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Fenômenos de Direito Constitucional Intertemporal 1. Revogação Global Com a chegada de uma nova Constituição, a anterior é completamente revogada, expressa ou tacitamente. Como se tratam de normas de mesma hierarquia e versam igualmente sobre matéria constitucional, aplica-se o princípio geral do direito no sentido de que a lei nova revoga completamente a anterior. Esse fenômeno também pode acontecer nas Constituições Estaduais, com a nova Constituição revogando a anterior. 2. Desconstitucionalização É um fenômeno que precisa ser expresso e determina que parte da Constituição anterior continua a produzir efeitos sob a forma de norma infraconstitucional. Foi adotado pela Constituição de Portugal de 1976, que dispôs que as leis constitucionais posteriores a 25 de abril de 1974, ressalvadas algumas poucas normas, seriam consideradas leis ordinárias. Também pode ocorrer no âmbito das Constituições Estaduais, desde que o fenômeno esteja expressamente previsto na nova Constituição. 3. Vacatio Constitutionis É o período de tempo entre a publicação de uma nova Constituição e a sua entrada em vigor. Não existindo uma cláusula estabelecendo a vacatio, entende-se que a vigência é imediata, a partir da sua promulgação. Toda norma infraconstitucional criada nesse período e que contraria as normas constitucionais da Constituição anterior será inválida, ainda que esteja de acordo com a nova Constituição. Se, por sua vez, estiverem em conformidade com a norma constitucional vigente, serão consideradas Em regra, esse fenômeno não é adotado em nosso país, exceto pela Constituição de 1967, que o previu expressamente, sendo promulgada no dia 24 de janeiro de 1967 e entrando em vigor em 15 de março do mesmo ano. Revogação Total: Ab-rogação Revogação Parcial: Derrogação constitucionais. Quando a nova Constituição entrar em vigor, será avaliado se as normas criadas no período da vacatio serão recepcionadas ou revogadas. 4. Recepção É um fenômeno de natureza material que considera a Constituição nova e a legislação infraconstitucional anterior a ela, sendo um fenômeno que ocorre de forma automática, não expressa. Se as normas anteriores forem compatíveis, materialmente, com a nova Constituição, serão recepcionadas e continuarão a produzir os seus efeitos. A incompatibilidade formal não impede a recepção da norma por força do princípio do tempus regit actum, ou seja, o processo legislativo da norma pré-constitucional será regido pela Constituição que existia a época da sua elaboração. Portanto, não haverá a inconstitucionalidade formal superveniente. A não recepção é a incompatibilidade material do direito ordinário anterior com o texto constitucional novo. As normas não poderão ser declaradas inconstitucionais em face da nova Constituição pois retiraram seu fundamento de validade de Constituição anterior mas sim não– – recepcionadas. No Brasil, não há a inconstitucionalidade superveniente, ou seja, uma norma válida não se torna inválida com a chegada de uma nova Constituição. A não recepção da norma gerará a revogação, não uma declaração de inconstitucionalidade, portanto não caberá ADI. Pode-se continuar tendo normas pré-constitucionais ainda que editadas após a CRFB/88, pois o parâmetro de recepção ou de não-recepção não se esgota na Constituição originária, abrangendo também as normas constitucionais derivadas, seguindo de acordo com as alterações que a Constituição for sofrendo ao longo dos anos. As Emendas Constitucionais criam novos parâmetros de recepção, não recepção, controle de constitucionalidade. Sendo assim, deve-se analisar perante qual norma constitucional se está questionando aquela lei. Se a norma torna-se incompatível em razão de EC, ela será recepcionada ou não recepcionada em face dessa Emenda. No caso do Código Tributário Nacional, foi recepcionado nas partes que estavam compatíveis com a nova ordem constitucional. Como a Constituição estabelece que certos assuntos tributários sejam tratados por lei complementar, e o CTN é lei ordinária, ele foi recepcionado com o status formal determinado pelo novo ordenamento, como LC, e as futuras mudanças regem-se pelo processo legislativo da CRFB/88. As normas infraconstitucionais preexistentes só podem ser impugnadas no controle concentrado federal de constitucionalidade por meio da ADPF, que permite a análise de recepção ou não recepção. Também podem ser analisadas por meio de controle difuso. 5. Repristinação A regra na legislação infraconstitucional é a da revogação: Lei nova revoga a legislação anterior. A repristinação é o fenômeno expresso que determina que, se a legislação nova assim dispuser, a lei revogada restaurará seus efeitos jurídicos com a revogação da lei que a revogou. Difere dos efeitos repristinatórios, que serão estudados no controle de constitucionalidade. Foi posta a ADPF 144 em face da LC 64/90 (Lei das Inelegibilidades). O parâmetro de controle dessa Lei era a Constituição de 1988 anterior à lei com as alterações feitas pela Emenda – – de Revisão 4/94 posterior à lei e, portanto, deve-se avaliar a sua recepção frente ao – – ordenamento, não a sua constitucionalidade. Art. 2º §3º Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência. Exemplo: O Código de 1916 foi revogado pelo Código Civil de 2002. Hipoteticamente, o Código Civil de 2030 revoga o de 2002 e prevê expressamente que, com a revogação do CC/2002, o CC/1916 volte a produzir os seus efeitos.
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