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1 UNIP - UNIVERSIDADE PAULISTA Campus Sorocaba – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo PROJETO DE PESQUISA – INICIAÇÃO CIENTÍFICA APLICAÇÃO DE TÉCNICAS BIOCLIMÁTICAS EM COBERTURAS COM ANÁLISE DE DESEMPENHO TÉRMICO CANDIDATA: Tu Chia Ching – RA: 876402-6 ORIENTADORA: Profa. Arq. MSc. Carla Fernanda Barbosa Teixeira SOROCABA - SP MARÇO/2009 2 1. INTRODUÇÃO Com a crise mundial de energia no final do século passado, retomam-se com maior empenho pesquisas na área do condicionamento passivo (aquecimento e resfriamento) de edificações. Procurando avaliar o desempenho térmico de técnicas passivas para as mais diversas e distintas localidades do mundo, alguns pesquisadores desenvolveram parâmetros e metodologias para o desenvolvimento de uma arquitetura aplicada ao clima local, o que possibilita ressaltar técnicas vernáculas e materiais construtivos locais. Por outro lado, a globalização da arquitetura propicia que edificações sejam reproduzidas nas diversas partes do mundo, com semelhantes, senão os mesmos, materiais e tecnologias. Freqüentemente são construídas torres de vidros em climas tropicais, nas quais seres humanos se submetem a jornada de trabalho de oito, dez horas, respirando um ar condicionado artificialmente e, muitas vezes por falta ou má qualidade da manutenção, contaminado. Multiplicam-se residências que adotam materiais e soluções construtivas baseados em catálogos que comercializam um sonho de consumo bem distante da realidade brasileira. Nos grandes centros metropolitanos ocorrem as piores alterações nas condições naturais do microclima local, além de concentrarem o maior emprego de energia para o condicionamento artificial de ambientes que somado ao citado anteriormente acentuam em muito o desconforto térmico nas edificações e o desperdício energético. Se por um lado são ignoradas as variáveis climáticas em favor de modismos e de uma variedade de materiais que não refletem a nossa realidade, para uma grande parte da população brasileira, de baixo poder econômico, revela-se moradias homogêneas, 3 com tendência a ignorar o reboco da alvenaria, a laje ou forro de cobertura entre outros elementos construtivos. Assim repassam para o interior das edificações toda a hostilidade de um clima tropical, visto que se caracterizam, em sua maioria, por construções de baixíssima massa térmica ou nenhuma, principalmente se considerado a cobertura, feita quase sempre de telhas de fibrocimento. O aquecimento do ar em uma edificação é resultante de dois tipos de fontes: artificial e natural. O calor antropogênico resultante das atividades humanas, bem como, o calor dos equipamentos domésticos são responsáveis por ocasionarem um aumento da temperatura interna em edificações, denominando–se fonte artificial. Mas a fonte natural, assim denominada, é a maior responsável pelo aquecimento do ar, como a radiação solar (ondas curtas) e a re-emissão desta radiação, através de ondas longas, absorvida pelas superfícies do entorno. A cobertura de uma edificação está proporcionalmente mais exposta às condições climáticas do que outros fechamentos, principalmente a radiação solar e, é a principal responsável pelo aquecimento do ar interno. Assim, em climas tropicais, as temperaturas das superfícies externas das construções são altíssimas, refletindo na transmissão de energia para o interior das edificações. Conseqüentemente, as temperaturas internas atingem altos valores, principalmente no período da tarde ou noite. Podendo variar de acordo com a massa térmica da edificação, este fenômeno causa ao homem desconforto térmico e, conseqüentemente, a utilização de métodos artificiais de refrigeração do ambiente, gerando um aumento do consumo de energia. 4 2. OBJETIVOS Neste trabalho, os principais objetivos são: • Analisar o clima da cidade de Campinas com a seleção de técnicas bioclimáticas adequadas. • Avaliar a viabilidade de implantação de técnicas bioclimáticas em coberturas e seu comportamento térmico. • Estabelecer uma conexão com o aprendizado em sala de aula, os resultados do experimento e a tomada de decisão do profissional. 3. JUSTIFICATIVA A questão do aquecimento global afetou de tal maneira muitas de nossas atitudes diárias, que a mobilização em buscar alternativas que possibilitem alguma resposta positiva a este problema tornou-se mundial. Muitos países de clima temperado já buscam amenizar o impacto ao meio ambiente de materiais empregados erroneamente ou o excessivo emprego de energias não renováveis na climatizam de ambientes. Já países com clima de características quente como Grécia, Índia, algumas localidades dos Estados Unidos e Japão, também trazem pesquisas neste âmbito, enfatizando o resfriamento e ou isolamento da cobertura nas construções. Algumas técnicas bioclimáticas já são aplicadas e adaptadas às peculiaridades locais como: clima, cultura, recursos financeiros, materiais construtivos. 