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DECISÃO STF: RELIGIÃO x CIÊNCIA E A INFLUÊNCIA DO DIREITO

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18
 UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
FACULDADE DE DIREITO DE ALAGOAS
Laíssa Victória Barros
Vitor Aquino de Oliveira Nunes
DECISÃO STF: RELIGIÃO x CIÊNCIA E A INFLUÊNCIA DO DIREITO
Maceió-Alagoas
2020
Laíssa Victória Barros
Vitor Aquino de Oliveira Nunes
DECISÃO STF: RELIGIÃO x CIÊNCIA E A INFLUÊNCIA DO DIREITO
Artigo sobre decisão do STF relacionada às pesquisas com células-tronco e as controvérsias constitucionais, requisitado pela professora Juliana Jota Dantas como avaliação para composição de nota da matéria de Metodologia Jurídica do 1º período da graduação em Direito da Universidade Federal de Alagoas.
Maceió-Alagoas
2020
RESUMO
Este trabalho versa análises por trás de uma decisão do STF a partir de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI.3510), ajuizada com o propósito de impedir estudos e pesquisas com células-tronco embrionárias, células que possuem alto poder de proliferação e renovação de qualquer tecido, então, essas pesquisas ajudam na descoberta de tratamentos para várias doenças genéticas. Dessa forma, o artigo vai tratar de assuntos importantes para o entendimento dessa decisão. Por isso, antes de entrar no Direito em si, trata-se do que são as células-tronco e a terapia celular. Logo depois, mostra-se os conceitos de Bioética e Biodireito para assim poder adentrar no Direito com a questão das teorias sobre quando se inicia a vida humana de grande importância para o Direito Civil. A problemática está exatamente neste ponto, em que a ciência e a religião vão de encontro nas suas convicções. Portanto, expõe-se os principais argumentos dos ministros do Supremo Tribunal Federal para defender este tipo de pesquisa e a tese central do ex-procurador geral da República Cláudio Fonteles que interpôs a ADI. 3510.
Palavras-chave: Decisão STF. ADI. 3510. Células-tronco. Religião. Vida
 
SUMÁRIO
1 CÉLULAS-TRONCO	6
1.1 O que são?	6
1.2 Pesquisas com células-tronco	7
2 CONCEITUAÇÃO	7
2.1 Bioética	7
2.2 Princípios da Bioética	8
2.3 Biodireito	8
3 TEORIAS	9
3.1 Teoria Concepcionista	9
3.2 Teoria da Nidação	9
3.3 Teoria da Gastrulação	9
3.4 Teoria da formação dos rudimentos do sistema nervoso central	9
3.5 Teoria Natalista	10
3.6 Teoria da personalidade formal ou condicional	10
4 A VIDA	10
4.1 Concepção jurídica	10
4.2 Concepção científica	10
4.3 Concepção religiosa	11
5 LEI Nº 11.105/2005 (LEI DE BIOSSEGURANÇA)	11
6 O EMBATE	11
7 AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 3.510	11
7.1 A audiência pública	12
8 O JULGAMENTO	12
8.1 O voto do Ministro Carlos Ayres Britto	13
8.2 O voto da Ministra Ellen Gracie	13
8.3 O voto do Ministro Menezes Direito	13
8.4 O voto da Ministra Cármen Lúcia	13
8.5 O voto do Ministro Ricardo Lewandowski	13
8.6 O voto do Ministro Eros Grau	13
8.7 O voto do Ministro Cezar Peluso	14
8.8 O voto do Ministro Marco Aurélio	14
8.9 O voto do Ministro Joaquim Barbosa	14
8.10 O voto do Ministro Celso de Mello	14
8.11 O voto do Ministro Gilmar Mendes	14
9 A DECISÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL	14
CONCLUSÃO	15
REFERÊNCIAS	16
	
