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ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf EMMANUEL MERLIN PINHEIRO A CONTRIBUIÇÃO DO 1º BATALHÃO DE FORÇAS ESPECIAIS PARA A ATUALIZAÇÃO DAS FONTES DE CONSULTA UTILIZADAS NO PPA-GLO COM BASE NAS EXPERIÊNCIAS COLHIDAS DESDE A OPERAÇÃO SÃO FRANCISCO ATÉ A INTERVENÇÃO FEDERAL NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Rio de Janeiro 2019 Cap Inf EMMANUEL MERLIN PINHEIRO A CONTRIBUIÇÃO DO 1º BATALHÃO DE FORÇAS ESPECIAIS PARA A ATUALIZAÇÃO DAS FONTES DE CONSULTA UTILIZADAS NO PPA-GLO COM BASE NAS EXPERIÊNCIAS COLHIDAS DESDE OPERAÇÃO SÃO FRANCISCO ATÉ A INTERVENÇÃO FEDERAL NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Dissertação de Mestrado apresentado à Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, como requisito parcial para a obtenção do Grau de Mestre em Ciências Militares com ênfase em Gestão Operacional. Data de aprovação: Banca Examinadora: _____________________________________ Júlio Cesar de Sales, Coronel R1 Doutor Presidente/Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais _____________________________________ Sérgio Luiz Augusto de Andrade, Tenente-Coronel R1 Doutor 1º Membro/ Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais _____________________________________ Ângelo Luís Tomé de Senna, Coronel R1 Doutor 2º Membro/ Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf EMMANUEL MERLIN PINHEIRO A CONTRIBUIÇÃO DO 1º BATALHÃO DE FORÇAS ESPECIAIS PARA A ATUALIZAÇÃO DAS FONTES DE CONSULTA UTILIZADAS NO PPA-GLO COM BASE NAS EXPERIÊNCIAS COLHIDAS DESDE A OPERAÇÃO SÃO FRANCISCO ATÉ A INTERVENÇÃO FEDERAL NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Dissertação de Mestrado apresentado à Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, como requisito parcial para a obtenção do Grau de Mestre em Ciências Militares com ênfase em Gestão Operacional. Orientador: Cel R1 Cav Ângelo Luís Tomé Senna Rio de Janeiro 2019 Não se vence uma guerra sendo um idiota e morrendo por sua pátria. Mas, sim, fazendo com que outro idiota morra pela pátria dele”. (George S. Patton) http://kdfrases.com/autor/t.-e.-lawrence RESUMO Nos últimos anos o Exército Brasileiro (EB) foi amplamente empregado em operações de Garantia da Lei e da Ordem (Op GLO), principalmente em virtude da perda de capacidade dos Órgãos de Segurança Pública (OSP) para lidar com a violência urbana. O preparo da tropa para o cumprimento desse tipo de missão se tornou grande fator de êxito para o cumprimento de missões dessa natureza. No caso de Op GLO, o uso do Programa-Padrão Alfa GLO (PPA-GLO) é o documento que orienta as instruções militares nesse sentido. Imersos nesse complexo cenário por anos, os militares do EB acumularam ricas experiências, cabendo o questionamento de como esse conhecimento está sendo transmitido para as gerações seguintes. Também inseridas nesse cenário, as Forças de Operações Especiais (F Op Esp) viveram intensamente essas missões, acumulando vasta experiência em combate que pode ser utilizada para o adestramento de tropas. Observando essa herança de conhecimentos acredita-se que é viável um estudo sobre a atualização das fontes de consulta empregadas para o adestramento de tropa com a colaboração de F Op Esp. Palavras-chave: Forças de Operações Especiais. Operações de Garantia da Lei e da Ordem. Preparo. PPA-GLO. ABSTRACT In recent years, the Brazilian Army has been widely used in law and order maintenance operations mainly due to the loss of capacity of public security organs to deal with urban violence. The preparation of the troops for this kind of mission has become great factor of success for the accomplishment of missions of this nature. In the case of order maintenance operations, the Alpha Standard Program is the document that guides the military instructions in this sense. Immersed in this complex scenario for years, the military of Brazilian Army have accumulated rich experiences, it’s questionable how this knowledge is transmitted to the next generations. Also included in this scenario, the Special Operations Forces have lived these missions intensely, accumulating vast experience in combat that can be used for troop training. Observing this inheritance of knowledge, it’s believed that a study on the updating of the sources of consultation used for troop training with the collaboration of SOF is feasible. Keywords: Special Operation Forces. law and order maintenance operations. Troop Training. Alpha Standard Program LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Distribuição qui-quadrado ........................................................................ 39 Figura 2 - As dimensões do Ambiente Operacional Terrestre .................................. 49 Figura 3 - Interação entre os atores do ambiente operacional durante a Operação São Francisco ................................................................................................... 53 Figura 4 - “O cabo estratégico”. ............................................................................... 57 Figura 5 - Exemplo de missão de combate previsto no PPA .................................... 64 Figura 6 - Caderneta utilizada durante a Op Carcará Negro II ................................. 72 Figura 7 – Portal do Preparo.....................................................................................121 Figura 8 – Portal do Preparo aba 2............................................................................122 Figura 9 – Portal do Preparo aba 3............................................................................122 Figura 10 – Ano de instrução ...................................................................................123 Figura 11 – Sugestão de sistema de consulta..........................................................124 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Duração das Op GLO por motivação ...................................................... 42 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Emprego do EB em operações de GLO ................................................. 23 Gráfico 2 - Emprego das FA em Op GLO de 2004 a 2018 ....................................... 43 Gráfico 3 - Motivação para Op GLO em porcentagem ............................................. 43 Gráfico 4 - Tempo em Op GLO ................................................................................ 44 Gráfico 5 - Op GLO por unidades da federação ....................................................... 45 Gráfico 6 - Militares que já participaram de adestramentos conduzidos por Forças Especiais ............................................................................................... 70 Gráfico 7 - Percepção do aumento do nível de operacionalidade da tropa............... 70 Gráfico 8 - Adequabilidade das fontes de consulta para as instruções de combate em ambiente urbano ................................................................................... 71 Gráfico 9 - Posto e graduação dos militares que responderam ao questionário A .... 74 Gráfico 10- Participação em Op GLO dos militares que responderam o questionário A .............................................................................................................. 74 Gráfico 11 - Op GLO que militares do grupo A participaram .................................... 75 Gráfico 12- Função dos militares que responderam ao questionário A desempenharam durante as Op GLO ............................................................................... 76 Gráfico 13- Participação de militaresque responderam ao questionário A em instruções para Op GLO........................................................................ 77 Gráfico 14- Prioridade das fontes de consulta utilizadas pelos militares do grupo A para montar suas instruções visando o preparo em Op GLO ................ 77 Gráfico 15- Opinião sobre a eficiência dos manuais do EB para subsidiar a instrução militar para Op GLO .............................................................................. 79 Gráfico 16 - Interação dos militares do grupo A com o SADLA. ............................... 79 Gráfico 17 - Registro de melhores práticas/lições aprendidas pelos militares do grupo A ........................................................................................................... 80 Gráfico18- Participação dos militares do grupo A em adestramento/instrução conduzida por Forças Especiais, no período compreendido entre 2014 e 2019 ...................................................................................................... 81 Gráfico 19 - Participação dos militares do grupo A em adestramento/instrução conduzida por Centro de Instrução/Centro de Adestramento, no período compreendido entre 2014 e 2019 .......................................................... 81 Gráfico 20 - Impressão dos militares do grupo A sobre a contribuição das tropas de operações especiais no preparo da tropa .............................................. 82 Gráfico 21 - Prioridade de métodos para que as tropas de operações especiais contribuam com a instrução militar para Op GLO segundo militares do grupo A ................................................................................................. 83 Gráfico 22 - Posto e graduação dos militares que responderam o questionário B.... 86 Gráfico 23 - Participação em Op GLO dos militares que responderam o questionário B ........................................................................................................... 