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Resenha O Estado Novo Maria Celina de Araújo

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Universidade Estácio de Sá 
 
 
 
 
 
 
 
 
	 
 
RESENHA: “O ESTADO NOVO” DE MARIA CELINA D’ARAÚJO
(PAGS: 7 – 39)
 HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO
 
 
 
 
Carolina Peeters Lubambo Ferreira – 201803299886
Felipe do Pinho Fraga das Neves - 201701076357 
 
 
 
 
Rio de Janeiro, RJ.
OUTUBRO/2020
	O livro “O Estado Novo” tem como principal objetivo mostrar a ascensão política de Getúlio Vargas, e seus artifícios para se manter no poder e instaurar a política do Estado Novo. Maria Celina D’Araújo, autora do livro, subdivide em assuntos a fim de marcar uma ordem cronológica no intuito de ajudar o leitor a entender melhor os processos. Os assuntos abordados neste trabalho serão: o que era novo no Estado Novo, como se montou o Estado Novo, o dia do golpe, a repressão politica e o cerco à direita, administração versus política e propaganda, educação e civismo. 
	Na primeira parte do texto, intitulada “O que era novo no Estado Novo”, a autora busca a compreensão do fim das ideologias políticas que se findavam no final do século XX, enquanto nas décadas de 1920 e 1930 nascia e se proliferava crenças ideológicas rígidas, dando ao mundo uma nova concepção de como o homem deveria ser, o papel do Estado na sociedade e o papel da sociedade para com o Estado. Tudo isso em contraponto a fragilidade que a sociedade liberal enfrentara devido a crise causada pela revolução russa, cuja a União Soviética que criara um novo polo econômico contrário ao capitalismo liberal, o comunismo, e que vinha conquistando cada vez mais seu espaço dentro do polo político e econômico do mundo. Em reação à essas duas ideologias, emergiam as doutrinas totalitárias de direita.
	O Estado Novo surgiria no Brasil como uma opção ideológica que se afastaria dos ideários comunistas e do capitalismo liberal, com o objetivo de predominar o princípio de que o Estado tinha e deveria ter qualidades superiores às do indivíduo e às da sociedade. Conforme a autora aponta, o Estado Novo que passava a vigorar no Brasil, flertava com as ideologias fascistas, que sobrepunha os interesses da nação aos das classes, dos indivíduos e dos grupos através de uma ação intervencionista do Estado. Nota-se, porém, que essa implementação não aconteceu de imediato, contudo, resultou no aparelho de repressão que já vinha sendo construído ao longo do tempo nos setores civis, intelectuais, políticos e principalmente militares. 
	Maria Celina também aponta a importância das corporações de ofício, cuja atividade econômica e o espirito de comunidade e sociabilidade teriam sido destruídos pela impessoalidade do mercado liberal, portanto o Estado Novo deveria ser uma solução para este problema, reconhecendo uma nova maneira de viver mais harmoniosamente e humano, porém sob a base de um Estado forte. Para que obtivesse sucesso, então os partidos deveriam ser substituídos por sindicatos, uma vez que os sindicatos teriam o controle das massas trabalhadoras. 
	Destaca-se também a importância da construção de uma identidade nacional, para que assim pudesse ser construído o nacionalismo. A ideia de um Estado-Nação forte era o caminho almejado para o século XX, e para ajudar nessa edificação, o autoritarismo político, combinado com uma ideologia nacionalista extremada, cultivou o culto da personalidade do chefe de Estado, ou seja, Getúlio Vargas era o rosto da nação brasileira, o único representante capaz de defender os interesses da nação.
Maria Celina aborda em “Como se montou o Estado Novo” a maneira que ele foi instituído por um golpe ocorrido em novembro de 1937. Se aproveitando de medo da ideologia comunista que crescia ao redor do mundo, e com alguns movimentos de pouca expressão ocorridos no Brasil, mas que fora o suficiente para incomodar alta cúpula da política. Se apoiando na ‘descoberta” no Plano Cohen – plano atribuído a um judeu-comunista – que expressaria uma revolução judaica-comunista no Brasil. Deste modo, alimentando-se do antissemitismo, anticomunismo e de um discurso que defendia a necessidade de um Estado forte capaz de defender a nação dos perigos externos.