1 CÉLULAS-TRONCO
1.1 O que são?
As células-tronco são definidas por sua grande capacidade de proliferação e autorrenovação (Alves, Muotri, 2014). Os cientistas as dividem em dois grandes grupos: as células-tronco embrionárias e as células-tronco adultas (Rehen, Paulsen, 2007). As primeiras derivam da massa celular de um embrião, com quatro ou cinco dias de fecundação, e são capazes de originar muitas variedades de células e tecidos. As células-tronco adultas são constituídas em estágios posteriores do desenvolvimento e encontram-se em regiões diferenciadas do corpo, podendo gerar subtipos celulares de tecidos dos quais derivam. As pesquisas com células-tronco embrionárias surgiram no início da década de 1980, nos EUA. A constatação da capacidade de transformação dessas células em variados tipos celulares mobilizou a comunidade científica em relação à aplicação terapêutica em humanos. No entanto, entraves éticos e legais vinculados ao uso de embriões criados para fins de reprodução assistida limitaram os avanços desse campo (Diniz, Avelino, 2009). Os transplantes de células-tronco adultas são realizados desde os anos 1950, como o de medula óssea. As pesquisas com células-tronco adultas avançaram com a descoberta das denominadas células-tronco tecido-específicas, que dão origem a células do tecido e do órgão de que derivam. Atualmente é possível reconhecer a presença dessas células no fígado, na polpa dentária, nos vasos sanguíneos, no músculo esquelético, no pâncreas, no epitélio da pele e do sistema digestivo, na córnea, na retina, na medula espinhal e no cérebro (Rehen, Paulsen, 2007).
As células-tronco são tipos de células indiferenciadas, sem função específica nos tecidos, capazes de multiplicar-se mantendo-se indiferenciadas por longos períodos (tanto in vitro como in vivo), mas que diante de estímulos específicos podem diferenciar-se em células maduras e funcionais dos tecidos. As células-tronco têm a propriedade fundamental de divisão assimétrica, ou seja, ao mesmo tempo que originam células precursoras com capacidade de diferenciação restrita a um determinado tecido, produzem células indiferenciadas que repõem a população de células-tronco. De acordo com Marco Antônio Zago, o que difere as células-tronco das demais células do organismo é que são células indiferenciadas e não especializadas, com capacidade de multiplicar por longos períodos mantendo-se indiferenciadas e são também capazes de se diferenciar em células especializadas de um tecido particular. A diferença entre células-tronco embrionárias e células-tronco adultas é que as embrionárias são células primitivas indiferenciadas de embrião que têm potencial para se tornarem uma variedade de tipos celulares especializados de qualquer órgão ou tecido do organismo. Já as células-tronco adultas são células indiferenciadas encontradas em um tecido diferenciado que podem renovar-se, e com certa limitação, diferenciar-se para produzirem os tipos de células especializadas dos tecidos das quais se origina como os tecidos da medula óssea, fígado.
1.2 Pesquisas com células-tronco
Há vários entraves de ordem técnica que precisam ser vencidos para que as células-tronco possam passar a ser empregadas rotineiramente em terapia celular. Um dos principais objetivos das pesquisas com células-tronco embrionárias humanas é a identificação de como as células indiferenciadas tornam-se diferenciadas. A capacidade científica de ligar ou desligar determinados genes é um processo crucial. Algumas das mais sérias condições médicas como câncer e defeitos congênitos são devidas a anormalidades na divisão celular anormal e na diferenciação. Uma melhor compreensão do controle genética e molecular desses processos pode dar informações sobre como tais doenças ocorrem e sugerir novas estratégias para terapia. Os cientistas ainda não compreendem completamente os sinais que ligam ou desligam genes na diferenciação das células tronco. Uma aplicação potencial das células-tronco é a geração de órgão e tecidos para substituir tecidos lesados e que atualmente só é possível a partir de doação de órgãos de pessoas com morte cerebral. Para realizar as promessas de uso, os cientistas devem ser capazes de reproduzir, manipular e diferenciar as células em número suficiente para os transplantes.
Essas células-tronco embrionárias são o tipo mais versátil de células-tronco até hoje identificadas em mamíferos. Enquanto as células-tronco derivadas da medula óssea ou do sangue de cordão umbilical conseguem se transformar em somente alguns tecidos, as células-tronco embrionárias possuem a formidável capacidade de dar origem a todos os tecidos do corpo. Estas células não são uma novidade da ciência – desde a década de 1980 faz-se pesquisas com células-tronco embrionárias de camundongos. Trabalhando com eles, descobrimos como multiplicá-las e transformá-las no laboratório em células da medula óssea, do músculo cardíaco, em neurônios, entre outras.E mais: quando transplantadas em animais doentes, estas células derivadas das células-tronco embrionárias foram capazes de aliviar os sintomas de diversas doenças, desde leucemia e doença de Parkinson até paralisia causada por trauma da medula espinhal (daí o entusiasmo do Super-Homem Christopher Reeve em relação a essas células).
