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Daniela Junqueira Gomes Teixeira UNIME 2018.2 Doenças Resultantes da Agressão ao Meio Ambiente Daniela Junqueira Gomes Teixeira – – – Daniela Junqueira Gomes Teixeira – – – Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Daniela Junqueira Gomes Teixeira - Doenças Resultantes da Agressão ao Meio Ambiente - Problema 1 - Intermediária intoxicações exógenas É o conjunto de efeitos nocivos representados por manifestações clínicas ou laboratoriais que revelam o desequilíbrio orgânico produzido pela interação de um ou mais agentes tóxicos com o sistema biológico. Agente tóxico é uma substância química, quase sempre de origem antropogênica, capaz de causar dano a um sistema biológico, alterando uma ou mais funções, podendo provocar a morte (sob certas condições de exposição). De modo geral, a intensidade da ação do agente tóxico será proporcional à concentração e ao tempo de exposição. FASES DA INTOXICAÇÃO Os complexos eventos envolvidos na intoxicação, desde a exposição às substâncias químicas até o aparecimento de sinais e sintomas, podem ser desdobrados, para fins de operacionalização da vigilância em saúde, em quatro fases descritas, tradicionalmente, como as fases da intoxicação. A compreensão destas fases permite definir melhor as abordagens do ponto de vista de vigilância em saúde, assistência, prevenção e promoção da saúde das populações expostas e intoxicadas por substâncias químicas. FASE DE EXPOSIÇÃO Corresponde ao contato do agente tóxico com o organismo. Nessa fase é importante considerar, entre outros fatores, a via de incorporação do agente tóxico, a dose ou concentração do mesmo, suas propriedades físico-químicas, bem como o tempo durante o qual se deu a exposição. A suscetibilidade da população exposta é também fator importante a ser considerado. FASE TOXICOCINÉTICA Corresponde ao período de “movimentação” do agente tóxico no organismo. Nesta fase destacam-se os processos de absorção, distribuição, armazenamento, biotransformação e eliminação do agente tóxico ou de seus metabólitos pelo organismo. As propriedades físico-químicas das substâncias químicas determinam o grau de acesso aos órgãos alvo, assim como a velocidade de eliminação do organismo. Portanto, a toxicocinética da substância também condiciona a biodisponibilidade. FASE TOXICODINÂMICA Compreende a interação entre as moléculas das substâncias químicas e os sítios de ação, específicos ou não, dos órgãos, podendo provocar desde leves distúrbios até mesmo a morte. Fase clínica Nesta fase há evidências de sinais e sintomas, ou ainda alterações patológicas detectáveis mediante provas diagnósticas, caracterizando os efeitos nocivos provocados pela interação da substância química com o organismo. PERÍODOS DA INTOXICAÇÃO Considerando as fases envolvidas na intoxicação, a abordagem da população exposta levará em conta os dois períodos a seguir: Daniela Junqueira Gomes Teixeira - Doenças Resultantes da Agressão ao Meio Ambiente - Problema 1 - Intermediária • Subclínico – quando ainda não existem as manifestações clínicas, mas existe história de contato direto ou indireto com as substâncias químicas. A definição das ações de saúde dependerá das características da substância química e da exposição. • Clínico – neste momento os sinais e sintomas, quadros clínicos e síndromes são evidentes e determinarão as ações de saúde a serem adotadas. Pelo grande número de substâncias químicas existentes e considerando que muitas vezes a exposição é múltipla, a sintomatologia é inespecífica, principalmente na exposição de longo prazo. TIPOS DE INTOXICAÇÃO As intoxicações às substâncias químicas podem ser agudas e crônicas e poderão se manifestar de forma leve, moderada ou grave. INTOXICAÇÃO AGUDA As intoxicações agudas são decorrentes de uma única exposição ao agente tóxico ou mesmo de sucessivas exposições, desde que ocorram num prazo médio de 24 horas, podendo causar efeitos imediatos sobre a saúde. Na intoxicação aguda, o estabelecimento da associação causa/efeito é mais evidente, uma vez que se conhece o agente tóxico. Pode ocorrer de forma leve, moderada ou grave, a depender da quantidade da substância química absorvida, do tempo de absorção, da toxicidade do produto e do tempo decorrido entre a exposição e o atendimento médico. Manifesta-se através de um conjunto de sinais e sintomas, que se apresentam de forma súbita, alguns minutos ou algumas horas após a exposição excessiva de um indivíduo ou de um grupo de pessoas. INTOXICAÇÃO CRÔNICA A intoxicação crônica pode manifestar-se por meio de inúmeras doenças, que atingem vários órgãos e sistemas, com destaque para os problemas neurológicos, imunológicos, endocrinológicos, hematológicos, dermatológicos, hepáticos, renais, malformações congênitas, tumores, entre outros. Os efeitos danosos sobre a saúde humana aparecem no decorrer de repetidas exposições, que normalmente ocorrem durante longos períodos de tempo. Os quadros clínicos são indefinidos, inespecíficos, sutis, gerais, de longa evolução e muitas vezes irreversíveis. Os diagnósticos são difíceis de serem estabelecidos e há uma maior dificuldade na associação causa/efeito, principalmente quando há exposição de longo prazo a múltiplos produtos. Vale salientar que um indivíduo com intoxicação aguda também pode apresentar sinais e/ou sintomas de intoxicação crônica. Portanto, sempre que alguém sair de um quadro de intoxicação aguda deve ser seguido ambulatorialmente para investigação de efeitos tardios e, se for o caso, monitoramento da exposição de longo prazo e investigação de intoxicação crônica. Daniela Junqueira Gomes Teixeira - Doenças Resultantes da Agressão ao Meio Ambiente - Problema 1 - Intermediária INTOXICAÇÃO POR DOMISSANITÁRIOS Substância ou preparação destinada á higienização, desinfecção domiciliar, em ambientes coletivos ou públicos, em lugares de uso comum e no tratamento da água. Incluem-se: 1. Sabões e detergentes 2. Desinfetantes 3. Agentes de limpeza 4. Inseticidas domésticos 5. Raticidas domésticos 6. Repelentes domésticos Uso intravenoso, instilações vaginais ou à ingestão de soluções muito concentradas além dos distúrbios digestivos podem ocorrem a hipotensão arterial, confusão mental, apreensão, fraqueza muscular, paresias, paralisias e dificuldade respiratória. O óbito é usualmente por asfixia, às vezes precedido por convulsões. INTOXICAÇÕES POR SABÕES E DETERGENTES São sais de ácidos graxos produzidos pela ação de um álcali sobre óleos e gorduras naturais ou sobre ácidos graxos deles obtidos. Seus riscos toxicológicos são relativamente pequenos. Nos raros casos de ingestão acidental podem ocorrer distúrbios digestivos com cólicas abdominais, vômitos e diarreia. Pode ter efeito irritante sobre pele e mucosas, particularmente quando sua composição é mais alcalina. É o produto destinado a remover sujidade e gorduras baseado em surfactantes que é um agente capaz de baixar a tensão superficial. Surfactantes são geralmente classificados de acordo com sua carga elétrica em três categorias: aniônicos, catiônicos e não iônicos. a) Surfactantes aniônicos: apresentam toxidade relativamente baixa. São irritantes moderados da pele e possuem ações desengordurante e irritante. Nos raros casos de ingestação podem ter ação emetizante, o que dificulta a absorção de quantidade maiores. b) Surfactantes catiônicos: usados como desinfetantes ou germicidas. São de modo geral, mais tóxicos que os aniônicos. Soluções concentradas são irritantes cutâneos primários, mas a absorçãopercutânea é insignificante. Ingestão de soluções concentradas determina lesões intensas da mucosa digestiva, com sialorreia, disfagia, dor retroesternal, náuseas e vômitos. c) Surfactantes não iônicos: são usados na formulação de cosméticos, medicamentos e como aditivos alimentares. São menos tóxicos, mas também apresentam propriedades irritantes sobre pele e mucosas. Nos raros casos de ingestão podem ocorrer náuseas, vômitos e cólicas abdominais. Daniela Junqueira Gomes Teixeira - Doenças Resultantes da Agressão ao Meio Ambiente - Problema 1 - Intermediária INTOXICAÇÕES POR DESINFETANTES Desinfetantes são produtos destinados a destruir, indiscriminada ou seletivamente, microrganismos quando aplicados em objetos inanimados ou em ambientes. Os principais produtos desinfetantes para uso domiciliar são baseados principalmente em agentes liberadores de cloro, compostos de amônia, óleo de pinho, compostos fenólicos e formaldeído. Sua atividade é estabelecida em termos de cloro disponível ou cloro ativo. Seu principal efeito lesivo é a irritação ou corrosão da pele e mucosas, consequente a um mecanismo duplo: ação oxidante de cloro liberado e ação dos agentes alcalinos. Pode determinar: dores na boca, esôfago e estômago, disfagia, sialorreia e nos casos mais graves, confusão mental, delírio e choque. Pode ocorrer edema na glote. Tanto o líquido como o gás são potencialmente irritantes. O contato com a pele determina queimaduras intensas ou dermatites de contato. Inalação do gás ocasiona processos irritativos de vias aéreas superiores, pneumonite química e até edema agudo no pulmão. Ingestão produz sintomatologia característica de ingestão de álcalis. Absorção de doses elevadas que é excepcional pode determinar hipotonia, convulsões e coma. Em grande número o óleo de pinho está associado com outros compostos, como álcoois, derivados de petróleo, compostos fenólicos, surfactantes, o que torna a intoxicação mais complexa. Pode-se observar após exposição excessiva, irritação da mucosa ocular, respiratória e/ou digestiva. Após ingestão podem ocorrer dor na boca, esôfago, estômago, disfagia, sialorreia e