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Economia Brasileira

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www.esab.edu.br
Economia
Brasileira
Economia Brasileira
Vila Velha (ES)
2014
Escola Superior Aberta do Brasil
Diretor Geral 
Nildo Ferreira
Diretora Acadêmica
Beatriz Christo Gobbi
Coordenadora do Núcleo de Educação a Distância
Beatriz Christo Gobbi
Coordenadora do Curso de Administração EAD
Rosemary Riguetti
Coordenador do Curso de Pedagogia EAD
Claudio David Cari
Coordenador do Curso de Sistemas de Informação EAD
David Gomes Barboza
Produção do Material Didático-Pedagógico
Delinea Tecnologia Educacional / Escola Superior Aberta do Brasil
Diretoria Executiva
Charlie Anderson Olsen
Larissa Kleis Pereira
Margarete Lazzaris Kleis
Conteudista
Stephanie Zanichelli
Coordenação de Projeto
Andreza Regina Lopes da Silva
Líderança Técnica Design Educacional
Renata Oltramari
Líderança Técnica Design Gráfico
Fernando Andrade
Líderança Técnica Revisão Gramatical
Tiago Costa Pereira
Design Educacional
Aline Batista
Revisão Gramatical
Laís Gonçalves Natalino
Michela Silva Moreira
Design Gráfico
Laura Rodrigues
Neri Gonçalves Ribeiro
Diagramação
Dilsonir José Martins Junior
Equipe Acadêmica da ESAB
Coordenadores dos Cursos
Docentes dos Cursos
Copyright © Todos os direitos desta obra são da Escola Superior Aberta do Brasil.
www.esab.edu.br
Av. Santa Leopoldina, nº 840
Coqueiral de Itaparica - Vila Velha, ES
CEP 29102-040
Apresentação
Caro estudante,
Seja bem-vindo à disciplina de Economia Brasileira. Nesta disciplina, você terá uma 
perspectiva da formação histórica da economia brasileira. Inicialmente você será 
apresentado ao período do descobrimento e às economias agrícolas extrativistas do 
período colonial. Irá conhecer os motivos e as consequências da crise do café no início 
da década de 1930. 
Também conhecerá o lado econômico do golpe militar da década de 1960 e os 
problemas ocasionados por esse período, assim como os desafios enfrentados pelos 
choques do petróleo e para o controle da inflação. Por fim, irá compreender como 
ocorreu a estabilização econômica do Brasil na década de 1990 com o Plano Real e os 
desafios atuais da economia brasileira.
A partir dessa compreensão histórica, você será capaz de analisar os problemas atuais 
do Brasil referentes à distribuição de renda, às desigualdades regionais e à questão 
do desemprego. Iremos conhecer os indicadores econômicos e sociais mais utilizados, 
assim como entender qual o papel do governo brasileiro no desenvolvimento 
econômico do país e como essa influência interfere no mercado de capitais e na 
competitividade das empresas brasileiras.
Como você pode notar, temos muitos assuntos a trabalhar.
Vamos iniciar!
Objetivo
• Entender a formação econômica e o encerramento do período do Brasil colônia.
• Compreender os ciclos econômicos do açúcar e do café.
• Analisar o período dos primeiros governos democráticos, em especial a crise do 
café.
• Conhecer o período econômico durante a ditadura militar e os principais planos 
econômicos utilizados pelos governos até esse período.
Habilidades e competências
• Conhecer os principais fatores de produção que colaboraram para a formação da 
economia brasileira.
• Identificar os esforços de industrialização dos períodos democráticos e ditatoriais.
• Discutir as ferramentas de controle da inflação, a implementação do Plano Real e a 
inserção do Brasil no contexto internacional.
• Compreender as ferramentas utilizadas pelos governos brasileiros para intervir na 
economia.
• Entender os fatores que englobam a conjuntura econômica e como auxiliam na 
tomada de decisão tanto dos órgãos públicos quanto dos privados.
• Analisar as políticas econômicas dos atuais governos.
Ementa
A formação econômica do Brasil e a moderna economia brasileira. A intervenção 
do Estado na economia e a nova forma de inserção da economia brasileira nos anos 
1990. Plano Real. Conjuntura econômica.
Sumário
1. A empresa agrícola do período colonial ..........................................................................6
2. O ciclo do açúcar ...........................................................................................................12
3. O ciclo do café ...............................................................................................................18
4. A crise do café e a crise de 1929 ....................................................................................23
5. A era populista e o golpe militar ...................................................................................28
6. Abordagem histórica da economia brasileira – parte I ..................................................33
7. Abordagem histórica da Economia Brasileira – parte II .................................................40
8. A volta à República .......................................................................................................46
9. A natureza da inflação brasileira ...................................................................................50
10. Inflação: choques externos e primeiras tentativas de controle ......................................54
11. Planos de estabilização econômica da década de 1980 .................................................58
12. Plano Collor I e II ...........................................................................................................64
13. As relações do Brasil com o exterior ..............................................................................69
14. Plano Real – parte I ......................................................................................................74
15. Plano Real – parte II .....................................................................................................80
16. A nova fase do Plano Real a partir de 2002 ...................................................................85
17. Os problemas do desenvolvimento econômico – parte I ...............................................89
18. Os problemas do desenvolvimento econômico – parte II ..............................................94
19. Desemprego e mercado de trabalho ...........................................................................101
20. Indicadores de crescimento e desenvolvimento ..........................................................107
21. Aspectos demográficos ...............................................................................................113
22. Alterações na presença do Estado no desenvolvimento brasileiro ...............................119
23. A reinserção do Brasil nos fluxos de capitais ................................................................124
24. Competitividade das empresas brasileiras ..................................................................129
Glossário ............................................................................................................................136
Referências ........................................................................................................................147
www.esab.edu.br 6
1 A empresa agrícola do período colonial
Objetivo
Compreender o surgimento do setor agrícola brasileiro e como este se 
tornou um dos principais setores da nossa economia até os dias atuais.
Veremos, nesta unidade, de que maneira ocorreu a colonização do Brasil 
e como Portugal escolheu o sistema de produção agrícola, com base no 
latifúndio e na mão de obra escrava. A colonização do Brasil foi decorrente 
da expansão comercial dos países europeus, liderados naquele momento 
por Portugal e Espanha. Nesta unidade, veremos como se formou a 
economia brasileira no período colonial com enfoque na formação da 
empresa agrícola e na questão do monopólio agrícola frente às outras 
possibilidades de produção nas colônias. Para abordar esses temas, foi 
utilizada a obra “Formação Econômica do Brasil”, de Furtado (2007).
1.1 O surgimento da empresa agrícola brasileira 
A colonização do Brasil e da América, ocorrida no século XVI, ocorreu 
devido ao avanço comercial dos paíseseuropeus. Ela não foi provocada 
por deslocamentos demográficos, ou seja, não havia necessidade de 
deslocamento da população de uma região para outra, mas sim de 
contornar o problema de desabastecimento de matéria-prima de 
qualidade que até aquele momento vinha do oriente. Inicialmente 
Portugal não povoou as terras brasileiras, pois o seu interesse ainda estava 
voltado às especiarias do oriente.
Porém, com a descoberta de ouro nas colônias espanholas, tanto Portugal 
quanto a Espanha se viram obrigados a povoá-las devido à pressão 
política dos demais países europeus, liderados por Holanda, França e 
Inglaterra. Portugal foi o primeiro país a utilizar suas colônias de maneira 
produtiva, que não fosse pela simples extração de metais preciosos, 
conseguindo, assim, financiar os gastos com a defesa de suas terras. Com 
www.esab.edu.br 7
esse objetivo, Portugal começou a exploração agrícola do Brasil, o que 
inicialmente não pareceu ser uma empresa viável, pois não havia na 
época nenhum produto agrícola, já produzido localmente, que tivesse 
uma alta demanda na Europa. 
Além da demanda, os fretes eram altos demais, devido ao risco do 
produto naufragar e aos altos custos que a empresa agrícola teria na 
produção e no escoamento dos produtos dentro do próprio país, por 
causa da distância com o restante do mundo. O desenvolvimento dessa 
empresa agrícola possibilitou que Portugal mantivesse suas terras na 
América, conseguindo financiar as defesas do país na colônia. Por isso, 
veremos, a seguir, quais foram os fatores que propiciaram o sucesso desse 
modelo de empresa agrícola no Brasil colônia. 
1.2 Os fatores de êxito da empresa agrícola e as 
razões do monopólio agrícola
Furtado (2007) afirma que o êxito da empresa agrícola portuguesa no 
Brasil se deve a um conjunto de fatores favoráveis. O primeiro deles 
é o conhecimento dos portugueses sobre a cultura em grande escala 
do açúcar, pois já tinham essa experiência em sua colônia nas ilhas do 
Atlântico. Com essa experiência anterior, Portugal adquiriu conhecimento 
e equipamentos para instalar os engenhos de açúcar no Brasil. 
Essa experiência nas ilhas do Atlântico não se limitou à produção do 
açúcar, mas também ao campo comercial. Os portugueses já possuíam o 
conhecimento dos melhores portos e tinham como parceiro comercial os 
holandeses, que compravam o açúcar em Lisboa, refinavam e vendiam 
açúcar refinado por toda a Europa. 
Os holandeses contribuíram não somente com a parte comercial do 
açúcar, mas também com o financiamento da empresa agrícola açucareira 
no Brasil, uma vez que financiaram tanto as instalações produtivas 
quanto a importação de mão de obra escrava (FURTADO, 2007). E 
o tipo de mão de obra utilizada também contribuiu para o sucesso da 
empresa agrícola. 
www.esab.edu.br 8
Caso fosse optado por outro tipo, que não a escrava, seria inviável trazer 
a quantidade necessária de trabalhadores da Europa. Além do número 
necessário, seria inviável o pagamento do salário desses trabalhadores, 
visto que, para atrair mão de obra para uma terra distante, teria que se 
pagar um salário acima do praticado em Portugal.