A implantação do Estado Novo com o Golpe de 1937 não representou efetivamente uma ruptura, mas sim a consolidação de um processo de repressão que vinha sendo construindo lentamente. E o estopim para esses eventos de 1937 foi o Levante Comunista de Novembro de 1935, que ocorreu em três quarteis simultaneamente nos estados do Rio de Janeiro, Natal e Recife liderada pela ANL, uma frente de esquerda comunista liderada pelo Partido Comunista Brasileiro. Esse Levante foi essencial para servir como base de uma ameaça presente do Comunismo no Brasil, uma ameaça ainda maior por estar presente nas forças armadas trazendo assim a possibilidade de instaurar um grande conflito armado no Brasil para a implementação do Comunismo.
Por conta da dimensão do Levante e o anticomunismo ganhavam no Brasil, durante o período pré-golpe o país viveu a maior parte do tempo em estado de sítio, ou seja, as liberdades constitucionais revogadas, além disso, desde 1936 o Brasil contava com o Tribunal de Segurança Nacional (TSN), cujo objetivo era julgar os crimes contra a Nação em nome da segurança nacional, ou seja, toda e qualquer oposição – principalmente a esquerda – seria perseguida. 
Getúlio junto de seu grupo de apoio usou desses instrumentos excepcionais para poder interditar todos aqueles que apresentassem algum tipo de resistência contra o seu governo e reivindicar medidas liberalizantes ou descentralizadoras. Essas medidas geraram uma grande cassação de políticos opositores, jornalistas e intelectuais, muitos tem que deixar o país para escapar da prisão eminente. O “perigo comunista” de certa forma não foi inventado, mas foi usado como artificio para Getúlio caçar todos aqueles que evidenciavam e atrapalhavam sua intenção de permanência no poder.
O discurso anticomunista foi essencial para manter as forças armadas unidas para a decisão de uma solução de força. O Plano Cohen foi um movimento imediato que foi usado para consolidar o golpe, esse plano foi uma peça doutrinaria anticomunista que foi elaborada pelo serviço secreto da Ação Integralista Brasileira. O plano orquestrava de forma caricata o que seria um projeto judaico-comunista internacional para a tomada do governo, eles tinham como proposito instaurar uma nova sociedade ateia, contraria a ideia de família e a honra da mulher de caráter materialista. O plano não fora considerado por ser fantasioso e irreal, esse documento foi apropriado por chefes militares e divulgado na imprensa com autorização de Vargas como verdadeiro. Houve a tentativa de desmascarar esse plano fantasioso, por meio de alguns jornais e políticos, esclarecendo a tentativa de Vargas desferir um novo golpe contra a democracia brasileira. 
O Plano Cohen, mesmo que não tão convincente, justificou uma nova decretação do estado de guerra. Isso fez com que o regime civil que estava fragilizado e fragmentado uniria as elites civis e militares em prol da defesa da pátria, com essa ameaça eminente que gerava medo na população e legitimava as atitudes tomadas pelo presidente. O comunismo se torna o inimigo numero um e com isso são tomadas ações radicais para eliminar essa ameaça, realizando limpeza entre os militares, caçando patentes, efetuando demissões no serviço público e impondo uma censura rigorosa na imprensa.
Segundo D’Araújo menciona em “O dia do golpe”, tudo ocorreu de maneira tranquila, quase como se fosse um dia comum, tanto que a agenda social de Vargas não se modificou em nada, inclusive, ela fora jantar na embaixada argentina, que já estava previamente programado.
O discurso de Vargas fora transmitido a noite, durante a Hora do Brasil, e dizia que o golpe era inevitável, visto que o país não contava com ‘[...] meios defensivos eficazes dentro dos quadros legais” para solucionar a crise nacional”. (Araújo, 2000, p.23). Deste modo, defendia que tanto os velhos partidos, como os novos que se transformavam em velhos, não tinham um significavam nada ideologicamente, mantendo-seapenas sob os interesses individuais de seus partidários, e portanto, deveriam deixar de existir. Assim, o Brasil seria um Estado nacional forte e unitário, com o poder centralizado na figura do presidente.
Conforme explicado no texto por Maria Cecília, o golpe fora apoiado por ¼ dos membros do Congresso, assim como pelo fechamento do mesmo. Do mesmo modo que teve um amplo apoio civil e militar, devido ao respaldo social e ao bom desempenho administrativo. 
