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Uma introdução à Filosofia da Religião

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7 
“Eu só acreditaria em um Deus que soubesse dançar.”
Friedrich Nietzsche
O que nasceu primeiro: a filosofia ou a religião? Resposta difícil.
O livro que você tem em mãos não pretende oferecer essa resposta. 
Talvez ajude você a caminhar na busca de mais perguntas; no entanto, 
serão perguntas maravilhosas, com sentido, necessárias.
Como seria bom se toda ciência tivesse a coragem de dialogar com 
a filosofia, entendendo que não seria um diálogo, como muitas vezes 
acontece, para procurar o que diz Sócrates ou Platão, por exemplo, 
sobre justiça, medicina etc. Não! Isso é um uso banal da filosofia. Esse 
diálogo de que falo é mais que um diálogo; é a coragem para deixar-se 
questionar e buscar sentido em todas as ciências e aí, sim, acreditar que 
pode haver uma filosofia do direito, uma filosofia da administração e 
uma filosofia da religião.
Quando uma ciência busca questionar-se por sua essência, dimen-
são teleológica e papel no mundo atual, então podemos dialogar com a 
filosofia. O texto que você tem em mãos procura fazer exatamente isso. 
O autor não “utiliza” a filosofia ou a religião para doutrinar interessados 
no assunto. 
Trata-se de uma busca questionadora. O texto tem a coragem de 
mostrar aspectos que nem sempre teólogos e religiosos estão interes- 
sados em destacar. E, ao assim proceder, o faz questionando. Eis talvez 
a primeira grande função da filosofia e dos filósofos: questionar e dei- 
xar-se questionar, não ter medo de receber a pergunta, encará-la e voltar 
a aprender com os dois grandes mestres da maiêutica, Sócrates e Jesus, 
que questionar é viver!
Prefácio
8
Trata-se de uma busca crítica. O texto é crítico porque estabelece 
critérios. Essa é a primeira função da crítica: estabelecer critérios. Nesse 
sentido, o texto é claro, pedagógico, indica caminhos, propõe problemas, 
indica bibliografia para aprofundar os temas, propõe exercícios e deseja 
que todos aprofundem a reflexão. Nossa sociedade está assentada na cul-
tura da não crítica. Desde crianças, aprendemos que viver em sociedade 
é estar conformado com tudo; é assim na família, na escola, no namoro, 
no casamento e ainda mais nas igrejas e religiões. Esquecemos que nos-
sos fundadores, tanto os da filosofia como os da religião, foram grandes 
críticos de seu tempo e de sua sociedade e por essa razão entenderam 
que, se questionar é viver, criticar é viver com sentido.
Trata-se de uma busca radical. É no próprio texto que encontramos 
esse significado tão profundo e caro para a filosofia: toda filosofia só pode 
ser filosofia se for radical, ou seja, se buscar as verdades desde suas raízes. 
Aqui não pode haver superficialidade, cosméticos, suborno e nenhuma 
forma de corrupção. A natureza deste livro exige radicalidade, e o autor 
a segue de maneira brilhante. Não escamoteia as críticas que a religião, 
Deus, as igrejas e a espiritualidade sofrem na sociedade contemporânea, 
e por essa mesma razão consegue caminhar, não na linha da solução ou 
de apresentar teologias apologéticas, mas buscando, na própria essên-
cia humana, as razões para erguer as mãos e clamar pelo mistério, pelo 
inefável, pelo desconhecido. Então podemos afirmar que, se questionar 
é viver e criticar é viver com sentido, ser radical é questionar, criticar e, 
ainda mais, é bailar à música mágica do amanhã.
Desejo uma excelente, prazerosa, religiosa e filosófica leitura!
Luiz LoNguiNi Neto
Professor de filosofia na Universidade Presbiteriana Mackenzie
Rio de Janeiro
9 
A religião tem proporcionado ao longo de sua história as experiências 
mais profundas e paradoxais que um ser humano pode experimentar. 
