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4 09 COC Elisao_e_evasao_fiscal_2


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Planejamento 
Tributário 
Prof. Fabio Pereira de Andrade 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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BLOCO 4. ELISÃO E EVASÃO FISCAL 2 
4.1. Introdução 
Após apresentarmos as categorias de Elisão e Evasão fiscal cabe aprofundar a 
abordagem. A partir desse objetivo, cumpre proporcionar uma perspectiva ampliada 
do planejamento tributário, pois em uma perspectiva inicial, o simples objetivo de 
buscar economia de tributos pode levantar dúvidas quanto à honestidade ou à 
idoneidade dos gestores que buscam esse tipo de ação. Especificamente é possível que 
sejam percebidos como atores que buscam tirar proveito de uma situação 
estabelecida, com o intuito de repassar para o conjunto da sociedade suas obrigações 
tributárias. 
Fabretti (2017, p.137) formulou uma resposta às perspectivas negativas que circundam 
o Planejamento Tributário: 
O planejamento tributário é a forma que os agentes econômicos têm de ver 
respeitada a sua capacidade contributiva, que é princípio geral do direito 
tributário (art.145, III, § 1°, da Constituição Federal). 
 
Ou seja, inicialmente, é preciso considerar que a possibilidade de exercer o 
planejamento tributário é um direito assegurado pela Constituição Federal de 1988. 
Ainda segundo esse autor, um fato que contribui para criar dificuldades para a 
arrecadação e para o contribuinte é o alto volume de mudanças na legislação 
tributária, a partir dele, as organizações precisam dedicar muito tempo para 
acompanhar as alterações produzidas, fato que amplia os custos de produção e/ou 
prestação de serviços, bem como, amplia as incertezas quanto aos recursos que 
deverão ser destinados ao pagamento de tributos. Nas palavras do autor: 
Às vezes, o governo tenta passar para a sociedade a falsa ideia de que o 
planejamento tributário é algo que prejudica o país... A verdade é que as 
alterações na legislação são feitas quase semanalmente, de forma 
torrencial, usando e abusando da edição e reedição de medidas provisórias 
(reedição que não é autorizada pela CF, art. 62)... Essas constantes 
alterações geram confusão e insegurança jurídica. Além disso, essa 
 
 
 
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legislação se contradiz, com frequência, em muitos pontos, produzindo 
diversas alternativas e abrindo lacunas na lei. (FABRETTI, 2017, p.137) 
 
Ou seja, o planejamento tributário para além de uma ação orientada para a economia 
de tributos justifica-se como uma resposta a complexidade de nosso sistema 
tributário. 
 
4.2. Elisão 
Como destacado previamente, a Elisão consiste na ação que gera uma economia 
tributária efetiva. No entanto, também já foi destacado que existe o risco de uma ação 
destinada a Elisão se converter em Evasão e, com isso, gerar uma Elusão. 
As possibilidades de efetivar a economia tributária relacionam-se com a correta 
interpretação das brechas, lacunas ou ausência de clareza da legislação. No entanto, a 
análise da legislação deve estar ajustada aos princípios jurídicos. 
Em termos estritos, Fabretti (2017, p. 144-145) estabelece que: 
Interpretar, como já foi frisado, significa, basicamente, determinar o 
conteúdo da lei, seu sentido e seu alcance. A interpretação é realizada pela 
autoridade que tem competência para aplicar a lei... O Direito Tributário não 
deve ter suas normas interpretadas separadamente... O Direito Tributário 
está inserido no Direito Administrativo, que por sua vez está inserido no 
Direito Constitucional. 
 