Após deflagração do golpe é anunciado pelos jornais que as bandeiras estaduais estariam sendo abolidas “Nem bandeiras nem emblemas. Só o pavilhão nacional poderá ser desfraldado em todo o país”. Dias depois dessa afirmação seguiu-se com a cerimônia de queimas das bandeiras, centralizando o poder na autoridade do chefe central e colocando fim no regionalismo e federação. Esse ato tem como intensão unir o Brasil como Estado nacional unitário obedecendo a apenas um senhor. A intensão de Getúlio era unificar e centralizar o país sob seu governo, como um ditador, a atitude dele de romper com o regionalismo e criar, mesmo que forçada, um Estado unitário serviu para reforçar uma identidade nacional do ser brasileiro. 
 A autora explica em “A repressão política e o cerco a direita” que em outubro de 1937 foi decretado estado de guerra e é criada a Comissão Executora do Estado de Guerra que é composta pelo ministro da justiça, um general e um almirante. Essa comissão mostra o nível radicalização e orientação policial que o governo estava tomando para eliminar qualquer tipo de oposição, essa comissão tinha como intuito prender qualquer um que estivesse realizando atividades suspeitas de comunismo e criar medidas preventivas para conter o fantasma do comunismo como colônias agrícolas de reeducação de comunistas não perigosos, campos de concentração militares para reeducação de simpatizantes do comunismo, prisões especiais para receber chefes e líderes marxistas, campos de concentração em molde escotistas para receber os filhos de comunistas e comissão de ensino para combater o comunismo nas escolas. A criação da Polícia Federal tinha como intuito inicial combater o comunismo em qualquer parte do país, propunha-se o arcabouço político de julgamento e prisão de todos os comunistas, todas essas medidas foi uma espécie de caça às bruxas.
 Os comunistas de início eram os principais vilões, mas com o passar do tempo e a forma que a direita vinha se mostrando como um obstáculo para Vargas também começou a ser caçada. A AIB (Ação Integralista Brasileira) se tornara grande beneficiaria do Golpe de 37, os integralistas apoiaram abertamente o Estado Novo, Plínio Salgado chega a retirar sua candidatura em favor de Getúlio Vargas. 
A AIB tinha interesse de militarizar a educação do país e chegam a cogitar colocar Plínio Salgado como ministro da educação, mas as coisas desandam quando Getúlio, em dezembro de 1937, decreta o fim dos partidos políticos e os integralistas são proibidos de portar armas. A AIB parte para o confronto porque ficam sem partido, sem armas e sem cargos no governo. Eles fazem uma tentativa fracassada de implementar um novo golpe em maio de 1938, conhecido como “putsch integralista”, em que realizam um atentado a residência presidencial, o Palácio da Guanabara. O atentado é liderado por integralistas, mas tem apoio de opositores ao governo, como o General Euclides Figueiredo, e a tentativa de manter a família de Vargas como refém é fracassada por Eurico Gaspar Dutra. 
As consequências dessa ação foi a criação da guarda pessoal para o presidente, e um grupo de gaúchos leais a Vargas foi chamado para fazer a sua segurança. Sob a direção de Gregório Fortunato, a guarda fazia parte da esfera pessoal de Vargas e não precisava depender do Exército ou da Polícia. 
Após o atentado ao Palácio da Guanabara os integralistas começaram a ser perseguidos e submetidos ao TSN, cerca de 1.500 integralistas foram presos e 200 condenados a penas de dois a oito anos e Plínio Salgado se exilou em Portugal para não ser caçado no Brasil. Para os envolvidos no Levante, foram atribuídas penas maiores do as dos integralistas, destaca-se o caso de Olga Benário Prestes, que mesmo casada com um cidadão brasileiro, Luiz Carlos Prestes, aliado do Komitern no Brasil e um dos principais líderes do PCB, e estando grávida, foi deportada para a Alemanha Nazista. O destino de Olga, que tinha além de ser comunista, era de origem judaica, foi a câmara de gás do campo de extermínio em Ravensbruck, mas sua filha Anita foi resgatada por seus parentes brasileiros.
Em “Administração versus política” vemos que o Estado Novo tinha um projeto inovador no ponto de vista administrativo, mas conforme Maria Celina explica, contraditoriamente o clientelismo continuava presente dentro da politica administrativa, embora novas medidas fossem tomadas. De todo modo a propaganda do governo enfatizava com veemência o lado inovador e revolucionário de Estado Novo no que dizia a respeito da modernização.
