Buscar

Sepse: Fisiopatologia, Diagnóstico e Tratamento

Prévia do material em texto

SUMÁRIO
1. Introdução ..................................................................... 3
2. Fisiopatologia .............................................................. 3
3. Sepsis-2 e Sepsis-3 ................................................. 5
4. Abordagem Diagnóstica .......................................10
5. Abordagem Terapêutica .......................................12
Referências Bibliográficas .........................................15
3SEPSE
1. INTRODUÇÃO
Sempre que o nosso corpo é invadi-
do por algum microrganismo, quem 
se encarrega por resolver o problema 
é o Sistema Imunológico. No entanto, 
em alguns casos, a resposta imune 
pode se dar de forma tão exacerbada 
que acaba sendo mais danosa para o 
corpo do que a própria infecção. São 
justamente esses casos que nós cha-
mamos de Sepse! 
E a Sepse, também conhecida popu-
larmente como “Infecção Generaliza-
da”, é uma condição muito prevalen-
te no meio médico. Só nos EUA, ela 
é responsável por cerca de 750 mil 
casos por ano, gerando um gasto 
que fica em torno de 16 bilhões de 
dólares. Já no Brasil, mais especifica-
mente, a Sepse parece estar presente 
em cerca de 25% dos pacientes em 
UTIs, sendo que a sua taxa de mor-
talidade fica em torno de 50%. 
A partir disso, a gente consegue perce-
ber que a Sepse é uma condição muito 
comum na prática e, por isso, nós pre-
cisamos aprender como deve ser feito 
o manejo dos pacientes nesse quadro. 
Mas para isso, vamos começar pelo co-
meço e entender , antes de tudo , 
como é a fisiopatologia da Sepse. 
CONCEITO! A sepse corresponde a 
uma reação inflamatória desregulada , 
secundária a uma infecção (suspeitada 
ou diagnosticada) que se associa com 
disfunção orgânica ameaçadora à vida.
2. FISIOPATOLOGIA
Pois bem… Toda vez que um micror-
ganismo antigênico invade nosso cor-
po, ele vai ser exposto aos mecanis-
mos imunológicos inatos e adquiridos 
que terão o objetivo de nos proteger. 
Contudo, no caso da Sepse, como já 
comentamos, a resposta imunológi-
ca se dá de forma exacerbada e isso 
também traz prejuízos. 
O que acontece é o seguinte: o pa-
ciente adquire uma infecção - nor-
malmente no trato respiratório, mas 
também é comum que seja no urinário 
ou no digestório - e, a partir daí, inicia 
uma produção exacerbada de me-
diadores pró-inflamatórios. Dentre 
esses, os mais expressivos são as 
citocinas TNF-α e a IL-1, que estão 
muito associadas ao desenvolvimen-
to de Sepse. Mas além disso também 
há produção de prostaciclinas, trom-
boxanos, leucotrienos, óxido nítrico, 
fator de ativação plaquetária (PAF), 
entre outros. Tudo isso, em grande 
quantidade, acaba caindo na circula-
ção sanguínea e se disseminando por 
todo o corpo do paciente. Ou seja, em 
linhas gerais, a Sepse consiste em um 
processo infeccioso que, mesmo 
que localizado, provoca uma rea-
ção inflamatória generalizada. 
E é justamente esse processo de in-
flamação generalizado que acaba le-
vando à disfunção de vários órgãos 
- o que também é característico da 
Sepse. Mas como isso ocorre? Não 
4SEPSE
tem segredo: a própria atividade infla-
matória acaba levando à morte celu-
lar. Nisso, vários sistemas podem ser 
acometidos, mas os mais comumente 
afetados são 2: o cardiovascular e o 
respiratório. 
Sistema Respiratório 
O pulmão é um dos órgãos mais aco-
metidos durante um quadro de Sepse 
e isso se deve ao fato de a reação 
inflamatório nos capilares alveola-
res levarem a uma lesão endotelial e 
consequente acúmulo de líquido nos 
espaços alveolares o que gera ede-
ma e atrapalha o processo de trocas 
gasosas. 