vômitos. Manifestações sistêmicas após absorção intensa incluem inicialmente irritabilidade, excitação, hiperreflexia e, a seguir, depressão do SNC e distúrbios respiratórios. As substâncias fenólicas são fortemente irritantes. Em contato com a pele determinam lesões corrosivas e, a seguir, anestesia por destruição das terminações nervosas. A absorção pelos de ferimentos de pele ou mesmo pele integra é considerada tão ou mais intensa que a por via digestiva. Após ingestão podem-se observar lesões cáusticas da boca, faringe, esôfago e estômago, com sintomatologia caracterizada por dores intensas, náuseas, vômitos, hematêmese e também por hipotensão arterial e choque. As manifestações sistêmicas são de aparecimento rápido, mas podem ocorrer até dois após a absorção. Os casos graves incluem intensa depressão do SNC, distúrbios cardíacos e possível parada respiratória. Exposição aos vapores determina intensa irritação das vias aéreas superiores, irritação ocular e cefaleia. Podem ocorrer reações alérgicas como asma brônquica e dermatites. Contato direto com a pele determina irritação, dermatite, descoloração e necrose. Ingestão pode ocasionar vômitos sanguinolentos, dores abdominais, disfagia, diarreia, sialorreia, e também distúrbios respiratórios e lesões renais. Acidose metabólica é consequente à conversão do formaldeído em ácido fórmico. Nos casos graves podem ocorrer coma, hipertensão arterial e insuficiência renal aguda. Daniela Junqueira Gomes Teixeira - Doenças Resultantes da Agressão ao Meio Ambiente - Problema 1 - Intermediária INTOXICAÇÃO POR AGENTES DE LIMPEZA Ácidos produzem necrose de coagulação. O coágulo formado diminui a probabilidade de aprofundamento da lesão. Após ingestão ocorre dor intensa com espasmo reflexo da glote. A dor é referida na boca, garganta, região retroesternal e estômago. É seguida por vômitos com sangue precipitado e restos de mucosa. Lesões esofágicas são moderadas, pois o trânsito é relativamente rápido. No estômago as lesões costumam ser distais. Ultrapassada a fase inicial, o aparecimento de febre pode indicar mediastinite ou peritonite. Após aparente recuperação, é possível o aparecimento de estenose cicatricial do esôfago em intervalos de dias a meses. Inalação de fumos e vapores produz intensa irritação respiratória com tosse, dispneia, aumento das secreções brônquicas e, algum tempo depois, edema pulmonar. Os distúrbios podem se associar com cefaleia, tontura, fraqueza e hipotensão arterial. Contato com a pele determina queimaduras extremamente dolorosas, com cicatrização por segunda intenção. Álcalis produzem uma necrose de liquefação, saponificação os lípides e solubilizando as proteínas, favorecendo o aprofundamento das lesões, ao contrário do que acontece com os ácidos. Após ingestão aparece dor intensa, com espasmo reflexo da glote. A dor é referida na boca, garganta, região retroesternal e estômago. Em virtude da destruição das terminações nervosas pode não haver relação entre a dor referida e o local da lesão. A lesão química apresenta uma característica pseudomembrana de coloração cinza. Presença de lesões na boca indica comprometimento esofágico na maioria dos casos. Ingestão de produtos líquidos pode produzir lesões esofágicas sem lesão da boca ou da faringe. Edema e inflamação de boca, língua, faringe posterior e laringe diminuem o calibre das vias aéreas, facilitando o aparecimento de complicações pulmonares. Aparecimento de febre, dor retroesternal e abdominal é indicativo de possível perfuração esofágica com mediastinite. Daniela Junqueira Gomes Teixeira - Doenças Resultantes da Agressão ao Meio Ambiente - Problema 1 - Intermediária INTOXICAÇÕES POR INSETICIDAS DOMÉSTICOS Inseticidas para uso domésticos e para plantas ou jardins residenciais devem de acordo com a legislação sanitária, ter ingredientes ativos ou formulações que apresentem potencial de risco relativamente baixo para o homem. Píretros são preparados brotos extraídos de algumas espécies de plantas da família Compositae. Seus extratos purificados, chamados comercialmente de piretrinas, são misturas de princípios ativos mais ou menos puros. Piretróides são compostos sintéticos desenvolvidos particularmente a partir da piretrina natural. Entre seus ingredientes ativos, largamente utilizados como inseticidas domésticos, podem ser citados: aletrina, cipermetrina, deltrametrina, resmetrina e bioresmetrina. Os principais efeitos são as reações alérgicas de frequência e intensidade variáveis conforme o princípio ativo. Foram relatadas dermatites de contato, com eritema, vesículas ou bolhas, bem como espirros, secreção nasal sérica, obstrução nasal e broncoespasmo. Também são possíveis reações anafiláticas graves. Após absorção podem ocorrer manifestação sistêmicas, principalmente neurológicas, incluindo hiperexcitabilidade, cefaleia, tontura, hiperreflexia, distúrbios do equilíbrio e algumas vezes paresias. Compostos organofosforados são agentes colinérgicos indiretos. Consequentemente, esta atua de modo mais intenso e prolongado nas sinapses colinérgicas. Na presença de fosfatos orgânicos a colinesterase se fosforila. Fixa o átomo de fósforo no seu centro esterásico e hidrolisa o éster fosfórico. O acúmulo de acetilcolina produz um quadro clínico que esquematicamente compreende três grupos de sinais e sintomas: a) Síndrome muscarínica, que inclui distúbios cardiocirculatórios (diminuição da contratilidade cardíaca, bradicardia, hipotensão arterial); distúrbios gastrinstestinais (aumento dos movimentoss peristálicos e do tônus intestinal, aumento das secreções digestivas, diarréia, vômtos e cólicas abdominais); distúrbios das glândulas exócrinas (sudorese,sialorréia e lacrimejamento) e outro distúrbios como miose bilateral, broncoconstrição e hipersecreção brônquica. b) Síndrome nicotínica: tremores da língua, lábios, olhos e pálpebras; espasmios e tremores da musculatura esquelética; flacidez e paralisia musucular, espasmos, fibrilações e fasciculações musculares. c) Síndrome do SNC: cefaléia, inquietude, insônia, tremores, ataxia, confusão mental, convulsões e coma. São inibidores de colinesterase. A inibição que produzem não costumam ser irreversível e é de duração relativamente curta. A sintomatologia tóxica é semelhante à descrita com os fosforados, mas geralmente são menos intensos os distúrbios do SNC. Daniela Junqueira Gomes Teixeira - Doenças Resultantes da Agressão ao Meio Ambiente - Problema 1 - Intermediária INTOXICAÇÕES POR RATICIDAS DOMÉSTICOS Os raticidas podem ser classificados em dois grupos: 1. Raticidas de dose múltipla que atuam após ingestão continuada durante vários dias. Seu potencial de risco para o homem é menor e, por essa razão, são mais usados em residências. Os principais são os anticoagulantes 2. Raticidas de dose única. Alguns têm toxidade elevada para roedores e homem, sendo seu uso domiciliar proibido. Outros são tóxicos seletivos para roedores. Apesar de permitidos, seu uso domiciliar é relativamente pequeno. Sua ação tóxica é consequente à alteração dos mecanismos de coagulação sanguínea, por intereferirem na síntese hepática da protrombina e dos fatores VII, IX e X. Aumentam também a fragilidade capilar. As manifestações hemorrágicas somente são observadas após ingestão de doses muito grandes (tentativa de suicídio) ou após ingestão continuada durante vários dias. Incluem hemorragia nasal e gástricas, hematúria, enterorragia, petéquias e, ocasionalmente, equimoses cutâneas. INTOXICAÇÕES POR REPELENTES DOMÉSTICOS Entre os repelentes, um dos principais, pelo seu largo uso domiciliar e por sua importância toxicológica é a naftalina. A ingestão de pequenas quantidade não determina manifestações tóxicas ou apenas produz náuseas, vômitos e cólicass abdominais, a não ser que o paciente apresente deficiência em glicose-6-fosfato desidrogenase (G-6-PD). Doses maiores podem podem produzir, além dos distúrbios gastrintestinais, alterações neurológicas caracterizadas por depressão do SNC, bem como abalos musculares e convulsões. Após intervalo de tempo variável, podem ocorrer, particulamente nos deficientes em G-6-PD, as características alterações sanguíneas: anemia hemolítica e/ou metemoglobinemia. Insuficiência renal aguda é complicação possível. INTOXICAÇÕES POR AGROTÓXICOS Os paguicidas são produtos químicos ou quaisquer substâncias ou mistura de substâncias destinadas à prevenção, à destruição ou ao controle de qualquer praga, incluindo os vetores de doenças humanas ou de animais, que causam prejuízo ou interferem de qualquer outra forma na produção, elaboração, armazenagem, transporte ou comercialização de alimentos, para ps homens ou os animais, de produtos agrígolas, de madeira e produtos da madeira, ou que podm ser administrados aos animais para combater insetos, aracnídeos ou outras pragas dentro ou sobre seus corpos. Neste grupo, encontram-se os Organofosforados e os Carbamatos. São compostos inibidores da acetilcolinesterase, enzima responsável pela degradação da acetilcolina, presente nas fendas sinápticas do sistema nervoso autônomo, do sistema nervoso central e da junção neuromuscular. A acetilcolina exerce sua atividade através de dois tipos de receptores: nicotínicos, presentes na placa motora, no sistema nervoso central (medula) e nos neurônios pós- ganglionares do sistema nervoso autônomo; muscarínicos, presentes no sistema nervoso central (encéfalo) e nos neurônios pós-ganglionários do sistema nervoso autônomo. Daniela Junqueira Gomes Teixeira - Doenças Resultantes da Agressão ao Meio Ambiente - Problema 1 - Intermediária Esses compostos se ligam com a acetilcolinesterase de forma muito mais estável que a acetilcolina. A ligação do carbamato se