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*Acadêmico do Curso de Biomedicina do Grupo Uniasselvi/Fameblu. E-mail: ejrenato@hotmail.com **Farmacêutico-Bioquímico. Doutor em Farmácia com ênfase em Análises Clínicas. Docente do Grupo Uniasselvi/Fameblu. E-mail: marcus.nascimento@uniasselvi.edu.br OCORRÊNCIA DE ZOONOSES PARASITÁRIAS INTESTINAIS ENCONTRADAS EM FEZES COLETADAS DE AMBIENTES PÚBLICOS DA CIDADE DE BLUMENAU, SANTA CATARINA, BRASIL Edecarlos de Jesus Renato* Marcus Vinicius Pereira dos Santos Nascimento** RESUMO Zoonoses são doenças típicas de animais, que podem ser transmitidas ao homem e vice- versa. Geralmente, essas doenças envolvem parasitas que tem como hospedeiro normal um animal, mas que acidentalmente infecta o homem. Tendo em vista a crescente mudança de hábitos da população na constituição de suas famílias, que optam por não gerar filhos, mas optam por ter como companhia animais de estimação, atrelado ao cultural hábito da família brasileira de possuir em suas casas animais de estimação (cães e gatos, pincipalmente), tratando-os como membro familiar para a troca de afeto e carinho, aumentando a concentração de cães e gatos nas residências, além de haver grande número de animais domésticos errantes e abandonados nas vias públicas (sendo este o meio transfronteiriço de contato entre animal doméstico via passeio X “animal de rua” X animais soltos que retornam para “casa”), ocorre o risco do aparecimento e disseminação desenfreada de zoonoses em todo e qualquer lugar do Brasil, com potencial infecção em humanos. O objetivo desse estudo foi estudar e classificar as principais zoonoses parasitárias intestinais encontradas em fezes coletadas nas ruas, calçadas, praças, bancos de areia, entre outros meios em que há circulação simultânea de pessoas e animais na cidade de Blumenau-SC, mapeando a incidência dos principais agentes causadores de doenças parasitárias zoonóticas (utilizando o método de sedimentação espontânea Hoffman, Pons & Janer). Das 98 amostras examinadas, 59 (60,20%) apresentaram positividade, com contaminação das fezes, onde foi detectada a presença de um potencial zoonótico nessas amostras, com uma maior frequência das espécies Ancilostoma spp. (34,69%), Toxocara spp (18,36%) e Giardia spp.(6,12%). Palavras-chave: Cães e Gatos. Fezes. Infecções Parasitárias, Parasitas, Zoonoses. 1 INTRODUÇÃO Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a cidade de Blumenau-SC é composta por uma população estimada em 357.199 pessoas, sendo que o último censo realizado foi em 2010 (o censo ocorre a cada dez anos), e a população era composta por 309.011 habitantes (IBGE, 2019). De acordo com o Instituto Pet Brasil, estima-se que há 54,2 milhões de cães e 23,9 milhões de gatos em todo o território nacional (IPB, 2019). Em Blumenau-SC, de acordo com o Centro de Prevenção e Recuperação de Animais Domésticos (CEPREAD), mesmo que o censo animal não tenha sido realizado no município, estima-se que na cidade existem aproximadamente 116 mil cães e gatos, mas que esse número poderá se apresentar 2 muito maior num censo futuro, já que o censo animal realizado em algumas comunidades carentes aponta que o número de apenas cães é de 2,04 para cada habitante dessas comunidades (BLUMENAU, 2017). De acordo com o IPB (2019), esses números confirmam uma tendência cada vez mais frequente: as pessoas e famílias buscam um animal de estimação para companhia, dar e receber carinho, afeto e atenção; sendo mais relevante que os dados numéricos sobre a quantidade de animais domésticos, é importante o comportamento dos donos em relação aos animais, pois se tratando de imunização de animais domésticos, o percentual de vacinação de cães e gatos contra a raiva, por exemplo, é baixo, com variações percentuais no Brasil, que varia de 60 a 80% das imunizações contra essa doença (IBGE, 2015); visto que isso é frequentemente observado em diversas localidades, o baixo índice de vacinação é agravado pelo hábito de soltar cães nas ruas e de alimentar os cães de rua aproximando-os das famílias, mas não cuidando-os, o que dificulta a taxa de reposição da população animal