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Roteiro de Estudo da Primeira Unidade PROFESSORES: Ivanaldo Amâncio da Silveira e Maíza Rocha de Abrantes. Elaboração: Aurélio de Oliveira Bento e Sávia Fonseca da Silva. Revisão e adaptação: Clariscy Andrade Mello e Ilanna Pinheiro. Meios de cultura; Coleta e semeadura de material biológico; Semeadura e gram; Antibiograma; Cocos gram positivos. Meios de cultura CONCEITO: Conjunto de substâncias capazes de promover o crescimento do microrganismo de interesse em condições de laboratório com a finalidade de promover a apresentação macroscópica das colônias bacterianas 1. CLASSIFICAÇÃO DO MEIO: Quanto à composição do meio (conteúdo químico): Meio quimicamente definido: os constituintes químicos são adicionados em quantidades conhecidas e precisas, ou seja, é aquele meio que se sabe o que tem e quanto tem, sendo assim “caracterizado” qualitativamente e quantitativamente. Ex: ágar Mac Cokey, CLED. Meio quimicamente indefinido ou complexo: é formado por digestão proteica, sangue, leite, soro, onde não se sabe o que tem e/ou a quantidade, sabe-se apenas aproximadamente sua composição. Ex: ágar sangue, meio de leite e ágar chocolate (o sangue é submetido a temperaturas de até 50°C para ocorrer a hemólise, liberando hemina e hematina). Obs: em sua composição tem algum extrato como de levedura, de carne, de peptona. Quanto à consistência: classificado de acordo com a presença de ágar no meio (carboidrato de alto peso molecular que não sofre hidrólise). Sólido: contém uma grande quantidade de ágar (1 a 1,5%); é utilizado para obtenção de colônias puras isoladas, sendo possível detectar várias características macroscópicas da colônia (cor, aspecto), observar possível contaminação, visualizar infecção mista ou não, além de servir de instrumento para os testes bioquímicos e testes de sensibilidade à droga. Ex: Ágar Sangue, Ágar Chocolate, Ágar MacConkey, Ágar Manitol Salgado, Ágar Mueller-Hinton. Semi-sólido: contém uma quantidade média de ágar (0,05 a 0,5%); é utilizado para observar a motilidade, constatando se as bactérias possuem ou não flagelos para poderem ser classificadas como móveis ou imóveis. Ex: SIM (Sulfeto Indol Motilidade) e o MIO (Motilidade Indol Ornitina). Líquido: não tem ágar; são os conhecidos caldos e são utilizados para observação do crescimento através de turvação, pois possibilitam o crescimento indiscriminado. Ex: Soja tripticaseína, Tetrationato, Selenito Cistina, Tioglicolato, Água Peptonada Alcalina (APA); Quanto a utilização em laboratório: Meio Seletivo: contém substâncias que inibem o crescimento de determinado grupo de bactérias e favorecem o crescimento de outras. Ex: Ágar Mac Conkey, Ágar Manitol Salgado, Ágar Thayer-Martin. Ágar MacConkey: o cristal violeta inibe o crescimento de micro-organismos Gram positivos especialmente Enterococcus e Staphylococcus. A concentração de sais de bile é a principal responsável pela seletividade para bacilo Gram negativos (enterobactérias e não fermentadores). Esse meio também é classificado como diferenciador, pois verifica a fermentação ou não da lactose. Meio diferencial: esse meio é capaz de diferenciar bactérias de um mesmo grupo através da observação da fermentação ou não de carboidratos (Lactose, Sacarose, Sorbitol, Manitol), produção ou não de H2S (tiossulfato de sódio e citrato férrico) ou a utilização ou não de aminoácido. Ágar CLED (Cystine Lactose Electrolyte Deficient): a presença de lactose na sua formulação permite diferenciar se as bactérias fermentam a lactose (produzem ácido que na presença do indicador azul de bromotimol resultando na formação de colônias de cor amarela), e bactérias que não fermentam a lactose formam colônias transparentes. A deficiência de eletrólitos inibe o véu de cepas de Proteus spp. Usado para isolar e quantificar microrganismos Gram positivos, Gram negativos e leveduras em amostras de urina. Ágar Salmonella-Shigella (SS): possui componentes (sais de bile, verde brilhante