Percebe-se que, apesar de não ter ocorrido um planejamento para a 
implantação da empresa agrícola no Brasil, houve um esforço para 
resolver os problemas que poderiam inviabilizar seu sucesso. Esses 
problemas podem ser resumidos em: técnica de produção, criação de 
mercado, financiamento e mão de obra.
Você deve imaginar que a Espanha também seguiu por esse caminho 
e que suas colônias eram concorrentes no mercado de açúcar, não 
é mesmo? Porém, isso não ocorreu. Isso porque a Espanha, por ter 
descoberto rapidamente o potencial de extração de metais preciosos, 
concentrou-se nessa atividade e não expandiu para outras, como a 
empresa agrícola.
Essa grande circulação de metais preciosos pela Espanha gerou uma grave 
crise de inflação, já que o nível de renda aumentou consideravelmente 
por causa dos gastos públicos e dos subsídios dados pelo governo 
espanhol. Demanda maior que a oferta pode gerar a inflação tipicamente 
conhecida como inflação de demanda, de acordo com o que foi visto na 
unidade 19 do módulo de Economia.
Devido a essa crise de inflação, as indústrias de produto manufaturado 
da Espanha não conseguiam abastecer as suas colônias que ficaram 
restritas ao consumo de produtos artesanais. E, por causa dessa crise 
econômica, Portugal se manteve como monopolista no abastecimento 
de açúcar e produtos tropicais na Europa, possibilitando o êxito da 
empresa agrícola portuguesa. 
O tópico a seguir nos mostra como essa ligação entre Portugal e Espanha 
culminou para o encerramento da etapa colonial no Brasil.
www.esab.edu.br 9
1.3 Encerramento da etapa colonial
No início do século XVII, ocorreram grandes modificações políticas 
e econômicas na Europa. Para o Brasil, a principal modificação foi 
a incorporação de Portugal como território da Espanha. Esse fato 
interferiu na economia e na política do Brasil Colônia, pois a Espanha se 
encontrava em guerra com a Holanda (FURTADO, 2007).
Como vimos anteriormente, a Holanda escoava a produção de açúcar das 
colônias portuguesas para a Europa. Sem essa cooperação, era impossível 
que o Brasil e as demais colônias distribuíssem o açúcar produzido. 
Como a Holanda não desejava abrir mão do controle de distribuição e do 
refinamento do açúcar, ela ocupou, durante 25 anos, a região produtora 
de açúcar no Brasil. 
Durante essa permanência, os holandeses adquiriram o conhecimento 
do processo produtivo da cana-de-açúcar e, com isso, Portugal deixou 
de possuir o monopólio da produção. Com essa nova concorrência, os 
preços do açúcar foram reduzidos pela metade no final do século XVII. 
Quando Portugal recuperou sua independência da Espanha, sua 
economia encontrava-se extremamente frágil em razão da desorganização 
do mercado de açúcar e da perda de sua colônia no oriente. Para 
conseguir manter suas colônias, Portugal se aliou à Inglaterra por meio 
de acordos. 
Esses acordos asseguravam que os comerciantes ingleses em Portugal 
possuíam liberdade de comércio com as colônias, bem como o controle 
sobre as tarifas que as mercadorias importadas da Inglaterra deveriam 
pagar. Em contrapartida, a Inglaterra garantia a proteção de Portugal e de 
suas colônias no caso de uma possível invasão holandesa ou espanhola. 
Além disso, com a vinda da coroa portuguesa para o Brasil, a Inglaterra 
passou a ter os mesmos benefícios na colônia brasileira.
www.esab.edu.br 10
No final do século XVIII e início do século XIX, o Brasil já avançava na 
exploração do ouro e foi esse ouro que financiou a Revolução Industrial 
inglesa. Esse financiamento ocorreu através de um acordo entre Portugal 
e Inglaterra, sendo que Portugal se comprometia em comprar os produtos 
manufaturados ingleses e a Inglaterra em comprar o vinho português. 
Dica
Para saber mais sobre a vinda da família real, 
assista ao filme “Carlota Joaquina, a Princesa do 
Brazil” (1995). Ele mostra, de maneira cômica, a 
vinda da família real portuguesa ao Brasil. Nele, 
é possível notar a relação de dependência entre 
Portugal e Inglaterra e como o Brasil passou a ter a 
função de metrópole durante esse período.
Com a partida da família real para Portugal em 1820, a pressão 
para a independência do Brasil colônia cresceu, até que em 1822 a 
independência ocorreu por meios diplomáticos. O novo governo 
brasileiro garantiu aos ingleses a manutenção dos privilégios do período 
colonial, para que negociassem com Portugal a separação do Brasil sem 
a necessidade de haver conflito. Com esse acordo, assinado em 1827, 
o governo inglês negociou a independência do Brasil com o governo 
português. Contudo, o governo brasileiro precisou limitar a sua soberania 
econômica, pois ficou dependente dos favores ingleses e teve que manter 
os benefícios que estes possuíam quando a família real estava instalada no 
Brasil, entre eles: a abertura dos portos aos produtos ingleses e a isenção 
nos impostosde importação.
Note que o processo de independência ocorreu devido à necessidade de 
a colônia brasileira manter o comércio com as demais nações, o que só 
foi possível com a vinda da família real ao Brasil, pois anteriormente, 
com o Pacto Colonial, o Brasil só poderia comercializar com Portugal. 
Pacto Colonial foi o nome dado para a forma de relação entre a colônia 
e a metrópole. 
www.esab.edu.br 11
Nessa relação, a metrópole tinha exclusividade na exploração das riquezas 
da colônia, assim como na comercialização de seus produtos. O Brasil só 
poderia vender seus produtos para Portugal, como só poderia comprar 
os produtos portugueses. Com a vinda da família real ao Brasil o Pacto 
Colonial se desfez, pois para adquirir os produtos consumidos pela corte 
portuguesa o Brasil teve que abrir seus portos para os demais países.
Com a independência da colônia e com o fim do monopólio do açúcar, 
foi necessário que o Brasil desenvolvesse outras culturas para possibilitar 
o crescimento econômico do país recém-criado. Assim, iremos abordar 
na unidade 2 e 3 quais foram essas novas culturas. 
Nesta unidade, vimos que a criação de uma empresa agrícola eficiente, 
com a cultura do açúcar e a utilização da mão de obra dos escravos, 
propiciou as condições para o povoamento e o desenvolvimento da 
colônia portuguesa no Brasil. Foi essa empresa agrícola que formou 
as bases da nossa economia atual e possibilitou a negociação da 
independência do Brasil. 
Você verá, a seguir, a importância do ciclo do açúcar para o desenvolvimento 
da região nordeste e para a expansão territorial dessa região.
www.esab.edu.br 12
2 O ciclo do açúcar
Objetivo
Analisar o ciclo do açúcar e sua contribuição para a expansão 
territorial do complexo econômico nordestino.
Vimos, na unidade 1, os fatores que contribuíram para que Portugal 
tivesse sucesso ao criar a empresa agrícola brasileira, nesse primeiro 
momento focada na produção de açúcar. Com o auxilio do trabalho 
de Furtado (2007), veremos, nesta unidade, como ocorreu essa 
implementação em solo brasileiro e como funcionava o fluxo de renda e 
de crescimento no período que ficou conhecido como o ciclo do açúcar.
2.1 O ciclo do açúcar no Brasil e seu fluxo de renda e 
crescimento
O esforço português não ocorreu somente nas parcerias com a Holanda, 
mas também com os donatários de terra. A eles foram dados diversos 
privilégios sobre as terras na colônia brasileira, entre eles estão a 
exclusividade na produção de moenda e de engenho d’água, isenção 
de tributos, garantia contra a penhora dos instrumentos de produção, 
honrarias e títulos, entre outros. 
Com relação à mão de obra, o plano inicial era utilizar a indígena, porém 
esta se mostrou inviável, devido à quantidade de mão de obra necessária 
para a produção da grande escala requerida pelos engenhos, o que 
demonstrou que a escravidão era essencial aos colonos naquele período.
A mão de obra escrava africana foi utilizada no momento em que 
era preciso expandir a empresa agrícola, após a rentabilidade desta já 
ter sido comprovada e tornar a produção mais eficiente e com mais 
recursos financeiros. 
www.esab.edu.br 13
Em decorrência da escolha de mão de obra escrava, a renda estava 
concentrada nas mãos dos proprietários de engenho e dos donos de 
canaviais. Apenas uma parte dessa renda, menor do que cinco por cento, 
correspondia a pagamentos por serviços prestados fora do engenho, como 
transporte e armazenamento (FURTADO, 2007). Havia também alguns 
assalariados, sendo eles homens de vários ofícios (feitores, mestres de 
açúcar, caldeireiros, entre outros) e supervisores do trabalho dos escravos. 
O engenho realizava alguns outros gastos monetários, principalmente na compra 
de gado, utilizado para tração; e de lenha, utilizada nas fornalhas. Essas compras 
mantinham o vínculo entre a economia açucareira e os demais núcleos de 
povoamento existentes no país. (FURTADO, 2007, p. 51).
Os senhores de engenho possuíam muitos recursos financeiros 
disponíveis, sendo capazes de investir em seus engenhos e aumentar em 
até dez vezes a produção de açúcar até o final do século XVI (FURTADO, 
2007). Porém, o que se percebe é que esse aumento de produção só 
ocorria quando o mercado externo possuía capacidade de absorção. 
Com essa informação, salientamos que a tomada de decisão com relação 
à comercialização gerenciava toda a indústria do açúcar na colônia. 
Portanto, a renda que não era reinvestida no aumento de produção 
ficava para os comerciantes do açúcar, explicando a coordenação entre a 
comercialização do açúcar e os níveis de produção dos engenhos. 
