 – Técnica de entrelaçamento 33 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 ARTES VISUAIS BRASILEIRAS O trançado dos Wayana, habitantes do norte do Pará, por sua vez, representa “suas concepções a respeito da formação e constituição do universo, e essas concepções podem ser percebidas e compreendidas pelos membros dessa sociedade” (IOKOI, 1998, p. 64). O grafismo do cesto cargueiro Wayana destaca formas míticas, como a anaconda, a cobra sobrenatural. Figura 35 – Cesto que simula a malha das cobras urutu e coral confeccionado como antigamente (sem coloração) Figura 36 – Coroa trançada em processo de confecção: talas de pecíolo do buriti entramadas com cascas do cipó imbê. Índios Juruná, Rio Manitsauá‑misu (Parque Indígena do Xingu) 34 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 Unidade I Figura 37 – Artesã Guarani M’byá no início da confecção de um cesto 2.2 Arte plumária Considerada a maior manifestação artística do índio brasileiro, a arte plumária é a personalização corporal de seu grupo étnico e mítico produzida pela combinação de penas, plumas e penugens de aves. Traduz esteticamente simbologias e mensagens sobre sexo, idade, posição social, cargo político, filiação e importância cerimonial. Para a tribo Kayapó‑Xikrin, a plumária é uma simbologia mítica, já que as aves, habitantes dos céus, são a luz eterna e origem de seus ancestrais e são símbolos de conquista da sua existência, diferenciando‑os dos demais. Figura 38 – Kayapó‑Xikrin do Cateté. Ritual de iniciação masculina tokok Rica e variada, utiliza‑se de resinas para ter a durabilidade necessária para suportar as danças, cerimônias e comemorações que podem durar vários dias. 35 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 ARTES VISUAIS BRASILEIRAS Figura 39 – Coroa radial da tribo Asurini usada por homens em danças rituais. A emplumação é feitade rêmiges primárias e secundárias de gavião‑carijó; rêmiges primárias, retrizes e coberteiras da asa de socó‑boi, apresentando, igualmente, plumas dorsais e rêmiges secundárias da fêmea da espécie. Também é confeccionada para comercialização Os membros da tribo Bororo se distinguem uns dos outros, além de seus próprios nomes e demais objetos variados, pelo emprego das penas de determinadas aves na ornamentação de seus corpos. Considerada uma das mais suntuosas, a arte plumária Bororo utiliza uma enorme variedade de penas e tamanhos, e varetas como suportes. Figura 40 – Diadema. Bororo Ocidental (do Jauru). Emplumação de coberteiras da asa de arara‑vermelha e suporte de cordel‑base de fibra de tucum 36 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 Unidade I A arte plumária é uma tarefa elaborada exclusivamante pelos homens da tribo, que recolhem as penas e plumas durante as caçadas guardando‑as em um estojo de bambu, ou criam as aves desde filhotes. Estas são alimentadas pelas mulheres e crianças, passando a maior parte da vida sem a plumagem. A plumária possui uma variedade de utilidades como diademas, braceletes, cocares, bandoleiras, testeiras, colares, coroas, narigueiras, capacetes, viseiras, braçadeiras, além de ornamentos dorsais e flechas. Figura 41 – Coroa vertical Guarani, emplumação de plumas dorsais de ema e suporte de aro trançado com fasquias de taquara e fitas de cipó‑imbé Figura 42 – Mantelete Chamacoco, emplumação de rêmiges secundárias, plumas dorsais e do ventre de pato‑selvagem; rêmiges secundárias, retrizes e plumas do corpo em geral, da cabeça, do encontro da asa e do calção, em particular, de papagaio‑verdadeiro; plumas de dorso de socó‑boi; plumas dorsais e/ou coberteiras da asa de tachã, retrizes de aracuã‑do‑pantanal; retrizes de gralha‑picaça; plumas de arara‑vermelha; retrizes e coberteiras da asa de falconiformes; plumas da região abdominal de cracídeo 37 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 ARTES VISUAIS BRASILEIRAS Além desses objetos mencionados, há ainda uma rica diversidade de