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1 SUMÁRIO 1 SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO ................................................................ 2 2 A REVOLUÇÃO DA INFORMAÇÃO ........................................................... 6 3 O COMPUTADOR: E O DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE DE INFORMAÇÃO .......................................................................................................... 10 4 A NOVA RELAÇÃO COM O TEMPO ....................................................... 12 5 SOCIEDADE DIGITAL: A ASCENSÃO DA INTERNET ............................ 15 6 A IMPORTÂNCIA DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E O PAPEL ESTRATÉGICO DO SOFTWARE LIVRE .................................................................. 18 7 O CONCEITO DE REDES SOCIAIS ........................................................ 22 8 AS REDES SOCIAIS ................................................................................ 30 9 O IMPACTO DAS REDES SOCIAIS ......................................................... 54 10 O PARADIGMA DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO ................... 59 11 EFEITOS COLATERAIS: O CONSUMIDOR E O EXCLUÍDO ............... 61 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 66 2 1 SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO Fonte:conversadebalcao.com.br A informação é a transmissão de mensagens que possuem um significado comum entre o emissor (quem produz a mensagem) e um sujeito (quem recebe a mensagem), por meio de um suporte tecnológico que faz a mediação dessa mensagem. Toda informação é dotada de consciência, objetivo e finalidade ao ser transmitida do emissor para o interlocutor. Segundo McGarry (1999 apud Galarça) a informação é um termo-fato, um reforço do conhecido, matéria-prima do conhecimento, permuta conforme o exterior, é definida de acordo com os efeitos do receptor, é algo que reduz a incerteza. Mais amplamente, pode-se afirmar que a informação é, hoje, para a sociedade contemporânea, a base do conhecimento, das relações, da vida econômica, política e social. Webster (1995 apud Galarça) conceitua dizendo que a informação é algo que possui um sujeito, sendo um entendimento ou instrução sobre coisa ou alguém significativa ao receptor, completa: é a transformação da visão inicial sobre um aspecto ou assunto. Dessa forma fica evidente que a informação, na sociedade atual, é o mecanismo mais importante na qual se relacionam e se concretizam as comunidades. 3 A Sociedade da Informação estrutura-se, em primeiro lugar, a partir de um contexto de aceitação global, na qual o desenvolvimento tecnológico reconfigurou o modo de ser, agir, se relacionar e existir dos indivíduos e, principalmente, propôs os modelos comunicacionais vigentes. Não se pode separar a informação da tecnologia, algo que vem sendo remodelado e institucionalizado com os avanços na área do conhecimento e das técnicas. A Sociedade da Informação, de acordo com Webster, é representada por uma sociedade na qual a informação é utilizada intensamente como elemento da vida econômica, social, cultural e política, dependendo de um suporte tecnológico para se propagar, demonstrando que esse processo se tornou um fenômeno social, instaurado dentro da sociedade. Para que a informação se propague, como já foi dito, é necessário um meio tecnológico. É por esse motivo que a sociedade caminha ao encontro da tecnologização, para um processo de virtualização onde tudo passa a acontecer e se fazer dentro de um universo virtual. Para Castells (1999), a habilidade ou inabilidade de uma sociedade dominar a tecnologia ou incorporar-se às transformações das sociedades, fazer uso e decidir seu potencial tecnológico, remodela a sociedade em ritmo acelerado e traça a história e o destino social dessas sociedades; remetendo que essas modificações não ocorrem de forma igual e total em todos os lugares, ao mesmo tempo e instantânea a toda realidade, mas sim é um processo temporal e para alguns, demorado. A produção e a difusão da informação se deram, primeiramente, pela tradição da cultura oral, armazenada nos manuscritos e repassada por leituras coletivas em comunidades ou grupos restritos. Com o desenvolvimento dos transportes e do comércio, no século XV, essas informações deixaram um pouco de sua restrição para chegar a outras comunidades mais distantes. Foi nessa época, também, que houve uma busca cada vez maior pelo conhecimento e, no século XVII, foram criadas as primeiras universidades. Um dos principais marcos da propagação das informações, especialmente para o ramo das comunicações, foi o desenvolvimento da prensa gráfica, a partir de Gutenberg por volta de 1450, dando início à comunicação de informações a um número maior de pessoas. A imprensa, com seu desenvolvimento espetacular nos séculos seguintes, é considerada a primeira mídia de massa propriamente dita, criando um hábito de leitura e um interesse maior na busca pela informação. Nos 4 séculos XIX e XX, houve a ascensão da indústria do jornal, que aprimorou a atividade de coleta e de distribuição da notícia e fez surgir profissionais do ramo e internacionalizou a informação. O século XXI está trazendo à tona uma nova reorganização dos modos de produção e negócios e, consequentemente, de economia, de sociedade e de política. Dificilmente alguém discordaria de que a sociedade da informação é o principal traço característico do debate público sobre desenvolvimento do nosso tempo. As preocupações com a direção que vem tomando o novo paradigma tecnológico da informação apontam os inúmeros desafios a enfrentar, para que a nova sociedade supere velhas e novas desigualdades. Das propostas políticas oriundas dos países industrializados e das discussões acadêmicas, a expressão ‘sociedade da informação e do conhecimento’ transformou- se em jargão nos meios de comunicação e de pesquisa. A partir daí, cada vez mais os dispositivos tecnológicos passaram a influenciar a forma de produzir e transmitir informações. Em 1840 surge o telégrafo, que permitiu que a informação transitasse não apenas por meios materiais físicos. Na década de 1920, houve a explosão das rádios (nos Estados Unidos) que, primeiramente, eram usadas para fins internos na comunicação de guerra, e que passaram a ser disponibilizados a uma cobertura nacional, tornando-se, à época, o meio mais importante de difusão da informação, dando início às atividades publicitárias, aos noticiários e programas de entretenimento. Entre as décadas de 1940 e 1950, o desenvolvimento da televisão (nos Estados Unidos e Europa, especialmente Inglaterra), demonstrou o potencial de impacto na sociedade moderna, revolucionando os sistemas de informação com a imagem em movimento, presente antes em salas escuras de cinema, agora refletindo em locais privados. Nessa mesma época começava a se desenvolver o computador, na qual as informações eram programadas e para efetuar algumas operações independentes, ainda que ocupassem uma sala e pesassem dezenas de toneladas. O Personal Computer (PC) foi desenvolvido para responder a uma interrogação: as pessoas usariam um computador em casa? Muitos duvidavam, entre estes, a própria indústria da computação. Porém, o desenvolvimento da informática com a entrada do PC é acelerado e, pouco tempo depois, em 1984, é lançado o modelo compacto Macintosh 5 128, que passou a influenciar o formato dos PCs até hoje e suas interfaces de programas operacionais. Ao lado deste desenvolvimento tecnológico, com a ampliação de funcionalidades por um lado e a diminuição de tamanho, peso e custos por outro, o computador pessoal passa a ser determinante para que a tecnologia chegue ao ponto de estar, atualmente, totalmente entranhada em nosso cotidiano. Nos primórdios da tecnologia humana, passou-se da atividade agrária para a industrialização das cidades, por conseguinte, esse processomudou a estrutura social de forma tão ampla que foi denominada Revolução. Do mesmo modo, as transformações ocorridas com o desenvolvimento tecnológico podem ser consideradas uma revolução contemporânea da ascensão digital e da informação. Ao longo do tempo, a informação deixou ser um processo local para se apresentar em âmbito global. Reconfigurou o tempo e o espaço, acelerando as práticas e encurtando as distâncias. Tornou possível um novo tipo de sociabilidade, na qual a presença física já não é essencial para que haja uma relação, sendo possível interagir com quem quiser, a hora que quiser e ser participativo dentro da sociedade por meio de um espaço virtual. Conceitualmente, tal expressão passou a ser utilizada, nos últimos anos do século XX, como substituto para o conceito complexo de ‘sociedade pós-industrial’ e como forma de transmitir o conteúdo específico do novo paradigma técnico econômico. Neste novo paradigma, as transformações técnicas não têm mais como fator chave os insumos baratos de energia – como na sociedade industrial –, mas os insumos baratos de informação propiciados pelos avanços tecnológicos na microeletrônica e telecomunicações. Portanto, essa sociedade ‘informacional’, está ligada à expansão e à reestruturação do capitalismo desde a década de 80 do século XX. Mas desde quando a informação influencia a sociedade? 