5 Nacionalmente, as pesquisas com técnicas passivas ainda são tímidas, principalmente se observado a extensa porção de terras locadas em baixas latitudes, entre a Linha do Equador e o Trópico de Capricórnio. Algumas bibliografias trazem recomendações de projeto para algumas localidades e outras avaliam o desempenho de algumas técnicas passivas para certas localidades como Florianópolis-SC, Passo do Lontra-MS, Recife-PE, São Carlos-SP. Neste sentido, algumas considerações podem ser admitidas pelos projetistas para a melhoria do conforto térmico, atendendo a cuidados de implantação, especificação adequada de materiais construtivos, distribuição dos ambientes internos de acordo com as atividades neles exigidas. Se por um lado projetistas dispõe de informações referentes às necessidades humanas para habitar cada edificação, por outro, pesquisadores podem oferecer ferramentas úteis, adequadas as condições climáticas de cada local, como também, materiais construtivos e técnicas passivas de condicionamento mais adequadas as variáveis climáticas. O nosso país por ter uma insolação média anual que é no mínimo o dobro daquela encontrada na Europa, se torna potencialmente o mais indicado para implementar pesquisas deste âmbito. O envelope de uma edificação pode ser interpretado como uma barreira entre as condições externas e internas, sobre as quais não se tem um controle imediato. Uma das funções de um bom projeto arquitetônico é promover o controle das condições ambientais internas, funcionando a envolvente da edificação como um filtro que exclua as condições indesejáveis e aproveite as condições benéficas do ambiente externo. A radiação solar pode ser muito benéfica, quando bem aproveitada, como também pode ser especialmente indesejável em determinadas condições (LABAKI et al., 1995). 6 A partir da pesquisa de Teixeira (2006), que analisou o desempenho térmico de coberturas de fibrocimento, sentiu-se a necessidade de se explorar novas técnicas e metodologias para aplicação de técnicas biolcimáticas. Dessa forma, a pesquisa não estaria completa se não fosse incorporado o feed back dos resultados coletados aos profissionais da área, analisando qual a relevância na decisão de projeto. 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1.1 Trocas de Calor: Ambiente e Materiais O conforto térmico em edificações pode ser obtido controlando-se os vários processos de transferência de calor entre os ambientes interno e externo, através dos materiais construtivos do ambiente. As trocas de calor podem ocorrer por condução, convecção, radiação, evaporação ou condensação e estão relacionadas às propriedades dos materiais utilizados na edificação. Estas propriedades, abaixo relacionadas, têm valores e coeficientes tabelados e calculados por autores clássicos desta literatura. • Condutividade (λ), resistência (R) e condutância térmica; •Coeficientes de absorção (α), reflexão (ρ), emissividade (ε) e transmissão (τ) para radiação de ondas longas; • Coeficiente de convecção superficial (hc) • Absortância (α), refletância (ρ) e transmitância (τ) dos materiais em relação à radiação de onda curta; 7 • Fluxo de calor (q) da radiação para diferentes comprimentos de onda; • Coeficiente global de transmissão térmica (U). • Calor específico (c) e capacidade térmica (C); Além disso, para garantir condições de conforto interno a edificação, o projetista deve projetar o invólucro do edifício, para que este interfira ou não no microclima interno, aproveitando-se da pouca ou alta massa térmica dos fechamentos, do isolamento de materiais, da transparência de vidros, ou seja, dos materiais e da tecnologia desenvolvidos para a construção civil dentro das condições climáticas do local. Estes processos de trocas de calor entre o ambiente e os materiais construtivos relacionam-se aos tipos de matérias-primas empregadas, ou seja, aos valores das suas propriedades, podendo ser modificadas pelo emprego de materiais de acabamentos, cores, rugosidade, etc. 3.1.2 Trocas de Calor: Ambiente e Homem As trocas de calor, entre o corpo humano e o ambiente, ocorrem por vários processos: • Convecção com o ar; • Radiação com as superfícies circundantes; • Evaporação na superfície da pele e na expiração do ar dos pulmões. Para que o equilíbrio térmico seja mantido, mecanismos de termo-regulação agem para equilibrar as taxas de produção e dissipação de calor. Através da vestimenta 8 adequada ao clima, o ser humano também contribui para este equilíbrio do organismo e pela sensação de conforto térmico no ambiente construído. Segundo Chvatal (1998), no interior das edificações, as condições de conforto são determinadas pela combinação de fatores ambientais, individuais e subjetivos; cabendo ao projetista propiciar ambientes com valores adequados de temperatura, umidade, velocidade do ar e temperatura radiante média. Os fatores ambientais correspondem à temperatura do ar ambiente, temperatura radiante média, umidade relativa do ar e velocidade do ar. Já os fatores individuais dependem da atividade desenvolvida por cada pessoa, da taxa de produção de calor metabólico, da resistência térmica da vestimenta e da adaptação psico-fisiológica a nova situação térmica. Segundo Givoni (2003) pessoas que habitam edifícios sem condicionamento artificial são mais toleráveis às alternâncias de temperaturas do que pessoas que vivem em edifícios climatizados artificialmente. O intervalo de temperatura, aceitável para a faixa do conforto humano, é mais generoso em edifícios naturalmente condicionados do que em edifícios climatizados artificialmente. Isto se reflete diretamente na zona de plotagem das cartas dos edifícios, ampliando ou reduzindo limites e estratégias a serem adotadas. Em Givoni (1992) uma pesquisa realizada junta aos habitantes de Colima, México, verificou que o clima nos meses de junho a outubro, segundo a carta da ASHRAE, estaria fora dos limites aceitáveis da zona de conforto. No entanto, os habitantes do local foram questionados sobre suas sensações de conforto para o período citado. 