outras manifestações artísticas elaboradas a partir das necessidades de cada povo, aproveitando a matéria‑prima existente em seu habitat. Veja a diversidade desses objetos executados por diversas tribos brasileiras: Figura 43 – Muiraquitã. Esteatita, Pará, 64 x 57 mm Figura 44 – Bonecas. Índios Karajá e Ramkokamekrá‑Canela 38 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 Unidade I Figura 45 – Boneco de cera. Índios Tapirapé, MT, alt. 490 mm. Máscaras, índios Tukuna, AM Figura 46 – Viradores de beiju e paus de cavar. Índios Waurá, MT 39 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 ARTES VISUAIS BRASILEIRAS Figura 47 – Bordunas (armas). Da esquerda para a direita: Bororo, Krahó, Kayapó‑Gorotire, Karajá, Tukano e provavelmente Kayapó Figura 48 – Banco monóxilo zoomorfo. Índios Guarani, SP, 460 x 110 x 140 mm. Estatueta antropomorfa de cerâmica. Santarém, PA, 270 x 180 mm 3 A ARTE COLONIAL NO BRASIL 3.1 O período jesuítico A arte no primeiro período colonial no Brasil se constitui principalmente pelo estilo jesuítico influenciado diretamente por Portugal, projetado nas construções de igrejas, com influência mais forte onde a Colônia era mais ativa, ou seja, em cidades costeiras como Salvador, Bahia (a primeira capital do Brasil Colônia). Nesse cinturão costeiro, localiza‑se um terço das igrejas construídas no período colonial, que engloba, além de Salvador, Recife e Rio de Janeiro. 40 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 Unidade I Os missionários jesuítas da Companhia de Jesus no Brasil Colônia (1549‑1759), em um primeiro momento, se concentraram na tarefa de criar assentamentos indígenas. Depois voltaram sua energia para a educação dos índios a fim de promover a essencial conversão católica. Apesar de esta ser o alvo principal, a Coroa Portuguesa dependia dos jesuítas na educação dos filhos dos colonos e assumiram, ainda, a formação de candidatos ao sacerdócio. De missionários e professores, a partir do segundo século de colonização, os jesuítas passaram a ser empreendedores entre os primeiros construtores da colônia, tornando‑se ainda os principais expoentes do desenvolvimento da arquitetura e das artes no Brasil, como explica o autor: Com efeito, ainda hoje está em uso a expressão estilo jesuítico, para descrever toda uma fase de arquitetura e decoração do primeiro período colonial, que abrange também obras sem conexão direta com os próprios jesuítas. Entretanto, a designação não é imprópria, uma vez que a Companhia constituía naquele período o canal de transmissão mais influente da cultura europeia para a América portuguesa (BURY, 2006, p. 64). Entre as maiores contribuições arquitetônicas jesuíticas estão as igrejas da Companhia em Salvador, antiga igreja do Colégio dos Missionários (atual Catedral de Salvador), de 1672, e de Belém do Pará (atual igreja de Santo Alexandre), construída em 1719. Figura 49 – Catedral de Salvador, Bahia 41 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 ARTES VISUAIS BRASILEIRAS Figura 50 – Igreja de Santo Alexandre, Belém do Pará A Companhia de Jesus no Brasil Colônia foi expulsa em 1759, e a ideia de arte jesuítica que abrange todo o barroco brasileiro apresenta‑se como o que temos de mais antigo. Nesse período introduzia‑se no Brasil o barroco tardio italiano, logo seguido pelo rococó francês. Saiba mais O Barroco foi um estilo caracterizado por sua oposição aos conceitos de simetria, proporcionalidade, racionalidade e equilíbrio, tão importantes no Renascimento. A arte barroca primou a assimetria, o excesso, o expressivo e a irregularidade. Mais informações podem ser encontradas em: AMARAL, W. L. Barroco e Rococó nas igrejas de Minas. Joinville: Clube de Autores, 2015. Certamente as igrejas foram as obras arquitetônicas jesuíticas mais importantes da Companhia, porém a Ordem construiu outras edificações de grande valor, como o Solar de São Cristóvão, em Salvador. Fundado no século XVI, tinha 18 quartos e era usado pelos padres e alunos do colégio, mas que, em 1784, foi transformado em leprosário, tendo sua estrutura sofrido grandes alterações, mas conservando suas feições básicas do projeto original. 