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1 UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ PÓS GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL Resenha Crítica de Caso Rafaela Matheus da Silva Trabalho da disciplina : Responsabilidade Civil: Novas Tendências Tutor: Prof. Maria Carolina C de Amorim Uberlândia 2020 2 A RESPONSABILIDADE CIVIL PELA PERDA DE UMA CHANCE NO DIREITO BRASILEIRO. Referência: JUNIOR, Gilberto Andressa, A Responsabilidade Civil pela perda de uma chance em direito brasileiro, disponível em http://andreassaeandreassa.adv.br/wp-content/uploads/2013/01/artigo13.pdf. Acesso em 01/11/2020. A presente resenha visa analisar o citado artigo que discorre sobre o instituto da responsabilidade civil através da discussão sobre a corrente que acredita na existência de responsabilidade pela perda de uma chance, e de outra que acredita que ainda falta fundamentação legal para a concessão do benefício. Em razão do grande número de demandas judiciais ligados a responsabilidade civil, observou-se que, mesmo presentes os pressupostos da culpa e do dano, se torna inviável a efetiva demonstração de existência do nexo etiológico (nexo causal) entre ambos, ficando a vitima sem o devido ressarcimento. Assim, surge no ordenamento jurídico a chamada perda de uma chance, tendo como principal objetivo a satisfação integra da vitima, haja vista que diariamente nos deparamos com injustiças sociais não solucionadas, em razão da dificuldade em se demonstrar os requisitos da responsabilidade civil. Contudo, para a efetiva utilização do novo instrumento deverá ser comprovada a verdadeira chance perdida do indivíduo. Sendo assim, inicialmente antes de aprofundar sobre a teoria citada, cumpre analisarmos o instituto da responsabilidade civil e suas espécies. 3 A princípio no início da civilização, com o surgimento dos grupos e classes, quando ocorria a lesão a algum indivíduo, utilizava-se como meio de punição a vingança coletiva ou privada, sem o intermédio de uma legislação. Diante desse quadro, surgiu a lei de Talião, bastante conhecida pelo seu fundamento de “olho por olho, dente por dente”. Contudo, diante da evolução da sociedade, passaram a observar que a lesão pratica a vitima, poderia ser compensada de forma econômica. Dessa forma, diante da evolução social e dos pensamentos modernos, começando pelo direito romano, passando pela doutrina francesa o instituto da responsabilidade civil foi ganhando forma e pressupostos a serem cumpridos. Assim, a responsabilidade civil busca restaurar o equilíbrio patrimonial e moral violado, restabelecendo o equilíbrio econômico-jurídico provocado pelo dano. Tem como elementos básicos três fundamentos, a conduta omissiva/comissiva, o dano e o nexo de causalidade. Nesse sentido, nascem algumas espécies de responsabilidade, a objetiva e subjetiva, a contratual e a extracontratual. A responsabilidade civil subjetiva, utilizada em regra pelo ordenamento jurídico brasileiro, tem como fundamento a teoria da culpa, influenciada pelo Código Napoleônico, sendo aquela baseada na culpa do agente, que deve ser comprovada para gerar a obrigação indenizatória, devendo demonstrar se o agente tinha intenção de praticar o ato danoso ou, ainda, de a sua conduta foi imprudente, negligente ou imperita, sendo dispensável quando a lei taxativamente presumir a culpa do agente, ainda que for fato de terceiro. Contudo, nestes casos, se a presunção é absoluta, caberá a vitima tão somente a demonstração de causalidade. A responsabilidade civil objetiva trata-se de uma forma moderna, de responsabilização por danos causados a terceiros, destacando-se a existência do 4 nexo de causalidade entre o dano e a conduta do agente, tornando a comprovação da culpa do ofensor menos relevante. Assim, os doutrinadores passaram a admitir a responsabilidade do ofensor mesmo sem comprovação de uma culpa, o que certamente foi um grande avanço no ordenamento jurídico brasileiro. Aliada a teoria objetiva, surge a teoria do risco, que possui como cerne o benefício aos chamados hipossuficientes, onde toda pessoa que exercer alguma atividade possível de criar riscos a terceiros, deve arcar com o ônus da reparação. Dessa forma, resta evidente que a teoria objetiva despreza a intenção do