Figura 1: Ilustração das trocas gasosas em quadros de 
edema pulmonar. Disponível em: https://bit.ly/2PY0nv8
Sistema Cardiovascular 
Com a inflamação generalizada, o pa-
ciente também acaba apresentando 
uma importante vasodilatação peri-
férica. Dessa forma, em uma primei-
ra fase da doença, conhecida como 
“fase quente”, o coração tenta com-
pensar o quadro aumentando seu 
débito cardíaco (DC), mas na maioria 
das vezes isso é insuficiente. 
Com toda essa sobrecarga, então, a 
doença costuma evoluir para a “fase 
fria”, na qual o corpo não consegue 
mais manter o DC aumentado e nem 
uma saturação periférica adequada 
(choque). 
É justamente para evitar essa evolu-
ção deletéria da Sepse que devemos 
saber diagnosticar precocemente os 
pacientes acometidos e é justamente 
isso que vamos aprender aqui. Para 
tal, é importante que a gente tenha 
em mente que existem dois consen-
sos sobre Sepse que podem ser em-
pregados: o Sepsis-2 e o Sepsis-3. 
Dentre eles, o Sepsis-3 é o consenso 
mais atualizado, no entanto, o Sep-
sis-2 traz conceitos que ainda são 
muitos relevantes na prática médica e 
por isso precisamos conhecer os dois. 
Então vamos lá.
5SEPSE
3. SEPSIS-2 E SEPSIS-3
Sepsis-2
Em 2002, o 2º Consenso Internacional 
sobre Sepse definiu que nós devería-
mos abordar os pacientes classifican-
do cada um deles em 4 categorias:
• SIRS;
• Sepse;
MAPA MENTAL FISIOPATOLOGIA
• TNF-α
• IL-1
• NO2
• Prostaciclinas
• PAF
• Leucotrienos
• Tromboxanos
Processo 
inflamatório 
sistêmico
Infecção
Produção 
exacerbada 
mediadores pró-
inflamatórios
Liberação na 
corrente sanguínea
Sistema respiratório Sistema circulatório
Reação 
inflamatório 
capilar/alveolar
Lesão endotelial
Dificuldade de 
trocas gasosas
Aumento da 
permeabilidade 
e edema
Fase fria, 
sobrecarga 
exacerbada e 
DC não da conta 
(Choque)
Fase quente, 
aumento do 
débito 
compensatório
Reação 
inflamatória
Vasodilatação 
periférica
6SEPSE
• Sepse Grave;
• Choque Séptico. 
A Síndrome da Resposta Inflama-
tória Sistêmica (SIRS/SRIS) é uma 
condição em que o corpo apresenta 
uma reação inflamatória exacerbada 
e isso pode ser identificado caso o 
paciente tenha 2 ou mais dos seguin-
tes critérios:
CRITÉRIOS PARA SIRS (2 OU +)
 To > 38oC ou < 36oC
 FC > 90 bpm
 FR > 20irpm ou pC02 < 32mmHg
 Leucograma > 12.000 ou < 4.000
 ou > 10% de bastões
SE LIGA! Para avaliar SIRS observe que 
nós analisamos os dois principais siste-
mas acometidos na sepse (cardiovascu-
lar e respiratório) e também fatores rela-
cionados ao próprio processo infeccioso 
(temperatura e leucograma).
No entanto, é muito importante que 
a gente tenha mente que o termo 
“SIRS” é bastante inespecífico: ele 
só indica que o paciente tem uma 
resposta inflamatória exacerbada, 
mas isso pode ser por vários moti-
vos como trauma, queimadura, is-
quemia ou mesmo uma infecção. 
Em cima disso, o que o Sepsis-2 nos 
diz é que nós só devemos dizer que 
está em Sepse aquele paciente que 
apresenta um quadro de SIRS pro-
veniente de um processo infeccioso. 
Daí, quando a gente entende isso, fica 
fácil de concluir que para podermos 
diagnosticar Sepse, vamos precisar 
de pelo menos 2 critérios da SIRS e 
mais um foco infeccioso diagnostica-
do ou suspeitado. 
