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AULA 5 LEGISLAÇÃO DE ÉTICA EM PESQUISA Disciplina: Ética e profissionalismo em Nutrição Prof. Wellington Rodrigues Por que a pesquisa clínica necessita de requisitos éticos especiais? Por que uma boa pesquisa científica não é suficiente apenas por si mesma? A boa ciência não equivale à boa ética? ■ Principal objetivo da pesquisa clínica é gerar conhecimento generalizável que sirva para melhorar a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas e, ainda, para aumentar a compreensão sobre a biologia humana. ■ Sujeitos que dela participam seriam apenas um meio para assegurar a produção desse conhecimento. ■ Consequência: em toda pesquisa clínica existe a potencialidade de exploração, quando se colocam os sujeitos de pesquisa em situação de risco de serem prejudicados em prol do bem de outros. ■ Requisitos éticos para a pesquisa clínica estão direcionados a reduzir ao mínimo a possibilidade de exploração objetivo de assegurar que os sujeitos de pesquisa não sejam somente usados, mas, tratados com respeito, enquanto contribuem para o bem social. Código de Nuremberg ■ Torturas cometidas durante a 2ª Guerra Mundial, executadas pelos nazistas levantaram questões sobre os padrões técnicos e éticos das pesquisas em seres humanos: eram realizados de forma invasiva, tratando seres humanos de forma bruta e indiferente para alcançar os objetivos da pesquisa, independentemente dos meios utilizados. ■ Tribunal de Nuremberg: propôs a 1ª conduta para pesquisas em seres humanos, com alcance internacional como resultado desse julgamento, foi elaborado o Código de Nuremberg, em 1947. ■ Publicado após a 2ª Guerra Mundial: documento postulou 10 regras, regulamentadas de acordo com o juramento hipocrático, segundo o qual deve-se promover o bem e evitar malefícios na relação médico-paciente Apesar de estas normas entrarem em vigência, elas não possuíam força legal expressa. Código de Nuremberg “Em 1947 uma corte formada por juízes dos Estados Unidos reuniu-se para julgar os crimes cometidos pelos médicos nazistas em campos de concentração. Este julgamento resultou na elaboração de um conjunto de preceitos éticos para a pesquisa clínica, conhecido como Código de Nuremberg. Infelizmente, durante os primeiros 20 anos de existência do documento, as diretrizes éticas de Nuremberg não atingiram o alvo desejado, ou seja, não foram capazes de sensibilizar os médicos para o respeito necessário no uso de seres humanos em pesquisas clínicas” (DINIZ; CORRÊA, 2001, p.679) Declaração de Helsinque ■ 1964: 18º Associação Médica Mundial (AMM) apresentou orientações específicas aos médicos associados a partir de uma revisão do Código de Nuremberg. ■ Declaração de Helsinque: já passou por 7 revisões, a mais recente em outubro de 2013 na 64ª Assembleia Geral da AMM, realizada em Fortaleza, no Brasil. – Um destaque do documento é a preocupação com a população vulnerável, com os que não podem dar ou recusar o consentimento por eles mesmos e aqueles que podem ser vulneráveis à coerção ou influência indevida. – Outro ponto importante é a recomendação de avaliação de protocolos de pesquisa por comitês independentes. ■ Declaração de Helsinque enfatiza a avaliação ética independente dos protocolos de pesquisa. Relatório Belmont ■ Afim de preservar os participantes submetidos às pesquisas, o governo e o Congresso estadunidenses instituíram a Comissão Nacional para a Proteção de Sujeitos Humanos na Pesquisa Biomédica e Comportamental) identificar os princípios éticos que deveriam nortear todas e quaisquer pesquisas que envolvessem seres humanos. ■ 1978: Resultado do trabalho dessa comissão ficou conhecido como Princípios e Diretrizes Éticas para a Proteção dos Sujeitos Humanos da Pesquisa ou Relatório Belmont. – Uma de suas ações foi identificar os princípios éticos que norteariam as pesquisas com seres humanos e desenvolver diretrizes que assegurassem que as pesquisas seguissem esses princípios. Relatório Belmont Estudo de Tuskegee: de 1932 a 1972 o Serviço de Saúde Pública dos EUA realizou uma pesquisa, cujo projeto escrito nunca foi localizado. ■ Envolveu 600 homens negros, sendo 399 com sífilis e 201 sem a doença, da cidade de Macon, no estado do Alabama. ■ Objetivo: observar a evolução da doença, livre de tratamento. ■ 1929: já havia sido publicado um estudo, realizado na Noruega, a partir de dados históricos, relatando mais de 2000 casos de sífilis não tratado. ■ Não foi dito aos participantes do Estudo que eles tinham sífilis, nem dos efeitos desta patologia. O diagnóstico dado era de “sangue ruim”. ■ Contrapartida pela participação no projeto era o acompanhamento médico, uma refeição quente no dia