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Universidade Estácio Online Pós-graduação em Comunicação e Mídias Digitais Izabel Cristina Costa Artigo: Idosos e Tecnologias da Informação e Comunicação São José dos Campos, São Paulo, 2019. Resumo O envelhecimento da população é uma realidade inquestionável, que pode significar ou não uma vida prazerosa. Para que o aumento da longevidade seja positivo, é necessário que os idosos tenham uma boa qualidade de vida. Segundo a OMS – Organização Mundial da Saúde – o termo “ativo” no contexto do envelhecimento, refere-se à “participação contínua na vida social, econômica, cultural, espiritual e cívica”, indo muito além da possibilidade de ser física e profissionalmente ativo. O número de pessoas com mais de 60 anos que está constantemente conectada têm crescido consideravelmente e a tendência é o seu aumento, embora haja ainda uma parcela deste público à margem das chamadas TIC – Tecnologias da Informação e Comunicação – uma vez que existe certa visão estereotipada de que a Internet é pensada especialmente para os jovens. Palavras-chave: envelhecimento da população, idosos, tecnologia, Internet, qualidade de vida. Tecnologias da Informação e Comunicação e envelhecimento da população Observa-se uma grande transformação demográfica iniciada no último século: a evidência de uma população cada vez mais envelhecida e a constatação de que esta é uma realidade incontornável. Trata-se da consequência de desenvolvimentos científicos e técnicos, das alterações econômicas e do aumento da conscientização conferida à educação, à higiene e à saúde pública. Estes fatores contribuíram para a possibilidade e o usufruto de uma vida melhor e mais longa. Do outro lado, é notório que as TIC – Tecnologias da Informação e Comunicação – têm se instalado no dia a dia de todos de forma contundente. Para os jovens, nascidos numa época digital, é natural e simples o estabelecimento de uma relação íntima, de identificação com estas ferramentas, contudo, para os idosos, essa modernidade pode ser mais ou menos aceita, a depender da personalidade e da história de vida de cada indivíduo. Os mais abertos e menos temerosos podem adaptar-se com mais facilidade, já outros podem se sentir excluídos e à margem desta evolução. Os que tiveram acesso às tecnologias anteriores, seja através de suas atividades profissionais ou de níveis de escolaridade, terão mais inclinação a aprender, já outros podem apresentar resistência, receio ou timidez. A pesquisa bibliográfica foi a principal metodologia utilizada neste artigo. A investigação permitiu transcorrer temas como: a utilização da Internet na diminuição da solidão, no aumento do acesso à informação, na frequência da comunicação entre familiares e amigos, e, consequentemente, no aumento da qualidade de vida das pessoas idosas. Fontes provenientes de livros e artigos digitais mostraram o evidente crescimento populacional dos idosos no mundo, bem como, as alterações que esse crescimento trará para a vida em sociedade. A observação, outra metodologia utilizada, e o debate com colegas e familiares também trouxe grande contribuição para a elaboração deste trabalho, que visa, tão e somente, por luz ao tema “idosos x tecnologia” e apontar tarefas e eventuais atitudes, comumente atribuídas aos profissionais de comunicação e mídias digitais, que poderão trazer avanços e maior facilidade de utilização por parte dos idosos, no uso das tecnologias de informação e comunicação. O cenário Segundo pesquisa divulgada pelo IBGE, 19,7% da população idosa brasileira utiliza a Internet. Dez anos antes, os usuários eram 6,5%. O número de idosos dessa faixa etária que utiliza o celular também aumentou, de 15,2% em 2006 para 69,6% em 2018. De acordo com o levantamento, o Brasil tinha 28 milhões de idosos no ano passado, ou 13,5% do total da população. Em dez anos, chegará a 38,5 milhões, 17,4% do total de habitantes. Em 2050, o percentual de idosos no Brasil deve chegar a 29,3%. Isso dá ideia da quantidade de pessoas nesta faixa etária fará uso da Internet num futuro próximo. O aumento da população de internautas da melhor idade ainda mais expressivo do que nas pesquisas anteriores, deverá aparecer no próximo Censo Demográfico do IBGE, que acontecerá em 2020. Dados fornecidos pelo Google e outras fontes externas mostram que hábitos da população terão um grande impacto em nossa sociedade, sendo necessário que as empresas, governos, instituições de serviços públicos se adaptem a esse público. Na sociedade atual, o discurso diz que ninguém deve ser deixado de fora, que todos têm a oportunidade de conhecer e comunicar-se; que