Considerando o trecho apresentado, é possível depreender que toda ação orientada 
para a Elisão deve estar amparada em amplo embasamento em entendimentos 
consolidados dos Direitos Tributário e Constitucional. 
Ainda seguindo a abordagem do referido autor, a forma com que o responsável aplica 
a lei tributária deve ser considerada antecipadamente pelo gestor que busca a Elisão. 
Em termos específicos, a forma de interpretação da legislação tributária deve seguir os 
preceitos estabelecidos no artigo 108 do Código Tributário Nacional, que define: 
a) analogia: destina-se a buscar pontos de semelhança entre fatos diferentes para que 
uma regra jurídica aplicável a um deles possa também ser aplicado a outro. Entretanto, 
o emprego da analogia não pode resultar em exigência de tributo não previsto na lei; 
 
 
 
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b) princípios gerais de direito administrativo: constituem-se em diretrizes que não 
estão explícitas diretamente nas normas jurídicas de direito tributário, mas que podem 
ser extraídas de um contexto em que estas normas estão inseridas. Por exemplo: se o 
contribuinte preenche uma guia de recolhimento de tributo de forma errada, mas não 
causa prejuízo ao Fisco, recolhendo exatamente a quantia devida, não pode ser 
responsabilizado a recolher multa, juros e correção monetária por uma infração fiscal; 
c) princípios gerais de direito público: são as mesmas diretrizes, mas que se encontram 
de forma geral no Direito. Assim, por exemplo, o princípio que se retira das normas de 
Direito Penal: a falta de provas da culpabilidade do réu permite que a regra jurídica a 
ser aplicada lhe seja mais favorável. Dessa forma, a ausência de provas para 
caracterizar um crime de sonegação fiscal permite que o contribuinte seja penalizado 
com aplicação de multa, sem a aplicação da pena privativa de liberdade; 
d) equidade: significa que, entre as várias interpretações possíveis para uma regra 
jurídica tributária, a autoridade competente deve utilizar a mais benigna para o 
contribuinte, a mais justa e condizente com os valores atuais da sociedade, adequando 
a lei às circunstâncias. Entretanto, o emprego da equidade na interpretação da lei 
tributária não pode resultar na dispensa de pagamento de tributo previsto em lei, 
tributo este devido pelo contribuinte. (FABRETTI, 2017, p. 145-146) 
De uma forma geral, os preceitos do Artigo 108 do CTN mostram que a análises dos 
atores responsáveis pelo julgamento da efetividade das ações deve ser parcimoniosa, 
mesmo em casos que são identificadas inadequações. Uma vez que mesmo nessas 
condições, a posse de documentos comprovatórios é um aliado que permite evitar 
prejuízos maiores. 
Contudo, cumpre destacar que essa é uma dimensão do CTN, avaliação distinta é 
apresentada por Ribeiro e Pinto (2012), pois foca-se exclusivamente na possibilidade 
de punição aventada no item c do artigo 108 da Lei. 
Para esses autores, atualização complementar do artigo 116, especificamente, Lei 
Complementar n° 104/2001 definiu um princípio que ampliou os poderes do agente 
responsável pela aplicação da legislação tributária, pois foi dada permissão para 
suspensão da caracterização como Elisão a partir de indícios. 
Em termos específicos, veja o que estabelece esse dispositivo legal (LC 104/2001): 
 
 
 
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Parágrafo Único. A autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou 
negócios jurídicos praticados com a finalidade de dissimular a ocorrência de 
fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da 
obrigação tributária, observados os procedimentos a serem estabelecidas 
em lei ordinária. 
Como pode se verificar, esse dispositivo legal deu amplos poderes à 
autoridade administrativa para descaracterizar a prática de elisão fiscal 
quando houve indícios de que atos ou negócios jurídicos praticados pelo 
contribuinte tiveram a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador 
do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação 
tributária. (RIBEIRO E PINTO, 2012, p.9) 
 
Ou seja, a partir desse entendimento, o gestor que decidir levar a cabo uma ação 
orientada para Economia Tributária precisa ter o máximo de zelo no planejamento e 
execução, pois a possibilidade de levantar indícios de tentativa de diminuir a 
arrecadação do governo. Fato que amplia a necessidade de robustecer a associação 
entre o objetivo de economia tributária e o núcleo das atividades do negócio. 
 
