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1 FISIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Ciclo Cardíaco INTRODUÇÃO Iniciaremos o estudo de uma parte mais macroscópica da fisiologia cardíaca, então sairemos dos mecanismos moleculares (que envolvem encurtamento do músculo e com isso a geração de força) para o que interessa na verdade na execução do papel fundamental do sistema cardiocirculatório, que é prover fluxo sanguíneo para os tecidos. E Para que seja possível prover esse fluxo sanguíneo adequadamente, é fundamental ter o coração executando sua função. Mas, o que significa o coração? Para diferentes áreas, claro que o coração representará símbolos e significados diferentes. Nesse caso, para a fisiologia, o coração é uma bomba que tem a função de prover o sangue em fluxo contra um gradiente natural (do ambiente de baixa pressão, que é o sistema venoso para um ambiente de maior pressão, que é o sistema arterial). Lembrando da Lei de Ohm modificada para a fisiologia cardiovascular (aula de Biofísica da Circulação), o fluxo depende da diferença de pressão e da resistência. Para que essa diferença de pressão seja gerada com sucesso para a eficiência do bombeamento, é importante tanto que esteja bem controlada a intensidade da contração e relaxamento desse músculo, porque isso vai gerar uma maior eficiência em geração e redução da pressão; quanto que esteja ordenada essa sequência de contração e relaxamento das câmaras cardíacas. Como já foi estudado, essa sequência é determinada pelo sistema de geração e condução de estimulo. Outra coisa importante é que se existe fluxo e para o objetivo final ele tem que ser unidirecional, são necessárias válvulas impedindo o refluxo. Logo, a integridade estrutural e consequentemente funcional das válvulas cardíacas também é um determinante da eficiência do bombeamento. Estudaremos nessa aula os eventos que acontecem dentro e próximo do coração ao longo dessa sequência ordenada de contração e relaxamento (ciclo cardíaco). Por efeito didático, estudaremos o ciclo cardíaco do ventrículo esquerdo (VE). Embora existam diferenças entre as circulações pulmonar e sistêmica, a diferença principal é a carga que elas têm que vencer e consequentemente os níveis pressóricos (P) que ela tem que gerar. Fora isso, a dinâmica, o formato e os eventos acontecem de uma maneira muito semelhante. Esses poucos níveis diferentes entre as circulações fazem, por exemplo, a bomba direita ser mais fina (miocárdio menos espesso) porque a circulação pulmonar tem um certo nível de impedimento/resistência menor, logo essa bomba não precisa ser tão forte. O CICLO CARDÍACO Ciclo cardíaco é o conjunto dos eventos cardíacos que ocorrem do início de um batimento até o começo do próximo batimento. Todo ciclo cardíaco consiste em dois períodos. um período de relaxamento do músculo (que envolve a diástole), durante o qual o coração (no caso a câmara cardíaca em questão) se enche de sangue, seguido por um período de contração do músculo cardíaco (sístole), no qual o sangue é ejetado para a circulação (pulmonar se for ventrículo direito, sistêmica se for ventrículo esquerdo). OBS.: Esses nomes sístole e diástole são interessantes porque se utiliza como “sobrenome” de uma série de outros parâmetros que ocorrem especificamente durante determinado período mencionado. Por exemplo, quando se fala de pressão sistólica de um ventrículo, refere-se à pressão nessa câmara quando ela está provendo a contração/ejeção. CAP. 16 - BERNE ou CAP. 31 - MARGARIDA / PROF. LEONARDO 2 FISIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 O ciclo típico do ventrículo esquerdo desenvolve pressões altas, próximas e um pouco superiores às pressões arteriais sistêmicas. No do ventrículo direito, as pressões são mais baixas (atinge 20-25 mmHg de pressão sistólica). Há muitos componentes para serem avaliados no ciclo cardíaco, os componentes pressóricos, os componentes volumétricos, os componentes sonoros/acústico e, também, os componentes elétricos. É muito importante que se consiga analisar esses componentes primeiro separadamente e depois juntos, para entender o que acontece com eles em cada fase do ciclo de forma integrada. COMPONENTES PRESSÓRICOS Basicamente, há a pressão medida dentro do ventrículo e a pressão medida dentro da grande artéria para onde esse ventrículo vai propelir o sangue. Podemos, ainda, estudar o nível de pressão nas grandes veias que chegam no coração ou a pressão dos átrios que desaguam sangue para o ventrículo, porém as pressões mais importantes de serem analisadas são a do ventrículo esquerdo e da A. Aorta. PRESSÃO VENTRICULAR Ao longo do ciclo cardíaco, por essa alternância entre contração e relaxamento, há diferentes níveis de pressão. Inicia-se o ciclo com um aumento de pressão na fase da sístole. Nesse sentido, inicialmente há baixos níveis de pressão dentro do ventrículo (chegam próximos a 0 mmHg) e que no fim da sístole atingem valores iguais ou um pouco superiores às pressões periféricas (pressão da raiz da aorta). Depois, ao longo do período de diástole, há uma queda drástica dessa pressão (assim como foi drástica o aumento da pressão) e, por fim, há um período em que a pressão é bem baixa e vai subindo lentamente, provavelmente porque o ventrículo está enchendo de sangue. Os nomes para esses diferentes níveis de pressão dependem da fase em que se mede, logo, em se tratando de pressões intraventriculares (do VE), a pressão máxima é chamada de pressão sistólica do ventrículo esquerdo (ou pressão intraventricular sistólica) e as pressões medidas durante a diástole se chamam pressões diastólicas. Especificamente no ventrículo esquerdo, é muito importante ter uma certa distinção entre começo e final da diástole. O começo da diástole é marcado pela pressão diastólica inicial e o final é marcado pela pressão diastólica final. Nesse caso, a pressão diastólica final observada em um ciclo é a pressão gerada no fim da diástole do ciclo “passado”. OBS.: Visão geral do ciclo cardíaco: 3 FISIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 É interessante distinguir essas duas pressões porque a pressão diastólica inicial está quase sempre muito dependente da capacidade que o músculo tem de relaxar (quanto mais eficiente e quanto mais ele consegue relaxar, menor vai ser a pressão diastólica inicial). Já a pressão diastólica final, que ocorre no final da diástole (antes do início de uma contração), o coração já está cheio de sangue, o que gera uma pressão dentro dessa câmara, então essa pressão é bem dependente da quantidade de sangue que chegou ao longo do enchimento e da complacência da parede do coração (da distensibilidade dessa câmara). PRESSÃO ATRIAL Já as ondas de pressão atrial acompanham mais ou menos alguns fenômenos mecânicos do ventrículo, embora também tenham uma consequência da função contrátil própria dos átrios. O átrio contrai antes do ventrículo e sua força de contração promove um abaulamento no gráfico de pressão que é chamado de onda A (muito menor que a ventricular porque a capacidade contrátil/inotrópica do átrio é muito menor), que inclusive serve como mote para um certo grau de ejeção do átrio para o ventrículo, que só ocorre no fim da diástole. Logo, o ventrículo já estava enchendo antes do átrio contrair, desde o início da diástole (aproximadamente apenas 15% do que chega no ventrículo vem por força da contração atrial). A partir do momento que o ventrículo começa a contrair, a pressão dentro dele aumenta tanto que faz com que as válvulas atrioventriculares de fechem, quando isso ocorre o aumento grande de pressão dentro do ventrículo, mas que ainda não superou a pressão da aorta, faz com que se tenha um aumento de pressão com as duas válvulas fechadas (atrioventricular/mitral e semilunar/aórtica). Nesse contexto, o assoalho do átrio é empurradopara cima, ocorrendo um novo abaulamento no gráfico de pressão atrial, que é chamado de onda C. Logo após essa subida a pressão atrial já cai te porque a pressão dentro do ventrículo que estava aumentando muito rápido supera a pressão da aorta (pressão arterial diastólica), fazendo com que a válvula aórtica se abra e o coração comece a ejetar. Sendo assim, assoalho do átrio que estava sendo empurrado para cima rebaixe e a pressão atrial diminui (cai a onda C). Seguindo o ciclo, o ventrículo está ejetando o sangue enquanto a válvula atrioventricular está fechada. Nesse momento, o átrio começa a receber sangue da circulação venosa, ocorrendo novamente uma subida de pressão atrial (onda V), que não é íngreme, visto que o átrio tem um certo grau de complacência satisfatório, fazendo com que ele OBS.: Há como mudar a distensibilidade da parede do coração? Sim, é um tecido misto formado por músculo, mas também por matriz extracelular, onde existe uma rede de colágeno. Quanto mais colágeno inextensível for depositado ali, mais rígida ficará a parede desse coração (menos complacente). Lembrando que alta complacência significa que pode existir um grande aumento de volume sem aumento de pressão. OBS. 2: É importante mencionar que em fisiologia se considera que a diástole do coração começa quando ele começa a encher e não quando começa a relaxar. Logo, diástole não é sinônimo de relaxamento, mas esses dois conceitos estão bem associados. 