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PSICOLOGIA SOCIAL TEMAS E TEORIAS

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1234
TEMAS E TEORIAS
Psicologia 
 social:
2ª EDIÇÃO REVISTA E AMPLIADA
Conselho Editorial
Ana Lúcia Galinkin – Universidade de Brasília 
Ana Raquel Rosa Torres – Universidade Federal da Paraíba
Claudiene Santos – Universidade Federal de Sergipe
Marco Antônio Sperb Leite – Universidade Federal de Goiás
Maria Alves Toledo Bruns – Universidade de São Paulo – Ribeirão Preto
Maria Lúcia Montes – Universidade de São Paulo – São Paulo, Capital
Maria das Graças Torres da Paz – Universidade de Brasília
Vani Rezende – Universidade Católica de Uberlândia
Projeto Gráfico e Editoração: Ars Ventura Imagem & Comunicação
Imagens da capa (pela ordem): Floyd Allport, Serge Moscovici, 
Sigmund Freud, Henri Tajfel, Gabriel Tarde e Gordon Allport.
TechnoPolitik Editora
SCS Quadra 01, Bloco B, loja 23- sobreloja.
CEP 70308-900 Brasília. D.F.
Tel.: 61 8407-8262
Contato: editor@technopolitik.com
 Psicologia social: temas e teorias / Ana Raquel Rosas Torres, et al. 
(orgs.). – Brasília : Technopolitik, 2013.
 792 p. : il. ; 23 cm.
 
 Inclui Bibliografia.
 ISBN 978-85-62313-06-6
 1. Psicologia Social. 2. Relações intergrupais. 3. Relações interétnicas. 
4. Representações Sociais. 5. Preconceito. 6. Gênero. I. Torres, 
Ana Raquel Rosas. (orgs.).
CDU 302
R!"#!$!%&'()!$ S*+,',$ 411 
Representações Sociais
 
Antônio Marcos Chaves
Priscila de Lima Silva
A Teoria das Representações Sociais é uma abordagem psicosso-
ciológica sobre o processo de construção do pensamento social. Foi pro-
posta inicialmente por Serge Moscovici, psicólogo social, radicado na 
França, com a publicação em 1961 do livro “La psychanalyse, son image 
et son public” (Moscovici, 1961)1. 
As representações sociais constituem-se em um fenômeno que se 
apresenta em diferentes formas, que têm maior ou menor complexidade, 
tais como: imagens, sistemas de referência, categorias e teorias (Monteiro 
Neto, 1998). 
De acordo com Jodelet (1989), as imagens condensam um conjunto 
de significações; os sistemas de referência nos permitem dar uma interpre-
tação àquilo que percebemos; as categorias possibilitam a classificação das 
circunstâncias, dos fenômenos, dos indivíduos no nosso relacionamento 
social; as teorias admitem uma compreensão da realidade social em seu 
conjunto, quando estamos diante de realidades concretas da vida social.
A Teoria das Representações Sociais tem sido usada para estudar 
os mais variados tópicos dentro de diferentes áreas das Ciências. Segundo 
Moscovici (1978), as Representações Sociais podem ser descritas como 
verdadeiras “teorias” do senso comum, “ciências coletivas”, pelas quais 
se procede à interpretação e mesmo à construção das realidades sociais.
1 Há uma edição em português: Moscovici, S. (1978). Representação social da psicaná-
lise. Rio de Janeiro: Zahar.
CAPÍTULO 7 
A!"#!$# M%&'#( C)%*+( + P&$('$,% -+ L$.% S$,*%412 
Estudar as representações sociais é identificar a “visão de mundo” 
que os indivíduos ou grupos têm e empregam na forma de agir e se posi-
cionar. Segundo Abric (1998), de acordo com a teoria das Representações 
Sociais, toda realidade é representada, reapropriada pelo indivíduo ou 
pelo grupo, reconstruída no seu sistema cognitivo, integrada no seu sis-
tema de valores e dependente de seu contexto sócio-histórico e ideológico.
Portanto, para Abric (1998) a representação social não pode ser 
reduzida a um simples reflexo da realidade, ela é uma organização signi-
ficante. Existe uma reestruturação da realidade para integrar característi-
cas objetivas do objeto representado, assim como experiências anteriores 
do sujeito e seu sistema de valores e normas. É esta realidade reapro-
priada que constitui, para o indivíduo ou grupo, a própria realidade.
Dentro dessa perspectiva, Moscovici (2003) afirma que os indi-
víduos não são apenas receptores passivos de informação, nem meros 
seguidores de ideologias ou crenças coletivas, mas pensadores ativos 
que, frente aos mais diversos eventos presentes no cotidiano das inte-
rações sociais, criam e comunicam suas próprias representações e solu-
ções específicas para as questões que se colocam. Assim, a influência do 
social não é percebida como um estímulo que atinge o indivíduo, mas 
um contexto de relações onde o pensamento é construído.
A tensão indivíduo e sociedade
A teoria das representações sociais é parte da Psicologia Social e 
como parte desta disciplina, traz na sua centralidade a tensão criativa 
entre o indivíduo e a sociedade. Na tentativa de não perder a vitalidade 
desta tensão, procura não privilegiar qualquer dos dois polos.
Para Jovchelovitch (2003), explicações demasiadamente individuali-
zantes como parâmetros de compreensão da subjetividade e, por outro lado, 
R!"#!$!%&'()!$ S*+,',$ 413 
a introdução de conceitos sociológicos na Psicologia Social que possam 
sucumbir no inverso, onde o indivíduo se torna produto da sociedade, não 
são suficientes para explicar os dilemas e contradições dos fenômenos a que 
a presente teoria propõe-se a estudar. O grande desafio é recuperar a cone-
xão entre uma sociedade sem sujeitos e sujeitos sem uma história social.
A teoria das representações sociais se propõe a recolocar “nos 
espaços constitutivos da teoria e do método em Psicologia Social um 
lugar para o mundo social e seus imperativos, sem perder de vista a 
capacidade criativa e transformadora de sujeitos sociais” (Jovchelovitch, 
2003, p. 64). Assim, um dos grandes desafios encontra-se na compreen-
são do social. Transformá-lo de simples variável que influencia os fenô-
menos em um elemento constitutivo dos fenômenos psicossociais.
Representações sociais e atividade simbólica
Nesta perspectiva, é preciso um diálogo entre as representações 
sociais e a atividade simbólica. Considerando que 
os símbolos pressupõem a capacidade de evocar presença 
apesar da ausência, já que a sua característica fundamental 
é que eles significam outra coisa. Nesse sentido, eles criam o 
objeto representado, construindo uma nova realidade para a 
realidade que já está lá (Jovchelovitch, 2003, p. 74). 
Para Moscovici (2001, p. 52) “um símbolo representa outra coisa 
diferente de si mesmo: é uma idéia sobre um objeto compartilhada por 
homens independente do próprio objeto”.
Dessa forma, os símbolos permitem uma variabilidade significativa 
e ainda assim, são referenciais. A imersão dos indivíduos em um contexto 
A!"#!$# M%&'#( C)%*+( + P&$('$,% -+ L$.% S$,*%414 
é precondição para que “a emergência do Eu em oposição ao mundo 
externo ocorra em relação estreita com as transformações mentais que 
permitem a representação das coisas e, portanto, o desenvolvimento do 
pensamento simbólico e da linguagem” (Jovchelovitch, 2003, p. 75). 
O Eu só se constituí em relação ao Outro e é nessa dialética que se 
torna possível a construção da individualidade. Este outro social, sejam 
pessoas ou instituições, são partes constituintes que tornam viável o 
desenvolvimento de pluralidades humanas singulares, que se recombi-
nam dentro do contexto simbólico cultural.
Jovchelovitch (2003) afirma que não existe possibilidade para a 
construção simbólica fora de uma rede de significados já constituídos. 
Para essa autora, é sobre e dentro desta rede que os sujeitos psíquicos tra-
balham para recriar o que já está lá, portanto, não estão nem abstraídos 
da realidade social, nem meramente condenados a reproduzi-la. 
A tarefa é elaborar a constante tensão entre um mundo que já se 
encontra constituído e seus próprios esforços para ser sujeito, encontrar 
a sua verdade em meio a tradição. Assim, as representações sociais fun-
cionam enquanto fenômeno mediador entre o indivíduo e a sociedade.
Jovchelovitch (2003) considera que as representações sociais, por 
serem simbólicas, se constroem sobre a capacidade representacional de 
um sujeito psicológico, contudo não podem ser diretamente equacio-
nadas à atividade representacional perse, nem significa reduzi-las a um 
trabalho individual do psiquismo. Reconhecer que a realidade social 
“desempenha um papel constitutivo na gênese das representações, da 
atividade simbólica e do próprio sujeito individual” (p.79) é afirmar 
que a representação social emerge como um fenômeno colado ao tecido 
social (Jovchelovitch, 2003). É considerar o social enquanto totalidade, 
isso quer dizer que o social envolve uma dinâmica que é diferente de um 
agregado de indivíduos. Esse social com configuração de totalidade vai 
R!"#!$!%&'()!$ S*+,',$ 415 
além da soma de discursos isolados, isto é, a totalidade tem propriedades 
distintas das propriedades dos seus elementos.
Desse modo, considera-se que as representações sociais não são 
um agregado de representações individuais, da mesma forma que o social 
é mais que um aglomerado de indivíduos. As representações sociais fun-
cionam, na verdade, como estratégias para enfrentar “a diversidade e 
mobilidade de um mundo que embora pertença a todos, transcende a 
cada um individualmente”, elas são “um espaço potencial de produção 
comum, onde os sujeitos transcendem a sua própria individualidade 
para entrar no domínio da vida em comum” (Jovchelovitch, 2003, p. 81).
Essa função simbólica, para Bauer 
[...] se refere ao fato de que em representações sociais lida-
mos com imagens variáveis da realidade, através das quais 
as pessoas estabelecem um sentido de ordem, transformam 
o não familiar em familiar através da ancoragem de novos 
conhecimentos em antigos esquemas, criam uma estabili-
dade temporária através da objetivação, e localizam a si 
próprios entre os demais através de um senso de identidade 
social (2003, p. 231).