Podemos afirmar, com base no que estudamos na unidade 1, que 
inicialmente tanto o capital quanto os equipamentos necessários e a mão 
de obra eram importados. Depois de instalado o engenho e estando em 
operação, o processo de expansão seguia o mesmo padrão de gastos: 
importação de equipamentos, de materiais de construção e de mão de 
obra escrava. 
Logo, a diferença entre o custo de reposição e de manutenção da mão de 
obra escrava representava o lucro para o empresário agrícola. O conjunto 
de fatores necessários para o funcionamento da economia e os fatores de 
produção estavam nas mãos dos senhores de engenho. Toda a renda era 
obtida através da exportação, assim como os gastos eram todos realizados 
com o exterior, ou seja, percebidos pelo valor das importações. 
www.esab.edu.br 14
Qual a capacidade de crescimento dessa estrutura? Pelo ponto de vista 
da disponibilidade de território e da disponibilidade de capital, havia 
um amplo espaço para crescimento. Porém, como vimos, o crescimento 
foi comedido para que não ocorresse um superabastecimento, nem a 
redução dos preços e da lucratividade dos empresários. 
Ocorreram crescimentos nesse setor produtivo, mas sem que ocorresse 
grande alteração na estrutura do sistema econômico, sendo então um 
crescimento puramente na extensão do negócio. Ou seja, a empresa 
do açúcar crescia em tamanho e em produção, entretanto não havia 
mudanças que provocassem o surgimento de mercado interno para essa 
produção ou novas fontes de receita. Não era possível que um impulso 
externo gerarsse um processo de desenvolvimento. Portanto, a única 
renda afetada pelas modificações na produtividade foi o lucro dos 
empresários. 
Essa economia escravista exportadora estava ligada totalmente à demanda 
externa. Assim, as reduções de preço no mercado externo não afetavam 
a estrutura do sistema, já que o empresário continuava produzindo o 
máximo de sua capacidade, pois uma redução na utilização da capacidade 
produtiva levaria os empresários a perdas maiores, por causar ociosidade 
nos escravos e a consequente perda de investimento. 
O ciclo do açúcar persistiu no nordeste brasileiro por três séculos, com 
momentos de crise durante a extração mineral, porém retomando sua 
importância econômica no início século XIX.
Como vimos na unidade anterior, Portugal precisava afirmar sua posse 
da colônia, através da ocupação do território. Veremos, a seguir, como as 
demais atividades econômicas do período auxiliaram nessa tarefa.
www.esab.edu.br 15
2.2 O movimento de expansão territorial e a inserção 
da pecuária
Furtado (2007) afirma que o ciclo do açúcar na região do Nordeste 
brasileiro trouxe consequências diretas e indiretas para as outras regiões 
da colônia. A primeira consequência direta foi a criação de um mercado, 
ou seja, surgiu uma demanda para atender às necessidades de gêneros 
alimentícios e de consumo dos empresários do café, capaz de absorver a 
produção de outras atividades econômicas. 
Entretanto, inicialmente essa demanda foi direcionada para as 
importações. Isso ocorreu por causa do baixo frete dos navios utilizados 
para o comércio de açúcar e também pela preocupação em não criar uma 
atividade na colônia que pudesse concorrer com a metrópole. 
As atividades secundárias inseridas pelo cultivo do açúcar foram a criação 
de animais para consumo próprio e para percorrer grandes distâncias,além da extração da madeira. Com relação ao gado, com o decorrer do 
tempo foi proibido o cultivo nas terras do litoral pelo governo português, 
por causa da invasão dos animais nas plantações de açúcar.
Foi essa separação da atividade agrícola e do cultivo de animais que 
deu origem a uma nova atividade econômica, a pecuária, que se iniciou 
no nordeste e migrou para a região sul da colônia. Porém, ela tinha 
características totalmente diferentes da atividade agrícola. Primeiramente, 
a ocupação da terra, apesar de ser extensiva, era itinerante, devido ao 
regime de águas e as distâncias dos mercados consumidores que exigiam 
a movimentação dos animais.
Com relação à expansão, a pecuária estava sempre aproveitando 
as oportunidades de crescimento ao se deparar com terras a serem 
ocupadas, não se contendo pelas condições de demanda. Por causa dessas 
características, a pecuária foi fundamental para a ocupação do território 
no interior do Brasil.
www.esab.edu.br 16
Precisamos ter em mente, que pelo menos no início, a pecuária não 
possuía a rentabilidade da produção agrícola, sendo essa renda composta 
pelo gado vendido no litoral e a exportação de couros.
Com relação à expansão do território brasileiro, esta ocorreu 
primeiramente em todo o litoral até a foz do rio Amazonas com o cultivo 
da cana-de-açúcar. Porém, o interior ainda não era habitado. Para não 
perder suas terras, Portugal enviou tropas fixas e colônias de povoamento 
para as regiões hoje conhecidas como: Maranhão, Pará, São Vicente e 
Piratininga. 
As colônias de Piratininga e de São Vicente iniciaram suas atividades 
econômicas através da captura de escravos indígenas quando o mercado 
de escravos africanos apenas iniciava. As colônias do Maranhão e do 
Pará também tentaram esse caminho, dedicando-se ao o cultivo de fumo 
e produtos tropicais; porém, com o declínio de Portugal, o envio de 
recursos para essas colônias diminuiu, e elas precisaram desenvolver a 
agricultura de subsistência.
No século XVIII, a região do Pará passou a exportar produtos tropicais 
como a baunilha, o cacau, a canela e o cravo. Aos jesuítas foi atribuída 
a responsabilidade de organizar a mão de obra indígena para a colheita 
desses produtos de maneira voluntária e, com isso, contribuíram para a 
ocupação da Bacia Amazônica e para a expansão da colheita de uma nova 
mercadoria.
Saiba mais
Os jesuítas tiveram grande importância 
na colonização brasileira, assim como no 
relacionamento com os indígenas. Para conhecer 
mais sobre a influência dos jesuítas na expansão 
territorial e na colonização brasileira, assista ao 
vídeo “A conquista da terra e da gente”, clicando 
aqui.
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=20485
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=20485
www.esab.edu.br 17
A expansão territorial da colônia também ocorreu a partir de motivos 
políticos e de defesa, como nos casos do Maranhão, Pará e Piratininga, 
afinal, como vimos na unidade 1, sem o povoamento, os direitos de 
propriedade não eram considerados como de Portugal para os demais 
países europeus. Assim, para o país se defender de possíveis invasores, 
tornou-se necessária a expansão territorial para o interior da colônia. 
O ciclo do açúcar, apesar de não ter se encerrado, foi enfraquecido ao longo 
do tempo, em decorrência das baixas dos preços e perdeu importância 
econômica para a extração de ouro e também para o ciclo do café. 
Vimos, nesta unidade, que o ciclo do açúcar propiciou a ocupação da 
colônia e o desenvolvimento de uma atividade econômica lucrativa, que 
atraiu a atenção de Portugal para o Brasil. O ciclo do açúcar propiciou ao 
Brasil o surgimento de um molde de produção agrícola que se perpetuou 
durante muito tempo, como veremos nas unidades seguintes, do século 
XVI ao XIX. Foi para atender à demanda por produtos alimentícios dos 
engenhos de açúcar que novas atividades foram desenvolvidas, como a 
pecuária, a extração de especiarias e o plantio do algodão. Na próxima 
unidade, iremos conhecer como se deu a cultura do café e quais foram as 
mudanças decorrentes desse ciclo.
www.esab.edu.br 18
3 O ciclo do café
Objetivo
Entender como chegou ao fim o período colonial e as consequências 
desse período para a economia brasileira, assim como relatar o início 
do ciclo do café.
Na unidade anterior, vimos que o ciclo do açúcar foi importante para 
o Brasil, pois mostrou que a atividade agrícola poderia ser bastante 
lucrativa. Além disso, foi através desse ciclo que os moldes da empresa 
agrícola foram instalados e propiciaram o cenário adequado para o 
cultivo do café.
Com a crise na Europa, em decorrência das Guerras Napoleônicas, 
ocorreu uma estagnação do preço do açúcar em patamares muito 
baixos e uma redução da extração de metais preciosos. Em razão da 
proibição de importação de novos escravos – por parte da Inglaterra 
– a todos os países, a economia brasileira no final do século XVIII se 
encontrava estagnada. Ademais, os avanços percebidos pela sociedade, 
em decorrência da vinda da família real portuguesa ao Brasil, foram: a 
instalação de uma capital administrativa no Rio de Janeiro, a criação de 
um banco nacional e algumas iniciativas governamentais. Porém, não 
se observa no Brasil uma influencia da Revolução Industrial de 1770, 
que se iniciou na Inglaterra por meio da máquina a vapor (entre outras 
características), a não ser pelos bens de consumo, o que em nada alterou 
o sistema produtivo da colônia. Então, qual alternativa se apresentava 
para que o Brasil pudesse superar essa estagnação econômica?
Veremos que, para superar a estagnação econômica do período, o Brasil 
tentou encontrar outro produto para importação que substituísse o café.
www.esab.edu.br 19
3.1 Gestação da economia cafeeira
Furtado (2007) afirma que a estagnação não poderia ser superada 
através do mercado interno, pois não havia no período complexidade 
suficiente na sociedade – dividida em senhores de engenho, culturas de 
subsistência, escravos e trabalhadores assalariados – que levasse a um 
desenvolvimento de tecnologia de produção. Também não havia crédito 
disponível, tanto no Brasil quanto nos demais países, para financiar 
uma geração de mercado interno, uma vez que o Brasil não apresentava 
projetos atrativos ou garantias para oferecer pela tomada de empréstimo. 
Portanto, uma maneira de sair da estagnação era expandir novamente o 
comércio internacional. No entanto, os preços dos produtos tradicionais 
de exportação brasileira, como açúcar e algodão, não apresentavam 
perspectivas de melhoria.