4 FISIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 aumente de volume sem aumentar tanto a pressão. Por fim, essa pressão só terá um novo descenso (“queda”) na reabertura da válvula atrioventricular, isso depois que o coração já ejetou e se inicia a repolarização do miocárdio, com relaxamento e consequente queda de pressão ventricular, que chega em um nível de pressão inferior àquela dos átrios, gerando a abertura dessa válvula e o início do esvaziamento atrial. Sendo assim, o átrio começa a esvaziar, em outras palavras o ventrículo começa a se encher, de forma totalmente passiva, isto é, no início a contração do átrio não contribui para o enchimento ventricular. PRESSÃO AÓRTICA Já no caso das pressões aórticas (pressão arterial), basicamente há a pressão em níveis baixos, chamada de pressão arterial diastólica e a pressão em níveis altos que ocorrem durante a sístole (no pico da sístole/ejeção), chamada de pressão arterial sistólica. Entre essas pressões, há uma incisura, a incisura dicrótica, que é uma endentação no gráfico (estava decaindo e do nada sobe um pouco e já volta a cair) que ocorre depois que o vaso se enche de sangue (pela ejeção) e se distende criando uma energia elástica que impulsiona o sangue para frente e para trás. Nesse momento, o coração já começou a relaxar, então sua pressão ventricular caiu e a válvula aórtica fechou. O sangue, então quer sair da aorta distendida e inicialmente não consegue ir para frente de maneira tão adequada (por conta da resistência vascular periférica das arteríolas que estão normalmente fechadas), nem tão pouco consegue voltar para o coração (porque a válvula aórtica está fechada), logo essa energia/onda/força gera um breve aumento da pressão na própria aorta (pressão aórtica). À medida que a resistência vascular periférica (RVP) permite o escoamento de sangue, essa pressão volta a decair até que no próximo ciclo a pressão ventricular a vence novamente, ocorrendo a próxima ejeção na aorta. É possível perceber que a pressão arterial sistólica e a pressão arterial diastólica não dependem dos mesmos fatores. Por exemplo, a pressão arterial sistólica depende basicamente de 2 coisas, uma delas é de quanto o coração ejeta durante uma sístole (debito sistólico), quanto maior esse débito, mais a aorta se enche e maior é a PAS (pressão arterial sistólica). Porém, se essa artéria estiver rígida, mesmo com baixo débito cardíaco a PAS vai subir. Logo, essa pressão arterial sistólica depende de quanto o coração ejeta e da distensibilidade/complacência da aorta. Já a pressão arterial diastólica depende de outros fatores, alguns deles em comum com a sistólica, como a distensibilidade aórtica (quanto maior a distensibilidade, mais sangue o coração consegue ejetar e “guardar” na aorta, então maior é a PAD) e o débito sistólico (quanto maior o débito, mais a aorta se enche, há mais sangue para escoar para a periferia e quando chega o próximo ciclo ainda não se escoou tudo, logo a PAD é maior). Ainda, a pressão arterial diastólica pode ser influenciada pela frequência cardíaca. Em um caso em que a RVP, o DS e a distensibilidade OBS.: O momento apontado no gráfico para pressão arterial diastólica é exatamente quando se abre a válvula aórtica. Já o momento apontado pela incisura dicrótica é exatamente quando se fecha essa válvula. Caso ocorra uma doença que afete o fechamento da válvula aórtica e o sangue consiga vazar (voltando pro ventrículo), não ocorreria essa incisura dicrótica e a pressão arterial decairia bem mais rápido. OBS.: É natural durante o envelhecimento humano que os grandes vasos se remodelem no sentido de se tornarem um pouco mais rígidos, portanto, é natural que durante o envelhecimento seja notado um aumento (dependente da idade) da pressão arterial sistólica (a diastólica pode permanecer igual). 5 FISIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 aórtica sejam os mesmos, por exemplo, e ocorra um aumento de frequência, o próximo ciclo/impulso inicia antes, em nível de pressão já aumentado, logo quanto maior a FC, maior a PAD. Mas, de longe, o mais importante fator que influencia a pressão arterial diastólica é a resistência periférica, quanto maior for a resistência ao escoamento do sangue dos grandes vasos para os pequenos vasos mais difícil o sangue sai, então mais sangue fica na aorta, então maior a pressão arterial diastólica. Caso a resistência ao escoamento seja menor, mais fácil o sangue sai da aorta e com isso, a queda da PAD é mais íngreme (PAD é menor). Logo, em uma vasoconstricção periférica, a resistência aumenta, logo a PAD aumenta; já em uma vasodilatação periférica, a resistência diminui, logo a PAD diminui. PULSO PERIFÉRICO É muito difícil de se ter a medida exata da pressão arterial na raiz da aorta (não é palpável). Portando, utiliza-se de métodos para poder estimar a pressão central ou imaginar o que está acontecendo com essa pressão, por exemplo ao avaliar pulsos periféricos, que é uma boa estimativa a respeito da hemodinâmica e do ciclo cardíaco. Nos pulsos periféricos, avalia-se o contorno, o volume, a frequência e a regularidade com qual esses fluxos acontecem. Isso dá uma ideia a respeito do ciclo cardíaco. Há um equipamento (tonômetro) que consegue fazer um registro ponto a ponto desse pulso. Além disso, existem algoritmos matemáticos que fazem uma extrapolação desse pulso periférico traçando como