4.3. Evasão 
No que tange as ações que se caracterizam como evasão, Fabreti (2017) argumentao 
enquadramento está inserido na Lei dos Crimes Contra a Ordem Tributária, Econômica 
e Contra relação de consumo, a saber, Lei n° 8.137/90. 
No intuito de prevenir práticas que enquadrem em evasão, o autor supracitado 
elabora uma lista dos procedimentos que a Lei aponta como ilícitos: 
a) omitir informações ou prestar declaração falsa às autoridades 
fazendárias; 
b) fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou 
omitindo operação de qualquer natureza, em documento ou livro exigido 
pela lei fiscal; 
c) falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda ou 
qualquer outro documento relativo à operação tributável; 
d) elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba ou 
deva saber falso ou inexato; 
 
 
 
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e) utilizar ou divulgar programa de processamento de dados que permita ao 
sujeito passivo da obrigação tributária possuir informação contábil diversa 
daquela que é, por lei, fornecida à Fazenda Pública; 
f) fazer declaração falsa ou omitir declaração sobre rendas, bens ou fatos, 
ou empregar outra fraude, para eximir-se, total ou parcialmente, do 
pagamento do tributo. (FABRETI, 2017, p. 137-138). 
 
Como é possível deduzir a partir da listagem anterior, as ações que mais expõem o 
gestor a acusação de evasão são os procedimentos fraudulentos e omissão de 
informação, dessa forma, as especificações acerca da evasão reforçam as demandas 
por integração da contabilidade com a gestão de informação, pois para além das 
possibilidades decorridas da posse de documentos, os dispositivos da lei destacam a 
necessidade de ampla transparência de informações como registro, lançamento e 
escrituração das movimentações de entrada e saída de recursos da organização. 
 
4.4. Papel do Contador frente à difícil relação Elisão e Evasão 
 
Figura 1: Dimensões do Planejamento Tributário 
 
Fonte: elaboração própria a partir de Castro et alii (2007). 
 
A figura apresentada ilustra os diferentes conhecimentos que fundamentam o 
planejamento tributário. No que tange ao papel do contador, Ribeiro e Pinto (2012, 
p.12) estabelecem que o conhecimento do contador é fundamental para o 
 
 
 
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desenvolvimento de ações para a busca de economia tributária. Conhecimento que 
deve se fundamentar pelo constante monitoramento da produção legislativa em 
termos de tributos. 
Tal monitoramento implica na necessidade de acompanhar a formulação de Leis 
Complementares, Leis Ordinárias, Decretos-Leis, Decretos. Uma vez que essas 
informações permitirão o embasamento para a busca da Elisão. 
 
SAIBA MAIS 
Identificação de situações de elisão e evasão fiscal: um estudo com contadores no 
estado de Santa Catarina 
Disponível em: http://revista.crcsc.org.br/index.php/CRCSC/article/view/2220/1903 
 
Evasão fiscal, ética e controvérsias: percepções do agente fiscal sobre a ética fiscal dos 
contribuintes 
Disponível em: 
http://univates.br/revistas/index.php/estudoedebate/article/view/1324 
 
 
Referencial Bibliográfico 
CASTRO, F. A. V.; OLIVEIRA NETO, A. M.; SOUZA JUNIOR, A. A. L; SOUSA FILHO, R. C. 
Gestão e Planejamento de Tributos. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2007. 
FABRETTI, L. C. Contabilidade Tributária. São Paulo: Atlas, 2017. 
RIBEIRO, O. M.; PINTO, M. A. Introdução à Contabilidade Tributária. São Paulo: 
Saraiva, 2012. 
 
http://revista.crcsc.org.br/index.php/CRCSC/article/view/2220/1903
http://univates.br/revistas/index.php/estudoedebate/article/view/1324