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SURGIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR E DO AGRONEGÓCIO Professoras: Drª. Paula Toshimi Matumoto Pintro Me. Yony Brugnolo Alves Espª. Simoni Alexandre Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho Diretoria de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha Head de Produção de Conteúdos Rodolfo Pinelli Head de Planejamento de Ensino Camilla Cocchia Gerência de Produção de Conteúdos Gabriel Araújo Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo Supervisão de Projetos Especiais Daniel F. Hey Projeto Gráfico Thayla Guimarães Design Educacional Rossana Costa Giani Design Gráfico Isabela Mezzaroba Belido Ilustração Isabela Mezzaroba Belido DIREÇÃO Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná | unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; PINTRO, Paula Toshimi Matumoto; ALVES, Yony Brugnolo; ALEXANDRE, Simoni. Agricultura Familiar e Agronegócio. Paula Toshimi Matumoto Pintro; Yony Brugnolo Alves; Simoni Alexandre. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017. 38 p. “Pós-graduação Universo - EaD”. 1. Agricultura. 2. Agronegócio. 3. EaD. I. Título. CDD - 22 ed. 306 CIP - NBR 12899 - AACR/2 01 02 03 sumário HISTÓRIA DA AGRICULTURA FAMILIAR|9 |19 |25 O AGRONEGÓCIO AGRICULTURA FAMILIAR VERSUS AGRONEGÓCIO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Apresentar o histórico da agricultura familiar e do agronegócio e sua atua- lidade no Brasil e no mundo. • Caracterizar o agronegócio. • Perceber as semelhanças, diferenças e singularidades entre a agricultura fa- miliar e o agronegócio. PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • História da Agricultura Familiar • O Agronegócio • Agricultura Familiar versus Agronegócio SURGIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR E DO AGRONEGÓCIO INTRODUÇÃO Prezado(a) aluno(a), Seja muito bem-vindo(a)! Vamos conversar sobre agricultura familiar e sobre agronegócio? Discutir esse assunto no Brasil é de grande relevância, pois o Produto Interno Bruto - PIB brasileiro sofre alterações para mais e para menos em decorrência do sucesso ou insucesso nesse setor da economia. Neste encontro, a proposta de estudo está dividida em três grandes tópicos, os quais separamos em três aulas para melhor entendimento: História da Agricultura Familiar e do Agronegócio: sua atualidade no Brasil e no mundo; Agronegócio; Agricultura familiar versus agronegócio. Na aula um inicialmente, serão abordados fatos históricos desde os primórdios da agricultura até sua recente configuração, passando pela evolução nos conceitos relacionados à agricultura e pelas leis que ratificam esses conceitos. De forma con- densada, foram apontados eventos que transformaram os modos de produção e que deram origem à chamada agricultura familiar e o agronegócio. Pós-Universo 7 Em seguida, serão expostos os conceitos e os fatos da agricultura familiar no Brasil e no mundo, demonstrando similaridades e diferenças. Existe, ainda, um levantamen- to de fatos e dados que norteiam o aprendizado deste tópico. Na aula dois definiremos o que é agronegócio, esquematizamos a cadeia produ- tiva e demonstramos a importância econômica deste setor no cenário econômico do Brasil. Além disso, apresenta uma figura que expõe o ranking dos produtos de maior produção e exportação do agronegócio brasileiro. Na nossa aula de número três procuramos demonstrar as semelhanças, diferen- ças e singularidade da agricultura familiar e do agronegócio. O objetivo não é rivalizar agricultura e agronegócio e sim demonstrar que ambos são muito importantes para a economia brasileira e mundial, mas cada um tem suas peculiaridades. Dessa maneira, com o conjunto dessas três aulas, desejamos que você, aluno(a), consiga compreender o panorama geral da agricultura familiar e do agronegócio. Vamos lá?! Bons estudos! Pós-Universo 8 Pós-Universo 9 HISTÓRIA DA AGRICULTURA FAMILIAR A agricultura é praticada há pelo menos 10 mil anos. Nos primórdios da pré-história os homens caçavam e coletavam seus alimentos. Quando não era mais possível usu- fruir dos recursos em um ambiente de forma extrativista, os homens se realocavam, os denominados nômades. As técnicas de domesticação de animais e o domínio das práticas de plantar e colher permitiram que o homem deixasse de ser nômade, e passasse a se fixar em pequenos aglomerados. Estes grupamentos deram origem às civilizações. Com mais pessoas, foi necessário um aumento na produção de ali- mentos. Dessa forma, as práticas agropecuárias foram cada vez mais aprimoradas e desenvolvidas. Do período da pré-história até o período da revolução industrial no século XVIII, a agricultura cresceu, se expandiu e evoluiu. As populações começaram a dominar métodos de cultivos de diferentes espécies. O uso de tração animal proporcionou agilidade e aumento das produções. A transformação das matérias-primas resultou em durabilidade e diversidade de produtos. Nesse período, eram comuns as proprie- dades que integravam produção e processamento das matérias-primas (ARAÚJO, 2007). As habilidades requisitadas para que estes serviços fossem executados, capa- citaram trabalhadores versáteis no trabalho do campo. Desde então, a apropriação de terras e o poder de produção tornou-se sinônimo de riqueza (BAPTISTA, 2010). No levantamento histórico realizado por Mazoyer & Roudart (2010), foram elenca- dos marcos na modernização da agricultura. De acordo com os autores, na segunda metade do século XX, com a chamada Revolução Agrícola Contemporânea, adotou-se inovações nas produções agropecuárias. As novas técnicas permitiram um aumento nas produções vegetais e animais. Essas práticas, contudo, modificaram significativa- mente a história da agricultura. Alguns métodos adotados foram: Pós-Universo 10 • Motorização-mecanização: implementos que permitiram maior agilidade e menor uso da mão de obra. • Seleção de espécimes animal e vegetal com forte potencial de rendimen- to: procedimento que permitiu um aumento de produção e produtividade. • Ingresso de produtos fitossanitários: método químico de prevenção, con- trole e erradicação de pragas e