estamos numa sociedade global e conectada. O fato é que as tecnologias da informação e comunicação vão além dos simples processos de comunicação: elas estão transformando diversas áreas da atividade humana. A invasão tecnológica A tecnologia invade o nosso dia a dia naturalmente, sem que percebamos. Para os jovens tudo isso é muito simples e natural, porém, para os idosos, vindos de uma outra geração bem diferente, a adaptação a essa nova situação pode ser mais complexa e mais lenta. Ademais, a cada dia surge uma nova palavra, uma nova função no computador ou no smartphone, um novo aplicativo ou um novo aparelho eletrônico. Empresas, instituições, residências, meios de transporte... a sociedade em geral tem se informatizado. Ela tem, inclusive, criado um certo grau de dependência com tudo o que é eletrônico. Faz parte desta mudança tecnológica tudo o que envolve a Internet. Tim O’ Reilly, num ciclo de conferências em outubro de 2004, deu-lhe um novo significado, ao se referir a esta como web 2.0. Atualmente estamos na web 4.0. Este conceito, que rapidamente se popularizou, foi definido como “mudança para uma Internet como plataforma, e um entendimento das regras para obter sucesso nesta nova plataforma. Entre outras, a regra mais importante é desenvolver aplicativos que aproveitem os efeitos de rede para se tornarem melhores quanto mais forem usados pelas pessoas, aproveitando a inteligência coletiva” (O’ Reilly, 2004). Esta nova dimensão coletiva, de indivíduos ligados entre si que compartilham, colaboram e geram conhecimento, está à distância de um clique. Muito mais do que uma tecnologia, a Internet torna-se, assim, uma rede de confluência comunicacional, o que permite o aparecimento de novas formas de sociabilidade (Castells, 2004). Se esta nova sociedade dá preferência às TIC para criação e compartilhamento da informação, então facilmente se conclui que quem não tem acesso à tecnologia, estará à margem, excluído de toda esta movimentação social. Um dos grupos que imediatamente surge entre os potencialmente excluídos é o dos idosos, uma vez que foram educados numa época em que saber ler, assinar e efetuar cálculos matemáticos básicos era o suficiente para se sentirem inseridos. McLuhan (1964) argumentou que as características das tecnologias de comunicação moldaram as condições e organizações sociais. Essa linha de raciocínio foi sucintamente capturada em sua famosa afirmação de que “o meio é a mensagem”. No entanto, o ambiente midiático mudou drasticamente nas últimas décadas passando de uma predominante comunicação de massa para um ambiente de redes sociais personalizadas (Campbell e Park 2008). Castells (2000) caracteriza a sociedade atual como uma nova estrutura social em rede e parafraseia McLuhan ao dizer que “a rede social é a mensagem”. Entretanto, o número de pessoas na melhor idade que acessam a Internet tem crescido. Esse grupo está se tornando cada vez mais consciente das potencialidades das novas tecnologias, e da necessidade de seu uso. Idosos utilizam a ferramenta principalmente para se comunicar entre os seus, como fonte de informação (saúde, medicina), para lazer epara auxiliar na execução de serviços (compras, planejamento de viagens, organização financeira) (Nimrod 2010; Pew Internet & American Lifeproject 2004). A grande quantidade de informação gerada pela sociedade em rede permite aos indivíduos novas oportunidades, ao mesmo tempo que exige deles competências operacionais e de decodificação. É no contexto de uma sociedade em rede que se desenvolve a vida quotidiana de milhões de pessoas, sendo necessária a formação dessas pessoas para a utilização adequada das referidas tecnologias, e isso exige novas abordagens pedagógicas. A centralidade da sociedade em rede também tem contribuído para acentuar diversas desigualdades entre países, grupos e pessoas no que diz respeito ao acesso à Internet (Henriques, 2011: 3). Há acesso limitado ou inexistente à rede, e há a incapacidade para certos indivíduos, de tirarem partido dela. No caso dos idosos, ser excluído digitalmente significa, simultaneamente, não ter acesso e não poder executar um conjunto de ações essenciais para as suas necessidades básicas diárias. O conceito de inclusão digital emerge, assim, como uma forma de atenuar as diferenças entre aqueles que dominam as tecnologias da informação e da comunicação e os que não o fazem, tal como acontece com uma parte significativa dos idosos no Brasil. Incluir, tecnologicamente, significa apreender o discurso da tecnologia, não apenas na ótica de execução e de qualificação, mas também na perspectiva de os indivíduos serem