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1 CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS CURSO DE DIREITO REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO: NECESSIDADE DE EXISTÊNCIA OU CRUELDADE DA PENA? CAMILA MIRANDA DE OLIVEIRA – RA: 8255899 ISABELLA EDUARDA MATTES NARDI – RA: 7366230 LETÍCIA RODRIGUES SANTOS – RA: 7713860 MARCELO BARBOSA ALVES DOS SANTOS – RA: 7538359 SABRINA LERI DE SOUZA – RA: 7714589 São Paulo - SP 2020 2 SÚMARIO INTRODUÇÃO AO REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO ............................. 3 CARACTERÍSTICAS DO REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO .................... 4 TIPO DE REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO .............................................. 5 DA JURISPRUDENCIA RELATIVA À INCLUSÃO NO REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO ................................................................................................... 6 ALTERAÇÕES NO RD COM A CRIAÇÃO DO PACOTE ANTICRIME ................ 12 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 14 REFERÊNCIA ..................................................................................................... 15 3 I - INTRODUÇÃO AO REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO Desde 2003, com a necessidade de assegurar a ordem e ainda a disciplina do sistema prisional, principalmente após as inúmeras rebeliões que vinham acontecendo no Estado de São Paulo, com destaque para a maior delas que ocorreu no município de Taubaté, surgiu a Resolução SAP-26, de 04/05/2001, a qual instituiu o Regime Disciplinar Diferenciado. O Regime Disciplinar Diferenciado, que está previsto no artigo 53, inciso V da Lei de Execução Penal, tem como característica o isolamento celular do preso provisório ou condenado, neste sentido, o preso que estiver submetido a este regime, tem sua comunicação restrita ao mundo exterior, ou seja, trata-se de um conjunto de regras mais rígidas do sistema penitenciário, que parte da premissa que este isolamento colocaria ordem ao mesmo e por este motivo, o Regime em questão é direcionado aos presos que representam alta periculosidade e também os que comandam as organizações criminosas, associações criminosas ou milícias, tendo influencia dentro e fora da unidade prisional e podendo causar desordem. O regime disciplinar diferenciado pode ser aplicado como sanção disciplinar aos presos provisórios ou condenados, nacionais e estrangeiros, por força de decisão judicial, que será aplicada no caso do preso ter cometido falta grave, sem que isso sem que isso cause prejuízo à sanção final, conforme diz o disposto no artigo 52 da Lei de Execução Penal, Lembrando que, no sistema brasileiro penal temos dois tipos de presos, o condenado que sofre pena após a sentença penal condenatória e cumpre reclusão ou detenção. E os provisórios, são os que sofrem a pena antes da sentença penal condenatória, são os que estão em prisão preventiva ou cautelares, antes da sentença definitiva. Os dois poderão ser submetidos ao regime disciplinar diferenciado. 4 Para que alguém seja submetido ao RDD, o sujeito deve praticar um crime doloso que constitui falta grave e essa falta traga uma subversão da ordem e disciplina do estabelecimento do sistema prisional. Não deve ser confundido o regime disciplinar diferenciado com a execução penal. O RDD, não é uma forma de cumprimento da pena (regime aberto, semiaberto e fechado, como estabelecido no Código de Processo Penal), é apenas uma espécie de sanção mais drástica sendo aplicada pelo juiz com base no princípio da última ratio e, portanto, de apenas extrema necessidade para a resolução dos fatos. Assim, podemos dizer que o RDD diferencia da execução de cumprimento da pena, porque este está previsto no Código de Processo Penal, e o Regime Disciplinar Diferenciado foi introduzido pela Lei de Execução Penal (Lei 10.792/2013). II - CARACTERÍSTICAS DO REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO: Esclarecido o fato de que Regime Disciplinar Diferenciado trata-se de uma sanção disciplinar e não de um Regime de Cumprimento de Pena, conforme os taxados no Art. 33 do Código Penal, e dadas todas as características explanadas