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Unidade IV Ensino híbrido: personalização e tecnologia na educação. cap. 9, p. 169-189 A cultura escolar na era digital O impacto da aceleração tecnológica na relação professor-aluno, no currículo e na organização escolar RODRIGO ABRANTES DA SILVA AILTON LUIZ CAMARGO Qual o significado da expressão “cultura escolar”? Trata-se de sua cultura material? Da cultura dos alunos? Dos princípios e valores que definem sua política pedagógica? De seu sistema de gestão? Enfim, quais seriam os elementos definidores da cultura escolar? A escola e o sistema educativo em seu conjunto podem ser entendidos como uma instância de mediação entre os significados, os sentimentos e as condutas da comunidade social e o desenvolvimento particular de novas gerações. (PÉREZ GÓMEZ, 2001, p. 11). Não podemos ignorar que a atividade educativa é, antes de tudo, uma manifestação cultural e, portanto, constitui-se ao longo do tempo por meio de rupturas, mudanças e transformações sociais, políticas e econômicas. Além disso, ela está diretamente vinculada às tradições, aos valores, às ideias e aos costumes de um povo, em um determinado período histórico. Dessa forma, assumindo o pressuposto de que a natureza da escola e do sistema educativo é cultural, qualquer análise do panorama educacional nacional ou internacional parte necessariamente da consideração do contexto cultural em que a comunidade escolar está inserida, de modo direto ou indireto, tendo em vista seu caráter multifacetado e dinâmico. O conceito de cultura adotado neste capítulo foi citado no livro A cultura escolar na sociedade neoliberal, de A. I. Pérez Gómez: trata-se daquele “[...] todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, leis, moral, costumes e qualquer outra capacidade e quaisquer outros hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro de uma sociedade” (PÉREZ GÓMEZ, 2001, p. 13). Ainda segundo Gómez, a cultura acaba por ser o contexto simbólico que circunda a vida humana em sociedade. Dessa forma, constitui as bases estruturais das relações sociais que inevitavelmente serão consolidadas e reproduzidas no ambiente escolar. Portanto, a cultura escolar forma-se a partir das noções e das práticas sociais utilizadas, bem como da cultura dos atores envolvidos, para conceber o valor da escola e das suas atribuições – como, por exemplo, as práticas de ensino ou as noções de ensino e aprendizagem desenvolvidos. Nesse sentido, é preciso observar a relação entre a cultura escolar e a sociedade, ou seja, em que medida ela se encontra em correspondência com as formas contemporâneas de organização social? Observemos alguns elementos que nos possibilitam identificar os traços predominantes de uma cultura escolar. Tomemos a linguagem usada pela instituição para se relacionar com os atores de sua comunidade (alunos, professores, pais, parceiros). Os objetivos da escola são enunciados com clareza? Há correspondência entre o que é dito e o que é feito? Esse ponto é particularmente relevante, pois a distância entre teoria e prática, intenção e ato, é indício de problemas. Outro elemento importante para ser analisado são os valores da instituição. Os valores declarados revelam-se por meio de ações e condutas em seu interior? Por exemplo, se digo que considerar o aluno no centro do ensino é um valor em minha escola, devo garantir as condições para que ele aprenda em seu ritmo, receba tutoria personalizada e seja o protagonista do processo de aprendizagem. Além disso, devo garantir que essa prática seja incorporada à política pedagógica da instituição, sendo multiplicada entre seus membros. De outro modo, se digo que minha escola insere o aluno no centro da aprendizagem, porém meus professores permanecem reproduzindo os mesmos modelos, por exemplo, aulas expositivas seguidas de resolução de exercícios, é sinal de que não estou conseguindo implementar as mudanças enunciadas. O ambiente sociocultural formado por todas as instituições que compõem a sociedade e que estão presentes no contexto social imediato em que a escola está localizada: a religião, a família, as tradições, as associações, etc. que exercem pressão sobre a escola a respeito de suas necessidades e expectativas, no sentido de manter ou modificar a estrutura social vigente. Quando a instituição escolar não atende às demandas do ambiente sociocultural, é pressionada à modificação. (HORA, 2007, p. 42-43). Há uma crise latente na educação brasileira atribuída à má qualidade de ensino, entendida como a implicação de um conjunto de fatores, agravados ao longo dos anos, por uma política pública de sucateamento e mercantilização do ensino no país. A comunidade escolar, formada por pais, alunos, docentes, gestores e parceiros da sociedade, tem sido refém do descaso e da barganha política há anos. Todavia, a crise atual do modelo educativo adotado em praticamente todo o território nacional é agravada pela estrutura engessada e nada desafiadora das escolas, seja no formato da sala de aula, seja da própria aula em si, seja, ainda, dos espaços físicos nas unidades escolares. De fato, diante do turbilhão de mudanças diárias proporcionadas, por exemplo, pelos avanços tecnológicos, é preciso haver coerência entre o discurso e a prática de uma instituição escolar. Para isso, é preciso empreender uma análise mais abrangente, inserindo a instituição no contexto de nossa época e de seu local. Nesse sentido, é importante considerar algumas balizas que foram constituindo historicamente a cultura escolar. A CULTURA ESCOLAR: DA ERA INDUSTRIAL À ERA DIGITAL Após analisar a relação entre o discurso e a prática de uma escola, precisamos identificar a relação entre o modelo da instituição e a realidade social em que se insere. Dessa forma, não é prudente ignorar que a cultura escolar, em uma perspectiva histórica, pode ser caracterizada por certo atraso se relacionada às transformações surgidas, desde o último século, nas concepções da vida cultural dentro e fora do Brasil. A escola, em uma perspectiva de longa duração, sofreu inúmeras alterações em sua função primordial desde a Antiguidade. Passou por mudanças significativas conforme as novas necessidades advindas dos contextos históricos que atravessava: da Grécia Clássica e sua formação direcionada à cidadania, passando pela religiosidade europeia do período Medieval, em direção à época moderna da conquista da América, chegando, por fim, à culminação da Revolução Industrial, que acabou por determinar o modelo de ensino que se perpetuaria em suas estruturas mais internas. De maneira bastante simplificada, pode-se afirmar que, a partir da Revolução Industrial, a necessidade de formar operários de maneira padronizada e homogênea desencadeou um processo educativo muito próximo daquele que se tem como estrutura básica do ensino atual: ensino padronizado para crianças diferentes, interações circunscritas ao ambiente da sala de aula, compartimentação das salas por crianças de mesma faixa etária, ritmo de aprendizagem determinado pelo tempo cartesiano e quantificado – expresso pelo relógio, pelo sinal (o mesmo dos turnos nas fábricas) –, o conhecimento fragmentado por disciplinas que, muitas vezes, não apresentam conexão umas com as outras e, por fim, a escola no centro da verdade a ser transmitida. Essas são as características do modelo hegemônico que ainda rege a maioria das organizações escolares e as torna bastante engessadas e incapazes de responder aos desafios do mundo atual. Essa constatação tem levado alguns autores a defender uma urgente mudança nos modelos de organização das escolas (SENGE, 2004). A transição da era industrial para a pós-industrial acarretou uma quebra nos padrões verticais de organização social, dando origem a formas menos hierárquicas, horizontalizadas, culminando no que chamamos de sociedade em rede (CASTELLS, 2009). Durante esse período, que ocorreu ao longo da segundametade do século XX, a escola pouco mudou. No entanto, um novo cenário tem se configurado nos últimos anos, apontando para o surgimento de uma nova era, a digital (SCHMIDT; COHEN, 2013). Para as escolas, a passagem do mundo industrial, moderno, para o pós-industrial ou pós-moderno acarretou modificações na posição dos pro-fessores e dos alunos. Enquanto na sociedade moderna o professor acre-ditava ter um aluno cativo, com um circuito relacional previamente deter-minado, na sociedade pós-moderna evidenciou-se que o docente necessita estabelecer novos laços sociais, criar outras maneiras de lidar com a educação, as escolas, os alunos e a sociedade (BAUMAN, 1999; MRECH, 2005). Nos últimos anos, a aceleração do desenvolvimento tecnológico tem acentuado de maneira enfática o aspecto essencialmente mutante da cultura contemporânea, o que implica dizer que o modelo de ensino vigente não corresponde mais à realidade e às necessidades do contexto sociocultural da história recente. As inovações tecnológicas, os modelos de negócios adotados e em expansão, as novas organizações sociais familiares e as mudanças de paradigmas vindos da modernidade acabaram por engendrar necessidades e posturas mais críticas e profundas do ser humano em formação. Naturalmente, cada pessoa possui raízes culturais ligadas à herança, à memória étnica, constituídas por estruturas, funções e símbolos, transmitidas de geração em geração por longos e sutis processos de socialização. É óbvio, também, que cada indivíduo, antes de decidir sua própria proposta de vida, se encontra imerso na imanência de sua comunidade, nas coordenadas que configuram o pensar, o sentir e o agir legítimo em seu grupo humano. (PÉREZ GÓMEZ, 2001, p. 13). Obviamente, muitas mudanças ocorreram no contexto cultural desde a industrialização dos séculos XVIII e XIX, o que mostra a característica flexível, multifacetada e dinâmica do desenvolvimento humano e