Qualquer pergunta sobre a cultura, a política, as artes, a economia, as 
ideologias pode muito bem ser argumentada tomando por base a presença 
e a influência da religião, seja em sua expressão individual, seja em sua 
representação institucional. Portanto, falar sobre a existência humana 
constitui um desafio de falar também sobre as expressões religiosas 
presentes em toda a sua radicalidade.
Em certo sentido, quando Marx diz que a crítica à religião é a 
última e mais importante crítica, ele está demonstrando a centralidade 
do elemento religioso para a vida das pessoas e das sociedades. Tal 
importância justifica a contínua preocupação que a filosofia tem com 
a religião. Aliás, antes mesmo de qualquer outra reflexão menos ou 
mais científica, foi a filosofia que se debruçou sobre tal expressão da 
vida humana em relação à(s) divindade(s). Sem incorrer em nenhum 
equívoco, podemos dizer que na origem mesmo da filosofia está a 
experiência tipicamente religiosa do espanto acerca da realidade e do 
esforço por nomear suas origens. O que a filosofia fez foi desdobrar tal 
espanto e esforço em uma atividade mais racional e autônoma.
Dos longínquos tempos anteriores a Sócrates até os fluidos dias de 
nossa cultura pós-moderna, a religião nunca saiu da pauta da filosofia. 
Ora como rainha, ora como vassala, sempre esteve ali impondo sua 
desejada ou incômoda presença. Ao longo deste livro, pretendemos 
olhar essa história de amores e ódios entre filosofia e religião através de 
lentes cristãs. Explicitar a perspectiva da qual pensamos é fundamental 
para que nossas colocações ganhem identidade própria: a do cristão que, 
sem abdicar dos instrumentais críticos, olha para tal história orientado 
por certa teleologia. Ou seja, mesmo tratando da religião em perspectiva 
Introdução
10
filosófica, fazemos isso sem intencionar nenhuma neutralidade, o que 
seria no final da contas mera ilusão. 
Refletimos, portanto, perguntando por Deus, que afinal subjaz às 
experiências religiosas presentes na história da humanidade. Já que 
confessamos partir de um lugar específico, não nos acanhamos em 
nomear o Real de Deus. Fazemos tal nomeação, contudo, sem ima- 
ginar que ela dê conta desse Real, mas ao menos de certa faceta dele. 
Assumimos certamente o anseio existencial relacionado à reflexão 
travada ao longo deste livro. Tentando melhor expressar essa condição 
que determina toda a nossa escrita, dizemos:
Deus!
Digo...
De onde vens?
Por que prossigo?
Por que persigo
E te chamo
Se tu
Em silêncio
Não respondes
????????????????????
Não respondes
Não queres
Estás?
Por que chamo?
E persigo?
Preciso ou não estou?
Com certezas oscilantes ou dúvidas precisas, não nos furtamos em 
nenhuma página a enfrentar a presença de Deus na história da formação 
do pensamento ocidental, tanto em seus momentos úmidos quanto nos 
ventos áridos e ressequidos. Nas palavras de Mario Quintana:
11 
Eles ergueram a Torre de Babel
Para escalar o Céu,
Mas Deus não estava lá!
Estava ali mesmo, entre eles,
Ajudando a construir a torre.1 
Nosso convite despretensioso a você, caro leitor ou leitora, é de tomar 
pela mão direita a irmã dúvida — com suas vestes da cor do juízo — e 
pela mão esquerda a esperança — com seu véu bordado pelas contas 
da fé — e, dessa forma, caminhar nas sendas do Mistério gentilmente 
apresentado à razão humana.
 1 QUINTANA, Mario. 80 anos de poesia. 13. ed. São Paulo: Globo, 2008.
RESUMO DO CAPÍTULO 1
Ao longo do capítulo 1, “Introdução à filosofia 
da religião”, trabalhamos a questão de aproximação 
a este importante campo da reflexão filosófica que 
é a filosofia da religião.
Para tal aproximação, percorreremos ao longo 
deste capítulo os seguintes temas:
• Algumas perspectivas acerca da religião
• Alguns pressupostos da filosofia diante da 
religião
• Conceituações descritivas da religião
• O ser humano diante da religião: a formação 
do Homo religiosus
• Relações entre filosofia e religião: uma primeira 
conclusão
A principal intenção deste capítulo é oferecer ao 
leitor alguns instrumentos que possibilitem uma boa 
leitura de todo o livro.