acima, podemos dizer que na atualidade, o RDD é a sanção disciplinar mais rigorosa que pode ser aplicada a um preso, e que essa deve ser utilizada somente em casos extremos, como no caso de prática de crime doloso, que causa subversão da ordem e/ou disciplina interna. O Regime Disciplinar Diferenciado tem suas características pautadas nos incisos I, II e III do artigo 53 da Lei nº. 7.210 /84, conforme observa-se abaixo: "Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando ocasione subversão da ordem ou disciplina internas, sujeita o preso provisório, ou condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado, com as seguintes características: 5 I - duração máxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de repetição da sanção por nova falta grave de mesma espécie, até o limite de um sexto da pena aplicada; II - recolhimento em cela individual; III - visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração de duas horas; IV - o preso terá direito à saída da cela por 2 horas diárias para banho de sol ". Dadas as características acima, é importante ainda destacar que o Regime Disciplinar diferenciado, só poderá ser aplicado mediante sentença proferida pelo Juiz. Sendo assim, caberá ao Diretor da unidade penitenciária elaborar o requerimento, visto que neste caso, o magistrado jamais poderá agir de ofício. Importante destacar, que ainda acerca do requerimento e aplicação do RDD, que O Ministério Público também é parte legítima, mesmo não havendo de ser autoridade administrativa, isso porque, o art. 68, II –A da Lei de Execuções Penais diz que ao Ministério Público compete providencias necessárias ao cumprimento do processo executivo. III – TIPOS DE REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO: A partir dos conceitos já abordados, podemos dizer que o Regime Disciplinar Diferenciado nada mais é que um conjunto de regras rígidas que pode orientar o cumprimento da pena podendo ser aplicado tanto ao preso preventivo quanto ao preso condenado, caso este incida em falta grave que ocasione subversão da ordem ou da disciplina no ambiente penitenciário, podendo gerar grande risco ao sistema como um todo. Sendo assim, é importante ainda que diferenciemos o Regime Disciplinar Diferenciado em Punitivo e Cautelar, conforme iremos conduzir abaixo: a) Regime Disciplinar Diferenciado Punitivo: Conforme o próprio nome sugestiona, está ligado ao cometimento de falta grave, considerada um crime doloso por parte de um preso que implique 6 em subversão da ordem, que coloque em risco o próprio estabelecimento prisional, ou a sociedade. Ou seja, um crime que desestabilize a unidade penitenciária, a ponto de causar fugas, mortes, ou que ponha em risco a sociedade como um todo. Por força de sua natureza, para que seja seguido este procedimento é respeitada a natureza do direito à defesa (art. 59), de requerimento circunstanciado da autoridade competente (art. 54, par. 1o), de manifestação do Ministério Público e da defesa (art. 54, par. 2o), e, por fim de decisão fundamentada do juiz competente (art. 54, caput). b) Regime Disciplinar Diferenciado Cautelar, O caso em questão ocorre, quando o preso por si só, represente grave ameaça à sociedade, sendo este considerado de alta periculosidade ou quando haja fundadas evidências de que este indivíduo esteja ligado à organizações criminosas. O RDD cautelar, também por força de sua própria natureza, também está diretamente ligado ao poder especial de cautelado órgão judicial, com o objetivo de eliminar uma situação de perigo claro e evidente à sociedade. Porém, mesmo se tratando de uma medida cautelar assegurada pela LEP, diferentemente do primeiro caso, não se prevê que haja um procedimento disciplinar, sendo confiado ao órgão judicante a necessidade de sua aplicação, através por exemplo de interceptações telefônicas autorizadas pelo Juízo a quo, que comprovem que preso, mesmo custodiado, não só dava continuidade às suas atividades delituosas, dentre elas homicídios, contrabandos, formação de quadrilha e corrupções ativas, como também chefiava das organizações criminosa IV – DA JURISPRUDENCIA RELATIVA À INCLUSÃO NO REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO É certo que parte da jurisprudência, assim como a