9 Verificou-se que pelo menos nas primeiras e nas últimas horas dos dias, o clima era confortável tanto dentro como fora dos edifícios. 3.2 ARQUITETURA BIOCLIMÁTICA Clima [do grego Klima: inclinação], etimologicamente designa conhecimento de ordem astronômica e cosmográfica, aplicado à superfície terrestre, caracterizada por condições atmosféricas comparáveis (Bogo et al, 1994). A climatologia é um estudo mais aprofundado dos elementos e fatores climáticos, nas diversas áreas de conhecimento humano. Assim, aplicada ao estudo da relação dos seres vivos, tem-se a Bioclimatologia, com ênfase animal, vegetal ou humana. Na Arquitetura, a Bioclimatologia é aplicada quando se associam as variáveis relacionadas ao clima e ao conforto. Através dos materiais construtivos e da qualidade do projeto arquitetônico é possível otimizar ou evitar que condições climáticas extremas interferiram diretamente nas condições de conforto humano no interior das construções. Os fatores naturais, como latitude, proximidade de grandes massas de águas e terras e topografia, influenciam o clima e conseqüentemente o comportamento dos materiais construtivos da edificação. A ação antrópica no ambiente natural, como suas conseqüências e sua complexidade, atua alterando o clima em escalas macro (região metropolitana) e micro (terreno da edificação). A exemplo, temos emissão de poluentes, alta concentração humana e de construções em grandes centros, impermeabilização do solo e emissão de calor antropogênico (figura 1). 10 Figura 1 – Fatores que influenciam no clima urbano. Fonte: Adaptado de http://www.atmosphere.mpg.de/enid/0,55a304092d09/2_clima_urbano/- _qu_lo_controla_3x3.html. 4. MATERIAIS E MÉTODOS A metodologia adotada baseia-se na análise de desempenho térmico de materiais opacos empregados na construção civil. Dados climáticos serão coletados por uma estação meteorológica (figura 2) e dados do fluxo de calor e temperatura serão adquiridos por equipamentos sensores termo-físicos (figura 3) instalados na cobertura das bancadas instaladas no campo experimental da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, da Unicamp, Campinas-SP. 11 Figura 2 – Estação meteorológica. Figura 3 – Sensores Termo-físicos. As variáveis ambientais (temperatura do ar, umidade relativa, direção dos ventos predominantes, velocidade do vento, radiação solar e índice pluviométrico) seão medidas por pela estação meteorológica, da marca Campbell Scientific, composta por: termohigrômetro, sensores de velocidade e direção do vento, piranômetro e pluviômetro. Já os dados relativos ao fluxo de energia e temperatura serão coletados através de sensores termofísicos, conectados a CPU para registro e gravação em disco rígido. 12 As técnicas bioclimáticas serão aplicadas em duas bancadas de 4,00x1,00 (figura 4), onde serão fixadas telhas de fibrocimento, instalada no campo experimental da instituição. Figura 4 – Bancadas do experimento. 7. CRONOGRAMA DE ATIVIDADES As atividades de investigação e prática serão distribuídas de acordo com o cronograma a seguir:: Meses Atividade 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Revisão bibliográfica X X X Manipulação de dados climáticos e seleção de técnicas bioclimáticas X X Projeto e execução das técnicas nas coberturas X X Pré-teste X Adaptações X Aquisição de dados oficiais X X 13 Análise de resultados X X Redação do relatório final X X 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. Norma Técnica 15220-3. Desempenho Térmico de Edificações. Parte 3 Zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes construtivas para habitações unifamiliares de interesse social, 2005. Disponível em: http://labee.ufsc.br/conforto/index.html. ALLUCI, M. P.; et all. Recomendações para adequação climática e acústica. São Paulo: IPT, 1986. ANDREASI, W. A. Avaliação do impacto de estratégias bioclimáticas na temperatura de edificações no Passo do Lontra do Estado do Mato Grosso do Sul. Florianópolis, UFSC, CTC, ECV, 2001. GIVONI, B. Anotações de aula, manuscrito. Arquitetura bioclimática e conforto e emprego de medidas passivas na arquitetura. Curitiba, curso ministrado por B. Givoni e promovido pelo Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná – CEFET-PR, de 7 a 10 de abril de 2003. ________. Man , climate and architecture. London: Applied Science Pub, 1994a. ________. Passive and low energy cooling of buildings. New York: Van Nostrand Reinhold, 1994b. 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