6 2 A REVOLUÇÃO DA INFORMAÇÃO Fonte: 3.bp.blogspot.com Informação prosperou como conceito filosófico na era clássica, denotando a imposição de uma forma, ideia ou princípio, que assim se tornava ‘informada’ ou ‘formada’. Depois, por séculos, o uso do termo informação foi monopolizado por jornalistas. Nos últimos tempos, os múltiplos sentidos do termo têm causado ambiguidades em interpretações como, por exemplo, comunicando/informando ou notícia/informação. Sathler descreve que informação se refere a uma mensagem informativa, na qual um dos polos funciona sempre ou predominantemente como transmissor, enquanto outro como receptor que não reproduz respostas ou reciprocidade como no caso da comunicação. Mas como esse conceito tem ligação com a sociedade atual? Por que autores a nomeiam como sociedade da informação? No livro de Straubhaar, intitulado Comunicação, Mídia e Tecnologia, o segundo capítulo foca detalhadamente a evolução da sociedade da informação. O histórico é interessante para o entendimento global desta nova sociedade que se formou. Será possível visualizar como as invenções tecnológicas do homem influenciaram as mudanças no uso ou transmissão de informação, que hoje caracterizam tanto o atual paradigma. 7 É verdadeiro que a importância dos sentidos do homem sempre foi vital para sua existência. Desde os tempos remotos, o homem utiliza ou troca informações através dos sentidos da audição e da visão, além da fala. Como nas sociedades primitivas não havia registros escritos, a informação e a comunicação desta época eram abordadas por diferentes formas de linguagem (rito, mito, relações de parentesco e comunicação pictórica). As principais linguagens artísticas nasceram com o homem e desenvolveram seu papel como expressão e comunicação. Os testemunhos disso são os desenhos gravados no interior das cavernas, nas tábuas de madeira ou argila encontradas em escavações arqueológicas. A importância da comunicação como instrumento verbal se destacou nas sociedades clássicas, tidas como agriculturais, a exemplo da grega, na qual se fez uso da retórica, restrito ao contato imediato de pessoa a pessoa. O nascimento da escrita também foi essencial no desenvolvimento da humanidade e na evolução da informação. Teve origem nos primeiros desenhos rudimentares em que o homem expressava suas ideias. A invenção do alfabeto veio simplificar a arte da escrita. Se o papel já era conhecido na China há mais de mil anos até a data de sua introdução na Europa, no século XII, faltava conhecimento para reprodução e distribuição, que surgiram mais tarde, com a imprensa. Antes do século XV, embora limitados, os livros eram um meio de massa ainda restrito. As pessoas do poder não estavam particularmente interessadas que as massas pudessem ler e as necessidades econômicas não pediam por uma força de trabalho alfabetizada. Somente no século XV mais pessoas no comércio e outras atividades não agrárias passaram a querer frequentar uma escola e obter informação de livros. A ‘Bíblia’ de Gutenberg apareceu em 1455, resultado da invenção do tipo móvel de metal e da impressão mecânica. No século XVI, a maior disponibilidade de livros gerou o crescimento da alfabetização e leitura, que começaram a mudar a maneira de pensar e agir das pessoas. Assim, a ideia de opinião pública começou a tomar forma e líderes políticos tão antigos quanto Oliver Cromwell, da Inglaterra, em torno de 1640, perceberam, utilizando a imprensa e passeatas para ganhar apoio público a seus mandatos. 8 Conforme a Revolução Industrial tomou velocidade, meios de massa com base industrial, tais como livros e jornais, apareceram e proliferaram, apesar ainda da limitação, do analfabetismo e da falta de dinheiro da maioria da população. Estava surgindo a sociedade industrial. A tecnologia inovadora que provocou o desenvolvimento desta sociedade foi a máquina a vapor, e sua principal função foi substituir e amplificar o trabalho físico do homem. Com o desenvolvimento da urbanização, as indústrias foram surgindo e trazendo os trabalhadores agrários para os centros urbanos. Simultaneamente, as pessoas estavam ansiosas para obter informações que as ajudassem a avançar em suas vidas pessoais, comunicando-se, expressando-se e compreendendo. A alfabetização passa a ser importante para a realização de trabalhos e a escolaridade busca sua universalização entre a maioria da população urbana. Além disso, a cultura era vista como um processo de refinamento, em especial a cultura clássica, elevada e desenvolvida na Europa. Esse enfoque viria a ajudar a educar, cultivar e civilizar as pessoas vindas do interior para as cidades, que tinham a ideia da cultura como educação e não como entretenimento. As comunicações escritas não conseguiram competir com a rapidez da transmissão de mensagens eletrônicas, usadas nos meios interativos da telegrafia e telefonia. O telégrafo, que começou a funcionar em 1836, teve efeitos no comércio e na política, pois transmitia a mensagem alheia de forma neutra com muita rapidez. Empresas podiam controlar suas filiais em locais remotos, porque descobriram que a redução de espaço e tempo permite uma operação mais ampla. A prova da veracidade de tal ideia se encontra em uma das tecnologias mais difundidas no mundo atual, que será discutida posteriormente: a Internet. A telefonia também se espalhou rapidamente ao final do século XIX. Derrubou posteriormente a telegrafia devido ao desenvolvimento de tecnologia e acesso à grande parte da população. No começo do século XX, muitas pessoas não tinham capital para acessar ou utilizar a mídia impressa, então, outros meios, como os filmes, por exemplo, vieram a preencher esse vazio. A revolução da energia motora aumentou o poder produtivo material e possibilitou a produção em massa de bens e serviços, e o rápido transporte desses bens. Nessa época, a ciência e a tecnologia passam a ocupar o centro do sistema produtivo, exigindo atividades de pesquisas cada vez mais complexas e, em 9 consequência, desenvolvendo novas invenções. Nos anos 20, o rádio estava se tornando um meio popular, inclusive nas áreas rurais, transmitindo músicas e programas. A descoberta sobre a conversão e transmissão de imagens em sinais elétricos ocasionou um dos grandes inventos do homem: a televisão. Na década de 30, realizavam-se transmissões experimentais, mas em 50, os serviços de televisão já ofereciam uma grande variedade de programas informativos,de diversão ou de caráter educativo. Ao afirmar-se como veículo de massa de alto custo operacional, tornou-se dependente de anunciantes, foi quando a propaganda descobriu esse meio fértil de lucro. Aliás, a televisão é um dos meios de comunicação mais importantes para a caracterização da sociedade de massa. A história da propaganda acompanhou o desenvolvimento dos meios de comunicação e se tornou parte essencial da economia industrial, principalmente americana. Este setor se tornou eficiente em informar os consumidores sobre novos produtos e criar demanda para tais. A industrialização, a urbanização e a comunicação estavam se unindo para criar um potencial mercado de massa de consumidores. Essa visão espalhou-se primeiro nos Estados Unidos, nos anos 50, com a principal sociedade de consumo do mundo. Vieram as lojas de departamento, os grandes catálogos de consumo, os cartazes de ruas (outdoors), além de anúncios nos diversos meios de comunicação. A televisão vem dominando a colocação de anúncios desde a década de 50 e se espalhando cada vez mais em lares de todo o mundo. A combinação industrial de tecnologia e economia introduziu a produção em massa de cultura para uma audiência mais ampla, já que a industrialização reduziu os custos e aumentou a acessibilidade aos produtos culturais, como livros, jornais, revistas, discos, CDs e filmes. Assim, a mídia começou a refletir nos gostos e características variadas do público, expandindo-se além das telinhas do televisor para as do computador. 10 3 O COMPUTADOR: E O DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE DE INFORMAÇÃO Fonte:slideplayer.com.br Apesar de a mídia ter influenciado claramente a nova sociedade, o que definitivamente mudou a vida do homem em relação ao uso e troca de informação começou a se desenvolver em 1946, nos Estados Unidos. Agora, algo poderia substituir e amplificar o trabalho mental do homem. Entra em funcionamento o primeiro computador eletrônico, que utilizava sistema de válvulas e possuía 120 metros cúbicos. Anos mais tarde, em 1951, os primeiros computadores foram colocados à venda. Mas a revolução estava por vir. A evolução tecnológica de eletrônica e informática trouxeram a invenção do chip, do circuito integrado e da tecnologia digital e, em 1981, foi lançado o primeiro micro IBM/PC com sistema Microsoft, seguido da invenção pela Apple, em 1984, do primeiro computador com ícones e mouse. 11 O homem agora tinha a possibilidade de ter em casa o seu computador pessoal (PC), que dispunha de grande acesso interativo. Podemos dizer que o computador foi a tecnologia inovadora que resultou no desenvolvimento da sociedade da informação. Assim, ao longo do tempo, a sociedade começou a utilizar cada vez mais técnicas industriais para ‘construir’ informação e oferecer serviços de grande conteúdo informativo de forma industrializada. Setores como da agricultura, indústria e serviços estão sendo alterados pelo uso das tecnologias de informação e hoje, no mínimo, metade da força de trabalho está envolvida na criação, manipulação ou uso da informação. Empregos de informação incluem todos aqueles primariamente envolvidos na produção, processamento ou distribuição de informação: secretárias, gerentes, pesquisadores, educadores, seguradores, contadores, financiadores, bem como jornalistas, produtores de mídia, engenheiros em computação e áreas de informação, designers e assim por diante. Esses empregos estão crescendo, enquanto outros declinam, acompanhando a transformação do mundo para a sociedade da informação e do conhecimento. As indústrias ligadas à informação, portanto, começaram a ganhar força, trabalhando com mídia, softwares e equipamentos de computadores e telecomunicações. A rede de telecomunicações foi atualizada nos anos 80, conforme os computadores foram interligados através de várias redes e serviços de comunicação de dados. A comunicação via satélite, já em 1970, suportava milhares de circuitos telefônicos e canais de televisão, distribuindo informação para todos os continentes. Na virada do século XX, pesquisas já registram que os americanos entram na rede telefônica um bilhão e meio de vezes por dia. Os telefones estão agora mais presentes do que nunca, com o desenvolvimento explosivo do serviço da telefonia móvel. Nessa mesma época, registrava-se cerca de 300 milhões de PCs em mais de 150 países, que estão interligados à Internet. Uma pesquisa americana realizada em 1998 estimava que a web continha cerca de 320 milhões de páginas de informação e entretenimento. No ano 2000, mais de 800 milhões de pessoas estão navegando. A rede se expandiu em 50% a cada ano da década de 90, impulsionada pelo interesse dos usuários na World Wide Web, que veio ampliar as possibilidades do uso do computador como fonte de informação e 12 comunicação. (DIZARD, 2000, p. 24). Mas como o computador influenciou na nova relação de tempo do homem? 