desfaz em minutos a horas, de forma que a enzima é regenerada em 24-48 h. A ligação do fosforado permanece por dias a semanas, tornando a enzima indefinidamente, se não for usado composto que desfaça a ligação. Fosforados e carbamatos são absorvidos por qualquer via: oral, transdérmica, através de mucosas (gastrointestinal, genitourinária, conjuntiva) e parenteral. A via inalatória levaria a menor período de latência, enquanto a transdérmica, a de maior período. O quadro clínico se instala de minutos até 12 h. Os sinais e sintomas são decorrentes dos diversos sítios onde ocorrerá excesso de acetilcolina. Os efeitos muscarínicos levam a salivação excessiva, lacrimejamento, liberação de esfíncter vesical, diarréia, vômitos, broncoconstrição e broncorréia e aumento do tônus vagal cardíaco (lentificação da condução nos nós SA e AV). Os efeitos nicotínicos incluem fasciculações, câimbras e fraqueza muscular (inclusive de musculatura respiratória), hipertensão, taquicardia, dilatação pupilar e palidez cutânea. Os efeitos no SNC incluem inquietação, labilidade emocional, cefaléia, tremores, sonolência, confusão, ataxia, psicose, convulsões e coma. As mortes decorrem, em sua maioria, de depressão respiratória associada à hipersecreção traqueobrônquica. A dosagem da acetilcolinesterase sangüínea é de extrema valia nessas intoxicações, guardando relação com a atividade da enzima neural e muscular. Apesar disto, a recuperação dos níveis de colinesterase a valores normais não deve ser o parâmetro para se interromper o tratamento, mas, sim, a ausência de manifestações clínicas de intoxicação, já que a recuperação desses níveis pode ocorrer em meses. Conduta médica No tratamento, o uso de atropina é essencial, por ser um antagonista competitivo da acetilcolina, tanto no SNC quanto no SNA. A dose inicial para adultos é de l a 2 mg para intoxicações por carbamatos e de 2 a 4 mg para intoxicações por fosforados, por via endovenosa ou intramuscular. A dose a ser usada é empírica e será única para cada paciente. A dose inicial pode ser repetida em 5 a 10 min, ou em infusão contínua, avaliando-se a necessidade de aumentá-la ou reduzí-la a cada administração, de acordo com o controle do quadro clínico, ou seja, o controle das secreções estimuladas pela atividade muscarínica. Uma vez ajustada a dose, esta deve ser mantida por, no mínimo, 24 h. Os sinais de atropinização incluem midríase (o mais precoce), taquicardia e ruborização cutânea (este é útil no ajuste de dose). A retirada é lenta e gradual, por pelo menos 24 h, devendo ser restituída, se reaparecerem os sintomas. Nos casos de intoxicação por fosforados, deve-se fazer uso de oximas. A Pralidoxima tem a capacidade de regenerar a colinesterase por ligar-se ao fosforado. A via de administração é endovenosa, devendo ser realizada em 30 min, na dose de 20 a 40 mg/kg, diluídos em solução salina a 0,9%. A dose pode ser repetida em 1 a 2 h, com dose máxima diária de 12 g. Será suspensa somente quando forem abolidos todos os sintomas colinérgicos. São compostos estimulantes do SNC, com toxidade variável, quando ingeridos. Entre outros possíveis mecanismos de ação, atuam na membrana axonal, lentificando o fechamento dos cais de sódio voltagem-dependentes. São absorvidos por via oral, transdérmica ou inalatória. Muitos são bastante lipossolúveis, levando a manifestações precoces do SNC. Esses compostos levam à diminuição do limiar convulsivo e ao estímulo do SNC. Sem dúvida, nas intoxicações por clorados, as convulsões são a principal ameaça, podendo abrir o quadro clínico. Podem ocorrer, também, náuseas e vômitos, hiperestesias e parestesias em face, língua e extremidades, cefaléia, tonturas, mioclonias, agitação e confusão. Febre de origem central não é infreqüente. Daniela Junqueira Gomes Teixeira- Doenças Resultantes da Agressão ao Meio Ambiente - Problema 1 - Intermediária Conduta médica Não há exame laboratorial para identificação de organoclorados. Se o paciente apresentar rebaixamento importante do nível de consciência, proceder a intubação orotraqueal. Na presença de crises convulsivas, pode-se utilizar Diazepam por via endovenosa. Pele e mucosas devem ser descontaminadas, com proteção da equipe que presta assistência. Hipertermia deve ser tratada com métodos físicos. Atentar para o desenvolvimento de necrose tubular aguda, por rabdomiólise decorrente das convulsões. A Colestiramina, resina de troca iônica, não absorvível, deve ser utilizada ao invés de carvão ativado. A dose indicada é de 4 g, por via oral, a cada 6 h. Análogos sintéticos das piretrinas são compostos de efeito rápido e letal para insetos, freqüentemente associados a Butóxido de piperonila. Como os clorados, prolongam o período de abertura dos canais de sódio voltagem- dependentes. São praticamente inabsorvidos pela pele. Suas manifestações principais decorrem da indução de manifestações alérgicas ao contato com a pele e mucosas. Quando ingeridos, podem levar a parestesias, náuseas e vômitos, tonturas e fasciculações. Conduta médica Lavagem gástrica e carvão ativado são suficientes. Altamente solúvel em água, vendido em preparações de concentração em 20% em água. A inalação leva a nenhuma ou pequena intoxicação. A absorção a partir de pele ou mucosas intactas é mínima. Se ingerido, é rapidamente absorvido (30% da dose) no intestino delgado. O pico plasmático ocorre de minutos a 2 h após a ingestão. Distribui- se para todos os tecidos do organismo, mas alcança maiores concentrações nos pulmões e nos rins, tecidos onde há transporte ativo da molécula. Aproximadamente 90% do Paraquat absorvido é eliminado intacto por via renal, dentro de 12 a 24 h. A toxicidade do Paraquat encontra-se no efeito cíclico de redução de óxido, com produção de compostos tóxicos de oxigênio. Os radicais livres formados reagem com lipídeos da membrana celular, proteínas estruturais e enzimas, além da molécula DNA. O contato ocular pode levar a ceratite e conjuntivite. O contato repetido com a pele pode levar a dermatite e erosão unguenal. No trato gastrointestinal, podem ocorrer ulceração e corrosão orofaríngea, náusea e vômito, diarréia, hematêmese, disfagia, perfuração esofásiga, pancreatite e necrose hepática. Pode ocorrer necrose tubular aguda; no sistema respiratório, tosse, mediastinite, pneumotórax, hemoptise, hemorragia alveolar, edema e fibrose pulmonar; hipovolemia, choque e arritmias; convulsões, coma e edema cerebral. Os sintomas ocorrerão na dependência da dose ingerida. Se a ingestão foi de até 20 mg/kg, as lesões são poucas e a recuperação ocorre. Se entre 20 e 40 mg/kg, há morte dentro de cinco dias, por acometimento gastrointestinal, renal e pulmonar. Se acima de 40 mg/kg, há falência de múltiplos órgãos e morte em um a três dias. Conduta médica O sucesso do tratamento depende do tempo de sua instituição. Consiste em lavar copiosamente pele e mucosa, se estas foram expostas. Para ingestão, pode ser empregado carvão ativado ou Terra de Füller em suspensão aquosa a 15% (15g/100ml), na dose de 1 a 2g/kg de peso corporal. Manter hidratação e fluxo renal adequados. A suplementação Daniela Junqueira Gomes Teixeira - Doenças Resultantes da Agressão ao Meio Ambiente - Problema 1 - Intermediária de oxigênio pode potencializar os efeitos do Paraquat, só devendo ser realizada nos casos em que a hipoxemia é limitante para vida. Hemodiálise e hemoperfusão podem ser utilizadas para aumentar a eliminação. Nenhum, antídoto tem se mostrado efetivo. Outra tentativa é a utilização de compostos que previnam a formação de radicais livres, como vitamina E e vitamina C. Tenta-se, também, reduzir a reação inflamatória, pulmonar, principalmente, com o uso de corticosteróides. Paraquat pode ser dosado no sangue e na urina. O nível sérico tem estrita correlação com a morbidade. Muitos evoluem para o óbito. IMPACTO DO USO DE AGROTÓXICOS NO MEIO AMBIENTE Os agrotóxicos são desenvolvidos com objetivo de obter moléculas com propriedades únicas, como estabilidade térmica, à luz e/ou atividade biológica. Uma vez introduzidos no ambiente, podem se tornar poluentes em consequência da sua toxicidade ou de seus produtos de degradação. A necessidade de uma produtividade elevada tem levado a utilização cada vez maior dessas moléculas na agricultura o que pode causar impactos ao ambiente. As substâncias usadas no controle de pragas e doenças em ambientes agrícolas, urbanos, hídricos e industriais são potencialmente nocivas, podendo ser cancerígenas, mutagênicas, teratogênicas e mimetizadoras de hormônios. Por isso, há uma crescente preocupação associada à sua presença no meio ambiente, haja vista os possíveis impactos na qualidade das águas superficiais e subterrâneas e do solo. Daniela Junqueira Gomes Teixeira - Doenças Resultantes da Agressão ao Meio Ambiente - Problema 1 - Intermediária O maior risco de efeitos indesejados dos agrotóxicos ocorre por meio da contaminação do sistema hidrológico, que mantém a vida aquática e as cadeias alimentares a ele relacionadas. Principalmente tendo-se em vista que a água é indispensável para praticamente todas as atividades humanas, das quais se destacam o abastecimento doméstico e industrial, a irrigação agrícola, a geração de energia elétrica e as atividades de lazer e recreação, além da preservação da flora e fauna. A água é uma das vias primárias pelas quais os agrotóxicos são transportados dos locais que foram aplicados para outros compartimentos do ciclo hidrológico. Os contaminantes podem atingir as águas superficiais - por meio do escoamento das águas da chuva e da irrigação; ou subterrâneas - pela drenagem e percolação (passagem lenta de um líquido através de um meio filtrante) no solo. Além