social. Ao mesmo tempo, é evidente que este capítulo não tem a pretensão de se aprofundar nesses aspectos culturais, tampouco de esgotar todas as suas possibilidades, mas deseja apontar para sua natureza diversa e estrutural a fim de pensar as atividades educativas. Até hoje, a escola se posicionou de maneira um tanto refratária e adversa às transformações da pós-modernidade. Todavia, nos últimos anos, a aceleração do desenvolvimento tecnológico tornou inevitável o confronto da escola com a cultura digital, em função do modo como esta afeta a interação entre as pessoas, os processos de comunicação e a produção e a transmissão de conhecimento. Em suma, a relevância social da instituição escolar dependerá, em grande medida, de sua capacidade de se reinventar diante da mudança de era em que vivemos. Nesse novo cenário, a tecnologia digital aparece como parte essencial da cultura escolar, pois permeia a vida de alunos, professores e pais, que interagem na internet por meio de dispositivos. Esse novo cenário exige da instituição de ensino um posicionamento sobre, pelo menos, duas questões: uma comportamental e outra pedagógica. Do ponto de vista comportamental, trata-se de dispor de abordagens e de entendimento para lidar com as novas gerações, que têm chegado à escola sabendo manipular dispositivos eletrônicos e atuar em ambientes digitais. Do ponto de vista pedagógico, trata-se de dispor de estratégias de aprendizagem que correspondam às condições de produção, acesso e transmissão do conhecimento em nossa época. Nesse sentido, a cultura escolar entra em correspondência com a cultura digital, ou seja, com o modo como as pessoas interagem, produzem conhecimento, aprendem e se comunicam. Essa perspectiva tornará possível a superação dos modelos herdados da era industrial. A tarefa, no entanto, não é simples. É necessário rever modelos de organização e de aprendizagem, além do próprio espaço da escola e a legislação que rege a atuação dos educadores, sob pena de desperdiçar recursos (CHRISTENSEN; HORN; JOHNSON, 2008; CASTRO, 2013). PRÁTICAS DE ENSINO HÍBRIDO EM CONTEXTO DE MUDANÇA DE ERA – MODELOS SUSTENTADOS OU DISRUPTIVOS? Escolas ainda presas em modelos do passado têm sido pressionadas, por diferentes setores da sociedade, a mudar. Discute-se, sobretudo, a necessidade- de desenvolver habilidades que qualifiquem os indivíduos a entender e atuar- em sociedades complexas, que têm na tecnologia um elemento- chave de sua organização.39 Para iniciar um processo de mudança, as escolas contam com bons marcos teóricos e exemplos práticos. Nesse sentido, uma referência fundamental para delinear planejamentos é o Horizon Report, uma publicação resultante da análise empreendida por diversos especialistas em educação sobre o impacto que as tecnologias emergentes terão no campo do ensino e os prazos previstos para sua incorporação pelas escolas. O relatório para a educação básica já conta com versão em português, com análises provenientes da realidade brasileira (HORIZON REPORT, 2012). Entre as inovações emergentes, a mobilidade, por exemplo, apresenta um alto potencial de impacto na democratização do ensino, e vem ao encontro do que defendem os autores de A nova era digital: [...] quando as salas de aula estão superlotadas ou malservidas de professores ou quando o currículo nacional é limitado, o acesso proporcionado por equipamentos móveis pode complementar a educação das crianças e ajudá-las a cumprir seu potencial, não importando suas origens. (SCHMIDT; COHEN, 2013, p. 20). De modo geral, não se acredita que a tecnologia, por si só, acarretará grande transformação. Por isso, é preciso criar aquilo que alguns autores chamam de ecossistema de inovação, ou seja, um ambiente capaz de incorporar iniciativas provenientes de diferentes esferas, como empresas, entidades sociais, comunidades e famílias, em prol da modernização dos processos de aprendizagem e da melhoria da qualidade do ensino.40 Na prática, muitas escolas estão modificando suas estratégias de ensino, combinando a integração de recursos tecnológicos com formas tradicionais de aprendizagem. Essa mistura de elementos on-line, disponíveis por meio de recursos tecnológicos, com elementos da sala de aula presencial, tem sido chamada de modelos híbridos (CHRISTENSEN; HORN; JOHNSON, 2008). Os modelos híbridos usam as tecnologias emergentes para estabelecer novas configurações de formas de aprendizagem. Para se ter uma ideia, o Horizon Report pontua que os seguintes recursos tecnológicos deverão estar integrados à educação até 2017: •Computação em nuvem •Ambientes colaborativos •Aprendizagem baseada em jogos •Dispositivos móveis •Conteúdo livre •Inteligência coletiva •Laboratórios móveis •Ambientes pessoais de aprendizado •Grades de cursos abertos on-line Como seria muito complicado integrar todos esses recursos da noite para o dia, as escolas precisam de um plano de transição. Nesse sentido, os modelos híbridos oferecem condições para que a instituição realize essa mudança de forma sustentada, ou seja, sem correr o risco de perder sua identidade nem abrir mão daqueles modelos que se tornaram parte de sua cultura e ainda revelam-se funcionais. Inserir as novas tecnologias nas escolas exige, portanto, planejamento estratégico. Repensar os espaços de aprendizagem, a formação dos professores e as formas de produzir e transmitir conhecimentos são apenas alguns aspectos da organização escolar que deverão ser ajustados para possibilitar novas experiências aos alunos. Isso implica investir em formação de pessoas e de equipes, além de infraestrutura adequada às novas relações de aprendizagem. Em suma, para a maioria das escolas, os modelos de transição sustentados serão os mais indicados, pois possibilitarão uma transição sem grandes abalos. No entanto, instituições que tenham condições de ousar poderão experimentar modelos disruptivos, sobretudo em projetos experimentais. Nesse processo, poderão descobrirnovos caminhos para a inovação e a originalidade. Como começar a mudança? Observar a escola com um enfoque cultural significa uma mudança de perspectiva levando em conta aspectos que não podem ser ignorados, pois a [...] análise do que realmente acontece na escola e dos efeitos que tem nos pensamentos, nos sentimentos e nas condutas dos estudantes requer descer aos intercâmbios subterrâneos de significados que se produzem nos momentos e nas situações mais diversas e inadvertidas da vida cotidiana da escola. (PÉREZ GÓMEZ, 2001, p. 16-17). Observar a realidade escolar pressupõe uma análise apurada das especificidades de cada unidade, tendo em vista que, apesar de inúmeros problemas vividos pelo setor educacional no Brasil serem recorrentes e comuns a todo o território nacional, é preciso levar em conta as especificidades locais, pois o contexto sociocultural pode mudar de um lugar para outro – às vezes, mesmo dentro da mesma jurisdição têm-se realidades díspares na cultura escolar. “As diferentes culturas que se entrecruzam no espaço escolar impregnam o sentido dos intercâmbios e o valor das transações em meio às quais se desenvolve a construção de significados de cada indivíduo” (PÉREZ GÓMEZ, 2001, p. 17). Os significados são construídos por meio da cultura, ou seja, trata-se do resultado de uma ação social compartilhada coletivamente a partir das condições materiais, políticas, históricas e espirituais em um determinado espaço e tempo. Ela se expressa no âmbito da vida individual ou coletiva de uma comunidade escolar e deve ser considerada para o levantamento das perspectivas e finalidades da educação em uma determinada localidade, sem perder de vista que essa interpretação é dinâmica e, portanto, deve ser revista periodicamente. Ademais, muito se fala em coparticipação, compartilhamento e interatividade como qualidades que sempre foram valorizadas no processo de ensino e aprendizagem e que agora podem ser amplificadas com os recursos tecnológicos disponíveis. Porém, a empreitada não é tão simples, e exige não apenas disponibilidade de tecnologia, mas também – e principalmente – o interesse dos educadores, seu engajamento emotivo e intelectual. É nesse momento que se pode esbarrar nas famosas resistências provenientes de padrões de comportamentos e crenças há muito interiorizados. Por exemplo, há professores que não apenas tratam com indiferença os recursos tecnológicos que a escola lhes oferece, mas os demonizam. São profissionais que há décadas se habituaram a resumir pontos de um manual didático na lousa, para que os alunos os copiem e, na sequência, façam exercícios. Seu conteúdo está pronto, e eles reproduzem o mesmo esquema de aula em todas as classes ao longo dos anos letivos. É o famoso professor “linha de montagem”: se ele sempre apertou o parafuso daquela maneira, por que teria de mudar agora? Para não sair da zona de conforto, prefere manter seus alunos em uma passividade facilmente manipulável.41 Para modificar essa situação, evitam-se soluções mágicas. É preciso olhar antes para o projeto pedagógico da escola, sua equipe, as possibilidades de treinamento, a infraestrutura de rede da instituição, os equipamentos, etc., para, então, começar a identificar as possibilidades de mudança. Nesse processo, algumas perguntas-chave poderão ajudar: Que modelo de ensino minha escola tem condições de implementar? Que postura de professor espero em sala de aula? E de aluno? Seria uma postura de transmissão de conteúdo ou de produção conjunta de sentidos? Os recursos tecnológicos servirão como meros acessórios para complementar ou enfeitar uma aula ou atuarão como recursos desafiadores aos estudantes? Quero meu aluno participando junto com o professor da produção de sentido, do significado de estar ali, descobrindo o porquê da relevância da aprendizagem em sua trajetória de vida, ou quero apenas cumprir os programas de conteúdo já