Beleza. Até aqui tá tudo tranquilo, 
mas como é que vamos definir que 
se trata, na verdade, de uma Sepse 
Grave? Então…por esse consenso, 
a gente deve classificar o paciente 
nessa categoria quando ele já esti-
ver apresentando sinais de hipoper-
fusão tecidual ou disfunção orgânica 
e a gente conclui quanto a isso se 
o paciente tiver ≥ 1 dos seguintes 
achados:
CRITÉRIOS DE DISFUNÇÃO ORGÂNICA 
SEPSE GRAVE
Hipotensão (Responsiva 
à reposição)
Lactato elevado
Debito urinário < 0,5mL/
Kg/h por 2h
PaO2/FiO2 < 250 (ou 
200 se pneumonia)
Creatinina > 2mg/dL Bilirrubina total > 4mg/L
Plaquetas < 12.000/mm³ INR > 1,5
1
2
3
4
7SEPSE
Por fim, um quadro de Choque Sép-
tico seria aquele em que o pacien-
te apresenta uma Sepse Grave com 
hipotensão não responsiva à admi-
nistração de volume, de modo que é 
necessário entrar com fármacos va-
sopressores para manter uma PAM 
≥ 65mmHg. Trata-se, então, de um 
choque distributivo em que anorma-
lidades circulatórias, celulares e me-
tabólicas são profundas o suficiente 
para aumentar substancialmente a 
mortalidade. Resumindo…
SEPSIS-2
SIRS Reação inflamatória exacerbada
Sepse SIRS + Infecção
Sepse grave Sepse+ Hipoperfusão/Disfunção
Choque 
séptico
Sepse grave + Vasopressores
Sepsis-3
Uma grande crítica que pairava sobre 
essa abordagem do Sepsis-2 era de 
que os parâmetros utilizados eram 
muito sensíveis, de modo que pacien-
tes com algum processo infeccioso 
que nem fosse tão grave, acabavam 
sendo submetidos ao protocolo de 
tratamento para Sepse. 
Na intenção de resolver essa ques-
tão, no ano de 2016 foi lançado o 3º 
Consenso Internacional, o famoso 
Sepsis-3, que atualizou a forma com 
que avaliamos os quadros de Sepse, 
realizando mudanças importantes 
como a retirada dos critérios de SIRS 
para definição de Sepse e também 
a extinção do termo “Sepse Grave”. 
Diante disso, também foi necessário 
redefinir o conceito de Sepse, que 
passou a ser uma infecção suspeita-
da ou diagnosticada que se associa 
com disfunção orgânica ameaçado-
ra à vida. 
Percebe como o Sepsis-3 deixa as 
coisas mais específicas? A partir 
dele, a Sepse deixa de ser apenas o 
processo infeccioso com inflamação 
generalizada e passa a já envolver 
evidências de disfunção dos órgãos, 
que antes só víamos na Sepse Gra-
ve. Ou seja, o que esse consenso 
fez foi, basicamente, encarar como 
sepse apenas os quadros mais com-
plicados! 
A partir disso, então, como a gen-
te perdeu os critérios da SIRS, foi 
necessário lançar mão de alguma 
outra ferramenta para avaliar se o 
paciente está ou não em Sepse e é 
justamente daí que surge o SOFA 
(Sequential Organ Failure Assess-
ment), um critério que define se há 
disfunção orgânica a partir de uma 
série de dados de cada um dos sis-
temas orgânicos, como vemos na 
tabela abaixo. 
8SEPSE
Para cada sistema avaliado pelo 
SOFA, o paciente receberá uma pon-
tuação que varia entre 0 e 4, de modo 
que, no final das contas, ele pode ficar 
com um escore de 0 a 24 pontos. E 
a gente vai definir que há disfunção 
quando o paciente tiver um aumento 
de 2 pontos no SOFA. 
SE LIGA! O que define a disfunção é o 
aumento de 2 pontos, então se o pa-
ciente tiver alguma condição de base 
que confira alguma pontuação no SOFA, 
ele só terá evidência de disfunção se au-
mentar 2 pontos em relação a essa pon-
tuação prévia.
Massa. Mas quando a gente olha 
para uma tabela dessas é inevitá-
vel pensar 2 coisas. A primeira delas 
é: precisa gravar tudo isso? Não! 