disso, o solo representa uma fonte da qual resíduos de agrotóxicos podem ser liberados para a atmosfera, águas subterrâneas e organismos vivos, uma vez que estes podem utilizar esses compostos como fonte de carbono. A Figura 1 ilustra o movimento dos agrotóxicos no ciclo hidrológico. Os impactos ambientais sobre o solo, água e sua microbiota causados pelo uso dos agrotóxicos estão relacionados principalmente com o tempo de permanência de seus resíduos acima do necessário para exercer sua ação. A persistência, por sua vez, é resultado da ausência de processos que modificam a estrutura química dos compostos e promovem sua dissipação, e é dependente de processos físicos, químicos e biológicos que ocorrem no próprio ambiente. O comportamento dos agrotóxicos no ambiente edáfico (relativo ao solo) é governado por três fatores principais: estrutura química e propriedade dos compostos; características físicas, químicas e biológicas do solo; e condições ambientais. Uma vez lançados no ambiente, os compostos têm distribuição complexa, determinada pela dinâmica dos processos de partição entre suas fases: a fase aquosa e a biota, a fase aquosa e o sedimento, e o sedimento e a biota residente. O efeito e a magnitude decorrentes do uso de agrotóxicos no ambiente dependem basicamente dos processos de retenção, transferência, transporte e transformações que ocorrem em cada compartimento do sistema solo-água-planta-atmosfera. No processo de transporte (volatilização, lixiviação e escorrimento superficial), os compostos orgânicos sofrem muitas alterações na quantidade (concentração) que pode diminuir (por meio de diluição, ex.: na água), aumentar (reconcentração através de evaporação do meio em que ele foi solubilizado) ou ainda sofrer transferência de fase. No que se refere à quantidade dos compostos durante o transporte, os compostos podem ser molecularmente alterados em função de processos como a degradação(bio e fotodegradação) e das múltiplas reações químicas de que eles podem participar, aumentar, diminuir ou mesmo inativar seu poder tóxico. O conhecimento das propriedades químicas e físicas dos contaminantes orgânicos é necessário para prever onde possivelmente encontraremos maiores concentrações dos agrotóxicos nos diferentes compartimentos do ecossistema. Porém, também é importante para entender o significado dessas concentrações e a razão de somente algum deles concentrarem toda atenção de risco ambiental. Fig. 1: Movimento dos agrotóxicos no ciclo hidrológico Daniela Junqueira Gomes Teixeira - Doenças Resultantes da Agressão ao Meio Ambiente - Problema 1 - Intermediária As propriedades químicas dos agrotóxicos mais importantes na dinâmica desses processos são: meia vida, solubilidade em água, coeficiente de adsorção à matéria orgânica do solo [o coeficiente de adsorção (Kd) é calculado pela relação entre a quantidade de agrotóxico adsorvido no solo e a quantidade de agrotóxico na água em equilíbrio], hidrólise, volatilidade e reatividade. Aproximadamente um terço de todos os compostos orgânicos produzidos tem como destino final (não intencional) o meio ambiente, incluindo a água. Cerca de 800 compostos químicos, incluindo mais de 600 compostos orgânicos, muitos dos quais biologicamente ativos, têm sido detectados em amostras de água. Destes, 118 agentes químicos são considerados mundialmente como prioritários para efeito de controle ambiental. Além dos fatores relacionados com o comportamento dos agrotóxicos no meio ambiente, deve-se levar em conta também as informações toxicológicas das moléculas em questão. A maioria dos agrotóxicos demonstra atividade bioquímica também em espécies não-alvo e por isso seu potencial de transporte também preocupa. A melhor forma de avaliação do potencial de impacto dos agrotóxicos no meio ambiente é a realização de estudos de monitoramento em campo bem delineados, com coletas frequentes e regulares, durante um longo período de tempo. Entretanto, esse processo requer tempo e recursos elevados para geração dos dados e obtenção das respostas. A adoção de modelos preditivos na avaliação do risco de contaminação do ecossistema aquático pode reduzir as dificuldades de um monitoramento, porque permite entender o comportamento dos agrotóxicos no ambiente e, dessa forma, selecionar locais com maior vulnerabilidade e os princípios ativos com maior potencial de impactar o ambiente hídrico. Os modelos matemáticos - conjuntos de conceitos, sob a forma de equações matemáticas que retratam compreensão dos fenômenos naturais - podem ser instrumentos úteis, porém precisam ser aplicados corretamente. Os modelos físicos, quando combinados com modelos matemáticos, podem fazer uma ligação entre a previsão pura da contaminação e os ensaios de campo. A preocupação com a contaminação de ambientes aquáticos aumenta principalmente quando a água é usada para o consumo humano. No Brasil, a Portaria 518, de 25/3/2004 do Ministério da Saúde estabelece os limites máximos permitidos de agrotóxicos em água potável, porém, poucos ingredientes ativos estão listados na Norma. A Resolução nº 357, de 17/3/2005, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) estabeleceu limites máximos dos contaminantes em águas que dependem do seu destino, de acordo com a classificação em classes I e II. Os Estados Unidos, por meio do EPA (Agencia de Proteção Ambiental), estabeleceram limites máximos para cada agrotóxico individualmente. A Comunidade Econômica Europeia definiu, por meio da Directive 80/778/EEC, que a concentração máxima individual dos ingredientes ativos de agrotóxico não organoclorados deve ser inferior a 0,1 µg.L-¹ e a soma de todos os ingredientes ativos desses compostos não pode exceder 0,5 µg.L-¹ em águas destinadas ao consumo humano. Como uma alternativa para avaliar o potencial teórico de lixiviação e o risco de poluição das águas, podem ser usados os critérios de “triagem” da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (US-EPA); o índice GUS (“Groundwater Ubiquity Score”) de vulnerabilidade de águas subterrâneas; o método de Goss, entre outros. Esses são procedimentos que levam em consideração as propriedades físico-químicas dos compostos e as propriedades do solo. Atualmente, o Laboratório de Ecologia de Agroquímicos, do Centro de P&D de Proteção Ambiental, tem utilizado o modelo computacional Pesticide Impact Rating Index – PIRI como uma forma de selecionar os princípios ativos utilizados em determinados cultivos, que devem ser incluídos nos programas de monitoramento do ambiente agrícola. Daniela Junqueira Gomes Teixeira - Doenças Resultantes da Agressão ao Meio Ambiente - Problema 1 - Intermediária Esse modelo é uma ferramenta que calcula o efeito provável de um agrotóxico sobre a qualidade da água, ou seja, classifica o risco relativo de agrotóxicos atingirem as águas de superfície ou subterrâneas, e o possível impacto sobre um grande número de organismos. Nesse modelo são levadas em consideração as características físico-químicas dos agrotóxicos, bem como as condições edafoclimáticas (de solo e clima) do local de aplicação; a forma, dose e frequência de aplicação desses compostos e, por isso, ele permite avaliar o potencial de transporte do agrotóxico para além da área de aplicação e o risco de contaminação associado a este transporte. Assim, para classificar os agrotóxicos em função do risco de contaminar águas superficiais e subterrâneas e do risco em promover efeitos deletérios sobre organismos não alvos, o PIRI considera as condições do local (tipo, textura e conteúdo de matéria orgânica do solo, declividade do terreno, perda por erosão, distância do local de aplicação ao corpo hídrico, profundidade do corpo hídrico); os dados climáticos (temperatura e pluviosidade); os parâmetros relacionados à tecnologia de aplicação (forma, período e frequência de aplicação) e as características físico-químicas dos pesticidas [persistência na água e no solo, sorção (fenômeno concomitante de adsorção e absorção) nas partículas de solo ou sedimento e toxicidade para organismos aquáticos]. Desta forma, o PIRI pode ser aplicado para: • fornecer uma classificação relativa dos diferentes agrotóxicos utilizados em determinada área em relação ao seu potencial de contaminação de águas subterrâneas ou superficiais; • desenvolver um programa de monitoramento orientado pela avaliação do PIRI; • identificar quais os agrotóxicos que necessitam de melhor gerenciamento, para minimizar seus impactos na qualidade da água; • identificar janelas seguras para a pulverização de agrotóxicos, ou seja, com menor possibilidade de risco de migração para fora do local pretendido; • avaliar diferentes usos do solo em uma bacia / sub-bacia hidrográfica sobre seu impacto em relação à qualidade da água; • comunicar o perfil de risco de agrotóxicos para os diferentes níveis tróficos em um ecossistema: ou seja, vertebrados (peixes, mamíferos), invertebrados (Daphnia), base da cadeia alimentar (algas) ou para água potável. Daniela Junqueira Gomes Teixeira - Doenças Resultantes da Agressão ao Meio Ambiente - Problema 1 - Intermediária CONDUTA DE ATENDIMENTO DESCONTAMINAÇÃO A descontaminação deve ser feita o mais breve possível para: • Diminuir a exposição a tóxicos e toxinas • Prevenir a lesão • Evitar ou diminuir a lesão • Reduzir a absorção 1. DILUIÇÃO A diluição deve ser sempre realizada com o paciente consciente. Têm indicações específicas. Preferencialmente deve ser feita com água ou leite 2. INDUÇÃO DA ÊMESE A indução dos vômitos é um método não-invasivo, simples e que não necessita de hospitalização. Deve ser sempre feita com o paciente consciente e com os reflexos preservados.Técnicas: Água morna com sal; Detergente neutro diluido em água; Método mecânico; Apomorfina ou ipeca. 