e dificultando o controle de zoonoses (Domingos et al., 2007). Deplazes et al. (2011), afirmam que zoonoses são as doenças bacterianas, virais ou parasíticas transmissíveis entre humanos e outros animais vertebrados, e vice-versa, em condições naturais. A ocorrência de helmintos e protozoários em animais domésticos gera potencial zoonótico, porque esses animais dividem o convívio com o homem, principalmente cães e gatos, que estão presentes na sua vida, e suas fezes podem albergar uma série de parasitos de importância em saúde pública (MATESCO et al., 2006). O risco de transmissão de zoonoses é aumentada pela intensa movimentação transfronteiriça de animais em vias e praças públicas e sua presença em áreas de convívio e de residência, sem uma devida higienização, como ocorre em humanos (DEPLAZES et al., 2011). As infecções por helmintos e enteroprotozoários estão entre os mais frequentes agravos do mundo, pois quando o parasita está presente no seu hospedeiro, ele busca benefícios que garantam sua sobrevivência. De um modo geral, essa associação tende para um equilíbrio, pois a morte do hospedeiro é prejudicial para o parasito. As enteroparasitoses podem afetar o equilíbrio nutricional, pois interferem na absorção de nutrientes, induzem sangramento intestinal, reduzem a ingestão alimentar e ainda podem causar complicações significativas, como obstrução intestinal, prolapso retal e formação de abscessos, em caso de uma superpopulação, podendo levar o indivíduo à morte (COSTA, 1999). Reforçado por Barutzki e Schaper (2003) as enteroparasitoses podem causar diferentes sintomas clínicos, dependendo da espécie e quantidade de parasitos, sendo os sintomas mais comuns os gastrintestinais, como anorexia e perda de peso, anemia e desidratação e, em casos mais severos, deficiências do crescimento e até a morte. Pegoraro, Agostini e Leonardo (2011), afirmam que os principais parasitas com potencial zoonótico são os protozoários e helmintos do gênero Ancylostoma, Dipylidium, Giardia, Trichuris, Toxocara e Toxoplasma, que contaminam seu hospedeiro seja através da ingesta, penetração cutânea ou de forma transplacentária. Alves, Gomes e Silva (2005) afirmam que o conhecimento destes parasitas é importante, tanto pelo caráter zoonótico (para que medidas profiláticas para o seu controle possam ser adotadas) como pelos danos diretos que estes causam em seus hospedeiros. Assim, a possibilidade de transmissão para humanos, principalmente 3 crianças, idosos e pessoas imunocomprometidas é evitada, visando uma boa qualidade de vida para humanos e animais. Visto a notável importância das zoonoses para a saúde pública, o objetivo do presente trabalho é pesquisar e classificar, a partir de análise microscópica, quais os principais helmintos e protozoários com potencial zoonótico que podem ser encontrados em fezes coletadas de vias públicas, praças, calçadas, bancos de areia e terrenos, fazendo o levantamento de dados de sua frequência e ocorrência, quantificando-os, a fim de traçar um perfil de doenças zoonóticas e sua potencial infectividade e patogenicidade, tanto em animais quanto em humanos que com eles transitam, convivam e dividam o meio. 2 MÉTODO O presente trabalho trata-se de uma pesquisa quantitativa com caráter analítico descritivo onde se avaliou a presença de ovos e larvas de helmintos e cistos de protozoários encontrados em amostras fecais colhidas de locais públicos da cidade de Blumenau/SC. O método utilizado foi o de sedimentação espontânea (Método de Hoffmann, Pons & Janer ou Lutz), devido ao seu amplo espectro na observação e identificação de espécies parasitas, além do seu baixo custo. De acordo com Cimerman (2005),o princípio de sedimentação em água é utilizado para evidenciar ovos pesados de helmintos quando a sedimentação ficar por um período de tempo de no mínimo uma hora, e para os ovos leves e larvas de helmintos e cistos de protozoários quando a sedimentação for por um período de 24 horas. A pesquisa foi realizada através da busca de fezes, num total de 98 amostras do meio ambiente, de forma aleatória (rua, calçada, parques, gramados, bancos de areia), conforme