Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO "LATO SENSU": Higiene e Inspeção de Produtos de Origem Animal Produção higiênica do leite: Boas Práticas Agrícolas Autor: Marcelo Henrique Atta Figueira Mendes Orientador: Professor Mestre Manoel Silva Neto BRASÍLIA 2006 UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO "LATO SENSU": Higiene e Inspeção de Produtos de Origem Animal Produção higiênica do leite: Boas Práticas Agrícolas Trabalho de Conclusão do Curso apresentado como requisito para o cumprimento das atividades referentes ao Curso de Especialização Latu Sensu em Higiene e Inspeção de Produtos de Origem Animal – UCB. Autor: Marcelo Henrique Atta Figueira Mendes Orientador: Professor Mestre Manoel Silva Neto BRASÍLIA 2006 SUMÁRIO • 1. Introdução .................................................................................... Pág. 1 • 2. Objetivo ........................................................................................Pág. 3 • 3. Metodologia ..................................................................................Pág. 4 • 4. Revisão de literatura ....................................................................Pág. 5 • 4.1. A importância do controle da qualidade do leite ..................... .Pág. 5 • 4.2. Instrução normativa 51 ..............................................................Pág. 8 • 4.3. Qualidade do leite produzido no Brasil .................................... Pág. 10 • 5. Perigos que afetam a qualidade do leite .................................... Pág. 10 • 5.1. Sanidade animal e zoonoses.................................................... Pág. 10 • 5.1.2. Brucelose .............................................................................. Pág. 12 • 5.1.3. Tuberculose .......................................................................... Pág. 12 • 5.1.4. Mastite e as células somáticas ............................................. Pág. 13 • 5.2. Resíduos no leite ..................................................................... Pág. 15 • 5.3. Perigos relacionados à higiene de produção .......................... Pág. 16 • 5.3.1 Higiene pessoal ..................................................................... Pág. 17 • 5.3.2 Perigos relacionados ao ambiente ........................................ Pág. 18 • 5.4 Perigos relacionados ao armazenamento do leite ....................Pág.19 • 5.5. Contagem bacteriana total (CBT) ........................................... Pág. 20 • 6. Boas práticas agrícolas ..............................................................Pág.21 • 6.1. Controle da sanidade animal ................................................. Pág. 22 • 6.1.2 Calendário vacinal obrigatório .............................................. Pág. 22 • 6.1.3. Diagnóstico e controle da mastite ....................................... Pág. 23 • 6.2. Controle de resíduos de antimicrobianos ............................... Pág. 24 • 6.3. Controle da higiene pessoal .................................................. Pág. 26 • 6.4. Controle da qualidade ambiental ........................................... Pág. 27 • 6.5. Controle na limpeza do setor de ordenha e equipamentos ... Pág. 27 • 6.6. Controle da higiene da ordenha ............................................. Pág. 30 • 6.6.1 Importância do fosso no processo de ordenha .................... Pág. 32 • 6.7. Controle no resfriamento do leite ............................................ Pág.32 • 7. Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle .................... Pág. 33 • 8. Formas alternativas de prevenção e controle ........................... Pág. 34 • 9. Conclusão................................................................................. Pág. 36 • 10. Referências Bibliográficas....................................................... Pág. 37 Resumo O presente trabalho teve como meta demonstrar os pontos críticos associados a contaminação na produção de leite e as medidas de caráter preventivo aplicadas na fonte de produção do leite, para produzir um leite inócuo. É fato que a má qualidade do leite está envolvida em diversos aspectos de saúde pública e sanitária dos alimentos. Logo, a adoção de medidas preventivas contra contaminação por agentes patogênicos e microbiológicos é essencial para produção de leite com qualidade e para inserção eficaz e eficiente do Brasil na competitividade do mercado de leite e seus derivados. Para tanto, foi realizado uma pesquisa bibliográfica, a fim de demonstrar como os diversos autores definem os principais fatores envolvidos na contaminação e na prevenção da contaminação do leite na fonte de produção e as estratégias de controle adotadas para obtenção de leite com qualidade. Sendo assim, foram abordados diversos malefícios advindos de uma produção não higiênica e as boas práticas agrícolas empregadas nas etapas de manejo e sanidade dos animais, higiene das instalações, higiene pessoal, higiene da ordenha entre outros controles, sendo posteriormente citadas os pontos críticos de monitoramento na propriedade que são essenciais para o beneficiamento de um leite com qualidade. O estudo demonstrou a necessidade da adoção eficiente de Boas Práticas Agrícolas para prevenir a contaminação do leite e manutenção de sua qualidade até o seu beneficiamento na indústria. Palavras-chave: contaminação na produção de leite, prevenção na produção de leite, boas práticas agrícolas e qualidade do leite. 1. INTRODUÇÃO Qualidade e segurança são componentes, hoje, indispensáveis para produtos alimentares e as indústrias conhecem bem os benefícios advindos da necessidade de se trabalhar corretamente os alimentos, garantindo suas propriedades nutricionais, tecnológicas e sanitárias. Num mercado altamente competitivo, muitos países querem vender alimentos e os que compram são suficientemente inteligentes para exigir qualidade, segurança e preço justo. Em tal contexto, o Brasil vive uma realidade, no mínimo paradoxal: possui empresas de alimentos que, sem nenhum favor, poderiam estar no primeiro mundo e, ao mesmo tempo, enfrenta problemas primários na produção de matérias-primas e produtos elaborados, geralmente relacionados à esfera sanitária (PANETTA, 2004). Estima-se que nos próximos anos haverá um aumento significativo da produção mundial de leite, devido ao aumento do consumo nos países da África, Ásia e América Latina onde vivem aproximadamente dois terços da população mundial. Espera-se, igualmente, um aumento das exigências sobre a qualidade do leite e derivados, especialmente quanto à sua segurança para a saúde do consumidor (BRITO & BRITO, 2001). A qualidade do leite produzido no Brasil ainda está muito aquém do tecnicamente recomendável, fazendo com que fique comprometida a inocuidade dos alimentos lácteos ofertados à população e também as possibilidades do Brasil se estabelecer como um forte competidor no mercado internacional. A baixa qualidade da matéria- prima aqui produzida limita a transformação industrial desse leite a produtos de baixo valor agregado e sem um padrão de exportação. Temos um enorme potencial para competir no mercado externo, visto que os custos de produção no Brasil estão entre os mais baixos do mundo, mas a sanidade dos rebanhos e a qualidade intrínseca do leite poderão constituir-se em barreiras impostas pelos países importadores, caso não haja mudanças rápidas na cadeia como um todo. (DÜRR, 2005). Basicamente, o leite, para ser caracterizado como de boa qualidade, deve apresentar as seguintes características organolépticas, nutricionais,físico-químicas e microbiológicas: sabor agradável, alto valor nutritivo, ausência de agentes patogênicos e contaminantes (antibióticos, pesticidas, adição de água, sujidades etc.), reduzida contagem de células somáticas, e baixa carga microbiana. Dentre essas características, destaca-se a qualidade microbiológica do leite, que pode ser um bom indicativo da saúde da glândula mamária do rebanho e das condições gerais de manejo e higiene adotadas na fazenda (PEREIRA et al, 2001). Pode-se assim dizer que a melhoria da qualidade do leite está ligada à revisão de procedimentos adotados diariamente na propriedade. É muito importante, o produtor e o técnico se conscientizarem da necessidade da adoção das boas práticas agrícolas, visando corrigir possíveis falhas no processo de produção com o monitoramento dos pontos críticos que envolvem a contaminação e a presença de resíduos no leite. 2.OBJETIVO O objetivo deste trabalho é demonstrar os pontos críticos de maior contaminação do leite na fonte de produção e os aspectos de controle preventivos adotados para a produção de leite com qualidade. 3. METODOLOGIA Para alcançar o objetivo deste trabalho foi realizado um levantamento bibliográfico, a fim de demonstrar o ponto de vista de diversos autores sobre os principais fatores envolvidos na contaminação do leite, prevenção da contaminação do leite na fonte de produção e as estratégias de controle adotadas para obtenção de leite com qualidade. Logo, foram abordados os malefícios advindos de uma produção não higiênica e as boas práticas agrícolas empregadas nas etapas de manejo e sanidade dos animais, higiene das instalações, higiene pessoal, higiene da ordenha entre outros controles, visando o beneficiamento de um leite com qualidade. 