3. LAVAGEM GÁSTRICA Está indicada em ingestas recentes (< 2h) de uma dose tóxica. Este intervalo pode alargar-se em caso do paciente em coma ou após a ingestão de substância que retardam o esvaziamento gástrico ou que tenham absorção lenta como: salicilatos, antidepressivos tricíclicos, fenotiazinas, opiácios ou anticolinérgicos Daniela Junqueira Gomes Teixeira - Doenças Resultantes da Agressão ao Meio Ambiente - Problema 1 - Intermediária Deve ser precedida: administração de 60-100g de carvão ativado à adulto administração de 1g/kg de carvão ativado à crianças.Ter sempre preparado uma sistema de aspiração. Deve ser precedida por Intubação Orotraqueal (IOT) em pacientes em coma ou com distúrbios de deglutição. O paciente deve ser colocado em decúbito lateral esquerdo e em leve Trendelemburgo com as pernas semi-flexionadas Utilizar sonda oro ou nasogástrica de grosso calibre, lubrificada; Realizar a lavagem com água morna ligeiramente salinizada(soro glicosado + fisiológico) Mobilizar a sonda se a quantidade de líquido que retorna é menor que a injetada. Fazer massagem epigástrica enquanto pratica as manobras de lavagem gástrica. Quantidade de soro preconizada: • RN: 500ml de SF 0,9% fracionado em doses de 50ml • Lactentes: 2 litros de SF 0,9% fracionado em doses de 50ml ou 5ml/kg • Pré-escolares: 2-4 litros de SF 0,9% fracionado em doses de 100ml • Escolares: 2-5 litros de SF 0,9% fracionado em doses de 150ml • Adultos: 3-6 litros de SF 0,9% fracionado em doses de 250ml 4. CATÁRTICOS Os catárticos são substâncias que aumentam o trânsito intestinal. Os mais usados são: sorbitol, manitol, sulfato de magnésio e fenolftaleina. 5. ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA (EDA)/RETIRADA CIRÚRGICA 6. ADSORVENTES Os adsorventes são substâncias que tem a capacidade de se ligarem ao agente tóxico, formando um composto estável que não é absorvido pelo trato gastrointestinal, sendo eliminado pelas fezes. Várias substâncias são utilizadas com esta finalidade, dentre elas o Carvão ativado e a colestiramina. O carvão ativado é administrado por via oral ou por SNG. Deve ser precedido pela administração de catárticos afim de previnir a impactação e de antieméticos. Indicação de múltiplas doses: • Fármacos que possuem tempo de esvaziamento gástrico prolongado. • Fármacos que fazem o ciclo entero-hepático Daniela Junqueira Gomes Teixeira - Doenças Resultantes da Agressão ao Meio Ambiente - Problema 1 - Intermediária 7. MÉTODOS PARA AUMENTAR A ELIMINAÇÃO Os tóxicos se eliminam fisiológicamente do organismo por via respiratória, hepática e renal. Outras opções são postas em prática por meios artificiais de depuração. A diurese forçada e alcalina só são indicadas naquelas intoxicações graves em que o produto tóxico ou seu metabólito ativo se eliminem prioritariamente por esta via. A hemodiálise auxilia na eliminação do tóxico através de sua passagem através de uma membrana semipermeável, para isto, o tóxico precisa ser hidrossolúvel, de baixo peso molecular, com pequeno volume de distribuiçãoe e com baixa ligação protéica. 8. ANTÍDOTOS Os antídotos são substâncias que têm a capacidade de inibir ou atenuar a ação do tóxico, quelar ou aumentar a velocidade de absorção Daniela Junqueira Gomes Teixeira - Doenças Resultantes da Agressão ao Meio Ambiente - Problema 1 - Intermediária Dados epidemiológicos Segundo dados coletados do DATASUS/TABNET, as notificações realizadas por agente tóxico segundo região de notificação no período de 2017 demonstraram que na Bahia houve 3.782 casos notificados, sendo eles distribuídos da seguinte forma: • Ign/branco: 708 • Por medicamento: 1.309 • Por Agrotóxico Agrícola: 134 • Por agrotóxico Doméstico: 56 • Por Raticida: 274 • Produto Veterinário: 33 • Regiões de Saúde na Bahia: É um espaço geográfico contínuo constituído por agrupamentos de municípios limítrofes, delimitado a partir de identidades culturais, econômicas e sociais e de redes de comunicação e infraestrutura de transportes compartilhados, com a finalidade de integrar a organização, o planejamento e a execução de ações e serviços de saúde. A região é recorte territorial, administrativo-sanitário que permite integrar o que a descentralização supostamente teria fracionado, definindo para a população um espaço sanitário de serviços, constituído pelas redes de atenção à saúde, dotadas de inteligência sanitária que permita à pessoa o acesso ao itinerário terapêutico adequado à sua necessidade. A região de saúde é pré-requisito para a ordenação sanitária, com o fim específico de garantir o acesso às ações e serviços de saúde dentro de um território delimitado e disciplinado podendo ser inter-regional, conforme forem as necessidades de saúde. É na região que o SUS deve garantir às pessoas suas necessidades de saúde em acordo às referencias interfederativas e à gestão compartilhada, definidas em acordos e consagradas no contrato. De acordo com a região de saúde de Salvador, que engloba Salvador, Lauro de Freitas, Camaçari, entre outros, os dados encontrados no TABNET demonstram que ocorreu 1501 notificações, sendo elas distribuídas da seguinte forma: • Ign/branco: 240 • Por medicamento: 505 • Por Agrotóxico Agrícola: 9 • Por agrotóxico Doméstico: 17 • Por Raticida: 144 • Produto Veterinário: 10 Esses dados podem ser ainda redistribuído por município, sendo que 1382 casos do total ficam em Salvador (mais acometida por medicamento); 41 em Lauro ( mais acometida por alimento e bebida) e 32 em Camaçari ( mais acometida por uso de medicamentos). • Produto de uso domiciliar: 239 • Cosmético: 56 • Produto Quimico : 111 • Drogas de Abuso: 224 • Planta toxica: 48 • Alimento e Bebida: 420 • Produto de uso domiciliar: 93 • Cosmético: 20 • Produto Quimico : 49 • Drogas de Abuso: 156 • Planta toxica: 3 • Alimento e Bebida: 205 Daniela Junqueira Gomes Teixeira - Doenças Resultantes da Agressão ao Meio Ambiente - Problema 1 - Intermediária visamb A Vigilância em Saúde Ambiental compreende o conjunto de ações e serviços prestados por órgãos e entidades públicas e privadas, relativos à vigilância em saúde ambiental, visando o conhecimento e a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes do meio ambiente que interferem na saúde humana, com a finalidade de recomendar e adotar medidas de promoção da saúde ambiental, prevenção e controle dos fatores de riscos relacionados às doenças e outros agravos à saúde . OBJETIVOS • Produzir, integrar, processar e interpretar informações, visando disponibilizar ao SUS instrumentos para o planejamento e execução de ações relativas às atividades de promoção da saúde, de prevenção e controle de doenças relacionadas ao meio ambiente; • Estabelecer os principais parâmetros, atribuições, procedimentos e ações relacionadas à vigilância em saúde ambiental; • Identificar os riscos e divulgar as informações referentes aos fatores ambientais condicionantes e determinantes das doenças e outros agravos à saúde; • Intervir com ações diretas de responsabilidade do setor ou demandando para outros setores, com vistas a eliminar os principais fatores ambientais de risco à saúde humana; • Promover, junto aos órgãos afins ações de proteção à saúde humana relacionadas ao controle e recuperação do meio ambiente; • Conhecer e estimular a interação entre saúde, meio ambiente e desenvolvimento, visando ao fortalecimento da participação da população na promoção da saúde e qualidade de vida. COMPETÊNCIAS • Acompanhare fiscalizar o cumprimento das normas técnicas aplicáveis à vigilância em saúde ambiental; • Implementar o processo de articulação interinstitucional com as diversas esferas de governo (Federal, Estadual e Municipal), visando garantir níveis de desempenho técnico satisfatório; • Promover os meios para o intercâmbio de experiências em vigilância em saúde ambiental, visando universalizar o conhecimento e sua aplicabilidade no município; • Fornecer dados para os sistemas Federal, Estadual e Municipal de informação de saúde ambiental; • Realizar estudos e inventários de recursos naturais e outros estudos, em seu âmbito de atuação; • Coordenar e supervisionar as ações de vigilância em saúde ambiental, assegurando como princípio norteador a multidisciplinaridade técnica das equipes de trabalho; • Realizar análises técnicas em sua esfera de competência, para subsidiar este e demais órgãos Federais, Estaduais e Municipais nas atividades de prevenção e controle dos fatores de riscos ambientais. Daniela Junqueira Gomes Teixeira - Doenças Resultantes da Agressão ao Meio Ambiente - Problema 1 - Intermediária ÁREAS DE ATUAÇÃO A Vigilância em Saúde Ambiental atua na detecção de qualquer mudança no meio ambiente, que interfere na saúde humana, em especial a água para consumo humano, ar, solo, desastres naturais, acidentes com produtos perigosos e fatores físicos com a finalidade de adotar medidas de prevenção e controle de doenças e agravos. VIGISOLO Diante do processo da modernização e suas consequências, como a poluição e degradação ambiental, a industrialização acelerada e o uso de novos métodos tecnológicos na agricultura, a humanidade está sujeita a riscos decorrentes da exposição a inúmeros agentes potencialmente tóxicos. Além do modelo de desenvolvimento industrial, a contaminação ambiental por substâncias químicas e resíduos perigosos está associada ao controle e normatizações relacionadas às instalações industriais, os métodos de tratamento e disposição final de resíduos perigosos, além do abandono de plantas industriais. Também estão relacionados outros aspectos da política de desenvolvimento econômico, como a utilização não-sustentável