sua composição (fezes formadas, diarreicas ou secas), sendo coletadas com o auxílio de uma espátula de madeira estéril para cada amostra, acondicionadas em coletores individuais e também estéreis, respeitando-se um limite mínimo de 5 metros entre uma amostra e outra, para fins de não contaminação e identificadas por numeração nos coletores, e registrado num documento à parte com as seguintes informações: a) amostra #01 a #98; b) data, horário, local/endereço (bairro “x”, praça “y”); c) condição climática no momento da coleta; d) estado/condição da amostra. Essa coleta foi realizada entre o período de 19/11/2019 até 15/12/2019. Posteriormente, foi encaminhada ao laboratório de Parasitologia do Centro Universitário Leonardo da Vinci, armazenadas sob refrigeração, pelo período compreendido entre a coleta e o preparo do exame parasitológico de fezes (EPF). Segundo Cimerman (2005), a técnica de Hoffmann, Pons & Janer, ou Lutz é feita adicionando dois gramas de fezes em um béquer ou borrel contendo 5 ml de água, onde o material foi desintegrado e homogeneizado; em seguida, coou-se esta suspensão num recipiente cônico (copo de sedimentação), que deve ter uma peneira e uma gaze dobrada em quatro partes, adicionando água e deixando a amostra em repouso por um período entre 02 até 24 horas, onde houve a sedimentação. Para análise da amostra, utilizou-se uma pipeta de Pasteur, recolhendo do fundo do copo uma gota de sedimento, que foi colocado sobre uma lâmina de vidro, aplicando uma gota de lugol e colocando 4 uma lamínula sobre o mesmo, onde foi realizada análise e observação ao microscópio óptico, com ampliação da objetiva de 40x, visualizando-se duas lâminas para cada amostra. Os dados observados foram registrados em arquivo (foto) e feito comparação morfométrica para identificação dos achados. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Com base na literatura científica, as espécies que possam provavelmente estar nas amostras de fezes em praças e vias públicas são parasitas pertencentes aos gêneros Ancylostoma, Dipylidium, Giardia, Trichuris, Toxocara e Toxoplasma. No presente estudo, das 98 amostras coletadas nas ruas de Blumenau-SC e que foram analisadas, 59 (60,20%) estavam contaminadas, sendo um número elevado, em relação ao resultado de Pegoraro, Agostini e Leonardo (2011), que fizeram um estudo sobre parasitas intestinais encontrados em fezes na região de Maringá, onde houve a prevalência de 38,0% de amostras contaminadas. Comparando ao estudo realizado por Brenner et al. (2005), que analisou 252 amostras fecais de cães e gatos nos municípios do Rio de Janeiro e Niterói, o resultado foi 32,14% de amostras positivas para parasitas intestinais com potencial zoonótico. Levando em consideração esses dados, são números significativos do ponto de vista médico e sanitário, pois a frequência apresentada de contaminação tem potencial zoonótico de infecção. O helminto mais encontrado foi o Ancilostoma spp., presente em 34,69% (34/98) das amostras analisadas; Toxocara spp,, com incidência de 18,36% (18/98), seguido do protozoário Giardia spp.com 6,12% (6/98). Houve o aparecimento de ovos de Trichuris vulpis em 3,06% (3/98) das amostras, cistos de Entamoeba histolytica em 2,04% (2/98) e 1,02% (1/98) de cápsula ovígera de Dipylidium caninum. Houve o aparecimento de Fasciola hepática em 5,10% (5/98), que pode ter cães e gatos como hospedeiros de forma acidental, mas caso venha a parasitar o homem, causa a fasciolose, que pode causar um quadro clínico grave de saúde, conforme Silva et al. (2008). A Entamoeba histolytica pode causar em cães a colite hemorrágica (FRADE et al., 2017), e no homem, é um patógeno importante causador de morbi-mortalidade: a amebíase (SILVA et al, 2005) (QUADRO 1) e (FIGURA 1). QUADRO 1- PREVALÊNCIA DE ESPÉCIES DE ENTEROPARASITOSES ENCONTRADAS NAS AMOSTRAS FECAIS COLETADAS EM VIAS PÚBLICAS DO MUNICÍPIO DE BLUMENAU-SC Espécie Amostras positivas (n=98) Porcentagem (%) Ancilostoma spp. 34 34,98 Toxocara spp. 18 18,36 Giardia spp. 6 6,12 Trichuris vulpis 3 3,06 Entamoeba histolytica 2 2,04 Dipylidium caninum 1 1,02 FONTE: Elaborado