4. REVISÃO DE LITERATURA 4.1 A importância do controle da qualidade do leite Podemos afirmar que os principais microorganismos envolvidos com a contaminação do leite são as bactérias, sendo que vírus, fungos e leveduras têm uma participação reduzida, apesar de serem potencialmente importantes em algumas situações. Com relação às bactérias, podemos classificá-las em três categorias distintas, segundo a faixa de temperatura ótima para o crescimento e multiplicação: bactérias psicrófilas, mesófilas e termófilas. A faixa ótima de crescimento da microbiota psicrófila se encontra entre 0 e 15 graus; a das mesófilas entre 20 e 40 graus; e das termófilas entre 44 e 55 graus. Além destas, duas outras categorias de microorganismos são importantes, as bactérias psicrotróficas e as termodúricas. As psicrotróficas por definição, são aquelas capazes de crescer a baixas temperaturas (< = 7 graus), independente da sua temperatura ótima de crescimento. Já as termodúricas correspondem ao grupo de bactérias capazes de resistir ao processo térmico de pasteurização. Cabe destacar que esta classificação não tem valor puramente acadêmico, mas sim uma grande importância prática, sendo fundamental para compreendermos as causas e potenciais soluções para os problemas de qualidade do leite. Basicamente podemos dizer que os microorganismos mesófilos predominam em situações em que há falta de condições básicas de higiene de maneira geral, bem como falta de refrigeração do leite. Em tais circunstâncias, bactérias como lactobacillus, estreptococos, lactococos e algumas enterobactérias, atuam intensamente por meio da fermentação da lactose, produzindo ácido láctico e gerando, consequentemente, acidez do leite, que é um dos problemas mais frequentemente detectados em nível de plataforma. As bactérias psicrotróficas, por sua vez, predominam em situações em que há deficiência de higiene na ordenha, problemas de limpeza e sanitização do equipamento de ordenha associado com resfriamento marginal do leite (resfriamento à temperatura entre 5 e 15 graus), ou quando o tempo de estocagem é demasiadamente longo. As bactérias Pseudomonas spp, Bacillus spp, Serratia spp, Listeria spp, Yersinia spp, Lactobacillus spp, Flavobacterium spp, Corynebacterium spp, Micrococcus spp e Clostridium spp são as principais bactérias psicrotróficas. Alguns destes microorganismos, como Listeria Yersinia e Bacillus são capazes de provocar doenças em seres humanos pela ingestão de leites crus, em certas condições especiais. No entanto, o maior problema relacionado as bactérias psicrotróficas reside no fato delas serem capazes de produzir enzimas que resistem ao tratamento térmico, sendo estas principalmente as proteases, lípases e fosfolipases. As lípases e proteases são capazes de destruir as gorduras e proteínas (caseína, principalmente) do leite, respectivamente, provocando rancificação e alterações físicas (gelificação do leite UHT, por exemplo) e organolépticas. As fosfolipases atuam sobre a membrana do glóbulo de gordura, desestabilizando-o e, portanto, são responsáveis por alterações de sabor do produto. Assim, ainda que a grande maioria dos microorganismos psicrotróficos seja destruída pela pasteurização, algumas de suas enzimas, sendo termorresistentes, continuam a alterar a composição do leite. Além das alterações no sabor, estas enzimas geram problemas na produção de derivados lácteos e causam diminuição no tempo de prateleira destes produtos. Um outro agravante que deve ser considerado é o fato de algumas destas bactérias (Bacillus spp. e Corynebacterium spp., por exemplo) serem também termodúricas, ou seja, são capazes de resistir ao tratamento térmico do leite. Com isto, não interrompem o processo de reprodução e nem a síntese de enzimas. Os psicrotróficos são amplamente distribuídos na natureza, sendo a água, o solo e os vegetais os seus principais hábitats. Com relação à contaminação do leite por estes microorganismos, deve-se ter especial cuidado com o equipamento de ordenha, utensílios utilizados durante a mesma, e tanques de resfriamento, que são os pontos críticos de maior importância no que concerne à possibilidade de contaminação de leite por estes agentes. O padrão microbiológico do leite pode estar associado a problemas de qualidade industrial em função da ocorrência de lipólise e proteólise do leite gerado pela presença destas enzimas, o que pode acarretar queda no rendimento industrial, menor tempo de prateleira, sabores indesejáveis nos produtos finais, e risco de não obediência aos padrões regulamentares mínimos da legislação. Além dos pontos supramencionados, condições microbiológicas inadequadas do leite podem apresentar risco à saúde pública pela ação de bactérias patogênicas, especialmente quando o leite é consumido cru. Por definição, uma bactéria patogênica é aquela capaz de causar uma doença, infecção ou intoxicação num agente susceptível, podendo ser transmitida direta (leite contaminado é ingerido por um ser humano saudável, por exemplo) ou indiretamente (ser humano doente contamina o leite que então será consumido por outra pessoa). Tradicionalmente, o leite cru pode transmitir doenças como tuberculose, brucelose, difteria, febreQ e uma série de gastroenterites. No entanto, nos últimos anos alguns surtos de salmoneloses, colibaciloses, listerioses, campilobacterioses, mycobacterioses e iersinioses têm despertado a atenção dos pesquisadores, o que levou a classificação destes como doenças emergentes. Os principais agentes emergentes são Listeria monocytigenes, Yersinia enterocolítica, Campylobacter jejuni, Escherichia coli enteropatogênica e Streptococcus zooepidermicus De modo geral, os microorganismos patogênicos não sintetizam expressivamente as enzimas responsáveis pelasalterações nas características organolépticas e na composição do leite, e por isto não causam comprometimento aparente da qualidade industrial e do tempo de prateleira dos produtos lácteos pasteurizados. Por este motivo, a presença destes microorganismos no leite pode muitas vezes ser subestimada ou passar despercebida, o que é um fator gravíssimo se analisado sob o prisma da saúde pública. Conscientes da importância de se identificarem os agentes emergentes no leite, a indústria vem se armando para o implemento do chamado Programa de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle ou HACCP (HACCP – “Hazard Analysis Critical Control Points”). Este programa visa estabelecer um melhor sistema de controle de qualidade dentro das unidades processadoras atuando sobre os pontos críticos da produção, que, por definição, são as fases da produção e processamento que apresentam maiores riscos associados à possível contaminação do leite por microorganismos. Uma vez caracterizado o problema da qualidade microbiológica do leite e definidos os tipos de bactérias e potenciais prejuízos que estas acarretam, cabe discutir quais são os fatores determinantes da presença destes microorganismos, bem como os métodos de controle que podem ser adotados para preservar a qualidade do leite ( PEREIRA et al, 2001). Para que o HACCP funcione de modo eficaz, deve ser acompanhado de programas de pré-requisitos que fornecerão as condições operacionais e ambientais básicas necessárias para a produção de um leite inócuo e saudável. Dessa forma, os sistemas HACCP nas indústrias de leite devem ser executados sobre uma base sólida de cumprimento das Boas Práticas Agrícolas e Procedimentos Padrão de Higiene Operacional que são fundamentais para a produção de um leite padronizado, e manutenção de sua qualidade até a chegada às unidades processadoras. (INPPAZ, 2001). Em termos gerais, a carga microbiana do leite é uma variável dependente da carga bacteriana inicial e da taxa de multiplicação dos microorganismos. A carga bacteriana inicial pode ser definida como a concentração de microorganismos existente no leite armazenado no tanque resfriador imediatamente após o término da ordenha, e depende basicamente de quatro fatores. O primeiro diz respeito à carga microbiana do leite dentro da própria glândula mamária, ou seja, da saúde do rebanho em termos de mastite. O segundo fator está relacionado com a higiene da ordenha, e, mais especialmente, com a limpeza e desinfecção da superfície dos tetos. As condições de limpeza dos utensílios e equipamentos de ordenha também são fundamentais e, se forem negligenciadas, podem gerar altas contagens microbianas. Por fim, cabe destacar a importância da qualidade da água utilizada, tanto na lavagem dos tetos durante a ordenha, quanto na lavagem e desinfecção do sistema de ordenha (PEREIRA et al, 2001). 