doenças em vegetais. Surgiram também produtos para sanidade animal. • Uso de corretivos e fertilizantes: recurso adotado para repor nutrientes no solo com contínuas produções. • Alimentos concentrados: alimentos ofertados em quantidade que acelera- ram o ganho de peso vivo (PV) animal. Agricultores de muitos países foram estimulados pelo poder público a consumir estas inovações, por meios de “políticas de incentivo aos preços agrícolas, de subvenções aos insumos, bonificação dos juros de empréstimos e investimentos” (MAZOYER; ROUDART, 2010). O acesso destes recursos concentrou-se nas regiões mais próspe- ras, com alto potencial de rentabilidade. Diante desse novo cenário, atentam-se as particularidades das novas formas de produção, de processamento, de distribuição e de comercialização. Distintas, espe- cialmente, segundo o uso e a posse das terras são conceitualmente denominadas de agricultura familiar e agronegócio. A primeira refere-se aos detentores de terras que se mantiveram pequenos, em sua maioria, com produções diversificadas e de traba- lhadores do núcleo familiar. Já o agronegócio trata de produções em larga escala, na maioria, monocultura, de trabalho e de posse de pessoas que não necessariamente possuem vínculos familiares. As singularidades, semelhanças e diferenças entre a agricultura familiar e o agro- negócio foram o objeto de estudo deste livro. A agricultura familiar, durante muito tempo,não foi assim denominada. Atualmente o conceito é diferenciado em cada país, mas o que todos têm em comum é o emprego de mão de obra familiar (FAO, 2014). Pós-Universo 11 No Brasil, os agricultores já foram subdivididos em: índios, negros, mestiços, brancos não herdeiros e imigrantes europeus. Com o decorrer do tempo, eles foram chamados de camponeses (ALTAFIN, 2007). Com o processo de migração de europeus, espe- cialmente, na região Sul, do Brasil, houve a expansão territorial e a inserção de novas tecnologias. Produtores rurais de base familiar passaram a ser chamados de novos colonos (ABRÃO; SANTOS, 2010). Na década de 1930, com a adoção da mecanização e qualificação da mão de obra na agricultura, o Brasil assumiu-se autossuficiente. Uma visão sistemática das cadeias agroindustriais favoreceu a relação custo/benefício do agronegócio (SILVA; FRANCISCO, 2007). No ano de 1964, foi criada a Lei 4.504 que dispõe sobre o Estatuto da Terra. Surge então o termo empresa rural. Até a década de 1960 não se tinha uma lei que trata-se especificamente a respeito das propriedades rurais. Em 1964 foi instituída a Lei 4.504/64 que traz definições do que é um Imóvel Rural, o que é uma Propriedade Familiar, um Módulo Rural, um Minifúndio, um Latifúndio, uma Empresa Rural, o Parceleiro e a Cooperativa Integral de Reforma Agrária. Mas ainda não se discutia o termo Agricultura Familiar, é claro que foi com essa Lei que sur- giram os primeiros termos que puderam, no futuro, originar o termo e a definição de Agricultura Familiar. Fonte: BRASIL. Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964. Dispõe sobre o Estatuto da Terra, e dá outras providências. Diário Oficial Eletrônico, 30 de nov. 1964. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4504. htm>. Acesso em: 22 abr. 2017 saiba mais Segundo os autores Abrão e Santos (2010), o final da década de 1970 e início da década de 1980, um novo conceito foi inserido: pequena produção integrada e pequena produção excluída da integração. Considera-se produção integrada àquela que une dois ou mais elos da cadeia produtiva (insumos – produção – processamento – dis- tribuição – consumidor final), enquanto que a pequena produção trata-se somente do cultivo e/ou criação propriamente dito. Somente no final da década de 1980 e, no início dos anos 1990, fortaleceu-se o conceito de agricultura familiar por meio de debates políticos e acadêmicos. Pós-Universo 12 Em 2006, foi elaborada a Lei 11.326 (BRASIL, 2006) para definir agricultura familiar: “ Art. 3o Para os efeitos desta Lei, considera-se agricultor familiar e empreen- dedor familiar rural aquele que pratica atividades no meio rural, atendendo, simultaneamente, aos seguintes requisitos: I – Não detenha, a qualquer título, área maior do que 4 (quatro) módulos fiscais; II – Utilize predominantemente mão-de-obra da própria família nas atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento; III – Tenha percentual mínimo da renda familiar originada de atividades econô- micas do seu estabelecimento ou empreendimento, na forma definida pelo Poder Executivo; IV – Dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família. § 1o O disposto no inciso I do caput deste artigo não se aplica quando se tratar de condomínio rural ou outras formas coletivas de propriedade, desde que a fração ideal por proprietário não ultrapasse 4 (quatro) módulos fiscais. § 2o São também beneficiários desta Lei: I – Silvicultores que atendam simultaneamente a todos os requisitos de que trata o caput deste artigo, cultivem florestas nativas ou exóticas e que promo- vam o manejo sustentável daqueles ambientes; II – Aquicultores que atendam simultaneamente a todos os requisitos de que trata o caput deste artigo e explorem reservatórios hídricos com superfície total de até 2 ha (dois hectares) ou ocupem até 500 m³ (quinhentos metros cúbicos) de água, quando a exploração se efetivar em tanques-rede; III – Extrativistas que atendam simultaneamente aos requisitos previstos nos incisos II, III e IV do caput deste artigo e exerçam essa atividade artesanalmen- te no meio rural, excluídos os garimpeiros e faiscadores; IV – Pescadores que atendam simultaneamente aos requisitos previstos nos incisos I, II, III e IV do caput deste artigo e exerçam a atividade pesqueira artesanalmente. V – Povos indígenas que atendam simultaneamente aos requisitos previstos nos incisos II, III e IV do caput do art. 3º; VI – Integrantes de comunidades remanescentes de quilombos rurais e demais povos e comunidades tradicionais que atendam simultaneamente aos incisos II, III e IV do caput do art. 3º (BRASIL, Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006, 2006). Pós-Universo 13 De acordo com Abrão e Santos (2010, p. 4) a definição de agricultura familiar foi im- portante para a ruptura de conceitos errôneos como: “agricultor de subsistência ou de baixa renda, sitiante, pequeno produtor, pequena produção, colono, caipira, meeiro, parceiro, arrendatário, posseiros e, principalmente, camponeses”. Embora não exista uma definição universal, diferentes conceitos baseiam-se em fatores relacionados à propriedade e gestão, utilização de trabalho, tamanho físico e econômico. Numa pesquisa com 36 conceitos, observaram-se alguns fatores que são comumente associados à agricultura familiar. São termos como: mão de obra fami- liar (operado e/o gerido pelo menos em parte), limite máximo de área total e limite máximo de renda (FAO, 2014). Em 2014, a Comissão de Coordenação Internacional da FAO (Food and Agriculture Organization), propôs uma definição transmitida mun- dialmente. O Ano Internacional da Agricultura Familiar (2014) foi a oportunidade para conceituar agricultura familiar como: “ Forma de organizar a produção agrícola, florestal, pesqueira, pecuária e aquícola que é gerenciada e administrada por uma família e depende princi- palmente da mão de obra de seus membros, tanto mulheres quanto homens. A família e o estabelecimento estão relacionados entre si, evoluem conjun- tamente e combinam funções econômicas, ambientais, reprodutivas, sociais e culturais (FAO, 2014). Atualmente, a agricultura familiar é responsável por 570 milhões de fazendas em todo o mundo. Quase 75% desta totalidade estão localizadas na Ásia. A maioria dos imóveis rurais do mundo, voltados à produção familiar, é menor que um hectare (Figura 1). Fatos históricos, instituições, desenvolvimento econômico, desenvolvimen- to do setor não agrícola, terra e trabalho, foram fatores que determinaram, ao longo do tempo, a distribuição de tamanhos de propriedades em vários países (FAO, 2014). Pós-Universo 14 Figura 1 - Distribuição de propriedades rurais em todo o mundo Fonte: adaptado de FAO (2014) Nota: Os primeiros dois painéis são baseados em uma amostra de 161 países, que respondem por quase 570 milhões de explorações; o número de países é mostrado entre parênteses. O terceiro painel mostra fazendas por tamanho da propriedade, cobrindo um total de cerca de 460 milhões de propriedades rurais em 111 países. Todos os valores são arredondados. fatos e dados Pós-Universo 15 Dos mais de 500 milhões de propriedades rurais familiares, nota-se que mais 70% são menores que um hectare. Mesmo consideradas pequenas, essas propriedades são os grandes responsáveis por 80% da produção mundial de alimentos e repre- sentam mais de nove a cada dez propriedades em todo o mundo. A agricultura familiar é essencial para desenvolvimento rural sustentável e anseia-se que muitos destes saiam da situação de pobreza e insegurança alimentar. Para isso, é fundamen- tal que assumam o papel de protagonistas frente às necessidades de produção de alimentos, no mundo, ao trabalharem por uma agricultura sustentável (FAO, 2014). Historicamente, países com maiores rendas beneficiaram seus produtores rurais por meio de políticas de apoio ao desenvolvimento rural. Desta forma, os agriculto- res que já eram relativamenteprodutivos passaram a ser cada vez mais prósperos (MAZOYER; ROUDART, 2010). Na Europa, nos EUA (Estados Unidos da América) e no Japão, especialmente, pós-Segunda Guerra Mundial, os governos privilegiaram a agricultura familiar com estruturação de várias políticas agrícolas e agrárias. Transformaram o modo tradicio- nal de campesinato dos tempos medievais em uma moderna agricultura familiar. A mudança, interna e externa desses produtores foi resultado da intervenção governa- mental e suas políticas, gerando uma agricultura familiar empresarial (CAUME, 2009). Diante destas considerações, é possível compreender porque nos EUA existem propriedades com diversos tamanhos, desde os níveis de renda mais baixos até agri- cultores multimilionários são considerados agricultores familiares. O conceito está embasado em que todos os estabelecimentos rurais são conduzidos por famílias, in- dependentemente de sua grandeza ou poder econômico (HEBERLÊ, 2014). Além disso, os EUA trabalham a propriedade rural como uma empresa e, muitas vezes, aderem o estilo de sociedade holding. A palavra hold (inglês) significa: “segurar, controlar, manter”. Pós-Universo 16 Holding é uma sociedade que tem como atividade o exercício do contro- le acionário de outras empresas e a administração dos bens das empresas que controla, além do desenvolvimento do planejamento estratégico, fi- nanceiro e jurídico dos investimentos do grupo, devendo não interferir na operacionalização das empresas controladas, mas prestar serviços que elas não podem executar eficientemente, ou que, para cada empresa, isolada- mente, seja oneroso e para a holding não, tendo em vista a pulverização dos custos. Fonte: Teixeira (2007, p.2). atenção Trabalhar a propriedade rural como empresa rural é uma forma de garantir a prote- ção e a sucessão patrimonial. Esse estilo de sociedade é bastante difundido e adotado nos EUA. No Brasil, essa prática não é aderida por agricultores familiares e também não é uma cultura muito disseminada. É possível legitimar propriedades brasileiras como holding, desde que a Lei 11.326 de até quatro módulos fiscais seja respeitada. Ou seja, a partir do momento em que o produtor torna-se “grande”, descaracteriza-se como agricultor familiar. Por outro lado, a legislação brasileira prevê este modo de sociedade, qual seja, o holding na Lei 6.404 (BRASIL, 1976) que define: “ Características e Natureza da Companhia ou Sociedade Anônima Características Art. 1º A companhia ou sociedade anônima terá o capital divi- dido em ações, e a responsabilidade dos sócios ou acionistas será limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas. Objeto Social Art. 2º Pode ser objeto da companhia qualquer empresa de fim lucrativo, não contrário à lei, à ordem pública e aos bons costumes. § 1º Qualquer que seja o objeto, a companhia é mercantil e se rege pelas leis e usos do comércio. § 2º O estatuto social definirá o objeto de modo preciso e completo. § 3º A