2 CONCEITUAÇÃO
2.1 Bioética
Um dos conceitos que definem Bioética (“ética da vida”) é que esta é a ciência “que tem como objetivo indicar os limites e as finalidades da intervenção do homem sobre a vida, identificar os valores de referência que podem ser racionalmente propostos, denunciar os riscos das possíveis aplicações” (LEONE; PRIVITERA; CUNHA, 2001). Para isso, a Bioética, como área de pesquisa, necessita ser estudada por meio de uma metodologia interdisciplinar. Isso significa que profissionais de diversas áreas (profissionais da educação, do direito, da sociologia, da economia, da teologia, da psicologia, da medicina etc.) devem participar das discussões sobre os temas que envolvem o impacto da tecnologia sobre a vida. Todos terão alguma contribuição a oferecer para o estudo dos diversos temas de Bioética. Por exemplo, se um economista do governo propõe um novo plano econômico que afeta (negativamente) a vida das pessoas, haverá aspectos bioéticos a serem considerados. Segundo a Unesco, o termo bioética está relacionado ao campo de estudo sistemático, plural e interdisciplinar, envolvendo questões morais, teóricas e práticas levantadas pela medicina e ciências da vida, enquanto aplicada aos seres humanos e à relação destes com a biosfera.
2.2 Princípios da Bioética
O relatório de Belmont propôs um método baseado na aceitação de três princípios éticos e globais que deveriam prover as bases sobre as quais formular, criticar e interpretar algumas regras específicas. A comissão reconheceu que outros princípios poderiam ser relevantes, mas deu foco em três principalmente. Os princípios são: respeito pelas pessoas(autonomia), beneficência e justiça. O respeito pelas pessoas incorpora pelo menos duas convicções éticas, o de que as pessoas deveriam ser tratadas com autonomia e a de que as pessoas que estivessem com a autonomia diminuída deveriam ser protegidas, uma pessoa autônoma seria o indivíduo capaz de deliberar sobre seus objetivos pessoais e agir sobre a orientação dessa deliberação. No princípio da beneficência no sentido de obrigação foram formuladas duas regras, a de não causar dano e a de maximizar os benefícios e minimizar os possíveis riscos. Já o princípio da justiça é a imparcialidade de distribuição de riscos e benefícios.
2.3 Biodireito
A partir do século XX os conceitos, categorias e institutos do direito civil clássico revelaram-se insuficientes para regular as relações sociais que surgiram na esteira dos avanços científicos e tecnológicos da biologia e especialmente da engenharia genética. Surge assim o Biodireito, o qual irá tratar dessas novas realidade e relações sociais, que colocam em causa o homem não somente como ser individual, mas como parte da espécie humana. Chega-se ao conceito de "Biodireito", como sendo a positivação das normas bioéticas. Em outras palavras, Biodireito é a positivação jurídica de
permissões de comportamentos médico-científicos e de sanções pelo descumprimento destas normas. O dicionário Enciclopédico de Teoria e de Sociologia do Direito registra que o Biodireito é o “ramo do Direito que trata da teoria, da legislação e da jurisprudência relativas às normas reguladoras dos avanços da biologia, da biotecnologia e da medicina”. Com a promulgação da Constituição de 1988 que trouxe uma série de valores fundamentais que regem o Biodireito como a vida, a dignidade humana, a liberdade e a solidariedade sendo a base principiológica do Biodireito.
3 TEORIAS
3.1 Teoria Concepcionista
A Teoria Concepcionista defende que a vida começa a partir da concepção, isto é, quando o espermatozoide penetra no ovócito e ambos se fundem, formando a primeira célula com toda a programação genética do indivíduo até a fase adulta. Os fundamentos desta teoria são os mais diversos possíveis, sendo o de cunho religioso o mais expressivo deles. Dessa forma, a Igreja Católica defende que o seu início é marcado pela alma, isto é, quando o feto recebia a alma passava a existir vida, proibindo o aborto em qualquer fase, já que a alma passa a pertencer ao novo ser no preciso momento do encontro do óvulo com o espermatozoide.