O açúcar, como vimos na unidade 2, não apresentava uma melhoria 
em seus preços. Já o comércio de algodão, segundo produto na pauta 
de exportações, estava concorrendo com a produção dos Estados 
Unidos, efetuada em larga escala e que mantinha comércio direto com 
a Inglaterra. Esses fatores contribuíram para a queda na demanda do 
algodão brasileiro e à consequente redução dos preços no mercado 
mundial. 
Os demais produtos, como fumo, couro, arroz e cacau, tinham um 
peso menor nas exportações, sem grandes perspectivas de expansão. 
Considerando que não havia capital, nem mão de obra disponíveis, já que 
estes estavam estagnados na indústria açucareira ou deslocados para serviços 
domésticos, era necessário encontrar um produto que utilizasse a terra 
como principal fator de produção, visto que esta era abundante no país. 
Por volta da metade do século XVIII, promoveu-se o café como item 
de consumo dos países europeus e dos EUA atendendo às necessidades 
do Brasil, porque esse produto já era cultivado por todo o país para o 
consumo próprio, mas passou a assumir importância mundial depois da 
queda de produção do Haiti, que era o principal produtor nesse período. 
Assim, a cultura do café foi centralizada na região sudeste do país devido 
à evasão das minas de ouro, à mão de obra abundante e à proximidade 
com o porto de Santos. 
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A empresacafeeira, assim como o açúcar, era intensiva na utilização de mão 
de obra escrava, todavia a diferença entre essas empresas estava no grau 
de capitalização. A empresa cafeeira possuía uma capitalização mais baixa, 
pois o equipamento necessário era mais simples e com fabricação local, 
enquanto a empresa açucareira tinha um grau maior de capitalização, visto 
que seu maquinário era mais caro e muitas vezes importado. 
Devemos, contudo, lembrar que tanto o café quanto o açúcar são 
culturas permanentes, ou seja, os cafeicultores teriam o retorno 
do investimento após alguns anos. Podemos, então, explicar o 
desenvolvimento tão intenso da empresa cafeeira pelos seus baixos 
custos. Somente um aumento no preço da mão de obra poderia 
atrapalhar seu desenvolvimento, o que não ocorreu, já que a cultura do 
café foi desenvolvida com base na mão de obra excedente da região de 
mineração. A alta do preço do café após a metade do século XVIII, em 
decorrência do aumento do consumo e da queda de produção do Haiti, 
fez pressão para uma transferência da mão de obra escrava da região 
nordeste para o sul do país.
Vale ressaltarmos que, durante a etapa de gestação da economia cafeeira, 
formou-se uma classe empresarial a partir da acumulação de capital 
procedente do comércio e do transporte de mercadorias para abastecer a 
cidade do Rio de Janeiro, onde se localizava o maior mercado consumidor 
do país no período. Essa nova classe tinha como objetivos: aquisição de 
terras, recrutamento de mão de obra, organização e direção da produção, 
transporte interno, comercialização nos portos, contatos oficiais e 
interferência na política financeira e econômica (FURTADO, 2007).
Ao se concluir a fase de gestação da economia cafeeira, o problema 
da expansão do comércio internacional já estava resolvido. Essa nova 
economia já possuía capacidade para autofinanciar suas expansões e 
formou uma nova classe que liderou a expansão do café por meio de 
ferramentas políticas. Porém, surgiu um novo problema a ser resolvido: a 
mão de obra.
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3.2 O problema da mão de obra: o fim do trabalho 
escravo, o trabalho assalariado e os imigrantes 
europeus
A oferta de mão de obra se tornou um problema, porque, com a 
proibição da importação de escravos, a quantidade de escravos em terras 
brasileiras estava diminuindo devido às condições precárias nas fazendas, 
tanto de alimentação quanto no trabalho. Assim, para a cultura do café 
poder expandir-se, era necessário encontrar uma solução urgente para 
esse problema (FURTADO, 2007).
Não existia mão de obra interna no país, isso porque o setor de 
subsistência da economia brasileira estava disperso de norte a sul, com 
densidade demográfica mínima. Além disso, os roceiros estavam ligados 
ao setor pecuário, sendo que os pecuaristas ofereciam a terra para o 
plantio de subsistência e, quando necessário, utilizavam essa mão de obra 
para o que precisassem. Havia nessa relação uma fidelidade. Entretanto, 
nas zonas urbanas também havia se formado um excedente de mão de 
obra, a qual não encontrava ocupação permanente, pela dificuldade de 
adaptação, pelas condições de vida e pela disciplina de trabalho impostas 
nas grandes fazendas. Percebendo essa falta de adaptação, a sociedade 
concluiu que a mão de obra livre do país não conseguia trabalhar nas 
grandes fazendas (FURTADO, 2007). 
Considerando que a mão de obra escrava formou a base da economia 
e da estrutura social do Brasil, a abolição foi vista como um 
empobrecimento de parte da população que era responsável pela criação 
de riqueza no país. Do ponto de vista econômico, a abolição repercutiu 
somente na forma de organização da produção, em como os fatores 
seriam aproveitados, na distribuição de renda e na maneira com que essa 
renda seria utilizada.
No Brasil, ocorreram dois movimentos distintos a partir da abolição. No 
nordeste, a mobilidade dos escravos foi limitada devido à falta de terras 
desocupadas no litoral, aos centros urbanos lotados e à característica 
árida do interior da região, sendo esta de difícil adaptação. Assim, os 
ex-escravos se deslocavam entre os engenhos à procura de trabalho e, por 
causa disso, os salários na região eram relativamente baixos.
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Na região cafeeira, as consequências da abolição foram outras. Não 
houve tanta migração dessa mão de obra para o planalto paulista, já que 
se iniciava a migração dos europeus para São Paulo. Nas regiões de Minas 
Gerais e do Rio de Janeiro, a situação dos ex-escravos era mais favorável. 
Parte deles se dedicou à economia de subsistência, pois existiam terras 
disponíveis e outra parte passou a trabalhar nas lavouras de café dessas 
regiões em troca de salários relativamente altos. Porém, esse aumento do 
salário, bem acima das necessidades dos antigos escravos, fez com que 
parte desses trabalhadores preferisse o ócio ao trabalho, visto que em três 
dias já garantiam renda suficiente para adquirir o necessário para a sua 
sobrevivência pelo restante do mês.
Em decorrência desses problemas com mão de obra interna e ex-escrava, 
em períodos de maior pressão da produção do café, a importação de mão 
de obra surgiu como uma solução. Dessa forma, com o agravamento do 
problema da mão de obra pela pressão dos preços do café e também do 
algodão, em 1852, um grande cafeicultor decidiu trazer 80 famílias da 
Alemanha para trabalharem em sua lavoura. Esse movimento aumentou 
e outras fazendas fizeram o mesmo, mas o trabalhador arcava com todos 
os custos e as incertezas de sua vinda, sendo, portanto um regime de 
semisservidão.
A partir de 1860, ocorreu uma evolução: o colono passou a ter 
garantido um pagamento fixo e outro variável após a colheita. Além 
disso, a questão do custeio da viagem foi solucionada, pois o governo se 
encarregava dos custos de transporte dos imigrantes e o fazendeiro cobria 
os gastos do imigrante durante o primeiro ano. Além disso, colocava 
terras à disposição para a agricultura de subsistência.
Com a crise política na Itália no período, a imigração para o estado de São 
Paulo chegou a 800 mil pessoas no final do século XIX, sendo 577 mil 
vindas desse país. Assim, o problema da mão de obra estava solucionado 
e a economia brasileira tinha encontrado um novo produto exportador, 
capaz de movimentar não somente o seu setor como os demais. 
Veremos, a seguir, como ocorreu o declínio do ciclo do café e os efeitos 
da crise de 1929 na economia brasileira.
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4 A crise do café e a crise de 1929
Objetivo
Compreender como o cultivo do café alterou o fluxo de renda no 
Brasil e modificou a estrutura da mão de obra.
Na unidade anterior, vimos como o ciclo do café iniciou no Brasil e 
como, a partir dele, o problema de escassez de mão de obra foi resolvido. 
Em razão da nova mão de obra vinda (em sua maioria, dos países 
europeus), configurou-se uma nova classe trabalhadora e assalariada no 
país. Além disso, o café trouxe enormes lucros para seus produtores, 
alterou o eixo econômico do país da região norte para a região sudeste, 
trouxe para a região sudeste grandes plantações e teve grande influência 
no novo governo que se formou. Porém, as diversas crises mundiais 
estabeleceram novos desafios a essa produção. Veremos, nesta unidade, 
quais foram os meios de defender a produção e a rentabilidade desse 
setor. Para isso, continuaremos a utilizar a obra de Furtado (2007).
4.1 Os mecanismos de defesa do café
Como vimos na unidade 3, o final do século XIX foi muito favorável 
para a expansão do café no Brasil. Com o problema da mão de obra 
resolvido e muitas terras disponíveis para o cultivo do café, havia uma 
tendência de haver, em longo prazo, uma redução do preço do café. E 
isso ocorreu pelo equilíbrio do mercado (FURTADO, 2007). Como você 
deve ter estudado na disciplina de economia, quando há muita oferta, 
ocorre uma redução no preço do produto. 
Mas, você deve estar se questionando: por que a produção do café se 
expandiu se havia a tendência de redução do preçopelo aumento da 
oferta? Destacamos que, no Brasil, o café era o produto que apresentava 
maior vantagem relativa para o comércio internacional. De acordo com 
a teoria do economista David Ricardo, o país irá escolher para produzir 
os bens que tiveram maior vantagem relativa e passará a importar os 
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bens que possuírem menor vantagem relativa. Apesar de o café não 
ter um aumento de demanda significativo, havia, no período, terras 
ociosas, crédito e mão de obra disponíveis. E por conta desses três fatores 
abundantes, o Brasil controlava a produção de ¾ da oferta mundial 
de café (FURTADO, 2007), possibilitando aos empresários brasileiros 
controlarem a quantidade e o preço do café ofertado no comércio 
internacional. 