O SOFA sempre vai estar disponí-
SOFA ESCORE 0 1 2 3 4
PaO2/FiO2 ≥400 <400 <300
<200 com 
suporte venti-
latório
<100 com 
suporte venti-
latório
Plaquetas (103) ≥150 <150 <100 <50 <20
Bilirrubina <1,2 1,2-1,9 2-5,9 6-11,9 ≥12
Cardiovascular PAM ≤70 PAM <70
Dopamina <5 
ou dobutami-
na (qualquer 
dose)
Dopamina 
(5,1-15) ou 
adrenalina 
≤0,1 ou nora-
drenalina ≤0,1
Dopamina 
>15 ou adre-
nalina >0,1 ou 
noradrenalina 
>0,1
Glasgow 15 14-13 12-10 9-6 <6
Creatinina ou
débito urinário
(mL/dia)
<1,2 1,2-1,9 2-3,4
3,5-4,9 ou DU 
<500
>5 ou DU 
<200
Tabela 1: SOFA - Sequential Organ Failure Assessment
vel para consulta, então na prática a 
gente não precisa memorizar todos 
esses valores de referência, mas, 
por outro lado, conhecer quais são 
os parâmetros avaliados (bilirrubina, 
creatinina, etc.) é fundamental pois é 
isso que define quais exames vamos 
solicitar! 
E a segunda coisa que vem à nossa 
cabeça quando olhamos para o SOFA 
é que ele é uma escala complexa e 
realmente o SOFA não é uma ferra-
menta prática que a gente consegue 
aplicar facilmente na abordagem de 
um paciente - até porque vamos pre-
cisar do resultado de alguns exames, 
como acabamos de ver. Foi justamen-
te por conta disso que se criou uma 
versão bem mais simplificada dele, o 
famoso: qSOFA (quickSOFA), que 
tem 3 critérios:
9SEPSE
Hipotensão 
sistólica (≤ 
100mmHg)
Alteração 
de estado 
mental 
(GCS < 15)
Taquipneia 
(≥ 22 ipm)
≥ 2 pontos indica disfunção orgânica - SOFA
qSOFA
O qSOFA se baseia em critérios clí-
nicos para identificar a probabilidade 
de um paciente com infecção (ou pelo 
menos suspeita) ter um prognóstico 
ruim e aí, justamente por não preci-
sar de testes laboratoriais, ele acaba 
sendo uma ferramenta mais simples, 
rápida e prática de ser aplicada. No 
entanto, apesar de alguns estudos 
apontarem que ele tem um valor pre-
ditivo similar ao do SOFA, o qSO-
FA não define diagnóstico! Assim, 
a gente admite que um qSOFA ≥ 2 
pontos é um indicativo de disfunção 
e, por isso, o SOFA deve ser aplicado. 
Então já vimos que o Sepsis-3 tirou 
os conceitos de SIRS e Sepse Gra-
ve, já entendemos a nova definição 
de Sepse e agora só nos resta atu-
alizar o que é Choque Séptico. Pois 
bem… diante de todas essas altera-
ções, o conceito de Choque Séptico 
acaba mudando por tabela, de modo 
que para definirmos que o paciente 
está com um quadro desses, ele pre-
cisa de vasopressores para manter a 
pressão arterial média (PAM) igual ou 
maior que 65mmHg, como também 
deve apresentar uma hiperlactate-
mia, o que corresponde a um lactato 
sérico superior a 2mmol/L (18mg/dL). 
SEPSIS-3
Sepse Infecção + Disfunção orgânica
Choque 
séptico
Sepse + Vasopressores +
 Hiperlactatemia
MAPA MENTAL sepsis-2 sepsis -3
Sepse
Sepsis - 2
Sepsis - 3
Infecção + SIRS
• Febre/hipotermia
• Taquicardia
• Taquipneia ou 
hipocapnia
• Leucocitose ou 
leucopenia
Infecção + SOFA
• PAM
• PaO2/FiO2
• Bilirrubina
• Creatinina/Debito 
urinário
• Plaquetas
• Escala de coma de 
Glasgow
Disfunção orgânica
• Hipotensão
• Debito urinário/
Creatinina
• Plaquetas/INR
• Bilirrubina
• PaO2/FiO2
• Hiperlactatemia
Sepse grave
CONCEITO NÃO EXISTE 
NO SEPSIS-3!
A sepse é considerada uma 
doença grave por si só
Sepse grave + 
hipotensão não 
responsiva à volume, 
necessitando de DVA 
para manter PAM ≥ 
65mmHg 
Choque séptico
Sepse + hipotensão não 
responsiva à volume, 
necessitando de DVA para 
manter PAM ≥ 65mmHg
+
Lactato > 2mmol/L
 (18mg/dL) 
Maior gravidade
10SEPSE
4. ABORDAGEM 
DIAGNÓSTICA
Agora que já estamos dominando os 
conceitos atuais e antigos no que tan-
ge à Sepse, vamos começar a aplicar 
isso na prática e sistematizar como 
é que deve ser a nossa abordagem 
para com esses pacientes. 
