Baixe o app para aproveitar ainda mais
Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
BIOMECÂNICA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO AULA 4 Profª Renata Wolf 2 CONVERSA INICIAL O shoulder-core, também chamado de complexo do ombro, possui várias articulações e é responsável pela maior parte dos movimentos do braço e para que estes sejam realizados, é necessária a ação de vários músculos estabilizadores, tanto estáticos, quanto dinâmicos. Entre essas articulações, há a glenoumeral, a mais móvel do corpo humano, por isso está sujeita a maior risco de lesão. Portanto, o objetivo desta aula é discorrer sobre o shoulder-core, ou complexo do ombro, e suas articulações subjacentes: cotovelo e punho. E, ainda, apresentar as funções e as características anatômicas dos movimentos que podem predispor a lesões nessas estruturas. TEMA 1 – CONCEITO E ANATOMIA DO SHOULDER-CORE O shoulder-core permite que haja estabilização das articulações durante os movimentos, além da interação entre as diversas articulações para que os movimentos do membro superior sejam eficientes e suaves. 1.1 Conceito O shoulder-core envolve a cintura escapular e a articulação do ombro. A primeira liga o tórax aos membros superiores e, além disso, apresenta certo grau de rotação em relação ao eixo da coluna vertebral, atuando na ampliação dos movimentos dos membros superiores. Por sua vez, o ombro é uma articulação bastante complexa e a mais móvel de todo o corpo humano, por isso necessita de proteção estrutural e de controle funcional. São essas articulações que permitem os movimentos de lançar, realizar as braçadas da natação, fazer as ações da ginástica, como o crucifixo nas argolas, e os movimentos não relacionados ao esporte, como costurar e carregar uma mala. 1.2 Anatomia da cintura escapular A cintura escapular está situada na altura entre a segunda e a sétima costela, articulando-se com dois outros ossos, o úmero e a clavícula, e também ao tronco por intermédio da última costela (12ª costela). A cintura escapular é constituída em si pelas duas escápulas e pelas duas clavículas. As escápulas são ossos grandes, lisos e triangulares, nas quais muitos músculos se inserem, 3 fazendo com que elas facilitem uma maior alavanca para estes. Elas envolvem quatro articulações (Hall, 2018): esternoclavicular, acromioclavicular, escapulotorácica e glenoumeral (articulação do ombro). 1. Esternoclavicular: os ossos envolvidos nesta articulação são o esterno e a clavícula. Esta liga-se ao manúbrio do esterno, o único ponto de fixação do membro superior com o tronco, proporcionando o eixo principal de rotação para os movimentos da clavícula e da escápula. Esta articulação possui um disco fibrocartilaginoso e é reforçada por ligamentos, sendo o principal deles o costoclavicular. Os músculos também proporcionam reforço e apoio para a articulação e, ainda, essa articulação possui uma forte cápsula articular com a função principal de poder de recuperação em casos de lesões de luxação ou ruptura. 2. Acromioclavicular: os ossos envolvidos nesta articulação são a escápula e a clavícula, sendo que a extremidade distal da clavícula liga-se ao acrômio da escápula. Ela está situada acima da cabeça do úmero e é nela que ocorre a maioria dos movimentos da escápula com relação à clavícula, além de ser nela o recebimento de grandes tensões de contato, como resultado de grandes cargas axiais, as quais são transmitidas pela articulação. Além disso, possui um disco fibrocartilaginoso e a estabilidade desta articulação é feita pelos ligamentos coracoclaviculares. 3. Escapulotorácica: estrutura considerada uma articulação funcional por não apresentar as características anatômicas comuns às demais articulações, como união por tecidos cartilaginosos ou sinoviais. É a região entre a superfície anterior da escápula e a parede torácica (Hall, 2018). É uma articulação fisiológica, ou seja, os músculos e as bursas permitem o movimento da escápula no tórax e é esta articulação que possibilita vários movimentos da escápula e do ombro. 