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Peru de Natal Mário de Andrade Período literário Modernismo - (1920-1940); Tem como marco inicial a Semana de Arte Moderna – evento de ruptura. O modernismo foi uma quebra de paradigmas na época. A regra era não ter regras, para romper com o conceito fechado de “quadrado” de produzir literatura. Gerou bastante estranhamento na época, como toda mudança, pois visava romper com a literatura métrica e um pouco renascentista que se produzia contemporaneamente. Mário de Andrade Nascimento: 9 de outubro de 1893 Morte: 25 de fevereiro de 1945 Naturalidade: São Paulo Foi um poeta, escritor, crítico literário, musicólogo, folclorista, ensaísta brasileiro. Ele foi um dos pioneiros da poesia moderna brasileira com a publicação de seu livro Pauliceia Desvairada em 1922. Seu maior romance foi Macunaíma, em 1928. Morreu em sua residência em São Paulo devido a um enfarte do miocárdio. Ambiente da obra: Contexto histórico: São Paulo, capital e interior, décadas de 20 a 40; processo de urbanização e industrialização (cidade); Patriarcalismo X progressismo (ambiente rural). Momento: Primeiro natal em família após o falecimento do pai do narrador-personagem. Características da família: conceito abstrato de felicidade; “gente honesta, sem crimes, lar sem brigas internas nem graves dificuldades econômicas.” Características do Pai: “natureza cinzenta, ser desprovido de qualquer lirismo, de uma exemplaridade incapaz, acolchoado no medíocre, sempre nos faltara aquele aproveitamento da vida”. “Meu pai fora de um bom errado, quase dramático, o puro-sangue dos desmancha-prazeres.” Consequência: Não permitia à família curtir a vida: faltou o gozo de felicidades materiais. Comparou a imagem do morto às reuniões de família. Família matinha um luto de aparências, mas não ele que, “só gostava regularmente de meu pai, mais por instinto de filho que por espontaneidade de amor, me via a ponto de aborrecer o bom do morto.” Relação familiar conturbada: Narrador-personagem era tido como “doido”. Pais = pesar Parentagem = superioridade “conquista contra o ambiente familiar”: capacidade de fazer loucuras.” “consegui no reformatório do lar e na vasta parentagem, a fama conciliatória de "louco".” Características da mãe: Adorável; Servil; Preocupada; Doce e meiga; Solidária. Narrador-personagem guardava um carinho muito nobre pela sua benevolência. Narrador-personagem: Nome: Juca; Rude; Humor mordaz; Normalmente corrosivo; “É que o pranto evocara por associação a imagem indesejável de meu pai morto. Meu pai, com sua figura cinzenta, vinha pra sempre estragar nosso Natal, fiquei danado.” Idade no momento da ceia: 19 anos. Foco narrativo: primeira pessoa – foco em JUCA – sua individualidade, conceito e infância. “Fiz tudo o que a vida me apresentou e o meu ser exigia para se realizar com integridade. Resultou disso uma existência sem complexos, de que não posso me queixar um nada.” Relação com o pai: O julgava um burguês clássico, pobre de espírito; “Mas papai sentado ali, gigantesco, incompleto, uma censura, uma chaga, uma incapacidade. E o peru, estava tão gostoso, mamãe por fim sabendo que peru era manjar mesmo digno do Jesusinho nascido.” “Principiou uma luta baixa entre o peru e o vulto de papai.” Características da obra: Escrita em momento de crise pessoal. Publicação póstuma. Demonstra maturidade artística do autor. Gênero literário: Conto de estrutura moderna: principais correntes ficcionistas das décadas de 30 e 40. Personagens priorizam fluxo de consciência à fatos exteriores. Narrador-personagem: constitui uma sensível construção de memória, pessoal e coletiva. Símbolos: Morte do pai – queda do regime patriarcal; Natal – nascimento do verdadeiro amor familiar; Peru – símbolo da felicidade sem culpa; Felicidade = felicidade gustativa x felicidade familiar; O primeiro peru comido em família foi onde nasceu o amor familiar. Por que o peru? Era costume uma monótona e pobre ceia de natal. Apenas as três mais serviam; Não sabiam o que era comer um peru; A intenção era providenciar um refeição viva que reavivasse o amor; “Comprou-se o peru, fez-se o peru, etc. E depois de uma Missa do Galo bem mal rezada, se deu o nosso mais maravilhoso Natal.” Deus me perdoe mas estou pensando em Jesus... Naquela casa de burgueses bem modestos, estava se realizando um milagre digno do Natal de um Deus. O peito do peru ficou inteiramente reduzido a fatias amplas.” “principiei uma distribuição heroica”. Estava travada a luta entre dois mortos: o pai e o peru – quem venceria? Ao servir peru, o choro de comoção correu entre suas três mães. Luta entre os dois mortos. Não podia comer ou gostar daquele peru perfeito, de tanto que interessava a luta. “Imaginei que gabar o peru era fortalecê-lo na luta, e, está claro, eu tomara decididamente o partido do peru. Mas os defuntos têm meios visguentos, muito hipócritas de vencer: nem bem gabei o peru que a imagem de papai cresceu vitoriosa, insuportavelmente obstruidora. — Só falta seu pai...” Hipocritamente tomou partido do pai morto. Foi um marco decisivo para a família. Fingiu tristeza. “— É mesmo... Mas papai, que queria tanto bem a gente, que morreu de tanto trabalhar pra nós, papai lá no céu há de estar contente... (hesitei, mas resolvi não mencionar mais o peru) contente de ver nós todos reunidos em família” Tudo mudou. Santificou-se a imagem do pai. Homem honesto sacrificado pela família. Virou uma linda imagem de uma estrela brilhante, digna de louros, não de tristeza. O único morto agora era o peru, que podia ser sensualmente consumido. O peru vencera. Ceou a vitória!!!!