prontos? De que forma vou comunicar aos professores e aos estudantes as mudanças a serem implementadas? Quais recursos de desenvolvimento profissional vou oferecer? As respostas a essas perguntas poderão servir de base à elaboração de um planejamento estratégico para a implementação de modelos híbridos e a introdução de recursos tecnológicos. Infelizmente, muitas escolas inserem recursos como algo a mais na grade curricular, sem efetuar mudanças no plano da organização. O resultado é um efeito cumulativo de trabalho, tanto para o professor quanto para o aluno. Em consequência, gera-se uma mentalidade que associa tecnologia a mais trabalho. Acreditamos que um dos fatores determinantes dessa atitude seja o medo de arriscar uma nova abordagem. Escolas temem errar e, assim, perder alunos; por isso, tendem a permanecer na zona de conforto. As mudanças ocorrem de tal maneira que precisamos de pessoas dispostas a aprender e a se reinventar a cada dia. Essa capacidade é o que faz a diferença. Porém, isso demanda tempo, dinheiro e energia. Para acessar o vídeo, clique no ícone: Planejando mudanças em relação ao perfil da escola e de sua perspectiva de futuro Hoje, o enfoque está sobre a forma ideal para a aprendizagem dos alunos, o melhor espaço físico organizacional para o trabalho intelectual de docentes e discentes, o papel da gestão e do professor na escola e o uso da tecnologia dentro e fora das salas de aulas. Essas constantes, se discutidas à luz de uma reflexão apurada do contexto da cultura escolar em determinada localidade, podem levar à solução de problemas recorrentes nas escolas. O uso a ser feito do ensino híbrido deve partir dos resultados dessa reflexão para se verificar de que forma ele contribuirá para a solução dos problemas e, consequentemente, para o processo educativo. Segundo Gómez, diante do caráter ambíguo e multifacetado dessas análises, “[...] viver uma cultura e dela participar supõe reinterpretá-la, reproduzi-la, assim como transformá-la” (PÉREZ GÓMEZ, 2001, p. 17). Desse modo, nota-se que não estamos trabalhando com categorias ou situações engessadas, mas dinâmicas, multifacetadas e rigorosamente interpretativas, o que significa que a cultura escolar pode ser ressignificada. Uma escola tradicional e conservadora poderá encontrar dificuldades para implementar processos de mudança. Nesse caso, uma revisão de paradigmas provavelmente terá de ser empreendida. A gestão precisará tomar consciência dos caminhos a seguir e mobilizar recursos para implementar novos modelos. Em contrapartida, uma instituição que já vem refletindo sobre a necessidade de rever sua atuação, aquela com mais abertura e perfil progressista, poderá navegar com mais tranquilidade. É muito provável que ela tenha professores que já praticam alguma forma de ensino híbrido, ainda que não usem essa nomenclatura. Nesse caso, identificar esses docentes, torná-los membros de uma equipe de transição, posicionando-os em programas de desenvolvimento profissional, de modo que possam se aperfeiçoar e, ao mesmo tempo, transmitir habilidades adquiridas a outros professores, é uma solução que tem sido implementada por diversas escolas. Independentemente do perfil da instituição, o plano de transição sustentada precisa considerar que o reposicionamento da escola deve supor o acesso igualitário à tecnologia como um princípio fundamental para que o direito universal à educação seja assegurado. Ademais, o cruzamento de culturas promovido pela escola é o responsável por dar sentido e consistência àquilo que é aprendido pelo aluno em sua vida acadêmica. Portanto, o estudante tem seu desenvolvimento cognitivo moldado a partir dos intercâmbios realizados nesse ambiente cultural, o que pode ocorrer com a seleção dos conteúdos pelos professores em suas disciplinas, na relação destes com os significados e expectativas pretendidos, nos ritos, nos costumes e nas formas de organizar o espaço e o tempo, entre outros fatores responsáveispela formação das futuras gerações. A prática educativa cumpre um papel fundamental dentro da cultura escolar, pois é a responsável pelo direcionamento do processo educativo determinado pelo regimento escolar. Ademais, ela depende do desenvolvimento do trabalho realizado pelo professor, tendo em vista a necessidade de atualização e aperfeiçoamento do profissional da educação que, segundo Antoni Zabala, só acontece “[...] mediante o conhecimento e a experiência; o conhecimento das variáveis que intervêm na prática e a experiência para dominá-las” (ZABALA, 1998, p. 13). De alguma forma, todos sabem da necessidade de revisar modelos mentais e padrões de comportamento que estão na base da prática escolar, mas que não surtem o mesmo efeito de outrora entre os jovens. As possibilidades de mudança são muitas, mas é preciso criatividade e intuição para discernir práticas pertinentes a cada situação. Possibilidades do ensino híbrido para a educação em transição No formato de ensino aplicado comumente em todo o território nacional é marcante o destaque para o seu caráter classificatório nivelado de cima para baixo pelo vestibular. Entretanto, a escola não pode ignorar sua função formativa e cultural diante do esgotamento do sistema de ensino, e os inúmeros problemas decorrentes dele refletem a urgência de que docentes, gestores e poder público repensem a realidade da educação atual. O ensino híbrido vem ao encontro das necessidades recentes de descobrir a melhor prática educativa para professores e escolas. Trata-se de um modelo de ensino que pressupõe o uso da tecnologia para o desenvolvimento das atividades dentro e fora da classe, em que o aluno é estimulado a buscar o conhecimento com a mediação do professor e da escola. Nesse formato de ensino, alguns papéis acabam sendo alterados, bem como o foco do planejamento dos docentes. O professor, além de mero orador, passa a assumir uma postura de facilitador do processo de ensino e aprendizagem do aluno, uma alteração que promove o desenvolvimento da autonomia do estudante e lhe dá a responsabilidade pelo conhecimento que deve adquirir. Nesse caso, o docente precisa alinhar sua prática, de forma personalizada, a fim de possibilitar ao aluno o avanço coerente com o seu real estágio de aprendizagem, respeitando seu ritmo e seus interesses. O foco no planejamento do professor não está exclusivamente na aprendizagem dos conteúdos do currículo nacional para cada disciplina escolar, no qual devem ser acrescentadas aulas e atividades preocupadas com os relacionamentos dos alunos, personalização e autonomia, o que garante uma análise da experiência do estudante de maneira mais global. Inúmeras escolas norte-americanas têm desenvolvido trabalhos significativos em uma estrutura física e pedagógica totalmente dentro dos parâmetros do blended learning, seja no formato da sala de aula ou da própria aula em si, no papel do professor e do aluno, na função do conteúdo e da busca pelo conhecimento com o máximo de autonomia. Um dos maiores exemplos dessas escolas é a Summit Public Schools, na Califórnia, que se destaca pela estrutura organizacional completamente voltada para o blended, em que a autonomia dos alunos é estimulada desde muito cedo com níveis ideais- de personalização de ensino. A KIPP Los Angeles é outra protagonista na implementação do ensino híbrido nos Estados Unidos, pois usa o sistema de rotação por estações como base para seu modelo de educação e tem atingido resultados destacados para os níveis educacionais norte-americanos. Na Navigator Schools, os benefícios do laboratório foram unidos perfeitamente com o melhor da sala de aula tradicional. Essas são escolas muito recentes e que promoveram mudanças significativas em sua ação educativa, utilizando o blended em seus aspectos mais disruptivos e obtendo resultados que têm sido referência na educação norte-americana e brasileira. Esse modelo de ensino propõe a solução de inúmeras variáveis da prática educativa a partir do desenvolvimento da personalização e da autonomia do aluno, que ocorre por meio de intervenções do professor conforme sua observação e experiência para propor atividades, bem como considerando o local de partida de cada aluno e o ritmo de ensino de cada um. As diferentes variáveis, como indisciplina, falta de interesse, dificuldade com o conteúdo, etc., podem ser avaliadas durante a prática dos modelos educativos próprios do ensino híbrido, como laboratório rotacional, rotação por estações, flex e sala de aula invertida, cuja principal característica é seu aspecto profundamente dinâmico e estimulante. Esses modelos práticos permitem o desenvolvimento de todos os pontos relevantes do ensino híbrido, pois garantem, sobretudo, a autonomia dos alunos e um elevado grau de personalização; ao mesmo tempo, são perfeitamente adaptáveis a qualquer realidade escolar, mesmo àquelas instituições sem estrutura tecnológica satisfatória. Além disso, os modelos podem ser alterados pelos professores, os quais também podem criar outros, conforme a sua necessidade. Imagine seus alunos envolvidos em atividades que eles escolheram para fazer, conforme suas intervenções e proposições. Os ganhos para o desenvolvimento desse estudante, bem como o aprendizado dos conteúdos selecionados pelo professor, serão mais bem aproveitados. Isso é possibilitado pelo modelo flex, em que, diante de algumas estações de trabalho, o aluno seleciona aquelas que quer fazer parte, ou pelo modelo de rotação por estações, em que ele desenvolve todos os pressupostos do blended, passando por diferentes formatos de tarefas. Apesar de entender que o blended é uma possibilidade disruptiva de implementação de ensino mais adequado ao contexto sociocultural atual e em franca expansão, ele não necessariamente precisa ser aplicado em sua plenitude. Contudo, pode servir aos propósitos determinados pelos professores em