e citrato de sódio) que inibem bactérias Gram positivas. A incorporação de lactose ao meio permite diferenciar se o microrganismo é lactose positiva (bactérias que fermentam a lactose produzem ácido que na presença do indicador vermelho neutro resultando na formação de colônias de cor rosa), e bactérias que não fermentam a lactose formam colônias transparentes. O Tiossulfato de sódio e o citrato férrico permitem a detecção de H2S evidenciado por formação de colônias de cor negra no centro. Utilizado para selecionar e isolar espécies de Salmonella e Shigella, em amostras de fezes, alimentos e água. Obs: todo meio diferencial é seletivo, mas nem todo meio seletivo é diferencial. Meio enriquecido: é aquele em cuja base química é adicionado uma substância natural de alto valor nutritivo. É necessário para o crescimento de bactérias nutricionalmente exigentes ou fastidiosas. Ex. ágar sangue, ágar chocolate. Ágar Sangue: oferece ótimas condições de crescimento a maioria dos microrganismos. A conservação dos eritrócitos íntegros favorece a formação de halos de hemólise nítidos, úteis para a diferenciação de Streptococcus spp. Usado para o isolamento de bactérias não fastidiosas, verificação de hemólise, realização da prova de satelitismo (para identificação presuntiva de Haemophilus spp.) e fator CAMP (para identificação presuntiva de Streptococcus agalactiae). Ágar chocolate: é amplamente utilizado para o cultivo de microrganismos exigentes (Haemophilus spp., Neisseria spp., Branhamella catarrhalis e Moraxella spp.), embora cresçam neste meio quase todas as bactérias de exigências nutricionais baixas. À base do meio, é adicionado sangue de cavalo, carneiro ou coelho em temperatura alta (aproximadamente 50ºC), o que faz com que as hemácias lisem, liberando hemina e hematina, compostos fundamentais para o crescimento dos microrganismos fastidiosos. Meio de enriquecimento: rico com excesso de nutrientes, permitindo o crescimento indiscriminado. Ex: caldo BHI, caldo selenito, tetrionato. Caldo BHI (Brain Heart Infusion): É um meio derivado de nutrientes de cérebro e coração, peptona e dextrose. A peptona e a infusão são fontes de nitrogênio, carbono, enxofre e vitaminas. Especialmente útil para a cultura e desenvolvimento de bactérias fastidiosas, tais como Streptococcus spp (inclusive pneumococos) e Neisseria meningitidis. Recomendado para hemocultura. Caldo tetrationato: Os sais de bile contidos no meio de tetrationato inibem microrganismos Gram positivos e a adição da solução de iodo inibe a microbiota intestinal normal de espécies fecais. Usado principalmente para o enriquecimento de Salmonella spp. Meio indicador: fornece, através de reações, informações das propriedades bioquímicas das bactérias. Ex: TSI, citrato, Fenilalanina, lisina, SIM (usados na identificação de bacilos Gram negativos). Meio de transporte: Apresentam substâncias redutoras (Thioglicolato ou Cistina) e com poder de tamponamento (fosfatos ou acetatos), que evitam a multiplicação e morte das bactérias. É usado para transportar amostras. A ausência de uma fonte de nitrogênio impede consideravelmente a multiplicação de microrganismos, embora a composição nutritiva garanta a sobrevivência deles. Não promove o crescimento de colônias, previne a desidratação de secreções e evita a oxidação. Ex: Meio de Stuart, meio de Cary-blair. Meio de manutenção: meio pobre em carboidratos, mantendo as bactérias na fase estacionária para preservar o material. Ex: ágar nutriente. Meio de isolamento: utilizado para isolamento, diferenciação e enumeração de espécies. Ex. ágar CLED. Meio para teste de sensibilidade – TSA (antibiograma): ágar Mueller Hinton. MEIOS EM PLACA ESSENCIAIS NA ROTINA BIOQUÍMICA MacConkey Seletivo, pois a presença de sais biliaresinibe o crescimento de bactérias gram positivas; e diferencial, pois diferencia fermentador de não fermentador através da fermentação da lactose (se lactose positiva, as colônias ficam rosas; se negativo, as colônias ficam