4.2 Instrução normativa 51 O setor agropecuário leiteiro discutiu exaustivamente a questão da qualidade do leite, o que propiciou a elaboração, publicação e a implementação da instrução normativa 51/2002, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), constituída pelos regulamentos técnicos sobre produção, identidade e qualidade dos diversos tipos de leite no país, bem como a coleta e o transporte a granel do leite cru refrigerado. Uma leitura criteriosa dos regulamentos técnicos propostos pela instrução normativa revela que os fundamentos básicos são: • Sanidade animal, manifesta por meio da exigência de ausência de zoonoses como a tuberculose e a brucelose nos rebanhos e pela obrigatoriedade de controle e prevenção da mastite subclínica pela contagem de células somáticas (CCS) no leite. • Higiene durante todo o processo de ordenha e conservação do leite na propriedade, monitorada pela contagem bacteriana total (CBT) no leite de cada propriedade. • Refrigeração do leite imediatamente após a ordenha na propriedade rural, como estratégia básica de inibição do crescimento bacteriano no leite e monitorado também pela CBT. • Nutrição animal adequada, como forma de manter a saúde e o bem- estar dos animais produtores, além de garantir a produção de leite com uma composição adequada para atender às demandas nutricionais da população consumidora. O monitoramento da qualidade do leite previsto na Instrução Normativa 51 envolve tanto as análises laboratoriais de rotina para fins de seleção e classificação do leite que chega à indústria nos caminhões tanque, assim como em novo conjunto de análises a partir de amostras mensais de leite coletadas em todas as propriedades. Objetivo é ir além da separação entre o leite normal e o leite condenado pela inspeção na plataforma de recepção da indústria, permitindo que se identifiquem os problemas na fonte de produção e se apontem ações corretivas a serem adotadas. Quando a meta é melhorar a qualidade do leite, o conhecimento dos parâmetros de qualidade em cada unidade produtiva é fundamental para que se planejem os investimentos a serem feitos. Os indicadores a serem monitorados regularmente para que a qualidade do leite de cada propriedade seja avaliada, conforme previsto na Instrução Normativa 51 são: • Composição do leite: os teores de gordura e proteína indicam o valor industrial do leite, por serem as principais matérias-primas de produtos lácteos. • Contagem de Células Somáticas (CCS): indica a prevalência de mastite e a degradação do leite ocorrida em função das inflamações dos úberes. • Contagem Total de Microorganismos (CBT): avalia as condições de higiene em que o leite foi obtido e, ao mesmo tempo, as condições de conservação em que o leite foi mantido (temperatura e tempo de estocagem). • Presença de resíduos de antibióticos: devido à importância deste tipo de contaminante do leite para a saúde pública, seu monitoramento é fundamental. Outros tipos de avaliações da qualidade do leite, como a acidez adquirida, a densidade, a crioscopia, a pesquisa de fraudes e a análise sensorial devem continuar sendo feitas pela indústria como formas de garantir a confiabilidade do leite, e o monitoramento dos produtores que se enquadram às exigências de qualidade impostas pela Instrução Normativa 51(DÜRR, 2005). 4.3 Qualidade do leite produzido no Brasil Quando se avalia a qualidade do leite produzido no Brasil, verifica-se que de um modo geral, o leite produzido continua apresentando-se muito contaminado. No entanto, ao se fazer esta análise, é importante levar em consideração que os problemas de qualidade estão variando segundo o perfil do produtor de leite. Em relação, por exemplo, à contagem bacteriana total, constata-se em alguns laticínios, que os produtores que produzem até 200 litros de leite/dia, são os que apresentam maior percentual cujo leite possui uma contagem superior a 1.000.000 UFC/ml (valor acima do proposto pela Instrução Normativa n°51 – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento em 2002). Isto significa que se esta instrução estivesse vigorando, cerca de 30% dos produtores estariam produzindo leite fora dos padrões legais segundo Brasil (2002). Os produtores que produzem acima de 2000 litros/dia, por outro lado, constituem o grupo que teriam menor percentual fora dos padrões (11%) e a maior porcentagem dos que produzem leite com menos de 10.000 UFC/mL (padrão estabelecido pela União Européia). Isto significa que os produtores que produzem menores volumes de leite/dia, estão tendo mais dificuldade de atender o critério de contagem bacteriana total e estão em função disto, produzindo leite mais contaminado, contribuindo para o aumento da carga bacteriana do leite de outros produtores, quando é feita a coleta a granel ou quando o leite é estocado em silos nas indústrias (CERQUEIRA,2004). 5. Perigos que afetam a qualidade do leite 5.1 Sanidade animale zoonoses O controle sanitário está intimamente ligado à produtividade e lucratividade do rebanho, bem como é ponto fundamental para o controle efetivo da saúde pública. Epidemiologicamente, os alimentos representam uma via altamente eficiente para a transmissão de enfermidades ao homem e, no caso dos alimentos de origem animal, algumas destas doenças são naturalmente transmissíveis entre a população animal e humana. Neste caso, caracterizam-se as zoonoses, cujo ciclo biológico é cumprido entre as duas populações, sendo que o homem, às vezes erraticamente, pode ser nele inserido como hospedeiro intermediário ou definitivo, ou ambos. O estado atual dos conhecimentos epidemiológicos acerca das zoonoses de origem alimentar permite dividi-las em três grupos, segundo a maior freqüência de sua transmissibilidade ao homem: 1) ocasionalmente transmissíveis por via digestiva:pasteurelose, leptospirose, erisipela, listeriose, vibriose, febre Q e febre aftosa. 2) Principalmente transmissíveis por via digestiva: salmonelose, toxoplasmose, teníase, cisticescose, hidatidose. 3) Transmissíveis e também por outras vias: carbúnculo hemático, tubeculose, brucelose (PANETTA, 2004). Dentre as zoonoses transmissíveis através do leite destacaremos a brucelose e a tuberculose. O leite produzido nas glândulas mamárias é estéril, mas ao ser expelido através das tetas se contamina com um pequeno grupo de microorganismos provenientes de canais excretores, que constituem parte do úbere. Entretanto, esses microorganismos não representam problemas significativos para o produto nem são nocivos ao ser humano. Somente quando a vaca está doente, há a passagem de microorganismos do sangue do animal para o leite. No caso de doenças ou infecção do úbere, mesmo o leite obtido higienicamente pode conter microorganismos patogênicos, ou seja, nocivos à saúde humana (SILVA & FERNANDES, 2003). O bom estado geral de saúde dos animais permite que o rebanho seja produtivo, tornando-se, portanto, um fator decisivo e determinante na viabilidade econômica da exploração, como no caso, a leiteira. Um rebanho enfermo é oneroso não só ao produtor, mas também à saúde pública, transformando lucros em prejuízos e despesas no controle das zoonoses (KRUG et al, 1992). 5.1.2 Brucelose A Brucelose ou aborto infeccioso é uma doença infecciosa causada pelo germe Brucella abortus. Sua principal característica é induzir aborto nos estágios finais da gestação. A doença é adquirida pela introdução de animais infectados no rebanho, apresenta rápida difusão durante os primeiros dois anos de infecção, provocando perdas acentuadas em abortos, infertilidade e produção de leite. O agente bacteriano alcança maior concentração no trato reprodutivo da fêmea. A bactéria é excretada durante o parto, persistindo na descarga vaginal subseqüente ao mesmo. Portanto, o útero, as membranas fetais e o feto constituem as principais fontes de contaminação. O leite também constitui uma via permanente de excreção da bactéria. A infecção dos animais se faz via ingestão de pastos, rações e água contaminados pelas secreções, fetos abortados e pelas membranas fetais das fêmeas infectadas. Pode ocorrer, também, via penetração da bactéria através da pele e conjuntiva intactas, por meio da contaminação do úbere durante a ordenha, e pela mucosa genital (KRUG et al, 1992). De acordo com Instituto Campineiro de Ensino Agrícola, a brucelose disseminada em um rebanho pode ocasionar: • Redução na produção de bezerros a menos de 50%. • Diminuição da produção de leite da ordem de 20% • Vinte por cento das vacas que abortam jamais readquirem a eficiência reprodutiva normal. • Contaminar o homem através da manipulação de carcaças ou animais infectados e pela ingestão do leite contaminado não pasteurizado 5.1.3 Tuberculose A tuberculose é uma doença infecciosa caracterizada pela sua grande importância quanto à saúde humana e por afetar os animais domésticos, entre eles, em especial, o gado leiteiro. Como agente causador é reconhecida à bactéria do gênero Mycobacterium que se diferencia em Mycobacterium tuberculosis, que ataca principalmente o homem; e o Mycobacterium avium, que atinge as aves. Apesar do Mycobacterium tuberculosis, que afeta o homem, ser mais específico, pode ocasionalmente infectar também bovinos e suínos. Da mesma forma acontece com o Mycobacterium avium que, além das aves, pode infectar suínos, bovinos e outros. O animal afetado constitui a principal fonte de infecção e disseminação do agente. O microorganismo é eliminado juntamente com as fezes, com o ar exalado, com o escarro, leite, urina, corrimento vaginal e uterino e secreções dos linfonodos superficiais (periféricos) abertos. A ingestão do agente ocorre, principalmente, pela ingestão de leite infectado, via comum para os animais jovens. Também se faz através de alimentos e água em cochos contaminados por fezes infectadas. Outras vias de infecção compreendem infecção via intra- uterina, pelo coito, sêmen ou pipeta de inseminação artificial contaminados. Na ordenha, pode ocorrer à infecção intramamária, através de equipamentos contaminados. A tuberculose, para o homem, constitui uma zoonose de extrema importância. A infecção humana se dá geralmente pela ingestão do leite infectado ou por inalação do agente. A melhor maneira de se evitar a infecção e disseminação para o homem é através da pasteurização do leite e da erradicação da enfermidade, em nível de rebanhos (KRUG et al, 1992). 