Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 IMUNOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Hipersensibilidades INTRODUÇÃO Essa aula vai tratar dos 4 tipos de hipersensibilidade que temos (sendo que o tipo IV pode ser subdividido em outros tipos), enfatizando cada uma e seus componentes individualizados. Para a prova estudar apenas hipersensibilidade dos tipos I e IV. Sendo que a II e a III possuem espectros que se encaixam dentro desses 2 extremos. Basicamente, as hipersensibilidades são respostas inflamatórias que acontecem principalmente induzidas pelo antígeno. O antígeno é o elemento principal ou um dos elementos principais da resposta imunológica, é ele que controla a resposta imune, visto que só se gera uma resposta frente a um estímulo (que pode ser esse antígeno). Os tipos de respostas inflamatórias vão depender primeiramente do antígeno, visto que ele que vai modular qual tipo de resposta acontecerá. Essas respostas são diferentes em alguns aspectos, mas aqueles mediadores inflamatórios estudados na aula anterior (Ex.: histamina, prostaglandina e leucotrienos) que induzem, por exemplo, vasodilatação e aumento da permeabilidade vascular estão presentes em qualquer resposta inflamatória, portanto em qualquer hipersensibilidade, seja do tipo I, II, III ou IV. A diferença é que esses mediadores serão liberados ora mediados por anticorpos, ora mediados por citocinas por exemplo, sendo esse o detalhe associado a cada tipo de resposta. Sendo assim, todos os fenômenos (vasculares, celulares etc.) associados à indução de um processo inflamatório estarão presentes em todos os tipos de hipersensibilidade. Em um grande espectro dessas hipersensibilidades, tem-se a hipersensibilidade induzida por autoimunidade (tipo II e III), a hipersensibilidade induzida por antígenos/alérgenos, que é a alergia (tipo I) ou hipersensibilidade induzida por respostas excessivas a patógenos/infecções (tipo IV). O antígeno vai ser o determinante para que cada uma dessas repostas aconteça, junto do ambiente em que ele está sendo apresentado. É durante a apresentação de antígeno (sinapse imune) que se terá os fenômenos de diferenciação, onde de um lado há o antígeno que está sendo apresentado e do outro o ambiente, são eles que vão fazer que as células, as subpopulações, sejam diferenciadas nos subgrupos que vimos (TH1, TH2, TH3, Treg etc.). Sendo assim, a apresentação de antígenos é fundamental para que se desenvolvam os diferentes tipos de resposta, daí as diferenças intrínsecas de cada indivíduo. Portanto, o antígeno é importante nesse contexto, mas obviamente associado a outros fatores. DIFERENÇAS GERAIS No grande espectro das hipersensibilidades, como já dito, elas podem ser divididas em 4 tipos (sendo a IV aqui considerada apenas a IVa, ignorando as outras divisões de IVb, IVc etc.), onde cada uma possui características específicas associadas. A hipersensibilidade do tipo I ou alergia é uma resposta inflamatória dependente de anticorpo (no caso, IgE). As outras hipersensibilidades estão associadas ou a IgG (tipo II e III – de natureza autoimune) ou mediadas por células (tipo IV). As hipersensibilidades do tipo II e III são de natureza autoimune ou podem ter complicações durante doenças OBS.: Duas pessoas podem morar no mesmo local durante o mesmo tempo, que um terá respostas e susceptibilidades a determinados antígenos totalmente diferentes das do outro, porque o antígeno tem o seu papel, mas o ambiente no qual esse antígeno está sendo apresentado e como as células respondem a esse complexo são diferentes. CAP. 4 - BOGLIOLO ou CAP. 11 - ABBINHAS / PROF. DANIEL 2 IMUNOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 autoimunes e são dependentes ou de complemento mediado por IgG ou por citotoxicidade mediada por IgG (ADCC – Citotoxicidade de célula dependente de anticorpo). A hipersensibilidade do tipo IV é uma resposta basicamente celular ou dependente de