deve ser o pulso aórtico-central (uma estimativa). Quando se tem um pulso diminuído ou ausente, provavelmente a ejeção está prejudicada ou não existe, ou seja, há um choque circulatório, a ejeção cardíaca está muito reduzida ou há uma parada cardíaca. Quando se tem um pulso de baixa amplitude e de longa duração (pulsus parvus et tardus), normalmente se relaciona à obstrução da via de saída do ventrículo esquerdo (estenose valvar aórtica), então a válvula aórtica em vez de abrir adequadamente quando o coração começa a contrair para ejetar, ela abre pouco, então a ejeção é pouca e dura um tempo maior. Quando se tem um pulso elevado e rápido (pulsus magnus et celer), os chamados pulsos em martelo, que são contrários ao pulsus parvus et tardus, isto é, têm uma ejeção muito rápida e grande, relaciona-se a, por exemplo, insuficiência da aorta. Ainda podem existir pulsos irregulares, que normalmente estão relacionados a arritmias cardíacas. COMPONENTE VOLUMÉTRICOAnalisaremos basicamente o volume dentro do ventrículo esquerdo. Esse volume muda ao longo do ciclo cardíaco. Ao longo da diástole o volume costuma aumentar e durante a sístole o volume costuma diminuir. O volume diastólico muda ao longo de toda a diástole, então o que importa saber é o volume no final dela, que reflete o quanto de sangue o coração tem disponível para ejetar, esse volume máximo dentro do ventrículo esquerdo é chamado de volume diastólico final. Após a diástole, então, o miocárdio começa a contrair, aumenta a pressão ventricular, a válvula atrioventricular se fecha e quando aumenta a pressão suficientemente para a válvula aórtica se abrir, começa a ejeção. Sendo assim, o volume cai drasticamente em um primeiro momento, depois permanece caindo, mas mais devagar até chegar em um momento em que o volume não cai mais, que representa o volume sistólico final, que é o volume dentro do ventrículo no final de sua sístole, também chamado de volume residual, visto que não é zerado, isto é, nenhuma sístole ejeta todo o volume sanguíneo de dentro 6 FISIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 do ventrículo esquerdo. A diferença entre esses dois volumes (volume diastólico final – volume residual) é chamado de debito sistólico, que é o volume ejetado (que foi para a aorta). COMPONENTE ELÉTRICO Todos os eventos pressóricos e consequentemente volumétricos e até os acústicos que acontecem ao longo dos ciclos de contração e relaxamento dependem da atividade elétrica. Então, todas as fases do ciclo cardíaco serão ditadas e ordenadas de acordo com os eventos elétricos. A primeira onda eletrocardiográfica é chamada de onda P, é uma onda decorrente das alterações de campo elétrico criadas pela despolarização da massa atrial. Depois, há um complexo de ondas, chamado de complexo QRS, que é um reflexo eletrocardiográfico dos campos elétricos gerados pela despolarização dos ventrículos. Então, há um certo espaço entre a onda P e o complexo QRS, que provavelmente é dependente da condução do estímulo elétrico, desde o nodo sinoatrial distribuindo para a massa atrial e de um certo atraso que ocorre na transmissão desse potencial de ação ao longo do nodo atrioventricular. Por fim, há a onda T, que é a onda da repolarização dos ventrículos. A onda de repolarização dos átrios ocorre praticamente concomitante com a despolarização dos ventrículos, então ela é camuflada pelo complexo QRS. COMPONENTE SONORO Quando se tem uma atividade elétrica, o músculo contrai e relaxa, essas contrações e relaxamentos mudam a pressão, essa diferença de pressão faz com que o sangue se movimente, esse sangue em movimento vibra a parede, turbilhona e faz barulho. Esses barulhos podem ser auscultados e até palpados. Por isso temos ruídos cardíacos, também chamados de bulhas cardíacas, que são ruídos próprios escutados, auscultados, percebidos, sentidos ou tateados ao longo do ciclo cardíaco. Duas são as principais bulhas fisiológicas, que naturalmente estão presentes em todo exame de ausculta cardíaca, a primeira bulha (B1) e a segunda bulha (B2). Elas são diferentes na intensidade e na frequência, porque são formadas através de eventos fisiológicos diferentes. PRIMEIRA BULHA A primeira bulha ou B1 acontece no começo da sístole (é um evento sonoro sistólico). As bulhas do tipo B1 são compostas por vibrações de baixa frequência (possuem tonalidade grave), mistas (com componentes de baixa e média frequência, são mais amplas as frequências), de característica crescente e decrescente, são as mais audíveis (mais altas) e as mais longas. Ela é produzida pelo turbilhonamento e desaceleração do sangue com o fechamento das 2 válvulas atrioventriculares. Então, quando os ventrículos começam a contrair e a pressão dentro deles aumenta, as válvulas atrioventriculares direita e esquerda (tricúspide e mitral) se fechem, e quando elas se fecham subitamente, o sangue que estava tentando voltar para os átrios bate, turbilhona e vibra a parede das valvas 7 FISIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 dessas válvulas e isso cria um som. A parede dessas válvulas têm um componente fibroso menor (são paredes mais frouxas, menos espessas), o que faz que quando elas vibrem possuem uma frequência menor de oscilações (mais grave). O método fonético para representar B1 é o “TUMMM...”