Funções das representações sociais
A identificação das representações sociais é indispensável para 
compreender a dinâmica das interações sociais e esclarecer os determi-
nantes das práticas sociais. De acordo com Abric (1998), as represen-
tações sociais possuem quatro funções essenciais: de conhecimento, 
identitária, de orientação e justificadora.
A!"#!$# M%&'#( C)%*+( + P&$('$,% -+ L$.% S$,*%416 
A função de conhecimento está relacionada com a possibilidade 
dos indivíduos de compreenderem e explicarem a realidade através das 
representações sociais. Elas definem o quadro de referência comum que 
permite e facilita a comunicação social, concedendo a transmissão e 
difusão do saber prático do senso comum.
A função identitária das representações sociais é de extrema relevân-
cia no que se refere aos processos de comparação social, pois estas definem a 
identidade e permitem a proteção da especificidade dos grupos. Ao mesmo 
tempo, esta função assume um papel fundamental no controle social exer-
cido pela coletividade sobre cada um de seus membros. (Abric, 1998).
A função de orientação refere-se às representações como guia dos 
comportamentos e das práticas sociais. Constitui-se em um sistema de 
pré-decodificação da realidade, um guia para ação.
As representações sociais também permitem, a posteriori, justi-
ficar comportamentos e tomadas de posição. Nas relações entre grupos 
assumem a função justificadora para explicar determinados comporta-
mentos adotados face ao outro grupo. Assim, as representações preser-
vam e justificam a diferenciação social, podendo, então, estereotipar as 
relações entre grupos, contribuir para a discriminação ou para a manu-
tenção da distância social entre eles.
Dentro desta descrição das funções das representações sociais fica 
bem clara a sua relação com as atividades práticas do cotidiano, e afirma-
-se que este não é apenas um conceito abstrato e teórico, mas também 
determinante na sua relação com a ação e as relações sociais.
Nessa perspectiva, para Jodelet (2001) as representações sociais 
são fenômenos complexos sempre ativados e em ação na vida social, que 
englobam uma riqueza de elementos informativos, cognitivos, ideológi-
cos, normativos, crenças, valores, atitudes, opiniões e imagens, formando 
uma totalidade significante em relação à ação.
R!"#!$!%&'()!$ S*+,',$ 417 
As representações sociais, assegura Jodelet (2001, p. 22), não 
podem ser reconhecidas exclusivamente enquanto sistemas de interpre-
tação que guiam nossa relação com o mundo e com os outros, sendo res-
ponsáveis por nortear e organizar as condutas e as comunicações sociais. 
Pois elas intervêm em processos variados, que passam por “difusão e 
assimilação de conhecimento, desenvolvimento individual e coletivo, 
definição das identidades pessoais e sociais, expressão dos grupos e as 
transformações sociais”.
Representações sociais: produto e processo
Assim, agregando as funções, as representações sociais funcionam 
como produto e processo de uma atividade de apropriação da realidade 
exterior ao pensamento e da elaboração psicológica e social dessa realidade.
É de extrema relevância compreender essas duas possibilidades de 
apreensão da definição de Representações Sociais. Valsiner (2003) des-
taca colocações de Moscovici que pontuam a essencialidade de se estudar 
as representações em seu processo de construção e não exclusivamente 
como já constituídas. Existe, então, uma distinção entre representação 
social enquanto processo, e representações sociais enquanto estruturas.
Dentro da própria teoria há enfoques que privilegiam uma dimen-
são em relação à outra.
Banchs (2000) afirma que, para Moscovici e Jodelet, as representa-
ções sociais devem ser analisadas em relação aos processos da dinâmica 
social e da dinâmica psíquica. Isto significa que devem ser considerados 
o funcionamento cognitivo, assim como o funcionamento do sistema 
social, dos grupos e das interações, pois todas estas dimensões afetam a 
criação, a estrutura e a evolução das representações.
A!"#!$# M%&'#( C)%*+( + P&$('$,% -+ L$.% S$,*%418 
Dentro dessa perspectiva, conteúdo e processo não precisam ser 
descritos dentro de uma dicotomia. As representações sociais são abor-
dadas, ao mesmo tempo, como o produto e o processo de uma atividade 
de apropriação do mundo social pelo pensamento e da elaboração psi-
cológica e social dessa realidade. Desse modo, as representações sociais 
devem ser consideradas em relação aos seus aspectos constituintes (os 
processos) e constituídos (os conteúdos) (Jodelet, 2001).
Contudo, Banchs (2000) pontua que, apesar de ser necessária essa 
consideração, são poucos os estudos que incluem, simultaneamente, 
conteúdos e processos representacionais e conseguem dar um enfoque 
que permita integrá-los.
Dessa forma, existe também uma diferença no polo processual se 
comparado ao polo estrutural, no que se refere à definição do objeto de 
estudo da teoria das representações sociais. Para Spink (2003), dentro da 
perspectiva processual, o objeto de estudo seria a atividade de reinter-
pretação contínua que emerge do processo de elaboração das represen-
tações no contexto da interação em que elas se constituem.
Então, segundo Banchs (2000), podemos descrever como carac-
terísticas distintas da abordagem processual das representações sociais
[...] um enfoque qualitativo, hermenêutico, centrado na diver-
sidade e nos aspectos significantes da atividade representa-
tiva; um uso mais freqüente de referentes teóricos procedentes 
da filosofia, lingüística, sociologia; um interesse focalizado 
sobre o objeto de estudo em suas vinculações sociais, histó-
ricas e culturais específicas; uma definição do objeto como 
instituinte mais que como instituído (p. 37).
R!"#!$!%&'()!$ S*+,',$ 419 
A abordagem estrutural das representações sociais
Abric (1998) propõe que as representações sociais são estruturadas 
em um núcleo central e em elementos periféricos. Considera que a orga-
nização de uma representação social apresenta uma característica, a de 
ser organizada em torno de um núcleo central, constituindo-se em um ou 
mais elementos, que dão significado à representação. Caracteriza-se, assim, 
como abordagem estrutural e mais centrada nos processos cognitivos.
Abric (1998) descreve as representaçõessociais como sendo orga-
nizadas em conteúdos centrais e periféricos. 
Os conteúdos centrais estariam localizados em um núcleo central 
que, segundo o esse autor, tem função geradora e organizadora. Sendo 
assim, o núcleo central é o elemento através do qual se cria ou se trans-
forma o significado dos outros elementos constitutivos da representação 
social (função geradora), ao mesmo tempo em que unifica e estabiliza a 
representação social (função organizadora). 
O núcleo central ou núcleo estruturante, conforme Abric (1998), é 
determinado pela natureza do objeto representado e pelo tipo de relação 
que o grupo tem com este objeto (sistemas de valores e de normas sociais). 
Desse modo, o núcleo central é o elemento mais estável da representação, 
assegura continuidade em contextos móveis e evolutivos, permite o estudo 
comparativo das representações e fornece significado à representação.
De acordo com Abric (1998), os elementos periféricos se organi-
zam em torno do núcleo central. Seus componentes são mais acessíveis, 
vivos e concretos; dependentes do contexto; concretizam a ancoragem 
da representação à realidade e permitem a formulação da representa-
ção em termos concretos, imediatamente compreensíveis e transmissí-
veis. Os elementos periféricos são, portanto, mais flexíveis que o núcleo 
central e permitem a integração de experiências e histórias individuais, 
A!"#!$# M%&'#( C)%*+( + P&$('$,% -+ L$.% S$,*%420 
admitindo a heterogeneidade do grupo e as contradições. Os elementos 
periféricos, por serem mais concretos, respondem por três funções: con-
cretização, regulação e defesa.
A função de concretização, para esse autor, está relacionada ao 
processo de ancoragem da representação social na realidade, os elemen-
tos periféricos resultam desse processo e são dependentes do contexto.
Os elementos periféricos constituem o aspecto móvel e evolutivo 
da representação social. Sendo assim, Abric (1998) afirma que a função 
de regulação tem um papel fundamental na adaptação da representação 
social às evoluções do contexto. É na periferia das representações sociais 
que informações novas, assim como elementos de conflitos, em relação 
aos fundamentos do núcleo central, podem ser integradas.
O núcleo central resiste à mudança, pois isto implicaria em uma 
transformação completa da representação. Dessa forma, a função de 
defesa do sistema periférico refere-se à necessidade de dar conta das 
contradições que possam aparecer (Abric, 1998).
Dentro dessa abordagem, os dois sistemas (central e periférico) 
podem parecer contraditórios, mas são, na verdade, complementares. 
Ao analisar as características de ambos, Abric (1998) afirma que o pri-
meiro está ligado à memória coletiva e à história do grupo, é consensual 
e define uma homogeneidade. Por isso, é estável, coerente e rígido, resis-
tindo às mudanças e às influências do contexto imediato. Este sistema é 
responsável por gerar o significado da representação e determinar a sua 
organização.
Entretanto, o segundo sistema é descrito por esse pesquisador como 
mais flexível, permitindo a integração de experiências e histórias indivi-
duais. Tolera, ainda, a heterogeneidade grupal, bem como as contradições. 
Sendo assim, é sensível ao contexto imediato e tem um caráter evolutivo 
que permite a adaptação à realidade concreta e à diferença de conteúdo.
R!"#!$!%&'()!$ S*+,',$ 421 
A formulação proposta por Abric (1998) possibilita compreender 
como uma representação social é compartilhada e como contém perspecti-
vas da experiência individual. É possível pensar em uma estrutura dinâmica, 
que através das relações interpessoais se reorganiza, a partir dos elementos 
periféricos, ou seja, quando alguns destes se tornam compartilhados por 
um grupo, passando a ser elementos do núcleo central, mudando a repre-
sentação. A ideia de uma estrutura que muda pode ser compreendida e 
aplicada aos sistemas central e periférico das representações sociais, a partir 
da noção de estrutura, proposta por Braudel (1992), que afirma:
estrutura não é imobilidade rigorosa. Ela só se parece imó-
vel em relação a tudo que, em torno dela, se move, evolui 
mais ou menos depressa. Mas ela se desgasta, durando. Ela se 
apouca ... Nem tudo se quebra de um só golpe (p. 356).