de recursos naturais, a dependência de fontes não renováveis de energia, a geração de resíduos, a utilização de produtos químicos e a produção e consumo de bens e serviços. Como componente da Vigilância em Saúde Ambiental, a Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Contaminantes Químicos (Vigipeq) trabalha com os contaminantes químicos que interferem na saúde humana e nas inter-relações entre o homem e o ambiente, buscando articular ações de saúde integradas – prevenção, promoção, vigilância e assistência à saúde de populações expostas a contaminantes químicos. Nessa mesma linha, atua também um dos componentes do Vigipeq, que é a Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Áreas Contaminadas (Vigisolo). O fluxo de atuação proposto pelo Vigipeq estabelece etapas para nortear as ações, uma vez que as situações de exposição humana a contaminantes químicos são específicas, tendo características próprias que devem ser analisadas caso a caso. Para que sejam desenvolvidas as etapas propostas no fluxo, podem ser adotadas duas formas de conduta, que podem ser concomitantes e não exclusivas: proativa e reativa. A conduta proativa está relacionada à antecipação ao problema, voltada para a prevenção de impactos negativos, além da promoção da saúde da população potencialmente exposta. A conduta reativa está relacionada a uma situação problema instalada, onde as consequências já se manifestaram. Esta conduta pode ser desencadeada por meio de uma denúncia da população, ou mesmo por uma mudança sensível no padrão de morbimortalidade devido à influência de fontes emissoras de contaminação. Neste caso, são adotadas medidas para minimizar os impactos e, desta forma, melhorar a qualidade de vida da população exposta. Daniela Junqueira Gomes Teixeira - Doenças Resultantes da Agressão ao Meio Ambiente - Problema 1 - Intermediária É importante destacar que no decorrer de todo o fluxo de atuação é necessária a articulação intra e intersetorial para a qualificação dos dados, definição e implementação de ações de curto, médio e longo prazo. São propostas cinco etapas: 1) Identificação; 2) Priorização; 3) Avaliação, Análise e Diagnóstico; 4) Protocolo e Rotina; 5) Sistema de informação. No que se refere ao Vigisolo, com a inserção dos dados relacionados à identificação de populações expostas ou potencialmente expostas no Sistema de Informação de Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Solo Contaminado (Sissolo), é possível agregar os dados coletados, analisá-los e, assim, propor estratégias de ação para cada tipo de população, contaminante, área etc. As informações levantadas devem ser qualificadas com o objetivo de identificar uma possível exposição humana e contaminação ambiental, identificar os contaminantes de interesse e as rotas de exposição, subsidiando a elaboração de protocolos para avaliação e acompanhamento da saúde das populações expostas a contaminantes químicos. Os protocolos se propõem a organizar a demanda já existente nos serviços de saúde, buscando atender às especificidades para contribuir com a melhoria da qualidade de vida e redução da morbimortalidade pela exposição humana a áreas contaminadas por contaminantes químicos. A comunicação de risco e o sistema de informação permeiam todas as etapas propostas no modelo de atuação permitindo a divulgação, apropriação das informações e definição de estratégias de ação necessárias para a atenção integral à saúde de populações expostas a contaminantes químicos. • Identificar e priorizar áreas com populações expostas ou potencialmente expostas a contaminantes químicos; • Desenvolver estratégia de gestão para atuação em áreas com populações expostas ou potencialmente expostas, incluindo avaliação de risco à saúde humana e protocolos de acompanhamento da saúde da população; • Coordenar e estimular ações intrasetoriais entre as áreas de vigilância ambiental, epidemiológica, sanitária, saúde do trabalhador, atenção básica e laboratórios de saúde pública; • Desenvolver, implementar, qualificar e realizar análise sistemática dos dados do sistema de informação de vigilância em saúde de populações expostas ou potencialmente expostas em áreas contaminadas; • Definir e monitorar indicadores; • Elaborar e implementar programa de comunicação de risco à saúde; • Apoiar a capacitação de profissionais; • Realizar articulação intersetorial, com destaque para os órgãos ambientais; Daniela Junqueira Gomes Teixeira - Doenças Resultantes da Agressão ao Meio Ambiente - Problema 1 - Intermediária • Apoiar o desenvolvimento de ações de educação em saúde e mobilização social; • Apoiar o desenvolvimento de estudos e pesquisas. VIGIQUIM Produção, comercialização, uso, armazenagem, transporte, manuseio e descarte de substâncias químicas incluídas nos resíduos industriais e domésticos, são preocupações constantes do mundo moderno. Os riscos potenciais oferecidos por substâncias químicas para a saúde humana envolvem vários níveis e setores governamentais, em especial os que atuam em questões relativas ao ambiente, trabalho, saúde, transporte e o desenvolvimento econômico e tecnológico. Além de estabelecer normas, fiscalizar o cumprimento da legislação, tratar dos instrumentos punitivos, orientar o setor produtivo e a própria população, os órgãos públicos têm papel fundamental na elaboração e implementação da política de segurança química. O Programa Nacional de Vigilância em Saúde Ambiental relacionado às Substâncias Químicas, VIGIQUIM, em fase de implantação e tem o objetivo central de identificar, caracterizar e monitorar as populações expostas às substânciasquímicas. Dentro do programa foram selecionadas cinco substâncias, classificadas como prioritárias, devido aos riscos à população: asbesto/amianto, benzeno, agrotóxicos, mercúrio e chumbo. Dentre os grupos de risco prioritários, expostos a esses contaminantes, destacam-se os trabalhadores e as comunidades que residem no entorno de áreas industriais. Daniela Junqueira Gomes Teixeira - Doenças Resultantes da Agressão ao Meio Ambiente - Problema 1 - Fechamento acidentes por animais peçonhentos OFIDISMO Dentre os acidentes por animais peçonhentos, o ofidismo é o principal deles, pela sua frequência e gravidade. Ocorre em todas as regiões e estados brasileiros e é um importante problema de saúde, quando não se institui a soroterapia de forma precoce e adequada. AGENTES CAUSAIS São 4 os gêneros de serpentes brasileiras de importância médica (Bothrops, Crotalus, Lachesis e Micrurus) compreendendo cerca de 60 espécies. Alguns critérios de identificação permitem reconhecer a maioria das serpentes peçonhentas brasileiras, distinguindoas das não peçonhentas: a) as serpentes peçonhentas possuem dentes inoculadores de veneno, localizados na região anterior do maxilar superior. Nas Micrurus (corais), essas presas são fixas e pequenas, podendo passar despercebidas. b) presença de fosseta loreal (orgão sensorial) - com exceção das corais, as serpentes peçonhentas têm entre a narina e o olho um orifício termo receptor, denominado fosseta loreal. Vista em posição frontal este animal apresentará 4 orifícios na região anterior da cabeça, o que justifica a denominação popular de "cobra de quatro ventas". c) as corais verdadeiras (Micrurus) são a exceção à regra acima referida, pois apresentam características externas iguais às das serpentes não peçonhentas (são desprovidas de fosseta loreal, apresentando coloração viva e brilhante). De modo geral, toda serpente com padrão de coloração que inclua anéis coloridos deve ser considerada perigosa. d) A identificação entre os gêneros Bothrops, Crotalus e Lachesis também pode ser feita pelo tipo de cauda e) as serpentes não peçonhentas têm geralmente hábitos diurnos, vivem em todos os ambientes, particularmente próximos às coleções líquidas, têm coloração viva, brilhante e escamas lisas. São popularmente conhecidas por "cobras d'água", "cobra cipó", "cobra verde", dentre outras numerosas denominações. Estão relacionadas, abaixo, as espécies consideradas de maior importância médico-sanitária, em face do número ou da gravidade dos acidentes que provocam, nas diversas regiões do país. Daniela Junqueira Gomes Teixeira - Doenças Resultantes da Agressão ao Meio Ambiente - Problema 1 - Fechamento Apresentam cabeça triangular, fosseta loreal, cauda lisa e presa inoculadora de veneno. Compreende cerca de 30 espécies, distribuídas por todo o território nacional. Estas serpentes habitam principalmente zonas rurais e periferias de grandes cidades, preferindo ambientes úmidos como matas e áreas cultivadas e locais onde haja facilidade para proliferação de roedores (paióis, celeiros, depósitos de lenha). Têm hábitos predominantemente noturnos ou crepusculares. Podem apresentar comportamento agressivo quando se sentem ameaçadas, desferindo botes sem produzir ruídos. Cabeça triangular, presença de fosseta loreal, cauda com chocalho (guizo) e presa inoculadora de veneno. Agrupa várias subespécies, pertencentes à espécie Crotalus durissus. São encontradas em campos abertos, áreas secas, arenosas e pedregosas e raramente na faixa litorânea. Não ocorrem em florestas e no Pantanal. Não têm por hábito atacar e, quando excitadas, denunciam sua presença pelo ruído característico do guizo ou chocalho. Grande porte, cabeça triangular, fosseta loreal e cauda com escamas arrepiadas e presa inoculadora de veneno. Compreende a espécie Lachesis muta com duas subespécies. É a maior das serpentes peçonhentas das Américas, atingindo até 3,5m. Habitam áreas florestais como Amazônia, Mata Atlântica e algumas enclaves de matas úmidas do Nordeste. Desprovidas de fosseta loreal, com cabeça arredondada e