3.2 Teoria da Nidação
A corrente nidatória entende que a vida se inicia a partir do momento em que o embrião se fixa no útero, o único ambiente em que ele pode se desenvolver. Isto ocorreria quando o óvulo fecundado penetra lentamente no endométrio até estar totalmente circundado por tecido materno, ou seja, é quando o óvulo é acolhido pelo útero. Este processo ocorre cerca de 5 a 6 dias após a fecundação, denominando-se nidação.
3.3 Teoria da Gastrulação
Existe ainda a Teoria da Gastrulação, processo de desenvolvimento embrionário da gástrula até a nêurula, na qual usa as características fisiológicas do embrião para designar um marco inicial da vida como um ser humano. Segundo essa teoria, será considerado embrião o organismo formado ao final dessa fase, na qual ocorre o desenvolvimento da gástrula que compreende a conversão das células do embrioblasto para a formação do ectoderme, mesoderme e endoderme – que são as três camadas germinais primitivas. Ao se fixarem na parede uterina, essas camadas vão se transformar em condutores de nutrientes da mãe para o feto. É nesta fase que se forma a placa neural, a qual se invaginará, dando origem ao tubo neural e por intermédio deste se desenvolve o sistema nervoso central. Salienta-se que este estágio é concluído somente após o 18º dia de gestação.
3.4 Teoria da formação dos rudimentos do sistema nervoso central
Contemporaneamente surgiu uma nova teoria, que expressa seus argumentos para dizer que a vida somente passará a existir quando o embrião se tornar sensível, isto é, quando o seu tecido nervoso estiver formado, o que dará ao feto sensações de dor e de prazer. A essa teoria filia-se Peter Singer, que defende que “o fato de o córtex cerebral (responsável pelas sensações) só iniciar seu desenvolvimento a partir da décima oitava semana de gestação, faz com que o feto só sinta dor a partir desse ponto da gestação”. Assim, o marco do início da vida seria quando se desenvolve a organização básica do sistema nervoso central. A não formação do córtex central, na maior parte das vezes, gera o aborto espontâneo, uma vez que o organismo materno nega o embrião, como se não o reconhecesse, eliminando-o. Este é o principal motivo que leva os fetos anencefálicos a não nascerem no tempo normal.
3.5 Teoria Natalista
Sustenta esta teoria que a personalidade só seria adquirida a partir do nascimento com vida, de maneira que o nascituro não seria considerado pessoa, gozando de mera expectativa de direito. Assim, “nascer com vida”, para os adeptos dessa corrente, significaria operar-se o funcionamento do aparelho cardiorrespiratório do recém-nascido, independente da forma humana e de tempo mínimo de sobrevida.
3.6 Teoria da personalidade formal ou condicional
Existe ainda uma teoria intermediária entre a Concepcionista e a Natalista, referida por alguns autores, como Maria Helena Diniz, denominada de “Teoria da Personalidade Formal ou Condicional”, segundo a qual o nascituro teria formalmente personalidade para titularizar direitos personalíssimos, como o direito à vida, direito à proteção pré-natal, mas quanto aos direitos patrimoniais (herança, doação), estes só seriam consolidados sob a condição de nascer com vida.
4 A VIDA
A garantia constitucional da inviolabilidade da vida, de que trata o caput do art.5 da Constituição Federal depende da definição do momento em que ocorre o início da vida. Porém, a questão do início da vida sempre foi um embate ao longo da história de toda vida humana e as respostas são sempre mutáveis, alterando-se com o tempo e com as características da sociedade, passando pelosvalores religiosos, científicos e individuais.
4.1 Concepção jurídica
Não existe na Constituição Federal, do ponto de vista técnico, um começo claro do começo da vida. O direito não tem resposta para essa questão que é fundamentalmente moral. De acordo com Erickson Gavazza Marques, especialista em Biodireito, não cabe ao STF decidir quando começa a vida. A Constituição garante o direito à vida, mas não diz o que é a vida e quando ela começa. Segundo o Novo Código Civil Brasileiro o Brasil adota a teoria mista para fundamentar o começo da vida. Logo, adotam a teoria Concepcionista e Natalista. Desse modo, a teoria concepcionista é utilizada para dizer que o nascituro tem direitos extrapatrimoniais (direitos personalíssimos) e dá a partir do nascimento com vida surgem os direitos patrimoniais (herança, doação).