pelos autores (2020) 5 FIGURA 1- PREVALÊNCIA DE ESPÉCIES DE ENTEROPARASITOSES ENCONTRADAS NAS AMOSTRAS FECAIS COLETADAS EM VIAS PÚBLICAS DO MUNICÍPIO DE BLUMENAU-SC FONTE: Elaborado pelos autores (2020) Além de amostras positivas com uma espécie parasita, ocorreu o aparecimento de associação parasitária dupla em 12 amostras (12,24%) e também associação parasitária tripla em 01 amostra (1,02%), configurando assim, um maior risco de propagação de zoonoses (QUADRO 2). QUADRO 2- PREVALÊNCIA DE ASSOCIAÇÃO PARASITÁRIA ENCONTRADAS NAS AMOSTRAS DE FEZES COLETADAS EM VIAS PÚBLICAS DE BLUMENAU-SC Associação parasitária Quantidade Porcentagem (%) Dupla 12 12,24 Tripla 01 1,02 FONTE: Elaborado pelos autores (2020) Nas amostras de fezes coletadas nas vias públicas de Blumenau-SC, 34,69% das amostras analisadas são positivas para Ancilostoma spp., sendo um número menor do que o encontrado por Júnior, Araújo e Medeiros (2015), que nas ruas de Natal-RN encontraram em vias públicas cerca de 45% de amostras contaminadas, do total das 60 amostras de fezes coletadas. Já Rocha, Weber e Costa (2019), registraram um número excessivamente alto, com 72,10% de amostras parasitadas com ovos e larvas de ancilostomídeos. Castro e Santos (2006) realizaram um estudo no qual a maior prevalência foi de Ancilostoma spp., com a presença de 10,84% de amostras contaminadas; índices superiores e inferiores com a presença de amostras positivas de Ancilostoma spp .tem sido verificado em alguns estudos em cidades brasileiras, tais como os de Leite et al. (2006), com 11,30% de contaminação, de Stalliviere et al. (2013), que encontrou 12,20% ; em praias de Laguna-SC, Blazius et al. (2005) teve como resultado 37,93% das suas amostras com ovos e larvas de ancilostoma, um resultado próximo ao encontrado por Guimarães et al. (2004), que coletou solo de creches e escolas, positivando 33,3% das amostras. De acordo com Santarém, Giuffrida e Zanin (2004), a Larva Migrans Cutânea, é uma enfermidade que tem sido registrada em diversos países, sendo muito frequente em regiões litorâneas, e no Brasil, é causada pelo Ancilostoma braziliense que, conforme 6 Capuano (2006), parasita o intestino delgado de cães e gatos e o A. caninum encontra-se apenas no intestino delgado de cães. De acordo com Neves (2011), essa síndrome pode ser denominada como dermatite serpiginosa, dermatite pruriginosa, mas também conhecida popularmente como “bicho geográfico”. Segundo Ré et al. (2011), pelo fato do ser humano não ser um hospedeiro habitual ocorre uma “localização errática do verme”, pois ele não consegue realizar seu caminho habitual, que seria encontrar a circulação sanguínea, dirigindo sem rumo pelas camadas superficiais da pele. De acordo com Rey (2010), a larva migrans cutânea é encontrada em todo mundo, sendo um problema frequente em praias e terrenos arenosos poluídos com fezes animais, onde o calor e a umidade favorecem o desenvolvimento das larvas até o estágio infectante. Santarém, Giuffrida e Zanin (2004) relatam que a infecção por larva migrans cutânea ocorre com o contato direto da larva infectante (L3) com a pele do ser humano, que após a penetração da epiderme,migram pelo tecido subcutâneo ocasionando reações inflamatórias, caracterizadas por intenso prurido e erupções de aspecto serpiginoso, sendo frequente em membros inferiores. A presença de Dipilidium caninum, foi de 1,02% de positividade (1/98), número próximo ao encontrado por Evaristo et al. (2018), que encontraram 1,61% de amostras contaminadas com esse parasito, de fezes coletadas de praças públicas de Pedro Osório e Serrito-RS. De acordo com Rodrigues, Alencar e Medeiros (2016), na literatura o D. caninum é o cestódeo mais comum em cães e com incidência baixa. Lima et al. (2014) foram de encontro à essa afirmação, pois encontraram um número um maior e uma prevalência de 24,7% de amostras contaminadas nas fezes de cães residentes do município de São Cristóvão-SE. Conforme Lemos e Oliveira (1985), Dipylidium caninum é um parasito habitual do intestino delgado do cão e que eventualmente tem sido observado também no homem, sendo que inquéritos sobre a