transparentes/da cor do meio). Manitol salgado Seletivo, pois ao apresentar uma concentração NaCl > 7,5%, permite apenas o crescimento o gênero Staphylococcus e algumas espécies de Enterococcus; e diferencial, através da fermentação do manitol (se manitol positivo, as colônias ficam amarelas). Mueller-Hinton Meio base utilizado para teste de sensibilidade, como o antibiograma. Tem componentes que favorecem o crescimento tanto de gram positivo quanto de gram negativo. MEIOS EM TUBO ESSENCIAIS NA ROTINA BIOQUÍMICA Utilizados nos testes bioquímicos de bactérias gram negativas (meios indicadores) TSI (laranja): Este meio contém três açúcares: glicose (0,1%), lactose (1,0%), sacarose (1,0%), vermelho de fenol para detecção da fermentação de carboidratos e sulfato de ferro para detecção da produção de sulfato de hidrogênio (indicado pela cor preta na base do tubo). A fermentação é indicada pela mudança da cor do indicador de pH de vermelho para amarelo. É utilizado para observar a fermentação de carboidratos (lactose, sacarose e glicose), a produção de sulfeto de hidrogênio (H2S) e se há produção de gás. A porção inclinada ou bico, exposta em toda sua superfície ao oxigênio atmosférico, é aeróbia. A porção inferior, denominada profundidade ou fundo, está protegida do ar e é relativamente anaeróbia. A fermentação da glicose ocorre na ausência de oxigênio, se ocorrer fermentação, o meio fica amarelo no fundo do tubo, sendo glicose (+). A lactose e a sacarose ficam na inclinação do meio, se ocorrer fermentação, também fica amarelo, sendo lactose (+) e sacarose (+), ou seja, se todo o meio ficar amarelo, ocorreu a fermentação de todos os carboidratos. Se o fundo do tubo ficar preto ou enegrecido, significa H2S (+), logo, indica também glicose (+), pois a produção de sulfeto de hidrogênio só ocorre em meio ácido, pois o sulfeto de hidrogênio é incolor e, ao reagir com íons de ferro, produz cor enegrecida, indicando assim uma prévia fermentação naquele local. Se ocorrer desprendimento do meio no fundo do tubo, formação de bolhas ou o meio se rachar indica que houve produção de gás. Se alguma porção do meio ou por inteiro ficar rosa, significa que a bactéria não fermentou os carboidratos.. Tubo 1: glicose (+), lactose (+) e sacarose (+), produção de gás (+). Tubo 2: glicose (+), lactose (-) e sacarose (-). Tubo 3: sulfeto de hidrogênio – H2S (+), glicose (+), lactose (-) e sacarose (-). Tubo 4: tudo (-). Citrato (verde): Utilizado para saber se a bactéria vai utilizar o citrato como única fonte de carbono, juntamente com sais de amônia, alcalinizando o meio. Caso isso aconteça, ocorre uma alcalinização do meio, e o indicador de pH presente no meio faz com que se torne azul, sendo citrato (+); se não ocorrer mudança de cor é citrato (-). Tubo 1: citrato (-). Tubo 2: citrato (+) Fenilalanina (marfim): Utilizado para pesquisar a presença da enzima fenilalanina desaminase. Caso a bactéria tenha a enzima, ocorre desaminação da fenilalanina presente no meio, formando ácido pirúvico, que é identificado pelo reativo de cloreto férrico que reage com o ácido conferindo coloração verde ao meio se positivo. Se não mudar de cor, o resultado é negativo. SIM (amarelo): É utilizado para observar a produção de sulfeto de hidrogênio (H2S), a presença da enzima triptofanase e consequente formação de indol, e a motilidade da bactéria. Se o meio ficar preto ou enegrecido, significa H2S (+). Quando a bactéria tem a enzima triptofanase, ocorre degradação do triptofano presente no meio, gerando produtos, entre eles o indol, que é identificado pelo reativo de kovacs que reage com o indol dando origem a um anel rosa/vermelho (indol +). Se não ocorrer a formação de anel o resultado é (-). Quando ocorre o crescimento só no local da picada, significa que a bactéria é imóvel. Se ocorrer crescimento no local da picada e ao redor, provocando turvação no meio, significa que a bactéria é móvel (presença de flagelos). Tubo 1: sulfeto de hidrogênio – H2S (+). Tubo 2: indol (+) e móvel (turvação). Tubo 3: imóvel (crescimento só na picada). Lisina (violeta): É um meio líquido utilizado para pesquisar a presença da enzima lisina descarboxilase, tem glicose, indicador de pH e óleo mineral que serve para ocluir/vedar a entrada do meio, visto que a reação enzimática só ocorre na ausência de oxigênio. Quando ocorre a fermentação da glicose (fica amarelo), o produto dessa fermentação ativa a enzima lisina descarboxilase, responsável por causar a descarboxilação da lisina, alcalinizando o meio, e o indicador de pH presente no meio faz com que o meio volte a ser lilás (+). Se a bactéria não tiver a enzima, ocorre apenas a fermentação da glicose e o meio fica amarelo (-). Coleta e semeadura -----------------de material biológico---------------- É importante considerar que a amostra a ser analisada tenha conteúdo verdadeiro e representativo. Além disso, o manuseio adequado é importante para evitar a contaminação tanto da amostra, quanto do manipulador. ● a amostra deve representar o material biológico do verdadeiro local da infecção e deve-se evitar a sua contaminação a partir de tecidos adjacentes; ● a amostra representativa é aquela em que o número de células epiteliais é menor que o número de leucócitos; ● a quantidade de material obtida deve ser suficiente para a execução das técnicas de cultivo solicitadas, evitando resultados falso-negativos; ● a coleta deve ser feita antes da administração do antibiótico e o material deve ser coletado na fase aguda da doença; ● é importante saber a origem da amostra para a seleção adequada do meio de cultura. Semeadura e gram Coloração de gram A coloração de Gram é uma técnica preliminar importante que leva em consideração as características tintoriais das bactérias, permitindo a sua caracterização e classificação inicial. As bactérias Gram positivas apresentam uma parede celular rígida e espessa constituída basicamente de peptideoglicano. Desse modo, são capazes de reter o cristal violeta durante a descoloração, corando-se em roxo. As bactérias Gram-negativas apresentam uma parede celular com menos peptideoglicano e uma membrana externa. Dessa forma, não são capazes de reter o cristal violeta durante o processo de descoloração, e recebem a cor vermelha no processo de coloração proveniente do contracorante (fucsina). Agentes utilizados na coloração Coloração com violeta de cristal (corante primário solúvel em água, roxo); Lugol como mordente (fixa o corante primário nas estruturas coradas); A descoloração utilizando etanol / acetona (descora as bactérias gram negativas); Contra-corante safranina (cora as bactérias gram negativas). Etapas da coloração Técnicas de semeadura Semeadura em placa de Petri Estrias simples: transferir uma alçada da cultura para meio sólido em placa e estriar com a alça bacteriológica sobre o meio. A estria pode ser realizada em movimento de zig- zag (estria sinuosa) ou como uma linha reta sobre o meio (estria reta). Esgotamento em estrias ou estrias múltiplas: transferir uma alçada da cultura para meio sólido em placa e estriar com a alça bacteriológica sobre o meio. Por distensão: transferir a alçada da cultura para meio sólido em placa através de uma estria por movimento de zig-zag em diferentes orientações. Comumente realizada com o swab para o exame de sensibilidade à droga. Semeadura em meios líquidos Difusão: uma alçada da colônia ou da cultura é introduzida no meio líquido, com agitação da alça, para maior difusão dos microrganismos.Estria sinuosa: semear com alça ou agulha bacteriológica, em zig-zag, partindo da base para a extremidade. Estria Reta: semear com agulha bacteriológica, fazendo uma linha reta, com cuidado de não ferir o Agar, partindo da base para a extremidade do bizel. Picada Central e em Profundidade: semear com agulha bacteriológica, no centro do Agar. Antibiograma CONCEITO: Teste in vitro utilizado para detectar a sensibilidade e a resistência bacteriana frente aos antimicrobianos. A escolha do antimicrobiano