42 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 Unidade I Saiba mais Em vista da proeminência dos jesuítas como aristocracia intelectual e cultural da Colônia, e do interesse de seus monumentos, a destruição e a desfiguração em larga escala que os atingiu são lastimáveis para o patrimônio brasileiro. Outros dados estão em: BURY, J. Arquitetura e arte no Brasil Colonial. In: OLIVEIRA, M. A. R. (Org.). Brasília: Iphan/Monumenta, 2006. No Brasil, o rococó é uma das fases do Barroco (e foi se desenvolvendo paralelamente), enquanto o segundo pode ser definido em quatro fases distintas: • 1ª fase: barroco jesuítico, caracterizada por altares e retábulos muito altos e com influência renascentista; • 2ª fase: período da antiguidade mineira, surgiu entre 1710 e 1730, e é marcada por fachadas simples e requinte interior, colunas retorcidas ou torsas, ornamentos com motivos fitomorfos e zoomorfos, arcos concêntricos e envoltórios dourados ou policromos em azul e vermelho; • 3ª fase: irrompe em Minas Gerais entre 1730e 1760, distingue‑se pelos dosséis no alto dos retábulos, fachadas um pouco mais elaboradas com trabalhos de cantaria, excesso de motivos ornamentais predominantemente escultóricos, revestimentos em branco e dourado e falsas cortinas com anjos; • 4ª fase: nasceu também em Minas Gerais a partir de 1760, destaca‑se pela alteração dos retábulos, falta de dosséis, maior harmonia dos ornatos, mais simplificados, pelas fachadas mais elaboradas com composição escultórica no estilo rococó, com invólucros de fundo branco e dourado nas partes principais. A seguir o autor nos auxilia, antes de adentrar no universo do barroco mineiro, na definição de Barroco: Quanto à origem da palavra barroco, existem várias posições[,] sendo que a mais aceita é a de que a palavra teria originado da palavra espanhola barrueco, usado pelos joalheiros para designar um tipo de pérola irregular. [...] O estilo barroco traduz a tentativa angustiante de conciliar forças antagônicas: bem e mal; Deus e Diabo; céu e terra; pureza e pecado; alegria e tristeza; paganismo e cristianismo; espírito e matéria. Relações que contrariavam o racionalismo da arte renascentista (AMARAL, 2015, p. 11). 43 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 ARTES VISUAIS BRASILEIRAS Observação Apesar da classificação das fases do Barroco, é importante observar que grande parte das igrejas mineiras demorou muito tempo para ser concluída e, dessa forma, podemos perceber a mistura de vários períodos do barroco mineiro em uma só igreja. Passado o período dos imigrantes portugueses, uma geração de nativos, entre eles muitos mestiços e mulatos (como o artista Aleijadinho), formava‑se juntamente a muitas mudanças sociais, principalmente no estado de Minas Gerais, devido à descoberta de ouro e diamantes na região. Entre a primeira e segunda fase do Barroco, podemos verificar a diferença e transição de estilos no conjunto arquitetônico de Congonhas do Campo, projetado por Aleijadinho. Enquanto a igreja ainda conserva o estilo jesuítico, predominando severas linhas retangulares, e mesmo ainda tendo incorporado novos elementos no projeto, o Adro, construído muitos anos depois, mostra‑nos o estilo barroco de Aleijadinho, dando lugar a complexas curvas e representando um desvio drástico e radical do estilo anterior, e não uma mera modificação. As severas linhas retangulares do estilo jesuítico dão lugar a complexas curvas; as fachadas das igrejas são decoradas com esculturas em alto‑relevo; a ornamentação aplicada aos altares e em todo o interior é intermitente e mais contida, menos imponente que a suntuosa decoração do estilo jesuítico, porém mais sutil e harmoniosa (BURY, 2006, p. 44). Entre os anos de 1717 e 1721, Minas Gerias atingiu seu ápice na produção aurífera, e, por volta de 1760, várias cidades se transformaram em centros urbanos e surgiram as grandes igrejas matrizes, como a de Vila Rica, de Mariana, de Congonhas do Campo, de Sabará, de Barbacena e de São João Del‑Rei, a maioria de influência jesuítica. A partir daí foram introduzindo novas formas barrocas e conceitos rococó oriundos da Europa. 