incidência de helmintos causadores da dilipidiose varia entre 46 a 80% em algumas localidades brasileiras. Segundo Rodrigues, Alencar e Medeiros (2016), a dipilodiose é uma doença parasitária em que o Dipylidium caninum, em sua forma adulta infecta o intestino delgado de cães, felinos e acidentalmente o homem, tendo os hospedeiros intermediários as pulgas e piolhos carregando em sua cavidade geral o parasito no estádio larval. Os cães ingerem o hospedeiro intermediário infectado com larvas cisticercoides, contraindo a doença, e eliminando proglotes grávidas (que possuem forma de semente de pepino) nas fezes, onde as proglótides que estão no ambiente são consumidas por larvas de pulgas. Neves (2011) afirma que esse helminto mede de 15 a 20 centímetros por 03 milímetros de diâmetro, com rosto retrátil, armado com quatro fileiras de ganchos. Suas proglotes se assemelham a sementes de abóbora, e seus ovos estão contidos dentro de uma cápsula ovígera, podendo compreender cerca de 20 ovos em cada cápsula. Cistos de Giardia spp. estiveram em 6,12% (6/98) das amostras analisadas, sendo um número relativamente baixo, em relação ao que Bartmann e Araújo (2004) encontraram (38% de amostras positivas), ao analisar 526 amostras de fezes de cães de clínicas veterinárias em Porto Alegre-RS e também em relação a um estudo realizado no Hospital de Clínica Veterinária de Blumenau (HCVB), onde Kipper et al. (2018) detectaram cistos em 33,3% das 99 amostras de fezes de cães coletadas. O número do presente trabalho também difere em relação ao de Mundim et al. (2003), que coletaram fezes em canis de Uberlândia-MG, com resultado positivo para Giardia spp. em 41,0% das amostras; Beck et al. (2005) encontrou positividade em 40,96% das amostras coletas de canis e 27,11% em amostras coletadas de cães de rua; Silva e Araújo (2013) 7 também encontrou amostras positivas em cães de rua (20%) e em cães com proprietários (16,89). A Giardia spp. causa giardíase e assim, em animais jovens e humanos diarreia intermitente com comprometimento da digestão e absorção de alimentos, o que causa desidratação, perda de peso e morte, tem despertado grande interesse de pesquisadores, possivelmente por seu potencial zoonótico (Mundim et al., 2002). A Giardia spp. é um organismo simples, com características básicas das células eucarióticas (NEVES, 2011); de acordo com Adam (2001), o microrganismo que causa giardíase apresenta o estágio de trofozoíto (forma vegetativa que adere às microvilosidades intestinais) e cisto (forma infectante, pode permanecer e persistir no ambiente em diversas condições). Conforme Bowman et al. (2006), os cistos infectantes são originados pelos trofozoítos antes de serem eliminados nas fezes. Os trofozoítos tem forma de lágrima, com a face anterior comprimida, possuindo dois núcleos com endossoma, fazendo-o parecer uma raquete de tênis. Wenyon (1965) descreve o cisto o apresentando-o como uma forma elíptica e oval, que é protegido por uma parede espessa e rígida e possuindo duas membranas internas. Thompson & Monis (2004) afirma que a transmissão se inicia pela ingesta de cistos que estão presentes na água, em alimentos contaminados ou em fezes infectadas; também pode ocorrer a transmissão direta através da via fecal-oral, de animal para animal ou de animal para o homem (ADAM, 2001). Apesar do Trichuris vulpis não ter muita relevância zoonótica, houve o aparecimento de ovos de t. vulpis em 3 amostras (3,06%), fazendo associação parasitária com Ancilostoma spp. e Toxocara spp, assim como observado por Quadros et al. (2014), que encontraram em seu estudo sobre co-infecçao parasitária, associação em 5,22% das amostras. No município de Ribeirão Preto-SP, Capuano e Rocha (2006) encontraram amostras positivas para t. vulpis em 15,7% das fezes coletadas em vias públicas; número superior foi encontrado por Pasqua e Pedrassani (2012), que detectaram 48,5% de amostras positivas em fezes de cães internados no Hospital Veterinário da Universidade do Contestado em Canoinhas - SC; número próximo ao encontrado em Blumenau-SC foi verificado no estudo de Maestri et al. (2012), que teve positividade