4. Glenoumeral: os ossos envolvidos nesta são a cabeça do úmero com a cavidade glenoidal rasa da escápula. Esta é a articulação do ombro que representa os movimentos do braço e permite maior amplitude de movimento e mobilidade entre todas as articulações do corpo humano. A cavidade glenoidal da escápula tem um quarto do tamanho da cabeça do úmero e essa diferença de tamanho permite a mobilidade extrema da articulação. Em qualquer momento, somente 25% a 30% da cabeça do úmero estará em contato com a cavidade glenoidal. O que mantém a 4 estabilidade da articulação são os músculos e seus tendões e os ligamentos, na cápsula articular. Créditos: Blamb/Shutterstock. Os principais músculos envolvidos na cintura escapular são: 1. Trapézio: tem sua origem na base do crânio e nos processos espinhosos da 7ª vértebra cervical até a 12ª vértebra torácica. Sua inserção ocorre no terço lateral da clavícula, no acrômio e na espinha escapular, possui quatro unidades funcionais, sendo que as fibras superiores realizam a elevação da escápula; as fibras intermediárias, a retração (adução); e as fibras inferiores, a depressão. Quando agem juntas, a porção superior e inferior, fazem a rotação da escápula. 2. Romboide: tem sua origem nos processos espinhosos da 7ª vértebra cervical até a 5ª vértebra torácica, sua inserção ocorre na borda medial da escápula, da espinha até o ângulo inferior e faz a rotação inferior e adução da escápula. 3. Peitoral menor: tem sua origem nas 3ª, 4ª e 5ª costelas, sua inserção é na extremidade do processo coracoide e é responsável pela abdução e rotação para baixo da escápula, além de ter papel na respiração profunda e forçada. 4. Subclávio: originado na superfície superior da 1ª costela, com sua inserção ao longo da superfície inferior da clavícula e estabelece a tração medial da clavícula, fixando-a ao esterno. 5 5. Serrátil anterior: com origem na superfície externa e lateral das oito primeiras costelas, sua inserção é na superfície anterior da borda medial da escápula, do ângulo superior ao inferior e é responsável pela abdução, rotação da escápula, além de ter papel na respiração. 6. Elevador da escápula: tem sua origem no processo transverso das quatro primeiras vértebras cervicais, sua inserção ocorre na borda medial da escápula até o ângulo superior e realiza a elevação da escápula, além de manter sua postura natural. Em relação à articulação do ombro, os principais músculos são: 1. Deltoide: tem três porções, sendo que cada uma possui uma origem própria: a anterior é originada no terço lateral da clavícula; a medial, no acrômio; e a posterior, na espinha da escápula. A inserção do deltoide é única, ocorrendo na tuberosidade deltoidea. Como mencionado anteriormente, possui três unidades funcionais, sendo que as fibras anteriores realizam flexão, abdução e adução horizontal, as mediais fazem abdução e adução horizontal e as posteriores operam na hiperextensão e na abdução horizontal. 2. Peitoral maior: tem origem na metade medial da clavícula, no esterno, nas seis primeiras cartilagens costais e na aponeurose do músculo oblíquo externo do abdômen. Sua inserção ocorre na crista do tubérculo maior do úmero e realiza os movimentos de flexão, extensão, adução e adução horizontal. 3. Redondo maior: tem origem a partir do processo espinhoso da 7ª vértebra cervical até os processos espinhosos das cinco primeiras vértebras torácicas. Sua inserção ocorre da espinha ao ângulo inferior da escápula e realiza os movimentos de extensão, adução e rotação interna. 4. Redondo menor: tem origem a partir do processo espinhoso da 7ª vértebra cervical até os processos espinhosos das cinco primeiras vértebras torácicas. Sua inserção é da espinha ao ângulo inferior da escápula e realiza os movimentos de rotação externa. 5. Latíssimo do dorso: originado nos processos espinhosos das vértebras torácicas, na crista ilíaca e na fáscia toracolombar, sua inserção ocorre na crista do tubérculo menor e sulco intertubercular do úmero e realiza os movimentos de extensão, hiperextensão e adução do ombro. 6 6. Supraespinhoso: tem origem na fossa supraespinhal da escápula. Sua inserção ocorre no tubérculo maior do úmero e realiza os movimentos de abdução e rotação interna. 