44 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 Unidade I Figura 51 – Fachada da igreja matriz de Nossa Senhora da Piedade, em Barbacena, Minas Gerais, construída no segundo quartel do século XVIII e consagrada em 1748 Dessa miscelânea de formas viu‑se emergir um estilo arquitetônico original, batizado de estilo Aleijadinho, em homenagem ao seu maior expoente. Esse período foi marcado pelas aspirações de emancipar o Brasil de Portugal, como explana o autor: Na arquitetura, tais aspirações conduziriam à criação de um estilo brasileiro original e, na política, a um Brasil independente. Se fracassaram politicamente com a malsucedida conspiração ou Inconfidência, de 1789; na arquitetura, em compensação, obtiveram sucesso. Desenvolveram na colônia um estilo próprio que, pela primeira vez no Brasil, superou a mera imitação de modelos europeus. A originalidade não mais resultava, como anteriormente, de execução inábil ou do provincianismo (BURY, 2006, p. 110). O estilo Aleijadinho, tanto na arquitetura como na escultura, tem seu monumento clássico na igreja de São Francisco de Assis, em São João Del‑Rei. Aleijadinho manteve o habitual traçado português da fachada, porém todos os princípios e concepções do estilo jesuítico foram abandonados. Eles estão nas torres da igreja, onde se manifesta mais nitidamente essa emancipação arquitetônica: elas possuem “formato cilíndrico, guarnecidas por balaustradas e encimadas por elegantes cúpulas semiovais coroadas de obeliscos” (BURY, 2006, p. 112). 45 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 ARTES VISUAIS BRASILEIRAS Figura 52 – Fachada da igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, de São João Del‑Rei. Iniciada em 1774 e terminada durante o primeiro quartel do século XIX. O projeto é atribuído a Aleijadinho, sendo considerado uma de suas obras‑primas Apesar de a igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, de São João Del‑Rei, ser considerada a obra que mais representa as características do estilo Aleijadinho, outras de transição mostram o seu desenvolvimento, como as igrejas da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, de Sabará, de Ouro Preto, de São João Del‑Rei e de Mariana. Figura 53 – Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, de Ouro Preto. Iniciada em 1776. A tradição atribui o projeto a Aleijadinho, que recebeu pagamento para fazer a ornamentação interna entre 1771 e 1794 46 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 Unidade I Figura 54 – Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, de Sabará. Iniciada pelo pedreiro Tiago Moreira em 1763, teve sua fachada refeita por Aleijadinho em 1771 Figura 55 – Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, de Mariana 47 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 ARTES VISUAIS BRASILEIRAS Figura 56 – Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, de Ouro Preto. A igreja é o exemplo máximo da transição do maneirismo local para o rococó. Iniciada em 1776 por Manoel Francisco Lisboa (pai do Aleijadinho), o corpo do edifício pertence ao primeiro estilo, mas a fachada revela claramente a inspiração do Aleijadinho, podendo ser considerada uma de suas obras‑primas No que se refere à ornamentação, o estilo Aleijadinho busca a originalidade em sua combinação, e o aspecto mais marcante é ser esculpida em alto‑relevo estilo rococó. A pedra‑sabão local propiciava bons acabamentos devido a sua maciez, além de uma variedade de tonalidades que obtém efeitos ornamentais. Diante disso, apesar da fachada entalhada das igrejas não ser uma novidade no século XVII, Aleijadinho a tornou inédita, complexa e delicada. O ineditismo também se nota no aspecto arquitetônico do estilo Aleijadinho, particularmente na diferença da procedência portuguesa do rococó, e que se evidencia no “tratamento da ornamentação – relação de equilíbrio entre os elementos decorativos estruturais – como no gracioso efeito alcançado pelo uso de seções curvas nas paredes, harmoniosamente relacionadas entre si e com as superfícies planas adjacentes” (BURY, 2006, p. 118). 