4 A NOVA RELAÇÃO COM O TEMPO Fonte:image.freepik.com Somente para o homem o tempo se esvai rapidamente? Como as máquinas ou tecnologias lidam com o tempo? Pensando no desenvolvimento das últimas tecnologias, um fio de fibra-ótica, por exemplo, pode transmitir o conteúdo total de um jornal, de uma novela de televisão, ou de um filme de Hollywood, simultaneamente e na velocidade da luz. A capacidade de transmissão de informação nesses circuitos é extraordinária: um cabo de fibra, tão fino quanto um fio de cabelo humano, pode transmitir todo o conteúdo da Enciclopédia Britânica em menos de um minuto (DIZARD, loc.cit.). Os números das pesquisas são espantosos e caracterizam notoriamente o mundo globalizado, que distribui informação através das novas tecnologias para muitas pessoas em pouco tempo. O pesquisador Masuda (1981, p. 61), idealizador do Plano Japonês para uma Sociedade da Informação, também analisa a relação do tempo diante da comparação 13 entre a revolução da energia motora na sociedade industrial e a revolução da informação na sociedade da informação, trazendo dados interessantes. Recordando as datas das inovações tecnológicas que desempenharam papéis decisivos na primeira revolução, sabe-se que a máquina a vapor pioneira foi inventada em 1708 por Newcomen. Depois, a primeira estrada de ferro foi construída entre Liverpool e Manchester, em 1829. Na produção do automóvel Ford modelo T, o inovador produto saído de uma linha de produção em massa começou em 1909. O avião a jato apareceu em 1937. Assim, houve um período de 229 anos de desenvolvimento tecnológico entre a invenção da máquina de Newcomen e o aparecimento do avião a jato. Pode-se observar o contraste com a revolução do computador. O primeiro computador a válvula, como já foi dito, foi desenvolvido em 1946. A segunda geração surgiu em 1956. A terceira geração, utilizando circuitos integrados, apareceu em 1965. Os microprocessadores, circuitos integrados em uma única pastilha, surgiram em 1973. Depois a invenção do ícone e mouse, trouxe a quarta geração em 1984. A quinta geração realizou o desenvolvimento de processadores Pentium, já em 1993. Hoje, temos computadores de última geração com capacidade de processamento de dados e imagens inimagináveis. Assim, considerando o período da primeira geração até os dias atuais, o período de inovação soma cerca de 60 anos. Esta comparação mostra que a última revolução está acontecendo no mínimo quatro vezes mais rapidamente, já que o gasto em tecnologia e pesquisa cresceu, assim como os profissionais voltados para a área. Se durante milênios as transformações foram lentas, sabe-se que nas últimas décadas o sistema obrigou o sujeito a ter pressa, pois tempo é dinheiro. Então, pode- se refletir. Qual a relação de tempo na época industrial e qual a relação de tempo hoje? Muitas pessoas afirmam que hoje o tempo passa muito rápido. Elas não percebem que o ritmodo trabalho, o consumismo exacerbado e a vida frenética da informação causam esta sensação. Viver e conviver nesta sociedade, sob o controle tecnológico, fazem com que o ser humano se adapte ao tempo da máquina e não o inverso. Antigamente, materiais e objetos poderiam durar 30 anos, ao contrário, hoje um computador, ou um pen-drive, sai de linha em dois anos, e as pessoas, então têm que 14 trabalhar mais para comprar mais em menos tempo. O capitalismo e as regras do mercado movem esta engrenagem que gira com mais velocidade, e a tendência é acelerar cada vez mais. Assim, a humanidade caminha guiada pela economia da informação. Para concluir, o Quadro 01 ilustra o caminhar da evolução da informação diante das transformações da produção de bens, expansão de mercados e desenvolvimento da mídia nas diferentes sociedades. Quadro 01 – Comparação das características de cada sociedade Produção Mercado Mídia Sociedade agricultural Produtos personalizados feitos a mão em indústrias caseiras Vendido para pessoas do local Via mídia popular Sociedade industrial Produtos padronizados Vendido para mercados nacionais e regionais Via propaganda em mídia impressa Sociedade de massa Produção em massa Vendido para mercados nacionais e internacionais que compartilham uma cultura de massa Via propaganda em uma variedade mais ampla de tipos de mídia Sociedade da informação e do conhecimento Produtos em nível nacional e internacional produzidos com alta tecnologia Vendido para o mercado globalizado e usuários Via propaganda em em diversos meios, incluindo distribuição digital 15 Percebe-se que o desenvolvimento da mídia foi um fator decisivo para a ampliação do mercado e que, de certa forma, reflete a necessidade imposta pelo novo paradigma advindo da sociedade da informação e do conhecimento. 5 SOCIEDADE DIGITAL: A ASCENSÃO DA INTERNET Fonte: image.woshipm.com A sociedade transita hoje no que se convencionou denominar Era Digital. Os computadores ocupam espaço importante e essencial no atual modelo de sociabilidade que configura todos os setores da sociedade, comércio, política, serviços, entretenimento, informação, relacionamentos. Os resultados desse processo são evidentes, sendo que essas transformações mudaram o cenário social na busca pela melhoria e pela facilitação da vida e das práticas dos indivíduos. As tecnologias digitais possibilitaram uma nova dimensão dos produtos, da transmissão, arquivo e acesso à informação alterando o cenário econômico, político e social. Porém, a dimensão mais importante do computador não é ele em si mesmo, mas a capacidade de interligação, de formação de rede. Assim, com o surgimento da internet no final dos anos 1960, as ideias de liberdade, imaterialidade passam a revolucionar a leitura e a comunicação em rede, possibilitando arquivar, copiar, 16 desmembrar, recompor, deslocar e construir textos, exibi-los e ter acesso a todo tipo de informação, de qualquer variedade, a todo instante. O desenvolvimento de novas tecnologias no setor da informática suplantou um mercado cada vez mais competitivo e especializado, resultante da globalização, aceleração e instantaneidade dos processos produtivos e padrões de mercado vigentes. O uso da rede integrada de computadores entre as pessoas e empresas, tornou-se algo indispensável nos dias atuais. É possível ter acesso a uma vasta rede de informações em tempo real e também trocar e cruzar dados a qualquer momento. Com o uso do computador, os serviços foram agilizados e facilitados, houve uma redução da mão-de-obra em ocupações que substituíram o trabalho humano, mas que abriu portas para novas ocupações especializadas no ramo da informática (programadores, webdesigners, administradores de rede) e das comunicações (marketeiros e jornalistas virtuais). Diferente das analogias anteriores baseadas sobre os suportes (imprensa, tv, rádio, etc), Lévy (1993) aponta novas funções para a formação da rede digital, que ele chama de polos funcionais: produção ou composição de dados, de programas ou de representações visuais (técnicas digitais); seleção, recepção e tratamento dos dados, dos sons ou das imagens (terminais de recepção inteligentes); transmissão (a rede digital de serviços integrados) e armazenamento (banco de dados, de imagens). Qualquer informação pode ser obtida instantaneamente e de qualquer parte do mundo, a visibilidade dos fatos se tornou maior e mais rápida, na qual os dados são atualizados a todo segundo. Lévy (1993) expõe que a interface digital alarga o campo do visível, evidenciando a emergente evolução que diversificou, facilitou e transmitiu as informações de forma instantânea e ampla. A internet fez o cidadão potencialmente interagente e agente comunicador. Ele não só passou a ter um acesso maior a informação como pode participar dela diretamente, opinando e interagindo ao mesmo tempo em que a recebe. Uma das questões colocadas em relação à Internet é a formação de um espaço público virtual. Para alguns críticos como Nunes (1997), a Internet não capacita a objetivação e a consolidação da vontade geral, percebe-se, assim, que essa proposição se refere ao fato de que essa esfera ainda se encontra em transição, transformando significados nos campos sociais. O autor postula que essa esfera segue as lógicas dos meios empresa-Estado-usuário, inviabilizando o espaço público. 