presa inoculadora de veneno. A característica fundamental no reconhecimento desse grupo é o padrão de coloração, com combinações diversas de anéis vermelhos, pretos e brancos. Deve-se considerar que existem serpentes com desenhos semelhantes aos das corais, mas que não possuem presa inoculadora. Há ainda, na Amazônia, corais verdadeiras com cor marrom escura, quase negra e ventre avermelhado. O gênero Micrurus compreende 18 espécies, distribuídas por todo o território nacional. São animais de pequeno e médio porte com tamanho em torno de 1,0 m. Apresentam anéis vermelhos, pretos e brancos em qualquer tipo de combinação. Na Região Amazônica e áreas limítrofes, são encontradas corais de cor marrom-escura (quase negra), com manchas avermelhadas na região ventral. Em todo o país, existem serpentes não peçonhentas com o mesmo padrão de coloração das corais verdadeiras, porém desprovidas de dentes inoculadores. Diferem ainda na configuração dos anéis que, em alguns casos, não envolvem toda a circunferência do corpo. São denominadas falsas- corais. DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA NA BAHIA São encontradas na Bahia as espécies: Família Viperidae: Bothrops jararaca (Jararaca), Bothrops jararacussu (Jararacuçu), Bothrops leucurus (Jararaca- Malha-de-sapo), Bothrops lutzi (Jararaca-pintada), Bothrops moojeni (Jararaca Caiçara), Bothrops pirajai (Jararaca- tapete), Bothriopsis bilineata (Jararaca-verde), Crotalus durissus cascavella (Cobra-do-riso), Crotalus durissus collilineatus (Cobra-do-riso) e Lachesis muta (Surucucu) Daniela Junqueira Gomes Teixeira - Doenças Resultantes da Agressão ao Meio Ambiente - Problema 1 - Fechamento Família Elapidae: Micrurus brasiliensis (Cobra-coral verdadeira), Micrurus corallinus (Cobra-coral Boicorá), Micrurus ibiboboca (Cobra-coral) e Micrurus lemniscatus (Cobra-coral) Família Colubridae: Boiruna sertaneja(Cobra-preta boiruna) e Philodryas olfersii (Cobra-verde) FISIOPATOLOGIA As serpentes do gênero Bothrops possuem venenos com ações coagulante, proteolítica e vasculotóxica. Ação coagulante Tem propriedade de transformar diretamente o fibrinogênio em fibrina. Esta ação é conhecida por “ação coagulante do tipo trombina”. Além disso, a maioria dos venenos botrópicos têm capacidade de ativar o fator X e a protrombina da cascata da coagulação sanguínea. A fração do veneno brotópico , que possui ação coagulamte , atua de maneira diferente da trombina fisiológica, devido ao fato de não ser neutralizante pela heparina. Em última análise, ocorre ativação da cascata da coagulação, cujo resultado final será o consumo de fibrinogênio com incoabilidade sanguínea, restaurada horas após o tratamento adequado. Nos acidentes botrópicos, quando ocorre ativação do fator X, há, também consumo de fatores V, VII e plaquetas, levando a produção de quadro de coagulação intravascular, disseminada, com formação e deposição de microtrombros na rede capilar, o que poderia contribuir para desencadear a insuficiência renal aguda. Ação necrosante (proteolítica) A ação necrosante decorre da ação citotóxica direta nos tecidos por frações proteolíticas do veneno. Pode haver liponecrose, mionecrose e lise das paredes vasculares. Essa ação tem tem relação direta com a quantidade de veneno inoculado. As lesões locais como rubor, edema, bolhas e necrose estão presentes, porém não se pode esquecer que essas lesões podem ser potencializadas por eventuais infecções secundárias. Ação vasculotóxica O veneno das serpentes do gênero Bothrops pode causar hemorragia local ou sistêmica em nível de pulmões, cérebrp e rins. O edema no local da picada, que em geral ocorre minutos após o acidente, é decorrente de lesão tóxica no endotélio de vasos sanguíneos.Pode ocorrer edema maciço em todo o membro 48 a 72 horas após, sendo muito confundido com trombose venosa ou infecção bacteriana. A ação vasculotóxica sistêmica é causada por fatores hemorrágicos. Estas agem sobre vasos capilares, destruindo inicialmente a membrana basal e causando posteriormente sua ruptura. A ação das hemorraginas explica muitos casos de hemorrogias sistêmicas, algumas vezes fatais, no sistema nervoso central, na ausência de distúrbio da coagulação. Outras ações Os acidentes botrópicos podem ser acompanhadas de choque, com ou sem causa definida. Entre eles, a hipovolemia por perda de sangue ou plasma no membro edemaciado, a ativação de substância hipotensoras, edema pulmonar e coagulação intravascular disseminada. Daniela Junqueira Gomes Teixeira - Doenças Resultantes da Agressão ao Meio Ambiente - Problema 1 - Fechamento A insuficiência renal pode se instalar por ação direta ou secundária a complicações em que o choque está presente. Além disso, admite-se que a formação de microtrombos pelas ações coagulantes e vasculotóxicas é capaz de provocar isquemia renal por obstrução da microcirculação. Por fim, sintomas inespecíficos, entre eles vômitos, cefaléia, dor abdominal, diarréia, ou até mesmo colapso circulatório devido à ativação do sistema das cininas, podem estar presentes. Quadro clínico O quadro clínico provocado por estas serpentes se visualiza a partir da sintomatologia local, da alteração no tempo de coagulação, de hemorragias sistêmicas e por complicações locais e/ou sistêmicas. Sintomatologia local Imadiatamente após a picada, em geral nos primeiros 30 minutos, ocorrem dor, eritema e calor local. A dor é imediata, de intensidade variável, podendo ser o único sintoma. O edema indurado, acompanhado de calor e rubor, pode estar ausente no início, mas instala-se dentro das primeiras 6 horas. Existe relação direta entre a sintomatologia local e a quantidade de veneno inoculado. A instalação de bolhas, esquimoses e necroses em geral ocorrre 12 horas após o acidente, casos em que podem advir complicações infecciosas. Em geral, os casos mais graves ocorrem em faixas etárias mais elevadas. Tempo de coagulação As alterações no tempo de coagulação ocorrem com mais frequência nos acidentes causados por filhotes de Bothrops , cujo veneno possio atividade coagulante importante. O tempo de coagulação e o tempo de tromboplastina parcial ativada estão aumentados pela ação coagulante do veneno. O tempo de coagulação é exame útil, de fácil execução, podendo ser realizado em lâmina ou em tubo simples de vidro. O tempo de coagulação normal varia de 3 a 6 minutos, podendo ser infinto nos acidentes botrópicos Hemorragia sistêmica As hemorragias podem ocorrer no local da picada ou em pontos distantes, tais como gengivorragia, epistaxe, hematêmese e hemorragia digestiva alta, hematúria e às vezes na borda do leito ungueal. Daniela Junqueira Gomes Teixeira - Doenças Resultantes da Agressão ao Meio Ambiente - Problema 1 - Fechamento Complicações As principais complicações locais são necrose primária, em decorrência da ação do própio veneno, ou a secundária, por efeito de infecção bacteriana. As complicações sistêmicas, embora raras, são insuficiência renal aguda e hemorragias sistêmicas incontroláveis. Ainsuficiência renal aguda, secundária à necrose tubular aguda, à necrose cortical renal e, ocasionalmente, à glomerulonefrite, pode ocorrer no acidente botrópico. A mortalidade por acidade botrópico é baixa. A composição do veneno cotrálico é complexa e constituída de enzimas, toxinas e peptídios, as toxinas separadas foram as seguintes: crotamina, crotapotina, fosfolipase A2, giroxina e convulxina. O veneno apresenta efeitos importantes sobre os músculos esqueléticos, sistema nervoso, rins e sangue. Outros órgãos, como o fígado, também podem ser acometidos. A fração do veneno mais bem conhecida do ponto de vista fisiopatológico e que apresenta características importantes é a crotoxina. As alterações anatomopatológicas ocorrem quatro a seis horas após a inoculação da crotoxina e são lesões subsarcolêmicas, com edema intramitocondrial. Após 24 a 48 horas, as mitocôndrias apresentam depósitos densos, com elevada concentração de cálcio. À inoculação de diferentes quantidades de crotapotina no músculo não se evidenciam lesões histológicas. À inoculação de diferentes quantidades de fosfolipase A2, ocorre do peso muscular, além de se verificar necrose, frente a quaisquer doses utilizadas. As observações experimentais concluem que as lesões causadas pela crotoxina são as mesmas que as verificadas pelas fosfolipase A2, embora sejam mais intensas no primeiro caso. Dessa maneira, a associação entre fosfolipase A2 e crotapotina leva a uma potencialização dos efeitos miotóxicos. Além disso, foi possível observar que o local primário de ação da crotoxina no músculo possível observar que o local primário de ação da crotoxina no músculo possível observar que o local primário de ação da crotoxina no músculo é a membrana plasmática e está relacionada à hidrólise de fosfolipídios. Ação neurotóxica As frações neurotóxicas do veneno crotálico são aquelas que produzem efeitos tanto em nível de sistema nervoso central quanto de sistema nervoso periférico. Produzida principalmente pela fração crotoxina, uma neurotoxina de ação pré-sináptica que atua nas terminações nervosas inibindo a liberação de acetilcolina. Esta inibição é o principal fator responsável pelo bloqueio neuromuscular do qual decorrem as paralisias motoras apresentadas pelos pacientes. Ação miotóxica Produz lesões de fibras musculares esqueléticas (rabdomiólise) com liberação de enzimas e mioglobina para o soro e que são posteriormente excretadas pela urina. Não está identificada a fração do veneno que produz esse efeito miotóxico sistêmico. Há referências experimentais da ação miotóxica local da crotoxina e da crotamina. A mioglobina, e o veneno como possuindo atividade hemolítica “in