3.2 O Aleijadinho Maior artista do barroco mineiro, Antônio Francisco Lisboa, vulgo Aleijadinho, nasceu em Vila Rica (atual Ouro Preto) em 1738. Filho de um mestre de obras e senhor de escravos português, Manoel Francisco Lisboa, e de uma escrava africana provavelmente de nomeIsabel, aos 60 anos Aleijadinho foi contratado para esculpir 64 imagens de madeira e 12 estátuas de pedra para a igreja de Congonhas do Campo (1800‑1805), período em que os sintomas da doença degenerativa que o acometeu (e que permanece inconclusiva até hoje) estavam em seu pior estágio até aquele momento. 48 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 Unidade I Adepto à leitura da bíblia e entusiasta de esculturas sacras, em 1790 Aleijadinho já estava tão doente, que era carregado para onde quer que fosse, e seu trabalho era executado com formões e marretas amarrados às mãos, que se atrofiaram e curvaram, chegando a cair, restando‑lhe somente os polegares e os indicadores sem movimento. Como se não bastassem as fortíssimas dores, perdeu todos os dentes e sua face e corpo se deformaram, adquirindo um aspecto assustador e asqueroso, como observa o autor: Qualquer que tenha sido a doença do Aleijadinho e a natureza exata dos sintomas, é claro que seu corpo ficou horrivelmente deformado. [...] A curiosidade e os olhares indiscretos provocados pela sua aparência humilhavam e mortificavam sua natureza orgulhosa e sensível. Tornou‑se amargo, desconfiado e sujeito a violentos acessos de raiva (BURY, 2006, p. 31). A carreira inicial de Aleijadinho é associada ao estilo rococó curvilíneo e tridimensional, principalmente nas fachadas das igrejas que projetou, e que representa uma revolução criativa na arquitetura. Sua vida artística pode ser dividida em três períodos distintos: • 1º período (1770‑1794) – igrejas franciscanas de Ouro Preto (fachada e interior) e de São João Del‑Rei (fachada) e igrejas carmelitas de Ouro Preto (fachada e interior) e Sabará (fachada e interior), e outra meia dúzia de igrejas e capelas particulares pertencentes a fazendeiros, mas de pouca importância artística comparada às demais. • 2º período (1795‑1807) – Santuário dos Profetas em Congonhas do Campo, que constitui o Adro e o Jardim dos Passos. • 3º período (1807‑1812) – incapacitado pela doença, somente dirigiu e inspecionou o trabalho de seus assistentes, um deles seu escravo Maurício. Ficou cego em 1812 e morreu em 1814. Seu corpo foi sepultado na Matriz Nossa Senhora da Conceição, em Ouro Preto. Seu trabalho suntuoso e requintado encontra‑se espalhado pela cidade de Ouro Preto, Sabará, Congonhas do Campo e em outras cidades mineiras. Localizada na região montanhosa de Minas Gerias, Congonhas do Campo possui o magnífico cenário de onde se ergueu a Igreja do Bom Jesus de Matosinhos dos Profetas em 1761, o Adro no fim do século XVIII e as estátuas no início do século subsequente. O conjunto arquitetado por Aleijadinho representa o ápice de seu desenvolvimento como artista e o reconhecimento do estilo perpetuado por ele. 49 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 ARTES VISUAIS BRASILEIRAS Figura 57 – Adro dos Profetas e Jardim dos Passos. Santuário de Congonhas Para se chegar à igreja, passa‑se por uma série de capelas chamadas Passos, e que cada uma delas representa as cenas da Paixão de Cristo por grupos de imagens em tamanho natural