utilizado considera o local da infecção (e, consequentemente, a capacidade do fármaco de alcançar o local de ação) e o possível agente infeccioso (a suspeita clínica direciona o espectro de ação dos antimicrobianos). Além disso, alguns aspectos clínicos devem ser considerados para a escolha do fármaco, como a idade do paciente, a resposta imune, a origem da doença (por exemplo, pacientes que apresentam infecção hospitalar tem alta probabilidade de apresentar uma bactéria resistente), a localização da infecção, o comprometimento da função renal e hepática do paciente. Técnicas utilizadas Qualitativas: diz se o fármaco é sensível, pouco sensível ou resistente. DIFUSÃO DOS DISCOS: fácil e barato. Avalia a capacidade do fármaco de se difundir em um meio de cultura onde está em suspensão bacteriana. Não confundam: o tamanho do halo indica a difusão do fármaco e não a sensibilidade! A leitura do halo é feita comparando com valores pré-definidos. O inóculo é preparado de forma que a turbidimetria do meio esteja padronizada de acordo com a escala MacFarland (1,9x105) para existir equilíbrio entre a quantidade de MO e de antibiótico. Quantitativas: estabelece a menor concentração que inibe o crescimento bacteriano. DILUIÇÃO SERIADA: diluição do fármaco em diferentes concentrações com a bactéria sob investigação. Está em desuso. E-TEST: técnica mais onerosa. Trata-se de um teste onde se utiliza uma fita com várias concentrações crescentes do antimicrobiano. A fita é colocada no meio e a elipse formada é mensurada. MÉTODOS AUTOMATIZADOS: métodos mais caros, com poucas diluições e menor variedade de antibióticos. As suspensões bacterianas preparadas são transferidas pelo próprio aparelho por aspiração para as cartelas, onde uma cartela contém os testes bioquímicos e a outra contém diferentes concentrações dos antimicrobianos definidos (quantidade e variedade limitadas). Cocos Gram Positivos Famílias: Micrococcaceae (Staphylococcus) Streptococcaea (Streptococcus e Enterococcus) Aspectos gerais Mais prevalentes; grande relevância clínica (apresentam ampla distribuição e promovem uma variedade de doenças); produção de toxinas; alta resistência aos antimicrobianos. São anaeróbios facultativos que crescem na temperatura entre 18 e 40 graus Staphylococcus sp. São imóveis (sem flagelos), anaeróbicos facultativos, catalase positiva, temperatura 18-40ºC (mesófilas), possuem forma esférica, agrupam-se em forma de cachos (se dividem em vários planos). São haloresistentes (são capazes de crescer em ambientes com elevadas concentrações de NaCl 10% e por isso crescem no meio seletivo Ágar Manitol Salgado); estão presentes na pele e nas membranas das mucosas; não são exigentes nutricionalmente, ou seja, crescem em qualquer meio de cultura. Se apresentam macroscopicamente como colônias douradas, róseas ou brancas, podendo ser beta-hemolíticas ou não hemolíticas em Ágar sangue. A camada mais externa da parede celular de muitos estafilococos é coberta com uma cápsula de polissacarídeos. A cápsula antifagocítica protege a bactéria, inibindo-a da fagocitose dos organismos pelos leucócitos polimornucleares. As enzimas que catalisam a construção de peptideoglicano são chamadas de proteínas ligadas à penicilina e são os alvos da penicilina e de outros beta-lactâmicos. A resistência bacteriana à oxacilina e penicilinas está relacionada à aquisição de um gene (mec A), que codifica uma proteína que se liga à PBP e mantém sua atividade enzimática. FISIOLOGIA E ESTRUTURA DO Staphylococcus aureus: PAREDE CELULAR (PEPTIDEOGLICANO): N-acetilglicosamina e N-acetilmurâmico. CÁPSULA ANTIFAGOCÍTICA (apresente 11 sorovariantes) ÁCIDO TEICOICO: ligação às superfícies mucosas e ação anti-complemento. PROTEÍNA A: atividade antifagocítica. Está ligada à camada de peptideoglicano ou à membrana citoplasmática e possui habilidades de se ligar à porção Fc de imunoglobulinas, inativando-as. A detecção da proteína A pode ser utilizada como um teste de identificação específica