sua prática educativa dentro ou fora da sala de aula, pois os modelos híbridos são perfeitamente adaptáveis e maleáveis para as diferentes nuan-ces das salas de aulas brasileiras. A preocupação e a necessidade de elevar o nível de personalização e de autonomia dos alunos, bem como de mudar o formato das aulas e o uso dos seus conteúdos disciplinares, são discussões anteriores ao advento desse tipo de modelo de ensino. Contudo, o caráter inovador do blended potencializa os resultados e permite uma melhor avaliação do professor sobre a real situação de aprendizagem do aluno e dos caminhos a serem seguidos, respeitando o ritmo, as habilidades e as competências dos estudantes em cada disciplina. Para atingir o nível de ensino esperado, a cultura escolar precisa ser ressignificada e comprometida com a realidade da instituição, pensando em suas especificidades, seus objetivos, seu formato e sua coerência com o contexto sociocultural. Evidentemente, será necessário investir e estimular uma nova visão sobre o processo de ensino e aprendizagem, cuja necessidade latente bate à porta com insistência, ao mesmo tempo em que promove mudanças de papéis dos atores escolares, seja na instituição como um todo, seja em determinada disciplina ou aula em particular. QUAIS OS PONTOS PRINCIPAIS A SEREM MODIFICADOS PARA A IMPLEMENTAÇÃO DO MODELO DE ENSINO HÍBRIDO? É preciso estar convencido de que o lugar do professor mudou, assim como o perfil do aluno. A escola, que manteve sua autoridade em função de ser a guardiã e a responsável pela transmissão dos conhecimentos memorizados pela humanidade, encontra-se em xeque. Em suportes cada vez mais móveis e virtuais, armazenamos um número inconcebível de dados e libertamos nossa inteligência para o pensamento, a criatividade e a invenção. Diante da democratização desses suportes e de sua utilização na vida diária das populações, o modelo escolar fundamentado na memória se vê cada vez mais obsoleto (MOSÉ, 2013). O primeiro ponto a sermodificado para a implementação do modelo de ensino híbrido é o entendimento dos papéis que professores e alunos poderão assumir nesse novo cenário. Essa compreensão é crucial para que a escola possa promover novas formas de aprendizagem, reconhecê-las e certificá-las. Se a instituição de ensino conseguir ter consenso em torno do entendimento da alteração de seu lugar social, poderá iniciar um planejamento estratégico de mudanças. A cultura escolar estará preparada para responder aos desafios contemporâneos, pois a cultura não é estática, mas dinâmica. Tendo isso em vista, será possível iniciar algumas atividades práticas de planejamento, o que permitirá a implementação de ações de impacto na cultura escolar. Mapear as competências das pessoas da escola é um dos passos mais importantes. Nesse processo, será possível identificar o grau de fluência tecnológica dos professores e, com isso, dimensionar as necessidades de suporte para a implementação de um modelo que exigirá uso de tecnologia.42 Além disso, também será possível dimensionar o impacto cultural provocado pela introdução de dispositivos tecnológicos na sala de aula, no plano da rotina dos professores e alunos. Nesse aspecto, muitos gestores acreditam que basta comprar uma série de computadores e colocá-los na sala de aula, sem considerar seu uso – enfim, sem mexer no plano das estratégias de aprendizagem propriamente ditas. Outro ponto importante é dar liberdade para que os docentes possam efetuar mudanças em seus planejamentos e em suas dinâmicas de aula. Muitas escolas introduzem tecnologia na sala de aula apenas como algo a mais a ser feito. Por exemplo, insere-se uma plataforma LML (learning management system) com a finalidade única de acrescentar mais listas de exercícios e materiais complementares, seguindo uma lógica puramente quantitativa de acumulação de conhecimento. Muitas vezes, as atividades inseridas nesses ambientes não justificam seu suporte on-line, por não se diferenciarem de sua forma impressa. Estamos, com isso, questionando objetos digitais que apenas reproduzem atividades que poderiam perfeitamente ser reproduzidas em mídias não digitais. Esse tipo de atividade, embora disponíveis em uma plataforma digital, pouco ou nada contribuem para o avanço do letramento digital ou da fluência tecnológica de quem a utiliza. O resultado, com frequência, são professores e alunos sobrecarregados com mais tarefas, o que pode, inclusive, acarretar desmotivação. Ora, a possibilidade de trabalhar com tecnologia, inovar e ser criativo deve ser fonte de motivação. Portanto, é preciso considerar o impacto que as decisões e a introdução de tecnologia terão na organização e no relacionamento entre professores, alunos e coordenadores. O elemento humano, como sempre, será determinante para o sucesso ou fracasso das iniciativas. POR ONDE COMEÇAR A MODIFICAÇÃO DE UMA CONSCIÊNCIA VOLTADA ÀS NOVAS FORMAS DE TRABALHO EM SALA? Uma vez atingido o consenso de que a escola está diante da necessidade de se reposicionar em função da realidade social que a cerca, é preciso considerar que a essência da instituição escolar é o relacionamento entre professores e alunos. Há muitas iniciativas, provenientes de empresas do setor de tecnologia, que buscam atingir diretamente o estudante, sem considerar o papel do docente no processo de aprendizagem. Como observaram os fundadores do Wikispaces, esse é um grave problema de visão, pois, dessa forma, se exclui a essencial e necessária articulação com o outro no processo de aprendizagem.43 Assim, será interessante que os alunos tenham aulas com recursos tecnológicos, como lousa digital, plataformas adaptativas, simuladores 3D, etc.? Pode ser, mas eles precisam ganhar vida na sala de aula, e isso dependerá da forma como professores e estudantes irão se apropriar dessas ferramentas. Ninguém deixará de reconhecer que os alunos precisam de aulas diferentes. Deixar uma geração que está crescendo em uma época tão estimulante percorrer toda a sua trajetória escolar tendo aulas expositivas não faz o menor sentido em tempos de YouTube. De fato, a ideia de aula como um período de 50 minutos, com um professor expositor, não se encaixa na concepção moderna de tempo. Porém, o grande desafio da escola não é oferecer aulas com efeitos especiais, pelo contrário: é empoderar o aluno das habilidades que o tornarão protagonista de seu processo de aprendizagem. Do lado do professor, para que ele possa se reinventar nesse processo, não é necessário apenas que seja empoderado de recursos tecnológicos. Ele terá que dispor de conhecimento das possibilidades pedagógicas dos recursos tecnológicos disponíveis, das competências e capacidades envolvidas no uso do recurso, de condições para planejar e avaliar as aplicações disponíveis. Além disso, será importante a proposição de um uso voltado para situações autênticas da vida em sociedade. Nesse aspecto, questões relacionadas à organização do currículo e aos sistemas de avaliação terão de ser revistas. Muitos professores perdem mais tempo corrigindo avaliações do que interagindo com seus alunos. Assim, se a escola exigir uma mudança de atitude, mas não oferecer ao professor as condições e o suporte para efetuá-la, certamente novos conflitos serão gerados. Mudar não deve significar fazer mais coisas, mantendo o que está da forma como está. Porém, em muitas escolas, é exatamente assim que as iniciativas estão sendo implementadas. Mudar deve significar fazer diferente, com mais qualidade, e os recursos para isso existem. No plano das secretarias de educação, seria importante garantir a infraes-trutura necessária ao bom funcionamento dos dispositivos adotados pelas escolas e o suporte à elaboração de um programa consistente de desenvolvimento profissional, contando com a formação de uma equipe de suporte. Quanto aos níveis de direção e coordenação da escola, espera-se envolvimento e liderança na preparação de abordagens em sala de aula condizentes com os modelos implementados. Para isso, posições determinadas por hierarquias burocráticas certamente terão de ser revistas. Além de serem empoderados com ferramentas tecnológicas, é fundamental que os professores tenham voz ativa no processo de decisão. Caso contrário, resistência a mudanças e conflitos interpessoais serão inevitáveis. Nas escolas em que os docentes são considerados no processo decisório, evidencia-se um aumento no desejo de ser o primeiro a fazer algo novo, ainda que isso exija trabalho extra do planejado. Quando, ao contrário, os professores não participam das tomadas de decisão, o efeito é o oposto, ou seja, eles tendem a encarar tudo como um fardo, toda mudança como trabalho não pago. O entusiasmo dos docentes e sua capacidade de se engajar em novos projetos e, ao mesmo tempo, engajar seus alunos, sua capacidade de análise, discernimento e pesquisa, em um mundo marcado pelo excesso de informação em diversos ambientes, serão fundamentais ao sucesso de todo o projeto de mudança na organização escolar. Foi com entusiasmo que começaram a proliferar grupos de discussão sobre novas práticas, nos quais passaram a ser compartilhadas experiências que, hoje, já se incorporaram aos procedimentos habituais dos professores. Esse é o caso da expressão flipped classroom, ou sala de aula invertida. Os docentes passaram a usar a variada gama de bibliotecas digitais, recursos audiovisuais e conteúdos já organizados didaticamente em ambientes vir-tuais para oferecer material aos alunos fora da sala de aula. Assim, o horário de encontro com o professor na sala passa a ser aproveitado para reelaborar esses conteúdos por meio da resolução de problemas, elaboração de projetos e criação de materiais em novos moldes. A facilidade para criar e publicar textos virtuais também têm entusiasmado professores que já possuem materiais acumulados ao longo de sua prática, e que