células. Os antígenos associados vão variar. Na do tipo I há a presença de antígenos solúveis, assim como na do tipo III. Enquanto no tipo IV são células apresentadoras que apresentam esses antígenos e diferenciam células T em células do tipo TH1 (produtor de IFN-, IL-12, IL-2 etc.). As células efetoras também vão variar obviamente. Na do tipo I há presença de mastócitos, basófilos e eosinófilos principalmente (alguns livros dão ênfase a mastócitos, porque é uma célula mais presente em tecidos periféricos, mas as outras 2 células também são importantes). Já na do tipo IV há os fagócitos sendo células importantes durante o processo de apresentação de antígeno e os linfócitos T que vão secretar os mediadores que vão induzir as atividades dos fagócitos. Falando de alguns exemplos de hipersensibilidade, tem-se a rinite alérgica, a asma e o choque anafilático como hipersensibilidades imediatas (do tipo I). Enquanto de hipersensibilidades tardias (do tipo IV) se tem respostas a patógenos crônicos, como por exemplo MTB (Mycobacterium tuberculosis), Leishmania e Plasmodium. Já a hipersensibilidade do tipo III é associada a, por exemplo, artrite reumatoide (doenças autoimunes) e de hipersensibilidade do tipo II tem-se a anemia hemolítica. HIPERSENSIBILIDADE DO TIPO I É a hipersensibilidade imediata, é muito rápida e decorrente da ligação de antígenos ao anticorpo do tipo IgE causando a degranulação de células, como mastócitos. As hipersensibilidades do tipo I são as reações alérgicas. FASE DE SENSIBILIZAÇÃO Possui uma fase de sensibilização, visto que se é uma resposta inflamatória dependente de IgE não vai existir desencadeamento de processos alérgicos se não tiver IgE antígeno-específico. Logo, essa fase de sensibilização nada mais é do que o contato prévio com o alérgeno e a produção de IgE antígeno-específico previamente. Essa IgE produzida vai se ligar a receptores na superfície de mastócitos, basófilos e eosinófilos, que possuem o receptor FCR- OBS.: Quadro geral das características. 3 IMUNOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 (FCR Epslon) nas suas superfície, principalmente os mastócitos. Resumindo, há o contato prévio com o antígeno que induz a produção de IgE antígeno- específico pelas células B e esses IgE se ligam a receptores de alta afinidade na membrana de mastócitos, basófilos e eosinófilos, fazendo com que essas células expressem esses receptores. Uma característica importante é que esses anticorpos permanecem ligados independente do encontro com o antígeno. Em um segundo contato, portanto, toda essa maquinaria já está preparada, fazendo com que as células mencionadas degranulem os mediadores inflamatórios (histamina, prostaglandina, leucotrienos etc.). É importante mencionar que existe uma dimerização dos receptores para a degranulação, isto é, um único antígeno associado ao anticorpo não é suficiente para induzir os sinais de ativação para a degranulação. A fase de sensibilização se resume na produção dos anticorpos e na ligação deles na membrana de células de defesa. Sensibilização, portanto, é a formação da capacidade de reconhecimento de um alérgeno ou da capacidade do mastócito ser ativado na presença do alérgeno. Essa resposta inflamatória, obviamente, vai depender de algumas coisas, como a presença do alérgeno, que vai induzir maior produção de anticorpo e a maior possibilidade desse anticorpo sensibilizar mastócitos e eventualmente eles degranularem. Porém, existem outros fatores como idade, fatores genéticos do indivíduo (capacidade de gerar o clone ou não, clone com grande afinidade ou não etc.), fatores ambientais (exposição ou não e outros como qual a infecção etc.). TEORIA DA HIGIENE Então, observa-se na imagem o antígeno junto de outros fatores influenciando a alergia, além de algumas manifestações dela. Há uma hipótese, que é a teoria da higiene, que, em resumo, diz que quanto mais higiênicoo indivíduo for (no sentido de