companhia pode ter por objeto participar de outras sociedades; ainda que não prevista no estatuto, a participação é facultada como meio de reali- zar o objeto social, ou para beneficiar-se de incentivos fiscais (BRASIL, Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, 1976). Pós-Universo 17 Os sistemas de gestão das propriedades não são as únicas diferenças entre a agri- cultura familiar americana da agricultura familiar brasileira. Historicamente, foram evidenciados alguns diferenciais. Na obra “Agricultura familiar: é preciso mudar para avançar”, Navarro e Pedroso (2011) fazem um levantamento de três fatores primor- diais. O primeiro descreve o modo de colonização; o segundo, as formas de apoio no fortalecimento da agricultura familiar; e. o terceiro, a cultura de cientistas sociais preocupados com os interesses rurais. Na década de 1940, criaram-se as primeiras políticas públicas para a agricultura familiar nos EUA, enquanto que, no Brasil, elas iniciaram nos anos de 1968 a 1981. No processo de colonização, os americanos ocuparam as terras da maioria das regiões do país, e adotaram-se os lotes pequenos para cada propriedade. No Brasil, foram feitas grandes divisões de terras e de modo desorganizado. Outro diferencial levantado na pesquisa de Navarro e Pedroso (2011) foi em relação às formas de apoio ao desenvolvimento da agricultura familiar. Antes mesmo de surgirem as primeiras políticas públicas nos EUA, a igreja e, especialmente, os protes- tantes, atuavam como porta voz das necessidades dos agricultores frente ao governo. As questões agrárias eram defendidas e fomentadas por essas igrejas. Na agricultu- ra brasileira, não há registros formalizados de entidades que assumiram esse papel. Deste modo, algumas questões continuam carentes de atendimento. Navarro e Pedroso (2011) finalizam as comparações apontando a existência de cientistas sociais na América. Estes pesquisadores, também fomentados pela igreja, atuaram de modo a aprimorar pesquisas para o campo. Assim, caminharam para um desenvolvimento rural e, consequentemente, garantiram uma melhor qualidade de vida para essas famílias. No Brasil, o estímulo de cientistas sociais voltados para ques- tões agrárias, ainda é considerado um fenômeno recente. Os últimos dados de pesquisas brasileiras sobre a agricultura familiar são do IBGE (2006) (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A seguir, apresenta-se de forma resumida os dados compilados a partir do censo agropecuário do IBGE (2006). De modo geral, os estados com os maiores números de estabelecimentos, são, também, os maiores percentuais de áreas ocupadas. A exceção é na região Centro-Oeste. O estado de Goiás apresenta um maior número de estabelecimentos, enquanto o estado do Mato Grosso tem o maior percentual de áreas com agricultura familiar. Uma justificativa para essa desproporção pode estar na legislação brasileira. Para ser consi- derada agricultura familiar, um pré-requisito é que a propriedade tenha, no máximo, Pós-Universo 18 até quatro módulos fiscais. Um módulo fiscal em Goiânia-GO vale 7 ha, então, as áreas de até 28 ha podem ser consideradas familiares. Enquanto um módulo fiscal em Cuiabá-MT vale 30 ha, podendo englobar imóveis rurais de até 120 ha como fa- miliares. Vale ressaltar que o exemplo apresenta apenas as capitais dos estados, e a estatística do IBGE é abrangente para os estados como um todo. Tabulando-se os dados do censo agropecuário do IBGE (2006), é possível notar os números de estabelecimentos e a área total ocupada por agricultores rurais fami- liares. Vejamos na tabela 1, a seguir: Tabela 1 - Estabelecimentos e área da agricultura dividida pelas regiões bra- sileiras, tanto da agricultura familiar quanto da não familiar Grandes regiões Agricultura familiar Lei 11.326/06 Área total (ha) Não familiar Área total (ha) Estabelecimentos Estabelecimentos Brasil 4 367 902 80 250 454 807 585 249 687 833 Norte 413 101 16 647 328 62 674 38 139 968 Nordeste 2 187 295 28 332 600 266 711 47 261 841 Sudeste 699 978 12 789 019 222 069 41 444 044 Sul 849 997 13 066 592 156 184 28 459 566 Fonte: Censo Agropecuário (IBGE, 2006). Nota-se que, assim como a relação por estados, os valores dos módulos fiscais na região Norte são majoritariamente elevados. Assim, a região Norte é a quarta em números de estabelecimentos e a segunda em porcentagem de áreas ocupadas pela agricultura familiar. Além destas informações, o censo agropecuário (2006) fez um levantamento a respeito dos números e variedades de produtos agropecuários produzidos no Brasil. A agricultura familiar é um grupo (Agricultura Familiar, Agronegócio) extremamente diversificado e produzem, principalmente: arroz, feijão, mandioca, milho, soja, trigo, leite, aves e ovos. A diversidade da agricultura familiar é um convite para inovações, considerando as condições agroecológicas, socioeconômicas e políticas públicas. O desafio é estabe- lecer estratégiasde inovação para “concentrar não apenas o aumento do rendimento, mas, também, um conjunto mais complexo de objetivos, incluindo a preservação de recursos naturais e elevação da renda rural” (FAO, 2014, tradução nossa). Pós-Universo 19 O AGRONEGÓCIO Outra vertente da agricultura é denominada agronegócio. O conceito de agrone- gócio (agribusiness) foi elaborado pelos professores americanos de Harvard, John Davis e Ray Goldberg, em 1957. Atualmente, procura-se manter a essência da defi- nição de agribusiness como: “a soma das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas, das operações de produção nas unidades agrícolas, do arma- zenamento, processamento e distribuição dos produtos agrícolas e itens produzidos a partir deles” (CRUVINE; NETO, 1999, p.1). No Brasil temos diversos pesquisadores e diversas Instituições que se dedicam ao estudo do agronegócio. Bons exemplos são: PENSA - Centro de Conhecimento em Agronegócio que é um programa ligado à US <http:// pensa.org.br/> e o GPAI - Grupo de Estudos e Pesquisas Agroindustriais que é ligado à UFSCAR <http://www.gepai.dep.ufscar.br/>. Boa pesquisa!! atenção Silva e Francisco (2007) apontam que, durante o período de colonização do Brasil, su- cederam-se