86 Gráfico 24 - Op GLO cujos militares que responderam o questionário B participaram .............................................................................................................. 87 Gráfico 25 - Funções dos militares que responderam ao questionário B desempenharam durante as Op GLO ................................................... 88 Gráfico 26 - Percepção de aumento de operacionalidade nas frações de OM de operações especiais devido a Op GLO ................................................. 89 Gráfico 27 - Participação de militares que responderam ao questionário A em adestramentos à tropa para Op GLO .................................................... 89 Gráfico 28 - Percepção sobre a contribuição das tropas de operações especiais para o preparo da tropa de fuzileiros segundo os militares do grupo B ......... 90 Gráfico 29 - Percepção de aumento de operacionalidade nas frações de OM de operações especiais devido a Op GLO ................................................. 91 Gráfico 30 - Prioridade de métodos para que as tropas de operações especiais contribuam com a instrução militar para Op GLO segundo militares do grupo B ................................................................................................. 91 LISTA DE FLUXOGRAMAS Fluxograma 1 - Processo de coleta do conhecimento de interesse para a doutrina . 59 Fluxograma 2 - Fluxo dos CID nas fases do Sistema de Acompanhamento de Doutrina e Lições Aprendidas. ....................................................................... 60 Fluxograma 3 - Assuntos previstos para o trabalho de estado-maior ....................... 65 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Motivação para Op GLO..........................................................................24 Quadro 2 - Definição operacional das variáveis ....................................................... 30 Quadro 3 - Cálculo da amostra do grupo A .............................................................. 31 Quadro 4 - Cálculo da amostra do grupo B .............................................................. 32 Quadro 5 - Evolução da doutrina, ideias e conceitos acerca de Op GLO ................. 47 Quadro 6 - Principais atores na Operação São Francisco ........................................ 51 Quadro 7- Quadro resumo das principais diferenças entre os sistemas de lições aprendidas do Exército Americano e Brasileiro ..................................... 62 Quadro 8 - Principais motivos pelos quais um militar não registra suas experiências .............................................................................................................. 63 Quadro 9 - Assuntos previstos no Programa Padrão Alfa-Garantia da Lei e da Ordem para cabos e soldados.............................................................................66 Quadro 10 - Missões do EB que envolveram o Comando de Operações Especiais...68 Quadro 11 - Teste do qui-quadrado sobre os resultados...........................................92 Quadro 12 - Cálculo do qui-quadrado sobre os resultados........................................92 Quadro 13 – Conclusão do cálculo do qui-quadrado sobre os resultados.................93 Quadro 14 – Resposta do Grupo C à pergunta 7 da entrevista estruturada.................96 Quadro 15 – Resposta do Grupo C à pergunta 8 da entrevista estruturada.................96 Quadro 16 – Resposta do Grupo C à pergunta 9 da entrevista estruturada...............97 Quadro 17 – Resposta do Grupo C à pergunta 10 da entrevista estruturada............98 Quadro 18 – Resposta do Grupo C à pergunta 11 da entrevista estruturada.............98 Quadro 19 – Resposta do Grupo C à pergunta 12 da entrevista estruturada.............99 Quadro 20 – Resposta do Grupo C à pergunta 13 da entrevista estruturada.............99 Quadro 21 – Resposta do Grupo C à pergunta 14 da entrevista estruturada............100 Quadro 22 – Resposta do Grupo C à pergunta 15 da entrevista estruturada.............100 Quadro 23 – Resposta do Grupo C à pergunta 16 da entrevista estruturada.............101 Quadro 24 – Resposta do Grupo C à pergunta 17 da entrevista estruturada............101 Quadro 25 – Resposta do Grupo C à pergunta 18 da entrevista estruturada............102 Quadro 26 – Resposta do Grupo C à pergunta 19 da entrevista estruturada.............102 Quadro 27 – Resposta do Grupo C à pergunta 20 da entrevista estruturada.............103 Quadro 28 – Resposta do Grupo C à pergunta 21 da entrevista estruturada.............103 Quadro 29 – Resposta do Grupo C à pergunta 22 da entrevista estruturada.............104 Quadro 30 – Divisão das equipes por objetivo de instrução do PPA-GLO...............118 Quadro 31 - Exemplo de calendário para confecção de fontes de consulta para objetivo de instrução do PPA-GLO.....................................................................119 Quadro 32 – Fases do grupo de trabalho.................................................................120 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ADA Amigo dos Amigos ANS Aliança Nacional da Somália APOP Agente Perturbador da Ordem Pública BE Boletim do Exército BFEsp Batalhão de Forças Especiais CA Centro de Adestramento C Dout Ex Centro de Doutrina do Exército CI Contrainteligência CID Conhecimento de interesse para a Doutrina CIGLO Centro de Instrução de GLO CIGS Centro de Instrução de Guerra na Selva CLA Centro de Lições Aprendidas COpEsp Comando de Operações Especiais COTer Comando de Operações Terrestres CTTEP Capacitação Técnica e Tática do Efetivo Profissional CV Comando Vermelho DMT Doutrina Militar Terrestre DOFEsp Destacamento Operacional de Forças Especiais ECEMEEscola de Comando e Estado-Maior do Exército EsAO Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais EM Estado-Maior EME Estado-Maior do Exército EB Exército Brasileiro F Adv Força Adversa FA Forças Armadas F Op Esp Forças de Operações Especiais F Pac Força de Pacificação F Ter Força Terrestre Gab Cmt Ex Gabinete do Comandante do Exército GC Grupo de Combate G Cmdo Grande Comando GLO Garantia da Lei e da Ordem GSI Gabinete de Segurança Institucional GU Grande Unidade HE Hipótese de Emprego IR Instrução Reguladora Lç Aprd Lição Aprendida LSN Lei de Segurança Nacional MD Ministério da Defesa Mlh Prat Melhor Prática MINUSTAH Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti MOOTW Military Operation Other Than War Op Operação OAB Ordem dos Advogados do Brasil ODS Órgão de Direção Setorial OM Organizações Militares ONU Organizações das Nações Unidas ORCRIM Organizações Criminosas OSP Órgãos de Segurança Pública PC Polícia Civil PIM Programa de Instrução Militar PITCIC Processo de Integração do Terreno, Condições Meteorológicas, Inimigo e Considerações Civis PLA Portal de Lições Aprendidas PM Polícia Militar PPA Programa-Padrão Alfa SADLA Sistemática de Acompanhamento Doutrinário e Lições Aprendidas SIEsp Seção de Instrução Especial SIMEB Sistema de Instrução Militar do Exército Brasileiro SU Subunidade SSP Setores de Segurança Pública TCP Terceiro Comando Puro TTP Técnicas, Táticas e Procedimentos SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 20 1.1 PROBLEMA E SEUS ANTECEDENTES ..................................................... 22 1.2 ALCANCES E LIMITES ............................................................................... 25 1.3 OBJETIVO................................................................................................... 26 1.3.1 Objetivo Geral ............................................................................................ 26 1.3.2 Objetivos Específicos ............................................................................... 26 1.4 HIPÓTESES ................................................................................................ 27 1.5 JUSTIFICATIVA .......................................................................................... 27 1.6 CONTRIBUIÇÃO ......................................................................................... 27 2 METODOLOGIA ......................................................................................... 28 2.1 OBJETO FORMAL DE ESTUDO ................................................................. 28 2.1.1 Definição conceitual das variáveis........................................................... 29 2.1.2 Definição operacional das variáveis ........................................................ 30 2.3 AMOSTRA................................................................................................... 30 2.4 DELINEAMENTO DA PESQUISA ............................................................... 33 2.4.1 Procedimento para revisão da literatura.................................................. 34 2.4.1.1 Fontes de busca .......................................................................................... 34 2.4.1.2 Estratégia de busca para a base de dados eletrônicos ................................ 35 2.4.1.3 Critérios de inclusão .................................................................................... 35 2.4.1.4 Critérios de exclusão ................................................................................... 35 2.4.2 Procedimento experimental ...................................................................... 36 2.4.3 Instrumentos .............................................................................................. 37 2.4.3.1 Entrevista estruturada e questionários......................................................... 37 2.4.3.2 Pré-testes .................................................................................................... 