agente, pois aquele que obtém vantagens pelos riscos criados, deve responder pelas consequências da atividade exercida, cuja periculosidade é a ela inerente ou fixada em lei. Todavia as duas correntes, teoria do risco e da culpa, convivem simultaneamente no direito brasileiro, porém, cada uma será aplicada em concordância com o caso concreto. No tocante a responsabilidade civil contratual, como o próprio nome diz, está ligando a algum descumprimento contratual, e aqui cabe ressaltar que se vale do contrato escrito ou tácito. Neste caso, a indenização substitui quase sempre a prestação inadimplida, abrangendo os danos emergentes e os lucros cessantes. Cabe aqui ressaltar que nesta teoria em matéria de prova, o ônus, incumbe em regra ao devedor, que deve esclarecer os motivos da mora. Já a responsabilidade civil extracontratual, nesta modalidade não há vínculo jurídico entre a vítima e o agente causador do dano, mas este é responsável por haver infringido um dever legal, causando prejuízo a outro. 5 Importante destacar que o ônus da prova nestes casos é da vitima, a qual deverá demonstrar o porquê de suas fundamentações. Todavia, em casos especiais, o deve de prova poderá ser invertido, em face da presunção de culpa. Feitas as devidas considerações sobre a responsabilidade civil, passemos a análise da teoria da perda de uma chance. Criada inicialmente pela jurisprudência francesa, inicialmente denominada como “chance de uma cura”, limitando sua aplicação somente para os casos de responsabilidade médica. Contudo, em razão do atual momento da civilização a responsabilidade civil por perda de uma chance, reconhece a possibilidade de indenização nos caos em que alguém se vê privado da oportunidade de obter um lucro ou evitar um prejuízo. Nesta teoria, surge o ideal de que a reparação não ocorrerá através de um dano, mas sim pela perda de uma chance real, ou seja, mesmo não havendo um dano certo e determinado existe um prejuízo para a vítima decorrente da legítima expectativa que ela possuía em angariar um benefício ou evitar um prejuízo. A chance a ser indenizada deve ser algo que certamente iria ocorrer, mas restou frustrada a sua concretização em virtude de fato danoso. Trata-se de grau de probabilidade que deverá ser analisado pelo juiz, sendo ressarcível quando implica uma probabilidade suficiente de beneficio econômico que resulta frustrado pelo responsável. Diante disso, pode-se analisar a teoria da perda de uma chance como uma nova dimensão para o nexo causal e o dano, porém, sem abandonar totalmente os conceitos clássicos. Contudo, constata-se a ausência de regulamentação jurídica para a teoria da perda de uma chance, sendo que os ensinamentos a respeito da teoria restam ditados exclusivamente pela doutrina e jurisprudência. 6 O ordenamento jurídico brasileiro trata o assunto de uma forma bastante restrita, e para que seja concedido devem-se comprovar diversos fatores, tais como a chamada chance concreta, que deverá ser demonstrada pela parte requerente. Diante disso, fica esclarecido que somente será definido tal beneficio nos casos em que houver uma efetiva demonstração da perda, repudiando-se casos que visem um locupletamento ilícito. As situações mais corriqueiras perante este novo instituto reparatório, dizem respeito ás atividades dos profissionais liberais, em especial as dos médicos e advogados. Para caracterização da perda de uma chance deverá estar presente o nexo causal entrea conduta do profissional e a chance perdida pela vitima. Isto posto, conclui-se que com a evolução da sociedade, o ordenamento jurídico deve rever a forma de aplicar a legislação conforme o caso concreto. Neste trabalho podemos observar a evolução da responsabilidade civil e suas teorias, tendo como objetivo principal a satisfação da vítima. Em especificamos analisamos a teoria da perda de uma chance, que como vimos é aplicado nos casos das atividades de profissionais liberais, como médicos e advogados, devendo existir a certeza de que a conduta impediu que efetivas probabilidades de concretizassem, devendo o magistrado analisar com devida cautela, para que seja indenizada apenas a chance real perdida e não pelo dano em si, minimizando assim prejuízos futuros.
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