7. Subescapular: tem origem na face costal da escápula, sua inserção ocorre no tubérculo menor do úmero e realiza o movimento de rotação interna. 8. Infraespinhoso: tem origem na fossa infraespinhal da escápula, sua inserção ocorre no tubérculo maior do úmero e realiza os movimentos de rotação externa e abdução horizontal. TEMA 2 – ESTRUTURA FUNCIONAL DO SHOULDER-CORE O shoulder-core envolve a cintura escapular e a articulação do ombro, sendo que cada parte realiza movimentos próprios e, portanto, estudaremos a cinesiologia da cintura escapular e do ombro. 2.1 Cintura escapular A cintura escapular envolve a escápula, a clavícula, o manúbrio do esterno e o tórax. A escápula é capaz de realizar os movimentos de elevação e depressão, adução e abdução, e rotação para cima e para baixo. 1. Elevação: é o movimento de elevar a escápula, como quando os ombros são elevados. Este movimento ocorre no plano sagital e no eixo transversal. 2. Depressão: é o movimento de abaixar as escápulas, como quando os ombros são abaixados. Este movimento ocorre no plano sagital e no eixo transversal. 3. Adução: também chamado de retração, é quando a borda medial da escápula se aproxima da linha média. Este movimento ocorre no plano transversal e no eixo longitudinal. 4. Abdução: também chamado de protração, é quando a borda medial da escápula se afasta da linha média, movimento que ocorre no plano transversal e no eixo longitudinal. 5. Rotação para cima: é quando a base da escápula oscila no sentido lateral. Este movimento é feito no plano frontal e no eixo sagital. 6. Rotação para baixo: é quando a base da escápula oscila no sentido medial, movimento no plano frontal e no eixo sagital. 7 2.2 Ombro O ombro envolve a cabeça do úmero e a cavidade glenoidal da escápula. É uma articulação triaxial, ou seja, realiza movimentos nos três planos de movimento, com maior amplitude de movimento e maior mobilidade do corpo humano. Os movimentos realizados pelo ombro são: flexão, extensão e hiperextensão, abdução e adução, rotação interna e externa, abdução horizontal e adução horizontal. 1. Flexão: é o movimento de deslizamento na direção posterior da cabeça do úmero. É quando se leva o braço mais próximo à cabeça, movimento no plano sagital e no eixo transversal. 2. Extensão: representa o retorno do segmento do braço em flexão para a posição anatômica. Se o movimento de extensão passar a posição anatômica, passa a ser chamado de hiperextensão, o qual ocorre no plano sagital e no eixo transversal. 3. Abdução: é o deslizamento na direção inferior da cabeça do úmero, quando ocorre o afastamento do braço da linha média e este movimento ocorre no plano frontal e no eixo sagital. 4. Adução: é o deslizamento na direção superior da cabeça do úmero, quando ocorre a aproximação do braço da linha média, movimento no plano frontal e no eixo sagital. 5. Rotação interna: rotação do membro superior em direção à linha média do corpo, o qual acontece no plano transversal e no eixo longitudinal. 6. Rotação externa: rotação do membro superior em direção contrária da linha média do corpo e este movimento acontece no plano transversal e no eixo longitudinal. 7. Abdução horizontal: também chamado de extensão horizontal, é o movimento de afastamento do segmento do braço da linha média, quando o ombro se encontra em 90º de abdução. Ocorre no plano transversal e no eixo longitudinal. 8. Adução horizontal: também chamado de flexão horizontal, é de aproximação do segmento do braço da linha média quando o ombro se 8 encontra em 90º de abdução. Este movimento ocorre no plano transversal e no eixo longitudinal. TEMA 3 – FUNÇÕES DO SHOULDER-CORE Neste tema será discutida a união dos sistemas muscular e esquelético da cintura escapular e do ombro. 