A partir da noção de estrutura, proposta por Braudel (1992), 
pode-se afirmar que o núcleo central muda, mas lentamente, se apouca. 
Enquanto que os elementos periféricos, que estão ao seu redor, se des-
gastam mais rapidamente.
Ancoragem e objetivação
Ao explorar as representações sociais destacando o seu caráter pro-
cessual, enfatiza-se o processo de construção de conhecimento. Como 
afirma Moscovici (2003, p. 43), “quando estudamos representações sociais 
nós estudamos o ser humano, enquanto ele faz perguntas e procura respos-
tas ou pensa e não enquanto ele processa informação, ou se comporta. Mais 
precisamente enquanto seu objetivo não é comportar-se, mas compreender”.
A!"#!$# M%&'#( C)%*+( + P&$('$,% -+ L$.% S$,*%422 
A teoria das representações sociais parte da diversidade dos indi-
víduos, atitudes e fenômenos e tem como propósito, segundo Moscovici 
(2003), descobrir como indivíduos e grupos podem construir um mundo 
estável e previsível partindo de tamanha diversidade.
As representações sociais são teorias do senso comum, conforme 
Moscovici (1984), através das quais realidades sociais são interpretadas 
e construídas. São estruturas de conhecimento cognitivas, afetivas e ava-
liativas, oriundas da relação de reciprocidade entre o indivíduo e a socie-
dade, que facilitam e orientam o processo da informação social.
Para Valsiner (2003), esta diversidade dos indivíduos é organizada 
pelas representações sociais que carregam significados construídos no 
passado, permitindo que estes estejam disponíveis para novas aplicações 
e afirma que representar socialmente é um processo de selecionar visões 
de mundo significativas, seguidas de verificações contínuas.
As representações sociais, por serem elaboradas na fronteira entre o 
psicológico e o social, são capazes de estabelecer conexões entre as abstra-
ções do saber e das crenças e a concretude da vida do indivíduo em seus 
processos de troca com os outros.
Essas conexões se estabelecem de acordo com dois processos: 
ancoragem e objetivação.
A ancoragem é o processo de reconhecimento de objetos não fami-
liares com base em categorias previamente conhecidas. O ser humano 
experimenta um distanciamento, uma resistência quando não é capaz de 
descrever algo e comunicá-lo a outras pessoas. Portanto, esse ser, objeto 
ou acontecimento estranho precisa ser integrado em nossos sistemas de 
crenças particulares. Dessa forma, ancorar trata-se de atribuir catego-
rias e nomes à realidade, porque, ao classificar, revelamos nossas teorias 
sobre a sociedade e o ser humano (Moscovici, 2003).
Ao tirar algo do anonimato, dando-lhe um nome, estamos atri-
buindo-lhe uma genealogia e incluindo-o em um complexo de palavras 
R!"#!$!%&'()!$ S*+,',$ 423 
específicas, para localizá-lo na matriz da identidade de nossa cultura. 
Assim, segundo Moscovici (2003), é dada uma identidade ao que não 
estava identificado, assegurando sua incorporação social.
Isto significa que, ao entrarmos em contato com algo diferente, não 
podemos dizer que tentamos conhecê-lo, mas sim reconhecê-lo, tentando 
classificá-lo dentro de categorias já existentes. Segundo Moscovici (2003), 
o que está em jogo nessas classificações do não familiar, é a necessidade 
de defini-las, enquanto divergentes ou não da norma. Nesse contexto, 
“ancorar implica também a prioridade do veredicto sobre o julgamento e 
do predicado sobre o sujeito” (Moscovici, 2003, p. 64).
Assim, segundo a teoria das representações sociais, é impossível 
ter um sistema geral sem vieses, pois é evidente que existe um sentido 
anterior para qualquer objeto específico. Moscovici (2003) afirma que 
esses vieses não expressam uma limitação social ou cognitiva, mas uma 
diferença normal de perspectivaentre indivíduos ou grupos heterogê-
neos dentro de uma sociedade.
Contudo, ao integrarmos os sentidos que emergem aos sistemas 
com os quais estamos familiarizados, as representações preexistentes são 
de certo modo modificadas e aquelas entidades que devem ser represen-
tadas são mudadas ainda mais, de tal maneira que adquirem uma nova 
existência (Moscovici, 2003).
Jodelet (2001) descreve que a ancoragem enraíza a representa-
ção e o seu objeto em uma rede de significações que permite localizá-
-lo em relação aos valores sociais e dar-lhe coerência, isto é, através de 
um trabalho da memória, o pensamento constituinte apóia-se sobre 
o pensamento constituído para enquadrar a novidade a esquemas já 
existentes.
A objetivação, por sua vez, é o processo em que conceitos abstra-
tos são materializados em realidades concretas. Para Moscovici (2003), 
objetivar é reproduzir um conceito em uma imagem até que essa imagem 
A!"#!$# M%&'#( C)%*+( + P&$('$,% -+ L$.% S$,*%424 
se converta num elemento da realidade, ao invés de ser apenas um ele-
mento do pensamento.
Ao objetivar algo, se preenche a defasagem entre a representação 
e o que ela representa. Segundo Moscovici (2003, p. 74), “as peculiarida-
des da réplica do conceito tornam-se peculiaridades dos fenômenos, ou 
do ambiente ao qual eles se referem, passando a ser a referência real do 
conceito”.
O processo de objetivação, conforme Jodelet (2001), pode ser decom-
posto em três fases: construção seletiva, esquematização estruturante e 
naturalização. Segundo essa autora, as duas primeiras fases revelam o efeito 
da comunicação e das pressões, ligadas à pertença social dos sujeitos, sobre 
a escolha e a organização dos elementos constitutivos da representação.
Estes processos possibilitam uma reflexão sobre como podemos 
nos aproximar das representações em diferentes níveis de complexidade. 
Como afirma Jodelet (2001, p. 39), “Desde a palavra até a teoria, que 
serve de versão do real; desde os conceitos ou categorias até as operações 
de pensamento, que os relacionam, e à lógica natural, característica de 
um pensamento orientado à comunicação e à ação”.
Em relação aos processos de constituição das representações sociais, 
afirma Jovchelovitch (2003, p. 82) que “As representações emergem como 
processo que ao mesmo tempo desafia e reproduz, repete e supera, que é 
formado, mas que também forma a vida social de uma comunidade”.
Assim, de acordo com Sá (1993), tudo que é estranho vai provocar 
medo, já que se manifesta como uma ameaça à ordem estabelecida, à 
ilusão de controle sobre o meio externo e interno. Quando o estranho é 
representado socialmente, ele se torna menos ameaçador. 
Dessa forma, “a finalidade de todas as representações é tornar 
familiar algo não familiar, ou a própria não familiaridade” (Moscovici, 
2003, p.54).
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Universos reificados e universos consensuais
Apesar de descrever uma forma de conhecimento, as represen-
tações sociais não constituem uma teoria que se aplica a todas as for-
mas de conhecimento que são produzidas e mobilizadas em uma dada 
sociedade. 
Sá (1993) retoma a diferenciação feita por Moscovici, que consi-
dera coexistir, na contemporaneidade, duas classes distintas de univer-
sos de pensamento: os universos reificados e os universos consensuais.
Descreve que nos universos reificados, a sociedade se vê como 
um sistema com diferentes papéis e categorias, onde o grau de parti-
cipação na produção de conhecimento é determinado exclusivamente 
pelo nível de qualificação. Existe uma objetividade, um rigor lógico e 
metodológico, e uma teorização abstrata que caracterizam as ciências e 
o pensamento erudito.
Aos universos consensuais correspondem as atividades intelectu-
ais da interação social cotidiana, pelas quais são produzidas as represen-
tações sociais (Sá, 1993). Porém, é relevante salientar que a matéria-prima 
para a construção dessas realidades consensuais provém dos universos 
reificados e do saber cotidiano.
Esses dois universos estão em constante interação e, uma vez ins-
talada uma crise (dúvida), onde as tensões entre universos reificados 
e consensuais criam uma ruptura entre a linguagem dos conceitos e a 
das representações, entre conhecimento científico e conhecimento coti-
diano, fazem-se necessárias revoluções concretas no saber popular, de 
maneira a tornar possível religar os dois universos (Moscovici, 2003).
Dessa forma, as representações sociais traduzem o pensamento do 
senso comum, uma vez que descrevem as transformações que os diversos 
grupos sociais fazem das teorias filosóficas e científicas dominantes nas 
A!"#!$# M%&'#( C)%*+( + P&$('$,% -+ L$.% S$,*%426 
sociedades contemporâneas, viabilizando a vivência em determinados 
contextos e produzindo estratégias de sobrevivências. (Moscovici, 1978).
Pode-se dizer que a comunicação está no centro dos universos 
consensuais, porque configura e anima as representações sociais e, desse 
modo, lhes dá vida própria. (Moscovici, 2003). 
Nesse contexto, o senso comum está continuamente sendo criado 
e recriado, principalmente onde o conhecimento científico e tecnológico 
está popularizado, estas imagens e linguagem simbólica da ciência, estão, 
segundo Moscovici (2003), sendo constantemente retocadas.
Mesmo que exista um intercâmbio entre o universo consen-
sual e o universo reificado, um não pode ser reduzido ao outro, pois 
implicam em modos diversos de compreender e se relacionar com o 
mundo. Embora o senso comum mude seu conteúdo e a maneira de 
raciocinar, ele não é substituído pelas teorias científicas e pela lógica. 
Sua função de descrever e explicar as relações comuns entre os indi-
víduos, suas atividades e comportamentos do dia-a-dia permanecem. 
De acordo Farr (2003), ele resiste a qualquer tentativa de reificação 
que transformaria os conceitos e imagens enraizadas em regras e pro-
cedimentos explícitos.