. SEGUNDA BULHA A segunda bulha ou B2 acontece no começo da diástole (é um evento sonoro diastólico). As bulhas do tipo B2 são compostas por vibrações de alta frequência, mais agudas, com timbre alto, com duração e intensidade menores (são mais fugazes/rápidas). Assim que o coração ejeta o sangue, ele começa a relaxa, daí a pressão no ventrículo começa a diminuir, então as válvulas semilunares (aórtica e pulmonar) fecham, então o sangue que está nas artérias aorta e pulmonar tenta voltar para os ventrículos, bate, turbilhona e vibra a parede das válvulas e isso cria um som. Já que essa bulha é produzida pelo fechamento rápido das duas válvulas semilunares, que possuem componentes mais fibrosos em sua estrutura, a vibração possui uma frequência maior. O método fonético para representar B2 é o “TÁ!”. OUTRAS BULHAS Ainda podem existir alguns outros barulhos considerados normais/fisiológicos, como a terceira e a quarta bulha, que são bem mais baixas que a primeira e a segunda bulha. A terceira bulha ou B3 nem sempre é audível, podendo ser mais detectável em pessoas jovens e crianças. Essa bulha é causada pela vibração das paredes ventriculares durante a fase de enchimento rápido do ventrículo. Depois que o coração ejeta a quantidade de sangue que devia ser ejetado e começa a relaxar, a válvula atrioventricular se abre, sendo que o coração está totalmente relaxado (paredes bem frouxas/complacentes) e bem vazio, fazendo com que o sangue que chega pelo átrio, caso se tenha uma parede um pouco mais fina (tórax menor), as vezes nessa primeira fase que o sangue chega e bate na parede do ventrículo meio vazio pode vibrar essa parede e produzir um barulho. Essa bulha é encontrada, portanto, no começo da diástole. Ela é notada logo depois de B2. A quarta bulha ou B4 é a mais rara de todas e é causada pelo turbilhonamento de sangue quando ele é propelido com o ventrículo quase cheio, devido à sístole atrial. Logo, ela é notada no fim da diástole, quando o coração está quase cheio e vem o início do próximo ciclo, quando o átrio contrai e contribui para o volume final do ventrículo. Nos corações com parede dura, mais rígidos ou com hipertrofia, quando esse ventrículo que está quase cheio recebe essa ejeção atrial pode vibrar, gerando a quarta bulha. Ela é notada um pouco antes de B1. FASES DO CICLO CARDÍACO Agora que já vimos os componentes do ciclo cardíaco, pegaremos todos eles (componentes pressóricos, volumétricos, elétricos e sonoros) e vamos avaliar ao longo de cada fase do ciclo cardíaco. OBS.: Essas duas bulhas (B1 e B2) quase sempre estão presentes no exame de ausculta (“TUMMM...TÁ!” TUMMM...TÁ”...). Então, escutando e apalpando elas é possível saber características do ciclo, como a frequência. Ainda, se existirem barulhos estranhos é possível saber em que fase do ciclo ocorre algum problema, por exemplo, se ocorre entre o TUM e o TÁ, é um problema na sístole, já se ocorrer entre o TÁ e o TUM, é um problema na diástole. OBS.: Quando é possível escutar outros sons no coração além dessas 4 bulhas fisiológicas, como, por exemplo, um sopro, provavelmente está associado a um problema cardíaco e deve ser investigado. 8 FISIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 A fase 1 do ciclo cardíaco é chamada de fase de contração atrial, porque a primeira coisa que acontece na vida cardiovascular (na vida intrauterina) é uma onda P e, como essa onda gera a despolarização da massaatrial, há a contração do átrio. Assim que o átrio contrai há um aumento de pressão dentro da sua cavidade (onda A de pressão atrial), fazendo com que suba um pouco o volume do ventrículo e, se há determinadas condições (indivíduo idoso, com hipertrofia e/ou rigidez do ventrículo), pode ser possível escutar a quarta bulha (B4). Essa fase de contração atrial é bem rápida e é relativamente pouco importante do ponto de vista de enchimento ventricular, mas em algumas questões pode vir a ser bastante importante. A fase 2 é a fase de contração ventricular que é marcada pelo evento elétrico do complexo QRS e pelo início da contração. Quando o ventrículo cheio de sangue começa a contrair e a pressão dentro dele aumenta, essa pressão faz com que a válvula atrioventricular se feche e quando ela se fecha ocorre a primeira bulha (TUMMM...). Acontece que a pressão está subindo, a válvula atrioventricular já fechou, mas a válvula aórtica ainda não abriu, visto que a pressão ventricular ainda está mais baixa que a do lado de fora (pressão aórtica). Logo, ocorre