17 Para estudiosos mais otimistas, a Internet só revolucionou positivamente a sociedade, facilitando a vida em geral. Tornou-se espaço para comunicação, política, economia e democracia, local para a realização do homem (tomando de empréstimo clássica definição de esfera pública, de Jürgen Habermas, 1984) e participação e interação cívica (Maia, 2002), onde também é possível ter diversão, lazer, ócio, contatos pessoais, profissionais, exercício de liberdade de expressão. De acordo com a teoria do Agir Comunicativo de Habermas, a mídia tem a potencialidade de transpor a ação face a face criando redes de comunicação simultâneas com conteúdos advindos de diferentes setores sociais. Maia acrescenta que, além disso, disponibiliza a mensagem em amplas escalas espaço-temporais, fazendo com que o público não só participe desse espaço como também preserve um campo de relações. Para Habermas, muito além do corpo físico são indispensáveis as ações, interações, troca de ideias e experiências, sendo que o ciberespaço é permeado por práticas sociais e a materialidade das relações humanas codifica-se na linguagem, evidenciando a importância que esta ferramenta dá ao público o poder de interação que dispensa o contato presencial. Vê-se também que houve uma descentralização do processo de produção e divulgação de informação, na qual qualquer um pode fazer isso e passa a ter acesso àquilo que procura. Mas, a capacidade desses meios que mais se destaca é que eles proporcionam um encurtamento de distâncias, eliminação de barreiras nacionais e algumas ideológicas, a desterritorialização e a utilização de uma linguagem universal – a dos computadores. Estas são propostas que surgiram defendendo o uso potencial dos dispositivos tecnológicos. Poster e Shapiro (1999) apontam a tecnologia como campo de interação entre técnicas e relações sociais que reconfigura a analogia entre tecnologia e cultura. Brittos (2002) acrescenta que as tecnologias geram impacto econômico, político e sociais. As novas configurações trazem, portanto, benefícios e prejuízos já que facilitam por um lado e por outro demandam a necessidade de um conhecimento maior para acessá-las, além de afastar os indivíduos do contato físico, trazer diferenças sociais à tona e evidenciar que o poder está cada vez mais nas mãos de poucos. Saco (2002) caracteriza o mundo digital como uma esferainformal, de pessoas privadas, de uso exclusivo e de acesso restrito, onde só entram em vantagem as grandes empresas, que detém a produção e a propagação das informações e que 18 influenciam a esfera social. É um ramo que gera fortuna para uma elite que se beneficia das pseudorrelações sociais. Marcondes (2007) defende que a esfera pública virtual, dedicada à comunicação pública, na qual todos estejam aptos e tenham recursos críticos, econômicos, educacionais e tecnológicos para participar, é uma utopia, um idealismo. Ainda propõe: uma sociedade focada no capital não alcançará uma esfera igualitária, universal e não coercitiva, contrariando a proposta de autores que anteriormente defendiam que o espaço virtual traria uma maior participação e interatividade entre os indivíduos. Rheingold (2000) afirma que o ciberespaço é um lugar conceitual, na qual palavras, relações humanas, dados e poder são manifestações para aqueles que usam a tecnologia da comunicação mediada por computador. Neste caso, evidencia- se que nem toda informação é provida de veracidade e de fontes seguras e que nem todos têm acesso a esse meio. É possível afirmar, diante deste quadro teórico, que a valorização da tecnologia deve ser realizada de forma contextualizada, sendo o debate sobre a sociedade digital complexo. Castells (1999) afirma que as novas tecnologias da informação não são simplesmente ferramentas a serem aplicadas, mas processos a serem desenvolvidos. Este desenvolvimento se dá, pois, na sociedade. 6 A IMPORTÂNCIA DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E O PAPEL ESTRATÉGICO DO SOFTWARE LIVRE Fonte:2.bp.blogspot.com 19 Se por um lado a difusão das Tecnologias da Informação e da Comunicação provoca revolução nunca antes vista na história da humanidade, por outro ela nos traz o grande desafio (aparentemente insuperável) de evitar que as mazelas e desigualdades do mundo real se repitam na virtualidade onde este novo mundo se situa. Ou pior, que essa exclusão digital agudize as mazelas das desigualdades sociais. Utópico? Sem dúvida! Mas necessário é que se faça o exercício de pensar como incluir aqueles que estão fora. E o grande desafio é tipificar os que hoje não têm acesso às novas tecnologias porque estes podem ser vistos, grosso modo, de duas formas: pessoas que não se alfabetizaram e, portanto, têm grande dificuldade em compreender um texto e, muitas vezes, o que está sendo apresentado em vídeo, falado num rádio etc.; e um grande contingente de pessoas pobres que, mesmo tendo condições melhores em termos da percepção da realidade não têm recursos suficientes para estarem devidamente inseridas as várias interfaces geradas pelas TICs. Entretanto, existe um cenário ainda mais preocupante, que foge da tipificação do quadro de analfabetismo ou o que comumente se conceituou como analfabetos funcionais: são as pessoas que possuem um grau de instrução elevado (médio ou superior para padrões brasileiros), percepção da realidade, leitura crítica, contato com a tecnologia digital, mas ainda não foram sensibilizados pela questão estratégica da Tecnologia da Informação. Este mesmo grupo de incluídos em boa parte tem dificuldade de perceber essa importância deste acesso à tecnologia como direito Universal, pois se relaciona com os computadores, a internet, os conteúdos somente como itens de consumo ou otimizadores de processos. Isto faz com que o assunto não alcance na sociedade a dimensão necessária para se pensar o país daqui alguns anos. Umberto Eco disse recentemente: "a questão da Tecnologia da Informação será caso de vida ou morte no futuro para os países que pretendam alcançar sua soberania". O que o Software Livre traz como importante paradigma conceitual é que o espírito colaborativo, o compartilhamento de informações, a difusão do conhecimento são os elementos fundantes de uma nova concepção em que o “gratuito” e o “livre” tornam-se cada vez mais distantes da visão tradicional que os usuários de informática têm dos softwares. Apontar vantagens e desvantagens do SL sobre o SP é um risco e fica muito datado e reduzido no tempo. Poderíamos, dois anos atrás dizer que um dos grandes problemas era a interface gráfica, ou a instalação (monitores e 20 impressoras), ou ainda, o suporte. A realidade demonstra que não são mais. A cada dia surgem novas distribuições trazendo a possibilidade de rodar o programa sem instalá-lo, de usá-lo em conjunto com outros sistemas operacionais, com interfaces gráficas variadas. Em termos do suporte cada vez mais profissionais se especializam em Software Livre e algumas universidades no país já oferecem cursos nessa área. Ou seja, o fator tempo não foi impeditivo para tais avanços. Abstraindo a questão técnica (o que é praticamente impossível quando se trata de software) a maior vantagem trazida pelo Software Livre é subjetiva: ele (o SL) resgata a noção de liberdade. Não uma liberdade caótica, um espaço sem regras e leis, pelo contrário, resgata a noção da liberdade responsável que faz com que indivíduos dos mais distantes países se encontrem em fóruns e listas de discussão e produzam soluções, resolvam problemas, criem novos aplicativos. A ideia de uma rede global torna-se real à medida em que ela agrega indivíduos dispostos a colocar seus conhecimentos a favor de toda a humanidade. Isto é algo novo e que só é possível com advento da internet e se fortalece com a concepção filosófica por traz do SL. Portanto, independente de determinados produtos serem melhores ou piores este é um aspecto que o Software Proprietário nunca conseguirá superar: a livre colaboração. Caso o faça, terá capitulado ao SL, do contrário... jamais será possível. No caso específico da informática, e outros seguimentos relacionados (em especial a Internet), podemos pensar que a dicotomia entre software livre e software proprietário, está claramente relacionada com o exposto acima. Enquanto um aprisiona o código, o outro liberta; enquanto um impõe limites o outro abre e, seguindo esta linha de raciocínio, percebemos que se trata de uma dicotomia entre a liberdade e o aprisionamento tecnológico. No entanto, esta não pode ser uma discussão maniqueísta: de um lado estão os bem-intencionados do SL e do outro os perversos do SP. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, pois este tipo de adjetivação não interessa à propagação das tecnologias livres e ao aprofundamento do debate. Não se trata de uma luta entre bons e maus. Trata-se de concepções de mundo distintas onde alguns veem o conhecimento e a informação como patrimônio de toda a humanidade e não apenas um elemento de lucro para uns poucos, e outros como a única capacidade de evolução desta mesma humanidade. É neste sentido que trazemos algumas considerações sobre o papel estratégico do Software Livre no momento em que começamos a discutir a comunicação como um direito humano. 