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FENÔMENOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL INTERTEMPORAL

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REVOGAÇÃO GLOBAL 
No Brasil, entre um ordenamento constitucional novo e as normas constitucionais 
anteriores, em regra, sempre se operou o fenômeno da revogação global, que significa 
dizer que a Constituição nova revoga a Constituição que a antecedeu, deixando esta última 
de produzir seus efeitos jurídicos. Como são normas de mesma hierarquia e versam 
igualmente sobre matéria constitucional, aplica-se o princípio geral do direito no sentido 
de que a lei nova revoga completamente a anterior. 
O fenômeno é simples de entender se considerarmos a instabilidade da vida política do 
país, num contexto que sempre oscilou entre regime ditatorial (civil ou militar) com a 
pseudodemocracia. Nada impede, entretanto, que com base na liberdade jurídica do poder 
constituinte originário, outro fenômeno venha a ser adotado no Brasil. 
Quanto à extensão a revogação poderá ser total (ab-rogação) ou parcial (derrogação). 
Portanto, quando uma nova Constituição é promulgada, salvo disposição em sentido 
contrário, haverá a revogação total no texto constitucional anterior. 
 
DESCONSTITUCIONALIZAÇÃO 
A desconstitucionalização ocorre quando a nova Constituição dispõe que alguns 
dispositivos da ordem constitucional anterior serão mantidos válidos perante o novo 
ordenamento, mas não sob a forma de Constituição, e sim sob a forma de norma 
infraconstitucional. Não é um fenômeno automático e, para acontecer, deverá vir expresso 
no novo texto da Constituição. 
 
VACATIO CONSTITUTIONIS 
A vacatio constitutionis é o período de tempo entre a publicação de uma nova Constituição 
e a sua entrada em vigor. Não é, em regra, adotado no país, muito embora a Constituição 
de 1967, promulgada no dia 24 de janeiro de 1967, o tenha estabelecido expressamente: 
“Art. 189. Esta Constituição será promulgada, simultaneamente, pelas Mesas das Casas do 
Congresso Nacional e entrará em vigor no dia 15 de março de 1967”. 
Ressalte-se que a Constituição de 1988 entrou em vigor na data da sua promulgação, não 
estabelecendo o referido fenômeno. Não existindo uma cláusula estabelecendo a vacatio, 
entende-se que a vigência é imediata, a partir da sua promulgação. 
Durante a vacatio constitutionis toda norma que tenha sido criada e que contrarie as normas 
constitucionais já existentes será inválida, ainda que esteja de acordo com a Constituição 
promulgada, mas não em vigor. De outro lado, as leis que tenham sido promulgadas nesse 
período em conformidade com as regras constitucionais vigentes valem enquanto durar a 
vacatio, mas ficam revogadas com a entrada em vigor do novo texto constitucional, caso 
não estejam em conformidade material com a nova Constituição. 
 
RECEPÇÃO E NÃO RECEPÇÃO 
A recepção é um fenômeno de natureza material porque não analisa o processo legislativo 
que fundamentou a elaboração da norma, fixando-se na verificação de seu conteúdo, pois, 
se o olhar da Constituição sobre o ordenamento anterior fosse muito rigoroso, 
pouquíssimas seriam as normas efetivamente recepcionadas. Além do que, a norma que vai 
reger o processo legislativo é a que existia no momento de sua elaboração (tempus regit 
actum), e não as normas de uma Constituição futura. Por isso, a recepção vai analisar o 
conteúdo da lei, se este for compatível com os princípios e as regras da nova Constituição, 
vai ser mantida, não sendo compatível, será afastada, deixando de produzir seus efeitos 
jurídicos. A recepção é um fenômeno automático. 
As normas anteriores, incompatíveis formalmente com a nova Constituição, serão por ela 
recebidas se houver compatibilidade material e passarão a ter status formal determinado 
pelo novo ordenamento constitucional. Podemos citar como exemplo, o Código Tributário 
Nacional – CTN, que foi feito sob a forma de lei ordinária e a Constituição de 1988 
determina que as normas gerais tributárias sejam tratadas por lei complementar. As normas 
não compatíveis materialmente com a nova Constituição, não serão recepcionadas. Em face 
da incompatibilidade material da norma pré-constitucional com a nova Constituição, a lei 
anterior deixará de produzir seus efeitos jurídicos por força da revogação. 
Importante destacar que o parâmetro de recepção ou de não recepção não se esgota na 
Constituição originária, mas abrange também as normas constitucionais derivadas. 
 
REPRISTINAÇÃO 
De acordo com o art. 2º, § 3º, da Lei de Introdução às normas do Direito brasileiro, uma 
lei validamente revogada não volta a produzir efeitos jurídicos com a revogação da lei que 
a revogou. Esse é um fenômeno salutar de sucessão legislativa no país. A sociedade muda 
e as normas precisam acompanhá-la, sob pena de descompasso temporal entre a realidade 
e as leis. 
Entretanto, conforme a parte inicial do dispositivo da lei sob nossa análise, é possível que 
mediante disposição expressa, a lei nova, revogadora de outra, que revogou a que a 
antecedeu “repristine” (restaure os efeitos jurídicos) de uma norma já revogada, realizando 
o fenômeno da repristinação.

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