um período curto, mas importante, em que se tem subida de pressão (devido à contração) com as duas válvulas fechadas, então o volume ventricular não se altera. Esse período, portanto, também é chamado de contração isovolumétrica. Se há um período com subida íngreme de pressão, mas sem mudança do volume, significa que está ocorrendo um rearranjo da forma do coração comprimindo esse sangue e consequentemente aumentando a pressão intraventricular, que é dependente basicamente da capacidade que o músculo tem de encurtar. Essa fase, então, pode ser aproveitada para classificação e estimativa da contratilidade do coração. Quanto mais inclinada essa fase de contração isovolumétrica, maior é o inotropismo/contratilidade do coração. Quanto menos inclinada, menor é a eficiência de aumentar a pressão com as duas válvulas fechadas (menor inotropismo/contratilidade). Essa fase de contração isovolumétrica termina quando a contração deixa de ser isovolumétrica, que é quando a pressão dentro do ventrículo supera a pressão do lado de fora (pressão aórtica) e a válvula aórtica se abre e com isso começa a próxima fase do ciclo cardíaco, que é a fase de ejeção. A fase de ejeção pode ser tratada como apenas 1 fase ou ser subdividida, visto que, no início, a aorta está bem “vazia” e o coração está cheio de sangue e com a pressão muito alta há uma energia potencial e depois cinética (quando a válvula abre) muito grande, então ocorre uma ejeção muito rápida, que é a fase 3 ou fase de ejeção rápida. A partir do momento que o coração já está um pouco mais vazio e terminando de contrair e a aorta já está um pouco cheia por conta da ejeção rápida, é mais difícil para o ventrículo ejetar, então a velocidade e o volume da ejeção diminui, sendo uma segunda fase da ejeção ventricular, a ejeção lenta ou ejeção reduzida, que é a fase 4 do ciclo cardíaco. À medida que se tem a ejeção rápida, há uma queda muito intensa do volume do ventrículo. Já à medida que se OBS.: Uma taquicardia, por exemplo, decorrida de exercício físico, faz com que se tenha mais sístoles por minuto. Normalmente, o aumento da frequência cardíaca se dá acelerando a fase de repouso do potencial de ação do nodo sinoatrial. Logo, ao aumentar a frequência se encurta o período de diástole, mas não o de sístole. Isso faz com que então, relativamente, a importância da sístole atrial para o enchimento do ventrículo aumente. Por isso mesmo que em situações de taquicardia, normalmente o SNA simpático também estimula eventos que otimizam a contração não só dos ventrículos como também dos átrios. Então, indivíduos com alterações rítmicas e/ou contráteis do átrio podem sofrer queda da quantidade de sangue ejetado quando em taquicardia. Indivíduos com fibrilação atrial, por exemplo, que é um caos do processo de despolarização sincronizada da musculatura atrial, isso faz com que cada conjunto de fibras atriais ajam como marca-passo, cada um contraindo na sua própria ordem. 9 FISIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 tem uma ejeção lenta, vai terminando a despolarização do ventrículo, reduzindo a ejeção e começando até a repolarizar. A partir daí, esse ventrículo já está relaxando, a pressão dentro dele vai caindo, até um certo momento que a pressão da aorta, que está se enchendo de sangue, passa a pressão ventricular e válvula aórtica se fecha. Quando isso ocorre, há a incisura dicrótica no gráfico de pressão ventricular, além de ser o momento da segunda bulha (TÁ!). Logo, para de cair o volume do coração, mas ele continua relaxando, caindo pressão e com a válvula aórtica agora fechada, mas essa pressão ainda é maior do que a pressão dentro dos átrios, então, resumindo, está ocorrendo queda de pressão, com relaxamento do músculo e com as duas válvulas fechadas. Portanto, essa fase 5 e é chamada de relaxamento isovolumétrico. Essa fase pode indicar a capacidade de relaxamento, o índice de lusitropismo do músculo cardíaco. Essa fase termina na hora que essa pressão cai tanto porque o músculo cardíaco está tão relaxado, que ela fica abaixo da pressão do átrio cheio de sangue. Mesmo que os átrios não tenham contraído ainda, apenas essa diferença de pressão já é suficiente para abrir a válvula atrioventricular, iniciando a próxima fase que é a fase de enchimento do coração. Assim como a fase de ejeção, essa fase pode ser dividida em uma fase de enchimento rápido ou fase 6 e uma fase de enchimento lento ou fase 7. Assim que começa a fase de enchimento rápido, nos corações dilatados, coração chagásico, com parede fina ou crianças com tórax pequeno, pode ser possível escutar a terceira bulha (B3). ÍNDICES DE FUNÇÃO CARDÍACA É importante que se tenha alguns índices para avaliar a função de bomba do coração e que se tenha projeções do que esses índices significam no ciclo cardíaco. DERIVADA TEMPORAL DA PRESSÃO VENTRICULAR Um índice muito simples, mas que pode ter