38 2.4.4 Análise dos dados ..................................................................................... 38 2.4.4.1 Análise dos dados obtidos por intermédio de questionário .......................... 39 2.4.4.2 Análise dos dados obtidos por intermédio de entrevista estruturada ........... 40 3 REVISÃO DA LITERATURA....................................................................... 41 3.1 OPERAÇÕES DE GLO .............................................................................. 41 3.2 CARACTERIZAÇAO DO AMBIENTE OPERACIONAL ................................ 48 3.2.1 Dimensão Humana .................................................................................... 49 3.2.1.1 Breve histórico das organizações criminosas no estado do Rio de Janeiro .......................................................................................................................49 3.2.1.2 Interação com os atores presentes no ambiente operacional ..................... 51 3.2.2 Dimensão Física ....................................................................................... 53 3.2.3 Dimensão Informacional .......................................................................... 55 3.3 MELHORES PRÁTICAS NO EB .................................................................. 58 3.4 A INSTRUÇÃO DE GLO NO CORPO DE TROPA ...................................... 63 3.5 O EMPREGO DE OPERAÇÕES ESPECIAIS EM OPERAÇÕES DE GLO . 68 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................ 73 4.1 ASPECTOS OBSERVADOS A PARTIR DOS QUESTIONÁRIOS APLICADOS ÀS TROPAS DE FUZILEIROS ............................................... 73 4.1.1 Conclusões parciais sobre os aspectos observados a partir dos questionários aplicados às tropas de fuzileiros ..................................... 84 4.2 ASPECTOS OBSERVADOS A PARTIR DOS QUESTIONÁRIOS APLICADOS ÀS TROPAS DE OPERAÇÕES ESPECIAIS .......................... 86 4.2.1 Conclusões parciais sobre os aspectos observados a partir dos questionários aplicados às tropas de operações especiais .................. 94 4.3 ASPECTOS OBSERVADOS A PARTIR DO PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL E ENTREVISTAS ESTRUTURADAS .............................. 95 4.3.1 Conclusões parciais sobre os o procedimento experimental e entrevistas estruturadas...............................................................................................104 5 CONCLUSÃO..............................................................................................106 REFERÊNCIAS...........................................................................................110 GLOSSÁRIO...............................................................................................113 APÊNDICE A – SUGESTÃO DE GRUPO DE TRABALHO........................117 APÊNDICE B – SUGESTÃO DE SISTEMA................................................124 APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO APLICADO AO GRUPO A....................128 APÊNDICE D – QUESTIONÁRIO APLICADO AO GRUPO B.....................129 APÊNDICE E – PLANEJAMENTO DO EXPERIMENTO.............................132 APÊNDICE F – MATERIAL DISPONIBILIZADO AOS INSTRUTORES DO GRUPO C.........................................................................135 APÊNDICE G – ENTREVISTA ESTRUTURADA........................................142 20 1 INTRODUÇÃO Dentre as diversas ações realizada pelo EB no território nacional, as operações de cooperação e coordenação com agências ganharam espaço no ambiente informacional. O Ministério da Defesa define esses tipos de operações como operações executadas por elementos do EB em apoio aos órgãos ou instituições (governamentais ou não, militares ou civis, públicos ou privados, nacionaisou internacionais), definidos genericamente como agências. O exemplo mais emblemático desse tipo de operação são as Operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). A Doutrina Militar Terrestre em Revista, do primeiro trimestre de 2013, mostra claramente que o Exército Brasileiro, ao longo de sua história, sempre esteve presente como ator importante nas Operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e nas Ações Subsidiárias. Dentre as causas do desencadeamento de tais operações estão a indisponibilidade, insuficiência e/ou inexistência dos Órgãos de Segurança Pública (OSP), previstos no Art. 144 da Constituição Federal de 1988 (policias federal, militar, rodoviária federal, ferroviária federal, civil e corpo de bombeiros militar). A Operação Arcanjo, desenvolvida entre 26 de novembro de 2010 e 9 de julho de 2012, nos complexos do Alemão e Penha, no Rio de Janeiro-RJ, é um exemplo marcante de como a participação militar no contexto de GLO com a finalidade de apoiar os governos estaduais pode se prolongar. A título de exemplo da intensidade das ações desenvolvidas nessas operações, em agosto de 2018, durante a Intervenção Federal no estado do Rio de Janeiro, três militares foram mortos por Agentes Perturbadores da Ordem Pública (APOP) em uma operação desenvolvida no mesmo local onde ocorreu a Operação Arcanjo anos antes. Segundo o Ministério da Defesa (MD), desde a implementação da Lei Complementar nº 97, de 09 de junho de 1999 (posteriormente modificada pelas leis 117, de 2004, e 136, de 2010) e do Decreto nº3.897, de 24 de agosto de 2001; que regulamentou o instrumento da GLO, o EB tomou parte de 132 operações de GLO, sendo 23 motivadas por violência urbana (18% das Op GLO). Embora as Op GLO motivadas pela violência urbana sejam de número reduzido (18% do universo de Op GLO), correspondem a 63% dos dias totais em operações, ou seja, as Forças Armadas passaram mais tempo em Op GLO motivadas pela 21 1 CI 20-10-4 O instrutor do Corpo de Tropa. violência urbana do que em outras operações motivadas oriundas de todas as demais motivações somadas. (https://www.defesa.gov.br/exercicios-e-operacoes/garantia- da-lei-e-da-ordem). Com tamanha imersão do EB nesse tipo de atividade, é natural que melhores práticas e lições aprendidas surjam durante as operações, servindo de base para atualizações doutrinárias e aprimoramento dos adestramentos para as operações futuras. Atualmente o EB conta com a Sistemática de Acompanhamento Doutrinário e Lições Aprendidas (SADLA) do Centro de Doutrina do Exército (C Dout Ex), onde, por intermédio do Portal de Lições Aprendidas (PLA), qualquer militar pode registrar suas experiências que visem contribuir ocm o EB sobre qualquer assunto. Naturalmente o preparo da tropa tornou-se fator preponderantes para o sucesso nesse tipo de missão. O Programa de Instrução Militar (PIM), editado anualmente pelo COTer, tem por finalidade regular as diversas atividades relacionadas ao preparo da força terrestre. Particularmente, o Programa-Padrão Alfa de GLO (PPA-GLO) é o programa que orienta o preparo da tropa para operações de GLO. A figura do instrutor no corpo de tropa assumiu papel preponderante nas instruções militares preliminares às operações. Tal militar, oficial ou praça, de carreira ou temporário, geralmente ocupando alguma função de comando de fração nos corpos de tropa, é o responsável por aumentar os níveis de operacionalidade da tropa por intermédio da instrução militar. De acordo com BRASIL (1997, p 1-3)1 “o instrutor deve valer-se de manuais de campanha e técnicos, os programas padrão, os planos de matéria e os cadernos de instrução que orientam o ensino e as instruções militares”. No presente momento torna-se válido questionar se as fontes de consulta disponíveis estão à altura das necessidades dos instrutores do corpo de tropa que lidam diretamente com o escalão executante do EB, onde o “como” fazer é tão importante quanto “o que fazer”. Paralelamente a todo esse cenário, o emprego de tropas de operações especiais em operações de GLO cresceu. O 1º Batalhão de Forças Especiais (1º BFEsp) tornou-se importante ferramenta para desequilibrar as ações de combate em prol do EB através de suas capacidades. Sob essa óptica, julga-se conveniente que o 1º BFEsp compartilhe as experiências colhidas durante suas missões, visando contribuir com o preparo da 22 tropa para Op GLO. Outro objetivo a ser alcançado, também, é identificar a melhor maneira que o 1º BFEsp pode cumprir tal missão levando em consideração suas particularidades. 