doutrina, entende que é constitucional a inclusão do apenado no RDD, conforme verifique-se, a propósito, a seguinte passagem do voto vencedor do acórdão agravo de execução penal nº 0004179-59.2017.4.03.0000/MS, proferido pelo Desembargador relatora Fausto de Sanctis, do Tribunal Regional Federal da Terceira Região. “O Desembargador Federal FAUSTO DE SANCTIS: 7 Razão não assiste à defesa. O Regime Disciplinar Diferenciado - RDD foi instituído pela Lei nº 10.792, de 1º de dezembro de 2003, visando maior eficácia no combate ao crime organizado. A Lei nº 10.792/2003 alterou a redação do artigo 52, entre outros da Lei das Execuções Penais - LEP, passando a descrever as hipóteses e requisitos em que o RDD pode ser aplicado. De acordo com o artigo 52 da LEP, são características do RDD: Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando ocasione subversão da ordem ou disciplina internas, sujeita o preso provisório, ou condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado, com as seguintes características: (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 2003) I - duração máxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de repetição da sanção por nova falta grave de mesma espécie, até o limite de um sexto da pena aplicada; (Incluído pela Lei nº 10.792, de 2003) II - recolhimento em cela individual; (Incluído pela Lei nº 10.792, de 2003) III - visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração de duas horas; (Incluído pela Lei nº 10.792, de 2003) IV - o preso terá direito à saída da cela por 2 horas diárias para banho de sol. (Incluído pela Lei nº 10.792, de 2003) § 1o O regime disciplinar diferenciado também poderá abrigar presos provisórios ou condenados, nacionais ou estrangeiros, que apresentem alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da sociedade. (Incluído pela Lei nº 10.792, de 2003) § 2o Estará igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado o preso provisório ou o condenado sob o qual recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer título, em organizações criminosas, quadrilha ou bando. (Incluído pela Lei nº 10.792, de 2003) 8 Nos termos dos §§1º e 2º do artigo 52 da LEP, para a inclusão do preso no RDD é necessário que existam fundadas suspeitas de seu envolvimento ou participação em organizações criminosas, quadrilha ou bando, associado ao fato de representar alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal e da sociedade. Note-se que o RDD não constitui um regime de cumprimento da pena, nem modalidade de prisão provisória, sendo previsto como modalidade de sanção disciplinar (art. 53, inciso V, da LEP). Na hipótese dos autos, o pedido de inclusão em Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) do agravante foi postulado pelo Diretor da Penitenciária Federal de Campo Grande/MS, tendo o Ministério Público Federal manifestado favoravelmente. A r. decisão proferida pelo Juízo da 5ª Vara Federal de Campo Grande/MS, às fls. 04/06 vº, que deferiu a inclusão definitiva no Regime Disciplinar Diferenciado do Sistema Penitenciário Federal de Segurança Máxima, pelo prazo de 360 dias, no período de 16.08.2017 a 10.08.2018, está bem fundamentada, calcada, primordialmente, na periculosidade do agravante. Conquanto escoado o prazo para permanência no referido regime, permanecem válidos os fundamentos da r. decisão. Há descrição de que as investigações levadas a efeito pela Gerência de Inteligência e Segurança Orgânica Penitenciária - GISOP/SEAP revelaram que o interno, André Quirino da Silva, vulgo "Fão", seria um dos líderes da organização criminosa "OKAIDA", e estaria utilizando o direito à visita de familiares e entrevista com advogados para troca e envio de mensagens, com o intuito de manter o gerenciamento do tráfico de drogas no Estado da Paraíba, bem como determinar a morte de desafetos dentro do seu grupo criminoso e de facções rivais (fls. 37/38). Além disso, o apenado teria determinado que José Roberto Batista dos Santos, vulgo "Betinho", da "ORCRIM OKAIDA" assassinasse um membro da "ORCRIM COMANDO VERMELHO", dentro da Penitenciária de Segurança Máxima Dr. Romeu Gonçalves de Abrantes - PB1, cuja ordem não foi cumprida, por serem ambas as organizações criminosas aliadas no Estado da Paraíba (fl. 37 vº). 