5.1.4 Mastite e as células somáticas A mastite, definida como inflamação da glândula mamária, representa o maior desafio à exploração leiteira por se tratar de uma enfermidade de caráter multifatorial e de grande impacto econômico. Estima-se que no Brasil em função de sua alta prevalência, possam ocorrer perdas de produção entre 12 a 15% e ainda perdas econômicas significativas para as indústrias de laticínios devido à baixa qualidade do leite. As mastites podem se manifestar na forma clínica, latente e subclínica. A última é de maior importância por ocorrer 15 a 40 vezes mais que a forma clínica, além de ter longa duração e ser de difícil detecção. Tais fatores contribuem para que seus portadores se tornem reservatórios de microorganismos para o rebanho. Devido à ausência de alterações macroscópicas no úbere ou no leite, a forma subclínica da mastite é detectável principalmente por testes aplicados ao leite para a demonstração dos produtos da inflamação (MARTINS et al, 2006). Quando ocorre um processo inflamatório no úbere, as células de defesa (leucócitos) passam do sangue para o leite, na tentativa de combater qualquer irritação ou infecção presente. Essas células, quando presentes no leite, são chamadas de células somáticas, sendo primariamente constituídas por neutrófilos, macrófagos e linfócitos. A soma dessas células no leite é que representa a “Contagem de Células Somáticas” (CCS). São resultados dos processos mastíticos, o aumento da contagem de células somáticas (CCS) e alterações dos componentes individuais do leite. Como conseqüência destas alterações diversos efeitos podem ser observados na produção de derivados lácteos, destacando-se a diminuição do valor nutritivo, menor rendimento industrial, redução do tempo de prateleira e depreciação da qualidade organoléptica. A presença de altas CCS no leite afeta a composição do leite e o tempo de vida de prateleira dos derivados, causando enormes prejuízos para a indústria de laticínios. A ocorrência de mastite subclínica e consequentemente de altas CCS causa diminuição da síntese de proteínas importantes para a fabricação (caseína) e aumento das proteínas do soro, que são indesejáveis para os laticínios. Leite com altas CCS causa redução na produçãoe rendimento industrial de queijos, aumento do conteúdo da água, aumento do tempo de coagulação, aumento do conteúdo de sólidos no soro e como resultado o produto final apresenta sabor inferior. Para a manteiga, leite em pó e outros derivados, a alta CCS causa principalmente a diminuição da vida de prateleira destes produtos, pois as células somáticas contêm enzimas resistentes à pasteurização que causam a deterioração da gordura produzindo o sabor rançoso e alterando o valor nutricional da proteína do leite e derivados. O leite de vacas com altas CCS apresenta também redução do nível de lactose e cálcio, que são constituintes nobres do leite, enquanto que há aumento da concentração de sódio e cloro, o que causa o sabor salgado do leite com mastite. Em resumo, uma alta média CCS no leite indica processos inflamatórios nos úberes do rebanho. Já em um rebanho com baixa CCS, as perdas de produção são reduzidas e a qualidade do leite preservada. (BRITO & BRITO, 2001). Os prejuízos econômicos causados pela mastite, embora difíceis de serem calculados com exatidão, são enormes em todos os países onde existe a atividade leiteira. As perdas econômicas são elevadas pelas seguintes razões: • Redução da produção de leite dos animais afetados • Custos com tratamento e orientação técnica • Redução da remuneração do produtor devido à perda do leite que deixa de ser enviado à industria durante o período do tratamento até quatro dias após a última intervenção terapêutica. • Redução da produção de leite devido à necessidade de redução do período de lactação (secagem da vaca). • Perigo de transmissão da doença para as demais vacas em produção. • Maior tempo no manejo higiênico • Substituição dos animais cronicamente infectados (KRUG et al,1992). 5.2 Resíduos no leite Os resíduos de drogas veterinárias como antibióticos também podem contaminar o leite. Na maioria dos casos, seus efeitos sobre a saúde do ser humano, em longo prazo, não são conhecidos, mas podem, por exemplo, provocar fortes reações alérgicas em pessoas sensíveis. Podem também provocar a resistência a antibióticos, tornando mais difícil o tratamento da infecção no ser humano, e por essa razão foi recomendado que os antibióticos utilizados na medicina humana não sejam utilizados em animais. Os resíduos de antibióticos no leite que é utilizado para desenvolver produtos fermentados podem interferir no processo de fermentação pela inibição das bactérias ácido-lácticas. Normalmente, isso é apenas um problema técnico que resulta em perda econômica, mas, quando ocorre, os agentes patogênicos presentes no leite podem crescer e representar, posteriormente um perigo pra a saúde. Por essas razões, muitos países possuem regulamentações que proíbem a venda de leite de vacas que foram tratadas de mastite, e o leite é rotineiramente testado para verificar a presença de resíduos de antibióticos ( ADAMS e MOTARSEMI, 2002). No Brasil, a portaria 56 do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento incluem nos testes obrigatórios do leite cru a detecção de resíduos do grupo dos B-lactâmicos, que inclui as penicilinas (naturais, semi-sintéticas e de amplo espectro) e as cefalosporinas de primeira, segunda, terceira e quarta geração, estando ainda prevista a inclusão de testes para detecção de gentamicina e tetraciclinas. A efetivação das medidas que coíbam a presença de resíduos de antimicrobianos no leite é desejável e imprescindível para a garantia da segurança do leite para o consumidor e para evitar prejuízos à industrialização. Essas medidas devem seguir os padrões e métodos adotados internacionalmente e estarem de acordo com os limites impostos pelo Codex Alimentarius (BRITO & BRITO, 2001). 5.3 Perigos relacionados à higiene da produção A contaminação e conseqüente multiplicação de bactérias no leite são facilitadas pela falta de higiene que propicia a contaminação; pela temperatura e o tempo em que o leite é armazenado antes de ser pasteurizado ou esterilizado. Esses fatores reunidos propiciam não só o aumento do número de bactérias, como a produção de substâncias indesejáveis que podem causar problemas à saúde (ex: toxinas) ou à qualidade dos produtos (enzimas). Os cuidados higiênicos que são preconizados para o manejo da ordenha e pós-ordenha visam a reduzir os riscos associados com a contaminação bacteriana. Tem sido demonstrado, por exemplo, que procedimentos de limpeza e desinfecção adequados possibilitam reduzir em até 90 % o número de bactérias no leite. A contaminação microbiana do leite provém do interior do úbere, do exterior do úbere e tetas e como conseqüência dos procedimentos adotados durante a ordenha, o armazenamento e o transporte. A contaminação do leite na ordem de 100 a 1.000 unidades formadoras de colônias (ufc/ml) é praticamente inevitável. Ela se deve aos microorganismos presentes no interior do úbere ou no canal da teta. Sob condições adequadas de ordenha, aproximadamente 10.000 ufc/ml podem ser encontradas no leite, sendo que a principal contribuição para esse número são bactérias presentes na superfície da teta e nos equipamentos usados na ordenha. O número de microorganismos presentes na superfície das tetas pode aumentar até em dez vezes ou mais quando se usa o bezerro para mamar antes da ordenha e as tetas não são secas. Sob condições apropriadas de estocagem com resfriamento a 4 graus, o número de bactérias pode ser mantido entre 10.000 e 100.000 ufc/ml. A partir de contagens entre 100.000 e 10.000.000 ufc/ml, já podem ser detectadas alterações sensoriais no leite. Essas alterações dependem das espécies de bactérias predominantes e da temperatura de armazenamento. À temperatura ambiente (comum quando o leite é armazenado e transportado em latões) predominam os streptococos e coliformes que transformam a lactose em ácido láctico, causando a acidificação do leite. As bactérias que predominam no leite refrigerado pertencem ao grupo das psicrotróficas, que são capazes de se multiplicar mesmo a baixas temperaturas. O percentual de psicrotróficos encontrado entre os contaminantes do leite é de 10%, mas em condições inadequadas de armazenamento e de higiene esse percentual pode aumentar enormemente. Várias espécies de bactérias encontradas no ambiente da fazenda como Pseudomonas, Streptoccoccus, Bacillus e Clostridium são psicrotróficas. Elas produzem enzimas lipolíticas e proteolíticas que interferem negativamente nas características sensoriais, redução da vida de prateleira, rancidez e alterações na maturação de queijos duros e semi-duros. As enzimas mencionadas são resistentes a altas temperaturas, de modo que, mesmo após a pasteurização, continuarão atuando no leite e nos derivados lácteos (BRITO & BRITO, 2001). 