capazes de se entusiasmarem com a importância e a finalidade do mundo virtual. A formação dos idosos, neste sentido, emerge como um meio de alcançarem maior autonomia, participação social, conhecimentos, desenvolvimento pessoal, aptidões concretas que possibilitem o seu relacionamento com outros indivíduos (Vallespir e Morey, 2007: 241). Permite-lhes ainda desfrutar do tempo de forma diferente após a saída do mundo profissional. Pesquisas mostram que o público da melhor idade busca, através das redes sociais, o relacionamento com familiares e amigos, além das notícias sobre as cidades em que vivem, preços no comércio, manterem-se a par das notícias políticas, esportes e moda. Idosos mais ousados encontraram a beleza das viagens digitais e o valor de ler resumos de livros através de um simples clique. A geração mais velha descobriu que o Facebook, o Skype e o Whatsapp são ótimas formas de trazer para perto familiares e amigos que estavam distantes até então. Outra revelação das pesquisas é que os mais idosos ganham “parceiros de navegação”: filhos e netos os auxiliam no uso da Internet, seja utilizando o computador ou os aparelhos de celular. Nas redes sociais, eles identificam outras pessoas da mesma faixa etária que também estão online e, assim, usam a ferramenta para criar grupos de discussão para questões pertinentes a eles. Questões que vão de demência à depressão, divergências políticas e assuntos de família – todos podem dar e receber apoio, informação e interação no conforto de suas casas. Quando se trata de números, as pesquisas informam que dos 10 milhões de novos usuários de Internet, 23% tinham 60 anos ou mais. No mesmo período, a população idosa cresceu em cerca de 1 milhão, enquanto a população de 60 anos ou mais usuária de Internet cresceu 2,3 milhões. Em 2016, o percentual de idosos acessando a Internet em relação ao total de internautas era de 24,7%, e saltou para 31,1% em 2017, uma variação de 25,9%. Os mais velhos descobriram que nestes tempos modernos é impossível levar uma vida sem o uso do celular ou computador. A geração mais velha, que até pouco tempo atrás, desconhecia que através da web pode-se realizar quase todas as transações bancárias utilizando os aplicativos dos bancos, já está menos receosa. Aplicativos para pedir táxi ou outro meio de transporte, comida, marcar exames e consultas, aprender idiomas, conhecer pessoas, entre muitas outras tarefas que facilitam a vida estão se tornando comuns entre os idosos mais audaciosos, os que não apresentam medo da tecnologia. Sobre o uso de Internet No Brasil, os “vovôs e vovós” do Rio de Janeiro e de São Paulo são os maiores fãs da Internet com, respectivamente, 75% e 73% das conexões brasileiras. Na região Norte, 58% dos clientes de uma operadora de Internet estão acima dos 60 anos. O levantamento aponta que as mulheres de todo o país se mostram mais conectadas: 65% delas utilizam dados contra 62% dos homens. Mais do que apenas interação Um dos aspectos importantes dos sistemas tecnológicos é sua aplicação nas ciências da saúde. Biotecnologia e ciência da computação, por exemplo, são links vinculados que permitem diagnósticos médicos, intervenções cirúrgicas, registros sistematizados (registros clínicos do paciente, relatórios estatísticos, bancos de dados confiáveis) e terapias aplicadas para contribuir com dados precisos e maior controle do processo de saúde / doença do paciente. Há um estudo realizado na Alemanha intitulado "Alter und Technik: Studie zu Technikkonzepten, Techniknutzung und Technikbewertung älterer Menschen" – cuja tradução é Envelhecimento e técnica: estudo de conceitos técnicos, usos técnicos e avaliação de tecnologias em idosos – argumenta que, em matéria de envelhecimento, a inovação significa desenvolver com criatividade e tecnologias de responsabilidade social ao serviço da comunidade longeva. Os objetivos desta investigação são incentivar a mobilidade e a funcionalidade, aumentar a autonomia, promover a atividade através do reconhecimento de papéis, melhorar a autoestima e maximizar as capacidades adaptativas. A adaptação dos idosos no uso das TIC aumenta a possibilidade participativa, cria redes de suporte e reduz as chamadas "lacunas digitais". A aplicação das TIC não é apenas extremamente útil na pesquisa de natureza clínica, mas fundamentalmente nas atividades do cotidiano. As tecnologias de informação reintroduzem o usuário no mundo, tornam-o capaz de interagir, estimulam o reconhecimento e atualizam relacionamentos afetivos. Além disso, as tecnologias são orientadas para recriar a vida lúdica. Os jogos virtuais podem ser estruturados a partir