Este enfoque na teoria das representações sociais não distin-
gue um status hierárquico a estas formas de conhecimento, ambas são 
importantes, pois, independentemente da validade e credibilidade do 
conhecimento do senso comum, ele constitui “uma teia de significados 
capaz de criar efetivamente uma realidade social”. (Spink, 2003, p.120).
Jodelet (2001) aponta que tal característica é reconhecida pela 
comunidade científica, e reafirma que as representações sociais consti-
tuem-se em “uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e par-
tilhada, com um objetivo prático, e que contribui para a construção de 
uma realidade comum a um conjunto social” (p.22).
R!"#!$!%&'()!$ S*+,',$ 427 
Assim, o conhecimento “ingênuo”, produzido pelo senso comum, 
não deve ser invalidado como falso ou enviesado, pois se trata de um 
“outro” conhecimento. Este é diferente da ciência e adaptado à ação sobre o 
mundo, sua especificidade é justificada por formação e finalidades sociais 
(Jodelet, 2001).
Dentro dessa perspectiva, estudar as representações sociais requer 
que seja examinado o aspecto simbólico dos nossos relacionamentos e 
dos universos consensuais de que fazemos parte.
O social nas representações sociais
Banchs (2000) pontua que as representações sociais inauguram, 
dentro da Psicologia Social, um novo sentido para o adjetivo social, 
utilizado anteriormente como um rótulo para se referir aos estímulos 
sociais, variáveis sociais e situações sociais. Essa autora destaca que o 
adjetivo social passa a ter uma amplitude que abarca tanto as condi-
ções de produção das representações (meios de comunicações sociais, 
interação face a face, comunicação, linguagem), como as condições de 
circulação das mesmas (intercâmbio de saberes e inserção de pessoas 
em grupos, e dos grupos sociais em contextos sociais particulares den-
tro de uma estrutura social) e também suas funções sociais (constru-
ção social da realidade no intercâmbio social, desenvolvimento de uma 
identidade social e pessoal, busca de sentido ou construção do conhe-
cimento do sentido comum).
De fato, para Banchs(2000), o social nas representações não se 
polariza nem para o nível micro nem para o macro. Essa autora, então, 
apresenta os conceitos propostos por Moscovici de determinação social 
lateral e central. 
A!"#!$# M%&'#( C)%*+( + P&$('$,% -+ L$.% S$,*%428 
A determinação social lateral está relacionada ao nível micro dos 
grupos a que pertencemos, nossas obrigações dentro de uma parcela par-
ticular do mundo social. Já a determinação central se refere ao pertenci-
mento a uma nação, a um país, a uma cultura com uma história e uma 
memória social que atravessa as representações. Segundo essa autora, 
as duas formas de determinação devem ser compreendidas dentro de 
uma perspectiva dialética, pois ao mesmo tempo em que o indivíduo se 
constitui e constrói as suas representações, também constitui seu mundo 
social, assim como constrói e reconstrói permanentemente sua própria 
realidade social e identidade pessoal.
Por isso, o peso do social não conduz a negar a importância do 
indivíduo nem de sua subjetividade. De acordo com Banchs (2000), no 
estudo das representações sociais, não há como ignorar os sujeitos, pois 
é através da compreensão de suas conexões com os modos de vida que se 
pode entender a identidade possível que um sistema de saberes assume 
em um momento histórico dado. Assim, é fundamental, para descre-
ver as representações sociais em sua pluralidade, se conhecer quem fala, 
qual a sua posição na estrutura social e quais os espaços sociais que pro-
duzem esse discurso. É essa relação dialética entre o individual e o social 
que marca a singularidade de algumas representações. Dentro da teoria, 
o social passa a ser constituído como uma multiplicidade construída, 
fundamentalmente, a partir da uma relação de forças num campo histo-
ricamente dado.
Na consolidação das representações sociais estão relacionados 
processos de caráter individual, como os processos cognitivos ou men-
tais, assim como processos de interação e contextuais, de caráter social. 
Dessa forma, as representações não deveriam ser divididas em termos de 
conteúdo e processo, é necessário estudá-las tanto sob o enfoque do que 
há de permanente, quanto sob o que há de diverso, de mutável.
R!"#!$!%&'()!$ S*+,',$ 429 
As representações, enquanto pensamento constituído, se orga-
nizam como estruturas. Entretanto, estão contidas em uma dinâmica 
social onde as fronteiras são permeáveis, onde existe uma dialética de 
intercâmbio, ao mesmo tempo em que contêm uma memória social 
construída ao longo da história, preexistente enquanto uma configura-
ção de um determinado indivíduo, situado em um contexto específico.
Assim, segundo Silva (2005, p. 15), “o social é essencialmente um 
objeto construído e produzido a partir de diferentes práticas humanas e 
que não cessa de se transformar ao longo do tempo”. Desse modo, o adjetivo 
social não aparece na teoria das representações sociais como se opondo ao 
adjetivo individual, eles se complementam e são co-construídos.
Quando estuda-se o senso comum, o conhecimento popular, através 
das representações, de acordo com Moscovici (2003), se está pesquisando 
algo que liga sociedade ou indivíduo à sua cultura, à sua linguagem, ao 
seu mundo familiar. Existe uma busca por integrar conceitos, considerados 
opostos, descrevendo a interação em seus aspectos multidimensionais.
As representações têm seus aspectos mais estáveis e estruturados 
que se apóiam na memória coletiva e no consenso, assim como seus 
aspectos mutáveis e dinâmicos, que são produzidos nas relações sociais. 
A interação entre esses aspectos se dá de forma processual e não pode ser 
compreendida fora de um contexto histórico específico.
Diante das questões discutidas, pode-se observar que dentro da 
teoria das representações sociais existe uma transfertilização entre o 
social e o individual, estrutura e processo, principalmente na perspec-
tiva do fundador da teoria, Serge Moscovici. De forma ideal, para que 
se abarque toda a complexidade das representações sociais, dever-se-ia 
deixar de lado o reducionismo e, conforme Moscovici (2003), apreender 
os fenômenos do pensamento e comunicação entre as pessoas em sua 
unidade, isto é, em sua existência confusa.
A!"#!$# M%&'#( C)%*+( + P&$('$,% -+ L$.% S$,*%430 
Ciência e cotidiano
Considera-se importante a inclusão do papel fundamental da 
ciência nesta interação existencial confusa que caracteriza a complexi-
dade das representações sociais. Moscovici (1978) destaca que uma das 
funções essenciais da ciência consiste em transformar a existência dos 
homens e afirma:
Ela [a ciência] o consegue à força de fazer gravitar sua expe-
riência ordinária em torno de novos temas, de inculcar signi-
ficados diferentes a seus atos e suas falas, de transportá-los, 
por assim dizer, para um universo de relações e de eventos 
estranhos, até então desconhecidos. Se tiver êxito, ei-la con-
vertida em material de que cada indivíduo se recompõe e 
recompõe subsequentemente à história individual e social, 
parte integrante de sua vida afetiva e intelectual (p. 17 e 18).
Assim, o fenômeno da participação da ciência, onde os grandes 
debates apoderam-se da consciência coletiva, confere à ciência a dimen-
são de um importante fato social e a insere na vida cotidiana da sociedade.
Moscovici (1978) relata que o indivíduo comum interessa-se pelas 
descobertas das ciências por diferentes motivos. A sua aproximação pode 
acontecer porque é solicitado pelos próprios cientistas, porque o seu 
meio ou os seus hábitos foram por elas afetados ou porque julga neces-
sário estar a par, caso se veja obrigado a recorrer às novas descobertas.
Para esse autor, as teorias, técnicas e invenções científicas têm 
impactos sobre hierarquias de valores, peso relativo de comportamen-
tos, porque muitas vezes causa perturbações na relação com o real e nas 
normas vigentes.
R!"#!$!%&'()!$ S*+,',$ 431 
A socialização das descobertas científicas dá lugar à construção de 
um outro tipo de conhecimento, pois não há uma reprodução idêntica do 
saber armazenado na ciência. O conhecimento científico, apropriado pelo 
senso comum, é reelaborado e adaptado a outras necessidades, obede-
cendo a outros critérios do contexto social preciso onde é compartilhado.
A passagem do nível da ciência ao das representações sociais, 
segundo Moscovici (1978, p. 26), “implica uma descontinuidade, um 
salto de um universo de pensamento e ação a outro, e não uma conti-
nuidade, uma variação do mais para o menos”. A representação social 
significa um novo status epistemológico que permite a penetração da 
ciência na sociedade. Pois, nas representações sociais, de fato, existe uma 
reprodução. Contudo, tal reprodução engloba um remanejamento das 
estruturas, uma remodelação dos elementos, uma verdadeira reconstru-
ção do dado no contexto dos valores, das noções e das regras, de que ele 
se torna doravante solidário, tornando-se, assim, uma forma de conheci-
mento particular que permite elaboração de comportamentos e a comu-
nicação entre os indivíduos (Moscovici, 1978).
Dessa forma, o conteúdo recebido é submetido a um trabalho de 
transformação para se converter em um conhecimento aplicável na vida 
cotidiana. O poder criador da atividade representativa consiste da possi-
bilidade de partir de repertórios de saberes e experiências e deslocá-los, 
recombiná-los, para integrá-los ou desintegrá-los, a depender das neces-
sidades que surgem nas interações sociais.
Uma representação faz circular e reúne experiências, conceitos, 
vocabulários e condutas que provêm de origens muito diversas, redu-
zindo a variabilidade dos sistemas intelectuais e práticos, os aspectos 
desconexos do real (Moscovici, 1978). As associações, contradições e 
combinações estruturadas criativamente na vida cotidiana configu-
ram o saber do senso comum, onde o comportamento impregna-se de 
A!"#!$# M%&'#( C)%*+( + P&$('$,% -+ L$.% S$,*%432 
significações, os conceitos ganham cor ou se concretizam, enriquecendo, 
assim, a tessitura do que é, paracada de um de nós, a realidade.