21 O Software Livre, que tem seu resultado financeiro determinado por outra lógica, tem a razão de sua existência na perspectiva de tornar o mundo melhor para todos e todas sem distinção, em função do seu livre processo de produção, claro que neste escopo todos e todas são os produtores e usuários de software. Surge do desejo utópico de fazer do ser humano senhor da tecnologia e não o contrário. Visa desenvolver o conhecimento e não “vender” facilidades de modo que a pessoa se torne refém de um determinado tipo de programa ou, muitas vezes, controlado por este programa sem o direito de saber afinal que tipo de controle é este. A fronteira do Software Livre alcança além das fronteiras da Internet, ele está nas escolas, nos hospitais, na máquina pública, nas redes de supermercados e magazines, na operação dos grandes sistemas. Ou seja, por mais distante que possa parecer à discussão sobre SL e SP, a verdade é que ambas tocam no real o tempo todo e percebe-se uma disputa comercial claraentre os dois mundos. Hoje, muito mais do que pensarmos em uma inclusão digital precisamos ter clareza de que outras inclusões são tanto quanto necessárias. A inclusão tecnológica, a social, a do (a) cidadão (ã), a de setores discriminados da sociedade etc., são parte de uma engrenagem que precisa funcionar em absoluta harmonia. Até porque convergimos cada vez mais entre o mundo real e o mundo virtual. É impossível não pensar que a opção estratégica que o governo brasileiro, as empresas, Organizações Não-Governamentais, instituições acadêmicas e de pesquisa etc., estão fazendo pelo Software Livre significarão no médio e longo prazo um salto de qualidade para o país como um todo. Se acompanhada dessa opção vierem ações de capacitação e formação de quadros profissionais o Brasil estará efetivamente saindo do rol dos países subdesenvolvidos para subir mais um degrau. Esta opção carece de uma forte participação do governo, mas depende de todos os setores sociais: é um compromisso que deve ser assumido pela sociedade brasileira. A sociedade da informação e as TICs são realidades presentes no mundo de hoje e não podem ser tratadas como algo metafísico. Pelo contrário, temos a obrigação, como cidadãos e cidadãs de pensarmos em como podemos nos apropriar destes meios para atuar no sentido de buscar melhorias, para o nosso bairro, a nossa cidade, o nosso estado, o nosso país, o nosso planeta. Estamos diante de uma mudança brusca de paradigmas que faz com que um adolescente que tem acesso à Internet consiga, aos 15, 16 anos, acumular mais informação do que Platão conseguiu em toda a sua vida. Exageros à parte, estes jovens estão desafiando o processo 22 tradicional de acumulação de conhecimento e tal influência ainda não foi mensurada. Logicamente a informação adquirida não se transforma instantaneamente em conhecimento, senão, teríamos Platões imberbes aos borbotões. Mas, efetivamente, nossos jovens incluídos digitalmente, têm um poder comunicacional e de acúmulo de informação infinitamente maior do que tiveram seus avós e bisavós. Pensar em comunicação como direito humano é, antes de tudo, imaginar que as maravilhas da sociedade da informação precisam ser compartilhadas com todos: pobres e ricos, negros e brancos, urbanos e rurais etc., etc. Esta é a premissa básica: incluir os que estão fora. Colocarmos uma premissa prioritária, não nos exime de alcançar outros patamares de discussão, como pensar a qualidade da informação: na difusão, na troca, na sinergia. A questão é que o atraso da universalização no Brasil direciona o raciocínio imediato de dirimir a distância de excluídos e incluídos. Torna- se vital, sem deixar o imediatismo em segundo plano, elaborarmos em debate amplo com a sociedade para definirmos os alicerces estratégicos para consolidação do software livre. Construir essas alternativas é o nosso grande desafio. Cada um de nós precisa assumir seu quinhão de responsabilidade e avançar rumo a este desafio. Esta Sociedade da Informação é nossa. Já demos grandes passos. Iniciamos a caminhada, longa, incerta e cheia de armadilhas. Importante não desanimar com a síndrome do nosso “terceiro-mundismo” e nem parar no meio do caminho, esperando o mercado ou as determinações do mundo desenvolvido direcionarem o caminho. O Software Livre é uma hiper-via, mas ela ainda está no seu início, precisamos pavimentá-la, e fazermos com que a filosofia da construção do software livre atinja outros componentes do mundo em convergência digital e caminhos solidários e coletivos para tal Sociedade da Informação. 7 O CONCEITO DE REDES SOCIAIS Na história humana, de tempos em tempos, alguns temas emergem a partir de contextos que traduzem o sentido e o espírito da época. Pode-se dizer, com relativa segurança, que um tema emergente da atualidade é o das redes sociais. Na história das ciências sociais e humanas, o conceito de rede social surgiu na primeira metade do século XX. Contudo, naquele momento, 23 [...] o termo era sobretudo usado em sentido metafórico: os autores não identificavam características morfológicas, úteis para a descrição de situações específicas, nem estabeleciam relações entre as redes e o comportamento dos indivíduos que as constituem. (PORTUGAL, 2007, p. 4). Somente a partir da segunda metade do século XX, o conceito assumiu grandes proporções na sociologia. A construção desse conceito se desenvolveu em torno de duas correntes marcadamente distintas: uma no campo da antropologia social, a partir de pesquisadores britânicos após a II Guerra Mundial, e outra, de origem americana, que se preocupou fundamentalmente com uma análise quantitativa a partir de uma abordagem estruturalista (PORTUGAL, 2007). Sinteticamente, pode-se indicar que, na vertente britânica, os antropólogos começaram a perceber as limitações do modelo teórico estrutural-funcionalista clássico, uma vez que esse se preocupava fundamentalmente com a normatividade dos sistemas culturais. Com esse modelo, os antropólogos não conseguiam explicar certos fenômenos percebidos na sociedade. Segundo Portugal (2007), até aquele momento, o conceito de rede social era utilizado pelos pesquisadores no sentido metafórico e não como conceito explicativo de sistemas sociais; portanto, era limitado às descrições de grupos restritos. Quando os pesquisadores se deparavam com contextos mais complexos, encontravam dificuldades em utilizá-lo. Em função disso, ainda na primeira metade do século XX, a antropologia britânica mudou o foco dos sistemas culturais para os sistemas de redes de relações sociais, chegando, em decorrência, à formulação do conceito de rede social. Após esse período, passou-se a utilizá-lo de maneira sistemática (PORTUGAL, 2007). Numa outra vertente investigativa, os estudos dos estadunidenses se voltaram mais para a forma dos sistemas sociais, o que os levou a desenvolver métodos quantitativos para descrever o modelo de relações que os grupos estabeleciam. De acordo com Wellman (apud PORTUGAL, 2007, p. 5-6): Da análise sociométrica, utilizada pelos psicólogos, e pioneira na quantificação de dados relacionais, à teoria dos grafos dos matemáticos, os estudiosos das redes recolheram vocabulário e modos de representação gráfica, inicialmente rudimentares, e, hoje, cada vez mais elaborados, que lhes permitiram analisar quantitativamente “as estruturas profundas que unem e separam os sistemas sociais”. Existe atualmente todo um debate sobre se a teoria das redes na sociologia e antropologia poderia ser encarada como um novo paradigma – no sentido adotado 24 por Kuhn – ou se se trata de uma nova corrente que pretende ser mais adequada para explicar os fenômenos sociais coletivos e individuais. Deve-se, assim, concordar com Portugal que o que parece a maior contribuição da teoria das redes sociais para o entendimento da sociedade é que ela articula os níveis macroestrutural e micro estrutural, ou seja: [...] busca explicar o comportamento dos indivíduos através das redes em que eles se inserem e explicar a estruturação das redes a partir da análise das interações entre os indivíduos e das suas motivações. (PORTUGAL, 2007, p. 10) Para além desse contexto histórico, é necessário refletir a respeito de um momento anterior à formulação dessa concepção, buscando referências em algumas áreas do conhecimento para identificar a própria gênese do conceito. O resultado desse processo será discutido a seguir. Essa ideia que Lévi Strauss discute no texto “Mito e Significado” remete à imagem de um ponto atravessado por linhas, pois a encruzilhada representada e corporificada pelo/no indivíduo indica que ele passa a ser o entroncamento de vias (possibilidades) por onde circulam coisas (escolhas). Fonte: maniacosporfilme.wordpress.com (1 Imagem simbólica das encruzilhadas da vida) A partir da ideia de Lévi-Strauss, e articulando-acom o conceito de rede, pode- se analisar a imagem 1 metaforicamente, como indicadora de dois elementos gráficos 25 primários – o ponto (o indivíduo) e a linha (os caminhos) –, os quais são os elementos fundantes das redes. Do ponto de vista da geometria, toda rede é formada por pontos e linhas. Toda linha é formada por uma sequência de pontos, todo ponto é representado no espaço por um par de coordenadas (x, y), o espaço é constituído por planos, os quais são formados por uma secessão de linhas adjacentes e assim por diante. O ponto, a linha e o plano foram denominados entes matemáticos pelos gregos, os quais com eles acabaram por construir geometria. A geometria euclidiana, formulada por volta do ano 300 a.C., definiu que por um único ponto passam infinitas retas, que numa reta, bem como fora dela, há infinitos pontos, mas que dois pontos distintos determinam uma única reta. Em um plano e também fora dele, há infinitos pontos. Foi essa geometria que permitiu à ciência medir, dimensionar, projetar, construir e interpretar o espaço físico até o século XIX. Por meio dessa geometria, surgiram as figuras geométricas, as quais organizam a percepção do real. O conceito de rede – pontos unidos por linhas –, portanto, traz na sua essência elementos primitivos da ciência que permitiu construir e consolidar as habilidades de perceber o real e atribui-lhe significado. Com isso, pôde-se tecer a primeira consideração acerca da gênese do conceito: o que hoje as áreas do conhecimento reconhecem sob a denominação de rede social é uma construção linguística e cultural, apoiada sobre práticas observacionais que foram se constituindo ao longo da história humana. Essas práticas tiveram um avanço significativo no Renascimento, a partir da geometrização do real e da possibilidade de geração de conhecimento em torno da relação espacial construída pela razão. É, em função disso, um conceito baseado na crença e no pensamento matemático. A segunda aproximação dessa pesquisa com o conceito foi por meio dos manuais da língua portuguesa. Segundo os dicionários Michaelis e Aurélio (versões on-line), as definições para o substantivo rede estão vinculadas a três funções ou situações: a) relaciona-se a algo ou alguma coisa que tem função de aprisionar, de limitar a movimentação; b) liga-se à estrutura de comunicação e de transporte; e c) relaciona-se a situações em que há proteção mediante uma delimitação espacial entre o objeto e o meio externo. 