15 
1.1 Algumas perspectivas acerca da religião
A religião, como fenômeno humano, está presente na história 
de todos os povos ao longo de todos os tempos. Essa presença, longe de 
ser secundária, estruturou — e ainda estrutura — culturas, sendo-lhesgeradora de sentido e plausibilidade. Exatamente por isso, a religião vem 
sendo estudada pelas mais diversas expressões da ciência, sobretudo 
das ciências humanas e sociais. Dentre essas, queremos destacar algu- 
mas: teologia, apologética, fenomenologia e filosofia. Sem dúvida, ao 
longo da História foram essas expressões da ciência que de forma mais 
contundente se debruçaram sobre o estudo do fenômeno religioso.
• Teologia: estuda os fatos da experiência que são interpretados 
em forma de doutrina. “Como ciência, a teologia parte do dado 
da fé; por isso, pretende falar a partir de Deus, a partir da relação 
que ele estabelece com o ser humano.”1 A teologia como ciência 
utiliza os dados da fé (da revelação), mas se fundamenta na razão: 
seu ponto de partida é a fé, mas seu método é racional.
• Apologética: demonstra que determinada perspectiva (doutrina) 
da teologia é a verdade. Defende a veracidade daquilo que é 
Capítulo 1
Introdução à 
filosofia da religião
1 croatto, José Severino. As linguagens da experiência religiosa. São Paulo: 
Paulinas, 2001. p. 22.
16
crido em determinada denominação e expresso num código ou 
declaração doutrinária. “Algumas pessoas fazem distinção entre 
apologética positiva, que se propõe a provar a verdade do cristia- 
nismo, e apologética negativa, que apenas procura remover as 
barreiras à fé respondendo às críticas.”2 
• Fenomenologia da religião: estuda os fatos religiosos com base em 
sua intencionalidade e pergunta pelo significado do fato religioso 
para o Homo religiosus.3 “A fenomenologia parte necessariamente 
dos fenômenos religiosos (fatos, testemunhos, documentos), con- 
tudo explora especificamente seu sentido, sua significação para o 
ser humano específico que expressou ou expressa esses mesmos 
fenômenos religiosos.”4 
• Filosofia da religião: estuda as origens e o conteúdo dos fa- 
tos da experiência. Analisa a religião propriamente dita em 
suas relações com outras fases da vida. A filosofia da reli- 
gião preocupa-se com o Absoluto, não como encontro com 
ele, nem como Deus, mas como o Ser e o fundamento da
realidade. A filosofia da religião, 
como expressão do saber humano, 
muitas vezes estimulada pela racio- 
nalidade crítica, fala de Deus e do ser 
humano religioso. É um saber cons- 
truído com base na reflexão autôno- 
ma, não um compromisso de fé. Por 
isso, não substitui o ato religioso, mas 
reflete criticamente a respeito dele.5 
2 Evans, C. Stephen. Dicionário de apologética e filosofia da religião. São Paulo: 
Vida, 2004. p. 13. 
3 Designação da fenomenologia da religião para o crente de determinada religião.
4 croatto, op. cit., p. 25.
5 Cf. Ibid., p. 22.
dicas de Leitura
croatto, José Severino. As lin-
guagens da experiência religiosa. 
São Paulo: Paulinas, 2001.
Evans, C. Stephen. Dicionário de 
apologética e filosofia da religião. São 
Paulo: Vida, 2004.
PeNNa, Antônio Gomes. Em busca 
de Deus: introdução à filosofia da re-
ligião. Rio de Janeiro: Imago, 1999.
17 
O esquema a seguir ajuda na visualização das diferentes abordagens 
do fenômeno religioso e da relação que mantêm entre si:
D
ife
re
nt
es
 a
bo
rd
ag
en
s 
e 
ra
m
os
 d
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sa
be
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ao
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o 
do
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nô
m
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o 
re
lig
io
so
{ {
Estudo 
positivo
do fenômeno 
ou fato 
religioso:
Ciência 
das religiões 
 
Reflexão 
normativa
sobre o 
fenômeno
ou fato 
religioso 
Nível científico:
Estudo analítico,
com base em 
perspectivas 
diferentes.