para S. áureos. MEMBRANA CITOPLASMÁTICA: barreira osmótica responsável pela seleção de nutrientes e eliminação de elementos pela bactéria. ENZIMAS: catalase, coagulase (presente no S. aureus), hialuronidase (hidrolisa o ácido hialurônico no tecido conjuntivo promovendo a disseminação dos Staphylococcus nos tecidos), fibrinolisina (evita a formação do coágulo), lipases, nucleases (despolimerizam o DNA), penicilinases, etc. Algumas cepas de S. aureus apresentam o gene mecA, que está relacionado com a expressão de proteínas ligadoras de penicilina alteradas, como a PBP2a. A presença da PBP2a resulta na baixa afinidade pelas proteínas ligantes de penicilina das bactérias, promovendo a resistência aos antibióticos que atuem através desse mecanismo de ação, como a oxacilina. O fármaco utilizado no antibiograma como preditor de resistência à oxacilina é a cefoxetina 30 mcg (não se testa a oxacilina, pois dá falsa sensibilidade). TOXINAS: hemolisinas (lise celular), leucocidinas (lisa leucócitos), enterotoxinas (quadro diarreico), TSST-1 (responsável pela síndrome do choque tóxico pela coagulação intravascular disseminada; é uma toxina pirogênica que induz a produção de citocinas e atravessa a mucosa, promovendo efeito sistêmico e levando à falência múltipla de órgãos), etc. IDENTIFICAÇÃO DOS ESTAFILOCOCOS: material biológico, exame direto (bacterioscopia), cultura, identificação bioquímica; antibiograma. PROVA DA CATALASE: a catalase é uma enzima que está presente somente nas cepas de estafilococos. Esta prova é utilizada para diferenciar Staphyloccus e Streptococcus. Utiliza-se uma alça e coleta uma amostra da colônia e coloca a mesma em contato com peróxido de hidrogênio (em uma lâmina). Se houver formação de bolhas, indica a presença da enzima, visto que a catalase desdobra o peróxido de hidrogênio em água e oxigênio. PROVA DA COAGULASE: a coagulase é uma enzima responsável pela transformação de fibrinogênio presente no plasma em coágulo de fibrina. A coagulase livre consiste numa enzima extracelular, enquanto a coagulase ligada permanece ligada à parede da célula do organismo. Essa enzima serve como confirmação para Staphylococcus aureus. PROVA DA DNASE: Staphylococcus auerus produz DNAse quando uma enzima nucleasse termoestável com atividade endonucleotídica e exonucleotídica, ambas as enzimas hidrolisam ácido nucleico. A DNAse pode ser detectada ao semear várias colônias dos microrganismos em pontos densos no meio do teste para DNAse. PROVA DA NOVOBIOCINA: o Staphylococcus saprophyticus (coagulase negativa) é resistente à Novobiocina, o teste é realizado colocando um disco do antimicrobiano em placa Mueller Hinton semeada com a suspensão bacteriana; se a zona de inibição for menor que 16 mm indica resistência. D-TEST: teste utilizado para avaliar a resistência aos macrolídeos e lincosamidas. Um disco de eritromicina é colocado distante 15mm do disco de Clindamicina e o teste é positivo quando ocorre o achatamento do halo no formato da letra D no disco de Clindamicina. Após a incubação, um achatamento da zona na área entre os discos, onde ambas as drogas são difundidas, indica que o organismo tem resistência à Clindamicina indutível. A eritromicina induz falsa sensibilidadeà clindamicina. Streptococcaceae: Streptococcus, enterococcus e Aerococcus Cocos gram positivos, dispostos aos pares ou cadeia (se dividem em um único plano), hemolíticos ou não, anaeróbios facultativos, catalase negativa, com exigências nutricionais complexas (ótimo crescimento em Ágar sangue). ESTRUTURA E FISIOLOGIA PAREDE CELULAR: constituída pela camada de peptideoglicano. O grupo específico de carboidrato (Ag de grupo A) constitui cerca de 10% do peso seco das células, é um dímero de N-acetilglicosamina e ramnose. Este antígeno é usado para classificar os estreptococos do grupo A e distingui- los dos outros grupos de estreptococos. PROTEÍNA T: resistente à Tripsina. ESTREPTOLISINAS S: é uma hemolisina ligada à célula, não imunogênica, estável