dos exames e o pagamento das despesas com o funeral. Durante o projeto foram dados, também alguns prêmios em dinheiro pela participação. ■ Inadequação inicial do estudo não foi a de não tratar, pois não havia uma terapêutica comprovada para sífilis naquela época foi omitir o diagnóstico conhecido e o prognóstico esperado. ■ A partir da década de 50 já havia terapêutica estabelecida para o tratamento de sífilis, mesmo assim, todos os indivíduos incluídos no estudo foram mantidos sem tratamento. ■ 1997 existiam apenas 8 pessoas ainda vivas. Filme: Cobaias (Miss Evers´ Boys) - Legendado - O Caso Tuskegee Relatório Belmont ■ Estes princípios referenciados no relatório são: respeito pelas pessoas, beneficência e justiça pesquisas devem respeitar os princípios éticos. ■ Necessário o uso do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE): – Autonomia como um pré-requisito que garante os direitos de liberdade, privacidade e escolha individual; – Beneficência: contribui para o bem-estar dos participantes de pesquisas; – Justiça: garante o reconhecimento de necessidades diferentes para a defesa de interesses iguais. ■ Relatório Belmont proporcionou um novo ponto aos temas de pesquisas com seres humanos, com a construção do Institutional Review Board - IRB (Quadro de Revisão Institucional), que são comitês de ética autônomos e independentes lugar de avaliar e acompanhar aspectos éticos dos protocolos de pesquisa. ■ 1979: Bioética consolidou sua teoria, a partir da publicação da obra Princípios da Ética Biomédica (4 princípios). Ética em Pesquisa – Seres humanos ■ Princípios éticos fundamentais: – Autonomia – Beneficência/não maleficência – Justiça Obtenção do TCLE Riscos/Benefícios Seleção do participante Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos (DUBDH) ■ VI Congresso Mundial de Bioética, realizado em Brasília no ano de 2002, abordando o tema “Bioe ́tica: poder e injustic ̧a”, provocou uma discussão referente às respostas éticas para os conflitos morais. ■ 2003: surgiu um esboço do documento que poderia representar uma mudança no conceito de bioética Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos, publicado em 2005 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). – Surgiu da necessidade de desenvolver princípios universais que se baseassem em valores éticos comuns e que direcionassem os avanços científicos e tecnológicos e suas transformações, com o objetivo de estabelecer neste processo a construção de guias éticos. ■ Apresenta uma definição ampla de bioética, ao incluir a responsabilidade social dos governos ligados à saúde e ao bem-estar social, à preservação do meio ambiente e da diversidade cultural, à luta contra a pobreza e contra a exclusão social. Ética em pesquisa com seres humanos no Brasil ■ Implementação da ética em pesquisa com seres humanos teve iniciação tardia no Brasil, com as resoluções emitidas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), como a Resolução CFM n° 671/1975 e a Resolução CFM n°1098/1983 baseadas na Declaraçãode Helsinque. ■ Essas resoluções delimitam as normas éticas a serem estudadas e observadas pelos médicos no exercício de sua profissão. ■ 1988: Ministério da Saúde (MS) monitorou o Conselho Nacional de Saúde e oficializou a publicação das primeiras diretrizes éticas para pesquisadores para orientar a condução de ensaios clínicos. ■ Para a realização de uma pesquisa com seres humanos, o pesquisador precisa de conhecimento básico prévio, para enquadramento dos padrões éticos. Diretrizes e Normas Brasileiras Resolução CNS nº 01/1988 ■ Resolução CNS n°01, de 13 de junho de 1988: destacava em suas normas os aspectos éticos e as diretrizes referentes a vários tipos de pesquisas com material biológico e micro-organismos patogênicos. ■ Continha também a criação dos comitês de ética nas instituições de saúde e a criação de comitês de segurança para pesquisas que envolviam biossegurança. ■ No entanto, ao limitar-se à pesquisa médica, deixou de fora diversos setores. Além disso, embora tivesse preconizado a criação de comitês de ética, não forneceu elementos legais e estruturais para a implementação deles. ■ Assim, essa resolução não alcançou os objetivos almejados. Diretrizes e Normas Brasileiras Resolução CNS nº 196/1996 ■ Resolução CNS n° 196, de 10 de outubro de 1996: dispunha sobre medidas e diretrizes de proteção aos participantes de pesquisa e estabelecia referenciais éticos que deviam ser respeitados para a realização de pesquisas com seres humanos no Brasil. ■ Este documento teve como característica principal sua natureza bioética. Baseada na teoria principialista, essa resolução incorporava, sob a visão individual e coletiva, os quatro