Nível 
fenomenológico:
Estudo sintético, 
global, do fenômeno 
religioso.
História das 
religiões
 
Perspectiva 
histórica
Sociologia 
da religião
Perspectiva 
sociológica
Fenomenologia 
da religião
Perspectiva 
do fenômeno 
tal como 
se apresenta.
Filosofia da religião
Perspectiva filosófica 
(questionamento e estudo do 
fenômeno buscando as origens 
e o conteúdo dos fatos da 
experiência).
Teologia
Formação de doutrinas.
{
{
{
18
Exercício
Descreva as principais características da teologia, da apologética, da 
fenomenologia da religião e da filosofia da religião. O que diferencia a 
filosofia da religião das demais áreas de estudo da religião?
 ______________________________________________________
 ______________________________________________________
 ______________________________________________________
 ______________________________________________________
 ______________________________________________________
 ______________________________________________________
1.2 Alguns pressupostos da filosofia diante da religião6
A filosofia da religião, como expressão crítica da reflexão humana 
sobre o fenômeno religioso, norteia-se por um conjunto de pressupostos. 
Identificar adequadamente esses pressupostos é fundamental para que 
seu discurso não se confunda com o discurso religioso em si, aquele 
que é feito pelo fiel — a quem estamos chamando de Homo religiosus. 
Sem pretender apresentar uma lista exaustiva de pressupostos para a 
reflexão filosófica acerca do fenômeno religioso, passamos à exposição 
de alguns que julgamos fundamentais:
• A filosofia da religião ou o estudo filosófico da religião baseia-se na 
pressuposição de que a religião e as ideias religiosas, pertencentes 
primariamente à esfera do sentimento e à experiência prática, po- 
dem ser também objetos da interpretação científica ou racional.
• O estudo filosófico da religião pressupõe também que, embora a 
religião e filosofia estudem os mesmos assuntos, a atitude humana 
para com eles é diferente em cada caso. Na religião, esses assuntos 
se apresentam como realidades imediatas e objeto de devoção e 
gozo espiritual; ao passo que, na filosofia, esses mesmos assuntos 
se apresentam como objeto de reflexão, apreensão intelectual e 
mesmo pesquisa especulativa.
6 Cf. ziLLes, Urbano. Filosofia da religião. São Paulo: Paulus, 1991. p. 17-19.
19 
• Todo sentimento, seja moral, seja estético, seja religioso, por 
sua própria natureza já envolve algum conhecimento, embora 
seja este apenas implícito ou virtual. Cabe à filosofia elucidar 
esse conhecimento implícito, trazendo-o da esfera da intuição 
imediata, na qual a mente ainda é inativa e unida a seu próprio 
objeto, para uma esfera mais elevada e consciente, na qual a mente 
se distingue de seu objeto e busca unir-se a ele de modo mais 
profundo e indissolúvel. É mediante uma interpretação racional 
que o ser humano entra na posse do conteúdo de seu próprio 
sentimento ou da experiência empírica.7
• O objetivo da filosofia da religião é alcançar a verdade (a realidade 
em si) que está implícita ou oculta por trás dos fenômenos ou das 
experiências religiosas empíricas. A filosofia da religião visa al- 
cançar a essência ou o significado final dessas mesmas experiências. 
A filosofia não se contenta com aquilo que apenas parece ser, 
mas com aquilo que realmente é. Ela visa chegar, por meio do 
raciocínio, ao conhecimento, positivo ou negativo,8 da causa da 
experiência religiosa. 
Exercício
Cite os principais pressupostos da filosofia diante da religião.
 ______________________________________________________
 ______________________________________________________
 ______________________________________________________
7 Cf. PeNNa, Antônio Gomes. Em busca de Deus: introdução à filosofia da religião. 
Rio de Janeiro: Imago, 1999. p. 23-36.