4.2 Concepção científica
A biologia contemporânea estabelece a viabilidade humana a partir da 24º semana. Porém não há uma determinação cientificamente mais precisa, alguns dizem que se o feto apresentar características de vida poderia ser considerado uma pessoa em potencial e isso ocorreria por volta da segunda semana de gestação. As respostas encontradas no âmbito científico tratam de conceber a pessoa humana como resultado de um desenvolvimento do qual o embrião representa um dos primeiros estágios. O comitê britânico recomendou que a utilização de embriões humanos para fins de pesquisa fosse permitida no prazo de 14 dias da fecundação. O argumento utilizado para o estabelecimento desse prazo foi o de que um grupo de células não têm individualidade própria e não sofre por não terem os primeiros indícios do sistema nervoso.
4.3 Concepção religiosa
Utiliza da teoria vitalista usada principalmente pelo catolicismo que está pautada na ideia de que o ser humano seria constituído de corpo e alma. Tomás de Aquino afirma que não existe corpo humano sem alma. A tradição católica considera que o critério a ser observado é a existência do embrião, quando se supõe a animação imediata com a recepção da alma pelo corpo. Para o Tomismo, o ser humano enquanto entidade biológica é sujeito de direitos, as palavras “homem” e “pessoa” são sinônimas, não seria necessário ter uma vida pessoal para ser uma pessoa.
5 LEI Nº 11.105/2005 (LEI DE BIOSSEGURANÇA)
	A Lei de Biossegurança nacional, de 23 de maio de 2005, estabeleceu normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam organismos geneticamente modificados e seus derivados, tratando, principalmente, sobre a utilização de células-tronco embrionárias obtidas através de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro não utilizados, com a autorização dos genitores, para fins de pesquisa e terapia, além da não comercialização, obedecendo as condições da bioética.
6 O EMBATE
	A promulgação da Lei 11.105/2005 originou um grande embate acerca de sua constitucionalidade: as pesquisas realizadas através de células-tronco embrionárias violam o direito à vida e à dignidade da pessoa humana? O debate, estimulado pela mídia e pela igreja católica, acerca da violação de direitos básicos de um Estado democrático ocasionou, posteriormente, em 2008, a Ação Direta de Inconstitucionalidade 3.510, ajuizada pelo procurador-geral da República Cláudio Fonteles, que questionava a constitucionalidade da Lei de Biossegurança. 
7 AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 3.510
	Em 30 de maio de 2008, o então procurador-geral da república Cláudio Fonteles ajuizou uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal contra parte da Lei 11.105/2005, a Lei de Biossegurança, questionando o artigo 5º e seus respectivos parágrafos. Tal artigo permite a utilização de células-tronco de embriões humanos para fins de pesquisa. Cláudio Fonteles alegou que a utilização de embriões humanos “inviáveis” ou congelados há mais de três anos, com o consentimento dos genitores, ferem o artigo 5 “caput” da Constituição Federal de 1988, no que concerne a proteção constitucional do direito à vida, além do artigo 1º, inciso III que estabelece a dignidade da pessoa humana como fundamento da República Federativa do Brasil. 
	A tese central da ADI ressalta que a vida humana acontece a partir da fecundação, além de reafirmar que o embrião humano é vida humana. Embasado em especialistas em bioética e sexualidade humana, Cláudio Fonteles tenta demonstrar que os maiores avanços da pesquisa científica ocorreram com células-tronco adultas e não com embrionárias além da superação de preconceito contra as células-tronco adultas. Utilizando como base a legislação alemã que, no geral, proíbe o uso de embriões humanos para fins que não sejam o de provocar a gravidez, a ADI pede a declaração de inconstitucionalidade do artigo 5º e alguns parágrafos da lei de Biossegurança, além de solicitar uma audiência pública para discutir sobre o assunto.