esculpidas em madeira por Aleijadinho. No fim da ladeira, encontram‑se o Adro dos 12 profetas, estátuas também em tamanho natural esculpidas em pedra‑sabão pelo artista. Figura 58 – Passo da prisão. Santuário de Congonhas 50 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 Unidade I 1. Isaias 2. Jeremias 3. Baruc 4. Ezequiel 5. Daniel 6. Oséias 7. Jonas 8. Joel 5 8 109 3 4 21 1211 7 6 9. Amós 10. Naum 11. Abdias 12. Habacuc Figura 59 – Prospecto do Adro dos Profetas Sobre a relação entre a arquitetura e a escultura em Congonhas do Campo e a diferença nas fachadas das igrejas executadas por Aleijadinho no período anterior, observa‑se que nas igrejas a escultura tem papel subordinado, enquanto em Congonhas ela domina a arquitetura, como esclarece o autor: Entretanto em nenhum dos dois períodos de sua carreira é possível estabelecer uma distinção nítida ente sua atuação como escultor e como arquiteto. Claro que nem ele nem seus contemporâneos consideravam a fachada ou adro fronteiro de uma igreja e seus elementos ornamentais como trabalhos independentes e separados. Portanto, apesar do papel predominante desempenhado pelos profetas, eles não podem ser apreciados de um ponto de vista limitado à escultura. Ao contrário, constituem apenas uma parte, ainda que central, de vários elementos interdependentes que formam o grandioso projeto de Congonhas, abrangendo todo o conjunto da igreja e seus monumentos satélites (BURY, 2006, p. 43). O conjunto arquitetônico projetado por Aleijadinho trata de uma solução extremamente adequada, na qual as esculturas desempenham seu tradicional papel arquitetônico constituindo uma sequência de pináculos nas quais as linhas ascendentes formam o contraste necessário com os parapeitos planos e horizontais. Dessa forma podemos observar que Aleijadinho utilizou as linhas e volumes de suas esculturas estilizadas com arrojada assimetria, libertando todo o conjunto da rigidez, proporcionando movimento e ritmo ao projeto. 51 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 ARTES VISUAIS BRASILEIRAS Figura 60 – A Igreja do Bom Jesus de Matosinhos dos Profetas Figura 61 – Profetas do Santuário de Congonhas do Campo Figura 62 – Entrada do Adro dos Profetas, com Isaías e Jeremias em primeiro plano 52 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 Unidade I Figura 63 – Passo do Senhor com a ”Cruz às costas”. Santuário de Congonhas 4 ARTE IMPERIAL 4.1 Fotografia e ofícios no Brasil A daguerreotipia trouxe sem sombras de dúvidas grandes avanços para a fotografia e a possibilidade dessa arte tornar‑se um ofício e ganha‑pão de muitos adeptos. O processo inventado por Louis Jacques Mandé Daguerre (1787‑1851) consistia: [...] em uma placa de cobre amalgamada a uma fina lâmina de prata cuja superfície, extremamente polida, lembrava um espelho. Essa superfície era tornada fotossensível por meio de iodeto de prata. A imagem obtida diretamente na placa já era o produto final (KOSSOY, 2002, p. 23). O potencial de consumo foi logo absorvido pelos pioneiros da fotografia, e nesse sentido podemos afirmar que a fotografia foi desde seu início utilizada para fins comerciais. Segundo Kossoy (2002) D. Pedro II foi um aficionado pela fotografia, e esse fato muito ajudou a proliferação da técnica em nosso país: Outros eventos que ocorrem posteriormente ilustram a receptividade do Brasil em relação à fotografia no momento mesmo em que ela começa a ser exportada pela Europa enquanto produto cultural, artístico e comercial. Em 1840 D. Pedro II assume o trono do Brasil. É conhecido o interesse que ele, desde muito jovem, manteve pela fotografia; o depoimento do reverendo norte‑americano Daniel Parish Kidder acerca da atividade do daguerreotipista Augustus Morand, no Rio de janeiro, em 1842 (e a curiosidade que o novo processo despertou no imperador), além do relato extraído do diário do 53 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 ARTES VISUAIS