8 Ao longo da história da filosofia, surgiram diversos posicionamentos acerca da 
religião e de sua plausibilidade. Esses posicionamentos são basicamente de na- 
tureza positiva, simpatia ou defesa da religião, ou de natureza negativa, descrendo 
abertamente ou tomando como impossível a verificação da experiência humana 
com alguma realidade transcendente. Para aprofundar essa temática, v. as obras 
de Urbano ziLLes, Filosofia da religião cit., e Teoria do conhecimento, Porto 
Alegre: EDIPUCRS, 2005.
20
 ______________________________________________________
 ______________________________________________________
 ______________________________________________________1.3 Conceituações descritivas da religião
Este grupo de conceituações procura descrever a religião em termos 
de seu significado central ou caráter essencial, não tendo como intenção 
simplesmente desacreditá-la.9
• Religião é crença: a religião tem sido definida por muitos como 
sendo aquilo que um indivíduo crê a respeito de coisas últimas. 
Religião é “uma crença em um poder sobre-humano invisível 
[...] juntamente com os sentimentos e práticas que decorrem 
naturalmente de tal crença”.10 Mas, conquanto a crença e con- 
vicções sejam importantes elementos da religião, não represen- 
tam sua globalidade.
• A religião pertence à natureza e es- 
trutura humanas: assim como o ser 
humano tem várias capacidades que 
expressam sua natureza e seu ser — por 
exemplo, como pensador, técnico e 
artista —, da mesma forma é dotado 
da capacidade religiosa. Ele não pode 
explicar direito essa capacidade, mas a 
tem. O ser religioso pertence ao equi- 
pamento que a natureza lhe concedeu. 
Isso não quer dizer, entretanto, que 
todos têm o mesmo grau de percep- 
ção religiosa. Alguns têm um sentido
dicas de Leitura
BoFF, Leonardo. Tempo de trans- 
cendência: o ser humano como um 
projeto infinito. Rio de Janeiro: Sex- 
tante, 2000.
otto, Rudolf. O sagrado. Petró- 
polis: Vozes, 2007.
schLeiermacher, Friedrich. Sobre 
a religião. São Paulo: Novo Século, 
2003.
tiLLich, Paul. Dinâmica da fé. São 
Leopoldo: Sinodal, 2001.
9 Em seguida, trataremos dos diversos posicionamentos filosóficos diante da 
religião, incluindo as perspectivas antagônicas caracterizadas pelo ateísmo e 
agnosticismo.
10 Dicionário Webster, verbete “Religião”.
21 
mais profundo; outros, menos. Não se pode negar, contudo, que 
o ser humano demonstra comportamento religioso.
• Religião é nossa consciência da responsabilidade moral: 
Immanuel Kant defendeu a ideia de que a religião está arraigada 
na consciência de nossa responsabilidade moral. Durante nossa 
vida terrena, somos repetidamente confrontados com o “deves” 
misterioso, o imperativo categórico que nos ordena a fazer 
aquilo que é moralmente correto ou justificável.11 O ego procura 
desculpar-se e escapar da tirania desse amo tão severo, mas 
nunca é bem-sucedido na tentativa de silenciar essa voz acusadora. 
A religião é o resultado do reconhecimento dessa autoridade por 
parte do ser humano.
• A religião está relacionada com nosso caráter emocional: 
a condição religiosa se dá porque o ser humano é capaz de 
compreender que o Universo é grande diante de poderes que são 
imensamente maiores que os seus próprios. O relacionamento 
entre a humanidade e a natureza é recíproco; em sua imaginação 
simplista, o ser humano supõe que este mundo fantástico está 
cheio de poderes amigos e hostis.12
• Religião é o sentimento humano com relação às coisas de cará- 
ter último: há ainda afirmações que identificam a religião como 
o modo de a humanidade expressar seus sentimentos sobre coisas 
de caráter último. Friedrich Schleiermacher, teólogo alemão do 
início do século XIX, deixou-nos uma nota de grande influência 
quando conceituou religião como “um sentimento de dependência 
absoluta”.13
11 Cf. KaNt, Immanuel. Crítica da razão prática. São Paulo: Martin Claret, 2001. 
p. 67-116; e, A religião nos limites da simples razão. Lisboa: Edições 70, 1985. 
p. 101-129.