26 No primeiro caso, as imagens- -objetos relacionados com esse sentido são exemplificadas com os objetos rede de pesca, de cabelo, de dormir; há também um sentido figurado, em situações em que uma pessoa pode se envolver numa “rede de intrigas”. Na imagem 2, exemplificamos as definições encontradas nos dicionários citados. Fonte: Todas as imagens utilizadas na conceituação de rede foram retiradas do banco de imagens do Google e são de domínio público. 2 (Sentido do conceito de rede: aprisionar, proteger, agrupar e acolher) Também encontramos nos dicionários outro sentido para o conceito de rede, desta vez relacionado com os sistemas de comunicação; portanto, ao invés de aprisionar, o sentido é o de “possibilitar o movimento de”. Na imagem 3, procurou-se demonstrar como esse conceito se materializa na sociedade atual. O termo rede, assim, carrega significados ambíguos, visto que indica ao mesmo tempo: aprisionar libertar. Desse modo, existe uma contradição no próprio conceito. Se, por um lado, ele permite colocar em contato entes localizados em locais distintos, uma vez que a rede possibilita estabelecer “relações entre dois pontos”, definição que está associada a estrutura de comunicação e transporte, por outro lado, o conceito também permite que seja utilizado em contextos nos quais o que está posto é a limitação de movimentos e, portanto, a não comunicação. 27 Fonte: banco de imagens do Gloogle. 3 (Sentido do conceito de rede: comunicar) 28 Diante desse cenário, considera-se pertinente buscar a genealogia do conceito de rede em outras áreas do conhecimento. Na filosofia, por exemplo, um autor discutiu a gênese do conceito e a relação deste com a ciência. Parrochia (2005) argumentou que a ambiguidade do conceito está associada ao uso mitológico da rede nas situações que envolviam os ritos de guerra entre o gladiador e seu adversário. Diz o autor: Essa oposição, muito pregnante na Antiguidade, foi então ilustrada pelo confronto simbólico do gladiador (utilizador da espada) e o retiarius (detentor da rede). Os antigos eram tão conscientes das vantagens e desvantagens de ambas as técnicas de utilização de armas (mais complementares do que contraditórias) que cada um dos lutadores viu compensar as deficiências de sua principal arma com uma no registo oposto: escudo para o gladiador, o tridente e uma pequena faca para retiarius. (PARROCHIA, 2005, p. 10) Dos estudos e reflexões acerca dessa relação, pode-se salientar a simbologia criada na Antiguidade em torno do uso das armas e das estratégias de guerra, com as respectivas figuras míticas, as quais se associavam e acabaram por impregnar o conceito de rede. Deve-se considerar também que circulação e comunicação na mitologia grega estavam associadas a várias figuras mitológicas. Talvez Hermes seja a figura mítica mais próxima e representativa do conceito de rede. A complexidade dessa figura mitológica, segundo Brandão (1986), faz com que ele seja associado à função de “Deus mediador entre os mundos”, e também das viagens, dos pastores, dos ladrões. A imagem desse mito também está relacionada com a ideia de artifício, das armadilhas e do labirinto. Os estudos da mitologia podem, por sua vez, trazer elementos para compreender a associação do conceito de rede que aparece hoje nos dicionários da língua à ideia de “rede de intrigas”. Esses estudos permitiram entender que o conceito de rede permaneceu, então, preso à materialidade e acabou por se associar ao espaço de forma mais orgânica e ampliada somente no período romano. A história da civilização romana na Antiguidade indica que os povoamentos tiveram a necessidade de organizar a vida nas cidades por meio da criação de técnicas e estratégias que permitiam organizar a circulação de pessoas e produtos. Os romanos criaram estradas, aquedutos, sistemas de distribuição e drenagem urbana. Contudo, segundo Parrochia “[...] não usavam a palavra rete-retis para designar estes sistemas de distribuição ou comunicação” (PARROCHIA, 2005, p. 13- 14). 29 Ainda que hoje se possa interpretar essas tecnologias como sendo sistemas de redes, o conceito não era utilizado nesse contexto. As pesquisas atuais indicam que o conceito era empregado na Antiguidade predominantemente pelos tecelões, como metáfora para explicar a estrutura dos tecidos fabricados com fibras vegetais e animais, e que permaneceu sem grandes alterações até o século XVII. Contudo, ao longo do século XVIII, passou a inspirar as reflexões sobre as descobertas da anatomia do corpo humano, sobre a natureza e sua configuração. Pode-se indicar que, no início, ocorreu nos estudos da química (cristalografia), passando pelos estudos das estratégias militares e dispositivos de fortificação, bem como pelas pesquisas acerca das formas geométricas. Nessa trajetória, o conceito “[...] pela primeira vez, de maneira verdadeiramente racional, vai ser utilizado na área geográfica” (PARROCHIA, 2005, p. 12). Para além do espaço, a ideia de rede também inspirou as ciências médicas, a filosofia e a nascente sociologia. A associação entre rede e as demais áreas, distintas aos olhos da atualidade, teve grande avanço com as pesquisas a respeito da anatomia do corpo humano, em especial sobre a função do coração no sistema circulatório. No século XVII, descobriu- se que o sistema circulatório funcionava como uma rede defluxos sanguíneos bombeados pelo coração, que colocava em movimento (circulação) o sangue do corpo. Da explicação do corpo humano para o corpo social, foi uma questão de tempo e de associação de ideias. Segundo Parrochia: Via medicina e hidráulica, rede adquire o sentido de promover a capacidade circulatória. O desenvolvimento de grandes redes de transporte no século XIX (rede rodoviária e ferroviária) irá sustentar essa possibilidade. (PARROCHIA, 2005, p. 15). Nos séculos seguintes, é encontrada referência na sociologia e na história, as quais permitem associar a rede de transporte à aceleração do crescimento industrial e à nascente economia capitalista (CASTELLS, 1999) Esses estudos nos levaram à formulação da hipótese de trabalho de que o conceito de rede tem sua origem na natureza, e não na cultura. Ou seja, a construção do conceito teórico foi possível porque a natureza é constituída numa estrutura de rede. A rede, portanto, constitui- -nos biologicamente. Esse aspecto foi central para a formulação do conceito abstrato de rede social. Posteriormente, com a linguagem, pôde ser formulado o conceito para expressar uma forma de organização social. 30 8 AS REDES SOCIAIS Fonte:www.eighty.com.br Com a popularização da internet a partir dos anos 2000, outro tipo de serviço de comunicação e entretenimento começou a ganhar força: as redes sociais. Atualmente, a variedade de produtos desse mercado é enorme, apresentando inclusive categorias com públicos bem segmentados. Com alternativas que vão muito além de apenas Facebook, Twitter, Orkut e MySpace, nós temos gastado cada vez mais tempo do nosso dia interagindo com outras pessoas através das redes sociais. Para você ter uma noção do que estamos falando, uma pesquisa da ComScore, realizada este ano, revelou que os quase 1 bilhão de usuários da rede de Mark Zuckerberg gastam 405 minutos por mês acompanhando os seus perfis. (Dados de 2011) Mas você tem ideia de quando e como as redes sociais surgiram? Quais foram os serviços pioneiros ou o que podemos esperar desses serviços daqui para frente? Antes de nos aprofundarmos na história das redes sociais, precisamos ao menos citar a direta relação desses serviços com as mídias sociais, um grupo maior de mecanismos com os quais as pessoas são capazes de compartilhar informações, imagens, vídeos e arquivos de áudio. Obviamente, essas atividades são extremamente simples quando pensamos nas suas execuções através dos parâmetros de internet que temos hoje em dia. 31 Contudo, algumas delas eram possíveis muito antes do “boom” da rede mundial de computadores. Os primeiros relatos de serviços que possuem características de sociabilizar dados surgem no ano de 1969, com o desenvolvimento da tecnologia dial-up e o lançamento do CompuServe — um serviço comercial de conexão à internet em nível internacional muito propagado nos EUA. Outro passo importante nessa evolução foi o envio do primeiro email em 1971, sendo seguido sete anos mais tarde pela criação do Bulletin Board System (BBS), um sistema criado por dois entusiastas de Chicago para convidar seus amigos para eventos e realizar anúncios pessoais. Essa tecnologia usava linhas telefônicas e um modem para transmitir os dados. Os anos seguintes, até o início da década de 90, foram marcados por um grande avanço na infraestrutura dos recursos de comunicação. Por exemplo, em 1984 surgiu um serviço chamado Prodigy para desbancar o CompuServe — feito alcançado uma década depois. Contudo, o fato mais marcante desse período foi quando a America Online (AOL), em 1985, passou a fornecer ferramentas para que as pessoas criassem perfis virtuais nos quais podiam descrever a si mesmas e criar comunidades para troca de informações e discussões sobre os mais variados assuntos. Anos mais tarde (mais precisamente 1997), a empresa implementou um sistema de mensagens instantâneas, o pioneiro entre os chats e a inspiração dos “menssengers” que utilizamos agora. O ano de 1994 marca a quebra de paradigmas e mostra ao mundo os primeiros traços das redes sociais com o lançamento do GeoCities. O conceito desse serviço era fornecer recursos para que as pessoas pudessem criar suas próprias páginas na web, sendo categorizadas de acordo com a sua localização. Ele chegou a ter 38 milhões de usuários, foi adquirido pela Yahoo! cinco anos depois e foi fechado em 2009. Outros dois serviços foram anunciados em 1995 — esses com características mais claras de um foco voltado para a conectividade entre pessoas. O The Globe dava a liberdade para que seus adeptos personalizassem as suas respectivas experiências online publicando conteúdos pessoais e interagindo com pessoas que tivessem interesses em comum. 