Dentre essa modernização, pode-se destacar o estabelecimento de concursos públicos, a estabilidade no emprego e o mérito. Estas medidas vinham como resposta às experiências oligárquicas que vigoraram por tanto tempo no Brasil, e assim, se evitaria o nepotismo e as instabilidades administrativas. O objetivo dessa medida era a manutenção de quadro de funcionários bem treinados e permanentes, que tornaria a máquina pública mais eficiente e blindada ao nepotismo que ocorria durante o período da República Velha, que atendia apenas pelos interesses das oligarquias. De todo modo, ainda que o discurso exaltasse a modernização da administração do Estado Novo, o regime ainda convivia com as formas clientelistas, principalmente nas nomeações de cargos políticos de confiança.
Ainda assim, nos anos anteriores as novidades administrativas aconteciam com mais força nos interesses voltados para as políticas industriais, planejamento econômico e diversificação. Além disso, a centralização administrativa e intervencionista do Estado, passou a ter uma dimensão nacional que apesar não de ser não uma novidade, foi o ápice da política do Estado Novo.
Em “Propaganda, civismo e educação” a autora apresenta um pouco das políticas do Estado Novo voltado para a área educativa, e como a educação influenciaria no civismo da população, além, é claro, do papel da propaganda na construção da figura de Getúlio Vargas. Tanto que pode-se notar a ambiguidade que acontecia dentro da política do Estado novo dentro da esfera cultural e educacional. Com o intuito de criar uma identidade nacionalista e autônoma, vários projetos desenvolvidos pela esquerda e por progressistas foram implementados, e diversos intelectuais como Mario de Andrade, Manuel Bandeira, Villa Lobos, entre outros foram convidados a participar do governo.
A educação dos jovens do Brasil estava sempre diretamente ligada com o civismo, e com a preocupação de protege-los das influências externas. Medidas como a proibição do ensino de línguas estrangeiras nas escolas e a instauração do português como língua oficial em todas as cerimônias públicas, são alguns exemplos. Essas medidas tinham como principal objetivo de atingir as comunidades estrangeiras que tinham no Brasil, ainda mais que elas podiam expressar as vontades de seus países natais no território brasileiro. 
Também foram criadas cerimônias cívicas para mobilizar os jovens a favor do governo, e apesar de não haver nenhuma organização paramilitar, eles foram presenças uniformizadas constantes em diversas manifestações que a maquina de propaganda do Estado Novo inventou. Nessas manifestações o culto a Getúlio Vargas, tornava-se quase que um louvor religioso ao país e ao chefe de Estado.
A estratégia de culto a personalidade criada pela maquina de propaganda do governo pintava Vargas para os jovens e crianças como um ser superior, e desta forma durante o Estado Novo que o mito Getúlio Vargas foi criado, naturalmente, seu carisma e simpatia perante o povo ajudou nessa construção.
Com a chegada da Segunda Guerra Mundial,o controle pela migração aumentou, e um sistema de cotas foi institucionalizado, a fim de impedir a entrada principalmente de japoneses e judeus que tentavam fugir. A nacionalização da escola e monitorada de perto pelo governo era a porta de entrada para a construção da nacionalidade e para a hegemonia nacional, que controlaria as influências externas, que poderia advir da multiculturalidade.
A máquina da propaganda foi uma importante ferramenta durante o Estado Novo e para a manutenção dele. O DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) era o principal aparelho que efetuava propaganda de massa, além de ser o órgão que impunha a censura a todos os veículos da imprensa. A censura fora de suma importância para o regime, visto que o DIP não só preparava todo o material de propaganda do governo, como também controlava todos os censores de matérias impressas e faladas, além de censurar a oposição.
Por fim, pode-se perceber que a ascensão de Vargas não se deu do nada, e sim adveio de um momento de crise e instabilidade política, gerando uma série de transformações no país, e a criação de um mito em cima da figura de Getúlio, que ajudou a contribuir para a formação de uma nova identidade nacional.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: 
ARAÚJO, Maria Celina D'. O Estado Novo. 1. ed. Rio de Janeiro: 2000, 20--?. 7-39 p. v. II.

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