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ESQUIZOFRENIA A esquizofrenia engloba um grupo de transtornos com etiologias heterogêneas e inclui pacientes com apresentações clínicas, resposta ao tratamento e cursos da doença variáveis. Os transtornos esquizofrênicos são descritos, em geral, por distúrbios característicos do pensamento, da percepção e do afeto. Nenhum fator etiológico isolado é considerado como causador. O mais frequentemente usado é de que o indivíduo que desenvolve esquizofrenia teria uma vulnerabilidade biológica específica (diátese), que, ativada pelo estresse, permitiria o aparecimento dos sintomas. Os fatores estressores podem ser genéticos, biológicos, psicossociais ou ambientais. Apesar de não completamente esclarecida, a ação dopaminérgica mostra-se importante nas manifestações sintomáticas da esquizofrenia, bem como estão sendo estudadas alterações neuropatológicas e neuroquímicas principalmente no sistema límbico e gânglios da base. O efeito da doença é grave e geralmente de longa duração. Costuma começar antes dos 25 anos, persiste durante toda a vida e afeta pessoas de todas as classes sociais. O diagnóstico é feito com base na história psiquiátrica e avaliação do exame do estado mental. Não existe exame laboratorial para o transtorno. Nos EUA, a prevalência é de cerca de 1%. O início é mais precoce entre os homens e as mulheres tem uma apresentação bimodal com um segundo pico na meia-idade. Quando ocorre após os 45 anos, o transtorno é caracterizado como esquizofrenia de início tardio. O abuso de substâncias é comum na esquizofrenia. Em pacientes propensos, o uso elevado de Cannabis tem 6x mais risco de desencadear a doença. Anfetaminas, cocaína e drogas semelhantes têm a capacidade de aumentar os sintomas psicóticos. Até 90% dos pacientes podem ser dependentes de nicotina. A probabilidade de uma pessoa ter esquizofrenia está correlacionada com a proximidade da relação com um parente de 1º ou 2º graus. Não é o gene e sim o conjunto de vários outros fatores inclusive ambientais que estão envolvidos na determinação do desfecho de esquizofrenia. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O quadro clínico da esquizofrenia é bastante polimorfo e heterogêneo. Não sinal ou sintoma patognomônico. Na avaliação é necessário levar em conta o nível educacional, a capacidade intelectual e o ambiente cultural do paciente. Os sintomas podem mudar com a evolução do quadro. Há retraimento social e emocional, introversão, tendência ao isolamento e comportamento desconfiado e excêntrico. São pessoas de poucos amigos, que apresentavam dificuldades na escola e no relacionamento afetivo. Muitas vezes também não conseguem se adaptar ao trabalho. São características compatíveis com a personalidade esquizoide (frieza emocional, atividades isoladas, introspecção) ou esquizotípica (comportamento estranho e crenças excêntricas). O paciente esquizofrênico dificilmente tem crítica de que seu estado é patológico. O nível de consciência, orientação temporoespacial, memória e inteligência não são diretamente afetados, a menos em decorrência do quadro psicótico. Sua aparência é em geral desleixada, sem cuidados próprios. Comportamento agitado ou violento em resposta à atividade alucinatória. Em casos de catatonia pode apresentar posturas bizarras, mutismo, negativismo e obediência automática. Podem apresentar estereotipias, maneirismos, tiques e ecopraxia (imitação). Sua afetividade pode apresentar embotamento e inapropriação do afeto. Perplexidade, ambivalência ou instabilidade afetiva. As alucinações mais comuns são auditivas, com vozes ameaçadoras, obscenas ou acusatórias. Podem dialogar entre si ou comentar a vida e atitudes do paciente. Alucinações cenestésicas (percepções alteradas dos órgãos e do esquema corporal). Alucinações visuais, táteis, olfativas e gustativas podem indicar uma síndrome psicorgânica ou de psicose desencadeada por drogas. O delírio é uma das principais alterações do pensamento, podem ser de cunho persecutório, autorreferentes, religiosos, grandiosos ou de influência (pensamento e comportamento controlados por entidade externa). Pode haver afrouxamento dos nexos associativos, incoerência e tangencialidade. O paciente pode apresentar neologismos e ecolalia, bem como quadros de mutismo e mussitação (falando para si em murmúrios monocórdicos). DIAGNÓSTICO Quatro As de Bleuler: Associação, Afeto, Autismo e Ambivalência. Associados a sintomas acessórios como alterações sensoperceptivas, delírios, sintomas catatônicos e alterações de memória e atenção. • Esquizofrenia paranoide → forma mais comum e de início mais tardio do que outros subtipos. Caracterizada por presença de ideias delirantes, conteúdo persecutório, de grandeza ou místico, acompanhada de alucinações auditivas e perturbações da sensopercepção. As vozes são ameaçadoras ou de comando e vivências de influência são comuns. • Esquizofrenia herbefrênica → inadequação e incongruência do afeto, com risos imotivados e maneirismos. Delírio fragmentado e grave desorganização do pensamento. Discurso incoerente e alucinações auditivas. Comportamento pueril e inapropriado. O início deste quadro costuma ser antes dos 25. Tendência a isolamento social e prognóstico desfavorável (embotamento afetivo e perda da volição). • Esquizofrenia catatônica → predomínio de distúrbios da psicomotricidade, presença de estupor, posturas bizarras, mutismo, rigidez, flexibilidade cérea, obediência automática, negativismo e ou estereotipias. Episódios de agitação violenta e impulsividade. DD com doenças infecciosas e intoxicações. • Esquizofrenia indiferenciada → quando o quadro preenche os critérios diagnósticos gerais para esquizofrenia, mas não corresponde a nenhum dos subtipos acima ou com características de mais de um, sem predominância. • Esquizofrenia residual → estágio tardio da evolução de muitos casos, com presença persistente de sintomas negativos como retardo psicomotor, hipoatividade, embotamento afetivo, falta de iniciativa, descuido pessoal, isolamento social e pobreza do discurso. • Esquizofrenia simples → início insidioso e progressivo de conduta estranha e incapacidade para atender às exigências da sociedade, com declínio global do desempenho. Os aspectos negativos da esquizofrenia residual se desenvolvem sem ser precedidos por sintomas psicóticos manifestos. • Depressão pós-esquizofrênica → episódio depressivo ao fim de uma crise. Acompanha alto risco de suicídio. TRATAMENTO Utiliza-se antipsicóticos (neurolépticos) associados a estratégias psicossociais. Os APs atípicos são mais bem toleradas e mais eficazes no tratamento de sintomas negativos, porém são de alto custo. O tratamento do primeiro episódio deve ser iniciado com doses baixas de um neuroléptico de segunda geração, com aumento gradual da dose semanalmente. Eles podem demorar de 3 a 8 semanas para produzir algum efeito. Se não houver resposta deve-se substituir por um neuroléptico de outra classe. A medicação deve ser mantida por um mínimo de 6 a 12 meses após remissão dos sintomas. Nos episódios psicóticos agudos com extrema agitação e agressividade podem ser utilizados neurolépticos injetáveis IM até a medicação oral agir eficazmente. Quando estável, manter a menor dose possível da medicação. A internação deve ser vista como uma medida extrema, de curta duração e que se recorre para proteção do paciente quando outros meios tiverem falhado.
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