de fins terapêuticos. Podem existir jogos que ajudem a neutralizar ansiedade e a depressão. Também é possível projetar jogos inseridos em telefonia celular ergonomicamente adaptada às necessidades anatómicas e de mobilidade do indivíduo. Há uma abundância de desenhos tecnológicos que podem ser feitos que existem no mercado instrumental médico: Meias com sensores para monitorar a pressão das extremidades articulares, eletroímãs ou chips articulados para formar rede ou "cap" que estimulam certos neurotransmissores e assim combater dores de cabeça ou monitorar estados depressivos, bastões e pulseiras que ajudem a controlar sinais vitais, entre outros. Em termos de mobilidade urbana, a ciência da computação é básica para trabalhar lado a lado com engenharia automotiva, por exemplo. O que pode a tecnologia fazer pelas pessoas mais velhas Casas inteligentes; dispositivos móveis para monitorizar o estado de saúde ou a localização dos indivíduos; sensores concebidos para medir parâmetros bioquímicos e sinais vitais; robótica destinada a gerir a tomada de medicação, ingestão de alimentos são alguns dos exemplos que podem melhorar a qualidade de vida de muitos idosos. Estas tecnologias podem ter um propósito preventivo (por exemplo, na prevenção de quedas), ou de compensação e assistência em casos de perda de funcionalidade (por exemplo, softwares para reabilitação física ou cognitiva). Não se pretende, com as aplicações tecnológicas especializadas, substituir o cuidado ou a interação humana, claramente insubstituíveis, mas sim, minimizar as dificuldades colocadas à prestação de cuidados visando efeitos positivos não só na qualidade de vida das pessoas mais velhas, mas tambémna dos seus cuidadores. Mercado de trabalho Nos últimos anos, uma grande parcela da população pertencente a melhor idade tem voltado ao mercado de trabalho. O aumento da expectativa de vida dos brasileiros, somando à disposição para manter-se ativo são os principais motivos para que o idoso decida voltar a trabalhar. Além disso, muitos buscam uma forma de complementar a renda, devido ao baixo valor da aposentadoria. Empresas têm enxergado uma grande oportunidade com a inclusão desses profissionais, principalmente no setor de serviços e comércio. Os idosos trazem experiência profissional e experiência de vida. Para além dos eventuais preconceitos, uma empresa comprometida com a responsabilidade social certamente será bem vista pela sociedade e seus stakeholders, especialmente se e quando essas ações não são movidas apenas por questões de cumprimento de leis e cotas. Ao criar um programa para inclusão da melhor idade, as organizações têm muito a ganhar, contribuindo para um ambiente sadio e diversificado. Algumas empresas têm se destacado com a iniciativa de criar programas para contratação de pessoas na melhor idade. Um exemplo é o Grupo Pão de Açúcar que emprega mais de 3,4 mil funcionários com mais de 55 anos em todo Brasil. A maioria dessas vagas são destinadas para empacotadores, pois não há exigência mínima de experiência, porém há oportunidades para setores diversos. Outra empresa que oferece oportunidades para profissionais na melhor idade é a TOTVS, com seu programa “Geração Sênior”. O objetivo do programa é melhorar o atendimento ao cliente. A TOTVS identificou que esses profissionais maduros têm mais “jogo de cintura” para desempenhar essas atividades. A empresa de Consórcios Ebracon criou o programa Ebracon +50. O objetivo é fazer a inclusão de pessoas na melhor idade em todos os departamentos da empresa. Uma porcentagem desses profissionais ocupa cargos de liderança na empresa e o restante são analistas. Apesar de certa mudança de cenário e todas as iniciativas de sucesso citadas, ainda existe certa resistência de muitas empresas para contratar idosos, principalmente devido há algumas características não tão positivas, tais como: • baixa criatividade; • falta de adaptação a novas tecnologias; • problemas em realizar trabalhos pesados. Segundo dados do IBGE, os idosos ativos no mercado de trabalho atuam: • no setor de serviços (53%); • seguido pelo comércio (22.3%); • e indústria (11,9%). Benefícios ao público idoso Médicos especialistas atestam que estar conectado com as redes sociais traz melhoras na saúde mental e aumenta o bem-estar do idoso. Pesquisadores na área concluíram que as pessoas que aprenderam a usar esses meios passaram a se isolar menos e se tornaram mais ativas. E isso era um problema até tempos recentes, porque os idosos eram isolados – ou se isolavam – dos mais jovens e até mesmo de gente de sua própria idade por questões de distância e locomoção. Um estudo