vários ciclos agroindustriais, como: a exploração do Pau-Brasil, cana de açúcar, borracha e café. Estes períodos revelam que “a economia brasileira teve im- plicações sociais, políticas e culturais com fortes raízes junto ao agronegócio”. Didaticamente, a cadeia produtiva do agronegócio ou sistema agroindustrial pode ser dividida em: “antes da porteira” ou montante, “dentro da porteira” e “depois da porteira” ou jusante. Estes segmentos estão interligados e associados (ARAÚJO, 2007), como mostra a figura 2. Pós-Universo 20 MONTANTE Antes da portaria INSUMOS PRODUÇÃO PROCESSAMENTO DISTRIBUIÇÃO ATACADO/VAREJO CONSUMIDOR FINAL Depois da portaria Dentro da portaria JUSTANTE Produção Aninal Produção Vegetal Aves Bovinos Suínos Alimentos Bebidas Açúcar Embutidos Importação Exportação Logística Rodovias Ferrovias Hidrovias Aerovias Meios próprios Postal Supermercado Lojas Restaurantes Padarias Bares Feiras Hotéis “Internet” Vestuário Madeira Papel Celulose Biocombustíveis Roupas Calçados Culturas Anuais Culturas Perenes Floricultura Horticultura Silvicultura Extração Vegetal Defensivos Fetilizantes Sementes Máquinas Combustíveis Motores Tratores Rações Vacinas Figura 2 - Representação da Cadeia Produtiva do Agronegócio. Fonte: o autor (2015) Antes da porteira ou montante representa os insumos necessários para as produ- ções agropecuárias. Dentro da porteira é a representação de pequenos, médios ou grandes produtores, organizados como pessoas físicas (agricultores) ou pessoas jurídicas (empresas). E depois da porteira ou jusante representa as etapas de benefi- ciamento, transporte até a venda ao consumidor final (ARAÚJO, 2007). Segundo Silva e Francisco (2007, p.13): “ A proposta do agronegócio é focada nos fornecedores de bens e serviços para a agricultura, os produtores rurais, os processadores, os transformado- res e distribuidores e todos os envolvidos na geração e fluxo dos produtos de origem agrícola até o consumidor final. A partir de 1990, com a reabertura econômica do Brasil, grandes empresas do comple- xo agroindustrial instalaram-se no país. Setores de insumos, maquinários, tecnologia de processamentos, distribuição e comercialização, são as áreas de atuação destas empresas. Ou seja, participam de todo o ciclo produtivo do agronegócio. Além disso, essas empresas são até hoje protagonistas em investimento em ciências e pesquisas em todo território brasileiro (SANTOS; VALE, 2012). Pós-Universo 21 As inovações tecnológicas tornam-se importantíssimas para alavancar as produ- ções rurais. A cadeia produtiva do agronegócio é diretamente afetada pela utilização de tecnologias. Mas são, especialmente, os grandes produtores e exportadores que usufruem dos avanços tecnológicos no agronegócio (SILVA; FRANCISCO, 2007). De acordo com a pesquisa de Caume (2009), a produção agrícola depende cres- centemente de recursos econômicos. Este fator é essencial para a aquisição de bens de produção (máquinas, implementos e insumos) e acesso aos processamentos das agroindústrias. Os países que perceberam essa dinâmica e adotaram políticas, “tais como inves- timento em educação e treinamento, ciência, geração de tecnologia, infraestrutura, difusão de informações e melhoria na qualidade de vida rural”, foram os maiores be- neficiados (CRUVINE; NETO, 1999, p.4). No Brasil e no mundo houve uma crescente demanda por produtos agríco- las, especialmente, em consequência do êxodo rural. O modo de operacionalidade empresarial rural foi implantado, visando atender o aumento do consumo. A maior produtividade é resultado das inovações tecnológicas implementadas. O novo modelo foi possível por meio de incentivos de créditos no setor agrícola e industrial, que con- duziram as produções do campo até a cidade (SANTOS; VALE, 2012). Considerando-se o Brasil um país essencialmente agrícola, almeja-se a incorpo- ração das novas tecnologias voltadas à produção rural. Para que este processo de modernização seja alcançado com sucesso, e de modo abrangente, deve haver in- vestimentos do setor público e privado. Objetiva-se uma “melhoria contínua dos equipamentos e máquinas, e na especialização de recursos humanos, principalmen- te no treinamento de técnicos na área agrícola” (SILVA; FRANCISCO, 2007, p.11). Neste contexto, o setor agroindustrial é um dos maiores beneficiados do suporte científico e tecnológico. Responsabiliza-se por uma porção generosa da economia, e ajuda a manter, e até mesmo incrementar, a competitividade de mercado (CRUVINE; NETO, 1999). Pós-Universo 22 US$ Bilhão Ano 2017 2016 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008 0 20 40 60 80 100 US$11,9 US$71,8 US$64,8 US$13,4 US$76,4 US$17,5 US$95,0 US$16,4 US$17,1 US$16,6 US$13,1 US$13,6 US$88,2 US$84,9 US$3,8 US$20,5 US$96,7 US$95,8 US$100,0 US$9,9 Exportação Importação Figura 3 - Balança Comercial do Agronegócio - Série Histórica Fonte: Agrostat (2017). No gráfico 3 podemos observar a importância do agronegócio para a Balança Comercial Brasileira. Percebam que em todos os períodos mostrados (2008 até 2017) as expor- tações do agronegócio superam as importações do agronegócio, gerando assim divisas para a economia brasileira. Pós-Universo 23 O infográfico apresenta os principais destinos das exportações do agro- negócio brasileiro no primeiro trimestre de 2017. Há que se ressaltar que tanto os países de destino quanto os produtos não tem se modificado nos últimos anos e, provavelmente, não ocorram grandes modificações nos próximos anos. Fonte: CNA - Confederação Nacional da Agricultura. Boletim do Agronegócio Internacional Edição 32 - Abril de 2017. Disponível em: <http://www.cnabrasil. org.br/boletins/boletim-do-agronegocio-internacional-alternativas-e-opor- tunidade-de-integracao-comercial>. fatos e dados O agronegócio não deve ser exclusivamente voltado aos grandes produtores rurais. Os pequenos e médios, visando crescimento e competitividade de mercado, podem associar-se. A cooperação é uma maneira de se fortalecer e gerar alternativas, prin- cipalmente, para os agricultores familiares. Ressalta-se que para os agricultores, pecuaristas e agroindústrias se destacarem nesse novo cenário de cooperação (unir pequenos e torná-los grandes/competitivos), as inovações tecnológicas e conheci- mentos, pois não basta só a informação, é preciso compreendê-la e praticá-la. Por isso, valoriza-se o investimento em ciência e tecnologia (SILVA; FRANCISCO, 2007). Conhecer os dados sobre o agronegócio brasileiro é muito interessante. Uma boa fonte de pesquisa são os sites governamentais. Saiba mais sobre as exportações e importações do agronegócio brasileiro. Fonte: Agrostat. Ministérioda Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Disponíel em: <http://indicadores.agricultura.gov.br/agrostat/index.htm>. saiba mais Pós-Universo 24 Pós-Universo 25 AGRICULTURA FAMILIAR versus AGRONEGÓCIO O panorama mundial da agricultura familiar contabiliza mais de 500 milhões de proprie- dades. As famílias podem contribuir efetivamente para garantir a segurança alimentar mundial, cuidar e proteger os recursos naturais, acabar com a pobreza, subnutrição e desnutrição. Para assumir tal papel, é fundamental o desenvolvimento de políticas públicas para o fortalecimento da agricultura familiar. Deste modo, é possível torna- rem-se mais inovadoras, produtivas e sustentáveis (FAO, 2014). Outro ponto importante é desvincular a palavra agronegócio como sinônimo de grandes produtores rurais. O agronegócio é resultado de produtores altamente com- petitivos no mercado, inclusive agricultores familiares. A principal diferença está na escala de produção, pois os menores produzem menos. Mesmo assim, é possível tor- ná-los competitivos unindo-os, por exemplo, em associações e cooperativas (CRUVINE; NETO, 1999). Fomentar inovações, especialmente na aplicação do conhecimento científico, é um modo de melhorar a produção e as práticas de gestão. É importante propor ideias de uma agricultura sustentável como plantio de novas variedades combinadas às práticas tradicionais ou, ainda, aplicar técnicas integradas de produção. Para isso, é fun- damental que setor público, privado, sociedade civil, agricultores e suas organizações trabalhem por este objetivo. De acordo com Silva e Francisco (2007,p. 12): “ Para estabelecer uma relação entre desenvolvimento sustentável e o agro- negócio, discute-se exauridamente a preservação do meio ambiente, dos programas de biotecnologia e recursos genéticos, gestão de recursos hídri- cos, conservação de solos na agricultura, florestas e agroflorestas, conservação de parques e proteção ambiental. Uma perspectiva do tamanho das propriedades e de suas áreas de ocupa- ção, em todo o mundo, foram pesquisadas pela FAO (2014). Esses números estão graficamente representados na figura 4, a seguir. Pós-Universo 26 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 <2 2-5 5-10 10-20 Tamanho (ha) Tamanho da propriedade Área da propriedade 20-50 50-100 100-200 200-500 500-1000 >1000 Figura 4 - Tamanho x Área das propriedades rurais em todo o mundo, 2014. Fonte: adaptado de dados do Programa da FAO para o Censo Mundial de Agricultura mostrado em FAO (2013). Nota: Com base em uma amostra de 106 países. Com esses dados, interpreta-se que aproximadamente 90% dos imóveis rurais do mundo têm até 100 ha., Somando-se, porém, o tamanho dessas propriedades, re- sulta-se algo em torno de 40% da área total de produção agrícola mundial. Diante dessa análise, é correto afirmar que quase 10% de todos imóveis rurais levantados pela pesquisa, são maiores que 100 ha e ocupam cerca de 60% da área total mundial agricultável. Quando se trata de dados específicos sobre o Brasil, prevalece a quantidade de pequenas propriedades, menores que 100 ha. Mas a soma das áreas dessas peque- nas propriedades chega somente a 15,98% do total. Enquanto as áreas maiores que 2000 ha, não alcançam 1% do número de imóveis rurais, mas dominam mais de 40% das áreas produtivas no Brasil. Isto mostra que existe concentração de terras em nosso país, ou seja, poucas pessoas/empresas são donas da maior parte de terras. Pós-Universo 27 Esta interpretação é confirmada no trabalho de Silva (2011) e que Caio Prado Júnior em 1979 também relatava: “ (...) por força da grande concentração da propriedade fundiária que carac- teriza a economia agrária brasileira, bem como das demais circunstâncias econômicas, sociais e políticas que direta e indiretamente derivam de tal concentração, a utilização da terra se faz predominantemente e de maneira acentuada, em benefício de uma reduzida minoria (PRADO JR., 1979, p.15). Na pesquisa de Camacho (2009), foi apontado a concentração de grandes proprieda- des como um dos fatores que contribuíram para o êxodo rural. O censo do IBGE (2010) apurou informações, segundo a localização do domicílio, representando, assim, a po- pulação rural e a população urbana. A figura 5 mostra estes números de 1980 até 2010. RURAL URBANO 10 0 1980 1991 1996 2000 2010 20 30 40 50 60 70 80 90 67,7% 75,47% 78,36% 81,23% 84,36% Figura 5 - População residente segundo localização do domicílio Brasil. Fonte: adaptado de IBGE (2010). Pós-Universo 28 De fato, os dados apontam uma redução de aproximadamente 50% da população rural, em 30 anos. Dessa forma, os produtores familiares e não familiares, mesmo re- presentando a minoria da população, assumem a responsabilidade de alimentar toda a população e alavancar a economia brasileira. Por isso, serão apresentadas pesqui- sas comparativas dos números da agricultura familiar e não familiar. Para fins didáticos, será considerada agricultura familiar todas as propriedades rurais brasileiras que se enquadram na Lei 11.326/06 (BRASIL, 2006). As demais serão consideradas agricultura não familiar/agronegócio. A tabela seguinte expõe informações acerca do número de estabelecimentos, área total, receita anual e outras receitas fora da produção agrícola. Tabela 2 - Número de estabelecimentos, área total e receita anual dos estabelecimentos da agri- cultura familiar e da agricultura não familiar Estabelecimentos Área total (ha) Receita anual (1 000 R$) Outras receitas obtidas por ano (1 000 R$) Total 5 175 487 329 938 287 121 833 136 12 707 879 Agr. Familiar Lei 11.326/06 4 367 902 80 250 454 41 322 443 7 763 150 Não familiar 807 585 249 687 833 80 510 693 4 944 