referencias da bioética: autonomia, beneficência, não- maleficência e justiça garantindo os direitos e deveres à comunidade científica, aos participantes de pesquisa e ao Estado. Resolução CNS nº 196/1996 ■ A determinação dos princípios éticos em pesquisa com seres humanos envolve: Consentimento livre e esclarecido dos participantes e proteção a grupos vulneráveis e aos legalmente incapazes. Os seres humanos participantes da pesquisa devem ser tratados com dignidade e respeitados em sua autonomia; Pesar os riscos e os benefícios, tanto atuais quanto potenciais, individuais e coletivos. Destaca-se o compromisso com o maior numero de benefícios e o mínimo de danos e riscos; Certificar de que danos previsíveis serão evitados; Importância social da pesquisa, com proveitos significativos para os participantes da pesquisa e minimização do agravante para as pessoas vulneráveis, certificando a consideração igual de interesses dos envolvidos sem perder o sentido da destinação sócio-humanitária. Área de atuação da resolução era abrangente e diversificada, as normas resultaram no que a comunidade científica pensava naquela oportunidade, construindo um instrumento de concretização da cidadania e da defesa dos direitos humanos. Diretrizes e Normas Brasileiras Resolução CNS nº 466/2012 ■ Aprova diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa. ■ A nova resolução substituiu partes do texto da Resolução n° 196/1996 por normas que estão relacionadas com o desenvolvimento de pesquisas com seres humanos. ■ Acrescenta ao processo de obtenção do consentimento livre e esclarecido, além do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, o Termo de Assentimento, destinado à obtenção da anuência de crianças, adolescentes ou participantes legalmente incapazes. Nestes casos, exige-se um esclarecimento detalhado da pesquisa, bem como seus objetivos, métodos, benefícios previstos, potenciais riscos e incômodos que a pesquisa pode causar. ■ Nova Resolução iniciou, assim, o desenvolvimento de vários avanços para as pesquisas no Brasil, reforçando os princípios da bioética, sob a ótica do indivíduo e das coletividades, assegurando os direitos e deveres dos participantes da pesquisa. Resolução CNS nº 466/2012 ■ As pesquisas envolvendo seres humanos devem atender aos fundamentos éticos e científicos pertinentes. III.1 - A eticidade da pesquisa implica em: – a) respeito ao participante da pesquisa em sua dignidade e autonomia, reconhecendo sua vulnerabilidade, assegurando sua vontade de contribuir e permanecer, ou não, na pesquisa, por intermédio de manifestação expressa, livre e esclarecida; – b) ponderação entre riscos e benefícios, tanto conhecidos como potenciais, individuais ou coletivos, comprometendo-se com o máximo de benefícios e o mínimo de danos e riscos; – c) garantia de que danos previsíveis serão evitados; – d) relevância social da pesquisa, o que garante a igual consideração dos interesses envolvidos, não perdendo o sentido de sua destinação sócio-humanitária. Resolução CNS nº 466/2012 III.2 - As pesquisas, em qualquer área do conhecimento envolvendo seres humanos, deverão observar as seguintes exigências: – a) ser adequada aos princípios científicos que a justifiquem e com possibilidades concretas de responder a incertezas; – b) estar fundamentada em fatos científicos, experimentação prévia e/ou pressupostos adequados à área específica da pesquisa; – c) ser realizada somente quando o conhecimento que se pretende obter não possa ser obtido por outro meio; – d) buscar sempre que prevaleçam os benefícios esperados sobre os riscos e/ou desconfortos previsíveis; – e) utilizar os métodos adequados para responder às questões estudadas, especificando-os, seja a pesquisa qualitativa, quantitativa ou quali-quantitativa; Resolução CNS nº 466/2012 ■ III.2 - As pesquisas, em qualquer área do conhecimento envolvendo seres humanos, deverão observar as seguintes exigências: – f) se houver necessidade de distribuição aleatória dos participantes da pesquisa em grupos experimentais e de controle, assegurar que, a priori, não seja possível estabelecer as vantagens de um procedimento sobre outro, mediante revisão de literatura, métodos observacionais ou métodos que não envolvam seres humanos; – g) obter consentimento livre e esclarecido do participante da pesquisa e/ou seu representante legal, inclusive nos casos das pesquisas que, por sua natureza, impliquem justificadamente, em consentimento a posteriori; – h) contar com os recursos humanos e materiais necessários que garantam o bem-estar do participante da pesquisa, devendo o(s) pesquisador(es) possuir(em) capacidade profissional adequada para desenvolver sua função no projeto proposto; – i) prever