uma conotação um pouco invasiva é a inclinação do gráfico de pressão durante as fases de contração e relaxamento isovolumétricos. Sendo um índice importante da capacidade do músculo cardíaco de contrair e relaxar. Acaba sendo invasivo porque é necessário inserir um cateter dentro do ventrículo do paciente para poder medir a pressão dentro da câmara. Nessa medição é possível calcular, por exemplo, a velocidade em que a pressão sobe na contração isovolumétrica e a velocidade em que a pressão cai no relaxamento isovolumétrico. Diferentes velocidades significam diferentes desempenhos do coração. Isso é chamado de derivada de pressão por derivada de tempo (dP/dT). Ex.: Experimentos realizados em ratos. Do lado esquerdo o gráfico da pressão intraventricular em um rato saudável e do lado direito o gráfico desse mesmo rato 2 meses depois que a A. Coronária Descendente dele foi amarrada (ocluída), gerando uma necrose na parte do miocárdio que era irrigada por ela (infarto), que sobrecarregou o resto do coração por terem que trabalhar mais para suprir a falta de atividade da parte necrosada, ocorrendo uma insuficiência cardíaca. No gráfico, é possível perceber que nas duas situações a pressão intraventricular alcança o mesmo número (100 mmHg), porém quando se calcula a derivada, ou seja, a velocidade, nota-se que durante a fase de contração isovolumétrica há um pico de velocidade para cima, onde se tem uma inclinação muito grande no gráfico, isto é, esse ventrículo começou a desenvolver pressão muito rapidamente, já durante a fase de relaxamento isovolumétrico há um pico para baixo (pico negativo). Então, quando se mede esses picos máximo e mínimo, cria-se uma ideia sobre a capacidade do músculo que forma essa câmara de contrair e relaxar. Na situação da insuficiência cardíaca, embora se consiga atingir o teto de 100 mmHg, o pico que ele atinge é bem mais baixo tantona contração quanto no relaxamento, o que remete a uma insuficiência cardíaca sistólica e diastólica, já que tanto sua capacidade de contrair quanto de relaxar está prejudicada. 10 FISIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ESTUDO “IN VITRO” DA CONTRATILIDADE Mesmo que a derivada temporal da pressão ventricular seja um bom índice para avaliar a contratilidade do coração, melhor que isso é a avaliação da capacidade de contrair e relaxar com a utilização de um pedaço do músculo em laboratório, analisando então, a sua função miocárdica. Obviamente é impossível obter esse índice de um ser humano vivo, mas com animais de laboratório é possível. O pedaço do músculo, então, é estimulado para contrair e relaxar. À medida que isso ocorre, também é possível calcular a velocidade em que essas duas ações acontecem. Sendo assim, gera-se, novamente, uma derivada de força positiva (contração) e uma derivada de força negativa (relaxamento). FRAÇÃO DE ENCURTAMENTO MIOCÁRDICO Recentemente, houve o desenvolvimento de métodos eficientes de imagem, não-invasivos, do coração, onde se consegue supor a capacidade que o órgão tem de encurtar ou de ejetar sangue. Nesse contexto, tem-se métodos como tomografia computadorizada, ecocardiograma, ressonância nuclear magnética, que podem tirar pequenas “fotos” do coração tanto na sístole, quanto na diástole, observando a espessura da parede do ventrículo nessas duas situações e, por fim, fazendo a diferença entre elas para saber o quanto o músculo está encurtando. Ou ainda, pode se calcular analisando o diâmetro que muda dentro da câmara. FRAÇÃO DE EJEÇÃO O que é mais utilizado na clínica hoje em dia, é o exame que detecta dimensões cardíacas e através de fórmulas matemáticas se extrapola para o volume cardíaco, daí se calcula o volume interno da cavidade na diástole, na sístole, diminui um pelo outro e divide pelo o volume final da diástole, tendo como resultado a fração de ejeção, que seria o percentual de volume diastólico final o coração ejetou, isto é, quantos % desse volume significa o débito sistólico. Uma fração de ejeção normal é em torno de 55%, variando um pouco entre homens e mulheres, significa que do volume diastólico final mais ou menos 55% é ejetado em uma sístole. O volume residual, portanto, é em torno de 45%. %FE = (VDF – VSF) / VDF 11 FISIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 DÉBITO SISTÓLICO Os métodos já mencionados apenas fazem uma suposição, através de métodos matemáticos, de quanto que o coração ejeta. Existem, porém, métodos que medem efetivamente o volume, utilizando imagem, ultrassom, princípio de conservação de massas até condutância elétrica. Essas análises, contudo, costumam ser mais complicadas. Um método um pouco mais recente é o do uso de cateteres que podem ser introduzidos, a nível hospitalar, no ventrículo esquerdo. Esses cateteres possuem microeletrodos, que são divididos naqueles que emitem uma corrente elétrica e naqueles que medem a corrente elétrica que aqueles