1.1 PROBLEMA E SEUS ANTECEDENTES Em 29 de março de 2014, a então presidente do Brasil, Dilma Rousseff, assinou o decreto presidencial que autorizava o emprego das Forças Armadas (FA) no Complexo da Maré, na cidade do Rio de Janeiro/RJ. Batizada de operação São Francisco, a ocupação do Complexo da Maré durou cerca de 14 meses e não foi a primeira grande operação dessa natureza no Rio de janeiro. A Operação Arcanjo, que durou cerca de 19 meses (26 de novembro de 2010 até 09 de julho de 2012), desencadeada nos complexos da Penha e do Alemão, é outro exemplo de como as FA foram empregadas em momentos de crise da segurança pública no estado do Rio de Janeiro. Embora o emprego das FA, em particular do EB, nesse ambiente operacional (favelas) por longos períodos tenha parecido uma novidade em território brasileiro, cabe ressaltar a participação do Brasil na Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH). Durante o período que o EB esteve no Haiti, entre 2004 e 2017, as tropas brasileiras pacificaram diversas favelas e obtiveram valiosas experiências no combate em ambiente urbano. A MINUSTAH evidenciou a necessidade de desenvolver técnicas, táticas e procedimentos (TTP) nesse tipo de ambiente. O relatório final do segundo contingente brasileiro no Haiti afirma que: Por ocasião da observação do desempenho da tropa durante seu emprego como força de Paz da ONU no Haiti, observou-se a necessidade de uma melhor adaptação ao treinamento e “Modus Operandi” da tropa empregada, particularmente em relação ao combate em ambiente urbano. Outro fator a ser levado em conta é a necessidade de uma contínua atualização dos manuais do EB sobre o tema (Relatório Final do Batalhão Brasileiro no Haiti, 2005, p.28) No ano em que o Brasil iniciou sua participação na MINUSTAH, o COTer publicou o Programa Padrão Alfa de Garantia da Lei e da Ordem (PPA-GLO), visando regular a preparação da Força Terrestre para executar operações de GLO. O referido documento trouxe determinações sobre o período de adestramento em Op GLO, seus objetivos, como realizar avaliações e especificou, em detalhes, as condições de 23 execução, padrões mínimos a serem alcançados e quais instruções preliminares ministrar. O PPA-GLO é referência até os dias de hoje para o adestramento, em GLO, das organizações militares (OM). O gráfico 1 indica a quantidade de Op GLO que contaram com a participação do EB no período compreendido entre 2004 e 2018. Observou-se um período de grande imersão do EB em missões que, embora da natureza distintas, exigiam da tropa capacidades semelhantes, as Op GLO em território nacional e a participação do EB na MINUSTAH. GRÁFICO 1 - Emprego do EB em operações de GLO Fonte: https://www.defesa.gov.br/exercicios-e-operacoes/garantia-da-lei-e-da-ordem Ao longo do período representado no gráfico, diversos fatores motivaram o desencadeamento de Op GLO. O MD utilizou os seguintes termos para classificar a motivação do desencadeamento de Op GLO: violência urbana esgotando a capacidade de atuação dos OSP, grandes eventos, greve dos OSP, garantia do pleito eleitoral e outros motivos. Verifica-se que nos anos de 2004, 2011 e 2014 e 2017, o número de Op GLO se mostrou mais expressivo. A análise das operações desencadeadas nesse períodomostrou que nesses anos específicos as greves de OSP e/ou garantia do pleito eleitoral motivaram diversas operações pontuais de GLO de curta duração. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Quantidade de Op GLO que o EB participou por ano. EB em Op GLO 24 A classificação das motivações para as Op GLO segue de acordo com a interpretação dos seguintes instrumentos jurídicos: TIPO DEFINIÇÕES Violência Urbana (VU) De acordo com o Art. 15 da Lei Complementar (LC) 97/99. Greve da Polícia Militar (GPM) Outras Segurança de Eventos (SE) De acordo com o Art. 5 da Decreto nº 3.897/2001 Garantia da Votação e Apuração (GVA) De acordo com o Art. 5 da Decreto nº 3.897/2001 Ao observar esses dados cabe a reflexão sobre como as experiências adquiridas em todas essas missões foram utilizadas para o aprimoramento das fontes de consulta que subsidiam o preparo da tropa. Em 2 de dezembro 2003 a portaria nº 761 do Gabinete do Comandante do Exército (Gab Cmt Ex) aprovou, em caráter experimental, o Caderno de instrução CI7- 5/2 O Pelotão de Fuzileiros no Combate em Área Edificada. Esse caderno trata das TTP largamente utilizadas por pequenas frações (progressão entre edificações, técnicas de observação etc.). Em 2017, após 14 anos onde o EB doi empregado em diversas Op GLO e na MINUSTAH, o caderno foi reeditado como EB70-CI-11.408 sem nenhuma atualização ou mudança das TTP de progressão de combate em ambiente urbano por exemplo. É a publicação mais recente no EB que trata de diversos assuntos exigidos no PPA-GLO. Mesmo tratando-se de uma publicação cujo foco é a defesa externa, missão principal do EB, os relatos de atrito nas Op GLO são expressivos, onde as TTP de Op GLO e de defesa externa se assemelham, separadas, em alguns momentos, apenas pelas regras de engajamento. Tal observação justificaria, dentro de certas limitações, a atualização de TTP previstas em fontes doutrinárias voltadas para a defesa externa. O PPA-GLO orienta, também, a aplicação de instruções cujas fontes de consulta são de difícil acesso ou quase inexistentes (progressão com óculos de visão noturna e “sniper” terrestre e aéreo, por exemplo). Seguramente, o conhecimento para QUADRO 1 - Motivação para Op GLO Fonte: o autor 25 todas as demandas do PPA-GLO existe nos corpos de tropa, por meio de melhores práticas e experiências adquiridas em missões. O EB possui diversos órgãos para a difusão de conhecimentos no âmbito da força, dentre os principais pode-se citar: centros de instrução a exemplo do Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), Centro de Instrução de Operações Especiais (CIOpEsp) e Centro de Instrução de Operações de GLO (CIGLO) e as próprias escolas de formação de militares de carreira combatentes, a Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) e a Escola de Sargento das Armas (EsSA). O EB possui, também, o C Dout Ex, que administra um moderno sistema de acompanhamento de lições aprendidas além de tropas altamente especializadas que estão imersas em missões reais há anos. Todos meios citados em plenas condições de contribuir com as fontes de consultas necessárias para subsidiar a instrução militar. Sob essa análise formulou-se o seguinte problema: até que ponto existem fontes de consulta, atualizadas e passíveis de um processo simples de revisão que atendam as demandas do PPA-GLO? 1.2 ALCANCES E LIMITES O trabalho abordou como o 1º BFEsp, pode contribuir com a atualização das fontes de consulta utilizadas para as instruções previstas no PPA-GLO considerando a doutrina militar vigente, rotina, disponibilidade de meios, tempo e pessoal. Dentre os integrantes do 1º BFEsp, o estudo foi limitado aos possuidores dos cursos de comandos e/ou forças especiais que participaram de Op GLO no período compreendido entre 2014 e 2019 e que tenham desempenhado a função de instrutor, em algum momento desse período, de assuntos relacionados a Op GLO. Em relação aos militares externos ao 1º BFEsp (OM convencionais), deu- se preferência àqueles que participaram de Op GLO no mesmo período supracitado e desempenharam a função de instrutor de corpo de tropa, em assuntos relacionados a Op GLO. Não houve restrições relativas a esse grupo de militares serem de carreira ou temporários. 26 1.3 OBJETIVO 1.3.1 Objetivo Geral O trabalho visa identificar como o 1º Batalhão de Forças Especiais pode contribuir para o aprimoramento das fontes de consulta utilizadas pelos instrutores do corpo de tropa para o atingimento dos objetivos do PPA-GLO. 1.3.2 Objetivos específicos Visando atingir o objetivo geral do trabalho, foram estabelecidos objetivos intermediários a fim de desenvolver, de maneira lógica, o raciocínio descritivo da pesquisa. a. Identificar quais são as instruções e suas respectivas fontes de consultas previstas no PPA-GLO; b. Identificar se as fontes de consulta previstas no PPA-GLO estão disponíveis, são adequadas, atualizadas, atendem de maneira satisfatória as demandas dos instrutores do corpo de tropa e se podem ser revisadas sistematicamente; c. Identificar como as melhores práticas e lições aprendidas colhidas no âmbito EB influenciam o período de instrução PAB-GLO; d. Verificar as possibilidades de contribuição de melhores práticas do 1º BFEsp nas fontes de consulta do PPA-GLO e e. Verificar como o 1ºBFEsp contribuirá para o aprimoramento das fontes de consulta do PPA-GLO. f. Identificar como empregar o SADLA no aprimoramento das fontes de consulta do PPA-GLO. 1.4 HIPÓTESES Foram estabelecidas as seguintes hipóteses: H (zero) – O 1ºBFEsp pode contribuir para o aprimoramento das fontes de consulta utilizadas pelos instrutores do corpo de tropa nas instruções previstas no PPA-GLO. 27 H (um) – O 1ºBFEsp não pode contribuir para o aprimoramento das fontes de consulta utilizadas pelos instrutores do corpo de tropa nas instruções previstas no PPA-GLO. 1.4 JUSTIFICATIVA A imersão de tropas convencionais no combate de amplo espectro exige o aprimoramento de técnicas individuais no âmbito de pequenas frações. A ideia de que determinados conhecimentos que possam auxiliar no cumprimento da missão existam, porém não estejam compartilhados é inaceitável, salvo alguma classificação sigilosa, o que não é o caso no presente tema de estudo. Após ter participado de praticamente todas as Op GLO desenvolvidas na cidade do Rio de Janeiro/RJ e perceber que a cada nova operação e a cada rodízio de tropa nas diversas missões o conhecimento adquirido ao longo de todo o trabalho realizado não era compartilhado ou simplesmente esquecido, coube a essa pesquisa investigar como a metodologia do 1º BFEsp e os conhecimentos dos operadores de forças especiais podem potencializar o preparo da tropa. 1.5 CONTRIBUIÇÃO A contribuição esperada está na proposta de um produto que possibilite que os instrutores de corpo de tropa disponham de um meio de instrução atual e passível de revisões sistemáticas, confeccionado por especialistas nas capacidades requeridas em Op GLO em acordo com as diretrizes do COTer. Estima-se que o produto irá beneficiar principalmente os instrutores do corpo de tropa, que conduzem o PAB-GLO, em suas OM. Espera-se, ainda, propor uma sistemática de revisão de tais fontes a partir de melhores práticas e lições aprendidas colhidas durante operações de GLO valendo- se de sistemas já existentes no EB. 28 2 METODOLOGIA Este capítulo tem por finalidade apresentar as etapas seguidas visando buscar a melhor solução para o problema apresentado. O estudo baseou-se em uma pesquisa qualitativa, ainda que tenha utilizado dados estatísticos para fundamentar sua conclusão. De natureza aplicada e objetivo geral exploratório, este trabalho visou,acima de tudo, concluir sobre como o 1º BFEsp pode contribuir com a instrução militar no EB. A fim de melhor compreender a metodologia, o capítulo foi divido em objeto formal de estudo, amostra e delineamento da pesquisa. 