procedimentos que assegurem a confidencialidade e a privacidade, a proteção da imagem e a não estigmatização dos participantes da pesquisa, garantindo a não utilização das informações em prejuízo das pessoas e/ou das comunidades, inclusive em termos de autoestima, de prestígio e/ou de aspectos econômico-financeiros; – j) ser desenvolvida preferencialmente em indivíduos com autonomia plena. Indivíduos ou grupos vulneráveis não devem ser participantes de pesquisa quando a informação desejada possa ser obtida por meio de participantes com plena autonomia, a menos que a investigação possa trazer benefícios aos indivíduos ou grupos vulneráveis; Resolução CNS nº 466/2012 IV – DO PROCESSO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ■ Respeito devido à dignidade humana exige que toda pesquisa se processe com consentimento livre e esclarecido dos participantes, indivíduos ou grupos que, por si e/ou por seus representantes legais, manifestem a sua anuência à participação na pesquisa. ■ Processo de Consentimento Livre e Esclarecido: todas as etapas a serem necessariamente observadas para que o convidado a participar de uma pesquisa possa se manifestar, de forma autônoma, consciente, livre e esclarecida. ■ IV.1 - A etapa inicial do Processo de Consentimento Livre e Esclarecido é a do esclarecimento ao convidado a participar da pesquisa, ocasião em que o pesquisador, ou pessoa por ele delegadae sob sua responsabilidade, deverá: – a) buscar o momento, condição e local mais adequados para que o esclarecimento seja efetuado, considerando, para isso, as peculiaridades do convidado a participar da pesquisa e sua privacidade; – b) prestar informações em linguagem clara e acessível, utilizando-se das estratégias mais apropriadas à cultura, faixa etária, condição socioeconômica e autonomia dos convidados a participar da pesquisa; – c) conceder o tempo adequado para que o convidado a participar da pesquisa possa refletir, consultando, se necessário, seus familiares ou outras pessoas que possam ajudá-los na tomada de decisão livre e esclarecida. Resolução CNS nº 466/2012 ■ IV.2 - Superada a etapa inicial de esclarecimento, o pesquisador responsável, ou pessoa por ele delegada, deverá apresentar, ao convidado para participar da pesquisa, ou a seu representante legal, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para que seja lido e compreendido, antes da concessão do seu consentimento livre e esclarecido. ■ IV.3 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido deverá conter, obrigatoriamente: – a) justificativa, os objetivos e os procedimentos que serão utilizados na pesquisa, com o detalhamento dos métodos a serem utilizados, informando a possibilidade de inclusão em grupo controle ou experimental, quando aplicável; – b) explicitação dos possíveis desconfortos e riscos decorrentes da participação na pesquisa, além dos benefícios esperados dessa participação e apresentação das providências e cautelas a serem empregadas para evitar e/ou reduzir efeitos e condições adversas que possam causar dano, considerando características e contexto do participante da pesquisa; Resolução CNS nº 466/2012 ■ IV.3 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – c) esclarecimento sobre a forma de acompanhamento e assistência a que terão direito os participantes da pesquisa, inclusive considerando benefícios e acompanhamentos posteriores ao encerramento e/ ou a interrupção da pesquisa; – d) garantia de plena liberdade ao participante da pesquisa, de recusar-se a participar ou retirar seu consentimento, em qualquer fase da pesquisa, sem penalização alguma; – e) garantia de manutenção do sigilo e da privacidade dos participantes da pesquisa durante todas as fases da pesquisa; – f) garantia de que o participante da pesquisa receberá uma via do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido; – g) explicitação da garantia de ressarcimento e como serão cobertas as despesas tidas pelos participantes da pesquisa e dela decorrentes; – h) explicitação da garantia de indenização diante de eventuais danos decorrentes da pesquisa. Diretrizes e Normas Brasileiras Resolução CNS nº 510/2016 ■ No dia 7 de abril de 2016, foi aprovada a nova resolução sobre ética em pesquisa nas Ciências Humanas e Sociais na 59° Reunião do Conselho Nacional de Saúde. ■ Resolução traz especificidades das pesquisas com seres humanos realizadas pelas Ciências Humanas e Sociais. ■ Embora a resolução tenha sido aprovada, diversos aspectos foram deixados de fora da versão final, como a tipificação e gradação de risco das pesquisas. 7 REQUISITOS PARA QUE UM ENSAIO DE PESQUISA SEJA CONSIDERADO ÉTICO
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