Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Seção 6 ESPELHO DE CORREÇÃO DIREITO CIVIL A petição adequada à defesa dos interesses de Rosa é a petição inicial de Embargos de Terceiro, podendo ser nomeada, simplesmente, Embargos de Terceiro. Isso porque você pretende assegurar para sua cliente o cancelamento da constrição judicial indevida (art. 681, CPC/15), que foi decretada na fase executiva da ação de alimentos de que ela não é parte. Os Embargos de Terceiro são uma ação autônoma, mas que está correlacionada à Ação de Alimentos, afinal de contas, nesta foi proferida a decisão que decretou a penhora do imóvel de Rosa. Por conta disso, destaque na sua petição o número do processo da Ação de Alimentos, pois os Embargos serão distribuídos por dependência para o mesmo Juízo. O endereçamento da petição, por meio do qual já é possível identificar o foro competente para o ajuizamento, indicará o juízo que ordenou a constrição do bem (art. 676, CPC/15), portanto, deverá ser endereçada à Vara Cível da Comarca de Londrina-PR. A petição inicial deve seguir as exigências do art. 319, do CPC/15, devendo ser dividida em tópicos de fatos, fundamentos jurídicos e pedido. Porém, da leitura do caso hipoteticamente proposto, você pode observar que se deu destaque à hipossuficiência da sua cliente, razão pela qual seria adequado abrir um tópico específico para tratar do benefício da justiça gratuita. Como parte autora dos Embargos de Terceiro, deve constar apenas Rosa, e no polo passivo deverá constar apenas Cristiano, que será representado por sua mãe, Margarida, por se tratar de menor absolutamente incapaz. Francisco não deve fazer parte dos Embargos, pois não há informações de que ele teria indicado o imóvel para ser penhorado. Nos fatos, você deve mencionar que Rosa é casada com Francisco há, aproximadamente, 30 anos, pelo regime de comunhão parcial de bens, devendo ser informado a juntada da certidão de casamento, pois se trata de prova essencial para a comprovação do regime do casamento. Além disso, deve ser mencionado que Francisco é pai de Cristiano, e que este está cobrando alimentos que não foram pagos por aquele, tendo sido penhorado o imóvel de Rosa. Destaque que o imóvel é exclusivo dela, pois foi recebido como herança há nove anos, devendo ser indicada a juntada de Seção 6 DIREITO CIVIL Na prática! documento comprovando tal alegação, por se tratar de peça essencial para o julgamento dos Embargos. Nos fundamentos jurídicos, em primeiro lugar, você deve expor a base legal dos Embargos de Terceiro (art. 674, CPC/15), destacando o cabimento em razão de o imóvel de sua cliente ter sido penhorado em um processo do qual ela não faz parte (ação de alimentos). Ressalte a legitimidade da sua cliente por ela se enquadrar na hipótese do artigo 674, § 2º, I, do CPC/15. Afirme que não se aplica o disposto no art. 843, do CPC/15, mencionado na parte final do art. 674, § 2º, I, do CPC/15, porque o imóvel é exclusivo de sua cliente, pois foi recebido por herança, nos termos dos arts. 1.658 e 1.659, I, do CC/02. Destaque que a sua cliente não possui responsabilidade patrimonial secundária pela dívida, pois a dívida que originou a penhora não beneficiou o casal, não se aplicando o art. 790, IV, do CPC/15. Por fim, exponha estarem presentes os requisitos para a suspensão da penhora (art. 678, caput, CPC/15), mas que a caução mencionada no art. 678, parágrafo único, do CPC/15, deve ser dispensada, em razão da hipossuficiência da sua cliente. No tópico referente à Gratuidade de Justiça, utilize os fatos constantes no enunciado (caso hipoteticamente proposto) para enquadrar a sua cliente no art. 98, caput, do CPC/15. Ao final da petição, faça os pedidos pela (a) concessão da liminar para suspender a constrição do imóvel, independentemente de caução (art. 678, caput, CPC/15); (b) concessão da gratuidade de justiça (art. 98, CPC/15); (b) citação do embargado, na pessoa de seu advogado (art. 677, § 3º, CPC/15), para apresentar Contestação (art. 679, CPC/15); (c) procedência dos Embargos para o cancelamento da constrição (art. 681, CPC/15); e (d) condenação do embargado em honorários advocatícios, custas e despesas processuais (arts. 82, § 2º, e 85, CPC/15). Logo após, aponte como valor da causa o valor da avaliação do imóvel objeto da arrematação indevida (art. 292, II, CPC/15); indique o local (Município de Londrina), a data, o nome completo e o número da OAB, acompanhado da expressão assinado digitalmente. EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA __ VARA CÍVEL DA COMARCA DE LONDRINA, DO ESTADO DO PARANÁ Distribuição por dependência ao Processo nº ROSA [nome completo], casada, trabalhadora rural, [número do CPF], [endereço eletrônico], [endereço completo], na cidade de Londrina/PR, CEP, devidamente representada por seu advogado infra-assinado (instrumento de mandato anexo), vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência opor os presentes EMBARGOS DE TERCEIRO em face de CRISTIANO [nome completo], menor absolutamente incapaz, devidamente representado por sua genitora MARGARIDA [nome completo], solteira, trabalhadora rural, [número do CPF], [endereço eletrônico], residente e domiciliada na [endereço], na cidade de Londrina/PR, CEP, pelos motivos fáticos e fundamentos jurídicos a seguir expostos. 