32 Por sua vez, o Classmates visava disponibilizar mecanismos com os quais os seus usuários pudessem reunir grupos de antigos colegas de escola e faculdade, viabilizando troca de novos conhecimentos e o simples ato de marcar reencontros. Essa rede social ultrapassou 50 milhões de cadastros e sobrevive até hoje, mas com um número menor de participantes. A primeira rede social propriamente dita se chamava SixDegrees, durando de 1997 a 2001. Ali, os usuários podiam criar uma página de perfil e adicionar amigos. Durante os anos em que o SixDegrees se manteve ativo, foram registrados 3,5 milhões de usuários em seu auge. Página de login do SixDregrees e seus ares noventistas (Imagem: Reprodução) Ainda que essa plataforma não tenha marcado presença aqui no Brasil, ela ficou registrada na história como a primeira rede social de verdade, e seu sucesso lá fora abriu as portas para o surgimento do Friendster em 2002, que, de certa forma, pavimentou a estrada para o nascimento do Facebook (história que vamos abordar na terceira parte deste especial). Depois, começaram a surgir as redes sociais 33 temáticas e, em 2004, nasceu o aclamado Orkut, que foi a primeira rede social a explodir de verdade no Brasil. Fonte: geocities.ws (Friendster, um misto de Facebook com Twitter before it was cool ) Mas, naquela época, os blogs e mensageiros ainda dominavam o universo da internet. No ano do surgimento do SixDegrees, houve o sucesso estrondoso do AIM (AOL Instant Messenger), lançado em outubro de 1997. O mensageiro mais popular nos Estados Unidos durou até dezembro de 2017, sobrevivendo à era das redes sociais, ainda que sua popularidade tenha caído muitos anos antes de seu encerramento. Um ano antes, o ICQ foi criado, atingindo o primeiro milhão de usuários em 1997 e sendo o principal rival do AIM. Naquele ano, foram registrados picos de mais de 200 mil usuários conectados simultaneamente em seus servidores, encerrando o1997 com 4 milhões de usuários globais. Em 2001, o serviço já acumulava 100 34 milhões de usuários, e, em 2003, o ICQ se tornava uma das empresas mais bem- sucedidas da internet. À esquerda, a janela do ICQ com seus contatos online e offline, além das opções de status. Ao lado, a janelinha para criar uma nova mensagem (Imagem: Reprodução Na onda dos mensageiros se tornando indispensáveis para a comunicação entre as pessoas de todo o mundo, surgiu o MSN Messenger em 1999. No Brasil, esse mensageiro se tornou o líder do segmento, superando o ICQ graças à popularidade do Hotmail, além de ser um programa nativo do Windows XP, lançado em 2001. Além disso, o MSN Messenger atraiu muito o público mais jovem graças a recursos engraçadinhos como a possibilidade de exibir ao lado do username qual música estava tocando naquele momento (o que se tornou um palco para indiretas de todos os tipos). O serviço foi incorporado à Microsoft, se tornando Windows Live Messenger nos anos seguintes, até que foi substituído pelo Skype em 2013. 35 Fonte: mulher24.net (Sua lista de contatos no MSN/Windows Live Messenger devia ser assim) Na transição entreos anos 1990 e 2000, os blogs pessoais explodiram na internet, fazendo as vezes de redes sociais, ainda que timidamente. É que muitas pessoas criavam layouts com menus laterais recomendando blogs de amigos ou blogs com conteúdos legais, no melhor estilo "testado e aprovado". E quando algum blogueiro indicava o seu nesta área, era de bom tom indicá-lo de volta (mais ou menos como o "follow back" dos dias de hoje). Fonte:wikihow.com 36 Esses blogs podiam ser hospedados em vários serviços diferentes, com o Blogger e Weblogger sendo os mais populares aqui no Brasil. Lá fora, o LiveJournal teve mais destaque, surgindo em 1999 e explodindo nos primeiros anos da primeira década do século XXI. Em 2003, o serviço já tinha 1 milhão de usuários, número que subiu para 2 milhões no ano seguinte, e para 5 milhões em 2005. Além de postar adoidado em seus blogs pessoais, os usuários do LiveJournal também faziam parte de uma comunidade internacional, podendo entrar em journals coletivos, algo que podemos comparar aos grupos do Facebook nos dias de hoje. Ali, surgiram journals em grupo com as mais variadas temáticas, incluindo grupos de apoio a pessoas marginalizadas pela sociedade, como os LGBTs, por exemplo, que encontraram na internet um espaço para conhecer pessoas que passavam pelos mesmos perrengues que eles, servindo como uma rede de apoio global. Enxergando um novo filão, começaram a surgir as redes sociais temáticas para reunir pessoas com um interesse em comum. Em 1999, surgiu o Xanga, plataforma de blogging destinada a amantes da leitura e do cinema. Mais de 27 milhões de usuários estavam por ali em 2006, mas a plataforma sentiu o peso do sucesso do Facebook logo depois. Ainda no ano do "bug do milênio", uma rede social diferentona apareceu na internet: o Second Life. O ambiente virtual tridimensional simulava aspectos da vida real das pessoas, servindo tanto como uma espécie de jogo quanto como rede social, além de permitir que os usuários ganhassem um dinheirinho se quisessem vender itens especialmente desenvolvidos para serem usados na plataforma. 37 Fonte: www.seoclerk.com (O universo paralelo do Second Life. Cada bonequinho é o avatar de um usuário diferente, interagindo uns com os outros) E a "vida paralela" dos usuários foi ficando cada vez mais popular com o decorrer dos anos 2000, registrando 1 milhão de usuários em 2006. Ali, seus personagens criados com inspiração em suas personas verdadeiras podiam interagir à vontade, mas a brincadeira acabou perdendo a graça com a chegada das grandes redes sociais, como Facebook e Twitter, com um grande número de usuários deixando o Second Life às moscas. No ano 2000, cerca de 100 milhões de pessoas já acessavam a internet diariamente, e, além de fazer pesquisas e baixar músicas, a atividade preferida de muita gente era justamente as plataformas sociais. E foi exatamente nessa época que surgiu outra rede temática que bombou internacionalmente: o MySpace. 38 Exemplo de perfil no antigo MySpace (Imagem: Reprodução) Na verdade, o MySpace surgiu como uma rede social genérica, mas a possibilidade de se publicar músicas nos perfis dos usuários acabou transformando a plataforma em uma rede social musical, onde artistas tanto desconhecidos como famosos podiam divulgar prévias de seus lançamentos, além de faixas exclusivas para a web e, até mesmo, álbuns completos. E os usuários não-artistas abraçaram o MySpace em todo o mundo, graças também à possibilidade de entrar em contato direto com seus ídolos (algo que foi forte especialmente em cenas underground). E foi enxergando a segmentação como uma grande oportunidade que o LinkedIn surgiu em 2003, sendo esta uma rede social voltada para contatos profissionais até os dias de hoje. Ali, os contatos são firmados com interesses relacionados ao mercado de trabalho, e profissionais das mais diversas áreas usam o LinkedIn não somente como um currículo virtual, mas também como um meio de 39 divulgar conteúdos de autoria própria para gerar credibilidade em sua área de atuação, além de manterem um network ativo, gerando oportunidades de trabalho. Fonte:learn.canva.com Em 2007, a rede já tinha mais de 16 milhões de usuários, número que subiu para 238 milhões em 2013, crescendo para 500 milhões em 2017 — a evolução foi impulsionada especialmente após a aquisição da rede social pela Microsoft, em 2016. Na época, a gigante de Redmond pagou US$ 26,2 bilhões pelo negócio, que foi a maior aquisição já feita pela Microsoft até então. Já no ano seguinte à criação do LinkedIn, surgiu o Flickr, plataforma para publicar fotos e vídeos e se conectar com outros autores visuais. Apesar de o Flickr não ser exatamente uma rede social, ele acabou fazendo parte desta definição por permitir que os usuários se sigam mutuamente, participem de grupos e troquem mensagens privadas. Em 2005, o Flickr foi comprado pelo Yahoo, sendo incorporado ao portal e sobrevivendo com sucesso até os dias atuais. 