Com esse controle, foi possível que os empresários se defendessem contra 
a queda de preços no início do século XX, através do controle da oferta. 
O café que não foi comercializado no período de baixa seria estocado 
e vendido em períodos mais favoráveis, com relação ao preço ou para 
cobrir períodos de baixa colheita.
Outro mecanismo de proteção do café utilizado foi a depreciação externa 
da moeda, assim, ainda que o preço do café no exterior se tornasse 
mais barato, o produtor receberia a mesma quantia de moeda nacional. 
Esse mecanismo foi utilizado durante a crise nos EUA de 1893. Já na 
depressão de 1897, foi preciso retirar do mercado parte dos estoques 
de café que se acumulavam no país. No Convênio de Taubaté, firmado 
em 1906, os cafeicultores juntamente com o governo definiram que, 
para manter a rentabilidade do setor e o preço do produto, o governo 
compraria os excedentes de café por meio de empréstimos estrangeiros 
que seriam quitados através de um imposto em ouro sobre as exportações 
do café. Além disso, definiu-se que, a fim de evitar problemas futuros 
de superprodução, os governos estaduais seriam responsáveis por 
desencorajar a expansão das plantações.
Para que os governos estaduais pudessem evitar o crescimento da 
produção do café, seria fundamental apresentar aos empresários uma nova 
oportunidade de investimento tão lucrativa quanto o café. Entretanto, 
nesse período, nenhuma produção parecia viável do ponto de vista da 
disponibilidade dos fatores de produção. Furtado (2007, p. 178) afirma 
que, através desse mecanismo de defesa da economia cafeeira, ocorreu 
uma “[...] transferência para o futuro da solução de um problema que se 
tornaria cada vez mais grave”, como veremos no tópico a seguir.
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4.2 A crise de 1929 e suas consequências para o Brasil
Vimos, no tópico anterior, que existia um desequilíbrio entre a 
quantidade ofertada e a quantidade demandada no mercado de café. 
Assim, os estoques de café estavam se acumulando e a situação se agravou 
a partir de 1929, com a crise da bolsa de Nova York. 
A Grande Depressão, como foi chamada a crise da bolsa de Nova York 
em 1929, foi uma crise de confiança no mercado financeiro. Descobriu-
se, no período, que muitas das ações negociadas na bolsa de Nova York 
eram de empresas fantasmas, ou seja, não existiam de fato somente 
no papel. Por conta disso, ocorreu uma retirada em massa do capital 
investido em bolsa de valores. A partir disso, muitas empresas faliram e 
muitos investidores perderam todo o seu capital.
A partir dessa crise, cabia ao governo e aos empresários do café 
resolverem os seguintes problemas (FURTADO, 2007). 
• Os empresários deveriam colher o café ou deixá-lo apodrecer nos 
arbustos?
• Se a escolha fosse colher o café, que destino deveria ser dado? As 
opções seriam: forçar o mercado mundial, reter o café em estoques 
ou destruí-lo?
• Caso a decisão fosse estocar ou destruir o produto, como financiar 
essa operação? 
Inicialmente, a solução mais racional seria abandonar os cafezais. 
Porém, restava a questão de quem pagaria pelas perdas. O cenário de 
estoques altos até 1929 gerou uma redução nas reservas de ouro e de 
metais preciosos do Brasil, e a falta de crédito disponível no mercado 
internacional para o financiamento ocasionou a falta de recursos para 
manter a valorização do café. 
Dessa forma, os comerciantes internacionais de café transferiram para os 
produtores brasileiros os seus prejuízos com a crise mundial. Além disso, 
todo o cenário descrito anteriormente levou a uma desvalorização da 
moeda brasileira e, com isso, o preço das importações subiu e as perdas 
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do café foram transferidas para toda a sociedade brasileira. Portanto, era 
necessário adotar novas medidas para atenuar o problema do café.
Com todo esse cenário, a decisão mais lógica a ser tomada foi a 
destruição dos excedentes das colheitas: pois, qualquer outro mecanismo 
faria com que os produtores continuassem colhendo cada vez mais café, 
pressionando o preço para baixo e o câmbio para cima. Com a queima de 
parte da quantidade ofertada de café, obtinha-se novamente o equilíbrio 
entre a oferta e a demanda, a partir de um nível maior de preços 
(FURTADO, 2007).
Nos anos seguintes, principalmente a partir de 1933, notou-se uma 
recuperação na economia mundial. Porém, os preços do café não 
acompanharam essa melhoria. Podemos perceber que o fator renda não 
interferia na demanda de café, assim como o efeito preço, ou seja, as 
alterações de preço tanto para mais quanto para menos, demonstraram 
alterar pouco a quantidade demandada. Furtado (2007) afirma que, em 
1933, o consumo de café era exatamente igual ao de 1929. 
Todavia, para a economia brasileira de modo geral, a política de 
destruição e de retenção do café excedente garantiu a manutenção do 
nível de emprego, tanto para os setores ligados à exportação quanto 
para o mercado interno. Como não houve uma redução nas rendas dos 
produtores e dos exportadores de café, também não houve uma redução 
em seu consumo interno, o que manteve o consumo dos produtores 
nacionais. Caso isso não tivesse ocorrido, toda a economia brasileira no 
período poderia ter sofrido uma perda da renda nacional.
Estudo complementar
Para saber mais sobre como ocorreu a crise de 
1929, e como os EUA superaram a crise através 
da teoria keynesiana, leia o artigo: “Keynes e a 
superação da crise”, clicando aqui.
http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/crise_economia6.htm
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Essa política de proteção do café explica o fato de que, em 1933, a renda 
nacional já estava em expansão, ou seja, o impulso para que a economia 
voltasse a crescer já tinha sido recuperado (FURTADO, 2007). No 
entanto, devemos ressaltar que o setor externo da economia brasileira 
ficou bastante endividado nesse período e os grupos de pressão – como 
a classe média urbana, os industriais, os comerciantes e os banqueiros 
internacionais – exigiam maior participação no poder político. 
Na próxima unidade, veremos como ocorreu esse aumento de poder 
dos demais setores da população e como os problemas de inflação e de 
endividamento foram tratados pelos governos seguintes culminando no 
golpe militar de 1964.
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5 A era populista e o golpe militar
Objetivo
Refletir historicamente sobre o populismo e a ditadura abordando 
aspectos políticos, econômicos e sociais.
Vimos, até a unidade 4, como o país se desenvolveu economicamente 
a partir da empresa agrícola, inicialmente com o ciclo do açúcar e, em 
seguida, o cultivo do café. Na unidade anterior, vimos que o cultivo 
do café teve muita importância para as mudanças sociais, políticas e 
econômicas ocorridas no Brasil. Veremos, a partir desta unidade, como 
as políticas econômicas influenciaram no desenvolvimento econômico, 
político e social do Brasil até os dias atuais. Para isso, utilizaremos a obra 
de Vasconcellos, Gremaud e Toneto Júnior (2011). Iniciaremos com 
o período posterior à crise de 1929, para entendermos quais foram as 
medidas adotadas pelo governo do período para contornar a crise.
5.1 A era populista – 1930 a 1964
Chamamos o período de 1930 a 1964 de era dos governos populistas, 
pois estes tinham como característicaprincipal agradar aos mais variados 
grupos de pressão existentes na sociedade. 
A partir de 1930, depois da eleição de Getúlio Vargas, o governo 
federal passou a centralizar as decisões de políticas econômicas. Com 
isso, tornou-se possível ao governo realizar uma maior intervenção 
na economia, tendo este um papel de empresário, por abrir diversas 
empresas com a intenção de gerar a infraestrutura necessária para o 
fortalecimento de um novo setor, a indústria. Foi nesse período que 
tivemos a criação de diversas empresas estatais – como a Companhia 
Siderúrgica Nacional (CSN), a Companhia Vale do Rio Doce – e de leis 
trabalhistas – como a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que 
estabeleceu o salário mínimo e o descanso semanal remunerado. 
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Além disso, entre as políticas de fortalecimento da indústria está o 
Programa de Substituição de Importações (PSI), que teve como principal 
objetivo reduzir o percentual das importações dentro do Produto Interno 
Bruto (PIB). A preocupação com essa redução objetivou equilibrar a 
balança de pagamentos do Brasil, visto que, com a crise do café, houve 
uma redução nas exportações e o saldo da balança passou a ser negativo. 
Para contornar esse problema, o governo decretou moratória da dívida 
externa em 1937, o que impôs um controle na utilização dos recursos 
externos e dificultou a utilização desses recursos, que só eram permitidos 
para a aquisição de bens essenciais e para o pagamento de compromissos 
externos (VASCONCELLOS; GREMAUD; TONETO JÚNIOR, 2011).
Assim, o crescimento da economia nesse período foi ditado pelo 
crescimento do mercado interno, através da proteção dada à produção 
nacional em relação aos concorrentes externos. Portanto, percebemos 
que o PSI caracterizava-se por um ideal de construção nacional. Os 
mecanismos utilizados para a produção da indústria nacional foram 
a desvalorização cambial, o controle do câmbio, as taxas múltiplas de 
câmbio (em que cada setor da economia tem um mercado de câmbio 
específico) e a elevação das tarifas de importação (VASCONCELLOS; 
GREMAUD; TONETO JÚNIOR, 2011). 