na presença de oxigênio, e que pode usar hemácias, leucócitos e plaquetas. A estreptolisina S é produzida na presença de soro e é responsável pela β- hemólise característica, observada no meio ágar sangue. ESTREPTOLISINA O: é uma hemolisina lábil na presença de oxigênio, capaz de lisar hemácias, plaquetas e células em cultura. Anticorpos são prontamente formados contra a estreptolisina (ASO), que é dosada no sangue do paciente, uma característica importante que diferencia as estreptolisinas S e O, sendo útil para documentar uma infecção recente por estreptococos do grupo A. No entanto, o fato da ASO ser irreversivelmente inibida pelo colesterol nos lipídeos, pacientes com infecção de pele causados por S. pyogenes não desenvolvem anticorpos ASO. ESTREPTOQUINASES A E B: enzimas medeiam a clivagem do plasminogênio, liberando a protease plasmina, que, por sua vez, cliva fibrina e o fibrinogênio, resultando na dissolução dos coágulos e de depósito de fibrina facilitando a rápida disseminação do S. pyogenes nos tecidos infectados. DNASE (A À D): há 04 desoxirribonucleases imunologicamente distintas que foram identificadas em estreptococos, elas não são citolíticas, mas podem despolimerizar o DNA livre presente no pus, este processo reduz a viscosidade do material do abcesso e facilita a disseminação dos microrganismos. Obs.: os anticorpos desenvolvidos contra DNAse B são importantes marcadores das infecções por Streptococcus pyogenes, particularmente para pacientes com infecções cutâneas, pois estes não desenvolvem anticorpos ASO. CLASSIFICAÇÃO DOS Streptococcus: PROVAS BIOQUÍMICAS; PADRÃO DE HEMÓLISE: o α-hemólise (parcial) o β-hemólise (completa-formação de halo) o γ-hemólise (ausência de hemolisina, sem hemólise) SOROLOGIA (CLASSIFICAÇÃO DE LANCEFIELD): classificação dos estreptococos em grupos sorológicos baseiam-se nas características antigênicas de um polissacarídeo de composição variada chamado carboidrato C, localizado na parede celular do microrganismo, que pode ser detectado por técnicas imunológicas. Tomando por base esse polissacarídeo, os estreptococos foram divididos em 20 grupos sanguíneos, designados por letras maiúsculas do alfabeto (onde os de relevância clínica são os grupos A, B e D), com destaque para: o GRUPO A: Streptococcus pyogenes (β-hemolíticos) são a espécie mais patogênica para o homem, embora o mesmo faça parte da microbiota. Podem causar infecção da orofaringe, tonsilite, infecções de feridas e de pele. Podem causar infecções não supurativas como doenças reumáticas, coreia de Sydenham e glomerulonefrite aguda. o GRUPO B: causam mais frequentemente infecções perigosas nos recém- nascidos e infecções articulares e cardíacas (Streptococus agalactiae). o GRUPO C: frequentemente são transportadas por animais, mas também crescem na orofaringe, no intestino, na vagina e tecido cutâneo do ser humano. Podem causar infecções graves. o GRUPO D: até 1984 os enterococos entravam nesse grupo. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: infecções supurativas (faringite, escarlatina; piadermia, erisipela, celulite, fasciculite profunda); Infecções não supurativas (febre reumática, glomerulonefrite). Streptococcus pyogenes Principal agente da faringite bacteriana. Pode promover doenças supurativas ou não. Conhecida também como “bactéria carnívora” por causa da produção de hialuronidase. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Macroscopia: colônias grandes e hemolíticas em Ágar sangue; Catalase negativa; Bacterioscopia: cocos gram positivos dispostos em cadeia; sensível à Bacitracina; detecção antigênica (grupo A); PYR teste positivo. PROVA DA BACITRACINA: consiste na verificação da sensibilidade do microrganismo isolado frente a um disco de Bacitracina. A prova é realizada em meio de Ágar sangue, incubado à 35ºC / 24h em microaerofilia. A bacitracina altera a permeabilidade das membranas e inibe a síntese de parede celular. A formação de um halo se crescimento ao redor do disco identifica o