emitem. Se o local analisado possui condutibilidade, assim como o sangue (visto que é uma solução iônica), é possível medir que quanto maior é a condutibilidade elétrica, maior é o volume de sangue dentro dessa cavidade. Então, esse cateter de condutância elétrica serve para isso, isto é, para introduzir dentro do ventrículo com os vários pares de eletrodos que emitem ondas elétricas e que captam ondas elétricas, com isso se constrói um campo de impedância elétrica e é possível normalizar essa impedância para determinar quanto de volume sanguíneo há em função do tempo, dando a possibilidade de construção de uma curva de volume, quase como na análise do ciclo cardíaco de um indivíduo. É possível, ainda, inserir um transdutor microscópico de pressão para medir, além do volume de sangue, também a pressão dentro da cavidade. PERFOMANCE VENTRICULAR A capacidade de medir volume e pressão ao mesmo tempo torna possível se estudar o ciclo cardíaco de uma outra perspectiva, que do ponto de vista da fisiologia é muito importante como ferramenta de análise da performance do coração, que é a construção da alça pressão-volume. A construção da alça pressão-volume ocorre quanto se pega uma análise instantânea, de cada ponto do ciclo cardíaco, de como se comportam as pressões e os volumes do ventrículo independente do tempo e analisar uma contra a outra. O resultado é esse gráfico onde há momentos de aumento e queda de pressão sem alteração de volume, mas também momentos de aumento e queda de pressão com alteração de volume (volume cai na ejeção enquanto pressão aumenta ou volume aumenta no enchimento enquanto pressão cai). Com essa alça pressão-volume podemos analisar algumas coisas. Primeiro, a largura da alça indica a diferença entre volume diastólico final e volume sistólico final, ou seja, a largura da alça pressão-volume indica o débito sistólico (volume ejetado). Já a altura da alça pressão-volume é a diferença de pressão que é formada. Ainda, a inclinação com a qual a pressão diastólica ao longo do enchimento sobe (inclinação baixa, porém existente) dá o indicativo de outra coisa. Por fim, a inclinação com a qual a sístole/ejeção atinge também nos dá um outro indicativo. Nesse sentido, quando se tem estímulos inotrópicos, com aumento da força de contração, há uma maior ejeção e essa inclinação sobe. Então, a inclinação da reta de Relação entre a Pressão e o Volume na Sístole (RPVS) é um ótimo indicativo de capacidade contrátil. Já em situações em que se tem rigidez do coração, isto é, redução da complacência cardíaca, o aumento do volume que ocorre com o enchimento do coração implica em um aumento maior da pressão, sendo a inclinação da reta da Relação entre a Pressão e o Volume na Diástole (RPVD) um grande indicativo dessa complacência ou da capacidade de relaxamento do ventrículo. OBS.: Um indivíduo com fração de ejeção abaixo de 50%, já é possível considerá-lo com insuficiência cardíaca, visto que ele tem baixo débito sistólico, ou seja, baixo volume de ejeção. 12 FISIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 A última coisa que se pode tirar da alça pressão-volume é o trabalho cardíaco. Em física, trabalho é força vezes deslocamento. Logo, em hemodinâmica, trabalho também será força vezes deslocamento. A força que o coração desempenha é a diferença de pressão, já o deslocamento que o coração executa quando ele consegue desenvolver essa P é o sangue que ele ejeta para a aorta. Sendo assim, o trabalho cardíaco nada mais é que a força que o coração faz vezes o deslocamento de sangue que ele consegue com essa determinada força, isso é o chamado trabalho externo, visto que ele consegue externalizar/executar essa força, transformando-o em movimento/ejeção. O trabalho externo, portanto, pode ser retirado da alça pressão-volume por meio do cálculo da área do gráfico. Sendo assim, basicamente o trabalho cardíaco seria a pressão vezes a ejeção. OBS.: Trabalho interno está relacionado com a energia potencial, associado a colocar o sangue em movimento e a gastar energia para as células ficarem vivas por exemplo. Ex.: Comparação da alça pressão-volume durante o repouso e o exercício¹. Durante o exercício (escuro), a ejeção é maior, a contratilidade aumenta e, consequentemente, aumenta o trabalho. Já na comparação entre idades diferentes², percebe-se que o idoso (embaixo) trabalha com volumes altos, mas nem por isso quer dizer que ele tem o débito sistólico grande. Porém, como com a idade o coração pode ficar mais rígido e perder capacidade contrátil, percebe-se a diminuição da inclinação da RVPS, assim como a diminuição da geração de trabalho cardíaco e consequentemente da ejeção. Ainda, comparando com um rato normal da mesma idade,um rato com insuficiência cardíaca (vermelho) trabalha com volumes altos, mas não ejeta muito (menor trabalho cardíaco).
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