729 Fonte: Censo Agropecuário (IBGE, 2006). Computados os dados em proporções aproximadas, admite-se um valor em torno de 84% de estabelecimentos familiares contra 16% de estabelecimentos não fami- liares. Mesmo em número proporcionalmente menor, os agricultores não familiares com cerca de 76% da área total e em torno de 66% da receita anual. Dominando uma menor renda na produção agropecuária, os agricultores familiares, são respon- sáveis por aproximadamente 61% de toda renda fora das atividades agropecuárias. Detalhando-se os dados, a tabela 3 demonstra valores de números de estabele- cimentos e área ocupada, subdivididos em estados, regiões e total brasileira. Pós-Universo 29 Tabela 3: Estabelecimentos e área da agricultura dividida pelas regiões brasileiras, tanto da agri- cultura familiar quanto da não familiar Grandes regiões Agricultura familiar Lei 11.326/06 Área total (ha) Não familiar Área total (ha) Estabelecimentos Estabelecimentos Brasil 4 367 902 80 250 454 807 585 249 687 833 Norte 413 101 16 647 328 62 674 38 139 968 Acre 25187 1494424 4295 1996859 Amapá 2863 12 130770 019 664 743018 Amazonas 61843 1477045 4941 2157265 Pará 196150 6909156 25878 15556870 Rondônia 75251 3302769 11826 5026364 Roraima 8908 637963 1402 1061871 Tocantins 42899 2695201 13668 11597721 Nordeste 2187295 28332600 266711 47261841 Alagoas 111751 682616 11580 1425745 Bahia 665831 9955563 95697 19224996 Ceará 341510 3492848 39504 4429366 Maranhão 262089 4519305 24948 8472143 Paraíba 148077 1596273 19195 2186605 Pernambuco 275740 2567070 29048 2866999 Piauí 220757 3761306 24621 5745291 Rio Grande do Norte 71210 1046131 11842 2141771 Sergipe 90330 711488 10276 768925 Sudeste 699 978 12789019 222069 41444044 Espírito Santo 67403 966797 16953 1871381 Minas Gerais 437415 8845883 114202 23801664 Rio de Janeiro 44145 470221 14335 1575646 São Paulo 151015 2506118 76579 14195353 Pós-Universo 30 Sul 849997 13066592 156184 28459566 Paraná 302907 4249882 68144 11036652 Rio Grande do Sul 378546 6171622 62921 14027867 Santa Catarina 168544 2645088 25119 3395047 Centro-Oeste 217531 9414915 99947 94382414 Goiás 88436 3329630 47247 22353918 Mato Grosso 86167 4884212 26811 42921302 Mato Grossodo Sul 41104 1190206 23758 28866741 Fonte: Censo Agropecuário (IBGE, 2006). Considerando os valores da agricultura familiar, em proporções aproximadas e des- considerando o Distrito Federal, tem-se: o maior número de estabelecimentos (50%) e maiores áreas (35%) de ocupação por região no Nordeste. Por Estado, a Bahia lidera o ranking com proporções de (15%) de estabelecimentos e (12%) da área. O Centro- Oeste foi a região que apresentou o menor índice de estabelecimentos (5%) e área (12%). Por Estado, o Amapá mostra-se com o menor número de estabelecimentos (0,065%) e em área (0,16%). Ponderando-se os valores referentes à agricultura não familiar, em porcentagens aproximadas, e desconsiderando o Distrito Federal, tem-se: a região Nordeste lideran- do o número de estabelecimentos (33%) e o Estado de Minas Gerais com (14%). Já as maiores porções de áreas estão em domínio da região Centro-Oeste (38%) e no Estado de Mato Grosso com (17%). Referindo aos menores percentuais, a região Norte apontou menor número de estabelecimentos (7%) ao lado do Estado do Amapá com (0,82%). Por área, a menor representação é da região Sul (11%) e o Estado do Amapá (0,29%). Outros índices levantados pelo censo agropecuário do IBGE (2006) são em relação a produção vegetal e a produção animal. Elencando-se os produtos em ordem classificatória de produção, tem-se na agricul- tura familiar, primeiro o milho, segundo a mandioca e o terceiro, a soja. As produções referentes à agricultura não familiar classificam-se: primeiro a soja, segundo, o milho e, em terceiro, o arroz. Nota-se que a soja e o milho são os mais produzidos em ambas. O quadro 1 é uma simplificação dos principais produtos vegetais produzidos pela agricultura familiar e não familiar, em número de estabelecimentos e em produção, e por ordem classificatória. Pós-Universo 31 Quadro 1: Classificação dos produtos vegetais produzidos pela agricultura familiar e não familiar no Brasil PRODUÇÃO VEGETAL Agricultura familiar Lei 11.326/06 Não familiar Número de estabelecimentos Milho Mandioca Feijão fradinho [...] Milho Feijão fradinho [...] Mandioca Produção Milho Mandioca Soja Soja Milho Arroz Fonte: adaptado de IBGE (2006). Outros dados do censo agropecuário do IBGE (2006) são referentes à produção animal. Mostrando-se os produtos em ordem classificatória, tem-se: primeiro o leite de vaca, segundo as aves e o terceiro, os ovos, produzidos pela agricultura familiar. Para as produções não familiares, primeiro o leite de vaca, segundo, ovos e terceiro as aves. Nota-se que os produtos produzidos são equitativamente importantes, leite de vaca, aves e ovos, diferenciando-se o segundo e o terceiro lugar. O quadro 2 mostra uma síntese da classificação animal oriundo da agricultura fa- miliar e não familiar, divididas por estabelecimentos e produção. Quadro 2 - Classificação dos produtos animais produzidos pela agricultura familiar e não fami- liar no Brasil PRODUÇÃO ANIMAL Agricultura familiar Lei 11.326/06 Não familiar Estabelecimentos Aves Bovinos Suínos Bovinos Aves Leite de vaca Produção Leite de vaca Aves Ovos Leite de vaca Ovos Aves Fonte: adaptado de IBGE (2006). Desse modo, verifica-se o potencial de competitividade nas produções agropecuárias da agricultura familiar frente ao agronegócio. Como citado anteriormente: a coope- ração é uma maneira de se fortalecer e gerar alternativas, principalmente para os agricultores familiares (SILVA; FRANCISCO, 2007). Pós-Universo 32 Pela inserção de novas técnicas de produções, associações, subsídios, entre outras variáveis citadas, observa-se o reflexo da contribuição da agricultura familiar e não familiar para a economia brasileira, demonstrado no gráfico seguinte. Em 10 anos, segundo dados da CNA (2014) o PIB (Produto Interno Bruto) agro- pecuário cresceu 188,3%. Isso demonstra a força da agricultura brasileira para o crescimento do país. Outra contribuição é em relação à produtividade que cresceu 142,3%. Esse