podem, agora,compartilhá-los e incorporá-los de maneira efetiva à sua prática em sala de aula. Nesse processo, recursos que a literatura tem explorado há tempos, como a obra aberta, a participação do leitor como construtor do conhecimento, podem ser usados em novos moldes, em função da capacidade de compartilhamento e interatividade que os recursos digitais nos oferecem. A escola é um espaço privilegiado para a manifestação dessas mudanças, de forma crítica e sistematizada. O pressuposto de uma escola construtora da cidadania traz em si a responsabilidade de filiar-se à realidade e promover sua compreensão entre os alunos, para que possam agir na vida social. Portanto, a comunidade escolar precisa promover uma discussão sobre os impactos dessas mudanças na escola e no seu sistema de ensino, para, a partir disso, elaborar um plano de ação o mais adequado possível. O ensino híbrido vem ao encontro do debate: Formar culturalmente os sujeitos sociais significa possibilitar-lhes a compreensão da realidade social, para que possam agir- aderindo, transformando e participando da sociedade, sem o que, torna-se inviável sua presença na produção cultural. (HORA, 2007, p. 39). O domínio dos instrumentos culturais de maneira autônoma, pressuposto do blended, permite ao aluno uma concepção mais apurada do mundo e de seu momento histórico, o que contribui para a formação voltada para a cultura, o trabalho, a sociedade e a política. Ademais, a proposta do ensino híbrido, como ficou claro neste capítulo, está diretamente relacionada a uma mudança substancial na cultura escolar. Portanto, seus direcionamentos devem ser bem estudados antes de implementados, pois alteram de modo significativo todas as concepções educacionais já consolidadas no Brasil. Se não forem bem esclarecidas para toda a comunidade, podem criar inúmeros problemas de aceitação, os quais são normais no início, mas que coordenação e docentes devem preocupar- se em trabalhar arduamente para reverter. Segundo Hora, a escola diferencia-se das outras organizações educacionais por suas estrutura, proposta pedagógica, ação docente e ambiente sociocultural. O ensino híbrido pode permear todos esses elementos ou ser adaptado apenas em alguns deles; contudo, está diretamente ligado a uma urgente mudança na cultura escolar. O docente é responsável por um contínuo processo de ressignificação da aprendizagem, promovendo o desenvolvimento global dentro das áreas do conhecimento. É ele quem deve avaliar, em primeiro lugar, as possibilidades do ensino híbrido dentro das suas especificidades escolares, a partir das reflexões necessárias e das posturas adotadas pela comunidade escolar. Muitos estarão em busca de uma solução precisa sobre o que fazer para que uma modificação aconteça. Porém, dificilmente algo mudará a partir de regras determinadas a priori. Tampouco essa alteração virá de convicções pedagógicas ou de concepções de mundo. Ao contrário, para que uma mudança possa ocorrer, é preciso que uma relação comece, e esta só pode ter início nas condições determinadas pela experiência do aluno que chega à escola. Uma história social da mídia: de Gutenberg à internet. cap. 7, p. 346-378. 7. Dentro e fora do ciberespaço O CURTO PERÍODO ENTRE O INÍCIO do novo milênio e os atentados aéreos a Nova York e Washington em 11 de setembro de 2001 pode ser considerado, apenas em retrospecto, um interlúdio. Os atentados chegaram de surpresa. O que aconteceu depois na primeira e turbulenta década do novo milênio é ainda difícil de ver em perspectiva. A vitória de Barack Obama nas eleições presidenciais norte-americanas de 2008 não foi uma surpresa no mesmo sentido, mas teria sido impossível de prever em 2001. Já é amplamente percebida como algo que assinala o começo de uma nova era, uma expressão fora de moda, na história mundial, mas seu impacto permanece incerto, assim como o futuro da economia e do sistema bancário. O último capítulo deste livro, uma pesquisa de longa duração, tal como sua introdução, chega a um final, mas não a uma conclusão. Na história social e cultural da mídia desde Gutenberg, assim como, na verdade, em todas as narrativas da história social e cultural, todo capítulo final deve ser considerado inconcluso. Entre 2001 e 2008 metas econômicas, sociais e ecológicas estavam sendo estabelecidas para o futuro e cronogramas elaborados para alcançá-las. Também se faziam tentativas, nem sempre estatísticas, de avaliar tendências, cujo grau de confiabilidade, assim como possibilidade de as metas serem atingidas, não será aqui discutido – uma das tendências inequívocas era a digitalização. Estabeleceram-se cronogramas no rádio e na televisão digitais, mas agora sabemos que aqueles relativos aos anos anteriores a 2008 nem sempre foram cumpridos. Da mesma forma, as metas referentes à banda larga nem sempre foram alcançadas. Tanto a digitalização quanto a banda larga precisam ser mais elucidadas. Diferentemente de tecnologias de telecomunicações anteriores – as redes de telefonia e a televisão a cabo e por satélite –, a banda larga prometia uma gama de potencialidades que não podiam ser facilmente definidas. O Broadband Stakeholder Group, ou Grupo de Intervenientes da Banda Larga, da Grã-Bretanha, descreveu-a em 2004 como “sempre acessível, no trabalho, em casa ou em movimento”, fornecida por “uma série de tecnologias de linha fixa, sem fio ou por satélite … larguras de banda progressivamente maiores, capazes de suportar conteúdos, aplicações e serviços genuinamente novos e inovadores”. No mesmo ano falou-se de uma “corrida da banda larga” entre diferentes países. (Bem de acordo com a época, uma metáfora esportiva.) As estatísticas coletadas pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em Paris, mostraram que o Japão e a Coreia do Sul, países de fora da Europa e da América e com densas concentrações urbanas, estavam à frente nos números relativos à adoção da banda larga ultrarrápida, e cobravam dos consumidores os preços mais baixos. A Suécia vinha em terceiro lugar. A Grã-Bretanha considerava difícil imitá-los, já que carecia de sua impressionante infraestrutura, mas em 2004 seu governo fez do fornecimento de uma banda larga mais rápida e mais barata uma prioridade nacional. O mesmo fez George W. Bush em sua campanha presidencial daquele ano, quando enfatizou a necessidade de uma tecnologia de banda larga com acesso universal e de baixo custo na altura de 2007. Na Europa, em 2007 o Comissário da União Europeia para Sociedade da Informação e Mídia explicou a um público composto em grande parte por norte-americanos que dominar a banda larga era a principal meta da maioria dos países europeus na área das comunicações. A velocidade da banda larga era um tema de discussão, da mesma forma que o acesso a ela, e a velocidade era exaltada do mesmo modo que o fora quando se construíram as ferrovias (ver p.127-8) ou quando os futuristas italianos sonharam com uma velocidade de voo cada vez maior (ver p.229-30). Uma notícia publicada em 2008 dizia que “a BT [British Telecom] aposta[va] seu futuro numa banda larga vinte vezes mais rápida que a atual”. O serviço de 50 Mbs da Virgin Media significava que um álbum musical inteiro podia ser baixado em onze segundos e um programa de TV de uma hora, em apenas um minuto. Não deixa de ser irônico que houvesse menos ênfase na velocidade no que se refere ao transporte físico, tanto na aviação civil quanto nas viagens de trem. Isso se deu, em parte, em função dos congestionamentos de veículos, mas, sobretudo, dos alertas sobre emissões de carbono e aquecimento global. A construção de novas pistas em aeroportos era sempre contestada. O conforto – encontrar um lugar para se sentar num trem, por exemplo – era mais importante do que a velocidade ferroviária. A compra de passagens pela internet significava que os agentes de viagens perderiamo emprego. Qual seria o futuro do automóvel? Carros elétricos estavam sendo desenvolvidos, e até mesmo anunciados, mas não havia infraestrutura para estimular o seu uso. Todas as grandes empresas automobilísticas tiveram graves problemas econômicos em 2008. Será que as cidades do passado recente, com frequência dependentes do transporte motorizado, teriam maior sobrevivência que as do passado remoto? Uma placa comemorativa do lado de fora da fábrica da Ford em Highland Park, subúrbio de Detroit, que foi inaugurada em 1910 e em 1925 produziu 9 mil Fords Modelo T em um único dia, exibia as palavras “A produção em massa logo saiu daqui para todas as fases da indústria norte-americana e estabeleceu o padrão de abundância para a vida no século XXI”. Em 2008, ano de colapso econômico internacional, quando Ford, General Motors e Chrysler recorreram a Washington em busca de ajuda financeira, todas as palavras dessa placa pareciam desonestas. Da mesma forma, muitas palavras sobre privacidade e direitos humanos numa era de vigilância que coincidiu com o sexagésimo aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Houve incertezas morais a respeito de privacidade e direitos humanos, apenas brevemente apresentadas neste capítulo, tal como houve crises econômicas, globais em suas consequências e com influência sobre China e Japão, assim como sobre Grã-Bretanha e França. Os Estados Unidos eram o centro delas. Poderia haver remédios globais? Até que ponto a responsabilidade era da ambição humana? Neste capítulo temos de olhar tanto para trás quanto para a frente e assumir velhas e novas questões. Diante disso, concluímos o capítulo não com um epílogo para contrabalançar a introdução ou com conclusões formais, perfeitamente resumidas, mas com o que chamamos de clímax. Em direção ao ciberespaço Em nossa introdução, visitamos por um breve período o ciberespaço, depois saímos dele rapidamente, de volta ao “mundo real”, conceito tão difícil de identificar quanto “realidade