7.1 A audiência pública 
	Carlos Ayres Britto, ministro do Supremo Tribunal Federal e relator da Ação Direta de Inconstitucionalidade 3.510, determinou a realização da audiência pública para discutir com a sociedade civil o uso de células-tronco embrionárias para pesquisa. Devido à grande relevância do assunto e por causa de tantas vertentes a respeito do entendimento sobre o direito à vida, o ministro relator entendeu que a audiência pública ajudaria na tomada de decisão dos ministros do STF, além de possibilitar uma maior participação da sociedade civil na análise da ADI 3.510, além de dar uma maior legitimidade para a decisão da corte. A data escolhida foi 20 de abril de 2007 e a audiência contou com a participação de 17 especialistas convidados para esclarecer alguns pontos sobre o assunto. No início da audiência o ministro relator ressaltou o quão complicado e relevante é o assunto e afirmou que os ministros “estão em busca de um conceito jurisdicional para o vocábulo da vida”.
8 O JULGAMENTO
	Após a leitura do relatório inicial do julgamento, no dia 05 de março de 2008, o então procurador-geral da república Antônio Fernando Souza opinou pela não utilização dos embriões, argumentando que o artigo 5º da Lei de Biossegurança deveria ser declarado inconstitucional, além de afirmar que a declaração de inconstitucionalidade não afetaria em grosso modo a pesquisa científica. Reafirmou, também, a convicção cientifica consistente no sentido de que a vida humana começa a partir da fecundação. Após o discurso de algumas autoridades do governo brasileiro, a votação dos ministros do Supremo Tribunal Federal foi iniciada.
8.1 O voto do Ministro Carlos Ayres Britto
	O ministro votou favoravelmente às pesquisas com células-tronco embrionárias e argumentou que o embrião congelado há mais de três anos tem chance praticamente nula de se tornar vida humana, mas que tem potencial de se tornar tecido humano, o que não ocorre com as células-tronco adultas. Para o relator, o uso de embriões possibilita algo além de um “assassinato frio”, uma solução para o “infortúnio alheio” das pessoas com doenças incuráveis.
8.2 O voto da Ministra Ellen Gracie
	A ministra votou favoravelmente às pesquisas com células-tronco embrionárias, julgando improcedente a ADI 3.510. A ministra argumentou que o embrião não se enquadra na condição de nascituro, pois a este a própria denominação o esclarece bem, se pressupõe a possibilidade, a probabilidade de vir a nascer, o que não acontece com esses embriões fadados ao descarte.
8.3 O voto do Ministro Menezes Direito
	O ministro julgou parcialmente procedente a ADI 3.510, pois, para ele, as pesquisas com embriões podem ser mantidas sem que haja prejuízo para embriões humanos viáveis. Para ele, as células-tronco embrionárias são vida humana e que qualquer destinação delas a finalidade que não seja a reprodução humana fere o direito à vida previsto no artigo 5º da Constituição Federal. 
8.4 O voto da Ministra Cármen Lúcia
	A ministra votou favoravelmente às pesquisas com células-tronco embrionárias, argumentando que a não utilização de embriões humanos para pesquisa geraria um lixo genético que violaria a premissa da dignidadehumana, pois negaria a possibilidade de ajudar no tratamento de doenças sem cura possível no momento.
8.5 O voto do Ministro Ricardo Lewandowski	
	O ministro julgou parcialmente procedente a ADI 3.510, argumentando que as pesquisas com células-tronco embrionárias devem ocorrer, mas com restrições, como a utilização única de embriões humanos inviáveis ou congelados.
8.6 O voto do Ministro Eros Grau
	O ministro votou favoravelmente às pesquisas com células-tronco embrionárias e afirmou que deveriam ser estabelecidos limites para que não ocorram manipulações genéticas. Ele ressaltou que o embrião faz parte do gênero humano, sendo assim ele tem a proteção de sua dignidade garantida pela constituição.
8.7 O voto do Ministro Cezar Peluso
	O ministro votou favoravelmente às pesquisas com células-tronco embrionárias e afirmou que essa utilização não fere o direito à vida, já que embriões congelados não equivalem a pessoas e ressaltou a importância da fiscalização rigorosa nesses tipos de pesquisa.
8.8 O voto do Ministro Marco Aurélio 
	O ministro votou favoravelmente às pesquisas com células-tronco embrionárias e argumentou que o artigo impugnado pela ADI está em harmonia com a Constituição Federal, além de chamar a atenção do STF em assumir o papel de legislar ao propor restrições a uma lei.