Na atividade representativa há uma “profunda propensão para dar 
uma existência nossa àquilo que tinha uma existência sem nós, para nos 
fazer presentes onde estamos ausentes, familiares em face do que nos é 
estranho” (Moscovici, 1978, p.64).
A passagem da teoria científica à sua representação social, produ-
zida coletivamente, requer a mudança de nível e organização dos saberes, 
havendo uma transposição de conceitos e teorias para o plano do saber 
imediato e permutável, respondendo justamente à necessidade de adaptar a 
ciência à sociedade e a sociedade à ciência, e às realidades que ela descobre.
O estudo das representações sociais no Brasil
No Brasil, foram iniciadas pesquisas na segunda metade dos anos 
de 1970. A teoria das representações sociais passou a ser muito estudada 
no Brasil e, progressivamente, apropriada e utilizada nas suas pesquisas, 
por pesquisadores não só da Psicologia, como também nas diferentes dis-
ciplinas das Ciências Sociais, da Comunicação e das Ciências da Saúde. 
Em uma breve incursão pelo estudo das representações no Brasil, 
observa-se que os pesquisadores têm focalizado as mais diversas temáti-
cas, como, por exemplo, relacionadas à agricultura, às comunidades, ao 
desenvolvimento humano, à educação e à escola, à drogadição, às emoções 
e aos afetos, à família e ao espaço familiar, ao gênero, aos grupos nacionais, 
à justiça, ao meio ambiente, à morte, aos negócios, às questões raciais e 
religiosas, à saúde, à sexualidade, ao trabalho, à violência, entre outros. 
Destaca-se que as temáticas, anteriormente elencadas, apresentam 
relevância social e fazem parte do cotidiano das pessoas nas suas relações 
R!"#!$!%&'()!$ S*+,',$ 433 
sociais. A seguir serão feitas breves discussões sobre as pesquisas dentro 
desses temas, acentuando-se a variabilidade de objetos de estudo focali-
zados dentro de cada uma e os métodos e técnicas utilizadas.
O estudo realizado por Menasche (2005) trata de um tema ainda 
pouco desenvolvido na Psicologia Social e, menos ainda, na perspectiva 
das representações: a agricultura. O estudo adquire mais atualidade, 
quando toma como objeto: o cultivo dos alimentos transgênicos, inserido 
em discussões atuais em todo o mundo. Fundamenta-se para a apreensão 
das representações sociais do objeto de estudo escolhido em análises dos 
discursos dos agricultores envolvidos e no trabalho realizado pela mídia. 
Os episódios sobre o cultivo de alimentos transgênicos, veiculados pela 
mídia, ocorreram em localidades do interior do Rio Grande do Sul. 
Dentro da busca de compreensão sobre diferentes comunidades, 
Santos e Chaves (2007) tomaram como objeto de estudo: o que significa 
ser quilombola. O interesse na investigação surgiu a partir das discussões 
atuais sobre o regaste das comunidades quilombolas. Os dados foram 
colhidos através de uma Lista de Complementação de Frases entre crian-
ças, jovens, adultos e idosos e analisados por agrupamentos de temas, 
com base na semelhança dos sentidos.
O entendimento do desenvolvimento humano no saber popular 
tem despertado o interesse de diversos pesquisadores.
Almeida e Cunha (2003) tomaram como objeto de estudo de repre-
sentações sociais, o próprio desenvolvimento humano. Os participantes 
foram quatro grupos de educadores (de crianças, de adolescentes, de adul-
tos e idosos). Utilizaram para a coleta de dados um questionário de catego-
rização e a pesquisa foi orientada pela Teoria do Núcleo Central.
Dentro da temática do desenvolvimento humano, os estudos sobre 
o envelhecimento têm sido realizados com frequência, com objetos de 
estudo diferenciados.
A!"#!$# M%&'#( C)%*+( + P&$('$,% -+ L$.% S$,*%434 
A pesquisa de Teixeira, Schulze e Camargo (2002) teve como 
objeto a saúde na velhice. Utilizaram a técnica de entrevista para a coleta 
de dados. As entrevistas foram realizadas com quatro grupos de parti-
cipantes: idosos doentes, idosos saudáveis, trabalhadores de um Centro 
de Saúde da Rede Municipal do Sistema Único de Saúde (SUS), pessoas 
que cuidavam de idosos em um Hospital Universitário. As informações 
resultantes das entrevistas foram processadas no software Alceste2 (aná-
lise quantitativa de dados textuais) e, posteriormente interpretadas.
Araújo, Coutinho e Santos (2006) focalizaram o seu estudo nas 
representações sociais de idosos em relação a duas situações de apoio: 
Grupos de Convivência e Instituições de Longa Permanência. Realizaram 
em idosos, nas duas condições, entrevistas semiestruturadas e as analisa-
ram através do software Alceste.
Veloz, Nascimento e Camargo (1999) estudaram representações 
sociais do envelhecimento entre professores aposentados de uma 
Universidade Federal, entre participantes de um programa da terceira 
idade e entre residentes em um centro de idosos. Foram realizadas entre-
vistas, que foram analisadas com o apoio do software Alceste. Martins 
(1997) realizou um estudo entre mulheres de meia idade sobre as repre-
sentações sociais do idoso e seu cotidiano. Oliveira e Santos (2002) estuda-
ram o envelhecimento enquanto processo e aposentadoria. 
Essas pesquisas tiveram como participantes diferentes grupos sociais 
(urbano e rural, masculino e feminino, idosos e não idosos, doentes e sau-
dáveis) investigando assim, semelhanças e diferenças entre esses grupos. 
2 Para uma aproximação e compreensão deste programa (o Alceste) consultar Camar-
go, B. V. (2005). Alceste: um programa informático de análise quantitativa de dados 
textuais. In A. S. P. Moreira, B. V. Camargo, J. C. Jesuíno, & S. M. Nóbrega (Org.), 
Perspectivas teórico-metodológicas em representações sociais (p. 511-539). João Pes-
soa: Editora Universitária, UFPB.
R!"#!$!%&'()!$ S*+,',$ 435 
De uma maneira geral, os resultados indicaram a existência de representa-
ções sociais de velhice ambivalentes, uma centrada em aspectos negativos 
dessa fase da vida, como perda das capacidades físicas, declínio e maior 
dependência dos outros; enquanto a outra está pautada em aspectos posi-
tivos dessa etapa, como a experiência, sabedoria, ganho de algumas capa-
cidades intelectuais, além de um maior tempo livre para se dedicarem a 
projetos e atividades prazerosas. É evidente que essas concepções vão estar 
intimamente relacionadas com o grupo que está sendo pesquisado e, nesse 
sentido, os pesquisadores são bastante cuidadosos em pontuar as limita-
ções dessas inferências. Em todas essas pesquisas, a justificativa da escolha 
do objeto de estudo deve-se ao crescimento dessa parcela da população e 
à necessidade de compreender melhor esse grupo social, levantando ques-
tões e produzindo conhecimentos sobre essa fase do desenvolvimento.
A educação e o ambiente escolar, que tem a sua relevância reco-
nhecida socialmente, é uma temática com presença importante nas pes-
quisas das representações sociais. 
Alves-Mazzotti (2007) centrou o objetivo do seu estudo na identi-
ficação da identidade docente pelos próprios docentes. Fundamentou-se 
na abordagem estrutural das representações sociais, proposta por Abric. 
Os participantes foram professores da rede pública do ensino fundamen-
tal. A coleta de informações se deu através de um teste de associação de 
palavras. Os dados foram processados no software Evoc3, que faz uma 
análise de correspondência entre a ordem e a frequência das palavras, 
e possibilita identificar as palavras mais significativas na estrutura da 
3 Para uma aproximação e compreensão do programa de processamento de dados de 
evocação livre Evoc, consultar: Oliveira, D. C., Marques, S. C., Gomes, A. M. T. & 
Teixeira, M. C. T. V. (2005). Análise das evocações livres: uma técnica de análise estru-
tural das representações sociais. In A. S. P. Moreira, B. V. Camargo, J. C. Jesuíno & S. 
M. Nóbrega (Org.). Perspectivas teórico-metodológicas em representações sociais (pp. 
573-603). João Pessoa: Editora Universitária – UFPB. 
A!"#!$# M%&'#( C)%*+( + P&$('$,% -+ L$.% S$,*%436 
representação social, que são aquelas que se apresentamem ordem 
média baixa e frequência alta.
A pesquisa de Peixoto (2007) trata da formação de professores na 
área de informática. Parte da diretriz de que entre os formadores dos 
professores desta área, há uma certa representação do modelo de forma-
ção que se transferiria automaticamente para a futura prática dos pro-
fessores. Aplicou a professores que ensinavam informática e educação 
um teste de associação livre de palavras, uma entrevista semiestruturada 
e a técnica de grupo focal. O destaque, neste estudo, é a utilização de 
multimétodos, que forneceram dados complementares para a descrição 
e compreensão da representação social investigada.
Abud (2005) desenvolveu uma pesquisa sobre o registro e a repre-
sentação social do cotidiano, presentes nos conteúdos de músicas popula-
res, os quais se constituem em um importante meio para a aprendizagem 
da história, pois facilitam a compreensão histórica por parte dos alunos, 
pela empatia que estabelecem entre eles e aqueles que viveram em outros 
contextos históricos.
Souza Filho (2005) realizou um estudo de representações sociais, 
focalizando a autoavaliação psicossocial dos professores na escolha 
da profissão de professor. Utilizou um questionário, versando sobre o 
motivo da escolha da profissão de professor, características e valores 
relacionados aos professores e descrição de como é a sua atuação pro-
fissional. Os participantes foram quatro grupos de professores do ensino 
fundamental privado, do fundamental público e universitário.
As representações sociais do projeto político-pedagógico da escola 
foram investigadas por Marques (2003). Os participantes foram os mem-
bros de conselhos escolares de uma rede municipal de ensino. Partiu-se 
do princípio de que as diretrizes da política educacional da escola 
ganham corpo pelos que a executam. As informações, coletadas junto 
R!"#!$!%&'()!$ S*+,',$ 437 
aos citados conselheiros, versaram sobre o entendimento que tinham 
acerca do projeto político-pedagógico da escola, sua execução e as rela-
ções com o exercício da democracia e autonomia no espaço escolar. 