12 Essa é basicamente a definição de religião derivada do sentimento anímico próprio 
das sociedades primitivas.
13 Cf. schLeiermacher, Friedrich. Sobre a religião. São Paulo: Novo Século, 2003.
22
Ênfase um tanto quanto semelhante foi dada por Rudolf Otto, em seu 
livro O sagrado, no qual ele considera ser a religião essencialmente um 
sentimento de temor e mistério resultante de alguma forma de contato 
com o infinitamente OUTRO.14 
Exercício
Escolha uma das caracterizações da religião e justifique sua predi- 
leção.
 ______________________________________________________
 ______________________________________________________
 ______________________________________________________
 ______________________________________________________
 ______________________________________________________
• Religião é consciência do transcendental: para entender o signi- 
ficado da frase, é bom definirmos os termos, pois transcendente 
pode significar duas coisas:
1. Diz-se que algo é transcendente se vai além, ou se é algo mais, 
do que a consciência imediata de alguém.15
2. Algo é transcendente no sentido religioso quando é recebido 
pelo indivíduo como possuindo um caráter último. No dizer de 
Paul Tillich, é aquilo que toca a pessoa incondicionalmente e 
que não se pode controlar.16
 
14 Cf. otto, Rudolf. O sagrado. Petrópolis: Vozes, 2007. p. 40-63.
15 Cf. BoFF, Leonardo. Tempo de transcendência: o ser humano como um projeto 
infinito. Rio de Janeiro: Sextante, 2000. p. 41-52. No capítulo 7 deste livro, 
intitulado “Lugares privilegiados de experiência da transcendência”, o autor 
trabalha a ideia da transcendência que se dá nos limites da realidade propriamente 
humana. 
16 Respondendo à pergunta “O que é a fé”, Paul Tillich afirma: “Fé é estar possuído 
por aquilo que nos toca incondicionalmente” (Dinâmica da fé. São Leopoldo: 
Sinodal, 2001. p. 5).
23 
1.4 O ser humano diante da religião: a formação do Homo 
 religiosus
A experiência religiosa, como expressão mais radical do ser humano 
diante da realidade de sua existência, é estruturante. Em outras palavras, 
a experiência religiosa é a espinha dorsal da vida dos que expressam 
algum tipo de fé. Em razão de tal centralidade, elencamos algumas 
características da forma do Homo religiosus:
• Somente o ser humano demonstra comportamento religioso 
(o ser humano como Homo religiosus): somente o homem e 
a mulher, dentre as várias formas de vida existentes, exibem 
comportamento religioso. Todas as culturas pesquisadas e regis- 
tradas pelos antropólogos parecem demonstrar algum tipo de sen- 
timento religioso, embora diferentes em sua expressão cultural da 
religião tradicional da cultura do Ocidente.
• Religião é a resposta dada às questões de caráter último do 
Homo religiosus: um importante aspecto, de caráter distintivo, 
do ser humano é que ele é um sujeito autoconsciente. Nunca o 
homem é simplesmente uma peça de seu ambiente, mas ele tem 
condições de destacar-se e até mesmo contraditar seu ambiente. 
A religião é para esse ser consciente a resposta dada às questões 
últimas, tais como: Qual o significado de minha existência? O 
que fazer de minha vida? Por que estou aqui? Em suma, a religião 
oferece respostas às questões de origem e finalidade do ser hu- 
mano e do meio em que ele vive. Nesse sentido, a religião pode 
ser descrita como o significado último da existência humana. 
• O Homo religiosus e o desejo do absoluto: a resposta religiosa 
possui a qualidade do absoluto, tem caráter último. Tillich descre- 
veu a religião como uma atitude de preocupação última.17 Uma 
resposta religiosa é absoluta ou última em dois sentidos: 1) ocupa 
a prioridade mais elevada na hierarquia de preocupações que 
constituem uma personalidade; 2) permeia a vida como um todo.