2.1 OBJETO FORMAL DE ESTUDO Partindo do princípio que o preparo da tropa é fator preponderante para o sucesso de operações de Op GLO e que esse preparo se baseia em torno do PPA- GLO, reconhece-se que tal documento guia e padroniza o preparo de todo o EB para o período de adestramento em GLO. Foi observado, ainda, que no período compreendido entre a ocupação do Complexo da Maré na cidade do Rio de Janeiro-RJ, e o fim da intervenção Federal no mesmo estado, o EB foi mais exigido que o usual no que diz respeito a emprego da tropa em grandes centros urbanos, particularmente em favelas. Tal fato propiciou o acúmulo de valiosas experiências em Op GLO nesse tipo de ambiente operacional. O EB empregou, no período supracitado, suas tropas de operações especiais (comandos e forças especiais) a fim de desequilibrar as ações militares a seu favor. O 1º BFEsp acumulou valiosas experiências que foram registradas em documentação interna do batalhão, visando o próprio adestramento. Tais experiências podem contribuir com o preparo da tropa convencional em operações de GLO observando as devidas características de cada tropa. Por diversas vezes, o 1º BFEsp, visando contribuir com a atividade de preparo da tropa convencional (particularmente OM de infantaria) deslocou suas frações para conduzir adestramentos em diversos locais. Embora essa atividade contribua com o adestramento de tropa, há que se verificar se é viável. Dentre algumas limitações das unidades de operações especiais, o reduzido efetivo é fator determinante para conduzir atividades de instrução em outras OM. Além disso o EB possui outros 29 sistemas para difusão de experiências em missões, como o SADLA por exemplo, que podem auxiliar na difusão de melhores práticas. O presente estudo verificou como convergir meios e esforços, buscando maior eficácia na instrução militar e aproveitamento de melhores práticas. 2.1.1 Definição conceitual de variáveis Foram identificadas duas variáveis envolvidas em todo o processo da pesquisa. A variável 01, considerada a variável independente, são as fontes de consulta utilizadas para ministrar a instruções de preparo da tropa para Op GLO. A variável 02, dependente, é a instrução militar propriamente dita. Seguem-se suas definições: Variável 01: A contribuição do 1º BFEsp para o aprimoramento das fontes de consulta. No contexto dessa pesquisa pode ser entendida como qualquer fonte de informação, prevista ou não nas instruções reguladoras do EB, utilizadas pelos instrutores do corpo de tropa que, por meio da instrução militar, visam aumentar os níveis de operacionalidade de suas frações e cumprir as atividades previstas no PPA- GLO. Variável 02: instrução militar. É a parte do preparo militar de caráter predominantemente prático, que visa à formação do líder em todos os escalões, à capacitação dos combatentes e ao adestramento de frações até o nível Unidade (U) e Grande Unidade (GU). Deve permitir o cumprimento de todos os objetivos previstos na Política de Instrução Militar, constantes da Política Militar Terrestre. Tendo em vista o viés qualitativo da pesquisa, se fez necessária a conceituação operacional das variáveis. 30 3.1.2 Definição operacional das variáveis Quadro 2: definição operacional das variáveis. Fonte: o autor. 2.3 AMOSTRA A pesquisa utilizou basicamente dois públicos alvo para coleta de dados, Instrutores do corpo de tropa, compondo o grupo A, e operadores de forças especiais grupo B. O grupo A foi composto pelos quadros de uma OM de infantaria (oficiais e sargentos, de carreira ou temporários) que ocupam, ou já ocuparam, a função de instrutor do corpo de tropa, que tenham participado, ao menos uma vez, de uma Op GLO, e que participaram, ao menos uma vez, de alguma instrução, como instrutor ou instruendo, de alguma instrução visando o preparo para Op GLO. Variável Dimensão Indicadores Forma de medição Variável 1: A contribuição do 1º BFEsp para o aprimoramento das fontes de consulta. Existência ou não Previsão em instruções reguladoras Consulta bibliográfica/documental Portal de lições aprendidas Consulta bibliográfica/documental Fontes abertas não militares Consulta bibliográfica/documental Experiências pessoais ou de outrem Experiência controlada, entrevista Manuais, notas escolares, Vade Mécum etc Consulta bibliográfica/documental Variável 2: Instrução Militar; Regulamentação em documentos específicos Indicação no PPA-GLO Consulta bibliográfica/documental Centros de instrução Consulta bibliográfica/documental 31 Tendo em vista o imenso universo de instrutores de corpo de tropa do EB, para fins de limitação da população do grupo A, tomou-se por base a quantidade de batalhões de Infantaria presentes na cidade do Rio de Janeiro como referência (guarnição que mais atuou em Op GLO no período delimitado pela pesquisa) seguindo-se o seguinte raciocínio: Btl Inf na cidade do Rio de Janeiro 6 OM Composição de cada Btl Inf 3 SU a 3 Pelotões de fuzileiro, cada Pel com 3 Grupos de Combate (GC) Instrutores de corpo de tropa que comandam frações em cada Btl. 3 Cap Cmt SU, 9 Of subalternos Cmt Pel e 27 praças Cmt GC População 260 militares (18 Cap Cmt SU, 54 Of subalternos Cmt de Pel, 54 Sgt Adjuntos de Pel e 162 Sgt Cmt GC = 288 Nível de confiança desejado 95% Margem de erro admitida 4% Tamanho da amostra para pesquisa (calculadora amostral) 165 militares Efetivo para teste de questionário 10% da amostra (16 militares) Perfil desejável dos oficiais participantes Of (Asp Of, 2º Ten, 1º Ten e Cap) que já desempenharam a função de instrutor de corpo de tropa ministrando instruções preparatórias para Op GLO Perfil desejável das praças participantes Sgt (1º Sgt, 2º Sgt e 3º Sgt) que já desempenharam a função de instrutor de corpo de tropa ministrando instruções preparatória para Op GLO Quadro 3: cálculo de amostra do grupo A Fonte: o autor 32 O cálculo apresentado fui utilizado para a a delimitação do número amostral. A partir desse número foram utilizados militares de diversas regiões para a coleta de dados par a pesquisa. O grupo B foi composto pelos quadros do 1º BFEsp, única OM valor unidade de forças especiais no EB seguindo o seguinte critério: oficiais e sargentos de carreira que já desempenharam a função de instrutor em algum adestramento para tropas convencionais e que tenham participado, ao menos uma vez, de uma Op GLO. A delimitação do grupo B foi feita de acordo com os efetivos operacionais existentes no 1º BFEsp: OM valor unidade de Forças Especiais operacionais 1 OM Quantidade de SU FEsp ativas no 1º BFEsp 2 SU a 2 DOFEsp cada uma Operadores de Forças Especiais em atividade 4 DOFEsp com 4 Of e 8 praças cada. Totalizando 48 operadores. População 48 militares Nível de confiança desejado 95% Margem de erro admitida 3% Tamanho da amostra para pesquisa (calculadora amostral) 45 Efetivo para teste de questionário 10% da amostra (5 militares) Perfil desejável dos oficiais participantes Of integrantes/ex-integrantes de DOFEsp, Cmt SU ou EM de OM Op Esp com experiências em Op GLO Perfil desejável das praças participantes Sgt (3º Sgt ,2º Sgt, 1º Sgt, ST) integrantes/ex- integrantes de DOFEsp com experiências em Op GLO Quadro 4: cálculo de amostra do grupo B Fonte: o autor 33 A calculadora amostral utilizada pode ser acessada pelo site https://comentto.com/calculadora-amostral/ (acesso em 31/10/2019). Aos grupos A e B foram enviadosos questionários constantes nos apêndices C e D, respectivamente. Ainda foi montado o grupo C, para fins da realização de um experimento. O grupo C foi composto por apenas 4 militares, dois oficiais e dois sargentos, de carreira, recém egressos de suas respectivas escolas de formação. Em relação ao Grupo C, buscou-se o perfil de um militar específico devido a características do experimento que foi realizado. O experimento exigiu que os participantes do grupo C tivessem pouca experiência como instrutores do corpo de tropa, obrigando-os a buscar fontes de consulta para a realização das atividades propostas em detrimento de experiências pessoais. Cita-se o grupo C para fins de melhor entendimento do trabalho realizado, haja vista sua irrelevância para fins estatísticos. 2.4 DELINEAMENTO DA PESQUISA O delineamento de pesquisa se deu inicialmente por meio do levantamento de fontes bibliográficas. Na fase seguinte foram realizadas atividades de leitura analítica e fichamento de fontes. Cabe salientar que o uso de artigos científicos também contribuiu com o trabalho. Dentre as características do trabalho observam-se: Pesquisa de natureza aplicada, tendo em vista que busca uma aplicação prática para a solução de um possível problema no que se refere às fontes de consulta utilizadas para o adestramento em Op GLO. Forma de abordagem qualitativa. Embora valha-se de algumas ferramentas quantitativas os resultados são essencialmente descritivos, onde a conclusão é baseada na interpretação dos dados observados através de questionários, entrevistas e experimento. Em relação ao método de abordagem, foi utilizada a modalidade indutivo, onde a maior parte da pesquisa se deu a partir de relatórios, experiências dos participantes da pesquisa entre outras fontes que subsidiaram a elaboração de algumas generalizações. https://comentto.com/calculadora-amostral/ 34 Quanto ao método de procedimentos foi adotado um método histórico sobre processos relativamente recentes (no período entre 2014 e 2019) apoiado por bases estatísticas, visando auxiliar as investigações. Objetivo geral descritivo: o trabalho visa descrever características de como melhores práticas das tropas de operações especiais podem ser aproveitas. Descrever as características necessárias de um produto que sirva de solução ao problema identificado e como ele se relacionaria com as variáveis. Concluídas as pesquisas bibliográficas e documentais, foi elaborado um questionário, buscando identificar impressões relativas ao registro de melhores práticas, melhor maneira de se transmitir as experiências das tropas de operações especiais para as tropas convencionais e demandas diversas em relação a fontes de consultar utilizadas para a atividade de instrução militar. Ainda, com o objetivo de se aprofundar mais no problema de maneira prática, foi realizado um procedimento experimental com instrutores do corpo de tropa, onde verificou-se, por meio de entrevistas exploratórias e observação, de forma qualitativa, as dimensões das dificuldades de instrutor de corpo de tropa. 