5.3.1 Higiene Pessoal As pessoas que colhem, manipulam, armazenam, transportam, processam o leite são muitas vezes responsáveis por sua contaminação. O ordenhador pode ser um grande veículo de transmissão de microorganismos para o leite através de seu estado de saúde e de hábitos higiênicos e de trabalho incorretos (INPAAZ, 2001). As mãos do ordenhador também podem atuar como contaminadores ou transportadores de micróbios de vaca a vaca, pelo que todo cuidado é pouco, principalmente quando estiver lidando com vacas suspeitas de terem mamite. Os patógenos transmitidos pela mão são geralmente oriundos de contaminação fecal, ou seja, hábitos higiênicos inadequados do ordenhador. Os manipuladores podem transmitir patógenos para os alimentos durante o período de incubação de uma enfermidade. A maioria das bactérias e dos vírus dissemina-se durante o estágio agudo da enfermidade. Neste estágio, os indivíduos com salmonelose, hepatite A podem ser responsáveis pela disseminação destes agentes,devido ao não cumprimento das práticas de higiene na produção. As feridas de pele supuradas estão normalmente infectadas por Estreptococcus ou Staphilococcus, que podem ser transferidos ao leite durante a sua manipulação (INPPAZ, 2001) 5.3.2 Perigos relacionados ao ambiente A grande maioria das fazendas leiteira utiliza fontes de água, durante o processo de produção leiteira, que não sofram nenhum tipo de tratamento prévio. Estas fontes podem estar contaminadas com microorganismos de origem fecal e de uma ampla variedade de fontes como solo e vegetação. Estes microorganismos podem incluir Pseudomas e outros bacilos Gram-negativos. Se ocorrer contato de fontes de água não tratada com o leite, ou a utilização destas fontes para limpeza do equipamento de ordenha, estes microorganismos terão pouco efeito imediato sobre a carga microbiana total do leite, ainda que estas fontes sejam altamente contaminadas. No entanto, pode ocorrer intensa multiplicação desses microorganismos em resíduos de leite no equipamento de ordenha e desta forma pode ocorrer o aparecimento de grande número de bactérias psicrotróficas no leite. Em fim o uso de água não tratada para enxágüe final no equipamento de ordenha pode contribuir para o aumento na contagem de psicrotróficos no leite. O solo é provavelmente um reservatório dos microorganismos psicrotróficos . Tanto o solo como gramíneas e feno podem apresentar elevadas contagens de psicrotróficos, sendo que o gênero Arthrobacter pode representar cerca de 50% da população de psicrotróficos do solo. Após a saída do leite de dentro do úbere, as principais fontes de bactérias do leite são as superfícies internas do equipamento de ordenha, tanque de expansão, latões para transporte do leite e a água utilizada para limpeza tanto durante a ordenha, como na limpeza do equipamento de ordenha. Independente do tipo de equipamento de ordenha utilizado como o balde ao pé ou leite canalizado, o leite para ser retirado do úbere deve passar por uma série de tubulações de borracha e aço inoxidável, unidade final, sendo finalmente armazenado no tanque de expansão até a coleta do leite. Desta forma, devido à complexidade do sistema de ordenha em associação com um sistema de limpeza deficiente podem-se acumular resíduos de leite e assim favorecer o crescimento de bactérias que são fontes de contaminação do leite (SANTOS & FONSECA, 2001). 5.4 Perigos relacionados ao armazenamento do leite A temperatura de armazenamento do leite após a ordenha é o principal fator determinante da taxa de crescimento bacteriano no leite não refrigerado, sendo os microorganismos predominantes os mesófilos, os quais provocam acidificação do leite pelo acúmulo de ácido lático, resultante da fermentação da lactose. O emprego de programas de resfriamento do leite na fazenda após a ordenha, com posterior coleta e transporte do leite em caminhões-tanque isotérmicos, tem aumentado significativamente a qualidade do leite produzido; no entanto, com o uso destes equipamentos, ocorre o predomínio de bactérias psicrotróficas, que apresentam boa capacidade de crescimento mesmo em baixas temperaturas. Este grupo de bactérias apresenta também a capacidade de produção de enzimas lipolíticas e proteolíticas termorresistentes, que mantém a sua atividade enzimática após a pasteurização, ou mesmo, o tratamento UHT. Os principais problemas de qualidade de produtos lácteos associados à ação de proteases e lípases de origem dos microorganismos psicrotróficos são: alteração de sabor e odor do leite, perda de consistência na formação do coágulo para a fabricação de queijo e gelatinização do leite longa vida. As principais fontes de psicrotróficos do leite durante a sua produção na fazenda são as superfícies dos tetos e o equipamento de ordenha. (SANTOS & FONSECA, 2001). Dentre alguns problemas relacionados a conservação do leite destaca-se o funcionamento inadequado de tanques refrigeradores. Particularmente, dois tipos de problemas têm sido constatados: tanques que congelam leite e que demoram muito tempo para refrigerar o leite para 4°C. No primeiro caso, o produtor pode estar utilizando tanque super dimensionado para o volume de leite produzido e estocado na propriedade. No segundo caso, o problema pode estar ligado ao volume de leite adicionado ao tanque, ou seja, às vezes o produtor abastece o tanque com um grande volume nominal de leite de uma vez, dificultando o abaixamento da temperatura do leite para 4°C em um tempo menor. Outro problema refere-se à utilização de tanques refrigeradores que não atendem às exigências de normas técnicas internacionais e brasileiras (Instrução Normativa n° 51 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) segundo Brasil (2002). Isto é um problema sério e pode comprometer, sobretudo, a qualidade microbiológica do leite fazendo com que após o período de estocagem de 48 horas, o leite apresente uma elevada contagem bacteriana. A bomba de transferência de leite, utilizada em algumas propriedades que realizam ordenha manual ou mecânica (sistema balde ao pé) para agilizar a transferência de leite para o tanque refrigerador, pode se constituir em outra importante fonte de contaminação do leite, principalmente quando o produtor não realiza a higienização e desinfecção corretas do equipamento e/ou quando não substitui o mangote da bomba de tempo em tempo (CERQUEIRA, 2004). 5.5.Contagem bacteriana total (CBT) Há vários métodos para avaliação da carga microbiana do leite na plataforma. O método mais tradicionalmente empregado é o da Contagem Bacteriana Total (CBT) ou Contagem Global, que, como o próprio nome sugere, é a contagem do número de colônias presentes numa dada amostra de leite – previamente incubada a 32 graus durante 48 horas. A CBT, como foi mencionada anteriormente, dependerá basicamente da carga microbiana inicial do leite, bem como a taxa de multiplicação microbiana. Raramente uma alta CBT é decorrente de problemas de mastite na propriedade, salvo algumas exceções, quando há alta incidência de mastite causada por Streptococcus agalactiae, ou mesmo em surtos de Streptococcus uberis ou Escherichia coli. O leite de uma vaca sadia, coletado de forma asséptica, por exemplo, contém menos de1000 col/ml. Já o leite de um animal com infecção na glândula mamária por alguns destes agentes pode apresentar contagens de até 10.000.000 col/ml, o que, num rebanho de 100 vacas em lactação, pode elevar o CBT do tanque para 100.000 col/ml. A ordenha de animais com tetos sujos e/ou úmidos está diretamente associada a uma alta CBT, e a presença de fezes ou barro nos tetos pode levar à alta contagem de coliformes ou mesmo de bactérias psicrotróficas (detectados por outros métodos laboratoriais). Portanto, um correto manejo de ordenha, com ênfase na preparação dos tetos antes da ordenha (limpeza, pré-dipping e secagem completa dos tetos), associado a um programa de controle de mastite, são fundamentais para a obtenção de um leite de alta qualidade. Outra possível fonte de bactérias é a superfície do sistema de transporte e armazenamento do leite, o que inclui insufladores, copos coletores, mangueiras, tubulações, válvulas, medidores de leite, bombas de leite, pré-resfriadores, tanques de resfriamento etc. Portanto, deve-se estar sempre atento ao programa de limpeza e sanitização, além da correta manutenção do equipamento (SANTOS & FONSECA, 2001). 6. Boas Práticas Agrícolas para obtenção de leite de qualidade Como foi observado, deve-se sempre considerar os efeitos potenciais das atividades de produção primária no que concerne à segurança e à inocuidade dos alimentos, identificando-se quaisquer pontos específicos dessas atividades onde exista uma alta chance de contaminação, tomando-se as medidas específicas para minimizar esta probabilidade.Dentro do possível, os produtores deveriam programar medidas para: • Controlar a contaminação pelo ar, solo, água, forragens, fertilizantes (incluído os naturais ou orgânicos), pesticidas, medicamentos veterinários, ou qualquer outro agente usado na produção primária. • Controlar a saúde dos animais para que não representem uma ameaça à saúde humana através do consumo de alimentos, ou afetar negativamente a inocuidade do produto. • Proteger os recursos alimentícios contra contaminação fecal e de outros tipos. Os perigos associados com a produção primária podem ou não serem eliminados ou reduzidos a níveis aceitáveis, dependendo do controle do processo e manuseio posteriores e do tipo de alimento. Os produtos primários excessivamente contaminados com microorganismos ou toxinas que podem afetar a saúde dos consumidores constituem um possível risco. É essencial compreender como os patógenos entram na produção primária para facilitar o desenvolvimento de ações apropriadas e mecanismos eficazes de controle (INPPAZ, 2001). 6.1 Controle da sanidade animal As vacas leiteiras devem ser mantidas em permanente estado de asseio corporal e não apresentar processos dermatológicos, irritações pela presença de parasitos e focos purulentos, especialmente situados no úbere ou próximo deste. O animal precisa estar com todas as vacinas atualizadas. Os hábitos de vida da vaca não devem ser contrariados, principalmente os que se referem à sua tranqüilidade; as agitações além de influírem no rendimento do leite, com a movimentação descontrolada do animal, podem produzir-lhe ferimentos e deslocação de pó depositado no chão. Entre os cuidados higiênicos na vaca leiteira se inclui o costume de cortar os pêlos situados nos flancos, na cauda e próximos ao úbere, que são disseminadores de microorganismos. (CARVALHO et al, 2002). 