17 Dinâmica da fé cit.
24
Exercício
Diga o que você entende por Homo religiosus.
 ______________________________________________________
 ______________________________________________________
 ______________________________________________________
 ______________________________________________________
• O Homo religiosus e a linguagem simbólica: a linguagem da 
religião é fundamentalmente simbólica, diferentemente, por exem- 
plo, da linguagem da ciência, que lida primordialmente com a 
linguagem postulacional.18 A pessoa religiosa fala da realidade 
última por meio de metáforas e analogias, buscando dizer aquilo 
que é propriamente indizível.19 Daí ser a linguagem simbólica a 
única adequada para expressar o fenômeno religioso.
1.5 Relações entre filosofia e religião: uma primeira conclusão
Segundo Martin Buber: 
A religião, mesmo que o “Incriado” não seja expressocom boca e com 
alma, fundamenta-se na dualidade Eu-Tu; a filosofia, mesmo quando o 
ato filosófico desemboca em uma visão de unidade, fundamenta-se na 
dualidade sujeito-objeto [...]. A primeira nasce da situação primordial do 
18 Há, porém, uma discussão acerca da condição simbólico/analógica da pró- 
pria ciência. Essa discussão se dá na contramão do modelo positivista da ciência 
(cf. aLves, Rubem. Filosofia da ciência: introdução ao jogo e a suas regras. São 
Paulo: Loyola, 2005). Numa direção semelhante, podemos ainda citar a filosofia 
pragmática, em especial o pensamento de Richard Rorty (Verdade e progresso. 
Barueri: Manole, 2006.) A principal ideia dessa obra é que a ciência não lida 
com o problema da verdade, mas com a resolução de problemas relacionados a 
determinado tempo e espaço.
19 Falando sobre a natureza da linguagem religiosa, João Batista Libânio diz o seguinte: 
“Prefere a linguagem simbólica, ama o ícone [...]. Fala à inteligência, mas pretende 
aquecer as fibras do coração” (Introdução à teologia: perfil, enfoques, tarefas. São 
Paulo: Loyola, 1999. p. 89).
25 
indivíduo: ele em presença do ente que aponta para ele e para quem ele 
aponta; a segunda surge da divisão desse conjunto em duas maneiras de 
ser inteiramente diferentes: um ser que esgota sua capacidade no obser-
var e refletir, e outro que não consegue outra coisa senão ser observado 
e ser refletido. Eu e Tu subsistem graças à concretude vivida e dentro 
dessa concretude; sujeito e objeto, produtos da força de abstração, só 
duram enquanto dura a abstração.20
Essa distinção buberniana de Eu-Tu e sujeito-objeto aponta para certa 
especificidade tanto da religião quanto da filosofia. Enquanto a primeira 
se inscreve na dimensão do vivido e do concreto, a segunda opera na 
dimensão da abstração, ou seja, na reflexão distanciada acerca daquilo 
que é vivido por outro.
É próprio, portanto, da reflexão 
filosófica sobre a religião certo dis- 
tanciamento reflexivo que se jus- 
tifica com base na tarefa crítica da 
filosofia. A filosofia quer, portanto, 
inquirir da religião suas razões. No 
entanto, isso não se faz pelo olhar 
do cristão, mas do olhar do crítico. 
Ou seja, quem faz a pergunta a faz 
não como quem vive certa práti- 
ca, mas como quem a observa com 
certa distância e abstração.
Nesse sentido, cabe a pergunta 
pelo significado da religião. Afinal de 
contas, o que é religião? Urbano Zilles propõe a seguinte concei- 
tuação:
MARTIN BUBER
(1878-1965)
Martin Buber nasceu em Viena, 
em 1878. Foi um dos mais importan- 
tes filósofos judeus do século XX. Tal 
era o poder de sua palavra escrita e 
oral que, durante a Primeira Guerra 
Mundial, muitos jovens escreve- 
ram-lhe procurando ajuda em difíceis 
crises morais, religiosas e políticas. 