3.1 Ritmo escapuloumeral O movimento da cintura escapular e do ombro como um todo é chamado de ritmo escapuloumeral. Para que os movimentos do complexo do ombro sejam realizados, é necessário que as quatro articulações tenham ação coordenada e trabalhem em conjunto. Se os movimentos de elevação do braço, seja ele pela flexão ou abdução do ombro, dependessem apenas da articulação glenoumeral, a amplitude de movimento seria muito baixa. As articulações esternoclavicular e acromioclavicular precisam movimentar-se para aumentar essa amplitude. Para que o ombro realize uma abdução ou uma flexão completa, a escápula necessita rotacionar para cima, enquanto a clavícula tem que realizar elevação e rotação para cima, a fim de permitir o movimento escapular. Portanto, o ritmo escapuloumeral é importante por três fatores: 1. A distribuição de movimento entre duas ou mais articulações permite maior amplitude de movimento com menor comprometimento da estabilidade que ocorreria se apenas uma articulação realizasse o movimento. 2. O ritmo escapuloumeral mantém a fosse glenoide em uma posição ótima para acomodar a cabeça do úmero, permitindo maior harmonia articular durante o movimento e reduzindo forças que agem sobre a articulação do ombro. 3. Permite que os músculos que agem no ombro mantenham uma boa relação comprimento-tensão, o que aumenta a produção de força e minimiza, ou até impede, a insuficiência ativa. 3.2 Manguito rotador 9 O manguito rotador é a forma como é chamado o grupo de músculos: redondo menor, subescapular, infraespinhoso e supraespinhoso. O manguito rotador como um todo é capaz de gerar flexão ou abdução com cerca de 50% da força normalmente gerada nesses movimentos. Os músculos do manguito rotador se contraem juntos para comprimir a cabeça do úmero e manter sua posição na cavidade glenoide. No entanto, a 90° de flexão do ombro, o manguito rotador diminui a capacidade de gerar força, o que deixa a articulação do ombro mais vulnerável a lesões. 3.3 Importância do shoulder-core para o esporte e o exercício A cintura escapular tem uma forte relação com a postura e a abdução da escápula é um dos defeitos mais comuns encontrados na postura da cintura escapular. As escápulas habitualmente abduzidas estão relacionadas com o aumento da distância das bordas escapulares e, com frequência, com a posição da cabeça para frente e com a cifose da coluna dorsal (Rash, 1991). É importante ressaltar que os padrões de postura assumidos na infância formam o padrão de postura na vida adulta. A escápula desempenha um papel fundamental em relação à cadeia cinética do membro superior, a qual é uma série de segmentos ativados sequencialmente de forma coordenada para gerar e transmitir forças de acordo com uma função específica. Na maioria das atividades esportivas, esta sequência de ativação inicia a partir dos movimentos das pernas, os quais criam uma força de reação ao solo, que transmite esta força aos joelhos, ao quadril e ao tronco e este passa ao ombro, o qual transmite ao braço e à mão. Os músculos dos membros superiores contribuem de maneira importante em várias práticas esportivas. Na natação, por exemplo, os membros superiores geram forças propulsivas pelos movimentos dos braços na água, principalmente no estilo livre. Para realizar a propulsão, o braço necessita fazer os movimentos de rotação medial e adução, ativando os músculos latíssimo do dorso, redondo maior e peitoral maior. Ainda, os membros superiores são importantes em esportes que realizam movimentos de arremesso por cima da cabeça, uma vez que geram controle do movimento e a força do arremesso. Os músculos dos membros superiores também são importantes para as atividades do cotidiano. Quando um indivíduo precisa levantar-se de uma cadeira, ele dá um impulso para cima e precisa sustentar todo o peso do corpo 10 durante a transferência da posição sentada para a posição em pé, o que gera uma grande sobrecarga para os músculos do membro superior (Hamill; Knutzen; Derrick, 2016). Como a articulação do ombro tem maior amplitude e menor estabilidade articulares, além da força da cintura escapular ser imprescindível para uma boa postura, tanto na infância, quanto na fase adulta e na senescência, os músculos dessa região devem ser fortalecidos, independentemente do exercício ou esporte realizado. TEMA 4 – LESÕES COMUNS NO OMBRO As regiões articulares do ombro e da cintura escapular estão frequentemente envolvidas em lesões decorrentes da prática de esportes que implicam no uso técnico do membro superior. No entanto, também podem ocorrer devido a algum traumatismo ou por ações articulares repetidas. 