6.1.2 Calendário vacinal obrigatório A vacinação contra a Brucelose é obrigatória somente para as fêmeas entre três e oito meses de idade. Não se podem vacinar estas fêmeas acima dessa idade, pois, a titulação do exame para diagnóstico da doença pode ser elevada o suficiente para que o animal seja considerado como positivo para o resto da vida e neste caso seu destino seria a condenação. Outra vacina obrigatória é a da Febre Aftosa que deve ser aplicada de acordo com a região do país, como indicado pelos órgãos de defesa sanitária. A vacinação contra o Carbúnculo Sintomático deve ser realizada em todos os animais acima de três meses de idade, sendo repetida de seis em seis meses até aos dois anos de idade. É neste período até aos dois anos que os animais estão mais sujeitos a desenvolver esta enfermidade. Como característica, é uma doença que afeta os animais com melhores escores corporais. Outra vacinação importante é contra a Raiva, a qual deve ser aplicada anualmente, principalmente em regiões de surto, quando grande parte do rebanho pode ser afetada pela doença. Existe no mercado um número grande de vacinas contra vários agentes de doenças como Leptospirose, Rinotraqueíte Infecciosa dos Bovinos - IBR, Diarréia Bovina a Vírus - BVD, Mastite, Campilobacteriose, Colibacilose e outras tantas, as quais devem ser indicadas para cada caso. Cada situação de manejo vai exigir uma conduta específica de acordo com a recomendação do veterinário (CARVALHO et al, 2002). 6.1.3 Diagnóstico e controle da mastite Existem vários testes que podem auxiliar no diagnóstico da mastite. O CMT (California Mastitis Test) é um teste que pode ser realizado na sala de ordenha, e é muito prático, devendo porém ser executado por profissional treinado. A contagem de células somáticas CCS é um exame laboratorial que é usado para o diagnóstico da mastite. Estes dois meios de diagnóstico são utilizados para diagnosticar a mastite subclínica. Esta doença ocorre com certa freqüência nos rebanhos. É a mastite que não se pode enxergar, porem ela é a precursora da mastite clínica. A mastite clínica é aquela que se pode enxergar. Outro teste que pode ser auxiliar no diagnóstico da mastite é a cultura bacteriana. Toma-se uma porção do leite afetado e faz-se uma cultura em laboratório. Este exame é utilizado para identificar o agente causador da mastite. O teste prático mais eficiente é o teste da caneca telada ou de fundo escuro. Este é o teste que se deve fazer a cada ordenha. Ele detecta a mastite clínica nos primeiros jatos de leite. Quando a mastite clínica aparece, há um depósito de leucócitos (células de defesa) no canal da teta e estes leucócitos formam grumos que são visualizados logo nos primeiros jatos de leite. Estes primeiros jatos devem ser depositados na caneca de fundo escuro ou telados onde os grumos serão visualizados com mais facilidade. Devido ao contraste do fundo da caneca com os próprios grumos, estes ficam mais aparentes, neste caso está-se diante de uma mastite clínica. No caso de mastite clínica, o animal deve ser retirado do recinto e ser ordenhado mais tarde após os animais sadios. Dependendo da gravidade da mastite o animal deve ser ordenhado fora do local de ordenha para não contaminar o ambiente. Se a mastite for crônica o animal deve ser descartado No caso de controle adequado da mastite, pode-se utilizar a linha de ordenha, na qual primeiramente são ordenhadas as vacas sadias, depois as que já tiveram mastite e foram curadas e no final aquelas que estão com mastite e em tratamento. O tratamento das vacas com mastite varia de acordo com o caso apresentado. Em geral, os tratamentos devem ser precedidos de ordenhas sucessivas, em torno de quatro, no período do dia e se for o caso de necessidade de medicamento, tratar somente após a ultima ordenha do dia. As vacas secas devem ser tratadas com medicamentos próprios para esta fase. Existem no mercado vários medicamentos para tratamento preventivo de vacas neste período de descanso. É bom lembrar que estes medicamentos nunca devem ser utilizados para tratar mastites comuns, pois eles são próprios para a prevenção da doença no período seco (CARVALHO et al, 2002). A prevenção da contaminação bacteriana das tetas se dá através da redução do nível de exposição da teta e seu orifício a bactérias patogênicas. A limpeza da teta é um ponto de partida, mas a limpeza bacteriana não é só a prevenção de sujeiras visíveis. Obviamente, uma teta fisicamente limpa é mais fácil de desinfetar do que uma coberta de barro ou fezes. É também de importância primordial que a pele da teta esteja intacta; parte da prevenção da mastite é a manutenção da pele das tetas em boas condições, ausência de danos físicos, como pisaduras, picadas de insetos ou cortes e abrasões e a prevenção e eliminação de feridas infectadas. Há numerosos fatores importantes para a manutenção das tetas limpas. Considerando-se que elas estejam limpas a princípio, então, deve-se impedir que elas se sujem. A melhor maneira de se conseguir isto é pelo manejo adequado de currais, estábulos e pastos onde as vacas se deitam. A qualidade e quantidade de cama são importantes na limitação de sujeiras e danos, então as vacas não devem se deitar em camas inadequadas, ou em áreas usadas repetidamente, a menos que estas sejam conservadas limpas; e em áreas inapropriadas, tais como superfícies muito duras ou em corredores onde se acumulam dejetos e outras sujeiras (HILLERTON, 1996). 6.2 Controle de resíduos de antimicrobianos As principais medidas são preventivas, pois os antibióticos são importantes e muitas vezes, necessários. É preciso então, prevenir o problema. O primeiro passo importante é ler e seguir as recomendações da bula, deixando de enviar o leite para o tanque refrigerador segundo o período de carência do produto. Por exemplo, se o período recomendado for de 72 horas, significa que após a última aplicação, o produtordeve ainda deixar de enviar o leite para o tanque por mais 72 horas. O segundo passo é identificar os animais tratados por meio de pulseiras ou outras formas para garantir que, no momento da ordenha, o retireiro consiga identificar os animais que estão sendo tratados, descartando o leite contendo resíduos. O terceiro passo refere-se ao registro em um quadro na sala de ordenha, em local de fácil visualização, colocando-se as informações sobre o número dos animais tratados, o início de tratamento de cada um e o dia que o leite pode ser enviado para o tanque, com segurança. Sem dúvida alguma, a melhor forma de se prevenir a ocorrência de resíduos de antibióticos no leite é estabelecer um controle rigoroso de mastite, evitando que um grande número de animais tenha que ser medicado. Sabe-se que quanto maior taxa de mastite em um rebanho, maior o risco de veiculação de resíduos de antibióticos ou de outros antimicrobianos (CERQUEIRA, 2004). Segundo Maria Aparecida (2006), para se evitar a presença de resíduos de antimicrobianos no leite, as seguintes recomendações devem ser seguidas: • Somente tratar infecções das vacas leiteiras com substâncias antimicrobianas indicadas por um médico-veterinário. Este poderá recomendar o produto mais indicado, a dosagem correta e as medidas terapêuticas mais adequadas para cada caso. • Não disponibilizar, para o consumo humano, o leite de vaca tratada com substâncias antimicrobianas nem, enquanto o antimicrobiano (antibióticos e sulfonamidas) estiver sendo eliminado. Toda vaca tratada durante a lactação deve ser identificada, para se evitar a mistura acidental do leite contendo resíduos ao restante do leite do rebanho. • Respeitar rigorosamente o prazo de retirada do leite do consumo para cada produto utilizado. Este prazo varia de acordo com o produto. Antimicrobianos que não trazem esta informação não devem ser usados para tratamento de vacas em lactação. • Evitar tratamentos desnecessários, principalmente da mastite subclínica durante a lactação. O tratamento feito na ocasião da secagem da vaca apresenta maior taxa de cura. • Evitar, sempre que possível, o uso de combinações de antimicrobianos. Isso pode aumentar o período de excreção no leite e alterar o prazo de retirada do leite para consumo. • Adotar um plano de controle da mastite que contemple a adoção de medidas preventivas e de higiene, ambiente limpo para as vacas, e manutenção e limpeza adequadas dos equipamentos de ordenha. • Não usar produtos recomendados para tratamento de vacas secas em vacas em lactação, porque os primeiros são formulados para persistirem por mais tempo no úbere. Vacas tratadas na secagem que parirem antes da data esperada devem ter o leite retirado do consumo até completar o período recomendado. • Adotar cuidados rigorosos de higiene na aplicação intramamária de antimicrobianos. Para isto as tetas devem estar limpas, secas e previamente desinfetadas. As cânulas de aplicação devem estar completamente limpas, serem introduzidas somente por 2 a 3 mm e não devem ser reutilizadas. Esses procedimentos são necessários para evitar que o próprio tratamento veicule uma nova fonte de infecção com microrganismos do ambiente. 6.3Controle da higiene pessoal O objetivo dos princípios de higiene pessoal é garantir que aqueles que entram em contato direto ou indireto com o leite não o contamine. Isso se dá através da manutenção de um nível adequado de limpeza pessoal, comportamento e operação de forma apropriada. O ordenhador em más condições físicas e de saúde, por seu íntimo contato com o animal, responde diretamente por contaminações do leite (INPPAZ, 2001). Em suas tarefas, o ordenhador tem obrigação: • Apresentar-se com trajes, aventais e gorro cobrindo a cabeça, inteiramente lavados. • Cultivar constantemente hábitos de asseio. Mãos lavadas e escovadas com sabão; barba feita; não fumar, mascar fumo, tossir ou espirra sobre o leite. • A tarefa do ordenhador deve ser limitada à ordenha das vacas. As tarefas de conduzir o animal, apartar, pear, raspar e lavar o piso devem ser realizadas por um auxiliar. • Não tocar no corpo do animal ou nas cordas utilizadas para prendê- lo, depois das mãos lavadas. Manter ao alcance, no momento de ordenhar cada vaca, um recipiente com desinfetante. No caso de identificar uma vaca com grumos no leite (mastite clínica), o ordenhador deve desinfetar as mãos, para não contaminar outros animais (ARCURI, 2000). • . . 