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VANESSA TELLES- MEDICINA UFMT ---Parasitas Nematelmintos: Família Oxyuridae--- 4) Família Oxyuridae: • A família Oxyuridae possui várias espécies de interesse veterinário (Oxyuris equi, Heterakis gallinae etc.) e uma Enterobius vermicularis, que ocorre no ser humano e pertence ao gênero Enterobius, o qual apresenta sete espécies que, são parasitos de vários macacos em diferentes regiões (Ásia, África, América), mas que não atingem o ser humano. A espécie que realmente nos interessa é o E. vermicularis, que possui distribuição geográfica mundial, mas tem incidência maior nas regiões de clima temperado. E muito comum em nosso meio, atingindo principalmente a faixa etária de 5 a 15 anos, apesar de ser encontrado em adultos também. • O E. vermicularis apresenta cor branca, sendo filiforme. Na extremidade anterior, lateralmente à boca, notam- se expansões vesiculosas muito típicas, chamadas "asas cefálicas". A boca é pequena, seguida de um esôfago também típico: é claviforme, terminando em um bulbo cardíaco. A fêmea mede cerca de 1cm de comprimento, por 0,4mm de diâmetro, com cauda pontiaguda e longa. A vulva abre-se na porção média anterior, a qual é seguida por uma curta vagina que se comunica com dois úteros; cada ramo uterino se continua com o oviduto e ovário. O macho mede cerca de 5mm de comprimento por 0,2rnm de diâmetro com cauda fortemente recurvada em sentido ventral, com um espículo presente; apresenta um único testículo. Machos e fêmeas habitam o ceco e apêndice, sendo que as fêmeas, repletas de ovos (5 a 16 mil ovos), são encontradas na região perianal. Já os ovos medem cerca de 50 µm de comprimento por 20 µm de largura, com aspecto grosseiro de um D, pois um dos lados é sensivelmente achatado e o outro é convexo; possui membrana dupla, lisa e transparente e, quando sai da fêmea, já abriga uma larva. • Ciclo biológico (monoxênico): após a cópula, os machos são eliminados com as fezes e morrem. As fêmeas, repletas de ovos, se desprendem do ceco e dirigem-se para o ânus (principalmente à noite). Alguns autores suspeitam que elas realizam oviposição na região perianal, mas a maioria afirma que a fêmea não é capaz de fazer postura dos ovos; os mesmos seriam eliminados por rompimento da fêmea, devido a algum traumatismo ou dissecamento capaz de romper a cutícula que a envolve. Os ovos eliminados, já embrionados, se tomam infectantes em poucas horas e são ingeridos pelo hospedeiro. No intestino delgado, as larvas rabditóides eclodem e sofrem duas mudas no trajeto intestinal até o ceco. Aí chegando, transformam-se em vermes adultos. Um a dois meses depois as fêmeas são encontradas na região perianal. Não havendo reinfecção, o parasitismo extingue-se aí. • Transmissão: Os mecanismos de transmissão que podem ocorrer são: a. heteroinfecção: quando ovos presentes na poeira ou alimentos atingem novo hospedeiro (é também conhecida como primoinfecção); b. indireta: quando ovos presentes na poeira ou alimentos atingem o mesmo hospedeiro que os eliminou; auto- infecção externa ou direta: a criança (frequentemente) ou o adulto (raramente) levam os ovos da região perianal a boca. E o principal mecanismo responsável pela cronicidade dessa verminose; c. auto-infecção interna: parece ser um processo raro no qual as larvas eclodiriam ainda dentro do reto e depois migrariam até o ceco, transformando-se em vermes adultos; d. retroinfecção: as larvas eclodem na região perianal (externamente), penetram pelo ânus e migram pelo intestino grosso chegando até o ceco, onde se transformam em vermes adultos. • Patogenia: a presença do verme, muitas vezes, só é notada quando sente ligeiro prurido anal (a noite, principalmente) ou quando o paciente vê o verme (chamado popularmente de "lagartinha") nas fezes. Em infecções maiores, pode provocar enterite catarral por ação mecânica e irritativa. O ceco apresenta-se inflamado e, às vezes, o apêndice também é atingido. De fato, a alteração mais intensa e mais frequente é o prurido anal; a mucosa local mostra-se congesta, recoberta de muco contendo ovo e, às vezes, fêmeas inteiras. O ato de coçar a região anal pode lesar ainda mais o