Strepcoccus pyogenes, sendo considerado qualquer tamanho de halo. A prova não é 100 % segura porque 5% de outros estreptococos não grupo A também são sensíveis à bacitracina. CATALASE NEGATIVA HEMÓLISE: beta-hemólise (halo transparente). PYR: determina a atividade da enzima produzida pelo S. pyogenes, pirrolidonilarilamidase, mas não pelos demais beta-hemolíticos. (Teste positivo: coloração avermelhada; teste negativo: coloração amarelo- alaranjada). Streptococcus agalacteae (grupo B) Presente na microbiota do TGI e genital. Comumente associado a casos de sepse, pneumonia e meningite em neonatos. ENZIMAS: DNAse, hialuronidase, proteases, neuraminidase, hipurase, hemolisinas. MANIFESTAÇÕES CLINICAS: ITU, endometrite, infecções de pele, pneumonia e meningite. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Macroscopia: colônias grandes e hemolíticas em Ágar sangue; Catalase negativa; Bacterioscopia: cocos gram positivos dispostos em cadeia; Teste de PYR negativo; Teste da bacitracina; CAMP-TEST: visa a identificação das cepas de S. agalactiae, que produzem o fator CAMP, que atua sinergicamente com a β-hemolisina produzida pelo Staphylococcos aureus em ágar sangue; TESTE DO HIPURASE: o hipurato de sódio presente no tubo é hidrolisado pela enzima. Pode ser utilizada a nihidrina (observação da mudança de cor pela produção de glicina) ou o cloreto férrico (produção de cor leitosa/esbranquiçada pela obtenção do ácido benzóico) como reveladores. Streptococcus pneumoniae Bactéria anaeróbia facultativa responsável por quadros respiratórios graves. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL MACROSCOPIA: colônias grandes encapsuladas alfa-hemolíticas; Catalase negativa; BACTERIOSCOPIA: cocos gram positivos dispostos em cadeia; PROVA DA OPTOQUINA: sensível com halo > 14 mm. TESTE DA BILE-SOLUBILIDADE: as colônias se dissolvem em contato com caldo de bile. Enterococcus sp. Inicialmente foram classificados como estreptococos do grupo D, pois apresentam o antígeno de parede celular do grupo D, um ácido teicoico glicerol associado à membrana citoplasmática.. Podem apresentar alfa, beta e gama hemólise; Podem crescer na presença de concentrações elevadas de NaCl (também crescem em Ágar Manitol Salgado) e sais biliares; Fazem parte da microbiota; As espécies E. faecalis e E. faecium são mais associados aos quadros clínicos mais recorrentes. Causam infecções do trato urinário, sepse, infecções de sitio cirúrgico e intra-abdominais. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Hemólise (comumente gama hemolíticos); Catalase negativa; Bacterioscopia: cocos gram positivos dispostos em pares ou cadeias; Cultivo: CLED e ágar sangue, são nutricionalmente exigentes; CALDO CLORETO DE SÓDIO À 6,5 %: objetiva avaliar a capacidade de o microrganismo crescer em altas concentrações de cloreto de sódio, finalidade de diferenciar Enterococcus spp de Streptococcus. BILE-ESCULINA: a esculina presente no meio é hidrolisada formando esculetina e dextrose, onde a esculetina reage com sais de ferro presentesno meio formando um composto enegrecido. Diferencia Enterococos spp de Streptococcus spp. Resultado positivo: mudança de coloração; PROVA NA ARABINOSE: arabinose é um açúcar. Se a bactéria fermentar este açúcar, ocorre a mudança de cor do meio para rosa, se o resultado for negativo o meio permanece com sua coloração original. Enterococcus faecium: arabinose positivo; NaCl 6,5% positivo; Bile- esculina positiva. Enterococcus faecalis: arabinose negativo; NaCl 6,5% positivo; Bile- esculina positiva Referências BRASIL, ANVISA. Descrição dos Meios de Cultura Empregados nos Exames Microbiológicos, 2004. Disponivel em <http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/manuais/clsi/clsi_OPAS1M27-A2.pdf>. KONEMAN, E. W., ALLEN, S. D., JANDA, W. M., SCHRECKENBERGER, PC., Jr. WINN, WC., Diagnóstico Microbiológico, Texto e Atlas Colorido, 6a ed, Editora Médica e Científica Ltda. 2007.
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