vivo”. Estudos mais recentes não demonstram a ocorrência de hemólise nos acidentes humanos. O diagnóstico de rabdomiólise pode ser comprovado pela elevação dos níveis séricos de CPK, DHL e AST. Ação coagulante Decorre de atividade do tipo trombina que converte o fibrinogênio diretamente em fibrina. O consumo do fibrinogênio pode levar à incoagulabilidade sanguínea. Geralmente não há redução do número de plaquetas. As manifestações hemorrágicas, quando presentes, são discretas. Daniela Junqueira Gomes Teixeira - Doenças Resultantes da Agressão ao Meio Ambiente - Problema 1 - Fechamento Outras toxinas, tais como convulxina e giroxina, contribuem sobremaneira para produzir convulsões, perturbações circulatórias e respiratórias em animais de experimentação. Quadro Clínico O exame clínico desses doentes deve ser iniciado pela avaliação do local da picada, que varia de simples arranhão até marca puntiforme única ou dupla. Em geral, não há reação local, embora um pequeno edema possa estar presente, pois nesse tipo de acidente não há relação entre os sintomas locais e a gravidade do envenenamento. A dor no local da picada e pouco frequente e, quando existe, não é intensa. A região em geral fica adormecida poucos minutos após e permanece assim por várias semanas ou meses. A miotoxicidade do veneno é evidenciada do ponto de vista clínico pela intensa mialgia generalizada, podendo ser acompanhada de edema muscular discreto, embora em alguns casos possa ser assintomática. A neurotoxidade ocorre após algumas horas e o doente passa a referir dor na região do pescoço, diminuição e até perda da visão, ptose, palpebral bilateral, sonolência e obnubilação. O fácies é característico e denominado “fácies neurotóxico de Rosenfeld”. Ao exame neurológico, encontram-se hiporreflexia global e comprometimentodo II par craniano, evidenciado pelo exame de fundo de olho, onde se pode observar borramento de papila e ingurgitamento venoso bilateral. O comprometimento dos III, IV e VI pares cranianos é evidenciados por ptose palpebral bilateral, diplopia, plegia de músculos de pálpebra, midríase bilateral semiparalítica e diminuição de reflexos fotomores. Além disso, podem-se verificar movimentos nistagmóides, plegia dos movimentos do olhar conjugado, tontura, alterações da gustação e hiposmia e/ou anosmia. A insuficência respiratória pode ocorrer em algumas casos. Cefáleia intesa, febre, hipertensão arterial e/ou hipotensão arterial acompanhada de taqui e/ou bradicardia são sintomas que lembram a síndrome de hiperreatividade simpática. Esses sintomas acompanham casos graves e, em geral, atendidos tardiamente, desaparecendo espontaneamente após a primeira semana. Em geral, no segundo ou terceiro dia após o tratamento, ocorre hiper-reflexia generalizada e melhora do comprometimento da semiologia dos pares cranianos As alterações renais, evidenciais pela urina escura e/ou vermelha, costuma ocorrer após 24 a 48 horas do acidente. Nos casos que evoluem para insuficiencia renal aguda, o quadro clínico é o clássico descrito. As alterações hematológicas, principalmente a incoagulante sanguínea, ocorrem após algumas horas do acidente, entretanto involuem com tratamento adequado. O quadro clínico pode ser classificado em moderado ou grave, de acordo com parâmetros clínicos, laboratoriais e quantidade de veneno inoculado pela serpente. Ação neurotóxica As neurotoxinas elapídicas podem atuar na pré ou na pós-sinapse, podendo haver, no caso, reversão do bloqueio pela administração de anticolinesterásicos. O desenvolvimento dos sintomas de bloqueio de junção mioneural em geral é rápido, em decorrrência do baixo peso molecular dessas neurotoxinas. Daniela Junqueira Gomes Teixeira - Doenças Resultantes da Agressão ao Meio Ambiente - Problema 1 - Fechamento Admite-se, também, uma atividade neurotóxica do veneno laquético, capaz de ocasionar síndrome de excitação vagal, com bradicardia, diarréia, hipotensão arterial e choque. NTX de ação pós-sináptica Existem em todos os venenos elapídicos até agora estudados. Em razão do seu baixo peso molecular podem ser rapidamente absorvidas para a circulação sistêmica, difundidas para os tecidos, explicando a precocidade dos sintomas de envenenamento. As NTXs competem com a acetilcolina (Ach) pelos receptores colinérgicos da junção neuromuscular, atuando de modo semelhante ao curare. Nos envenenamentos onde predomina essa ação (M. frontalis), o uso de substâncias anticolinesterásticas (edrofônio e neostigmina) pode prolongar a vida média do neurotransmissor (Ach), levando a uma rápida melhora da sintomatologia. NTX de ação pré-sináptica Atuam na junção neuromuscular, bloqueando a liberação de Ach pelos impulsos nervosos, impedindo a deflagração do potencial de ação. Esse mecanismo não é antagonizado pelas substâncias anticolinesterásicas. Quadro clínico Nos acidentes elapídicos, constuma surgir sintomatologia minutos após, em virtude do baixo peso molecular das neurotoxinas. A sintomatologia predominante é a neurotóxica e o doente apresenta fácies miastênico, com ptose palpebral bilateral, paralisia flácida dos membros. O quadro é mais grave que o dos acidentes croatálicos, devido à elevada incidência de paralisia respiratória de instalação súbita. O veneno das serpentes do gênero Lachesis possui ações coagulante, necrosante e vasculotóxica semelhantes dos venenos botrópicos. Admite-se também uma atividade neurotóxica desse veneno, capaz de ocasionar síndrome da exitação vagal, que se manifesta por bradicardia, diarréia, hipotensão arterial e choque. Ação proteolítica Os mecanismos que produzem lesão tecidual provavelmente são os mesmos do veneno botrópico, uma vez que a atividade proteolítica pode ser comprovada in vitro pela presença de proteases. Ação coagulante Foi obtida a caracterização parcial de uma fração do veneno com atividade tipo trombina. Ação hemorrágica Trabalhos experimentais demonstraram intensa atividade hemorrágica do veneno de Lachesis muta muta, relacionada à presença de hemorraginas. Ação neurotóxica É descrita uma ação do tipo estimulação vagal, porém ainda não foi caracterizada a fração específica responsável por essa atividade. Daniela Junqueira Gomes Teixeira - Doenças Resultantes da Agressão ao Meio Ambiente - Problema 1 - Fechamento Quadro clínico As manifestações clínicas são semelhantes às do envenenamento botrópico. Nesse sentido, os doentes picados por essas serpentes costumam apresentar, momento após, intensa sintomatologia no local da picada. A dor, edema, o calor e o rubor são semelhantes ao do acidente botrópico, podendo ser confundido com este. O tempo de coagulação pode alterar-se, contribuindo para as hemorragias sistêmicas muitas vezes observadas. Além disso, o doente pode apresentar sintomas de excitação vagal, como bradicardia, diarréia, hipotensão arterial e choque. As complicações observadas neste tipo de acidente são as mesmas do acidente botrópico. TRATAMENTO Imediatamente após a picada por serpente peçonhenta, a sucção sobre a lesão poderá permitir a retirada de parte do veneno inoculado. Como o veneno se difunde para os tecidos por volta de até 30 minutos, este procedimento não será eficaz se não for realizado neste período. Anéis e alianças devem ser retirados do dedo atingido, pois o edema pode se tornar intenso, produzindo um sistema de garrote. O uso de torniquete, com a finalidade de reter o veneno no local da picada, é contraindicado para os acidentes botrópicos. É também contraindicado utilizar instrumentos cortantes com a finalidade de fazer cortes ao redor da picada, pois os venenos que possuem frações proteolíticas irão atuar nesses locais, piorando muito a necrose. O doente deve ser colocado em repouso e transportado rapidamente para um hospital, onde deve receber tratamento específico. A imunoprofilaxia contra o tétano deve ser realizada O soro antiofídico a ser aplicado deve ser específico para o gênero ao qual a serpente pertence. Deve ser administrado o mais precocemente possível, em dose única, de preferência pela via intravenosa, com o objetivo de neutralizar a peçonha antes que ela possa ter causado danos. Como os soros antiofídicos produzidos no Brasil são obtidos de equinos hiperimunizados, podem ocorrer reações de hipersensibilidade imediata, entre as quais edema de glote, broncoespasmo e choque anafilático. Como estas reações podem ocorrer até 72 horas após a administração do soro, temos por conduta "internar" sempre o doente, para observar o comportamento evolutivo, pelo menos nas primeiras 24 horas. Além disso, é indispensável, antes da administração do soro, fazer interrogatório dirigido, a fim de verificar a possibilidade de alergia a produtos derivados dos equinos, como pelo, carne e soro. O tratamento do acidente botrópico consiste em se internar o doente, colocá-lo em repouso e na posição de drenagem postural para que ocorra a remissão mais rápida do edema. Para isso, deve-se mantê-lo em decúbito dorsal horizontal, com o membro atingindo elevado, de tal forma que permaneça acima do plano que tangencia o precórdio. Quando necessário, deve ser feito o tratamento local das lesões com banhos antissépticos. O uso de antibióticos é indicado para os casos em que ocorre infecção por germes anaeróbios. O tempo de coagulação tem sido usado como parâmetro de eficácia da dose de soro empregada. Se, após 12 horas do início do tratamento, o sangue do doente ainda estiver incoagulável, deve-se realizar soroterapia adicional na dose de 100mg de antiveneno. As doses de soro preconizadas para os acidentes leve, moderado e grave são, respectivamente, de 100, 200 e 300mg de soro antibotrópico.
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