científico analisou pessoas entre 65 e 95 anos e descobriu que estar conectado pode ajudar nos problemas de saúde, ajudando a diminuir, de certa forma, a solidão tão comum na melhor idade. Eles se tornam mais competentes e mais sociáveis, melhoram as atividades cognitivas e eliminam sintomas de depressão. A outra face da moeda De acordo com o estudo “Digital Lifestyles: Adults aged 60 and over”, divulgado pelo Office of Communications – Ofcom, 2009, realizado em 2008 no Reino Unido, “comparado com a população adulta, as pessoas com 60 anos ou mais têm menor probabilidade de viverem em lares com televisão digital e Internet e usar com regularidade as vantagens dos novos media”. Outras pesquisas indicam que somente 20% a 40% de pessoas acima dos 60 anos utilizam a Internet e entre esses usuários, encontram-se principalmente pessoas com alto capital cultural e financeiro (Boulton-Lewis, et al. 2007; Pew Internet & American Life Project 2010). Fatores como preço dos equipamentos, medo da tecnologia, falta de habilidade técnica e dificuldades em ler as letras pequenas na tela podem colaborar para esse percentual. A inferioridade dos idosos no mundo digital pode trazer consequências pessoais, pois essa frágil literacia midiática entre as pessoas mais velhas faz com que, muitas vezes elas se sintam deixadas para trás, não pertencentes ao mundo moderno e, consequentemente, menos desejáveis como força de trabalho. Também podemos interpretar a resistência de alguns idosos às novas tecnologias como consequência de pertencerem a um grupo, cujo conhecimento e experiência prática em lidar com o novo é limitado (Hagberg 2012). É curioso ouvir de algumas pessoas idosas como a impossibilidade de usar o computador e a Internet está associada a termos negativos como “vergonha”, “analfabetismo” e “sentir-se mal”. Estar ou não no mercado de trabalho revelou-se um fator significativo para a domesticação do computador, mas não foi determinante, pois muitos idosos dizem ter utilizado o computador depois de estarem aposentados. O Brasil e a atualidade A observação do ambiente brasileiro nos faz concluir que não há políticas públicas suficientes que abarquem o número atual de pessoas na melhor idade, sendo assim, necessário abranger e trabalhar intensamente para alcançar um patamar razoável nos próximos anos. Ainda com base na observação, a realidade mostra que as estratégias nacionais adotadas para sair da crise econômica dos últimos anos consistem, basicamente, em medidas relativas às finanças públicas e a recuperação econômica, muitas vezes em detrimento das questões sociais. Na vida particular dos idosos, podemos inferir que a crise econômica do país tem impacto sobre as pessoas mais velhas e seus inerentes comportamentos. Cuidados com a saúde e a alimentação são prioridade. Outros serviços, mesmo que importantes para o bem-estar, são colocados de lado. Dessa forma, é natural que no contexto de crise econômica e social em que grande parte dos brasileiros se encontra atualmente, as propostas apresentadas para envelhecimento ativo sejam desafiadas, tornando-se, talvez, menos eficazes. Hoje, milhares de seniores brasileiros beiram a exclusão social e, por conseguinte, a exclusão digital. Cursos para aprender a utilizar as TIC Para estabelecer a chamada inclusão digital, notadamente cidades de maior porte e poder aquisitivo e cultural, há um significativo crescimento das aulas criadas exclusivamente para quem tem mais de 50 anos e deseja aprender os segredos da web. Pesquisas mostram que a Internet se tornou uma maneira importante de exercitar a mente dos idosos. Quando são treinados no uso dos meios de comunicação social, como por exemplo, Skype, Facebook e e-mail, eles têm melhor desempenho cognitivo e a experiência melhoria da saúde. Os resultados aparecem logo, eles demonstram alegria e se divertem nos teclados. Em linhas gerais, os cursos de tecnologia direcionados aos idosos objetivam a inclusão digital abrangem o básico do computador e dos aparelhos de celular: instruções no uso de e-mail e plataformas de redes sociais. Eles objetivam: • Diminuir o índice de marginalização desse público; • Incentivar a adaptação à nova era da informação; • Favorecer a educação continuada; • Apresentar conceitos básicos de tecnologia; • Orientar sobre o melhor uso de redes sociais, aplicativos, programas de edição de fotos e vídeos; • Elevar o idoso a um patamar seguro, onde ele possa explorar as possibilidades que a conexão proporciona. O ensino à distância, que hoje é dotado de ferramentas tecnológicas que flexibilizam o aprendizado, pode ser um caminho para que os idosos sigam