Chaves e Barbosa (1998) desenvolveram uma investigação das 
representações sociais acerca da sua realidade. As crianças foram entre-
vistadas, focalizando-se aspectos do seu cotidiano escolar e os signifi-
cados que eram atribuídos. Os dados, através da análise de conteúdo, 
foram agrupados em temas e construídas categorias, as quais possibilita-
ram a descrição da representação social em pauta. Ressalte-se que, neste 
estudo, os participantes foram crianças, o que não é muito comum nas 
pesquisas em representações sociais. Além disso, a utilização de entre-
vista aberta, dentro da temática, forneceu informações produtivas para 
a análise, desmistificando a impossibilidade da utilização dessa técnica 
com crianças, apontada por alguns pesquisadores.
Além das investigações comentadas anteriormente, há uma diver-
sidade de objetos de estudos, focalizados por pesquisadores, no estudo 
das representações sociais, relacionadas à educação e ao espaço escolar, 
como relacionados às representações sociais de estudantes do ensino 
médio acerca do trabalho e da escola (Franco & Novaes, 2001); à uti-
lização de vídeo no contexto educacional (Rosado, Erbolato & Benzi, 
1998); sobre a formação em informática (Rosado, 1998); representação 
social de escola e trajetória escolar (Cruz, 1997) e representações sociais 
na manutenção da seletividade na escola (Gama & Jesus, 1994), entre 
muitos outros.
A preocupação em estudar o ambiente escolar está em consonân-
cia com o debate atual acerca da premente necessidade de uma ampla 
reformulação do sistema educacional brasileiro. Além disso, também 
coaduna com a importância de se resgatar o aluno enquanto sujeito que 
informa, em primeira mão, seus pensamentos e sentimentos acerca de 
A!"#!$# M%&'#( C)%*+( + P&$('$,% -+ L$.% S$,*%438 
sua vivência escolar e de se acompanharem as transformações que vêm 
ocorrendo no universo da escola e suas repercussões no desempenho 
dos estudantes e em sua forma de enxergar o ambiente em que estuda.
Drogadição, tema polêmico, considerado um problema de saúde 
pública, mas presente no cotidiano de todas as sociedades, também, tem 
interessado aos investigadores das representações sociais.
Fonseca, Azevedo, Araújo, Oliveira e Coutinho (2007) estudaram 
a representação social da maconha entre estudantes universitários de 
Psicologia. Os participantes eram jovens de 18 a 26 anos de idade. A 
coleta das informações foi realizada através do Teste de Associação Livre 
de Palavras. Os dados foram tratados pelo software Tri-Deux-Mot4, que 
realiza uma análise fatorial de correspondência.
Seguindo a mesma linha da pesquisa anterior, investigar a repre-
sentação social da própria substância psicoativa ilícita, Araújo, Gonties 
e Nunes (2007) pesquisaram as representações sociais da cocaína entre 
estudantes do final dos cursos de ciências da saúde e jurídicas. Os dados 
foram coletados através de uma entrevista semiestruturada, aplicada 
individualmente aos participantes. Para a descrição da representação 
social de cocaína do grupo de participantes, foi feita uma análise de con-
teúdo temática das informações coletadas.
A pesquisa de Oliveira, Paiva e Valente (2006) centra-se na inter-
face consumo de drogas e gênero. O objetivo perseguido foi o de analisar 
representações sociais de profissionais de saúde acerca do consumo de 
drogas entre mulheres. Para tal, realizaram observação participante em 
uma unidade especializada à assistência a usuários de drogas e entrevis-
tas semiestruturadas com profissionais, que atuam na referida unidade. 
4 Uma descrição e fundamentação dos processamentos realizados pelo programa de 
processamento de dados Tri-Deux-Mot podem ser encontradas em: Cibois, P. (1995). 
Tri-Deux version 2.2, Bulletin de Méthodologie Sociologique, (46), 119-124.
R!"#!$!%&'()!$ S*+,',$ 439 
O destaque nesta pesquisa é a utilização da observação participante no 
estudo das representações sociais.
Ainda sobre representações sociais da drogadição e substâncias 
psicoativas, Araújo, Castanha, Barros e Castanha (2006) elegeram como 
participantes agentes comunitários de saúde, jovens, que tinham em 
média 26 anos de idade. O objetivo foi analisar as representações sociais 
de maconha desses participantes. Foram realizadas entrevistas semies-
truturadas e um Teste de Associação Livre de Palavras. Os dados das 
entrevistas foram submetidos a uma análise temática de conteúdo e as 
palavras associadas foram processadas pelo software Tri-Deux-Mot.
Estudos comparativos também têm sido desenvolvidos para abor-
dar as representações sociais da drogadição e das substâncias psicoativas. 
Coutinho, Araújo e Gonties (2004) realizaram uma pesquisa para compa-
rar as representações sociais do uso da maconha, entre universitários con-
cluintes de áreas tecnológicas, da saúde e jurídica. Os participantes foram 
jovens estudantes de 22 a 30 anos de idade. A coleta de dados foi realizada 
através de uma entrevista semiestruturada, cujos resultados foram subme-
tidos a uma análise temática de conteúdo. O que diferencia esta pesquisa é 
que se trata de um estudo comparativo, através de dados qualitativos e que 
tem como foco a representação social do uso de maconha. Desloca, desse 
modo, de representações sociais da substância psicoativa em si ou de pro-
fissionais de saúde acerca dela, para quem a usa, o usuário. Trata-se, por-
tanto, de um estudo de representações sociais sobre o usuário de maconha.
Na interface entre usuários de drogas psicoativas ilícitas e famí-
lia, Ferreira e Sousa Filho (2007) focalizaram em seu estudo o contexto 
familiar de usuários e não usuários de maconha. Os participantes foram 
universitários usuários e não usuários de maconha autoidentificados, aos 
quais foi aplicado um questionário com questões abertas, no qual des-
creviam os seus familiares. Os dados foram analisados qualitativamente 
A!"#!$# M%&'#( C)%*+( + P&$('$,% -+ L$.% S$,*%440(agrupamento de termos temáticos) e quantitativamente através de esta-
tísticas descritivas (frequência, percentual e qui-quadrado). Observa-se 
que este estudo exploratório procura levantar uma possível questão rele-
vante na compreensão da drogadição, que é o contexto no qual o usuá-
rio ou o não usuário vive. No presente caso, entre outros contextos, foi 
focalizado o ambiente familiar.
As emoções e os afetos, processos psicológicos básicos, também 
têm sido temática das investigações das representações sociais. 
Ribeiro e Jutras (2006) analisaram o conteúdo e a estrutura das 
representações sociais de afetividade entre professores em formação 
(cursando licenciatura) para o ensino fundamental. O estudo situa-se, 
portanto, na interface espaço escolar e emoções. Para a coleta de dados 
junto aos professores, realizaram um teste de associação livre, entrevistas 
semiestruturadas e triagens hierarquizadas sucessivas. As triagens hie-
rarquizadas sucessivas foram construídas a partir das 32 palavras, que 
foram classificadas por ordem de importância e com maior frequência. 
As 32 palavras foram escritas em fichas e aos participantes foi solicitado 
que separassem, de um lado, as 16 fichas, que continham as palavras 
consideradas mais características da afetividade e, de outro, as outras 
16 fichas com as palavras julgadas menos características da afetividade. 
Em seguida, os participantes realizaram operação semelhante com as 
16 fichas, que continham as palavras mais características, selecionando 
as oito palavras mais características. Essa operação foi continuada para 
as oito palavras, quatro palavras e duas palavras e finalizada quando o 
participante indicou uma única palavra. Em seguida, foi solicitado ao 
participante que justificasse a sua escolha. O destaque desta pesquisa foi 
a utilização das triagens hierarquizadas sucessivas. 
A investigação de Nóbrega, Fontes e Paula (2005) focalizou as 
representações sociais sobre o amor e o sofrimento psíquico. Participaram 
R!"#!$!%&'()!$ S*+,',$ 441 
da pesquisa dois grupos de faixas etárias diferentes (18 a 30 anos e 31 
a 70 anos). Os dados foram coletados através da aplicação de um teste 
de associação livre, com três palavras indutoras: amor, sofrimento, si 
mesmo e o outro, a todos os participantes. Uma entrevista em pro-
fundidade foi realizada com dezessete participantes selecionados. Os 
dados do teste de associação livre foram organizados e processados 
no software Tri-Deux-Mot. A seguir, submetidos a análise fatorial de 
correspondências. As informações resultantes das entrevistas em pro-
fundidade foram analisadas e organizadas, considerando os conteúdos 
relacionados aos objetos-estímulos. Cada tema foi agrupado em cate-
gorias e subcategorias. Temas, categorias e subcategorias foram repre-
sentados em forma de árvore.
Roazzi, Federecci e Wilson (2001) realizaram uma investigação 
cujo objeto de estudo foi seu método. Para a discussão do método desen-
volveram um estudo sobre a representação social do medo, tendo crian-
ças como participantes, pertencentes a dois grupos distintos: estudantes 
de escola particular e estudantes de um orfanato público. O método 
incluiu duas fases. Na Fase 1, foi realizado um teste de evocação livre 
(palavra-estímulo: medo). A seguir, foram selecionados 15 itens, que 
foram aqueles que apareceram com maior frequência, a partir das res-
postas das crianças. Na Fase 2, os 15 itens selecionados na Fase 1 ser-
viram para uma tarefa de classificação múltipla e foram apresentados 
em cinco cartões, com as referidas palavras grafadas. Inicialmente, as 
crianças agruparam as palavras livremente. Em seguida, o investigador 
solicitava que a criança justificasse a razão de ter colocado juntas aque-
las palavras. Dando continuidade, era apresentado às crianças as pala-
vras em cartões de tamanhos diferentes (quanto maior o cartão, mais 
a palavra nele contida estava associada ao medo). Desse modo, encon-
travam-se as palavras mais associadas com o medo em diferentes graus. 
