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RESUMO DO CAPÍTULO 29 - ESTIMULAÇÃO SENSÓRIO-MOTORA NO RECÉM-NASCIDO É necessário ao profissional multidisciplinar neonatal o conhecimento do desenvolvimento fetal e suas alterações, bem como a influência do ambiente neonatal sobre as etapas finais do desenvolvimento humano, principalmente no recém-nascido pré-termo (RNPT). O desenvolvimento do sistema nervoso central (SNC) tem início no período embrionário, e os processos de maturação, organização e mielinização continuam após o nascimento. Os estágios de diferenciação e desenvolvimento das células musculares primárias ocorrem nos primeiros meses de gestação, e, ao nascimento, a maior parte dos músculos esqueléticos já estão formados. As estruturas articulares estão desenvolvidas no final da oitava semana de gestação, e os movimentos fetais moldam as articulações e refinam a propriocepção. Para os RNPT em unidades de terapia intensiva, a compressão articular prolongada e a restrição de movimentos proporcionam mínimo refinamento dos mecanoceptores, predispondo a deformidades ósseas, encurtamentos musculares e diminuição da mobilidade articular. A hipotonia neonatal é um fator limitante tanto para aquisição quanto para manutenção da postura em flexão fisiológica, e pode ser decorrente de vários fatores, como doenças genéticas, congênitas, neurológicas ou neuromusculares, necessidade de ventilação assistida, uso de medicação e procedimentos médicos e cirúrgicos. Entretanto, a maior prevalência é encontrada nos RNPT em razão da imaturidade do sistema neuromotor. Os componentes posturais anormais são: hiperextensão cervical com rotação da cabeça preferencialmente para o lado direito; retração escapular com abdução, rotação externa e elevação dos ombros; hiperextensão do tronco com arqueamento cervical; extensão e rotação externa dos membros inferiores (“pernas de sapo”); flexão plantar; eversão dos pés; extensão do hálux. A intervenção precoce é uma forma de potencializar a interação da criança com o ambiente através de estímulos visuais, auditivos e táteis, levando à obtenção de respostas próximas ao padrão de normalidade e à inibição da aprendizagem de movimentos e posturas anormais. Antes de ser submetido a qualquer tipo de intervenção, o neonato deve possuir capacidade mínima para controlar e manter suas funções fisiológicas básicas e estar responsivo aos estímulos do meio ambiente. Os princípios da intervenção são baseados na predisposição dos RNPT para distúrbios biológicos e psicológicos, que não são contemplados por uma adequada estimulação nas unidades de terapia intensiva após o nascimento. A intervenção precoce procura dar condições para que o neonato se auto-organize, induzindo-o a interagir com os pais, cuidadores e o meio. Os programas de intervenção devem seguir as seguintes normas: a) adequar o ambiente de acordo com as limitações impostas pelos cuidados intensivos; b) estar de acordo com o estágio de maturação da criança; c) ser apropriado em relação ao estado do paciente, condições fisiológicas e respostas comportamentais; d) ser individualizado e modificado conforme as condições clínicas e a maturidade da criança; e) ser sensível aos sinais emitidos pela criança; e f) considerar a quantidade de estímulos sensoriais que a criança pode tolerar. O fisioterapeuta deve ser minucioso na avaliação, coletando dados de nascimento, evolução nas primeiras horas de vida, evolução clínica, estado de consciência, tono muscular, reflexos primitivos, desenvolvimento motor, maturidade dos sistemas, doenças associadas e intercorrências durante o período de internação. Essas informações indicarão o melhor momento para o início da intervenção, baseado nos déficits sensório-motores e na falta de experiências vividas pelo prematuro na UTIN. O fisioterapeuta neonatal atua diretamente na motricidade global, através de técnicas específicas, objetivando eliminar as reações posturais inadequadas e facilitar a motricidade normal. As técnicas utilizadas visam a aprendizagem e estimulação das funções corticais, de maneira a obter respostas globais. Nos exercícios terapêuticos, se encontra a dissociação de tronco em que o RN deve ser posicionado em decúbito lateral e sua cervical deve ser retificada (chin tucked – queixo encaixado), com flexão do tronco e dos MMII. As mãos do terapeuta devem ser dispostas da seguinte maneira: uma sobre o ombro e a outra sobre o quadril do paciente. Devem ser realizados movimentos simultâneos alternados de cintura escapular e pélvica; o alcance alternado em que o RN deve ser posicionado em decúbito dorsal, sua cervical deve ser retificada e o quadril fletido. O terapeuta deve envolver os braços e cotovelos da criança com as mãos e, suavemente, realizar movimentos alternados para frente e para trás (abdução e adução da escápula). Para melhorar a interação, o terapeuta deve fazer com que o RN alcance, toque e sinta sua face ou um brinquedo macio; sentir a cabeça e as mãos de modo que o RN deve ser posicionado em decúbito dorsal, a cervical deve ser retificada e o tronco e os MMII flexionados. O terapeuta deve segurar uma das mãos da criança levando-a até o alto da cabeça, fazendo com que a palma da mão deslize suavemente sobre a face. Esse movimento permite que o bebê sinta a própria cabeça. As mãos do bebê devem ser movidas para frente, de modo que ele possa focá-las e, em seguida, esfregadas uma contra a outra; chutes alternados, onde o RN deve ser posicionado em decúbito dorsal, sua cervical deve ser retificada e o tronco flexionado. O terapeuta deve envolver as coxas e os joelhos do RN com as mãos, realizando movimentos de chutes alternados, como se o