Pois bem…a primeira coisa que preci-
samos ter em mente é o quadro clíni-
co do paciente. De maneira prática, a 
apresentação da Sepse se dá de forma 
bastante inespecífica e os sintomas 
identificados costumam estar muito 
mais relacionados ao processo infec-
cioso em curso. Dessa forma, os pa-
cientes costumam se apresentar com 
taquicardia, taquipneia, alteração da 
temperatura (para mais ou para me-
nos) e com a evolução do quadro po-
dem começar a apresentar sinais de 
choque e disfunção orgânica.
Reparou? Os principais sintomas 
que a gente identifica num paciente 
com Sepse são aqueles mesmos que 
compõem o critério para definir SIRS 
no Sepsis-2. É justamente por isso 
que o Instituto Latino Americano de 
Sepse (ILAS) propõe uma aborda-
gem que mescla um pouco dos dois 
últimos Consensos Internacionais - 
até como forma de um compensar os 
pontos fracos do outro. Mas vamos 
com calma para entendermos todos 
os passos. 
Digamos que estamos avaliando um 
paciente e aí suspeitamos que ele 
esteja com alguma infecção. Diante 
disso, nós vamos pesquisar se há ≥ 2 
critérios de SIRS e/ou se há disfun-
ção orgânica. Se tiver, liga o alerta e 
começa a investigar Sepse. 
O próximo passo, então, é pensar no 
foco infeccioso. O paciente já tem 
uma infecção diagnosticada? Em não 
tendo, o quadro dele realmente nos 
permite sustentar essa suspeita? Se 
a resposta aqui for não, a gente vai 
atrás de um manejo fora do protocolo 
de Sepse, mas se a resposta for sim, 
11SEPSE
aí vamos nos aproximar um pouco 
mais do diagnóstico de Sepse. No en-
tanto, antes de continuar o raciocínio, 
existem 2 tópicos muito importantes 
e que precisamos levar em conside-
ração: 
• Cuidado de fim de vida; 
• Quadro sugestivo de doença atípi-
ca - como dengue, malária e lep-
tospirose. 
Nessas duas situações a gente vai in-
terromper a investigação e cuidar do 
paciente por outro protocolo que não 
o de Sepse. No primeiro caso, inves-
tindo em cuidadospaliativos para o 
SEPSIS-3 Sepse Infecção + Disfun-
ção Orgânica Choque Séptico Sepse 
+ Vasopressores + Hiperlactatemia 
paciente e no segundo tratando es-
pecificamente a doença que ele apre-
senta. 
Agora…se ele não se enquadrar em 
nenhuma dessas situações, aí nós va-
mos continuar investigando Sepse e 
para isso temos que lembrar que o 3º 
Consenso Internacional restringiu um 
pouco as coisas, então para fechar o 
diagnóstico a gente precisa identificar 
se há disfunção orgânica através da 
aplicação do qSOFA.
MAPA MENTAL: ABORDAGEM DIAGNÓSTICA
Não Sim
Sim
Não
Sim
Não
Sim
Não, somente SIRS
Sim Não
Não
Sim
Presença de dois 
critérios de SIRS 
e/ou uma disfunção 
orgânica?
Disfunção orgânica
• Hipotensão: PAS ≤ 90mmHg
• Sonolência, agitação, 
confusão ou coma
• SatO2 ≤ 90%, necessidade 
de O2 ou dispneia
• Diurese < 0,5mL/Kg/h
Acionar equipe médica
O paciente apresenta:
Foco infeccioso suspeito 
ou confirmado?Finalizar protocolo
Pacientes em cuidados 
de fim de vida?
Continuar atendimento 
fora de protocolo sepse
Quadro sugestivo 
de doenças atípicas 
(dengue, malária, 
leptospirose)?
Paciente com 
disfunção orgânica?