Suas respostas eram vistas como as 
de uma autoridade que estava acima 
das ideologias da época. Martin Buber 
é muito conhecido por sua principal 
obra filosófica I and Thou [Eu e Tu], 
publicada em 1923. Martin Buber mor- 
reu em 1965.
20 BuBer, Martin. Eclipse de Deus: considerações sobre a relação entre religião e 
filosofia. Campinas: Verus, 2007. p. 32.
26
No fundo de toda a situação verdadeiramente religiosa, encon- 
tra-se a referência aos fundamentos últimos do homem: quanto à ori- 
gem, quanto ao fim e quanto à profundidade. O problema religioso toca 
o homem em sua raiz ontológica. Não se trata de fenômeno superficial, 
mas implica a pessoa como um todo. Pode caracterizar-se o religioso 
como zona do sentido da pessoa. Em outras palavras, a religião tem a 
ver com o sentido último da pessoa, da história e do mundo.21
Ao falar de religião, ao menos do ponto de vista filosófico, não se 
deveria reduzi-la a nenhuma outra realidade que não seja a si mesma. 
É precisamente com base nessa experiência de incondicionalidade que a 
filosofia da religião se aproxima do fenômeno religioso. Isso, porém, não 
significa que a filosofia da religião deva ter o olhar do cristão, que seria 
próprio do teólogo. A filosofia da religião intenta abstrair das funções 
religiosas suas categorias centrais.
Filosofia da religião é doutrina das fun-
ções religiosas e de suas categorias. Teolo-
gia é apresentação normativa e sistemática 
da plenificação concreta do conceito de 
religião.22
A distinção entre filosofia da reli- 
gião e teologia é fundamental. Se ela 
não for efetivamente realizada, acaba 
havendo algum tipo de cooptação de 
discurso, seguido de instrumentalização ideológica. Severino Croatto 
faz a seguinte distinção:
A filosofia da religião preocupa-se com o Absoluto, não como “en-
contro” com ele, nem como Deus, mas como o Ser e o fundamento de 
dicas de Leitura
BuBer, Martin. Eclipse de Deus. 
Campinas: Verus, 2007. 
croatto, José Severino. As lin- 
guagens da experiência religiosa. São 
Paulo: Paulinas, 2001. Cap. 1.
ziLLes, Urbano. Filosofia da reli- 
gião . São Paulo: Paulus, 1991. 
Cap. 1.
21 ziLLes, Filosofia da religião cit., p. 6.
22 Ibid., p. 7.
27 
toda realidade. O ponto de vista, ou a via de acesso, é sempre racio- 
nal [...]. A filosofia da religião fala de Deus e do ser humano religioso. 
É um saber, não um compromisso.23
Como ciência, a teologia parte do dado da fé; por isso, pretende 
falar a partir de Deus, a partir da relação que ele estabelece com o 
ser humano [...]. A teologia, como ciência, “utiliza” os dados da fé 
(da revelação), mas se fundamenta (como a filosofia) na razão. Seu 
ponto de partida é a experiência de fé (diferente da filosofia), mas 
seu método é racional.24
a questão do PoNto de Partida é decisiva
A filosofia da religião parte da razão, enquanto a teologia 
parte da experiência de fé. O ponto de partida da teolo- 
gia pressupõe a revelação. No caso do cristianismo, por exem- 
plo, a revelação significa a penetração do incondicionado 
no condicionado. A filosofia da religião se encontra com 
a revelação, não podendo dar a ela a mesma resposta que 
a teologia. O que a filosofia da religião faz é estudar “a 
consciência do homem e de sua autocompreensão a partir 
do absoluto enquanto atingível pela inteligência”.25 Ela 
tematiza a abertura humana para o mistério que o envolve 
de maneira positiva, aceitando-o, ou de maneira negativa, 
rejeitando-o. Tematiza, pois, a relação do ser humano com 
o santo ou numinoso no horizonte da autocompreensão 
humana.
23 croatto, op. cit., p. 21-22.
24 Ibid., p. 22-23.
25 ziLLes, Filosofia da religião cit., p. 5.
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Exercício
Indique a principal diferença entre os posicionamentos da filosofia e 
da religião diante da ideia de Deus.
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