A!"#!$# M%&'#( C)%*+( + P&$('$,% -+ L$.% S$,*%442 
Ressalta-se, nesta pesquisa, o método utilizado com participantes crian-
ças, mas, principalmente, a discussão metodológica.
Outro estudo realizado por Roazzi, Federicci e Carvalho (2002) 
focalizou a representação social do medo entre adultos.
As pesquisas de representações sociais de emoções e afetos mos-
tram que esta teoria fornece suporte à compreensão de como processos 
psicológicos básicos podem ser analisados, a partir da compreensão, que 
deles têm, o saber popular.
A família e o contexto familiar como temática tem ocupado um 
espaço importante nas pesquisas de representações sociais.
O estudo de Roazzi (1999) procurou investigar a representação 
social da participação masculina nas tarefas domésticas, entre casais de 
nível socioeconômico baixo.
Chaves, Botelho, Andari, Santos e Sampaio (1993), buscando 
analisar representações sociais de família na atualidade, desenvolveram 
uma investigação com adolescentes (estudantes de escolas públicas e 
particulares).
Araújo, Oliveira, Sousa e Castanha (2007) realizaram uma pesquisa, 
que teve como objeto de estudo a adoção de crianças por casais homosse-
xuais. Os participantes foram estudantes concluintes dos cursos de Direito 
e Psicologia. O instrumento utilizado foi um questionário com perguntas 
fechadas. Os dados foram interpretados, a partir de análises temáticas de 
conteúdo. Deve-se sublinhar a atualidade do objeto de estudo da pesquisa 
e a possibilidade da compreensão de novos arranjos familiares.
A pesquisa de Borlot e Trindade (2004) também trabalha com 
uma temática importante e atual: a representação social de filho bio-
lógico. Para abordar tal representação social, participaram da pesquisa 
casais que não tinham obtido êxito com relação à gravidez, após o trata-
mento para reprodução assistida. O objetivo do estudo foi o de analisar 
R!"#!$!%&'()!$ S*+,',$ 443 
a trajetória de vida do casal, após ter constatado a sua infertilidade e 
identificar a representação social de filho biológico. Foram realizadas, 
com os participantes, entrevistas semiestruturadas. Cada um dos côn-
juges foi entrevistado separadamente. Os itens do roteiro de entrevista 
foram: constatação da infertilidade, o tratamento realizado, o significado 
da maternidade, paternidade, casamento e filho biológico.
A realização da pesquisa de Chaves, Cabral, Lordelo e Mascarenhas 
(2002) insere-se na linha de buscar compreender os novos arranjos fami-
liares em diferentes contextos. As participantes foram mães pobres, que 
vivem em um bairro periférico de uma grande cidade brasileira. As mães 
foram entrevistadas, a partir de um roteiro preestabelecido. Os dados 
foram organizados em categorias e submetidos a uma avaliação de con-
teúdo temática.
A família, como temática das pesquisas em representações sociais, 
tem despertado o interesse dos pesquisadores para analisar objetos 
diversos, e que estão relacionados à atualidade, e na busca de compreen-
são dos novos arranjos familiares.
As pesquisas das representações sociais têm se ocupado, com bas-
tante frequência, às questões de gênero. 
Matos e Lopes (2008) estudaram as representações do corpo. 
Utilizaram como fonte de informações os artigos publicados por uma 
revista, cujo público são as mulheres. Realizaram uma análise de conte-
údo dos artigos da referida revista e concluíram que os mesmos crista-
lizam, na compreensão do corpo, crenças, representações e significados 
do que é ser homem em determinada sociedade, e que as representações 
de gênero são mediadas e inscritas no corpo.
Outro estudo que utilizou, como fonte de informação, a mídia 
impressa foi o de Corrêa, Gontijo, Assis, Carrieri e Melo (2007). As pes-
quisadoras buscaram analisar representações sociais de gênero, a partir 
A!"#!$# M%&'#( C)%*+( + P&$('$,% -+ L$.% S$,*%444 
das matérias publicadas em dois jornais de circulação interna de duas 
empresas: uma com o setor operacional predominantemente masculinoe a outra, com maioria feminina. Os artigos dos referidos jornais foram 
submetidos a uma análise de discurso, que permitiu levantar os seguin-
tes temas: assuntos femininos, assuntos masculinos, relações de poder 
e competitividade, que estão relacionados às representações sociais de 
gênero. O estudo situa-se, portanto, na interface de questões de gênero 
e organizacionais.
Dentro da interface gênero e estudos organizacionais, Mourão e 
Galinkin (2008) estudaram as representações sociais sobre o gerencia-
mento feminino. Os participantes foram homens e mulheres de equipes 
que trabalham com mulheres que atingiram o topo da carreira na admi-
nistração pública federal. Os dados foram obtidos através de um teste de 
evocação livre de palavras e processados no software Evoc. 
A questão do gênero foi tratada na pesquisa de Lohmann e Votre 
(2006), ao contextualizar o ambiente em que se deu a inserção da primeira 
turma feminina em um colégio militar. A pesquisa caracterizou-se como 
qualitativa e etnográfica, e os dados foram obtidos através de observação 
participante, entrevistas individuais não-diretivas de “elite” (estudantes 
que ocupavam posições significativas no colégio). Recorreu-se, ainda, à 
análise de textos de jornais e revistas que publicaram matérias sobre o 
assunto, no período de 1989 a 1996. O estudo se destaca por procurar 
dar subsídios sobre como ocorre a inserção da mulher em contextos, 
anteriormente, de domínio exclusivamente masculino.
Questões de gênero foram analisadas por Matsunaga (2008), 
tomando como contexto o movimento hip hop. Para compreender as 
representações sociais de mulher, que circulam neste movimento artís-
tico e político, efetuou-se uma análise de conteúdo das letras das músicas 
(raps). Sublinha-se que esta pesquisa de representações sociais insere-se 
R!"#!$!%&'()!$ S*+,',$ 445 
na interface questões de gênero e movimentos sociais, uma vez que o 
movimento hip hop se constitui como uma possibilidade de manifesta-
ções políticas e artísticas de jovens, nascido em espaços não institucio-
nalizados e nas periferias das grandes cidades.
Oliveira e Roazzi (2007) desenvolveram uma investigação para 
compreender a representação social do conceito de “doença dos nervos” 
e a associação que tem com o gênero. As informações foram coletadas 
com homens e mulheres de classes populares, os quais realizaram um 
teste de associação livre. Mostra-se, neste estudo, um esforço em com-
preender o saber popular, uma vez que a “doença dos nervos”, popular-
mente é considerada idiossincrática à mulher.
Trindade e Enumo (2002) estudaram a representação social da 
mulher infértil, com dois grupos de mulheres, com situações socioeco-
nômicas diferentes (renda baixa e média) 
Questões relacionadas ao gênero, também, vêm ganhando impor-
tância nos últimos anos, quando as mulheres têm participado de forma 
mais efetiva em diversos espaços da sociedade, antes dominados exclu-
sivamente pelos homens. 
O interesse de Beldarrain-Durandequi e Souza Filho (2004) foi 
estudar grupos nacionais. Os participantes (estudantes secundaristas) 
eram negros, morenos e brancos. Os dados foram obtidos a partir de 
um questionário sobre o Brasil, os Estados Unidos da América do Norte 
(EUA) e os países árabes/muçulmanos. No questionário, além de soli-
citar informações sobre dados pessoais e como se definia em termos 
étnico-raciais, pedia-se que os participantes escrevessem, considerando 
três situações imaginárias: uma carta, apresentando o Brasil para um 
estudante estrangeiro; o que encontrariam nos EUA, caso viajassem para 
lá, e ao receber um prêmio para viajar gratuitamente para países árabes/
muçulmanos, o que esperariam encontrar lá. Os dados foram analisados 
A!"#!$# M%&'#( C)%*+( + P&$('$,% -+ L$.% S$,*%446 
através de análise de conteúdo do tipo categorial de temas e, depois, con-
sideradas as atitudes favoráveis e desfavoráveis em relação aos signifi-
cados expressos. Em seguida, foram realizados testes de qui-quadrado 
comparando as diferenciações/aproximações temáticas entre os grupos 
de autodefinição étnico-racial. 
A justiça também tem sido temática das investigações sobre repre-
sentações sociais. Menin (2000) realizou um estudo-piloto com adoles-
centes, que haviam cometido alguma infração. As informações foram 
coletadas através de entrevista aberta, que incluía questões de carac-
terização dos participantes; associação livre com as seguintes palavras 
indutoras: justiça, lei, injustiça, juiz; questões sobre leis; sua definição, 
motivos para obedecê-las, sua plasticidade e situações onde pode ser 
correto desobedecê-las; apresentação de uma historieta relatando a situ-
ação de uma população que iria redigir as suas leis, a partir da qual os 
participantes deveriam responder: “Que leis você acha que eles deveriam 
escrever para si mesmos? Quais as leis mais justas que um povo deve ter 
para si?”; uma escala de cinco pontos, com uma lista de 21 infrações, as 
quais deveriam ser avaliadas quanto a gravidade; questões sobre identi-
ficação e definição de situações injustas afim de se identificar que crité-
rios o participante utilizava e em que situações, para considerar que uma 
injustiça ocorreu. Foram pedidos, nessa etapa, exemplos de injustiça 
que os próprios participantes tinham vivenciado ou presenciado em seu 
contexto social e que denunciariam como inaceitáveis. Além do impor-
tante tema investigado, esta pesquisa se destaca pela grande variedade de 
métodos e técnicas para a coleta das informações. 
Temas relacionados ao meio ambiente, assunto revestido de imensa 
atualidade e que ocupa a preocupação de diferentes grupos sociais em 
todo o mundo, também está presente nas investigações das representa-
ções sociais.