6.4 Controle da qualidade ambiental Água, solo, animais e vegetação é hábitat de bactérias, constituindo fontes primárias de contaminação do leite cru. A superfície do úbere e tetas deficientemente limpos e sanificados podem apresentar altas contagens de microorganismos, sendo estes contaminantes oriundos geralmente do solo ou de material de cama. Por isso é de grande importância um manejo adequado de currais, estábulos e pastos onde as vacas se deitam. Bactéria psicrotróficas tem sido isolada, mesmo em água clorada. Embora a água apresente normalmente baixo número de microorganismos, ela é uma importante fonte de contaminação por ser usada na lavagem de utensílios e equipamentos (ARCURI, 2000). A qualidade físico-química e microbiológica da água afeta significativamente a qualidade do leite, seja pela alta contagem bacteriana, que pode gerar alta contagem bacteriana do leite do tanque, ou mesmo pelo elevado grau de dureza da água, que acaba comprometendo a efetividade das soluções detergentes no processo de limpeza do equipamento, caso não haja nenhum ajuste nas suas concentrações. Ainda, o elevado poder de tampão da água pode ser um fator que afeta negativamente o processo de limpeza do equipamento e, consequentemente, a CBT. Recomenda-se analisar a água utilizada na propriedade anualmente (análises microbiológica e físico-química) e ,se necessário, implementar o tratamento (CARVALHO et al, 2002). 6.5 Controle na limpeza do setor de ordenha e dos equipamentos Deve-se manter o setor de ordenha e os equipamentos em um estado de conservação adequado para facilitar todos os procedimentos de sanitização, e para que os equipamentos cumpram a função proposta, especialmente as etapas essenciais à inocuidade e prevenção da contaminação do leite, por exemplo, por fragmentos, resíduos e substâncias químicas. A limpeza do local de ordenha pode ser realizada pelo uso separado ou combinado de métodos físicos como calor, esfregado, fluxo turbulento, limpeza a vácuo ou outros métodos sem o uso da água, e métodos químicos que utilizem detergentes álcalis ou ácidos. Em geral, limpeza e sanitização, quando necessária, envolvem: 1. Limpeza a seco 2. Pré-enxague ( rápido) 3. Aplicação de detergente (pode incluir esfregado) 4. Pós-enxague 5. Aplicação de sanitizante Na limpeza a seco é usada uma vassoura, ou uma escova para varrer as partículas e sujidades das superfícies. Às vezes, os processadores usam água e rodo para empurrar as partículas. Esta prática aumenta significativamente o consumo de água, contribui para a contaminação desta, eleva o custo do tratamento de água e origina problemas associados com obstrução dos encanamentos e manejo de lixo sólido molhado. Também tende a dispersar sujidade e bactérias a outras áreas da planta como as paredes e o próprio equipamento de ordenha. O pré-enxague usa água para remover pequenas partículas que não foram retiradas na etapa de limpeza a seco e prepara (umedece) as superfícies para a aplicação do detergente. Entretanto, a remoção cuidadosa das partículas não é necessária antes da aplicação do detergente. Os detergentes ajudam a soltar a sujidade e as películas bacterianas e as mantêm em solução ou suspensão. Durante o pós- enxague, utiliza-se água para retirar o detergente e soltar a sujidade das superfíciesde contato. Este processo prepara as superfícies limpas para a sanitização. Todo o detergente deverá ser retirado para que o agente sanitizante seja eficaz. Depois de limpas, o piso e as superfícies do setor devem ser sanitizadas para eliminar, ou pelo menos diminuir, as bactérias potencialmente prejudiciais. Os métodos de limpeza são, ás vezes, classificados segundo o desenho do equipamento de processamento a ser limpo. Algumas linhas do processo possuem canaletas ou tubulações que são limpos sem desmontar cada seção. Este processo é conhecido como limpeza no lugar ou CIP (clean in place). Os sistemas de processamento fechado como as ordenhadeiras são limpas e higienizadas bombeando uma ou mais soluções de detergente através das linhas e outros setores, em intervalos estabelecidos. Os detergentes com baixa produção de espuma são especialmente preparados e necessários para as aplicações no sistema CIP (INPPAZ, 2001). A seguir, serão demonstrados dois programas que fazem parte das Boas Práticas Agrícolas: Procedimento 1: Programa de limpeza e sanitização de equipamento de ordenha • Pré-lavagem: passagem de um ciclo de água morna (35 a 45 graus) para a retirada dos resíduos grosseiros de leite da tubulação, não recirculando esta água. • Detergente alcalino clorado: esta solução deve conter 130 ppm de cloro e um pH mínimo de 11. A temperatura de entrada da solução deve ser de 70 graus, e a temperatura de saída não pode ser inferior a 45 graus. Devem-se circular pelo menos dez minutos. • Detergente ácido: esta solução deve apresentar um pH máximo de três no início e seis no final do ciclo. A temperatura inicial deve ter no mínimo 35 a 45 graus (não pode ser superior a 60 graus). Deve-se circular por cinco minutos, pelo menos. Utiliza-la pelo menos uma vez por semana e após a limpeza com o detergente alcalino. • Sanitizante: Pode ser à base de cloro (mínimo 130 ppm) ou iodo (mínimo 25 ppm). Deve-se circular a solução pelo menos cinco minutos à temperatura de 35 a 45 graus. Fazer diariamente antes de cada ordenha e não enxaguar o equipamento com água após a sua utilização. Procedimento 2: Limpeza manual do tanque de resfriamento • Pré-lavagem: passagem de um ciclo de água morna (35 a 45 graus). Não recircular esta água. • Detergente alcalino clorado: esta solução deve conter 130 ppm de cloro e um pH mínimo de 11 ou em função da qualidade da água utilizada. A temperatura de entrada da solução deve ser de 50 graus. Utilizar escova específica para a limpeza de tanques. • Detergente ácido: esta solução deve apresentar um pH máximo de 3. A temperatura inicial deve ter no mínimo 35 a 45 graus (não pode ser superior a 60 graus). Utiliza-lo diariamente após a limpeza com o detergente alcalino. • Sanitizante: circular diariamente uma solução contendo 25 ppm de iodo ou 130 ppm de cloro antes da ordenha e não enxaguar o equipamento com água após a sua utilização. A temperatura deve estar entre 35 e 45 graus (PEREIRA ET AL 2001). Os programas de limpeza e de sanitização devem ser monitorados de forma contínua e eficaz para verificar sua adequação e eficiência e, quando necessário, devem ser documentados. Os programas de limpeza documentados por escrito devem especificar: • As áreas e partes de equipamentos e utensílios a serem limpos; • O responsável para as tarefas específicas; • O método e a freqüência de limpeza; • A organização de monitoramento (INPPAZ, 2001). Caso a ordenha seja realizada manualmente, a sanitização dos vasilhames envolvidos na ordenha se dará da seguinte forma: • Utilizar água quente e um detergente (biodegradável) e um desinfetante. Bom resultado de desinfecção se consegue com uma solução de 100ppm de cloro ativo (1ml de hipoclorito de sódio+1 litro de água fervida ou filtrada), durante 10 minutos de contato com os vasilhames. • Manter os vasilhames de boca para baixo em local limpo e seco (TORRES et al, 2003). 6.6 Controle da higiene da ordenha Independente da ordenha ser manual ou mecânica (sistema balde ao pé ou canalizada), o procedimento deve ser padronizado e seguido rigorosamente em toda ordenha. No caso da ordenha manual, independente de ser feita com ou sem bezerro ao pé, deve-se adotar a seguinte seqüência: eliminação dos primeiros jatos de leite em uma caneca preta ou telada visando eliminar a porção mais contaminada do leite, estimular a descida do leite e ainda, verificar a presença de grumos, o que indica mastite clínica. Somente depois da realização deste teste é que o bezerro deve ser colocado para mamar (quando for o caso de ordenha com o bezzerro ao pé). Após, deve ser feito o pre-dipping (desinfecção dos tetos antes da ordenha), tomando-se o cuidado de deixar que o desinfetante (produto comercial adequado) atue por 20 a 30 segundos para descontaminar a pele do teto. Após, deve-se secar os tetos com papel toalha descartável e não com pano. Inicia-se então a ordenha, em ambiente tranqüilo e no final, deve-se fazer o post-dipping (desinfecção após a ordenha). No caso de ordenha com bezerro ao pé, esta etapa pode ser dispensada. No entanto, deve ser ressaltada a importância da desinfecção dos tetos antes e após a ordenha. Estas duas etapas são fundamentais para se produzir leite com qualidade. No caso de ordenha mecânica, os procedimentos são os mesmos, devendo-se ainda estar atento à colocação e alinhamento dos conjuntos de ordenha, além da eliminação do vácuo, antes da retirada das teteiras. O tempo de preparação que compreende a eliminação dos primeiros jatos até o início da ordenha deve compreender cerca de um a um minuto e meio. Quanto mais demorada for a etapa de preparação, mais leite residual poderá ficar na glândula mamária e maior será o risco de ocorrência de mastite (CERQUEIRA, 2004). Segundo Fernandes 2003, a maior parte das impurezas encontradas no leite de origina-se do pêlo do animal ordenhado. Outras fontes de contaminação externa são: estrume resta de cana, terra e células epiteliais. Fezes frescas têm em média 500 milhões de microorganismos por grama, e a seca, de 6 a 20 milhões. A melhor maneira de se reduzir contaminantes provenientes do exterior do animal consiste em manter os pêlos dos flancos e do úbere aparados e escovados, além de conter a cauda durante a ordenha. O úbere deve ser enxaguado com solução sanitizante de 12 a 25 ppm de iodo e seco com tecido limpo (um para cada animal) ou papel toalha. No caso de uso de panos, deve-se lava-los todos os dias com uma solução detergente e sanitizá-lo com fervura durante, no mínimo, 15 minutos. Tratando-se de ordenha manual, secar o úbere evita que o excesso de água escoe para dentro do balde, arrastando grande quantidade de microorganismos. O uso de balde semi-aberto reduz a área de superfície exposta do leite, minimiza a queda de detritos do animal, diminuindo a contaminação desta fonte. O coador de boca no latão retém impurezas e evita a entrada de insetos e dejetos dos animais durante a ordenha (SILVA & FERNANDES, 2003). 