9 Assim, inconformado com a desobediência de sua ordem, o apenado teria determinado a morte do próprio comparsa "Betinho" durante a visita social recebida por ele na Penitenciária Federal de Catanduvas/PR, ocorrida em 09.08.2017, cuja execução se daria no dia 10.08.2017 (fls. 04 vº, 05 e 37 vº). Contudo, a execução de "Betinho" teria restado frustrada em razão da influência deste com os demais membros da organização criminosa "OKAIDA". Por conseguinte, alguns integrantes da facção, considerando a ingratidão de André, ora agravante, passaram a visar sua morte, instalando-se uma grave crise interna no sistema penitenciário estadual da Paraíba, com clima de guerra entre os próprios membros da facção "OKAIDA", atentando a paz social, com resultado em mortes no âmbito penitenciário e fora dele (fls. 08 vº, 37 vº e 38). Somando-se a isso, as informações prestadas pelo Diretor da Polícia Federal de Campo Grande/MS apontam que o apenado tem conduta prejudicada na Unidade, respondendo a dois PDI's. Além disso, relatou que através de monitoramento de atendimento de advogado realizado em 14.08.2017, os fatos teriam se confirmado em relação a "Betinho" - fls. 39/48. Nessa perspectiva, cumpre transcrever parte da conversa gravada entre o interno e seu advogado, que no dia 14.08.2017, lhe trouxe as seguintes informações, de acordo com o Relatório de Audiovigilância - RAV nº 421/2017 (fls. 44/47): Sua esposa, ela pediu para dizer que seus amigos da Paraíba não são mais seus amigos, certo... Ela disse que eles não são seus amigos e diz que eles estão com o ROBERTO, amigo de ROBERTO, certo? Pra falar isso -fl. 44 vº. De fato, as informações recebidas da Gerência de Inteligência e Segurança Orgânica Penitenciária - GISOP e Secretaria de Estado da Administração Penitenciária do Estado da Paraíba/SEAP restaram confirmadas pelo Relatório de Audiovigilância (Captação Ambiental) - fls. 44/47. Diante do exposto, afigura-se legítima a inclusão do apenado em Regime Disciplinar Diferenciado, nos termos do artigo 52, §§ 1º e 2º, da Lei nº 7.210, de 11.07.1984. Os documentos acostados aos autos (fls. 37/47) 10 demonstram que o apenado faz parte da organização criminosa denominada "OKAIDA", representando alta periculosidade para a ordem do sistema prisional do Estado da Paraíba, cujas atitudes resultaram em clima de guerra e ruptura iminente entre os membros da referida facção. Note-se que mesmo segregado continuou determinando o cometimento de ilícitos do interior do sistema carcerário. Tal entendimento encontra-se em consonância com a jurisprudência do C. Superior Tribunal de Justiça: Destarte, considerando que a decisão agravada aponta elementos concretos de convicção de que o custodiadointegra organização criminosa com propensão a práticas delitivas, mesmo que encarcerado, não há que se falar em ausência de motivação ou de fundamentação da decisão, independentemente de escoado o prazo para permanência no referido regime, eis que permanecem válidos os fundamentos da r. decisão. Posto isso, NEGO PROVIMENTO ao Agravo de Execução Penal.” (destacamos) Diante desse julgado, é possível verificar que não somente entende a jurisprudência que é constitucional, bem como entende ser extremamente necessário, principalmente nos casos mais graves. Posto isso, verifica-se, ainda, passagem do voto vencedor do Ministro Felix Fischer, relator nos autos do recurso ordinário em Habeas Corpus n 103368/BA. "O EXMO. SR. MINISTRO FELIX FISCHER: Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso. A Defesa busca, em síntese, a declaração de nulidade da decisão que determinou a transferência do recorrente para Cadeia Pública Masculina, bem como sua inclusão em Regime Disciplinar Diferenciado, sem que a medida fosse precedida da instauração de PAD e da oitiva da defesa. (...) Como é cediço, o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) consiste em um sistema de disciplina carcerária especial, dotado de regras mais rígidas do que os demais regimes de cumprimento de pena, sendo 11 aplicável como sanção disciplinar ou dada à imprescindibilidade cautelar. A inclusão de sentenciado em regime disciplinar diferenciado é disciplinada pelo art. 52 da Lei de Execução Penal, que assim dispõe, verbis: (...) Infere-se dos autos que o v. acórdão justificou a inclusão do recorrente no RDD, com fulcro no art. 52, §§ 1º e 2º, da Lei n.