40 Fonte:habrastorage.org Poucas pessoas se lembram do Tantofaz.net, mas foi ela a primeira rede social propriamente dita que tentou embarcar oficialmente no Brasil. De origem norte- americana e operando também na Espanha, a plataforma voltada para o público jovem e "antenado" lançou sua versão em português no ano 2000, investindo pesado em publicidade para atrair a "moçada" com uma comunicação informal e divertida. Fonte:i.ytimg.com (imagem do comercial da Tantofaz.net) 41 Os anúncios na televisão e também em revistas de moda e música deram certo. O Tantofaz.net despertou o interesse do público brasileiro, que ainda não estava familiarizado com o conceito de rede social, mas que saiu correndo para o site para criar seus perfis com uma autodescrição e selfies e adicionar pessoas à sua rede, fazer novas amizades, nutrir novos crushes e se inspirar no estilo "modernoso" da galera. Contudo, em agosto daquele mesmo ano, a companhia por trás da plataforma decidiu encerrar as atividades da rede social no Brasil. O motivo foram as tentativas malsucedidas de reduzir seus gastos por aqui, já que o site não exibia publicidade para obter receita. A empresa demitiu 21 de seus 25 funcionários brazucas, mantendo o portal no ar por algum tempo depois disso, mas morrendo definitivamente ao final de 2000. O Tantofaz.net tinha 370 mil usuários e 18 milhões de pageviews por mês quando decidiu desistir do Brasil, que acabou abraçando o Fotolog como sua rede social do coração logo em seguida, em um caminho sem volta para que as redes sociais impactassem profundamente nas nossas relações interpessoais. Apesar de o Tantofaz.net ter sido a primeira rede social a "pegar" no Brasil, foi o Fotolog que conquistou o amor da grande massa de jovens internautas brasileiros. A plataforma foi lançada em 2002 nos Estados Unidos, explodindo em nosso país no ano seguinte. Quem estava lá desde o início deve se lembrar que, na época de seu surgimento, era possível publicar diversas fotos por dia e receber comentários ilimitados. Porém, seus criadores não imaginavam que o Fotolog explodiria tão rapidamente não somente em número de usuários como também na quantidade de conteúdos publicados, e o site passou por muitos problemas técnicos em seus primeiros anos. Isso fez com que fosse necessário restringir a quantidade de novos membros diariamente, que, então, só poderiam postar 1 foto por dia, com limite de 20 comentários por publicação. Para quem ansiava por mais, o serviço lançou a "Gold Camera", assinatura paga que permitia publicar até 6 fotos ao dia e receber uma maior quantidade de comentários (200). Com isso, estava lançada a cultura da web celebridade, com muitos fotologgers "famosinhos" até mesmo ganhando assinaturas pagas por fãs, que simplesmente não se conformavam quando queriam comentar em uma foto e encontravamo guestbook lotado em menos de 1 minuto após a postagem. 42 Sabe o "first" que muita gente comenta em vídeos do YouTube, celebrando que o seu foi o primeiro comentário da publicação? Isso era moda já no Fotolog! Fonte: www.acessasp.sp.gov.br Em 2005, o Fotoblog conseguia aceitar somente mil novos membros por dia em cada país onde atuava, e então os usuários do Fotolog acabaram fazendo parte de uma "elite" da internet. Para burlar essa limitação, muita gente fazia truques para alterar seus endereços de IP, como se fossem de países onde o serviço não era popular, conseguindo, portanto, criar seu cadastro. Mas quem não conseguia essa proeza rebolando com o "jeitinho brasileiro" acabava criando fotologs alternativos como o Flogão, que abrigava todo o restante das pessoas que não queriam estar de fora da tendência, mas não faziam parte da comunidade do Fotolog original. Então, em 2006, a limitação de novos usuários diários foi, enfim, removida, abrindo as portas para os "renegados" do Flogão fazerem parte do universo do Fotolog, que viu nascer as primeiras web celebridades brasileiras como Mari Moon, por exemplo. A fotologger e blogueira foi uma das usuárias mais famosas no Brasil e se deu bem neste universo, usando sua notoriedade para se tornar apresentadora da MTV e atuando como influenciadora digital até os dias de hoje. Outro fotologger famoso foi Sérgio Franceschini, mais conhecido como "Sr. Orgastic", que, anos depois, acabou participando de um Big Brother Brasil. 43 Fotolog da Mari Moon (Imagem: Reprodução) Em 2007, o Fotolog tinha um valor de mercado de US$ 90 milhões, mas acabou sentindo o impacto da popularização do Orkut em nosso país, caindo gradativamente depois de seu lançamento, em 2004. Ainda que uma parcela de usuários seguisse utilizando a plataforma na segunda metade dos anos 2000, o Fotolog acabou sendo abandonado pelos desenvolvedores, sem lançar atualizações de recursos e design, ficando estacionado no tempo. Em 2016, o Fotolog saiu do ar repentinamente, deixando muita gente desesperada porque não tinha feito backup de suas postagens para guardar em alguma espécie de álbum de recordações virtual. Mas, pouco tempo depois, os servidores do site foram religados, mantendo a plataforma no ar e permitindo novos cadastros além dos mais de 32 milhões de usuários ainda registrados (contudo, é seguro dizer que a maioria deles não acessa mais o Fotolog há muito tempo). E você acha que a cultura dos grupos em redes sociais surgiu com as comunidades do Orkut? Pois o Fotolog já oferecia grupos temáticos administrados por usuários, permitindo que seus membros publicassem até 50 fotos por dia. Ali, existiam https://canaltech.com.br/internet/fotolog-sai-do-ar-sem-aviso-previo-e-remove-conteudo-dos-usuarios-55717/ 44 fã-clubes de artistas, com os fãs alimentando os seguidores do grupo com informações a todo instante. Criado por Orkut Büyükkökten em janeiro de 2004, o Orkut foi a primeira grande rede social a fazer um sucesso estrondoso no Brasil. Por aqui, a rede social chegou a ter mais de 80 milhões de usuários, perdendo terreno para o Facebook quando a rede de Mark Zuckerberg começou a dominar o nosso país alguns anos depois. Para se ter uma ideia da importância dos brasileiros para o Orkut, em 2008 a empresa anunciou que a rede social deixaria de ser operada da Califórnia, fixando-se em território brasileiro, onde foi operada pela Google Brasil. Estima-se que os brasileiros trocaram mais de 1 bilhão de mensagens por lá, em 120 milhões de tópicos de discussão que fizeram parte de pelo menos 51 milhões de comunidades. Fonte:abrilveja.files.wordpress.com (Uma das comunidades populares do Orkut) Além do perfil de usuário, que permitia publicar álbuns de fotos e informações pessoais, era possível fazer parte das comunidades temáticas e adicionar amigos. Eram tantos pedidos de amizade que chegavam para o pessoal mais popular que ali nasceu a cultura do "só add com scrap", que, traduzindo para quem não viveu as redes sociais nos anos 2000, significava: deixe um recado para eu saber quem é você e o que você quer comigo, e só depois disso eu decido se aceito seu pedido de amizade. Mas isso não necessariamente era originado por antipatia ou egos inflados, 45 sendo necessário selecionar quem você aceitava como amigo, já que o serviço impunha um limite de mil contatos por perfil. Entre os motivos pelos quais os internautas colocaram o Orkut no lado esquerdo do peito estavam recursos inéditos e engraçadinhos, como informações secundárias que ficavam expostas em seus perfis, incluindo orientação sexual, músicas e filmes preferidos, e a possibilidade de seus amigos votarem em você para definir o quão sexy, legal ou confiável você era. Também era possível definir cada um de seus contatos como conhecido, desconhecido, amigo, bom amigo e melhor amigo. Tudo isso deu ao Orkut ares de uma comunidade de verdade, e não somente um serviço onde postar coisas na internet e conversar com pessoas de vez em quando. E o que falar do recurso "dedo-duro" que informava quem visualizou o seu perfil, deixando os stalkers desesperados? Essa foi somente uma das muitas novidades que surgiam no Orkut a todo momento, como incluir vídeos do YouTube em seu perfil, enviar recados por SMS, criar enquetes, e mais. Impactada pelo Facebook, em 2009 a rede social teve seu layout totalmente remodelado, incluindo um feed de publicações (nos moldes do "Feice"). Dois anos depois, surgiram os primeiros aplicativos para Android e iOS, porém, naquela época, a rede social já estava descendo a ladeira montada em uma bike sem freios. Em 2012, o site ainda tinha 34,3 milhões de usuários, mas, no mesmo ano, o Facebook ultrapassou o Orkut, com 36,1 milhões de membros. Um ano depois, a rede social perdeu mais de 95% dos acessos brasileiros, até que, no final de 2014, o Orkut foi definitivamente descontinuado. Na década de 2000 e nos primeiros anos da década de 2010, esse turbilhão de redes sociais transformou a internet, revolucionando de vez a maneira com que a gente usa a rede mundial de computadores. Hoje em dia, sites de notícias e produtores de conteúdo dificilmente sobrevivem sem estarem presentes ativamente em alguma rede social popular, que servem não apenas para conectar pessoas (o que era seu propósito inicial), mas também divulgar conteúdo (ainda que muitos deles sejam fake news). Ainda que o Facebook somente tenha destronado o saudoso Orkut mais para o final daquela década, foi no mesmo ano de 2004 que Mark Zuckerberg lançou uma proto-rede social para os estudantes de Harvard. A plataforma reunia os alunos, que podiam publicar informações de seu perfil e fazer conexões com amigos do campus, https://canaltech.com.br/redes-sociais/Fim-da-linha-Orkut-sera-descontinuado-ate-o-fim-de-2014-diz-jornal/ 46 ou amigos em potencial, usando a internet para, quem sabe, combinar aquela festinha bacana pós-aulas. Na época, a rede social se chamava "TheFacebook.com", e rapidamente a novidade se espalhou em outros campos. A coisa chegou até mesmo a estudantes da "high school" americana (equivalente ao ensino médio no Brasil). O ano já era 2006, e foi em setembro que Zuck decidiu abrir sua plataforma para que qualquer pessoa pudesse se registrar ali. Foi o início do Facebook como o conhecemos. Como era o estilão do TheFacebook (Captura de tela: Mashable) Nessa época, nasceu o Feed de Notícias, que se tornou a principal característica desta rede social. Enquanto o Orkut ficou famoso pelas comunidades, pelos scraps e depoimentos, o Facebook trazia a novidade de se poder escrever qualquer coisa que o usuário tivesse vontade que todos os seus amigos iriam ver. 47 Logo depois, a empresa foi crescendo e tendo verba para contratar desenvolvedores para aprimorar ainda mais a plataforma. Então, surgiu a
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