virtual”. Ciberespaço é uma palavra que entrou em uso geral durante a década de 1990 por meio da internet, mas muito antes dela, em 1938, um redator da Harper’s Magazine, C.R. White, havia previsto que a tecnologia logo invadiria o “território do real”. “Claramente, a corrida hoje é … entre as coisas que são e aquelas que parecem ser.” Em 1938, os “efeitos sonoros” já tinham começado a tomar o lugar do som em si, e não apenas no cinema. White não tentou identificar “as coisas que são”. Nem retornou através dos séculos até Platão, como faria Anthony Smith em seu primeiro livro sobre a radiodifusão, The Shadow in the Cave: The Broadcaster, his Audience and the State (1973). Mais de vinte anos depois, o léxico do ciberespaço, por vezes chamado hiperespaço, ainda estava numa fase de “turbulência formativa”, segundo Meredith Bricken, cientista do Laboratório de Tecnologia com Interface Humana da Universidade de Washington. “A relação da tecnologia informacional atual com os elementos constituintes do mundo virtual”, escreveu ele, “não é totalmente clara.” Muitos outros acadêmicos concordaram. Uma coletânea de textos relacionados a Cyberspace, First Steps, de Michael Benedikt, estabelecera o tom do discurso sobre o ciberespaço. Benedikt era um professor de arquitetura da Universidade do Texas, em Austin, que via o ciberespaço como “um território pleno de dados e mentiras, com as substâncias da mente e as memórias da natureza, com 1 milhão de vozes e 2 milhões de olhos”. Esse milhão retórico havia retomado mais uma vez o seu lugar (ver p.144). Nem mesmo Benedikt, contudo, conseguiu prever que em março de 2008 haveria nada menos que 1,4 bilhão de usuários da rede mundial, com mais de 305 milhões de pessoas conectadas por banda larga. A palavra “ciberespaço”, parte de um grupo de ciberpalavras, foi proposta em 1984 pelo autor de vanguarda de ficção científica William Gibson (1948-), e sete anos depois ele descreveu um mundo em que todos os telefones seriam substituídos pelo Matrix, a soma interconectada de todas as redes de computadores existentes. A televisão também fazia parte da visão de Gibson. Descrevendo o céu sobre o porto que então sobrevoava em seu romance Neuromancer, ele introduziu a vigorosa imagem de um céu “da cor de uma televisão sintonizada num canal fora do ar”. Evidentemente, a televisão não morreu no começo do século XXI e, num ambiente multimídia, devia haver poucos canais inativos. Na verdade, no século XXI a televisão continuou sendo um veículo popular forte e persistente, atraindo amplas audiências, como a imprensa escrita, que em alguns aspectos era um meio ainda mais poderoso do que antes, investigando e expondo os fatos. Os livros tampouco estavam mortos, embora sua morte, até mesmo iminente, tenha sido frequentemente prevista. O cinema anunciou o ciberespaço antes que a palavra fosse criada. Tron (1982) apresentou um personagem envolvido na busca frenética de informação ou controle por meio de um terminal de computador. Indo além do tema homem versus máquina, o filme mostrava sequências geradas ou realçadas por computador. Vetores gráficos são amplamente usados para gerar o que se poderia chamar de ciberespaço. A saída final da ciberpaisagem nos mostra na tela um adolescente jogando videogame. Para o romancista J.G. Ballard (1930-2009), escrevendo antes de Tron, “pela paisagem da comunicação movem-se os espectros de tecnologias sinistras”. Ao lado do cinema e dos romances de ficção científica, os quadrinhos também faziam parte da genealogia do ciberespaço. Em 1992, a revista londrina 2000 AD, título revelador para uma série centrada no futuro, incluiu legendas como “A realidade virtual comanda”. Destinada aos “terráqueos”, ela não se referia ao ciberespaço, mas ao paraespaço, e incluía o retrato bizarro de um “vírus de computador senciente”. Outra legenda dizia “É melhor voltarmos para o mundo real”. O romancista norte-americano William Burroughs (1914-97), que Gibson reconheceu como um de seus predecessores, tinha aplicado a palavra “vírus” à mídia antes que ela começasse a ser usada por tecnólogos e jornalistas multimídia em relação a computadores em particular. Também havia referências transmidiáticas. Quando um “vírus de computador do mundo real” foi descrito pela imprensa em “tempo real” em 1988, tanto o New York Times quanto a revista Time usaram quadrinhos para ilustrar o que queriam dizer com a expressão “infecção viral”, com a Time acrescentando outra referência histórica em seu título, “Invasion of the Data Snatchers”.b Cada vírus tinha sua própria “assinatura”, e embora fosse possível fornecer proteção contra alguns deles por meio de software antivírus, não havia garantia absoluta de não infecção. Os paralelos com a saúde pareciam pertinentes, mesmo que apenas porque houvesse, a partir da década de 1980, uma preocupação crescente com a saúde, pública ou privada, tanto na mídia pública quanto entre os políticos. Em maio de 2000 o chamado love bug foi amplamente divulgado, não menos por ter se originado, não nos Estados Unidos, mas nas Filipinas. Era verdadeiramente global, assim como o chamado bug do milênio, cujo temor já se havia dissipado a um elevado custo. Em 2001 o próprio Gibson, olhando em retrospecto para seus primeiros textos, de vinte anos antes, avaliou que seus lampejos iniciais sobre o ciberespaço já estavam ultrapassados. Ele intitulou seu prefácio ao livro Multimedia: From Wagner to Virtual Reality, uma coletânea de textos históricos da autoria de Randall Packer e Ken Jordan, “Geeks e Artboys”, e nele descreveu a “cibersubstância instavelmente emergente” da década de 1980 e seu próprio papel de artboy em ajudar a criá-la. Ele não tinha perdido o entusiasmo pela “multimídia”, mas agora ela se baseava, afirmou ele, na crença de que ela (no singular) não era “uma invenção, mas uma descoberta permanente da forma como amente e o universo que esta imagina se ajustam e interagem”. Naquele momento o “paradigma das luvas e dos óculos velhos” da realidade virtual tinha dado lugar a videogames baseados na internet, uma das formas de entretenimento mais populares, alguns deles apavorantes. O primeiro jogo para computador foi Spacewar (1962), que apresentava contornos simplórios de espaçonaves, os quais logo se tornaram conhecidos de todos os telespectadores. Em 2009, quando foi lançado um novo filme da série Jornada nas estrelas, o jogo Star Trek Scrapbook, da Trek Movies, lhe fez companhia. Enquanto Gibson, retrospectivamente, colocava em perspectiva sua “artística” ficção científica inicial, um dos mais explícitos profetas da internet, David Gelernter, autor de Mirror Worlds (1991), usava “fluxo de vida”, uma expressão mais velha do que ciberespaço, para descrever como acreditava que a internet deveria avançar. A imagem do desktop associada à Microsoft antes de o número de usuários da internet crescer espetacularmente era para ele inapropriada: baseava-se numa falsa analogia entre computadores e gavetas colocadas em cima ou embaixo da mesa. Para ele computadores eram fundamentalmente diferentes de gavetas porque podiam “levar à ação” em qualquer nível. Eles criavam um “fluxo de vida” ou, usando uma metáfora espacial já mencionada neste capítulo, uma paisagem em que se podia navegar ou voar em qualquer nível. O espaço, tal como usado na palavra ciberespaço, podia ser “vivido” da mesma forma que navegado ou sobrevoado. Essa é a ideia por trás do Second Life, um mundo virtual lançado em 2003 pela Linden Lab em que os usuários, conhecidos como “residentes”, podem conhecer outros usuários e até comprar e vender propriedades virtuais. O artista de computador norte-americano Myron Krueger (1942-) percebeu isso antes de Gibson criar a palavra ciberespaço. A partir de 1969, usando a cibernética como porta de entrada, ele colaborou com artistas e engenheiros, sob a influência do músico John Cage, na criação do que chamou de “ambientes reativos”, “realidades artificiais que buscam não estimular o mundo físico, mas definir relações arbitrárias e abstratas, se não impossíveis, entre ação e resultado”. A linguagem é difícil, mas o feito foi substancial. Entre 1969 e o fim da década de 1970, Krueger e os colegas que trabalhavam com ele receberam financiamentos da Fundação Nacional de Ciências e do Fundo Nacional para as Artes, uma interessante combinação institucional transcultural. Krueger realizou muitas exposições, também, que o vinculam ao mundo real: uma delas em 1971, no que chamou de “espaço físico”, e outra em 1975, no que denominou “videoespaço”. Ele e seus colegas não estavam sozinhos, fosse em suas pesquisas ou exposições. Durante a década de 1990, Daniel Sandin, um artista de mídia, e Thomas da Tanti, engenheiro, que vinte anos antes haviam entrado juntos para o Laboratório de Visualização Eletrônica da Universidade de Illinois, em Chicago, projetaram o que chamaram (tendo em mente Platão) de Cave (Cave Automatic Virtual Environment, ou caverna digital), que juntava imagens interativas geradas por computador e áudio em 3D com espaço físico. Os participantes eram cercados por imensas pinturas rupestres digitais. Naquele momento, como Gibson observou em 2001, os habitantes da caverna não precisavam usar os capacetes ou as luvas eletrônicas geralmente usados nos primeiros movimentos deliberados rumo ao ciberespaço. Um dos primeiros capacetes, desenvolvido nos laboratórios da Nasa que estavam testando técnicas de simulação, mostrou-se interessante para a televisão, o cinema, fabricantes de videogames e publicitários. Era um “clássico”. Mulheres, crianças, televisão e internet As mulheres figuravam apenas de forma estritamente limitada no paradigma das “velhas luvas e óculos de proteção”, menos, de fato, do que as crianças, que abriram seu caminho no ciberespaço independentemente de seus pais. Assim, apareceram com destaque em