6.6.1 Importância do fosso no processo de ordenha Independentemente do tipo de ordenha utilizado, o fosso deverá ser construído para facilitar o rendimento da mão-de-obra e uma completa e eficiente ordenha dos animais. É importante ressaltar que, quando se utilizam equipamentos de ordenha, a construção de um fosso (com pisos antiderrapantes) ou de uma plataforma elevada é indispensável. Antes de iniciar a obra, deve-se consultar um técnico de uma empresa especializada em equipamentos de ordenha para impedir erros e gastos desnecessários. Mesmo que o equipamento seja balde ao pé, deve-se utilizá-lo dentro do fosso, pois o conforto dos ordenhadores permite a eficiência nas tarefas rotineiras da ordenha higiênica e a produção de leite de melhor qualidade. Entretanto, os ordenhadores devemser qualificados por meio de treinamentos específicos, pois eles determinam o sucesso do empreendimento, desde que representam a única ligação da vaca com o equipamento de ordenha. Os ordenhadores gerenciam o momento mais importante, ou seja, a hora em que se colhe a receita de uma propriedade leiteira (CARVALHO et al, 2002). 6.7 Controle no resfriamento do leite A refrigeração na propriedade leiteira não elimina microorganismos, apenas diminui sua velocidade de multiplicação. Com relação à taxa de multiplicação bacteriana, esta está intimamente relacionada com a temperatura de armazenamento do leite. Recomenda-se que a temperatura de armazenamento seja de no máximo 4 graus, dentro de duas horas após o término da ordenha, e menor que 10 graus, durante a adição de leite da ordenha consecutiva. Deve-se destacar a importância do correto funcionamento e dimensionamento do sistema de frio. Se a ordenha for manual ou mecânica de balde ao pé, o leite deve ser resfriado imediatamente após a ordenha. Não basta a redução da temperatura do leite a 4°C, é preciso que esta temperatura seja conservada durante todo o processo até a sua chegada à indústria. A elevação da temperatura permite iniciar um novo ciclo de crescimento de microorganismo. Portanto, cabe ressaltar que o resfriamento do leite deve estar associado obrigatoriamente com boas práticas de manejo e higiene na ordenha, limpeza e sanitização dos utensílios da ordenha. Esta preocupação deve ser ainda maior quando se adotam programas de captação de leite nas fazendas a cada 48 horas, pois o risco de proliferação de microorganismos psicrotróficos é significativamente maior. Desta maneira, programas de captação desta natureza somente são adequados em situações de propriedades com baixa carga microbiana inicial, especialmente de bactérias psicrotróficas, e com sistemas de frio corretamente dimensionado e em perfeito funcionamento. Para o resfriamento do leite deve-se usar resfriadores específicos para resfriamento do leite. O congelador não presta para esse fim. Os resfriadores mais eficientes e práticos, embora mais caros, são os resfriadores a granel ou de expansão direta (CERQUEIRA, 2004). 7. APPCC – Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle O sistema Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (HACCP) relaciona-se completamente com a produção de alimentos inócuos, e, de acordo com a FAO é: Uma abordagem preventiva e sistemática direcionada a perigos biológicos, químicos e físicos, através da antecipação e prevenção, em vez de inspeção e testes em produtos finais. O objetivo do sistema HACCP é identificar os perigos relacionados à inocuidade para o consumidor que podem ocorrer na cadeia de produção, estabelecendo os processos de controle para garantir um produto inócuo. O sistema APPCC baseia-se em uma série de etapas inter- relacionadas, inerentes ao processamento industrial de alimentos, que inclui todas as operações, desde a produção primária até o consumo do alimento. Tem como base a identificação de perigos potenciais para a inocuidade do alimento e as medidas preventivas para controlar as situações que criam os perigos. Este sistema é científico, sistemático, e garante não só a inocuidade do alimento, mas também a redução de custos operacionais, diminuindo a necessidade de coleta de amostras, destruição ou reprocessamento do produto final por razões de segurança. A implementação do sistema APPCC reduz a necessidade de inspeção e teste de produto final, aumenta a confiança do consumidor e resulta num produto comercialmente mais viável. Facilita o cumprimento de exigências legais, e permite o uso mais eficiente de recursos, acarretando redução nos custos da indústria de alimentos e uma resposta mais imediata para as questões de inocuidade de alimentos. O sistema APPCC pode ser aplicado em todas as etapas de processamento e desenvolvimento de alimentos em todas as etapas de processamento de alimentos, desde os primeiros estágios da produção até o consumo final. Para que o APPCC funcione de modo eficaz, deve ser acompanhado de programas de pré-requisitos que fornecerão as condições operacionais e ambientais básicas necessárias para a produção de alimentos inócuos e saudáveis. Os sistemas APPCC devem ser executados sobre uma base sólida de cumprimento das Boas Práticas de Fabricação nas quais fazem parte as Boas Práticas Agrícolas, e também, do cumprimento dos Procedimentos Padrão de Higiene Operacional que são procedimentos diários de higiene operacional e pré-operacional que o estabelecimento deve implementar para evitar contaminação direta e adulteração dos produtos. Em fim, como o sistema APPCC abrange toda a etapa de produção, ele é dependente de um eficiente sistema de controle na fazenda, ou seja, do rigor no cumprimento das Boas Práticas Agrícolas e das Boas Práticas de Fabricação até o beneficiamento final do produto (INPPAZ, 2001). 8.Formas alternativas de prevenção e controle das alterações associadas com bactérias psicrotróficas. Atualmente existem vários métodos que podem ser usados para prevenir a deterioração do leite e produtos lácteos por bactéria psicrotróficas, porém a higiene e temperaturas de estocagem adequada em toda a cadeia produtiva são os mais importantes. Os problemas resultantes do crescimento de bactérias psicrotróficas no leite cru são prevenidos primariamente pela redução dos níveis de contaminação por meio de higiene adequada na ordenha e limpeza e sanificação adequada de equipamentos de ordenha e do tanque de refrigeração; pelo rápido resfriamento do leite imediatamente após a ordenha e manutenção da temperatura baixa até o momento do processamento térmico e pela estocagem do leite refrigerado por um tempo não muito longo. A remoção de resíduos de leite das superfícies dos utensílios e equipamentos é crítica, pois estes resíduos, além de fornecerem nutrientes para o crescimento das bactérias, protegem-nas da ação dos sanificantes químicos. O crescimento das bactérias nestes resíduos resulta na sua aderência à superfície dos equipamentos e, dependendo do tempo, pode ocorrer a formação de biofilmes. Estes, além de conterem grande número de bactérias, são bastante resistentes à ação de sanificantes químicos, principalmente na limpeza pelo sistema CIP. Uma aderência significativa pode ocorrer quando o tempo entre duas limpezas excede oito horas. Alguns métodos alternativos são utilizados para prevenir a deterioração do leite e produtos lácteos como, por exemplo: • Adição de Peróxido de Hidrogênio - Tem como função a ativação do sistema lactoperoxidase natural do leite; 8 a 12 ppm são suficientes. Não permitido no Brasil. • Bacteriocina (nisina) – Antibiótico natural que atua contra bactéria gram positivas sendo efetivo apenas quando as gram negativas forem eliminadas pela pasteurização. Uso em queijos. • Adição de CO2 – Propriedades antimicrobianas (mecanismo de ação não é bem conhecido, parece afetar a permeabilidade da membrana celular e enzimas descarboxilases). A sua adição ao leite causa inibição significante de Pseudomonas. • Adição de Lactoferrina – Sua ação é através da combinação com os íons ferro do leite, inibindo o crescimento de bactérias que requerem ferro. • Microfiltração – Retém de 98 a 99% das bactérias presentes no leite através de membranas de filtração. • Bactofugação – Remoção de bactérias por centrifugação (ARCURI, 2000). 9. CONCLUSÃO Conforme exposto neste trabalho de revisão, é evidente a importância do controle dos microorganismos sobre a qualidade do leite. O padrão microbiológico do leite pode estar associado a problemas de qualidade industrial em função da ocorrência de lipólise e proteólise do leite gerado pela presença destas enzimas, o que pode
Compartilhar