º 7.210/84, considerando a imprescindibilidade da medida para garantir a ordem e a segurança da sociedade, bem como em razão das fundadas suspeitas de seu envolvimento ou participação, na organizações criminosas denominada PCC. Em tal contexto, registrou que a inclusão do recorrente no referido regime se justificava em razão das evidências de que ele, supostamente, possuía "alto grau de hierarquia na organização criminosa denominada PCC, facção da qual o Requerente se denomina pertencer" bem como em decorrência da "intenção dos integrantes da organização criminosa em realizar ataques criminosos em diversos pontos do Estado de Roraima, com o intuito de instaurar de caos.". Dos fundamentos adotados no v. acórdão, verifica-se que se coadunam com a jurisprudência desta Corte de Justiça no sentido de que, em casos de extrema e comprovada necessidade, é possível a autorização imediata de transferência do preso e sua inclusão cautelar no RDD, aferida a partir de dados concretos relacionados ao comportamento carcerário. Acrescento que o v. acórdão registrou que a e. Magistrada de origem já determinou, quanto ao regime disciplinar diferenciado a "instauração de PAD em favor dos representados com prazo inicial de noventa dias para conclusão diante da diversidade de representados." No tocante à preservação da integridade física do recorrente na Cadeia Pública Masculina, o eg. Tribunal registrou que o Diretor da referida unidade "informou, por meio de ofício requisitado por este Relator, que o reeducando encontra-se recolhido na referida Unidade com escolta armada do Grupo de Intervenção Tática - GIT, em cela anexa a UP" 12 Assim, não se vislumbra ilegalidade sanável pela presente via, pois a determinação de inclusão do recorrente no RDD, bem como sua transferência de unidade prisional, observou os ditames da Lei e foi devidamente justificada como meio eficaz para resguardar a segurança pública. Diante de tais considerações, portanto, não se vislumbra a existência de flagrante ilegalidade passível de ser sanada na presente via. Ante o exposto, nego provimento ao recurso ordinário em habeas corpus. ” (destacamos) Conclui-se, portanto, que tanto os tribunais regionais, quanto os tribunais superiores, entendem ser necessária a aplicação do regime disciplinar diferenciando, sendo certo que a determinação do apenado em tal regime, trás menos riscos públicos para a sociedade, entendendo como constitucional tal ferramenta do direito. V – ALTERAÇÕES NO RDD COM A CRIAÇÃO DO PACOTE ANTICRIME Algumas mudanças relevantes no regime disciplinar diferenciado ocorreram com a criação do Pacote Anticrime na Legislação da Execução Penal, que entrou em vigência em dia 23 de janeiro de 2020, sancionado em dezembro de 2019, pelo atual presidente Jair Bolsonaro. O Pacote Anticrime é o resultado de propostas elaboradas pelo então ministro da Justiça, Sergio Moro e pela comissão de juristas coordenada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Essas alterações ampliam o rigor do regime disciplinar diferenciado. Dentre essas mudanças, algumas são relevantes ao regime disciplinar diferenciado, quais sejam: (i) inclusão de sujeitos podendo ser de âmbito nacional ou estrangeira; (ii) antes, conforme o inciso I, do artigo 52 da LEP, previa que a duração do regime era de no máximo 360 dias, agora esse dispositivo prevê que a duração máxima é de até 2 anos; 13 (iii) com relação ao inciso III atual, as visitas foram tomadas de formas mais rigorosas se tornando quinzenais, duas pessoas por vez, ainda sem contar criança. Antes, essas visitas eram de duas pessoas semanais e com duração de 2 horas. As visitas devem ser realizadas em um ambiente adequado, para impedir a passagem de objetos e deverá permanecer cada um de um lado, separados por um vidro; (iv) referente ao inciso IV, o banho de sol era individual, saindo da cela sozinho e assim permanecendo. Agora, de acordo com as novas mudanças, o preso poderá estar em um grupo de até quatro pessoas desde que não seja do mesmo grupo criminoso dele, (v) ao inciso V, foi regulamentado que as entrevistas são monitoradas, exceto