local, possibilitando infecção bacteriana secundária. O prurido ainda provoca perda de sono, nervosismo e, devido a proximidade dos órgãos genitais, pode levar à masturbação e erotismo, principalmente em meninas. A presença de vermes nos órgãos genitais femininos pode levar a vaginite, metrite, salpingite e ovarite. É possível também que os vermes cheguem ao figado perfurando a parede cecal e caindo no sistema porta, atingindo aquele órgão, ou atinge órgãos como rim e próstata. • Diagnóstico: Clínico (prurido anal noturno e continuado) e Laboratorial, que NÃO inclui o exame de fezes. O melhor método é o da fita adesiva (transparente) ou método de Graham, que deve ser feita ao amanhecer, antes de a pessoa banhar-se, e repetida em dias sucessivos, caso dê negativo. Caso a lâmina não possa ser examinada no mesmo dia, a mesma deverá ser conservada em geladeira, devidamente embalada em papel-alumínio. a. corta- se um pedaço de 8 a 10cm de fita adesiva transparente; VANESSA TELLES- MEDICINA UFMT b. coloca- se a mesma com a parte adesiva para fora, sobre um tubo de ensaio ou dedo indicador (nesse último caso, é perigoso pela possível contaminação do executor do método); c. apõe-se várias vezes a fita na região perianal; d. coloca-se a fita (como se fosse uma lamínula) sobre uma lâmina de vidro; e. leva-se ao microscópio e examina-se com aumento de 10e 40x. • Tratamento: a. Pamoato de Pirantel (Combantrin, Piranver); o medicamento é apresentado sob a forma líquida e comprimidos; a dose indicada é de l0mgkg em dose única, com eficácia de 80-100% de cura. Os efeitos colaterais são náuseas e vômitos, cefaléias, sonolência e erupção cutânea; contra-indicação: gravidez e disfunção hepática. b. Albendazol (Zentel): o medicamento é apresentado sob a forma líquida (suspensão contendo 40mglml e comprimidos 200mg); a dose indicada para tratamento da enterobiose, em crianças acima de 2 anos, é de 100mg em dose única, com eficácia próxima a 100% de cura. Os efeitos colaterais são náuseas, vômitos, cefaléias, podendo ou não estar associados a desconforto gastrintestinais. Não deve ser administrada durante a gravidez. c. Ivermectina (Revectina): o medicamento é apresentado sob a forma de comprimidos de 6mg; a dose indicada é de 200µg/kg em dose única, para pacientes com mais de 15kg de peso corporal, com eficácia acima de 85% de cura. Deve-se ressaltar que a ivermectina, por atuar primariamente em receptores GABAérgicos, é contra-indicada em pacientes com alterações do SNC (principalmente meningite que afeta a barreira hematoencefálica), durante a gravidez e amamentação. • Epidemiologia: A enterobíase tem ampla distribuição geográfica, podendo a prevalência estar entre 20 e 50% da população. Ela é mais comum em climas frios e temperados, em que o uso de roupa de baixo é mais constante e os banhos menos frequentes. Incide principalmente em escolares e pré-escolares, assim como nas pessoas que cuidam de crianças. Orfanatos, escolas e instituições que reúnem grande número de crianças costumam contar com grande número de casos. Os fatores responsáveis por essas situações são: a. somente a espécie humana alberga o E. vermicularis; b. fêmeas eliminam grande quantidade de ovcis na região perianal; c. os ovos em poucas horas se tornam infectantes, podendo atingir os hospedeiros por vários mecanismos (direto, indireto, retroinfecção); d. os ovos podem resistir até três semanas em ambiente domésticos, contaminando alimentos e "poeira"; e. o hábito de, pela manhã, se sacudir roupas de cama ou de dormir pode disseminar os ovos no domicílio. • Prevenção e controle: a roupa de dormir e de cama usada pelo hospedeiro não deve ser "sacudida" pela manhã, e sim enrolada e lavada em água fervente, diariamente;tratamento de todas as pessoas parasitadas da família (ou outra coletividade) e repetir o medicamento duas ou três vezes, com intervalo de 20 dias, até que nenhuma pessoa se apresente parasitada; corte rente das unhas, aplicação de pomada mercurial na região perianal ao deitar-se, banho de chuveiro ao levantar-se e limpeza doméstica com aspirador de pós, são medidas complementares de utilidade.
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