atuando no mercado de trabalho, mesmo diante de eventuais dificuldades de manuseio de alguns dispositivos e plataformas. Pessoas idosas podem dominar plenamente a tecnologia, desde que as orientaçõessejam mais específicas e que se leve em conta um tempo maior para a aprendizagem num primeiro momento, para sua melhor familiarização. A melhor idade para consumir Vários idosos costumam aliar recursos financeiros, disposição e tempo suficiente para gastar. Combinando isso com um maior acesso à tecnologia, o resultado é uma geração conectada com um potencial de consumo elevado. Um relatório divulgado pelo Google – com números e insights sobre os seniores no Brasil – mostrou que o ticket médio da melhor idade no e-commerce chega a ser 28% maior do que a média geral. Na Black Friday 2018, pessoas com mais de 55 anos compraram 1,4% vezes mais celulares do que o público entre 18 e 54 anos. Saber atingir esse público pode trazer não apenas ganhos de imagem e posicionamento de marca, e sim alavancar significativamente as vendas. Conclusão Nos últimos anos, associações e movimentos políticos de defesa e promoção dos direitos da pessoa idosa passaram a veicular um novo entendimento de velhice. Esta passou a estar associada a designações positivas que a projetam num tempo de lazer, de liberdade e de autoaperfeiçoamento – são exemplos disso expressões como “universidade da melhor idade”, “turismo sênior”, “melhor idade integrada em rede”. Podemos apontar que as apropriações e usos que os idosos, de forma geral, dão às tecnologias foram influenciadas pelas suas histórias de vida e que diferenças sociais, de classe, culturais, geográficas, de educação, de carreiras profissionais, juntas, definiram uma série de expectativas, necessidades e competências que marcaram diretamente o modo como eles lidam com as TICs. A visão geral que os idosos possuem das tecnologias está longe de ser negativa e esteve quase sempre ligada à rapidez da transmissão da informação e de comunicação com os seus. Idosos acompanham sim as transformações tecnológicas, embora seja inegável uma parcela da população brasileira, pertencente a esta faixa etária, e que hoje se encontra excluída. Para a população idosa (e não somente a idosa) que hoje está alheia e excluída do mundo digital, há que se tomar providências para diminuir a lacuna entre os alfabetizados digitais e os não-alfabetizados digitais. O Brasil carece de políticas públicas voltadas às necessidades básicas dos idosos, por conseguinte, a inclusão digital pode ficar restrita e causar ainda mais o sentimento de exclusão, num futuro próximo. A exclusão digital trará complicações não só para os usuários, mas também, contribuirá para uma menor efetividade dos serviços públicos oferecidos, ou seja, um descontentamento geral causado simplesmente porque essa população não saberá utilizar o que está sendo oferecido. Vale lembrar que não se trata apenas de interação e de comunicação, mas sim, de uma série de produtos e serviços – médicos, de saúde pública, de mobilidade – que podem contribuir para a qualidade de vida do indivíduo. Governo, associações, igrejas e iniciativas privadas podem contribuir com ações pontuais, no âmbito geográfico mais conveniente a elas, de forma a abarcar as cidades de menor porte e as comunidades longevas. O público sênior é um segmento cada vez mais conectado, mas, que não utiliza todos os recursos e possibilidades que a tecnologia permite por falta de informação ou receio. Para obter (mais) autonomia diante de um computador ou celular, os cursos de informática podem ser uma boa opção. Algumas universidades e instituições oferecem cursos gratuitos específicos para este público. Aos empresários, é oportuno pensar na implantação de escolas de informática e de cursos específicos para este público, bem como na atração de profissionais qualificados para ministrar aulas com o devido conhecimento pedagógico. No que confere aos profissionais de comunicação e mídias digitais, marcas e empresas devem conhecer as características de consumo da população idosa, criar estratégias e campanhas virtuais exclusivas para esse público, pensar produtos e serviços, layouts de fácil acessibilidade que atraiam e agradem a melhor idade em termos de design, cores, características, usos e aplicações. A utilização das TICs oferece ao idoso mais autonomia, maior bem-estar e integração social e, por conseguinte, maior índice de felicidade. Bibliografia O’REILLY, Tim. Web 2.0: compact definition? http://radar.oreilly.com/archives/2005/10/web_20_compact_definition.html. Acessado em: 28/06/2019. 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