limitado para encontrar antígenos), mais processos alérgicos ele tem. Em suma, a exposição antigênica promove o balanço de TH1 e TH2. Nesse sentido, a privação à exposição antigênica induz preferencialmente uma diferenciação para TH2, então esses indivíduos contidos dessa exposição preferencialmente têm mais susceptibilidade a processos alérgicos. Ex.: Em indivíduos alérgicos, uma coinfecção com helmintos tende a piorar a resposta de hipersensibilidade imediata, porque infecções com helmintos geram, por exemplo, eosinofilia, sendo o eosinófilo uma célula efetora dos processos alérgicos. Já outro exemplo seria que infecções crônicas onde se tem predominantemente diferenciação de células TH1 diminui situações de alergia. Então, estados de coinfecção acabam influenciando na capacidade do indivíduo de manifestar respostas alérgicas. Ex.: A incidência de processos alérgicos em Santa Maria de Jetibá é menor do que em Vitória, porque a exposição antigênica em Vitória é menor (pela cultura de cidade grande, como por exemplo estar sempre calçado). 4 IMUNOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 BALANÇO INFLAMATÓRIO DE UM INIDVÍDUO Em um indivíduo saudável, onde há o equilíbrio entre respostas extremas do tipo TH1 e do tipo TH2 não há respostas exacerbadas. Já em situações de um indivíduo alérgico, preferencialmente há o predomínio de respostas do tipo TH2 sobre respostas do tipo TH1, isso obviamente vai influenciar todos os mecanismos funcionais e associados a esse tipo de resposta. É possível, então, fazer uma holística da alergia ou o balanço Yin/Yan das citocinas. CARACTERÍSTICAS DOS ALÉRGENOS Em geral, os alérgenos são proteínas, porém nem sempre, o pólen, por exemplo, é um carboidrato e pode gerar produção de anticorpos e alergia. Essas proteínas ou qualquer outro tipo de antígeno podem induzir resposta mesmo em dose baixa. Normalmente, esses alérgenos possuem baixo peso molecular, visto que por serem muito pequenos eles conseguem ter uma alta difusão em ambientes solúveis, sendo facilmente carreados, portanto outra característica dos alérgenos é a alta solubilidade estável. Além disso, os alérgenos podem conter peptídeos que se ligam ao TCR (Receptor de Células T) diretamente, ou seja, não precisam do MHC (independente de apresentação de antígeno), esses antígenos são chamados de superantígenos. FASE DE SENSIBILIZAÇÃO Em resumo, tem-se a célula apresentadora de antígeno diferenciando, no primeiro momento, células TH0 em células TH2, essa TH2 libera citocinas que favorecem a célula B, que era produtora de IgM, a passar a secretar IgE antígeno-específica. Essa IgE produzida vai se ligar nos receptores de alta afinidade na superfície do mastócito. A célula B produtora de IgM/IgE se transforma numa célula de memória e é isso que perdura nas respostas seguintes. Portanto, indivíduos com alergia ou é ativado a um determinado estímulo prévio perpetua essa resposta aos alérgenos. OBS.: Por serem antígenos muito pequenos, é muito mais fácil os alérgenos apresentarem estruturas semelhantes, o que facilita respostas cruzadas, isto é, ter uma resposta a um antígeno mesmo sem ser sensibilizado especificamente a ele e sim a peptídeos em comum com outro antígeno ao qual ocorreu uma sensibilização prévia. 5 IMUNOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 FASE DE ATIVAÇÃO Ocorre a degranulação das células (mastócitos, basófilos...) após a reexposição ao alérgeno. Lembrando que as IgE se ligam a receptores de alta afinidade nos mastócitos e existe uma dimerização do reconhecimento entre antígeno e IgE que faz com que os mastócitos/basófilos degranulem os mediadores vasoativos. FASE EFETORA É a fase de ação das substâncias farmacologicamente ativas sobre os tecidos. Aqueles grânulos possuirão mediadores pré-formados (histamina, heparina etc.), liberando principalmente aminas vasoativas ou secretam mediadores lipídicos (ex.: prostaglandinas, tromboxanos e leucotrienos). Esses mediadores vão induzir vasodilatação, broncoconstrição, aumento da permeabilidade vascular, secreção glandular, espasmo de musculatura lisa, entre outras alterações. Lembrando que todos os mediadores atuam muito rapidamente, por isso é chamada de fase imediata/aguda (entre 5 e 30 minutos). Portanto, esses mediadores darão essas características iniciais e posteriormente todo o processo inflamatório será envolvido (recrutamento de células da imunidade inata, reparo tecidual etc.). 