Seguimento ao 
atendimento em 
protocolo Sepse
Paciente com qSOFA ≥ 2
Redobrar a atenção: Alto risco de óbito
• Reavaliar o paciente a cada hora
• Agilizar transferência para UTI sempre 
que possível
Quadro clínico pouco 
sugestivo de sepse (IVAS, 
amigdalite ou pacientes 
sem fatores de risco?
Continuar atendimento 
fora de protocolo sepse
Manter a 
atenção, pois 
o paciente tem 
risco de vida
12SEPSE
É nesse ponto do fluxograma que a 
ILAS propõe uma interação maior en-
tre os dois últimos protocolos diag-
nósticos de Sepse. Presta atenção: 
se nesse momento da abordagem a 
gente não identificasse disfunção or-
gânica, o paciente não seria tratado 
como Sepse pelo Sepsis-3. No en-
tanto, o fato dele ter uma SIRS com 
infecção suspeitada ou diagnosticada 
faria com que ele fosse tratado pelo 
Sepsis-2. 
Em cima disso, o que ILAS faz com 
esses casos em que há divergência 
diagnóstica entre o Sepsis-2 e o Sep-
sis-3 é recorrer à clínica do paciente. 
Se ele tiver com um quadro infeccio-
so que não seja sugestivo de Sepse 
- como uma infecção de via aérea 
superior (IVAS) ou uma amigdalite, 
por exemplo - a gente desconside-
ra submeter o paciente ao protocolo 
de Sepse. Por outro lado, se o quadro 
dele te fizer suspeitar que há um risco 
grande dele evoluir com disfunção or-
gânica nos próximos dias, aí podemos 
iniciar o protocolo de Sepse para ele. 
Levando em conta também, que cada 
instituição de saúde pode apresentar 
um protocolo de sepse diferente.
5. ABORDAGEM 
TERAPÊUTICA
Uma vez tendo levantado a suspei-
ta de Sepse, a gente deve manejar o 
paciente o mais rápido possível e isso 
envolve, logo de cara, monitorizá-lo 
e garantir acesso vascular, sendo 
que por esse nós já devemos colher 
os exames necessários para definir o 
SOFA, ou seja:
Gasometria arterial Hemograma
Plaquetograma Coagulograma
Bilirrubina Creatinina
Além disso, é importante investigar o 
foco infeccioso e por isso deve ser so-
licitado também 2 hemoculturas de 
sítios diferentes e culturas de todos 
os sítios pertinentes. Esses exames 
precisam ser feitos antes do início da 
terapia medicamentosa, contudo, não 
podemos atrasar a conduta inicial es-
perando o resultado! 
A antibioticoterapia deve ser insti-
tuída de imediato (antes da primeira 
hora após o atendimento ao pacien-
te), preferencialmente após a coleta 
das culturas – como dito anterior-
mente. A cada hora de atraso no iní-
cio na antibioticoterapia, a mortalida-
de aumenta cerca de 4%. A escolha 
de qual medicação deve ser usada vai 
variar de acordo com o foco suspeito 
de infecção, uso prévio de antibióticos, 
internação recente, comorbidades e/
ou imunossupressão, dispositivos in-
vasivos e os padrões de resistência 
dos microrganismos locais. A esco-
lha inicial deve incluir uma cobertura 
de amplo espectro (com um único 
agente ou uma combinação de agen-
tes), sendo que o espectro deve ser 
reduzido quando os patógenos tive-
13SEPSE
rem sido isolados e as sensibilidades 
estabelecidas, ou quando a evolução 
clínica permitir. Sendo importante 
salientar que nem sempre é possí-
vel isolar o patógeno na cultura, mas 
é importante realizar para guiar um 
possível tratamento posterior.
Com base nisso, assim que forem co-
lhidos os exames para investigação 
de foco, a gente deve iniciar o pacote 
de 1h proposto pela Campanha de 
Sobrevivência à Sepse em 2018. 
Basicamente, o que ele nos diz é que 
nós temos 1h desde a triagem do pa-
ciente para realizar toda a abordagem 
inicial à Sepse. 
SAIBA MAIS
Em 2018 foi proposto um pacote de 1 
hora para a abordagem inicial da sepse. 
Cheque esse artigo se quiser se apro-
fundar no tema: LEVY, Mitchell; et al. 
2001 SCCM/ESICM/ACCP/ SIS Interna-
tional Sepsis Definitions Conference.