em 2,2% das amostras de cães de clínica veterinárias, mas número superior em amostras de grupos de cães não assistidos (20,0%). De acordo com Longo et al. (2008), a tricuriose é muito comum em cães, sendo geograficamente muito abrangente, principalmente em locais de clima quente e úmido, mas não possui uma importância muito relevante como zoonose. Vasconcellos, Barros e Oliveira (2005) afirmam que as infestações de Trichuris vulpis causam anemia e diarreia, podendo haver infecções secundárias por bactérias devido às lesões provocadas por esses helmintos. E Rey (2010) afirma que o homem é o único hospedeiro do T. trichiura; além dessa espécie, há vários outros parasitas de diferentes mamíferos que, embora sejam morfologicamente muito próximas e praticamente indistinguíveis, são biologicamente diferentes devido à sua acentuada especificidade parasitária, sendo o T. vulpis, do cão; T. suis, do porco; T. ovis, da ovelha e do boi, além de outros, não havendo caráter e relevância zoonótica. De acordo com Sadjjadi e Zibaei (2017), a Larva Migrans Visceral e a Larva Migrans Ocular são as síndromes causadas após a ingestão de larvas de Toxocara spp, 8 que afeta, respectivamente vísceras e olhos. Em Blumenau-SC, no presente estudo, foi verificado um razoável número de ovos desse parasita, com 18,36% do de contaminação das amostras analisadas. Assim como o ancilostomídeo, a presença de Toxocara spp. tem sido frequente em diversos estudos, como os de Junior, Araújo e Medeiros (2015), que encontrou 3,3% de amostras contaminadas em fezes coletadas em vias públicas, assim como Mergener et al. (2013), que encontrou 11,1% de contaminação em amostras de cães errantes (cães de rua). Já Leite et al. (2004), detectou 1,89% de positividade para este parasito, em amostras de cães domiciliados. Estudo realizado em três parques públicos de Porto Alegre-RS, Mentz et al. (2004) encontrou um número alto de positividade das amostras coletadas (77,7%); a alta prevalência de parasitas zoonoses pode ser encontrada nas mais diversas cidades do Brasil, como em Monte Negro-RN, onde Labruna et al. (2006) encontraram 18,9% de amostras contaminadas por toxocara canis, sendo um valor um pouco superior ao encontrado por Blazius et al. (2004), que em amostras de fezes coletadas das praias de Itapema-SC, teve positividade em 14,5% de 158 amostras analisadas. De acordo com Moraes (2008), o Toxocara canis é um parasito cosmopolita do cão, que produz doença comparável à ascaridíase humana e toxocara cati (do gato), tem sido encontrado parasitando o intestino do homem, como parasito transviado, sendo capazes de produzir a Larva Migrans Visceral. Mota et al. (2016) afirmam que ela é uma zoonosefrequente em crianças, principalmente por causa da geofagia, sendo transmitida pela ingesta de ovos do parasita presente no solo, e Tomoda et al. (2018) afirmam que a infecção é causada pela ingestão de ovos larvados de T. canis e T. cati, presente em alimentos e solo contaminados, e quando cães e gatos defecam em locais públicos, acabam contaminando esses ambientes. Ovos, após serem ingeridos, suas larvas eclodem no intestino e conseguem migrar para qualquer região do corpo do homem, causando alterações nesses locais, sendo eles o cérebro, o fígado, pulmões e olhos. Nas amostras coletadas, não foram encontrados formas infectantes da espécie Toxoplasma gondii, o que não significa que não haja o potencial zoonótico dos animais da cidade de toxoplasmose. Em estudo realizado em uma cidade do Nordeste por Câmara, Silva e Castro (2015) utilizaram a técnica de ensaio imunoenzimática (ELISA) em 516 gestantes, na qual 77,9% apresentaram sororeatividade para toxoplasmose. Souza et al. (2017) realizaram estudos em felinos, onde houve prevalência de anticorpo IgG anti-T gondii, com 29,0% de positividade da população analisada, assim como Garcia et al. (1998), que analisaram163 soros d felinos, encontrando 73% amostras reagentes, e das 189 das amostras caninas 84,1% foram reagentes. Em estudo com 101 pessoas em Xanxerê-SC, Silva, Figueiredo e Freitas (2015), através de imunoensaios, detectaram IgG-anti-toxoplasma em 