Porém, a implantação desse programa encontrou dificuldade relacionadas 
à tendência de desequilíbrio da balança comercial, ao aumento 
da concentração de renda e à escassez de fontes de financiamento, 
cabendo ao governo federal prover as fontes de financiamento. Uma 
das fontes de financiamento foi a criação do Banco Nacional de 
Desenvolvimento Econômico (BNDES) em 1952, além de usar recursos 
do já existente Banco do Brasil. Dando continuidade ao PSI e ao 
governo fundamentado no populismo, em 1956 o presidente Juscelino 
Kubitschek (JK) adotou o Plano de Metas, que tinha como objetivo 
fazer com que o país crescesse 50 anos em 5. Esse crescimento estava 
embasado em três pontos: investimento em infraestrutura (transporte 
e energia elétrica); aumento da produção de bens intermediários (aço, 
carvão, cimento); e introdução de indústrias de bens de consumo 
duráveis e de bens de capital. Vasconcellos, Gremaud e Toneto Júnior 
(2011) afirmam que o cumprimento das metas foi satisfatório, 
observando-se rápido crescimento econômico no período, com 
mudanças estruturais da base produtiva brasileira.
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O ponto problemático do Plano de Metas era sua fonte de 
financiamento, pois os investimentos públicos realizados precisaram 
ser financiados por meio de emissão de moeda, resultando em um 
crescimento do processo de inflação no período. Com a eleição de Jânio 
Quadros em 1961, foi necessário reorganizar a política fiscal e o balanço 
de pagamentos, em decorrência do problema de financiamento do 
Plano de Metas. Esse governante, por falta de apoio político, renunciou 
e seu vice João Goulart assumiu o país em meio a um cenário político 
e econômico turbulento. Com a intenção de diminuir a inflação, João 
Goulart propôs o plano trienal, que tinha como base a substituição de 
produtos importados e uma política de redistribuição de renda, em uma 
tentativa de elevar a taxa de crescimento do país. Porém, para realizar esse 
plano ocorreu uma aumento dos impostos, dos salários e da tomada de 
empréstimos estrangeiros. Como não houve reformas de base, o plano 
gerou mais revolta popular e culminou com o golpe militar em 31 de 
março de 1964, que veremos a seguir.
5.2 A era ditatorial – 1964 a 1984
Com a crise dos anos 1960, houve uma queda acentuada nos 
investimentos na indústria assim como da taxa de crescimento da renda 
nacional e ocorreu uma forte aceleração da inflação. Com o golpe militar 
em 1964, propôs-se uma série de reformas institucionais e de condução 
da política econômica, entre elas o Plano de Ação Econômica do 
Governo (PAEG), lançado pelo presidente Castello Branco. 
O PAEG tem como área de atuação as conjunturas políticas de combate 
à inflação e também as reformas estruturais. Para o combate à inflação, 
foram adotadas as seguintes medidas: redução do déficit público, 
com redução de gastos e do aumento das receitas através de reforma 
tributária e aumento das tarifas públicas; restrição do crédito; e uma 
política salarial, com determinação dos ajustes salariais via governo para 
contenção da demanda (VASCONCELLOS; GREMAUD; TONETO 
JÚNIOR, 2011). A partir dessas medidas, a inflação foi reduzida, entre 
1964 e 1968, de 90% a.a. para 20% a.a., preparando a economia para a 
retomada do crescimento no período seguinte.
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A partir de 1968 até 1973, o Brasil viveu o período chamado de 
“Milagre Econômico”. Esse período foi caracterizado pela estabilidade 
dos preços e por uma taxa média de crescimento acima dos 10% a.a. 
Essas altas taxas tiveram como fonte a retomada do investimento público 
em infraestrutura, o aumento do investimento das empresas estatais, 
o aumento da demanda por bens duráveis, o crescimento do setor de 
construção civil e o crescimento das exportações. 
Gremauld, Vasconcellos e Toneto Júnior (2011, p. 388) comentam que, 
nesse período, houve o primeiro endividamento externo no governo 
militar. E esse endividamento, de US$ 9 bilhões, foi facilitado pelo 
excesso de recursos internacionais disponíveis. Além disso, houve um 
alto endividamento interno decorrente do controle do Estado sobre 
as decisões de investimentos, tanto da administração pública quanto 
das empresas estatais, que correspondiam a 50% da formação bruta de 
capital fixo. Ocorreu também um aumento na concentração de renda, 
que ficou conhecido como “Teoria do Bolo”: era necessário esperar o 
bolo crescer para depois dividir.
Após esse rápido crescimento no período do Milagre econômico, houve 
o surgimento de alguns desequilíbrios que retomaram o avanço da 
inflação e os desequilíbrios da balança comercial. Por conta disso, o 
II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) foi lançado, em 1974, 
para resolver a questão do choque do petróleo, que desequilibrava ainda 
mais a balança comercial brasileira – já que o preço do barril de petróleo 
aumentou 400% em cinco meses no ano anterior. O objetivo desse plano 
era ajustar a estrutura de oferta no longo prazo, a fim de diminuir as 
importações e fortalecer as exportações. De fato, após diversas alterações 
na economia, ocorreu um redirecionamento para o setor de insumos, 
de máquinas e de equipamentos (VASCONCELLOS; GREMAUD; 
TONETO JÚNIOR, 2011). 
Em 1980, houve uma nova tentativa de retomada do crescimento e de 
redução da inflação, mas essa política teve como resultados a aceleração 
da inflação para 100% a.a. e uma crise da dívida externa. Para resolver 
essa crise, que foi diagnosticada como resultado do excesso de demanda 
interna que pressionava as importações, adotou-se, em 1982, uma 
política que procurou conter os gastos públicos, restringir o crédito e 
www.esab.edu.br 32
reduzir o salário real, assim como desvalorizar a moeda, aumentar o 
preço dos combustíveis e estimular a competitividade das indústrias 
nacionais através da diminuição dos subsídios. Todas essas medidas 
buscavam resolver a crise da inflação.Como resultado, o país entrou em recessão de 1981 a 1983, com 
inflação em 100% a.a., porém com um superávit da balança comercial. 
Ao mesmo tempo, ocorreu no país uma abertura política que ocasionou 
um forte questionamento sobre a condução das políticas econômicas 
adotadas pelo governo. Ademais, pesava sobre o governo a opinião de 
que se deveria decretar moratória da dívida e, com isso, não sacrificar 
o crescimento econômico. Esses questionamentos motivaram o amplo 
apoio ao movimento “Diretas Já”. Assim, em um período de crise 
econômica e de alta inflação, em que a população mostrava-se resistente 
às políticas adotadas pelo governo militar, o regime se encerrou.
Saiba mais
Para compreender melhor como ocorreu o 
movimento das “Diretas Já”, leia o artigo 
clicando aqui.
O fim do regime militar trouxe a esperança do controle da inflação sem 
o sacrifício do crescimento econômico e da população para a quitação da 
dívida externa brasileira. 
Nas unidades seguintes, veremos como os governos tentaram combater a 
inflação através de diversos planos econômicos. 
http://www.brasilescola.com/historiab/direta-ja.htm
www.esab.edu.br 33
6 Abordagem histórica da economia brasileira – parte I
Objetivo
Refletir historicamente sobre os aspectos políticos, econômicos e sociais.
Na unidade anterior, vimos que, mesmo após diversos planos econômicos, 
os problemas envolvendo a inflação e o crescimento econômico no 
final da ditadura militar não foram solucionados. Antes de avançarmos 
sobre a volta da ditadura, consideramos importante fazermos uma 
reflexão e uma retomada dos primeiros anos da economia e da política 
brasileira, aprofundando o aspecto econômico a partir das questões 
sociais e políticas do período. Para abordar esses assuntos, utilizaremos a 
bibliografia de Vasconcellos, Gremaud e Toneto Júnior (2011). 
6.1 A economia agroexportadora – até 1930
Vimos, nas quatro primeiras unidades, que a economia agroexportadora se 
desenvolveu pelo conhecimento dos portugueses na plantação de cana-de-
açúcar em larga escala e no comércio com os holandeses. Assim, durante 
todo o período de colonização, nossa sociedade se baseou nos interesses da 
metrópole em ocupar o território e obter lucros na colônia brasileira.
A ocupação de território se fez necessária pelos interesses da Inglaterra e 
da Holanda, assim como da Espanha, em utilizar o território das colônias 
portuguesas para a obtenção de terras e rendimentos. Para Portugal obter 
lucros no Brasil, utilizava a empresa agrícola que se mostrou lucrativa 
nesse período pela utilização de mão de obra escrava. 
Com o declínio do ciclo do açúcar, fez-se necessário encontrar outra 
atividade que gerasse lucros na mesma escala. Nesse período, começou 
a exploração das minas de ouro no centro do Brasil, o que atraiu o 
interesse da Inglaterra para a colônia portuguesa. A vinda da família real 
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ao Brasil fez com que a Inglaterra se aproximasse ainda mais do Brasil. 
Tal aproximação possibilitou, mais tarde, a negociação entre Portugal e 
Inglaterra pela independência do Brasil.
Foi também através dos interesses da Inglaterra que ocorreu o fim 
do tráfico de escravos e, por causa disso, ocorreu no Brasil um 
desabastecimento de mão de obra para as usinas de açúcar e para as 
plantações de algodão. Nesse período, iniciou-se a plantação de café na 
região sudeste do Brasil. Em decorrência dessa nova atividade lucrativa, 
houve a falta de mão de obra, que mais tarde foi solucionada pela 
imigração de trabalhadores da Europa.
Os cafeicultores perceberam a influência que possuíam sobre novo 
governo; pois, além de estarem bem localizados, próximos à capital (que 
naquela época estava localizada na cidade do Rio de Janeiro), também 
perceberam que era através de suas plantações que se gerava riqueza no 
país. Logo, por meio dessa percepção da riqueza do café, instalou-se no 
país uma política chamada de “café com leite”, em que ora o governo 
estava com São Paulo, ora estava com Minas Gerais. 