BRASILEIRAS príncipe Adalberto da Prússia, comentando as experiências do próprio Pedro II com a daguerreotipia (também na mesma época), bem atestam essa antiga ligação do monarca com o recém‑descoberto sistema de representação visual (KOSSOY, 2002, p. 15). A principal atividade desenvolvidapelos fotógrafos no mundo todo foi a arte do retrato, porém foi muito usada para fins de documentação. Devido ao desejo de representação, as pessoas aderiram fortemente ao retrato fotográfico, visto que se contratar uma pintura seria muito mais caro e de acesso somente aos nobres e pessoas de maiores posses. Os fotógrafos divulgavam seus serviços através de anúncios, cada qual detalhando suas especialidades, veja dois anúncios: Figura 64 – Anúncio de Marc Ferrez do fim da década de 1870 Anteriormente, vimos o anúncio de Marc Ferrez do fim da década de 1870. Nessa época já se destacava nacionalmente pela sua principal atividade, que era a de execução de vistas e paisagens fotográficas. Figura 65 – Anúncio de José Ferreira Guimarães do fim da década de 1870 54 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 Unidade I Observamos o anúncio de José Ferreira Guimarães do fim da década de 1870, no qual destaca seus retratos inalteráveis sobre esmalte. Guimarães, de nacionalidade portuguesa, foi um dos mais afamados retratistas do país. Kossoy (2002, p. 24) complementa: Através dos anúncios nos periódicos[,] os fotógrafos divulgavam quase exclusivamente informações sobre suas atividades enquanto retratistas, por exemplo, os sistemas fotográficos empregados, os formatos e acabamentos utilizados para a execução dos retratos, os preços que cobravam pelos serviços e outros dados afins conectados a essa produção, como sugestões quanto ao vestuário apropriado a ser usado, os cenários de que dispunham etc. Entretanto devemos ressaltar aqui que é ainda a mobilidade do ambulante, que sai à procura e divulgação do seu trabalho, que propaga ainda mais a daguerreotipia no Brasil. Muitos retratos foram feitos fora dos estúdios sofisticados com cenários ornamentados. Os ambulantes viajavam por diversas cidades do interior e capitais costeiras em busca de clientes e dessa maneira iam retratando crianças, adultos, idosos e grupos de famílias. Fotógrafos esses que acabaram por perpetuar a fixação da imagem do homem brasileiro. Foram esses desconhecidos viajantes que, com suas pesadas câmaras e estranhos equipamentos, captaram a imagem do indivíduo e do grupo familiar: suas fisionomias, seus ritos de passagem, seus eventos mais representativos. Representações que, gravadas nos diferentes suportes fotográficos, são vestígios documentais de múltiplas existências: deles próprios enquanto retratistas e de seus retratados. Dentre esses fotógrafos, muitos se anunciavam nos periódicos das cidades por onde passavam. Outros tantos (jamais saberemos quantos) nunca se anunciaram. Alguns se aventuraram na profissão, não tiveram sucesso e mudaram de ramo, outros se estabeleceram por períodos mais longos. Alguns, poucos, obtiveram a permissão da Corte de se promover como fotógrafos de “SS. MM. Imperiaes” (KOSSOY, 2002, p. 25‑6). Contudo a maioria dos fotógrafos não foi condecorada com tal distinção, mas podemos afirmar que a contribuição fotográfica que tiveram foi tão importante quanto a dos outros para a memória fotográfica do Brasil. Nas décadas de 1840 a 1850, a presença de fotógrafos europeus no Brasil era algo muito significativo, visto que existiam aproximadamente 30 retratistas em atividade no país. Na sua maioria eram franceses, ingleses (norte‑americanos), alemães, suíços etc., podendo ter alguns anônimos nesse meio, porém com pequena chance de serem brasileiros. 