4.1 Lesões comuns no ombro As lesões mais comuns que ocorrem na articulação do ombro são relacionadas a duas causas: traumatismo e ações articulares repetidas. As lesões relacionadas a traumatismos podem ser devido a um impacto com um objeto externo, como o solo ou então outro indivíduo. Já as lesões devido a ações musculares repetidas geram inflamações dentro e ao entorno da articulação ou nas inserções musculares. As lesões mais comuns no ombro são: 1. Luxação ou subluxação: ocorrem devido a um trauma na articulação. O ombro é uma articulação que não tem limitação óssea e depende dos tecidos moles, como ligamentos e músculos, para a limitação e sustentação da articulação. A causa habitual da luxação é um contato ou uma força aplicada no braço quando o ombro está em posição de abdução e rotação externa acima da cabeça. Essa força impulsiona a cabeça do úmero no sentido anterior, possivelmente rompendo a cápsula ou o lábio glenoidal e a direção mais comum da luxação é a anterior. A incidência da luxação muda de acordo com a idade e da magnitude da força aplicada na articulação. Indivíduos abaixo dos 20 anos de idade têm maior chance de ter luxações quando comparados à população em geral. As raras 11 luxações posteriores ocorrem normalmente quando uma força é aplicada no braço em posição de adução e rotação interior. 2. Compressão: é um dos principais motivos de lesões nos tecidos moles. É resultado de movimentos em que o braço está acima da cabeça, como arremessos, braçada de natação e esportes de raquete, os quais podem gerar lesões de compressão, devido à extrema amplitude e às altas velocidades de movimento. Os músculos do manguito rotador controlam a cabeça do úmero e nestes tipos de movimentos estão em alto risco de lesão. O mecanismo de lesão do manguito rotador ocorre quando o tubérculo maior empurra contra o lado inferior do acrômio. Além disso, a bolsa subacromial e o tendão do bíceps também são comprimidos contra o acrômio e o ligamento coracoacromial. 3. Bursite: a bursite ocorre em decorrência da compressão, sendo que a mais comum na articulação do ombro é a bursite subacromial, que corre pela irritação das bolsas acima do músculo supraespinal e por baixo do acrômio. Ela é comum em cadeirantes durante a propulsão da cadeira de rodas. 4. Tendinite: a mais comum é a do tendão da cabeça longa do bíceps, o qual pode ficar irritado ou ser subluxado no interior do sulco intertubercular durante uma mobilização em abdução e rotação. TEMA 5 – LESÕES COMUNS NO COTOVELO E PUNHO As articulações do cotovelo e do punho fazem parte dos membros superiores e também podem sofrer lesões devido às cargas dos exercícios. Para entender melhor as lesões nas articulações do cotovelo e do punho, é necessário descrever brevemente cada articulação e explicar quais são suas principais funções. 5.1 Articulação do cotovelo A articulação do cotovelo tem papel importante em ajudar o ombro na aplicação de força e no controle e posicionamento da mão no espaço. Essa combinação de movimentos entre as articulações permite versatilidade para as posições da mão. A articulação do cotovelo também funciona como ponto de 12 apoio para o antebraço, que permite ações potentes de preensão, como os movimentos finos da mão. Os ossos que compõem a articulação do cotovelo são o úmero e a ulna, chamada de articulação umeroulnar, a principal articulação que permite os movimentos de flexão e extensão do cotovelo. O úmero tem duas estruturas importantes para a articulação do cotovelo: os epicôndilos medial e lateral e são pontos de referência para a inserção de ligamentos e músculos. Os ligamentos laterais e os músculos responsáveis pela extensão e supinação se inserem no epicôndilo lateral, enquanto os ligamentos laterais e os músculos que realizam a flexão e a pronação se inserem no epicôndilo medial. Outra articulação do antebraço é a radioulnar proximal, que permite os movimentos de pronação e supinação. O cotovelo é considerado uma articulação estável, com integridade estrutural, boa sustentação ligamentar e muscular. A articulação do cotovelo é sustentada nas partes medial e lateral pelos ligamentos colaterais. O ligamento colateral ulnar conecta a ulna ao úmero e oferece sustentação e resistências às cargas impostas ao cotovelo quando este encontra-se em valgo. Os músculos responsáveis pela flexão e pronação, cuja origem é no epicôndilo medial, também proporcionam estabilização dinâmica à parte lateral do cotovelo. 