1. DOS FATOS A embargante é casada com Francisco em regime de comunhão parcial de bens há, aproximadamente, trinta anos, conforme certidão de casamento anexa. Francisco é pai de Cristiano, tendo sido condenado a pagar alimentos ao embargado nos autos nº [...]. Porém, em razão da falta de pagamento de algumas parcelas, este Juízo ordenou a avaliação e penhora do bem. Subsequentemente, realizou-se o leilão e o bem foi arrematado, restando pendente apenas a assinatura da carta de arrematação do imóvel. Ocorre que referido imóvel é de propriedade exclusiva da embargante, que o adquiriu por herança há, aproximadamente, nove anos (documento comprobatório anexo). Questão de ordem! Assim, em razão da constrição indevida de seu imóvel e não sendo a embargante parte naquele processo, não lhe resta outra alternativa a não ser a oposição dos presentes Embargos. 2. TEMPESTIVIDADE Considerando-se a realização da constrição durante a fase de execução, o prazo para apresentação dos Embargos de Terceiro corresponde a cinco dias, contados a partir da arrematação, podendo ser apresentados, desde que anteriormente à assinatura da carta de arrematação, com fulcro no art. 675, do Código de Processo Civil de 2015. Desta feita, afigura-se tempestiva a apresentação da presente peça processual, sendo possível seu regular processamento. 3. FUNDAMENTOS JURÍDICOS Os Embargos de Terceiro consistem no instrumento processual de que dispõe alguém que não faz parte de determinada relação processual e pretende se defender para eivar sofrer os efeitos de constrição judicial ou ameaça de constrição judicial de um bem de sua posse ou propriedade, nos termos que dispõe o art. 674, do CPC/15. No presente caso, não restam dúvidas quanto ao cabimento dos presentes Embargos, já que a embargante não é parte no processo de Ação de Alimentos, no qual o imóvel de sua exclusiva propriedade restou leiloado e arrematado em leilão. Ainda, a parte autora é legítima, nos termos do art. 674, § 2º, I, do CPC/15, por se tratar de cônjuge na defesa da posse de bem próprio. Ressalte-se, ademais, não se aplicar à espécie o disposto no art. 843, do CPC/15, já que o imóvel não faz parte dos bens comuns do casal. A embargante e Francisco se casaram há, aproximadamente, 30 (trinta) anos pelo regime da comunhão parcial de bens, regulamentado pelos arts. 1.658 e 1.659, do Código Civil de 2002. Portanto, da leitura dos destacados artigos, resta evidenciado que o imóvel penhorado, por ter sido incorporado ao patrimônio da embargantepor sucessão, está excluído da comunhão, razão pela qual a sua constrição por dívida de Francisco (seu cônjuge) mostra-se indevida. Há de se destacar, ainda, que a dívida contraída pelo cônjuge devedor não beneficiou o casal, tratando-se de dívida alimentar, que é personalíssima. Assim, a embargante não possui responsabilidade patrimonial secundária pelas dívidas contraídas pelo cônjuge devedor nesse caso, não se aplicando o art. 790, IV, do CPC/15. Assim, devidamente comprovado o domínio sobre o bem litigioso, há de ser suspensa a medida constritiva, na forma do art. 678, do CPC/15. Por fim, não há que se falar em caução, prevista no parágrafo único do art. 678 do CPC/15, pois, conforme exposto no item seguinte, resta comprovada a impossibilidade de sua prestação, por ser a embargante economicamente hipossuficiente. 4. DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA O art. 98, caput, do CPC/15, estabelece: Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei. (BRASIL, 2015, [s.p.]) A embargante e seu marido são trabalhadores rurais, sendo a atividade rural exercida em sua propriedade o único rendimento da família. Ocorre que se encontram em profunda dificuldade financeira, pois perderam toda a plantação pelo fogo, causado, possivelmente, por grileiros que invadiram a mata nativa vizinha de sua propriedade, conforme comprovam o boletim de ocorrência e os jornais da região anexados à presente petição. Portanto, a embargante não possui condições de arcar com as custas de um processo e os honorários advocatícios, sem prejuízo de seu sustento e de sua família. 