com o advogado para manter o sigilo (as salas devem ser equipadas). (vi) no inciso VIII, houve um desdobramento, tendo um parágrafo acompanhado de dois incisos, tratando da questão que o RDD, poderá ser aplicado aos presos provisórios e não só presos condenados; (vii) o parágrafo 3 é novo e obriga que seja no estabelecimento federal nas hipóteses, do líder da organização criminosa, da milícia, da associação ou daqueles que praticam crimes de forma interestadual, ou seja, que atuam em mais de um estado; (viii) o 7° parágrafo, diz respeito a grande questão dos presos são transferidos e assim, ficando longe dos familiares. Muitos não conseguem se deslocar para o atual local do preso, inviabilizando o contato do preso com a família. As alterações decorrentes da criação do pacote anticrime, são necessárias, de modo que trouxeram maiores esclarecimentos do RDD, fazendo com que o regime se torne mais rigoroso e seguro, visando o bem estar da sociedade. 14 CONCLUSÃO Diante o exposto, concluímos que há necessidade da existência e utilização do regime disciplinar diferenciado. Entretanto, ainda existem alguns fatores que merecem novas reformas, que não foram abordadas nas mudanças trazidas no pacote anticrime, como por exemplo, a falência e precariedade do sistema carcerário, que não proporciona condição mínima necessária para cumprimento da pena em RDD. Inclusive, de acordo com o doutrinador Bitencourt, o regime disciplinar diferenciado pode causar abalos psicológicos, e faz analogias as antigas masmorras, classificando o RDD como cruel e desumanos. Por outro lado, ainda entende Superior Tribunal de Justiça que o RDD é uma consequência do ato do faltoso, nada mais é que uma sanção proporcional do seu ato, sendo certo que entende constitucional e aplicável. Por fim, entende-se que mesmo que haja uma leve semelhança entre analogias usadas pelo doutrinador, é de suma importânciao regime disciplinar diferenciado como um instrumento do Estado para manter a ordem nas unidades prisionais, mesmo que ainda falho e com necessidade de restruturação. 15 REFERÊNCIAS SANTOS, Thales Eduardo Gonçalves. Regime Disciplinar Diferenciado – RDD. Disponível em: https://thalessantos.jusbrasil.com.br/artigos/501843922/regime-disciplinar- diferenciado-rdd Acesso em: 28 de abr. de 2020. GOMES, João Paulo da Cunha. Regime Disciplinar Diferenciado - Necessária violação ao Princípio da Humanidade? Disponível em: https://cunhajpg.jusbrasil.com.br/artigos/193516024/regime-disciplinar- diferenciado-necessaria-violacao-ao-principio-da-humanidade. Acesso em 28 de abr. de 2020 CARVALHO, Geraldo Guilherme Ribeiro de. COELHO, Rubia Rodrigues Coelho. O regime disciplinar diferenciado: sanção desumana ou medida cautelar necessária para presos de alta periculosidade. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/70811/o-regime-disciplinar-diferenciado-sancao- desumana-ou-medida-cautelar-necessaria-para-presos-de-alta-periculosidade. Acesso em: 30 de abr. de 2020. CUNHA, Rogério Sanches. Regime disciplinar diferenciado. Breves comentários (rdd). Disponível em: https://rogeriosanches2.jusbrasil.com.br/artigos/121814548/regime-disciplinar- diferenciado-breves-comentarios-rdd. Acesso em: 30 de abr. de 2020. https://thalessantos.jusbrasil.com.br/artigos/501843922/regime-disciplinar-diferenciado-rdd https://thalessantos.jusbrasil.com.br/artigos/501843922/regime-disciplinar-diferenciado-rdd https://cunhajpg.jusbrasil.com.br/artigos/193516024/regime-disciplinar-diferenciado-necessaria-violacao-ao-principio-da-humanidade https://cunhajpg.jusbrasil.com.br/artigos/193516024/regime-disciplinar-diferenciado-necessaria-violacao-ao-principio-da-humanidade https://jus.com.br/artigos/70811/o-regime-disciplinar-diferenciado-sancao-desumana-ou-medida-cautelar-necessaria-para-presos-de-alta-periculosidade https://jus.com.br/artigos/70811/o-regime-disciplinar-diferenciado-sancao-desumana-ou-medida-cautelar-necessaria-para-presos-de-alta-periculosidade https://rogeriosanches2.jusbrasil.com.br/artigos/121814548/regime-disciplinar-diferenciado-breves-comentarios-rdd https://rogeriosanches2.jusbrasil.com.br/artigos/121814548/regime-disciplinar-diferenciado-breves-comentarios-rdd
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