R!"#!$!%&'()!$ S*+,',$ 447 
Schwarz, Sevegnani e André (2007) focalizaram, em sua investiga-
ção, as representações sociais da Mata Atlântica. Os participantes foram 
crianças, provenientes de família de classe média e alta, estudantes do 
ensino fundamental. Para a obtenção das informações foi solicitado às 
crianças que desenhassem o que vinha à sua mente, quando se falava em 
Mata Atlântica. A seguir, as crianças apresentaram uma explicação do 
que representava o seu desenho. As análises dos conteúdos sobre Mata 
Atlântica e biodiversidade foram feitas individualmente de maneira por-
menorizada, sendo que esses dados qualitativos podem ser quantifica-
dos e classificados por meio das semelhanças, modelos e estruturas. O 
que sobressai neste estudo, além de ter como participantes crianças e o 
tema analisado, é a utilização da técnica de análise de desenhos infantis 
na investigação das representações.
O estudo de Martinho e Talamoni (2007) buscou analisar as repre-
sentações sociais do meio ambiente em geral. Mais uma vez, os partici-
pantes foram estudantes do ensino fundamental de escolas públicas da 
zona rural e urbana. As informações foram obtidas através de observa-
ções, entrevistas (por meio das ‘rodas de conversa’), desenhos e ques-
tionário. Os participantes foram divididos em grupos para a realização 
das ‘rodas de conversa’, que se constituiu em uma entrevista semiestrutu-
rada em grupo, recorrendo-se a técnicas do grupo focal. Os dados foram 
analisados através de análise de conteúdo. A utilização das técnicas do 
grupo focal deve ser destacada neste estudo, além de ter como partici-
pantes crianças da área rural.
Somando-se à diversidade temática nas investigações das repre-
sentações sociais, Nascimento e Roazzi (2007) desenvolveram uma pes-
quisa sobre a representação social da morte. Situada na interface morte 
e religiosidade, buscaram em equipes multiprofissionais de saúde anali-
sar como a religiosidade interfere na representação social de morte. Os 
A!"#!$# M%&'#( C)%*+( + P&$('$,% -+ L$.% S$,*%448 
participantes (psicólogos, enfermeiros e médicos) responderam a um 
questionário com questões abertas e fechadas, versando sobre as signi-
ficações associadas à morte e sobre as religiosidades. O questionário foientregue aos participantes e respondidos na ausência do pesquisador. 
Aos trechos discursivos das informações foi feita uma análise categorial 
com parâmetro temático. Os resultados da análise anterior foram sub-
metidos à Análise da Estrutura de Similaridade que permite, a partir 
de julgamentos de similaridade, converter distâncias de natureza psico-
lógica em distâncias euclidianas, as quais possibilitam um julgamento 
analítico entre estruturas mentais complexas através de representações 
geométricas. O resultado das análises anteriores foi complementado 
com a utilização do método das Variáveis Externas enquanto Pontos, 
para a localização nas representações geométricas de variáveis ou sub-
populações. Ressalta-se, nesta pesquisa, o tema abordado e a intercom-
plementaridade das análises qualitativas com as análises quantitativas.
Em relação às questões raciais, os estudos em psicologia social no 
Brasil são recentes, mas os pesquisadores das representações já têm se 
ocupado em investigar este tema. 
A pesquisa de Siman (2005), realizada com crianças de nove a onze 
anos de idade, teve como objetivo identificar e analisar as representações 
sociais dos negros na história do Brasil. O procedimento utilizado para 
a coleta de dados foi o seguinte: antes da primeira e após a última aula 
sobre os negros na história do Brasil, solicitou-se às crianças que fizessem 
desenhos, retratando os negros e os seus modos de vida e descrevessem 
o significado do desenho. Os desenhos foram analisados, a partir das 
suas representações e explicações do mesmo, apresentadas pela própria 
criança. O estudo se insere na interface educação e questões raciais.
Enfocando questões raciais, Pereira, Torres e Almeida (2003) 
desenvolveram uma pesquisa, com base nas representações sociais, 
R!"#!$!%&'()!$ S*+,',$ 449 
que procurou analisar as influências de um discurso justificador da discri-
minação do preconceito racial. Utilizaram um delineamento experimental 
na coleta de dados. Os participantes foram estudantes do primeiro ano do 
curso de Psicologia, que foram distribuídos em dois grupos: experimen-
tal e controle. Para os dois grupos foi apresentado um texto que descreve 
a seguinte situação: uma gerente de uma loja de cosméticos de um cen-
tro comercial precisa contratar uma funcionária para integrar o quadro 
de vendedoras da loja, colocando um anúncio num jornal, solicitando às 
interessadas, que enviem seu currículo para análise. Após avaliar todos os 
curricula, a gerente seleciona os dois melhores, pois se trata de duas moças 
com competência e características profissionais idênticas. Em seguida, 
o texto narra que a gerente convoca as duas moças para uma entrevista, 
onde constata que uma moça é branca e a outra é negra, e contrata a moça 
branca. Para o grupo controle, informa-se que a gerente ao ver as duas 
moças, sem qualquer justificativa, resolveu contratar a moça branca. Para 
o grupo experimental, os participantes foram informados da justificativa 
da gerente, para contratar a moça branca, que foi a seguinte: a gerente não 
se acha preconceituosa, mas considera que a sociedade brasileira o é, da 
qual virão os clientes potenciais da sua loja. Desse modo, estaria agindo no 
sentido de gerenciar bem os seus negócios. Utilizou-se um instrumento 
contendo as seguintes escalas: 1) Preferência pela cor da pele das pessoas 
que atendem nas lojas, indicada em uma escala de sete pontos, contendo 
um único item apresentado em forma de diferencial semântico, que situa 
de um lado a preferência de ser atendido por pessoas negras e, do outro 
lado, por pessoas brancas. Os participantes responderam nesta escala a 
sua preferência e, em seguida, a preferência dos membros da sociedade 
brasileira. 2) Princípios organizadores da avaliação da decisão da gerente, 
escala Likert de sete pontos, composta de oito adjetivos, quatro destes 
relacionados à percepção de justiça e, os outros, à avaliação profissional. 
A!"#!$# M%&'#( C)%*+( + P&$('$,% -+ L$.% S$,*%450 
3) Escala de tomada de decisão, contendo um único item, apresentado em 
forma de diferencial semântico variando de 1 a 7, na qual os participantes 
se colocaram no lugar da gerente e indicaram a sua decisão de contratar 
a moça branca ou a negra. O destaque para esta pesquisa é a utilização da 
metodologia experimental, com procedimentos criteriosamente elabora-
dos e, além disso, ser um estudo do preconceito racial, com base na teoria 
das representações sociais.
Um estudo do preconceito, tendo como base a teoria das repre-
sentações sociais, foi realizado, também, por Lacerda, Pereira e Camino 
(2002). Nesta pesquisa, focalizando o preconceito contra homossexuais. 
Analisaram como estudantes universitários expressam o preconceito 
contra homossexuais e a relação desse preconceito com as explicações 
da homossexualidade.
Ainda, dentro do tema sexualidade, no caso, homossexualidade, 
Scardua e Souza Filho (2006) realizaram uma investigação com o objetivo 
de estudar as representações sociais da homossexualidade entre estudantes 
universitários, segundo a orientação sexual e sexo. As informações foram 
obtidas, a partir de uma questão de associação livre sobre a palavra homos-
sexualidade e outra sobre as possíveis causas da homossexualidade. Os 
dados foram analisados com base nos princípios da análise de conteúdo.
Questões religiosas têm sido estudadas por Paiva (1999), tomando 
como referencial a teoria das representações sociais. Realizou uma pes-
quisa com docentes-pesquisadores (cientistas avançados nas áreas de 
ciências humanas, biológicas e exatas), de uma das mais importantes 
universidades do Brasil. O objetivo foi analisar a representação social 
de religião entre os cientistas participantes e a relação da religião com a 
ciência. Os dados foram coletados a partir de uma entrevista semiestru-
turada, que focalizava as relações que os participantes estabeleciam entre 
ciência e religião, na produção do conhecimento e no cotidiano. Trata-se 
R!"#!$!%&'()!$ S*+,',$ 451 
de um estudo com metodologias qualitativas, do qual se pode destacar a 
temática religião e ciência, duas áreas diferentes de produção de conhe-
cimento e da compreensão da relação ser humano-mundo.
A partir da temática saúde, muitas pesquisas têm sido desenvolvi-
das. Isto ocorre não só pela importância reconhecida da referida temá-
tica mas, também, porque a teoria das representações sociais, além dos 
pesquisadores da Psicologia, é bastante utilizada por pesquisadores da 
área de saúde (Enfermagem, Medicina, Saúde Pública, Saúde Coletiva, 
Nutrição, para citar algumas).
É bastante frequente, dentro da temática saúde, o objeto de estudo 
da representação social ser doenças específicas. Camargo, Bárbara e 
Bertold (2007) desenvolveram a sua pesquisa com adolescentes (estudan-
tes do ensino médio da rede pública), com os objetivos de diagnosticar a 
estrutura da representação da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida 
(AIDS) e examinar a relação desta representação com o conhecimento 
científico da referida síndrome. Para a coleta de dados foi utilizado um 
questionário semiestruturado e autoaplicado, que incluía quatro grupos 
de questões: 1) caracterização dos participantes; 2) Fontes de informação 
sobre o tema e comportamentos de proteção em relação ao HIV/AIDS; 
3) Teste de evocação livre de palavras (termo indutor: AIDS). Após a 
evocação das palavras, os participantes indicavam as duas mais impor-
tantes entre as evocadas; 4) Diagnóstico do nível de conhecimento cien-
tífico sobre o HIV/AIDS: foi estimado a partir do teste de conhecimento 
científico sobre o HIV/AIDS desenvolvido pelo Laccos5. Os dados foram 
5 Uma descrição desse instrumento pode ser encontrada em: Camargo, B. V., Barbará, 
A. e Bertoldo, R. (2005). Um instrumento de medida da dimensão informativa da 
representação social da aids [Trabalho Completo]. Anais IV Jornada Internacional e 
II Conferência Brasileira sobre Representações Sociais: Teoria e Abordagens Metodoló-
gicas. João Pessoa:

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