Contudo, os tempos de bonança do café se encerraram com a crise 
financeira de 1929. Depois, mesmo com todos os mecanismos de defesa 
já vistos, não foi possível obter a mesma lucratividade. Nesse período, 
iniciou-se no país uma leve industrialização nos centros urbanos, que foi 
gerada de maneira espontânea a partir dos lucros das plantações de café, 
para satisfazer a demanda dos empresários do café.
A seguir, veremos como se desenvolveu no país uma política para 
substituir as importações e desenvolver as indústrias nacionais. Essa 
preocupação surgiu em virtude do saldo deficitário dos prejuízos 
ocasionados pela política de proteção do café.
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6.2 A industrialização pelo processo de substituição 
de importações (PSI) – 1930 a 1961
O surgimento da leve indústria e o crescimento da população urbana 
pressionou a redução dos mecanismos de defesa do café. Os novos 
governos tiveram, portanto, a missão de impulsionar a industrialização 
do país, proporcionando a infraestrutura necessária, e de utilizar a 
mão de obra urbana que se encontrava, em sua maioria, ociosa. Com 
o aumento das pressões dos trabalhadores urbanos no país, o governo 
aprovou a lei que estabelece a CLT e que instituiu o salário mínimo, a 
estabilidade após dez anos de trabalho, a carteira de trabalho, as férias 
anuais, o descanso semanal remunerado e a proteção ao trabalho da 
mulher e do menor. 
Como vimos na unidade anterior, a fim de impulsionar a industrialização 
e equilibrar a balança comercial, o governo federal adotou medidas 
protecionistas, para evitar a importação de bens de consumo, tais 
como o aumento das tarifas e taxas de câmbio diferenciadas para cada 
tipo de setor. Além disso, ofereceu aos empresários juros subsidiados 
e linhas de crédito específicas para o surgimento de indústrias. Outra 
ferramenta adotada foi a facilitação da importação de bens de capitais, 
proporcionando um aumento da formação bruta de capital fixo no país, 
com a intenção de formar uma indústria de base capaz de proporcionar 
os bens intermediários para as demais indústrias em longo prazo. 
Além dessas interferências na economia, o governo federal passou a ser 
provedor de bens públicos, com o objetivo de aquecer a economia e 
custear o desenvolvimento de setores estratégicos Entre eles, temos a 
criação da Companhia Nacional de Siderurgia (CNS), o financiamento 
de hidrelétricas e a criação da Petrobrás, em 1953.
Os planos econômicos adotados até então tinham como principal 
gargalo o financiamento dos investimentos públicos, pois as reservas 
internacionais foram consumidas pelos mecanismos de defesa do café. 
Objetivando realizar os investimentos para a industrialização nacional, 
o governo federal realizou empréstimos no exterior, causando o seu 
endividamento e o desequilíbrio na balança de pagamentos. Ademais, 
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ocorreu o crescimento dos níveis de inflação, também decorrentes da 
pressão dos desequilíbrios da balança de pagamentos e das pressões da 
demanda interna. 
A seguir, veremos as medidas adotas para solucionar esses problemas.
6.3 A crise dos anos 1960 e as reformas institucionais 
no PAEG – 1962 a 1967
O aumento da inflação e os desequilíbrios na balança de pagamentos 
levaram o Brasil a uma crise econômica e a um período de baixo 
crescimento, ao mesmo tempo em que se estabeleceu um cenário 
político instável, pois o presidente eleito Jânio Quadros não possuía 
apoio político para implementar as medidas de austeridade econômica 
necessárias para que o país se recuperasse da crise.
A principal medida a ser realizada era uma reforma fiscal e monetária no 
país. Afinal, sem essas reformas, o endividamento do Estado ficaria cada 
vez maior, visto que as receitas fiscais eram menores do que os gastos 
com investimento para a manutenção do PSI. A partir desse cenário, 
ocorreu uma mobilização para a tomada do governo pelos militares, 
que se tornou ainda mais intensa com a renúncia de Jânio Quadros. 
Devido a essarenúncia, o vice-presidente João Goulart precisaria assumir 
a presidência, porém ele se encontrava na China e houve tentativas de 
impedir o seu retorno ao país.
Mesmo retornando, em 1964, João Goulart foi deposto e o governo 
militar se instaurou no país sob o comando do presidente militar 
Castello Branco. Para retomar o crescimento, alavancar a industrialização 
e controlar a inflação, que no período já se encontrava em 90% a.a., 
Castello Branco lançou o programa PAEG, um plano que possuía 
diversos aspectos impopulares e que só puderam ser realizados por meio 
da ditadura, tais como: congelamento dos salários e dos preços, reformas 
tributárias e bancárias, controle do déficit na balança de pagamentos 
e diminuição das diferenças regionais, através da integração entre as 
diversas regiões.
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No âmbito da reforma tributária, os principais aspectos foram a 
transformação dos impostos do tipo cascata para impostos de valor 
adicionado, a criação do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), 
do Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICM) e o Imposto Sobre 
Serviço (ISS). Além disso, ocorreu a redistribuição dos impostos, ficando 
com o governo federal o IPI, o imposto de renda, os impostos únicos, 
os impostos do comércio exterior e o Imposto Territorial Rural (ITR). 
Surgiram também os fundos, como o Fundo de Garantia por Tempo de 
Serviço (FGTS) e o Programa de Integração Social (PIS), sendo fontes de 
poupança compulsória.
Na reforma financeiro-monetária, foram realizadas medidas como a 
criação das Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional (ORTNs) e da 
correção monetária, do Conselho Monetário Nacional (CMN) e do Banco 
Central do Brasil (Bacen), criação do Sistema Financeiro da Habitação 
(SFH) e do Banco Nacional da Habitação (BNH) e uma reforma do 
mercado de capitais, segmentando o mercado financeiro nacional.
Por meio dessas medidas, foram criadas as bases para a volta ao crescimento 
econômico no período seguinte, chamado de Milagre Econômico. 
Veremos, na próxima unidade, como se configuram, a partir da 
economia, os aspectos políticos e sociais do Milagre Econômico até o 
final do II Plano Nacional de Desenvolvimento.
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Resumo
Na unidade 1, compreendemos como a empresa agrícola foi instituída no 
período do Brasil Colônia e quais foram as principais características que 
favoreceram a instalação desse tipo de atividade econômica. 
Na unidade 2, vimos como o ciclo do açúcar possibilitou rendimentos 
tão atrativos e como a renda circulava dentro do país. Além disso, 
abordamos as demais atividades econômicas que eram praticadas e que 
possibilitaram a expansão territorial para as regiões Centro-Oeste e sul, 
através da pecuária e da extração de ervas e especiarias da natureza. 
A unidade 3 relatou o início do ciclo do café e das dificuldades quanto 
à disponibilidade de mão de obra no período, visto que, com o fim 
da escravidão, muitas pessoas se deslocaram para os centros urbanos e 
desejavam algum tempo sem ocupação. Entendemos que, para solucionar 
essa dificuldade, ocorreu a imigração da mão de obra dos países da Europa. 
Devido à crise financeira de 1929, conforme estudamos na unidade 
4, os cafeicultores encontraram dificuldade em manter a lucratividade 
anterior e desenvolveram, juntamente com o governo federal, diversos 
mecanismos de defesa contra a crise, entre eles foi realizada a queima da 
produção. A partir dessa crise, os governos seguintes tentaram fortalecer 
o mercado interno e equilibrar a balança comercial e de pagamentos. 
Abordamos, na unidade 5, que essas tentativas foram realizadas através dos 
governos populistas que tinham como objetivo promover a industrialização 
do país para o abastecimento da demanda interna. Essa industrialização 
foi realizada através do Programa de Substituição de Importações (PSI), 
que visava a trocar os produtos importados pelos nacionais. Porém, o 
resultado do PSI e do Plano de Metas, de Juscelino Kubitscheck, foram o 
endividamento externo e a inflação. E essa crise econômica e política de 
1960 fez com que ocorresse o golpe militar em 1964. 
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Abordamos também o Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG), 
o qual propiciou o cenário adequado para o Milagre Econômico no 
período seguinte, em que o país teve taxas recordes de crescimento. Após 
os choques do petróleo de 1973 e 1979, ocorreu um novo desequilíbrio no 
balanço de pagamentos e a inflação voltou à casa de 90 a 100% a.a. Assim, 
em 1984, o governo militar saiu do poder após grande pressão popular.
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7 Abordagem histórica da Economia Brasileira – parte II
Objetivo
Refletir historicamente sobre os aspectos políticos, econômicos e 
sociais.
Na unidade passada, retomamos o período inicial da formação 
econômica do Brasil até as reformas institucionais de 1967. Nesta 
unidade, daremos continuidade a essa retomada, avançando pelo período 
do Milagre Econômico até o final da década de 1970 e o governo Geisel. 
Para ilustrar esse período da economia e política brasileira, iremos utilizar 
Vasconcellos, Gremaud e Toneto Júnior (2011).
7.1 O Milagre Econômico – 1968 a 1973
Segundo os autores Vasconcellos, Gremaud e Toneto Júnior (2011), 
o período de 1968 a 1973 que compreendeu os governos de Costa e 
Silva (1967-1969) e também de Médici (1969-1974) foi chamado de 
Milagre Econômico, pois apresentou as maiores taxas de crescimento do 
Produto Interno Bruto (PIB) da história recente do país. Além do alto 
crescimento do PIB, ocorreu nesse período uma relativa estabilidade nos 
preços dos bens e serviços. A Tabela 1 demonstra os grandes avanços do 
PIB nesse período.
Tabela 1 – Taxas de crescimento (%) e dívida externa bruta em US$ milhões de 1968 a 1973
Ano PIB (%)
Dívida externa bruta em 
US$ milhões
1968 9,8 3780,0
1969 9,5 4403,3
1970 10,4 5295,2
1971 11,3 6621,6
1972 12,1 9521,0
1973 14,0 12571,5
Fonte: Adaptada de Vasconcellos, Gremaud e Toneto Júnior (2011).