6 IMUNOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Nesse primeiro momento, então, há uma ação dos mastócitos, associados a células TH2. Já em um segundo momento, essa resposta inflamatória vai favorecer a migração de outras células, que podem ser os eosinófilos e, inclusive, células TH1 para tentar modular/controlar essa resposta inflamatória do tipo TH2. Sendo assim, a fase tardia/crônica é caracterizada por infiltração de eosinófilos, basófilos, neutrófilos, monócitos e células TH1, podendo haver dano tecidual. APLICAÇÕES DA HIPERSENSIBILIDADE IMEDIATA Os testes cutâneos são amplamente realizados, principalmente em clínicas de alergia por alergistas, para tentar desvendar os antígenos/alérgenos aos quais um indivíduo tem respostas pré-definidas. Basicamente, nesse teste são colocados diferentes tipos de antígenos predominantemente locais (o teste cutâneo do Brasil não é o mesmo da Europa) em contato com o indivíduo e podem ser deixados até 24 horas para medir as respostas. Algumas respostas comuns de hipersensibilidade imediata são a dermatite atópica, a rinite alérgica e a asma. CONTROLE DAS RESPOSTAS DE HIPERSENSIBILIDADE O controle pode ser feito por intervenção ambiental, ao se evitar a exposição aos alérgenos reconhecidos, como o pólen. Pode também ser feita a intervenção imunológica, como por exemplo a “vacina” para alergia (não é realmente vacina), que é uma administração do antígeno na tentativa de inibir as respostas para esse antígeno (indução de anergia, uma desativação dos clones antígenos-específicos); por imunoterapia (hipossensibilização/síntese de anticorpos bloqueadores); por indução de tolerância (TH1/TH2); por anticorpos monoclonais anti-IgE (bloqueio nos receptores de mastócitos e basófilos); por citocinas; entre outros. Pode ser feita, ainda, a intervenção farmacológica, que são várias, podendo ser diferentes ou combinadas. As principais são o uso de corticoides, de anti-histamínico e de epinefrina. A cromalina de sódio estabiliza membranas e previne o influxo de Ca2+, inibindo a degranulação de mastócitos quando administrada antes da exposição ao alérgeno. Já os corticosteroides bloqueiam as vias metabólicas envolvendo o ácido araquidônico e exercem efeitos anti-inflamatórios. As anti-histaminas são inibidores competitivos específicos aos receptores da histamina. Por fim, a 7 IMUNOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 epinefrina ou adrenalina, em casos mais tensos, tratam eficientemente os efeitos sistêmicos da anafilaxia que põem em risco a vida, relaxando a musculatura lisa e diminuindo a permeabilidade vascular. HIPERSENSIBILIDADES DO TIPO II e III As hipersensibilidades do tipo II e III estão muito associadas a doenças autoimunes ou em resposta a antígenos associados a superfície de células. Basicamente, elas vão mediar respostas de células inatas (como acontece também no tipo I) e elas também são hipersensibilidades dependentes de anticorpo, onde respostas do tipo II estão muito associadas a IgM e IgG, enquanto respostas do tipo III vão estar associadas basicamente a IgG. HIPERSENSIBILIDADE DO TIPO II As hipersensibilidades do tipo II vão induzir uma hipersensibilidade citotóxica (ADCC - Citotoxicidade de célula dependente de anticorpo), que pode ser uma citotoxicidade direta dependente de célula(via IgG). Também tem citotoxicidade independente de células (via complemento, que pode ser induzido por IgG e IgM). Essa