5.2 Lesões comuns no cotovelo Como a articulação do ombro, a articulação do cotovelo também sofre mais lesões devido a traumatismos e por ações repetidas ou de uso excessivo. As lesões traumáticas são causadas pela absorção de uma força com grande magnitude, como apoio do peso do corpo em uma queda. No entanto, as lesões mais comuns nesta articulação são devido ao uso excessivo, como em atividades que envolvem movimentos de arremesso. As lesões mais comuns no cotovelo são: 1. Luxação: o cotovelo é a segunda articulação que mais sofre luxação do corpo humano, a qual normalmente ocorre quando um indivíduo ou atleta cai sobre o braço estendido, o que, normalmente, acontece em esportes, como ginástica artística e luta greco-romana. No entanto, pode ser também após um escorregão em indivíduos não-atletas. 13 2. Fraturas: podem ocorrer após uma luxação ou mesmo um trauma que gera uma luxação. Fraturas no epicôndilo medial são comuns após uma queda com o braço estendido, enquanto outras áreas dos ossos do antebraço que também sofrem fratura com maior frequência são: o olécrano, a cabeça do rádio e a ulna e o úmero também podem sofrer fratura em espiral como resultado de uma queda. 3. Bursite: a queda sobre o braço estendido também pode gerar bursite, ou seja, irritação da bursa do olécrano. 4. Ruptura: os movimentos de hiperextensão do braço, extensão do antebraço e pronação do antebraço, se realizados com grande magnitude de força, podem gerar ruptura na cabeça longa do bíceps braquial. 5. Tendinite: a tendinite no cotovelo é chamada de epicondilite. Ela pode ser medial ou lateral, é causada por forças em valgo se repetidas vezes e geralmente está relacionada a movimentos de arremesso ou a algum padrão de movimento executado acima da cabeça, como o serviço do tênis. A epicondilite medial é uma irritação do local em que os músculos flexores do punho se inserem. É usualmente relacionada a movimentos do golfe, de arremesso e de ataque no voleibol. A tendinite lateral comumente ocorre pelo uso excessivo dos extensores de punho em seu local de inserção, músculos que retardam excentricamente ou opõem a resistência a qualquer movimento de extensão do punho. É também conhecida como cotovelo de tenista, pois está associada à sobrecarga de forças resultantes de uma técnica inadequada ou ao uso de uma raquete muito pesada. Em indivíduos não-atletas, a lesão é comum em atividades que envolvem muita supinação e pronação combinadas com movimentos de preensão. A epicondilite lateral é de sete a dez vezes mais comum que a epicondilite medial. 5.3 Articulação do punho A articulação do punho é formada pelos ossos rádio, ulna e os do carpo, chamados de articulação radioulnar distal e articulação radiocarpal, os quais ligam a mão ao antebraço. A articulação radioulnar não participa de nenhum movimento do punho e a ulna não faz contato com nenhum osso do carpo, 14 estando separada por um disco fibrocartilaginoso. Essa disposição é necessária para que o antebraço consiga realizar os movimentos de supinação e pronação. Já a articulação radiocarpal é responsável pelos movimentos do punho. Ela envolve a extremidade distal mais larga do rádio e dois ossos do carpo, o escafoide e o semilunar. Os movimentos feitos por essa articulação do punho são flexão e extensão, e desvio ulnar e desvio radial, movimentos de adução e abdução, respectivamente. 5.3 Lesões mais comuns no punho Como a articulação do ombro e a articulação do cotovelo, as lesões na articulação do punho também ocorrem, principalmente, devido a traumatismos ou a ações repetidas. Muitas lesões no punho ocorrem pela absorção de um impacto brusco muito grande, como o de uma bola ou o chão. Estas lesões na articulação do punho são associadas a alguma queda que force o punho em flexão ou extensão extrema. As lesões mais comuns no punho são: 1. Fratura: a extremidade distal do rádio é uma das áreas do corpo mais fraturadas, uma vez que esse osso não é denso e a força de uma queda é absorvida pelo rádio. As fraturas na porção distal do rádio estão associadas a esportes que tenham maior chance de sofrer macrotraumas bruscos, ou seja, contusões, como futebol, futebol americano, ciclismo, esqui. 