Sendo assim, para todos os pacien-
tes nós vamos colher o Lactato , po-
dendo ser arterial ou misto - inclusive, 
isso já deve ser feito juntamente com 
a gasometria lá em cima. Associado 
a isso, se o paciente estiver com si-
nais de hipotensão e/ou lactato 2x 
maior do que o valor de referência 
(2mmol/L ou 18mg/dL), aí está indi-
cado fazer reposição volêmica no 
paciente através da infusão de crista-
loide, 30mL/kg por 3h, se atentando 
ao fato de que cada paciente deve ser 
individualizado, pois nem todos su-
portam a mesma reposição de fluidos 
– devido a comorbidades prévias ou 
estrutura física. 
A avaliação do estado hemodinâmi-
co deve ser feita com a monitorização 
da frequência cardíaca, da pressão 
arterial, exame cardiovascular, tempo 
de enchimento capilar e avaliação da 
pele e mucosas.
Em pacientes com sinais de hipo-
perfusão a despeito das medidas de 
ressuscitação volêmica, ou pacientes 
que não possam receber muito volu-
me – como pacientes com insuficiên-
cia cardíaca - podem ser introduzido 
o uso de drogas vasoativas para au-
xiliar na estabilização do quadro.
Passado tudo isso, o paciente deve 
ser internado e continuar com a mo-
nitorização e com o tratamento para 
a infecção. Por fim, para aqueles que 
apresentaram hiperlactatemia, é 
importante mensurar o lactato mais 
uma vez entre 2-4h após a aplicação 
do protocolo para reavaliar o estado 
do paciente.
14SEPSE
Suspeita de sepse
Monitorização
Acesso Venoso
Coleta de exames - 
SOFA
• Investigação 
de foco
• Disfunção orgânica
• Dosagem lactato
Antibioticoterapia
Fluidoterapia 
(avaliar!)
Presunção de infecção
+
Alterações relevantes na história
Pacientes idosos ou imunossupressos
FLUXOGRAMA RESUMO
Aplicação do qSOFA
PAS < 100mmHg
Glasgow < 15
FR > 22 IPM
qSOFA ≥ 2 qSOFA < 2
• Reavaliar se 
persistir suspeita
• Descartar
Monitorização
Acesso Venoso
Protocolo SEPSE
• Coleta de exames 
SOFA
• Investigação de 
foco
• Antibioticoterapia 
SOFA
• Respiratório
• Cardiovascular
• Fígado
• Coagulação
• Rim
• SNC
SOFA ≥ 2
Sepse
Lactato ≥ 2 mmol/L
PAM < 65mmHg após 
ressuscitação volêmica 
Choque séptico
• Internamento em 
unidade fechada
• Droga vasoativa 
se necessário
• Avaliar resposta 
à volume
• Dosagem seriada 
de lactato
• Avaliação 
parâmetros 
de perfusão
15SEPSE
REFERÊNCIAS 
BIBLIOGRÁFICAS
GOLDMAN, Lee; SCHAFER, Andrew. Cecil Medicina. 24ª ed. Rio de 
Janeiro: Elsevier, 2014. 
Instituto Latino Americano de Sepse. Roteiro de Implementação de Protocolo 
Assistencial Gerenciado. 5ª ed. São Paulo: 2019. 
LEVY, Mitchell; et al. 2001 SCCM/ESICM/ACCP/ SIS International Sepsis Definitions 
Conference. I n t e n s i v e C a r e M e d . 2003;29:530-538. 
LEVY, Mitchell; et al. The Surviving Sepsis Campaign Bundle: 2018 Update. Critical Care 
Medicine. Vol. 46, nº 6. Jun, 2018. 
MARTINS, Herlon. NETO, Rodrigo. VALESCO, Irineu. Medicina de Emergência – Aborda-
gem Prática. 13ª ed. São Paulo: Manole, 2019. 
NEVIERE, Remi. Pathophysiology of sepsis. Uptodate, 2018. 
SCHMIDT, Gregory. MANDEL, Jess. Evaluation and management of suspected sepsis 
and septicshock in adults. Uptodate, 2018. 
SINGER, Mervyn et al. The Third International Consensus for Sepsis and Septic Shock 
(Sepsis-3). JAMA. Vol. 315, nº 8. Fev. 2016.
16SEPSE

Continue navegando

Outros materiais