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Esse resultado só foi possível a partir das reformas institucionais e da 
recessão vivida nos anos anteriores, como vimos na unidade 6. Foi 
devido à recessão do período anterior que se gerou a capacidade ociosa 
na indústria e se criaram as condições necessárias para a retomada do 
crescimento pelo aumento da demanda. Esse período também foi 
possível pelo crescimento da economia mundial (VASCONCELLOS; 
GREMAUD; TONETO JÚNIOR, 2011).
A retomada do crescimento econômico e a contenção da inflação, na casa 
de 20 a 30% a.a., foram as diretrizes do governo Costa e Silva em 1967. 
Ainda sobre a inflação durante os primeiros governos da ditadura militar, 
o excesso de demanda na economia foi apontado como sua principal 
causa; já no governo Costa e Silva, a análise feita pelos economistas do 
período foi de que a inflação era motivada pelos custos de produção. 
Assim, com esse novo diagnóstico, as políticas fiscais, monetárias e 
de crédito foram afrouxadas e permitiram um aumento da demanda 
e uma política de controle de preços. Para isso, foi criado o Conselho 
Interministerial de Preços (CIP) em 1968.
Segundo Vasconcellos, Gremaud e Toneto Júnior (2011, p. 388), as 
principais fontes de crescimento foram:
• A retomada do investimento público em infraestrutura, possibilitada pela reforma 
fiscal do período anterior;
• O aumento do investimento das empresas estatais, neste período surgiram 231 
novas empresas estatais;
• Demanda por bens duráveis, decorrente da expansão do crédito ao consumidor;
• Aumento da construção civil, provocada pela expansão do crédito do SFH;
• Crescimento das exportações graças ao crescimento mundial e melhoria nos 
incentivos fiscais para exportação.
Ainda na Tabela 1 podemos observarque, para alavancar esse 
crescimento no período, a dívida externa bruta do Brasil aumentou em 
mais de três vezes seu valor. E isso ocorreu tanto pela falta de linhas 
de financiamento de longo prazo no Brasil como pela taxa de juros 
elevada no mercado interno, em decorrência da reforma financeira no 
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período anterior que introduziu a correção monetária nos investimentos 
nacionais, como a poupança.
Outro ponto relevante é o nível de intervenção do setor público 
na economia, por meio do controle dos preços e das decisões de 
investimento das empresas estatais, correspondentes a 50% do 
investimento em formação bruta de capital fixo (VASCONCELLOS; 
GREMAUD; TONETO JÚNIOR, 2011). Como já citamos na unidade 
5, foi nesse período em que tivemos um aumento da concentração de 
renda, sendo esta a principal crítica ao período do Milagre Econômico. 
Os autores acima citados afirmam que a concentração de renda no 
período era vista como necessária para aumentar a poupança da 
economia nacional e para financiar os investimentos. Portanto, quando 
ocorresse o crescimento econômico, todos os brasileiros poderiam 
usufruir da renda decorrente do Milagre Econômico. Como vimos na 
unidade 5, essa teoria sobre a concentração de renda ficou conhecida 
como Teoria do Bolo, pois primeiro seria preciso esperar o bolo crescer 
para depois dividi-lo.
Com o final do Milagre Econômico em 1973, decorrente da crise do 
choque do petróleo, o governo do presidente Geisel tentou manter o 
crescimento e o nível de preços através do segundo Plano Nacional de 
Desenvolvimento (II PND), o qual estudaremos a seguir.
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7.2 A manutenção do crescimento com 
endividamento externo: o segundo Plano Nacional de 
Desenvolvimento (II PND) – 1974 a 1979
Vimos anteriormente que a manutenção dos níveis de preço em torno 
de 20 a 30% a.a. foi uma das metas do governo Costa e Silva, assim 
como do governo Médici. Porém, a utilização de toda a capacidade 
ociosa durante o período do Milagre Econômico e o problema na 
balança comercial, com o aumento das importações no final do período 
do milagre, levaram a um aumento da inflação nos períodos seguintes, 
atingindo o patamar de 77,2% a.a. no ano de 1979 (VASCONCELLOS; 
GREMAUD; TONETO JÚNIOR, 2011).
A crise internacional, com o choque do preço do petróleo em 1973, 
instaurou um cenário econômico externo desfavorável para a manutenção 
do crescimento brasileiro, já que dependíamos do financiamento 
externo para a expansão da nossa capacidade produtiva. Para cobrir o 
aumento dos gastos internos, com o aumento do preço do petróleo e da 
importação dos bens de capital e insumos necessários para a manutenção 
do crescimento no período anterior, foi necessário utilizarmos as reservas 
financeiras existentes, o que deixou o Brasil em situação vulnerável.
Dica
As reservas financeiras, também conhecidas 
como reservas internacionais, são os depósitos 
de moedas estrangeiras em poder dos bancos 
centrais e que são utilizados para cumprir 
compromissos externos, como pagamento de 
dívidas ou emissão de moeda.
Além disso, com a mudança de presidentes em 1974 (saiu Emílio Médici 
e entrou Ernesto Geisel), aumentou a pressão social para uma melhor 
distribuição de renda e uma maior abertura política. Essa pressão política 
colocou duas opções para a condução da economia nacional: a primeira de 
ajustamento, ou seja, contenção da demanda interna e controle da inflação 
com correção dos desequilíbrios do setor externo; a segunda opção seria 
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pelo financiamento do crescimento, ou seja, manutenção das taxas de 
crescimento com ajuste dos preços relativos, por meio de financiamento 
externo. Na época, acreditava-se que a crise duraria pouco tempo.
Inicialmente, decidiu-se pela opção de ajustamento; contudo, com o 
aumento da pressão política do Movimento Democrático Brasileiro 
(MDB) e a derrota do partido do governo militar (Aliança Renovadora 
Nacional - ARENA) nas eleições para o congresso, o governo abandonou 
a estratégia de ajustamento e adotou a política de financiamento do 
crescimento (VASCONCELLOS; GREMAUD; TONETO JÚNIOR, 
2011). A partir dessa mudança, o II PND foi lançado com o objetivo 
de manter o crescimento econômico em torno de 10% a.a., taxa de 
crescimento que não foi atingida. E o crescimento econômico foi 
mantido, embora com taxas menores do que as desejadas.
O II PND alterou as prioridades da industrialização brasileira, com 
o investimento focado na produção de bens de capital e de insumos 
básicos (setor siderúrgico), ao contrário do período anterior que focava 
na produção de bens duráveis de consumo. Essa mudança foi uma 
tentativa de reduzir as importações desse setor, aumentar a produção 
do setor siderúrgico em alumínio, zinco e minério de ferro, assim como 
diminuir a importação de energia (VASCONCELLOS; GREMAUD; 
TONETO JÚNIOR, 2011). Essa redução se daria por meio do aumento 
da capacidade hidrelétrica, do projeto Itaipu, da produção de carvão em 
Santa Catarina, da inserção da energia nuclear no país e da ampliação e 
retirada de petróleo no Nordeste.
Os problemas para a execução do II PND estão relacionados ao 
apoio político e ao financiamento do processo, os quais estavam 
fundamentados politicamente nas alianças com as empreiteiras e as 
oligarquias tradicionais, que exigiam a descentralização dos investimentos 
para o Norte e o Nordeste do país. A questão do financiamento se 
dividiu em duas: as empresas estatais e as empresas privadas. As empresas 
estatais adotaram a linha de crédito externo, o que iniciou o processo 
de estatização da dívida externa. Já o setor privado teve o financiamento 
através das linhas de crédito subsidiadas pelo governo, principalmente 
do BNDES. Com essas fontes de financiamento, a dívida externa atingiu 
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US$ 17 bilhões em 1979 (VASCONCELLOS; GREMAUD; TONETO 
JÚNIOR, 2011).
A partir desse cenário, em 1979, quando encerrou o governo Geisel, 
o resultado do II PND foi um alto endividamento externo com 
vulnerabilidade para mudanças no cenário internacional, decorrentes 
da natureza variável dos juros da dívida externa e um desequilíbrio nos 
níveis de preço.
Nesta unidade, vimos que o Milagre Econômico se caracterizou por 
um extraordinário aumento do PIB, financiado pelo aumento do 
endividamento externo e público. Outro grande questionamento ao 
referido milagre refere-se aos aspectos sociais, uma vez que houve um 
aumento na concentração de renda do país.
O intenso crescimento trouxe benefícios para as classes de maior 
renda, incluindo-se aí a parte da classe média assalariada que fornecia 
os quadros técnicos necessários à gestão da economia, como os 
engenheiros, economistas, administradores, analistas de sistemas etc. 
A renda concentrou-se ainda mais em consequência da diminuição do 
valor real do salário mínimo. Com isso, o país não teve condições de 
sustentar por longo tempo esse alto desempenho econômico. A partir 
de 1974, o crescimento do PIB passou a apresentar tendência declinante 
justificado por choques externos e uma piora nas condições de tomada de 
empréstimo, provocando um aumento da dívida externa. E, em 1981, o 
país entrou em crise profunda.
Veremos a seguir como o aumento das pressões políticas, sociais e 
econômicas encerraram o período da ditadura militar no Brasil e as 
consequências do problema do endividamento para os próximos governos.
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8 A volta à República
Objetivo
Entender os impactos da crise da dívida externa e o ressurgimento da 
inflação na economia e política brasileira.
Vimos, na unidade anterior, a vulnerabilidade da economia brasileira no 
final da década de 1970. Assim, com o segundo choque do petróleo em 
1979, ocorreu uma alteração no cenário econômico internacional que 
afetou as condições de financiamento, com elevação da taxa de juros da 
dívida externa. Veremos, nesta unidade, as consequências dessa mudança 
de cenário para a economia brasileira e para o cenário político

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