55 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 ARTES VISUAIS BRASILEIRAS De 1850 a 1860, o número de fotógrafos cresceu, “já eram cerca de noventa fotógrafos em atividade. Alguns deles – poucos, aliás – já se encontravam operando desde a década anterior [...]” (KOSSOY, 2002, p. 26). Posteriormente houve uma inversão, nos anos de 1860‑1869 encontrava‑se em atividade mais de 200 fotógrafos. Deles, apenas 40% eram estrangeiros, porém essa queda no número de estrangeiros dependia da região do país. Conclui: Nas Províncias (depois Estados) do sul, a presença de estrangeiros na profissão foi sempre acentuada ao longo de todo o século XIX e princípio do XX. O exemplo da cidade de São Paulo é significativo: na década de 1880, dos nove fotógrafos atuando na cidade[,] apenas dois eram nacionais. O primeiro salto significativo decorrente da economia cafeeira acaba repercutindo na fotografia. Na última década do século[,] mais que quadruplica o número de estabelecimentos da modalidade. Seus proprietários eram estrangeiros em uma proporção de 90% e, deles, 27% de origem italiana. Na primeira década do século XX[,] eram 34 os estúdios na cidade, sendo sempre os estrangeiros a dominar o negócio fotográfico (88%). Desse total, 50% dos fotógrafos eram italianos, isto é, praticamente dobraria o número de peninsulares em relação à década anterior (KOSSOY, 2002, p. 26‑7). Foi no Rio de janeiro que se concentrou o maior número de estabelecimentos no ramo fotográfico. Podemos dizer que 50% dos fotógrafos daguerreotipistas se encontravam na cidade carioca e a outra metade distribuída pelas demais províncias do Brasil. Com o passar dos anos, essa porcentagem foi caindo e estados como São Paulo foram crescendo, tanto nas cidades do interior como na capital, que na primeira década do século XX já contava com 27% dos estabelecimentos do país. 4.2 Preços dos retratos praticados no País Os dados a seguir, extraídos dos verbetes, permitem‑nos mostrar tabelas de preços em réis praticados em diferentes pontos do País durante o século XIX. Tabela 1 – Período 1840‑1849 Ano Produto/serviço Preço Nome Local 1842 daguerreótipo $ 5000 Schmidt, H. Rio de Janeiro 1843 ‘‘ $ 5000 Anônimo 1 Bahia 1844 ‘‘ $ 5000 Gerbig, C. Rio de Janeiro 1845 ‘‘ $ 6000 Roberto Pernambuco 1847 ‘‘ $ 5000 Micolci, C. Bahia 1848 ‘‘ $ 5000 Walter, F. Ceará Fonte: Kossoy (2002, p. 29). 56 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 08 /1 6 Unidade I Por esses dados, vê‑se que o preço de um retrato pelo sistema de daguerreotipia era praticamente o mesmo ao longo dos primeiros anos que se seguiram à introdução da fotografia. Tabela 2 – Período 1850‑1859 Ano Produto/serviço Preço Nome Local 1850 daguerreótipo $ 4000 Paul, J. Rio de Janeiro 1850 calótipo $ 3000 Anônimo 7 Rio de Janeiro 1857 daguerreótipo $ 6000 a $ 16000 Villela, J. F. Pernambuco 1859 ambrótipo $ 3000 a $ 30000 Azzaly, J. Santa Catarina Fonte: Kossoy (2002, p. 30). Nesta década os preços dos retratos através de diferentes sistemas (o sistema negativo‑positivo ainda não se achava francamente disseminado) são bastante variáveis. Podemos ter uma ideia do valor desses produtos fotográficos se o compararmos com os de outros artigos à venda, em réis, no Rio de Janeiro, conforme anúncios no principal periódico: Tabela 3 – Exemplos de valores comparativos Produto Preço bacalhau (arroba*) $ 2500 chouriço (libra*) $ 320 gravata de seda ou cetim $ 1500 a $ 2400 luvas de pelica $ 320 a $ 1200 papel de parede (peça) $ 1000 peras em lata de Lisboa (libra**) $ 1200 tecidos para escravos $ 140 *equivale a 14, 69 quilos **equivale a 459,5 gramas Fonte: Kossoy (2002, p. 30). Tabela 4 – Período 1860‑1869 Ano Produto/serviço Preço Nome Local 1862 carte de visite (dúzia) $ 15000 Camara, N. P. São Paulo ambrótipo $ 2 a $ 10000 Camara, N. P. São Paulo 1863 carte de visite (dúzia) $ 15000 Basto, M. Rio de Janeiro ambrótipo $ 3 a $ 12000 Basto, M. Rio de Janeiro 1863 carte de visite (dúzia) $ 15000 Vasconcelos, T. A. Rio de Janeiro 1863 carte de visite (dúzia) $ 15000 Ribeiros, M.A. da S. Rio de Janeiro 1864 carte de visite (dúzia) $ 10000 Nogueira, P.J.
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