2.4.1 Procedimento para revisão da literatura As fontes de consulta que subsidiaram a pesquisa tiveram origem, principalmente, de autores reconhecidos em relação ao assunto, assim como em instituições de renome e periódicos especializados. A organização da revisão está detalhada a seguir. 2.4.1.1 Fontes de busca As fontes de busca foram constituídas de publicações, tanto nacionais quanto de fora do país: a. Manuais militares do Exército Brasileiro; b. Documentos doutrinários do Exército dos Estados Unidos da América (manuais, cadernetas etc.); c. Dissertações de mestrado, trabalhos de conclusão de curso e artigos científicos sobre Operações Especiais e Op GLO confeccionados por alunos e ex-alunos da EsAO e ECEME; 35 d. Relatórios de operações do 1 Batalhão de Forças Especiais das Op GLO no período compreendido entre 2014 e 2019 sem classificação sigilosa; e. Artigos científicos das principais revistas de assuntos militares; f. Livros publicados por civis e militares . 2.4.1.2 Estratégia de busca para a base de dados eletrônica Foram utilizados os seguintes termos que descrevem a intenção de busca: “operações de garantia da lei e da ordem, Op GLO, melhores práticas, lições aprendidas, operações especiais, forças especiais, Exército no Rio de Janeiro, operações em ambiente urbano, atualização de fontes de consulta,”. A pesquisa eletrônica foi utilizada para a busca de dados atualizados sobre os assuntos relacionados à pesquisa e para identificar informações que, inicialmente, não estavam sendo contemplados até então. 2.4.1.3 Critério de inclusão Foram incluídos os seguintes documentos, tanto nacionais quanto estrangeiros: a. Estudos publicados em português e inglês; b. Relatórios de missões em Op GLO no período entre 2014 e 2019 sem classificação sigilosa; c. Relatórios dos contingentes brasileiros na MINUSTAH; d. Estudos publicados entre 2000 e 2016; 2.4.1.4 Critérios de exclusão a. Estudos que não tratem essencialmente do preparo de tropa dentro do assunto pesquisado; b. Questionários cujos participantes não tenham experiência como instrutor no corpo de tropa em assuntos relacionados a Op GLO. 36 2.4.2 Procedimento Experimental As atividades experimentais se desenvolveram em duas OM de infantaria situadas na Vila Militar, Rio de Janeiro – RJ: o 1º Batalhão de Infantaria Mecanizada (1º BI Mec), Regimento Sampaio e o 2º Batalhão de Infantaria Motorizada (2º BI Mtz), Regimento Avaí/Dois de Ouro. A partir desses batalhões foi constituído o grupo C para pesquisa. O Grupo C foi dividido em dois subgrupos: C1 (1º BI Mtz) e C2 (2º BI Mtz). Cada subgrupo desses englobou um oficial recém egresso da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) e um sargento recém egresso da Escola de Sargento das Armas (EsSA). Foram escolhidos militares recém-formados devido ao fato de terem pouca experiência profissional em corpos de tropa e, consequentemente, terem maior necessidade de recorrer a fontes de consultas diversas para desempenhar as atividades de instrução militar. Os grupos C1 e C2 foram inseridos em uma situação geral e particular, onde seus respectivos batalhões participariam de uma Op GLO. Cada militar seria incumbido de adestrar a sua fração de acordo com objetivos de instrução previstos no PPA-GLO. Para ambos os grupos a instrução escolhida foi a de técnicas de interrogatório sumário para os oficiais e a de técnicas de identificação, prisão e condução de prisioneiros para os sargentos. Compatíveis com as suas respectivas funções. Foi imposto a cada instrutor o tempo de quarenta e cinco minutos para que ministrasse a sua instrução. O período deveria ser dividido em uma parte teórico expositiva, de ao menos vinte minutos, e de uma parte prática. As técnicas de instrução ficaram a cargo dos instrutores. Ao grupo C1 foi entregue um extrato de procedimento operacional padrão de um DOFEsp do 1º BFEsp, confeccionado a partir de melhores práticas desenvolvidas no período entre 2014 e 2019. Ao grupo C2 não foi entregue nenhum material. Nenhum dos dois grupos teve comunicação entre si para compartilhar material. Ao final de cada instrução os instrutores foram entrevistados. Os objetivos da entrevista foram os seguintes: traçar o perfil do militar participante; identificar o processo utilizado pelo instrutor para montar a instrução; identificar quais foram as fontes de consulta utilizadas para a atividade, de onde foram obtidas e qual foi o grau de prioridade e importância que o instrutor atribuiu a cada uma delas; identificar as 37 dificuldades no processo de montagem da instrução; verificar como o material disponibilizado foi usado e se o instrutor já teve ou participou de algum adestramentoconduzido por algum centro de instrução/avaliação ou por tropas de operações especiais. As entrevistas estruturadas foram compostas por vinte e duas perguntas planejadas mais perguntas improvisadas no momento da atividade de acordo com as informações colhidas. As respostas foram gravadas em áudio e comparadas entre si ao final do experimento. 2.4.3 Instrumentos Os instrumentos utilizados foram os seguintes: entrevista estruturada, realizada ao final dos procedimentos experimentais; dois modelos de questionários (precedidos por pré-testes); e um experimento. O principal objetivo foi mensurar, tanto de forma qualitativa como de quantitativa, fatores que influenciam diretamente as variáveis estabelecidas. Dentre os fatores considerados encontram-se: utilização e registro de melhores práticas; instruções ministradas por tropas de operações especiais e seus efeitos; utilização de publicações do EB como fonte de consulta para instruções militares; e experiência dos participantes em Op GLO no período compreendido entre 2014 e 2019. 2.4.3.1 Entrevista estruturada e Questionários A entrevista estruturada (apêndice G) foi o meio considerado mais apropriado para colher as impressões dos integrantes do Grupo C, onde os participantes puderam transmitir algumas impressões sobre as fontes de consulta utilizadas para uma instrução prevista no PPA-GLO e a influência das melhores práticas das tropas de operações especiais para auxiliar na preparação de uma instrução militar. O questionário aplicado ao Grupo A (quadros de um OM de infantaria) foi focado em experiências profissionais em Op GLO, utilização de fontes de consulta e registros de melhores práticas, influência de adestramento com tropas especiais e centros de adestramento/instrução e como as tropas especializadas poderiam transmitir seus conhecimentos para o EB. 38 Já no Grupo B (integrantes de tropas especiais), além de se verificar se os militares tinham experiência em Op GLO e em adestramento de tropa, buscou-se identificar, respeitando a doutrina, rotina e efetivo das tropas de operações especiais, qual e melhor maneira de se transmitir os conhecimentos acumulados em missões num contexto GLO para a tropa. Os questionários foram constituídos por perguntas fechadas e por questões onde solicitou-se ao participante priorizar as opções de resposta. Nas perguntas fechadas as opções de resposta se apresentaram aos participantes seguindo o escalonamento tipo Likert, cujas opções oferecidas foram as seguintes: concordo, concordo parcialmente, não concordo e nem discordo, discordo parcialmente, discordo. 2.4.3.2 Pré-teste Visando verificar a perfeita compreensão dos questionários foi aplicado, no âmbito da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), aos grupos A e B, um pré- teste. O efetivo utilizado correspondeu a 10% de cada grupo amostral. Retificados os itens necessários os questionários foram aplicados a amostra como um todo. 2.4.4 Análise dos dados A análise dos dados teve como principal objetivo contribuir com a constatação sobre qual hipótese melhor se aplica ao trabalho. Também buscou-se identificar outros dados que possam contribuir com a solução do problema levantados e solidificar o esforço principal da pesquisa com dados de caráter quantitativo. As perguntas que exigiam a priorização de opções de respostas foram submetidas ao teste de significância do qui-quadrado (x2). Para o testes a frequência esperada (fe) foi considerada como 1/(número de opções) e a frequência observada (fo) igual ao número de respostas observadas para cada opção disponibilizada. As hipóteses a serem testadas no teste de significância foram as seguintes: Ha: Não existe preferência sobre as opções disponibilizadas para resposta. Hb: Existe preferência sobre as opções disponibilizadas. 