2. Outras lesões comuns por hiperextensão extrema do punho: entorse dos ligamentos do punho, distensão dos músculos do punho, fratura do escafoide ou de outros ossos do carpo, luxação entre os ossos do carpo e o punho. 3. Tenossinovite: esta é uma lesão decorrente de ações repetidas da mão em esportes ou no trabalho, qual ocorre nos flexores radiais e nos músculos do polegar, em decorrência de atividades como canoagem, remo, tênis e esgrima. 4. Tendinite: a tendinite dos músculos do punho que se inserem nos epicôndilos medial e lateral do cotovelo pode ocorrer, uma vez que os flexores e extensores do punho são utilizados para estabilização do 15 punho. A epicondilite medial acontece pelo uso excessivo dos músculos flexores do punho, enquanto a epicondilite lateral é pelo uso excessivo dos músculos extensores do punho. 5. Síndrome do túnel do carpo: é uma lesão devido ao uso excessivo dos músculos do punho. Após as lesões lombares, a síndrome do túnel do carpo é uma das lesões de trabalho mais frequentes. Os ossos do carpo formam o assoalho e as laterais do túnel do carpo, enquanto o ligamento transverso forma o teto do túnel do carpo, no qual todos os tendões do punho são encontrados. Usualmente, após ações repetidas de flexão do punho, os tendões flexores do punho podem ficar inflamados, até o ponto em que possa haver pressão e constrição do nervo mediano. A compressão deste nervo causa dor, atrofia dos músculos tenares e sensações de formigamento. NA PRÁTICA Você, professor de educação física, dá aulas de natação em um clube para uma equipe esportiva. Além do treinamento de natação, você também prescreve exercícios de fortalecimento muscular, principalmente para a musculatura dos membros superiores, uma vez que, na maioria dos estilos de nado, os movimentos dos membros inferiores dão propulsão ao nado. Quais exercícios para a cintura escapular e ombro você prescreveria? FINALIZANDO O shoulder-core envolve a estrutura anatômica e muscular da cintura escapular e do complexo do ombro. O ombro é a articulação com maior mobilidade do corpo humano, por isso precisa ser muito estável. No entanto, a cavidade glenoide é menor do que a cabeça do úmero, o que não diminui a estabilidade articular. Assim, ligamentos e músculos realizam o papel de estabilizar esta articulação. Os movimentos da cintura escapular e do ombro são importantes tanto em atividades do dia-a-dia, como a postura e o movimento de levantar de uma cadeira com o apoio dos membros superiores, quanto em práticas esportivas, como em movimentos de braçada da natação, swing do golf e movimentos de arremesso. 16 Ao realizar um movimento com os membros superiores, tanto os músculos da cintura escapular, quanto os do ombro são ativados. Esta ativação precisa ser coordenada e muito bem controlada para que o movimento seja forte, preciso e estável. Esta coordenação é chamada de ritmo escapuloumeral. O manguito rotador é um grupo muscular que realiza os movimentos de flexão e abdução do ombro, os quais são muito utilizados em práticas esportivas. Assim, o fortalecimento desse grupo muscular é essencial para evitar lesões. As principais lesões no ombro podem ocorrer devido a traumatismos ou a ações repetidas, gerando lesões de luxação, compressão, bursite e tendinite. Portanto, o fortalecimento dos músculos da cintura escapular e do complexo do ombro são essenciais para a manutenção da postura, a coordenação e a precisão dos movimentos gerados pelo shoulder-core. 17 REFERÊNCIAS HALL, S. J. Biomecânica básica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. HAMILL, J.; KNUTZEN, K. M.; DERRICK, T. R. Bases biomecânicas do movimento humano. 4. ed. Barueri: Manole, 2016. RASH, P. J. Cinesiologia e anatomia aplicada: a ciência do movimento humano. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991.
Compartilhar