todas as discussões sobre a internet, como tinha ocorrido em todas as discussões sobre a televisão (ver p.279). Havia múltiplos vínculos. Tim Campbell, “embaixador das crianças” de Londres em 2007, era mais conhecido como o vencedor de uma competição da BBC em 2006 – houve muitas delas – cujo prêmio era tornar-se o Aprendiz do milionário sir Alan Sugar. A televisão estava quase interligada à vida das crianças, como parecia ter sido durante os anos 1970 e 1980. Na Grã-Bretanha, em 2008, segundo a agência de pesquisa de mercado Childwise, 63% delas viam televisão na cama antes de dormir, e um número maior de crianças entre doze e catorze anos passava doze horas por semana na internet, deixando de lado a BBC e a ITV. Esta última decidiu, assim, cortar o tempo de programação infantil na TV e não autorizar novos programas. Em resultado, segundo a agência reguladora Ofcom (ver p.375), das 115 mil horas de programação infantil transmitidas por ano, apenas 1% era produzido na Grã-Bretanha. Isso afetava a vida nos lares, onde as crianças agora estavam passando da programação agendada para a internet. Nas escolas, por toda parte, incluindo os países em desenvolvimento, as crianças eram estimuladas a mudar para novas tecnologias tanto na sala de aula quanto fora dela. Entusiastas falavam de um “País das Maravilhas digital”, “educacionalistas”, uma palavra proibida, salientando a importância de se aprender jovem, da mesma forma que os idiomas. Mas a mídia impressa geralmente enfatizava mais os perigos da internet para as crianças do que as oportunidades que ela oferecia. Assim, na Irlanda, em 2004, o Irish Times noticiou uma pesquisa da Junta de Aconselhamento sobre a internet, mostrando que os pais estavam cada vez mais conscientes dos “perigos” da rede. Nove por cento das crianças tinham visto alguma coisa que as deixara desconfortáveis na internet, 13% tinham visto coisas que seus pais não gostariam que vissem e 47% dos pais viam na internet uma atividade de alto risco para crianças. Havia esquemas de filtragem não obrigatórios na Grã-Bretanha, na Suécia, no Canadá e na Nova Zelândia, mas em 2008, quando o governo trabalhista australiano apresentou um complexo plano de cibersegurança, um esquema de filtragem de conteúdo baseado numa promessa eleitoral do primeiro-ministro Kevin Rudd, a oposição veio de diferentes quadrantes. Colin Jacobs, que dirigia um grupo lobista de usuários on-line, o Electronic Frontiers Australia, afirmou que o plano do governo envolvia mais interferência técnica na internet do que aquela que havia sido tentada no Irã. Houve reações comparáveis à dos norte-americanos em relação à aprovação pelo Congresso de uma Lei de Decência nas Comunicações, em 1999, impondo o uso compulsório do V-chip (ver p.282-3). Não se sabe quantos pais usaram o V-chip, tampouco o grau de sucesso dos esquemas de classificação etária, semelhantes ao utilizado na indústria cinematográfica, ou em áreas para adolescentes e adultos. Não está claro o que a lei podia ou devia fazer. As crianças podiam revelar suas preferências: eram elas os principais clientes dos parques temáticos do tipo Disney que logo se espalharam pelo mundo. Não se esperava que as crianças em suas casas assistissem aos “reality shows” televisivos, que levavam celebridades de todos os tipos a lugares exóticos e perigosos, fora de seu próprio mundo, que elas nunca visitariam por vontade própria. Esses e os “shows de talentos” também levavam não celebridades a altitudes estonteantes que elas nunca escalariam na “vida real”. Durante os anos 1990 e a primeira década do século XXI, as fronteiras entre a realidade e a realidade virtual, assim como aquelas entre a velha e a nova mídia, estavam mudando, como também entre os meios de comunicação, as fronteiras entre o experimental e o estabelecido e, na “vida real”, entre as responsabilidades dos pais e da comunidade. Na área cultural,as fronteiras entre “alta” e “baixa” cultura, entre os quadrinhos e as histórias ilustradas, já estavam sendo dissolvidas há décadas. O mesmo ocorria entre as disciplinas acadêmicas – história, sociologia, antropologia, psicologia, economia, direito, engenharia, medicina e ciências da vida. Enquanto isso, na área do comportamento, hábitos e vícios começaram a se confundir. Da mesma forma, nas “culturas das drogas” de muitas partes do mundo – expressão que continuou sendo usada no século XXI –, a alucinação e a psicose. Para Timothy Leary, guru das drogas na década de 1960, escrevendo vinte anos depois, os computadores eram “mais viciantes que a heroína”. Em sua maioria, os usuários da internet não poderiam ser descritos como viciados. Escrevendo sobre eles, Charlene Li e Josh Bernoff identificaram o que chamaram de “onda sísmica”, expressão muito mais antiga do que ciberespaço. Em seu livro com esse título [em inglês, Groundswell], eles se referiram ao “movimento espontâneo de pessoas usando ferramentas on-line para se conectarem, controlarem sua própria experiência e obterem o que precisam – informação, apoio, ideias, produtos, poder de barganha entre si”. Muitos dos usuários, mais de dois terços, preocupavam-se basicamente com informação e entretenimento, mas pesquisas indicavam que a proporção de pessoas que as obtinham por si mesmas na Web e por meio dela estava crescendo, acompanhando o crescimento do número de usuários da rede. A palavra “blogger”, ou “blogueiro”, referia-se ao usuário da internet que postava em seu próprio site informações, incluindo opiniões e preconceitos pessoais, da mesma forma que “fatos” e rumores não confirmados. Os blogs eram fáceis de criar, e o custo de “publicá-los” era baixo. Uma pesquisa de 2007 mostrou que 12 milhões de norte-americanos tinham um blog. Os blogueiros japoneses constituíam uma proporção ainda maior da população. Na Grã-Bretanha os blogs eram regularmente mencionados nos jornais, tanto por editores quanto por jornalistas. Muitos deles se viam como “jornalistas cidadãos”; alguns observadores os viam como indivíduos atraídos pelo escândalo e pelo discurso da conspiração. Em 2008, Hazel Blears, secretária de Estado para as Comunidades, definiu o “hype da mídia” e os “blogs cínicos” como igualmente destrutivos em relação ao discurso político saudável. Em seu discurso na Hansard Society ela não se referiu à presença na internet de grandes empresas que forneciam uma estrutura para o que os usuários agora faziam. A Microsoft tinha adquirido uma posição de liderança com o Windows 95 (e seu navegador, o Internet Explorer) e o Windows 98, nos anos de prosperidade que antecederam março de 2000, quando o índice Nasdaq chegou ao pico para depois cair. O presidente de sua divisão empresarial, Jeff Raikes, que se juntara a Bill Gates da Apple em 1982, estava em melhor posição para avaliar a extensão de seu sucesso. Em 2006, ao olhar em retrospecto, ele observou que, se em 1982 Gates e ele tivessem previsto que haveria 500 milhões de pessoas usando ferramentas do Microsoft Office, “iriam achar que estávamos malucos”. O próprio Gates discursava anualmente na Feira de Eletrônicos de Consumo de Las Vegas, e em 1998 observou que não acreditava que o computador pessoal fosse “a única ferramenta da era da informação”. “As pessoas querem informação em todos os lugares a que vão. Elas a querem num aparelho pequeno. No seu carro. Combinada com seu telefone sem fio.” Gates não mencionou então educação nem entretenimento. Tampouco sugeriu que a informação poderia ser transferida para a internet. Apenas dois anos depois, porém, a Microsoft lançou o Microsoft.net e serviços de internet. Havia, é claro, outros provedores. A Apple, sempre um rival tremendamente persistente da Microsoft, lançou em 2001 o seu iPod, que transformou o mundo da música: o adjetivo frequentemente aplicado a ele era “maneiro”. Seu iPhone, um telefone do tipo touch-screen, que combinava reprodutor de música, celular, vídeo, e-mail e internet, seguiu-se em 2008. Steve Jobs, cofundador e há muito tempo o principal executivo da Apple, também fazia seus discursos anuais que, juntamente com os de Bill Gates, delineiam a história convencional das comunicações. Em 2001 duas outras companhias haviam entrado no cenário da internet, Yahoo! e Google, com seus mecanismos de busca, a primeira criada em 1994 e a segunda em 1998. A história dos conflitos e fusões empresariais, subsequentemente intricada e que continua em curso, ligando economia e tecnologia e sempre concentrada no Yahoo! e no Google, só pode ser contada sucintamente: os detalhes, contudo, são tão fascinantes quanto seus resultados. Os garotos prodígios que fundaram o Google (figura 29), Sergey Brin, com 24 anos de idade, e Larry Page, 25, ganharam em 2001 a companhia de Eric Schmidt, que saíra da Novell (ver p.158), formando um triunvirato que em 2004 fez uma “flutuação”c de sua empresa de busca. A publicidade veio do fato de que antes da “flutuação” eles realizaram um leilão holandês não convencional e o anunciaram nas páginas improváveis de uma questionável entrevista à Playboy. Fizeram-se muitas comparações entre a dupla Brin e Page e seus jovens rivais, ligeiramente mais velhos, Jerry Yang e David Filo (figura 30), cofundadores do Yahoo!, uma sigla jocosa para “Yet Another Hierarchical Officious Oracle”, ou “Apenas um Outro Oráculo Hierárquico Informal”. O nome Google era uma corruptela de “googol”, termo matemático que significa o número 1 seguido de cem zeros. Tanto os cofundadores do Yahoo! quanto os do Google se divertiam com o que estavam fazendo: diziam que Yang e Filo tinham se inspirado no computador visto na série de TV Jornada nas estrelas, capaz de responder a (quase) qualquer pergunta. Em consequência, sempre estavam prontos para fazer coisas inesperadas de formas inesperadas. FIGURA 29. Os fundadores do Google Inc., Sergey Brin (centro) e Larry Page (à direita). Sem a