71% das amostras. Em Lages-SC, a taxa de infecção de cães observadas através de sororreagentes foi de 26%, e a de Balneário Camboriú-SC, também observado em cães, foi de 18,5%, de acordo com Moura et al. (2009). Essa soropositividade mostra a alta prevalência de animais domésticos infectados nessas cidades, fazendo-se necessário e de grande importância realizar outras abordagens na detecção e prevenção da toxoplasmose em animais domésticos e errantes no município de Blumenau-SC, sendo o ensaio imunoenzimático (ELISA), o ideal. Cimerman (2005) afirma que o T. gondii é um protozoário parasita intestinal de felídeos e de uma grande gama de hospedeiros intermediários animais de sangue quente, incluindo neles, o homem. Neves (2011) afirma que a toxoplasmose é uma zoonose e a 9 infecção é muito frequente em várias espécies de animais, tendo o gato como hospedeiro definitivo ou completo, e o ser humano e outros animais os hospedeiros intermediários ou incompletos. Sua transmissão realiza-se por vários mecanismos e modalidades de infecção: via oral, via respiratória, via mucosa, via genital, via transplacentária, via cutânea, por transmissão mecânica por artrópodes, ou transmissão biológica por outros artrópodes (MORAES, 2008), sendo um parasita em relação ao hospedeiro humano de alta infectividade (manifestação aguda severa) com baixa patogenicidade (produção de cistos em diversos tecidos), mas que gera cronicidade (CIMERMAN, 2005). De acordo com Neves et al. (2011), por sua baixa patogenicidade, o toxoplasma persiste na fase crônica, sendo assintomático, representando um grande problema de saúde, principalmente para mulheres grávidas e o feto (transmissão transplacentária) e indivíduos imunocomprometidos. 4 CONCLUSÃO A partir do resultado dos dados analisados, conclui-se que há uma alta prevalência de animais infectados com zoonoses no município de Blumenau-SC, tornando-os vetores e agentes contaminantes de vias públicas sendo, muitas vezes negligenciadas pela saúde pública, mas que, ainda sim, tem extrema relevância, fazendo-se necessário medidas profiláticas e sanitárias, a fim de diminuir o potencial de infecção, visto que mais da metade (60,20%) das amostras coletadas e analisadas testaram positivo para algum tipo de zoonose parasitária. Medidas de prevenção e tratamento podem ser adotadas, tais como: vacinação periódica em massa de cães e gatos; proposta de controle populacional (quantificação) de animais domésticos e errantes; o uso consciente e regular de vermífugos; a realização de pesquisa periódica e controle de enteroparasitoses intestinais pelos agentes públicos, para fins de monitoramento e estudo (registro); e por fim, a conscientização social da coleta eficaz de dejetos dos animais em ruas e praças públicas, com a finalidade de reduzir e restringir o potencial de infecção humana e de animais nesses ambientes. Em relação ao Toxoplasma spp., a sua pesquisa a partir de métodos coproscópicos revela-se ineficiente, pois gatos (principal hospedeiro do parasito) tem o hábito de esconder suas fezes, tornando a pesquisa pelos mesmos menos acessível. Sendo assim, sugere-se realizar a pesquisa do agente causador da toxoplasmose a partir de exames sorológicos, tanto em pessoas como nos animais, mapear a sorologia positiva e buscar diminuir casos e causas. 10 REFERÊNCIAS ADAM, R. D. Biology of Giardia lamblia. Clinical Microbiology Reviews. American Society for Microbiology. 2001. AGUDOS, L. G.; MARTOS, P. G.; IGLESIAS, M. R. Dipylidium caninum infection in an infant: a rare case report and literature review. Pacific Journal of Tropical Biomedicine. Hainan, China. 2014. ALVES, O. F.; GOMES, A. G.; SILVA, A. C. Ocorrência de enteroparasitos em cães do município de Goiânia, Goiás: Comparação de técnicas de diagnóstico. Ciência Animal Brasileira. Goiânia, GO. 2005. BARTMANN, A.; ARAÚJO, F. A. P.; Freqüência de Giardia lamblia em cães atendidos em clínicas veterinárias de Porto Alegre, RS, Brasil. Ciência Rural. Santa Maria, RS. 2004. BARUTZKI, D.; SCHAPER, R. Endoparasites in dogs and cats in Germany 1999- 2002. 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