índice demonstra que o produtor aumentou sua produção utilizando- -se de inovações tecnológicas e novas pesquisas. Um pouco menos expressivo foi o crescimento de emprego, apenas 19%. Maquinários, implementos, entre outros, potencializam em agilidade e reduzem a mão de obra. Por outro lado, assim como outros setores da economia, a agricultura também se profissionalizou. Hoje são en- genheiros agrônomos, médicos veterinários, zootecnistas, técnicos agrícolas e outras especialidades, a mão de obra necessária no campo. Destacando também a impor- tância da qualificação profissional permanente dos operários e gestores rurais. Desse modo, relaciona-se agricultura familiar e o agronegócio como formas inter- dependentes de produção agropecuária e de renda. O foco desta pesquisa revelou a busca de referências acerca do tema, enfatizando singularidades, semelhanças e dife- renças. Portanto, ressaltam-se o papel fundamental da inovação, incentivos à ciência e pesquisa, e políticas públicas voltadas à produção rural. atividades de estudo 1. Nem sempre foi simples definir e classificar o que é Agricultura Familiar. Mas, em 2006 surgiu a lei que conseguiu nos trazer uma definição um pouco mais concre- ta do que vem a ser a agricultura familiar. Nesse contexto, assinale a alternativa que apresenta uma característica importante para que a propriedade rural seja enqua- drada na Agricultura Familiar: a) Ser de pessoas físicas e não jurídicas se enquadram como agricultura familiar; b) Ser menor do que que 3 hectares. c) Não ter dois sócios ou mais. d) Utilize predominantemente mão de obra familiar. e) Utilize exclusivamente mão de obra familiar. 2. O agronegócio é amplamente estudado. Há certo padrão de definições para se estudar o agronegócio mundialmente, entre eles os conceitos de: Antes da porteira, dentro da porteira e depois da porteira. Analise as afirmativas e assinale a que pre- enche corretamente a lacuna do texto a seguir: ---------------- representa os insumos necessários para as produções agropecuárias. a) depois da porteira. b) dentro da porteira. c) antes da porteira. d) antes e dentro da porteira. e) nenhuma das opções. 3. Os principais produtos vegetais agrícolas em termos de produção, produzidos pela agricultura familiar no Brasil são: a) trigo, soja e milho. b) milho, mandioca e soja. c) laranja, soja e mandioca. d) alface, trigo e milho. e) trigo, soja e mandioca. resumo Neste estudo, propôs-se a revisão de referências, o levantamento de fatos, a exposição de dados e a contextualização da agricultura familiar e do agronegócio em seu panorama atual, importan- te destacar que levantamentos oficiais no Brasil aconteceram em 2006, o que torna os dados um pouco defasados mas, nem por isso, deixam de retratar a realidade brasileira. Não se pode afirmar quando e onde surgiu a agricultura, mas foi graças a ela que as civiliza- ções foram consolidadas e são sustentadas até hoje. Desde seu surgimento, a agricultura passou por profundas transformações, especialmente em suas formas de produção e comercialização. Independentemente de certas peculiaridades, os principais objetivos da agricultura são a pro- dução de alimentos e de renda e isso independe se estamos falando de pequenas ou grandes propriedades, o que se deseja é a sobrevivência e, em muitos casos, a geração de lucro. Na abordagem feita sobre as diferenças entre a agricultura familiar e o agronegócio, a principal consideração apontada foi em relação à Lei 11.326/06. De acordo com esta Lei, a agricultura fa- miliar e o agronegócio diferem-se em relação ao tamanho das propriedades, renda do produtor e a gestão do empreendimento. Em outros países, essa discrepância é minimizada, pois consi- deram como única diferença a forma de administração das propriedades rurais. Assim, é possível que o agricultor inove em suas atividades, e cresça em tamanho e renda, o que não é tão fácil no Brasil. Com isso, nesseponto da aprendizagem, é possível diferenciar a agricultura familiar e o agronegócio e também elencar suas semelhanças. Apesar de mostrarmos as diferenças entre agricultura familiar e agronegócio, há que se pontuar que ambos são importantes para o Brasil e para o mundo, principalmente na produção de alimentos. Na sequência, o objetivo central será o entendimento de sustentabilidade e as singularidades da agricultura familiar. material complementar NA WEB Interessante vídeo a respeito do agronegócio e da agricultura familiar, apresenta alguns dados relacionado a essa área. Nele há um debate a esse respeito. Link: <https://www.youtube.com/watch?v=Oj_eka1pqmE> referências ABRÃO, J. A. A.; SANTOS, R. A. A classificação do conceito de agricultura familiar a partir da análise da obra “O processo de modernização da agricultura no sudoeste do Paraná”. In: XVI ENCONTRO NACIONAL DOS GEÓGRAFOS, [s.n.], 2010, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre, 2010. AGROSTAT. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Disponível em: <http://in- dicadores.agricultura.gov.br/agrostat/index.htm>>. Acesso em 04 mar. 2015. 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Dispõe sobre o Estatuto da Terra, e dá outras providências. Diário Oficial Eletrônico, 30 de nov. 1964. Disponível em: <http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/leis/l4504.htm>. Acesso em: 22 abr. 2017 CAMACHO, R. S. O agronegócio latifundiário versus a agricultura camponesa: a luta política e pe- dagógica do campesinato. In: XIX Encontro Nacional de Geografia Agrária, [s.n.], 2009, São Paulo. Anais... São Paulo, 2009. CAUME, D. J. Agricultura familiar e agronegócio: Falsas antinomias. Redes, Santa Cruz do Sul, v.14, n.1, p. 26 – 44, jan./abr. 2009. CNA - Confederação Nacional da Agricultura. Boletim do Agronegócio Internacional Edição 32 - Abril de 2017. Disponível em: <http://www.cnabrasil.org.br/boletins/ boletim-do-agronegocio-internacional-alternativas-e-oportunidade-de-integracao-comercial>. referências CRUVINE, P. E.; NETO, L. M. Subsídios para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro: O programa automação agropecuária, visão e estratégias. 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