capacidade de pesquisa, uma internet em expansão perderia sua força. A chave para o sucesso financeiro do Google era sua forma de obter grandes receitas com a publicidade, diferentemente da busca, oferecida de graça a seus usuários. Em vez de bombardeá-los com anúncios que eles podiam ou não desejar, o Google os apanhava no momento em que encontravam na Web o que estavam procurando e então apresentava o texto publicitário apropriado. Os anunciantes compravam palavras-chave relevantes para determinado produto ou serviço, de modo que, quando e se essas palavras aparecessem numa busca, esse produto ou serviço ganharia uma posição mais destacada na página de resultados. O triunvirato que dirigia o Google, operando a partir de sua sede na Califórnia, o Googleplex, mostrou-se altamente adaptável. Assim ele anexou seu maior competidor independente, o grupo de publicidade on-line DoubleClick, e passou para a área de vídeo, adquirindo por 1,65 bilhão de dólares o YouTube, um site de apresentação de vídeos criado, como o próprio Google, numa garagem, e em 2008 lançou um novo sistema de software móvel, o Android, usando para divulgá-lo um anúncio numa revista em quadrinhos alemã. Havia um celular para acompanhar o Android, produzido em Taiwan. FIGURA 30. Os fundadores do Yahoo!, ferramenta de pesquisa na internet. Jerry Yang e David Filo eram dois típicos jovens pioneiros da internet. Outras atividades incluíam o Google Maps e o Google Earth. Alguns de seus mapas atendiam usuários sem acesso a um atlas (havia resistência a eles). O Google Book Search permitia que os usuários baixassem ou lessem na tela uma ampla gama de romances e outros textos. Críticos franceses do Google, que temiam sua influência sobre a cultura francesa, contraditoriamente queixavam-se de que a escolha dos livros e textos favorecia a Grã- Bretanha e os Estados Unidos, e afirmavam que o Google não devia se meter com a literaturafrancesa. Como o Google frequentemente foi notícia entre 2004 e 2008 – e não somente nas páginas de negócios dos jornais –, houve assuntos que chegaram às manchetes, como o anúncio, em 2008, de que a rainha Elisabeth II, que fez seu primeiro discurso de Natal televisionado em 1957, tinha um espaço próprio no YouTube e o usaria, juntamente com a televisão e o rádio, em sua mensagem de Natal de 2008. Esse elo britânico interessava a Schmidt, que discursou na conferência de 2007 do Partido Conservador britânico, quando deixou claro que para ele ainda havia um negócio inacabado: queria construir uma empresa Google dez vezes maior que a então existente. Para completar o quadro, Schmidt era então não apenas o executivo-chefe do Google, mas membro da diretoria da Apple. Em 2008 o site mais visitado, tanto na Grã-Bretanha quanto nos Estados Unidos, foi o Google. O Yahoo!, contudo, ainda liderava os rankings dos sites de busca em todo o mundo. A Microsoft, que vinha em terceiro, respondendo por 12,8% das buscas, fez então uma audaciosa oferta para adquirir o Yahoo!, levando o Google a acusá-la de tentar estabelecer “monopólios de propriedade” com seus pacotes de software Windows e Office. O Yahoo! rejeitou a oferta, contudo, criando considerável turbulência em suas próprias fileiras e entre seus acionistas, particularmente depois de a Microsoft retirar a oferta. “Ninguém está comemorando esse resultado”, afirmou Yang. “Vivemos e trabalhamos num mundo competitivo e a Web só vai se tornar mais competitiva.” Mas Yang não conseguiu encontrar outro parceiro e anunciou que renunciaria ao cargo de diretor-executivo assim que a diretoria encontrasse um sucessor. Havia empresas novatas na Web no período coberto por este capítulo, as mais bem-sucedidas desenvolvendo o que logo se veio a chamar de sites de rede social. Seu sucesso provou que muitos usuários não buscavam isolamento, mas interação: queriam fazer contato com outros usuários no ciberespaço. Uma das novas companhias que tiveram mais êxito no atendimento a esse impulso comunitário era o Facebook, fundado em 2004 por Mark Zuckerberg, que em 2008 tinha 161 milhões de membros, dos quais 18,4 milhões na Grã-Bretanha. Zuckerberg, que ainda tinha pouco mais de vinte anos, pensava em termos globais com tanta naturalidade quanto a Microsoft, o Yahoo! e o Google. “O crescimento é nossa prioridade”, afirmou ele num encontro anual de grandes tecnólogos e investidores da internet realizado em São Francisco em 2008. Outra empresa representada no encontro, a Myspace, estava explicitamente interessada na “comunidade on-line”, da mesma forma que a My Society, que ajudava a operar sites de uso comunitário. O Myspace tinha sido fundado em 2003 por Chris de Wolfe e seus parceiros, mas fora adquirido dois anos depois por Rupert Murdoch como parte de uma transação maior. O cinema, em que Murdoch estava pessoalmente interessado, enfrentava problemas distintos em função da internet, e de início as companhias cinematográficas não estavam dispostas a exibir filmes novos on-line. A música, porém, enfrentava problemas ainda maiores, pois a música on-line provocava, como tinha acontecido com o rádio, problemas de pirataria. Na Grã-Bretanha, a Lei de Direitos Autorais e Marcas Registradas (Delitos e Observância) de 2002 aumentou as penas para roubo de direitos autorais e ampliou os poderes de busca e apreensão da polícia, mas essa medida irritou muitos usuários de telefones celulares e era difícil de aplicar. Para o Times de Londres, em 2002, nunca tinha havido um desrespeito mais flagrante pelo direito autoral: “a nova tecnologia, a internet e o mercado global significam que qualquer um pode reproduzir e distribuir material protegido por direito autoral, a partir de sua cama, com equipamento adquirido numa loja tradicional de produtos eletrônicos”. Como sempre, tecnologia e economia andavam juntas, mas essas questões envolviam compositores e intérpretes, juntamente com empresas, da mesma forma que a longa e amarga greve dos roteiristas de Hollywood em 2007. No mundo dos negócios da música, a EMI, uma grande companhia, com uma longa e brilhante história, que se inicia com a Gramophone Company (ver p.207-8), passou por uma série de problemas antes e depois de ser adquirida, em 2007, pela Terra Firma, um fundo de ativos privados dirigido por Guy Hands (1959-), que tentou deixar claro não estar procurando popularidade, mas eficiência. Ele reconhecia a força das atividades de edição da EMI e o esplendor histórico de seu catálogo, mas questionava se ele estava atraindo novos e adequados talentos. Preocupados com essa abordagem, vários artistas criativos bem conhecidos saíram da EMI, que, em outras divisões que não a de edição, deixou de ser lucrativa. Nesse contexto, a indústria como um todo havia tido problemas na maioria de seus setores antes e depois da aquisição da EMI pela Terra Firma. Assim, na televisão, o programa Top of the Pops, que já estivera no topo do ranking, desapareceu das telas em 2006 e, olhando para um período anterior na história da música pop, do outro lado do Atlântico a própria sobrevivência dos antigos prédios, muito filmados, da Tin Pan Alley, em Nova York, lar original das partituras musicais, era ameaçada por seus administradores. Entretanto, em 2008, apesar da depressão que atingia o mundo dos negócios, havia esperanças de que a indústria musical britânica estivesse “dobrando a esquina” após travar uma batalha perdida por toda a década contra a pirataria, uma consequência da digitalização. Apesar da ubiquidade da “música de graça”, a produção de “pacotes” de música gravada e de dispositivos técnicos para tocá-la, procedimento em que a Apple foi pioneira, mostrou-se frequentemente uma estratégia de marketing bem-sucedida. A música em formato MP3,um formato popular para download de música da internet para ser posteriormente tocada em PCs e celulares, era “legítima” do ponto de vista jurídico, e em 2008 mais de 700 mil espectadores estavam baixando programas da BBC de todos os tipos, não apenas música, todos os dias, por meio de seu novo serviço de iPlayer. A história do iPlayer remonta a 2002 com o lançamento de uma rádio on-line que tornou possível mudar o tempo de escuta para “alcançar” ou repetir à vontade. O direito autoral tinha sido uma grande preocupação das indústrias do cinema e da música quando confrontadas pela internet, e também o era dos colégios e universidades. Na educação, contudo, havia mais boa vontade e dificuldades mais fáceis de enfrentar, em particular nos países em desenvolvimento distantes da Europa e dos Estados Unidos, incluindo países asiáticos em que a música era frequentemente pirateada. Eles muitas vezes conseguiam recursos por meio de organizações não governamentais e fundações internacionais privadas. Assim, em 2007, na África, Quênia, Burundi e Madagascar obtiveram 83 milhões de dólares do Banco Mundial para ajudar a estabelecer redes de banda larga de alta velocidade. Lá, como em outros lugares, os estudantes foram mais rápidos em perceber o que poderiam fazer com a rede mundial do que seus professores. Um relatório Horizon de 2008, produzido pela New Media Convention em colaboração com o chamado Educause Learning Institute, observava que os alunos haviam “abraçado tecnologias sociais como o Facebook e outras plataformas similares [observe-se o novo uso de uma velha palavra que tem atrás de si uma história tanto política quanto teatral] em números sem precedentes, mas essas tecnologias continuam sendo um mistério para muitos nos campi. Ferramentas de webware com evidente potencial no campo educacional estão tendo a mesma recepção”. O número de siglas utilizadas nas empresas de tecnologia de comunicações podia ser, por si mesmo, uma barreira ao acesso imediato não apenas nos países em desenvolvimento, mas houve alguns nomes bem escolhidos, associados à
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