bebê estivesse alcançando o céu com os pés. Para melhorar a interação, recomenda-se estimular o RN, beijando a sola dos pés ou esfregando-as no rosto; rolando de lateral para ventral, no qual o RN deve ser posicionado em decúbito lateral e sua cervical deve ser retificada. O terapeuta deve colocar as mãos na linha média, envolvendo as coxas e os joelhos do RN e mantendo os MMII fletidos (o MI supralateral mais fletido do que o infralateral). Rolar o RN até que o joelho supralateral toque o leito, voltando à posição inicial de forma suave. O movimento é de balanço; colocação plantar, onde o RN deve ser posicionado em decúbito lateral com o dorso voltado para o terapeuta, e sua cervical deve ser retificada. As mãos do terapeuta devem ser colocadas na linha média e dispostas uma sobre o tronco e a outra sobre a perna supralateral do bebê. Realizar a rotação interna do quadril e joelho supralateral, colocando a planta do pé à frente do quadril infralateral. Iniciar movimentos de tronco para frente e para trás, descarregando o peso na borda externa do pé; rolando o quadril em que o RN deve ser posicionado em decúbito dorsal, com a cabeça na linha média. As mãos do terapeuta devem ser dispostas envolvendo as laterais do quadril e da coxa do paciente. Elevar o quadril em flexão, realizando movimentos de rotação nos sentidos horário e anti-horário; rolando com as mãos nos joelhos, onde o RN deve ser posicionado em decúbito dorsal, com a cabeça na linha média. As mãos do terapeuta devem ser dispostas ao redor da pelve e das coxas do paciente. Deve-se manter o quadril em flexão e, com os dedos, tracionar as mãos do bebê sobre os joelhos, mantendo-as abertas; mãos sob o quadril, no qual o RN deve ser posicionado em decúbito dorsal, com flexão do quadril e extensão dos MMSS e as mãos espalmadas sob a coluna lombar ou o quadril. Rolar suavemente a criança de um lado para o outro; rolando de ventral para lateral, onde o RN deve ser posicionado em decúbito ventral, transversalmente ao terapeuta, com os MMSS elevados (flexão do ombro e extensão do cotovelo). Sustentar o ombro com uma das mãos e, com a outra, rolar a pelve do bebê para dorsal, elevando-a a aproximadamente 45°.Voltar à posição inicial e elevar o outro lado; cócoras, em que o RN deve ser posicionado na vertical, com o dorso em contato com o tórax e o abdome do fisioterapeuta, que deve estar sentado e recostado a 45°. Segurar o RN sob os artelhos e calcanhares, fletindo os MMII levemente abduzidos, em posição de cócoras. Balancear suavemente o tronco inferior e o quadril de um lado para outro. Além dos exercícios terapêuticos na estimulação precoce, faz-se necessário: estimulação tátil, estimulação visual, estimulação auditiva, estimulação vestibular e estimulação proprioceptiva. Sobre a estimulação tátil, sabe-se que o desenvolvimento do toque é essencial para a integração do ser humano com o meio. Estudos mostram que carícias fazem bem ao corpo e à alma, e que quanto mais cedo iniciadas, melhor. Recomenda-se que a estimulação tátil tenha duração entre cinco e quinze minutos, com objetivos traçados de maneira individual para cada RN, observando se com cuidado a aversão ao toque, os sinais de estresse, sono profundo e ciclo noite/dia. Na estimulação visual, evidencia que todos os bebês, ao nascer, possuem uma deficiência na precisão do controle e da coordenação da musculatura intrínseca ocular, são sensíveis à luz e atraídos por figuras simples com grande contraste em preto e branco. Com a evolução do estímulo, os RN se satisfazem com o aumento da complexidade das figuras. A respeito da estimulação auditiva, o ruído intermitente, de alta intensidade, pode ser danoso ao RN na UTIN. Estudos demonstraram que as alterações na estabilidade fisiológica na forma de sustos, apneia, bradicardia, alterações de coloração e quedas de saturação estavam relacionadas aos sons. De forma mais dramática, o nível sonoro da UTIN pode causar hipoxemia e alterações na pressão arterial e no fluxo sanguíneo cerebral, provocando lesões cerebrais. Na estimulação vestibular, a postura e o balanço são causados por respostas reflexas corticais (como as reações de equilíbrio) atuando sobre as reações dos níveis medulares (como os reflexos tônicos), segundo a teoria reflexo-hierárquica. O input vestibular pode ser promovido por meio do balanço do RN em várias direções e planos. A observação de sinais de retraimento (caretas, nistagmo, mudanças de comportamento) ou de sinais de aproximação (sucção não nutritiva e manutenção do tono muscular) é de fundamental importância. Sobre a estimulação proprioceptiva, os receptores localizados nos fusos musculares, responsáveis por detectar alterações no comprimento muscular (estiramento), são os proprioceptores. Eles constituem um dos componentes do sistema sensorial somático especializado em “sensação corporal” (propriocepção), o qual informa a posição e o movimento do corpo no espaço. O RN é favorecido com o alongamento da região cervical, cintura escapular e pélvica, por minimizar as lesões iatrogênicas e favorecer a organização da postura flexora e o equilíbrio das cadeias cinéticas. O posicionamento terapêutico é uma forma de intervenção que permite o desenvolvimento de respostas adaptativas semelhantes àquelas apresentadas por recém-nascidos a termo (RNT) saudáveis. Tem como objetivo promover regulação do estado neurocomportamental e autorregulação, proporcionar suporte postural e de movimento, facilitar a participação da criança nas experiências sensório-motoras normais, otimizar o desenvolvimento musculoesquelético e o alinhamento biomecânico. Os tipos de posicionamento terapêutico são: prono, supino e lateral.