39 Foi utilizado o nível de significância de 5% e aplicada a fórmula de referência Para a decisão foi utilizada a figura 1, estrato de uma distribuição qui-quadrado Figura 1: distribuição qui-quadrado. Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Tabela_do_qui-quadrado.jpg. 2.4.4.1 Análise dos dados obtidos por intermédio de questionário. Os dados obtidos mediante questionários foram inicialmente analisados e submetidos aos crivos estabelecidos pelos critérios de exclusão. Em seguida foram tabulados no google forms, que automaticamente agrupou as respostas das questões em gráficos. No programa utilizado foi possível identificar todas as respostas individuais, sugestões dos participantes, críticas e informações complementares oriundas de comentários gerais. Visando facilitar a interpretação das respostas dos questionários, as questões cujas opções de respostas utilizaram o escalonamento tipo Likert foram agrupadas da seguinte maneira: respostas “concordo” e “concordo parcialmente” foram agrupadas em um mesmo grupo que concordava com a ideia apresentada. Respostas “discordo” e “discordo parcialmente” foram agrupadas em um grupo que discordava da ideia apresentada. Inicialmente um perfil básico dos participantes foi traçado por meio de perguntas que identificavam o posto/graduação do militar, suas experiências https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Tabela_do_qui-quadrado.jpg 40 profissionais, tanto em missão como em instrução, em Op GLO. Em seguida o questionário identificou as impressões dos participantes sobre: as fontes de consulta disponíveis para ministrar uma instrução visando o preparo da tropa para Op GLO, OM do EB que participam do processo de avaliação/adestramento de tropa no que tange Op GLO e metodologias para a transmissão do conhecimento. As perguntas foram adaptadas de acordo com as características dos integrantes dos grupos A e B. Essa divisão em dois grupos permitiu verificar como a tropa convencional e os militares de operações especiais percebem o mesmo problema. 2.4.4.2 Análise dos dados obtidos por intermédio de entrevista estruturada. A comparação das respostas foi feita da seguinte maneira: se houve alguma diferença expressiva no perfil dos participantes que pudesse prejudicar o experimento; como cada militar respondeu as perguntas da entrevista; como o material distribuído ao grupo C2 influenciou no processo de montagem da instrução e quais as principais dificuldades percebidas pelos instrutores no processo de montagem da instrução no tocante a fontes de consulta. As respostas foram colocadas em quadros a fim de que comparações fossem facilitadas, possibilitando a formulação de conclusões parciais sobre os dados obtidos em cada pergunta. 41 3 REVISÃO DA LITERATURA O presente capítulo visa relacionar a bibliografia existe sobre o assunto pesquisado com as variáveis selecionadas. O capítulo foi dividido em cinco partes onde foram analisadas: as Op GLO por meios de dados numéricos e consequências para o adestramento; aspectos relevantes do ambiente operacional sobre as operações; influência do SADLA sobre o preparo da tropa para as missões de GLO; a instrução militar e, por fim, a atuação da tropas de Op Esp em Op GLO e metodologia de aproveitamento de melhores práticas. 3.1 OPERAÇÕES DE GLO Em 09 de junho de 1999 foi publicada a lei complementar nº 97, cujo artigo 15, § 4º determina que: Na hipótese de emprego nas condições previstas no § 3o deste artigo, após mensagem do Presidente da República, serão ativados os órgãos operacionais das Forças Armadas, que desenvolverão, de forma episódica, em área previamente estabelecida e por tempo limitado, as ações de caráter preventivo e repressivo necessárias para assegurar o resultado das operações na garantia da lei e da ordem. Uma operação de GLO pode ser definida da seguinte maneira pelo manual que leva seu nome: É uma operação militar conduzida pelas Forças Armadas, de forma episódica,em área previamente estabelecida e por tempo limitado. Tem por objetivo a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio. Ocorre nas situações em que houver o esgotamento dos instrumentos previstos no art. 144 da Constituição ou nas que se presuma ser possível a perturbação da ordem.” (BRASIL, 2013, p.14) Em 24 de agosto de 2001, o então Presidente da República Fernando Henrique Cardoso assinou o decreto nº 3.897. Tal decreto teve como objetivo orientar o planejamento, a coordenação e a execução das FA em Op GLO. Regulou, ainda, como o Ministério da Defesa (MD) e o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) participariam de tal tipo de operação desde então. A partir de setembro de 1999, o MD iniciou o registro de todas as operações de GLO realizadas pelas FA. Tais registros identificam o nome da operação, o local onde 42 ocorreu, o que motivou desencadear essa operação e sua respectiva duração. A tabela 1 mostra a quantidade de Op GLO de acordo com a motivação que as desencadearam no período do entre 2004 e 2018. A coluna “pontual” indica operações com duração inferior a um mês e a coluna “meses de operação” indica a soma, em meses, da duração de todas as operações transcorridas no período analisado em que a tropa esteve empenhada em Op GLO motivadas pela violência urbana e por todos os demais motivos. Cabe ressaltar que, por entendimento do MD, os registros de operações visando a garantia da votação foram inseridos no gráfico mesmo seguindo legislação específica e não ser uma Op GLO propriamente dita. O dado foi preservado nos gráficos que serão apresentados na pesquisa a fim de manter a fidelidade e não alterar os dados estatísticos extraídos das fontes de consulta. Observação similar cabe à intervenção federal no estado do Rio de Janeiro. Embora não siga as mesmas imposições legais, o exemplo da intervenção será associado à Op GLO tendo em vista que muitas das atividades realizadas durante a intervenção federal se assemelharam a Op GLO. Tendo em vista que a pesquisa tem o enfoque sobre a instrução militar que visa desenvolver as capacidades requeridas em Op GLO e que também foram largamente aplicadas na intervenção federal ambos eventos serão tratados de maneira similar. Tabela 1 - Duração da Op GLO por motivação. O gráfico 02 mostra o emprego das FA em Op GLO de 2004 até 2018. Agora é possível observar a relação entre a quantidade de Op GLO/ano com a sua respectiva motivação. Por meio desse gráfico a conclusão inicial é que os grandes eventos motivaram o desencadeamento da maioria das Op GLO. Motivo Duração Pontual Meses de operação Violência Urbana 6 50 GPM, GVA, GE e Outros Não violência urbana (VU) 30 17 Fonte: o autor 43 A seguir, o gráfico 3 mostra quais motivações, segundo classificação do MD, mais frequentes para desencadear Op GLO entre 2004 e 2018 em porcentagem. Em um primeiro momento a impressão é que as FA permaneceram mais tempo atuando em Op GLO visando apoiar os grandes eventos ocorridos no país. Cabe ressaltar que os dados apresentados até agora se referem apenas ao número de operações desencadeadas no período supracitado, sem levar em consideração a duração delas. 22% 18% 11 % 38% 11% Motivações para Op GLO em porcentagem VU GVA Greve PM Eventos Outros GRÁFICO 3 - Motivação para Op GLO em porcentagem Fonte: o autor 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Atuação das FA em Op GLO de acordo com as motivações de emprego Violência Urbana Greve PM GVA Evento Outros Total GRÁFICO 02 - Emprego das FA em Op GLO de 2004 a 2018 Fonte:https://www.defesa.gov.br/exercicios-e-operacoes/garantia-da-lei-e-da-ordem 44 Supondo que a duração de uma operação pontual seja de quinze dias e cada mês de operação durasse trinta dias o gráfico resultante de tempo em Op GLO por motivação seria o seguinte: Ao comparar o gráfico 4 com o gráfico 3, verificou-se que, embora a maioria das Op GLO tenham sido motivadas por grandes eventos, a tropa esteve mais tempo em operações motivadas pelo esgotamento dos OSP para o combate a violência urbana do que por todos os outros motivos somados. Para facilitar a análise, as motivações relacionadas a greve da PM, Garantia da votação e apuração, grandes eventos e outros motivos foram classificados como “não violência urbana”. O gráfico 5 indica a incidência das Op GLO motivadas por violência urbana por unidades da federação no período entre 2004 e 2018. Analisando o referido gráfico, observa-se que a violência urbana no estado do Rio de Janeiro motivou a permanência de tropas em Op GLO durante consideráveis períodos. A partir dessas informações pode-se verificar que ao levar em consideração as peculiaridades daquele ambiente operacional, assim como relatórios e melhores práticas, para o adestramento a tropa em missões nas comunidades cariocas, o preparo torna-se mais fiel à realidade de emprego 37,65% (960 dias) 62,65% (1590 dias) Tempo em Op GLO Não VU VU GRÁFICO 4 - Tempo em Op GLO Fonte: o autor 45 Em 24 de maio de 2002, o Estado Maior do Exército (EME) publicou a Instrução Provisória (IP) 85-1, Operações de Garantia da Lei e da Ordem, em substituição ao antigo manual de campanha C 31-16, Operações Contra Forças Irregulares em Ambiente Rural. Em 2010 a IP 85-1 torna-se C 85-1 com algumas modificações. A partir de 31 de janeiro de 2014, o MD33-M-10, Garantia da Lei e da Ordem, passa a ser a publicação mais atualizada do MD sobre o assunto. Nos referidos manuais, observa-se que o EB ainda preserva a preocupação da manutenção dos princípios doutrinários de combate às forças irregulares, enquanto o MD emite diretrizes para facilitar as operações conjuntas e detalha como devem ser realizados os