8.9 O voto do Ministro Joaquim Barbosa
O ministro votou favoravelmente às pesquisas com células-tronco embrionárias e usou o exemplo de países como Espanha, Bélgica e Suíça, exemplificando a regulamentação desses países, com restrições iguais às nossas.
8.10 O voto do Ministro Celso de Mello 
O ministro votou favoravelmente às pesquisas com células-tronco embrionárias, considerando a Lei de Biossegurança válida e constitucional. Ele ressaltou que o estado é laico e não pode se submeter aos dogmas religiosos.
8.11 O voto do Ministro Gilmar Mendes
	O ministro Gilmar Mendes foi o último a votar, declarando a constitucionalidade do artigo 5º da Lei de Biossegurança, mas, assim como alguns dos outros ministros, ressaltou que é necessário regulamentar e fiscalizar as pesquisas com células-tronco embrionárias
9 A DECISÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
	Após extenso debate sobre o assunto, a Ação Direta de Inconstitucionalidade 3.510 foi julgada e considerada improcedente pelo Supremo Tribunal Federal, resultado já aguardado pela sociedade. Como dito pela maioria dos ministros, o artigo 5º da Lei de Biossegurança é constitucional, mas que necessita de maior regulamentação e fiscalização no que tange às pesquisas de células-tronco embrionárias, como já pode ser visto em legislações de outros países, como a Espanha
CONCLUSÃO
As células-tronco embrionárias possibilitam, de fato, um amplo campo de aplicações no tratamento de enfermidades, pois, comprovadamente, podem gerar vários tipos de células e tecidos do corpo humano, diferentemente das células-tronco adultas que, limitadamente, só geram tecidos dos quais derivam. Essa possibilidade gerou um grande embate internacional a respeito de questões bioéticas, do Biodireito e de questões legais em relação às pesquisas realizadas em células-tronco embrionárias.
 No cenário brasileiro, o embate cresceu após a instituição da Lei 11.105/2005, a Lei de Biossegurança, que estabeleceu normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam organismos geneticamente modificados e seus derivados no Brasil. A interferência de concepções religiosas e de concepções científicas no âmbito jurídico gerou uma grande discussão da população em geral e, também, do arcabouço jurídico brasileiro: as pesquisas que utilizam células-tronco embrionárias ferem os princípios da dignidade humana e do direito à vida presentes na Carta Magna e presentes, também, em princípios religiosos que notadamente interferiram na discussão em um estado “laico”?
A Ação Direta de Inconstitucionalidade 3.510, ajuizada pelo procurador-geral da república Cláudio Fonteles no Supremo Tribunal Federal trouxe ao ápice do sistema judiciário brasileiro uma discussão que, em tese, cabe aos legisladores no que tange à tomada de decisão na restrição de uma lei já aprovada. A argumentação utilizada na ADI contestava a constitucionalidade do artigo 5º da referida lei, pois, segundo a ADI, a utilização de células-tronco embrionárias em pesquisas feriria algumas das principais premissas constitucionais. Na audiência pública antes do julgamento, vários estudiosos das áreas que envolvem a ADI foram consultados, ampliando, de certo modo, a participação da população no debate que, posteriormente foi posto em julgamento.
A decisão deferida pelos Ministros do Supremo Tribunal Federal, quase que absoluta, indeferiu a Ação Direta de Inconstitucionalidade 3.510 e permitiu a utilização de células-tronco embrionárias em pesquisas científicas. A decisão, mais que sensata, considerou que os embriões congelados utilizados não possuem pleno direito à vida, pois a dignidade de pessoas que sofrem de enfermidades atualmente incuráveis é reativada pela esperança de encontrar a cura ou ao menos um tratamento através de pesquisas em embriões que seriam posteriormente um “lixo genético”. Cabe aos órgãos competentes, portanto, fiscalizar essas pesquisas e garantir que só embriões congelados e sem chance de fecundação sejam utilizados na ciência.
REFERÊNCIAS
CASTILLO, Raiana, CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS E O DIREITO BRASILEIRO, Brasil, Disponível : <https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/14317/14317.PDF>, Acesso em: 07 jan.2020
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