5. DOS PEDIDOS Posto isso, a parte autora pugna pela integral procedência dos presentes Embargos e, em especial, requer o atendimento dos seguintes pedidos: 5.1. Liminar. Seja concedida a liminar para suspender a medida constritiva no imóvel da embargante, decretada nos autos nº, deste Juízo, eis que suficientemente provado o domínio exclusivo da autora, nos termos do art. 678, caput, do CPC/15, dispensando-a de prestar caução. 5.2. Gratuidade de Justiça. Seja deferido o pedido de gratuidade de justiça, tendo em vista que a embargante é parte hipossuficiente no processo, nos termos do art. 98, do CPC/15. 5.3. Citação. A citação do embargado, na pessoa de seu advogado (art. 677, § 3º, CPC/15), para que, em querendo, apresente Contestação, sob pena de revelia, conforme previsto no art. 344, do CPC/15. 5.4. Cancelamento da constrição. Pugna-se pela procedência integral dos presentes embargos, especialmente, para que o ato de constrição ilegal seja cancelado (art. 681, CPC/15). 5.5. Condenação. Pugna-se pela condenação da parte embargada ao pagamento dos honorários advocatícios, das custas e despesas processuais (arts. 82, §2º, e 85, do CPC/15). Atribui-se à causa o valor de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais), com base no art. 292, II, do CPC/15. Termos em que pede deferimento. Local, dia/mês/ano. Nome do advogado e número de inscrição na OAB [Assinado digitalmente] 1. Quando são cabíveis os Embargos de Terceiro? R.: Os Embargos de Terceiro são o instrumento processual que dispõe alguém que não faz parte da relação processual para se defender quando sofrer ameaça ou constrição judicial (ex.: penhora, arresto, sequestro, busca e apreensão) de um bem de sua posse ou propriedade (art. 674, caput, CPC/15). 2. Quem possui legitimidade ativa para opor embargos de terceiro? R.: O § 2º do art. 647 do CPC/15 trata da legitimidade ativa, delimitando os sujeitos que são considerados terceiros para fins de ajuizamento de embargos de terceiro: I - o cônjuge ou companheiro, quando defende a posse de bens próprios ou de sua meação, ressalvado o disposto no art. 843; II - o adquirente de bens, cuja constrição decorreu de decisão que declara a ineficácia da alienação realizada em fraude à execução; III - quem sofre constrição judicial de seus bens por força de desconsideração da personalidade jurídica, cujo incidente não fez parte; IV - o credor com garantia real para obstar expropriação judicial do objeto de direito real de garantia, caso não tenha sido intimado, nos termos legais dos atos expropriatórios respectivos. 3. Quem deve figurar no polo passivo da ação de embargos de terceiro? R.: Nos termos do art. 677, § 4º, do CPC/15, o exequente da ação originária sempre será réu na ação de embargos de terceiro. Contudo, é possível que o executado da ação originária também seja réu, na hipótese de ele ter indicado o bem do terceiro para ser penhorado. 4. Imagine uma situação hipotética em que o Juízo deprecante tenha expedido carta precatória, determinando a penhora de bens do executado, sem indicar um bem específico. Nesse caso, suponha que o juízo deprecado tenha ordenado a penhora de um imóvel de alguém que, em Resolução comentada http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art843 vez de ser o próprio executado, seja um terceiro. Qual será, então, o Juízo competente para o julgamento dos embargos de terceiro a serem apresentados por esse terceiro que se viu prejudicado? Será o juiz deprecante, ou o Juízo deprecado? R.: Nos termos do art. 676, parágrafo único, do CPC/15, a competência será do Juízo deprecado, pois foi ele que determinou a constrição do bem do seu cliente (terceiro), salvo se a carta precatória já tiver sido devolvida, quando a competência será do juízo deprecante. 5. Existe algum prazo limite para a oposição dos embargos de terceiro? R.: O art. 675, caput, do CPC/15 estabelece um prazo decadencial para a oposição dos embargos de terceiro. Se a constrição ocorrer durante o processo de conhecimento, o terceiro pode opor embargos enquanto não ocorrer o trânsito em julgado da sentença. Caso a constrição ocorrer na execução, os embargos devem ser opostos no prazo de cinco dias depois da adjudicação, da alienação por iniciativa particular, ou da arrematação (mas nunca após a assinatura da carta de arrematação). Referências BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília, DF: Presidência da República, [2019]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 19 dez. 2019. BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência da República, [2019]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 19 dez. 2019. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm
Compartilhar