planejamentos a fim de atender as demandas que surgem. No quadro 5, observa-se a evolução da doutrina, ideias e conceitos acerca de operações de GLO de acordo com as publicações supracitadas onde pode-se perceber a mudança de alguns conceitos importantes que regem as atuais operações. As Op GLO ainda são mencionadas no Catálogo de Capacidades do Exército. Segundo este catálogo o EB precisa ser capaz de contribuir para a garantia da Soberania Nacional, dos poderes constitucionais, da lei e da ordem. O periódico Doutrina Militar em Revista publicou, em 2013, o artigo do Coronel André Luiz Novaes Miranda onde dissertou sobre a necessidade de agregar as 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 PE BA RJ RO PI ES MS RN Unidades da federação que já tiveram atuação das FA em Op GLO motivadas por violência urbana Op Pt Meses GRÁFICO 5 - Op GLO por unidades da federação. Fonte: o autor *Op Pt: operações pontuais 46 capacidades de pacificar e estabilizar às Op GLO dentro de um contexto de novas missões que o EB provavelmente desempenharia nos próximos anos. Ainda na mesma edição, a revista publicou um artigo do General de Divisão Mario Lucio Alves de Araújo que, entre outras coisas, traçou um pequeno paralelo com algumas adaptações do Exército Americano a operações similares. No âmbito dos EUA, o seu Exército, com o propósito de aumentar a capacidade de sua tropa em operar em consonância com esses novos desafios, desenvolveu uma doutrina para as chamadas “MOOTW (Military Operation Other Than War)”, Operações Militares de Não-Guerra, Trazendo para a nossa realidade, observa-se claramente que o Exército Brasileiro, ao longo de sua história, sempre esteve presente como ator importante nas Operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e nas Ações Subsidiárias, o traço cultural do combatente brasileiro que o destaca nesse tipo. (MIRANDA, Doutrina Militarem Revista, 2013, p. 74). As MOOTW talvez sejam as operações desenvolvidas pelo exército americano que mais se aproximem das Op GLO no Brasil. Obviamente devem ser observadas as devidas proporções. As MOOTW são conduzidas em território estrangeiro e englobam uma noção diferente de ameaça. Cabe ressaltar que o manual MD33-M-10 também considera as Op GLO como operações de não guerra. No artigo WOLOSZYN – As Forças Armadas e as Operações de GLO x Facções criminosas, publicado no site www.defesanet.com.br, em 07/02/2018 o autor coloca que a maioria dos países membros da Organização das Nações Unidas (ONU), não envolve suas FA em conflitos internos. No mesmo artigo cita os exemplos do México e da Colômbia, que empregaram suas FA contra os cartéis de drogas e narcoguerrilha ao longo de anos obtendo duvidoso êxito em suas ações. Após o estudo de todos esses dados, pode-se observar que o EB teve um incontestável aumento de seu emprego em operações de GLO. Embora esse tipo de operação não seja encontrado nos mesmos moldes em outros países, o EB desenvolveu sua doutrina de maneira particular, de acordo com as especificidades do ambiente operacional e cenário político no qual esteve inserido ao longo dos últimos anos. http://www.defesanet.com.br/ 47 Conceitos/ideias IP 85-1 (2002) C 85-1 (2010) MD33-M-10 (2014) Princípios das Op GLO Não definidos claramente Não definidos claramente - Razoabilidade - Proporcionalidade - Legalidade Ações desenvolvidas - Preventivas - Operativas - Preventivas - Repressivas - Preventivas - Repressivas Noção de êxito Não se restringe somente à neutralização, destruição do poder combativo ou captura da Força Adversa (F Adv), mas inclui a conquista e manutenção do apoio da população brasileira. Não se restringe somente à neutralização ou captura da Força Adversa (F Adv), mas inclui a conquista e manutenção do apoio da população Indefinido. A operação chega ao fim com o término do tempo inicialmente determinado pelo presidente da república. Características - Emprego da inteligência; - Dissuasão por meio da massa; - Comunicação social; - Limitado uso da força e das restrições à população; - Negociação a cargo de pessoal habilitado ou autorizado estranha à força em operação. - Emprego da Intlg; - Dissuasão; - Emprego da massa; - Comunicação social; -Limitado uso da força e das restrições à população; - Atuação de forma integrada; - Negociação feita por elementos habilitados e autorizados não pertencentes à força em operação - Emprego da Intlg e contra inteligência (CI) - Dissuasão valendo-se dos meios disponíveis de respeitando a progressão da força; - Comunicação social; -Limitado uso da força e das restrições à população; - Atuação de forma integrada; - Negociação poder ser praticada em todos os níveis táticos, cabendo orientação ao pessoal Nome dos agentes antagônicos Força adversa: todos os Segmentos que, utilizando Procedimentos ilegais, comprometem a ordem pública ou a ordem interna do país. Força adversa: são pessoas, grupos de pessoas ou organizações cuja atuação comprometa o pleno funcionamento do estado democrático de direito, a paz social e a ordem pública. Agente Perturbador da ordem Pública (APOP); são pessoas ou grupos de pessoas cuja atuação momentaneamente comprometa a preservação da ordem pública ou ameace a incolumidade das pessoas e do patrimônio. QUADRO 5 - Evolução da doutrina, ideias e conceitos acerca de operações de GLO. Fonte: o autor 48 Embora exista vasta produção de conhecimento sobre operações de GLO, para fins desta pesquisa, considera-se como mais importante identificar os principais indicadores que demonstrem o tipo de preparo que a tropa deve adotar para operações dessa natureza. Consideram-se indicadores importantes: locais onde houve maior emprego da tropa, frequência e se algum outro exército executa operações similares em seu próprio território, podendo servir de inspiração para a tropa brasileira aprimorar o seu preparo. 3.2 CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE OPERACIONAL. Conforme visto no gráfico 5, a maioria das Op GLO onde o EB esteve inserido nos últimos anos ocorreram no estado do Rio de Janeiro. Embora não haja um registro detalhado de onde se deu cada operação, pode-se deduzir que boa parte dessas operações se desenvolveram no interior das favelas cariocas. Segundo a nota escolar Operações Militares em Ambiente Urbano, da Escola de Comando e Estado Maior do Exército (ECEME) a definição de favela, sob a óptica militar, é a seguinte: Área de favela – Área típica das grandes cidades brasileiras e de vários países de baixo desenvolvimento econômico. Tem por característica o crescimento desordenado de construções baixas, conhecidas como barracos, de material frágil e variado. Praticamente não possui ruas e sim passagens estreitas entre os barracos, o que torna a região um emaranhado caótico de casas e vielas. Em algumas cidades localiza-se em morros, em outras nas periferias. (Escola de Comando e Estado Maior do Exército, BRASIL, 2011, Pg. 2-4). BRASIL (2014), divide o ambiente operacional terrestre em três dimensões: humana, física e informacional, conforme ilustrado na figura 2. Tal divisão será utilizada como referência para a análise do ambiente operacional. 49 2 EB20-MC-10.213 Operações de informação 3.2.1 Dimensão Humana Segundo BRASIL (2014)2 “A dimensão humana compreende os elementos relacionados às estruturas sociais, seus comportamentos e interesses, normalmente geradores do conflito.” Observaremos, a seguir, uma breve exposição sobre a influência histórica nas favelas, seus principais atores e as consequências desses fatores para o preparo da tropa. 3.2.1.1 Breve histórico das organizações criminosas no Estado do Rio de Janeiro Em 13 de março de 1967, durante o governo militar, a Lei de Segurança Nacional (LSN), redigida, incialmente, em 1935, teve seu texto atualizado, vindo a embasar a prisão de indivíduos que, na interpretação daquele momento histórico, ameaçavam o regime vigente. Dentre os encarcerados, encontravam-se cidadãos com aguçada formação político-ideológica, aperfeiçoada durante anos em países estrangeiros e enriquecida com vasta literatura. De maneira geral eram pessoas inteligentes, com bom senso de organização. Boa parte dos presos enquadrados na LSN foram encarcerados no presídio de Cândido Mendes, em Ilha Grande/RJ, assim como outros presidiários condenados por crimes comuns. Muitos autores colocam esse fato como o embrião da maior organização criminosa do Brasil, o Comando Vermelho. “[..] a instalação do crime FIGURA 2 – As dimensões do Ambiente Operacional Terrestre Fonte: BRASIL, 2014, p.15 50 organizado no Brasil, cujo marco é a fundação do Comando Vermelho, nos porões do presídio da Ilha Grande.” (AMORIN, Pg 24, 2004). Outros mitigam o fato dessa convivência ser a principal fonte da causa. “Com eles aprendemos bastante, mas nem tanto quanto como escrevem por aí [..]” (VIEIRA, 2007, Pg 54). De fato, em Cândido Mendes, surgiu uma organização de presidiários. Inicialmente a denominada Falange Vermelha (“Falange” devido ao prédio em que ocupavam e “vermelha” devido a cor do carimbo que marcava a ficha dos condenados pela LSN). Inicialmente a organização visava a melhoria das condições de vida dos presidiários. A fim de angariar fundos para essas melhorias foi criado um “caixinha”, onde todo presidiário deveria contribuir financeiramente. Ainda segundo Vieira, essa atividade aparentemente simples ganhou muita importância na prisão. Os fundos arrecadados, que incialmente eram gastos em comida e reformas, passaram a financiar fugas. Os foragidos assumiam o compromisso de contribuir com a arrecadação de fundos de fora da prisão. O principal meio,