citotoxicidade é produzida contra antígenos presentes na superfície de células (ex.: célula tumoral). Uma doença clássica da hipersensibilidade do tipo 2 é a anemia hemolítica ou anemia hemolítica do recém- nascido. Ela ocorre muito em casos de transfusão sanguínea de grupos Rh diferentes, gerando respostas citotóxicas contra antígenos Rh presentes na superfície de hemácias. A anemia hemolítica fetal ocorre quanto o feto possui um Rh diferente (positivo) do materno (negativo), a mãe produz anticorpos específicos contra o Rh fetal. Então, em uma segunda gestação que o feto também possua o Rh diferente (positivo), a mãe já possuindo os anticorpos específicos destrói as hemácias fetais. Esse caso ocorre apenas com IgG, visto que é a única que passa a placenta. Decorrente do efeito citopático de Acs, dirigidos contra Ags presentes na superfície ou matriz celular. Citotoxicidade celular dependente de Ac (ADCC) Lise Celular Lesão Tecidual Fagocitose Hipersensibilidade Tipo II 8 IMUNOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Outro exemplo clínico do tipo II é a miastenia gravis, onde se tem anticorpos sendo produzidos contra receptores de acetilcolina, induzindo a morte das células que expressam esses receptores, levando a perda da morfologia muscular ou internalização da própria célula que expressa o receptor, impedindo a transmissão dos sinais que seriam desencadeados. HIPERSENSIBILIDADE DO TIPO III A hipersensibilidade do tipo III é mediada por imunocomplexos, que vão induzir respostas principalmente de células inatas, de fagócitos. Imunocomplexos são formados pela interação dos antígenos com anticorpos. Essa hipersensibilidade mediada por imunocomplexos, então, ocorre quando se tem uma abundância de antígenos e anticorpos ligados/interagindo. Toda vez que há a formação do imunocomplexos, o anticorpo circulante, em tese, perde a capacidade de realizar funções efetoras. Então, isso precisa ser removido (por processo de filtração sanguínea), porém em situações de abundância desses complexos proteicos e por formarem estruturas com grande peso molecular, há uma deposição dos complexos em junções, endotélios e outros, gerando respostas inflamatórias locais. Nesse sentido, a hipersensibilidade causada por imunocomplexos se dá na tentativa de eliminar depósitos de antígenos e anticorpos em matrizes no geral. Entre uma exposição recente e rápida de antígeno e uma exposição de longo prazo, em qual provavelmente se tem mais anticorpos específicos circulantes? A situação de exposição crônica, obviamente. Seguindo essa linha de pensamento, a hipersensibilidade do tipo III se dá devido a uma exposição antigênica crônica ou em situações de 9 IMUNOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 infecções crônicas, onde se tem uma abundância antigênica e abundância de anticorpos que são produzidos em resposta a esse estímulo crônico. Nesse contexto, infecções agudas não formam imunocomplexos em quantidade suficiente para ocorrer deposição deles e, consequentemente, uma resposta do tipo III. Nesse contexto, a formação de imunocomplexos se dá por antígenos infecciosos crônicos (Ex.: Hepatite B), por antígenos ambientais inócuos (Ex.: Pulmão do fazendeiro, fármacos – doença do soro) ou por autoantígenos que são produzidos a longo prazo (Ex.: autoanticorpos contra DNA no lúpus eritematoso sistêmico). Independente de como a formação dos imunocomplexos ocorre, haverá a deposição desses complexos e a resposta inflamatória na tentativa de eliminá-los, feita basicamente por células da imunidade inata (macrófagos, neutrófilos etc.). Em geral, essa situação gera vasculites muito fáceis de serem observadas (respostas locais). Outro exemplo clínico é a doença do soro, que é a deposição sistêmica dos imunocomplexos, que acontece geralmente depois da transfusão passiva de anticorpos (Ex.: aplicação de soro antiofídico após ataque de cobra). Essa doença gera um quadro de febre evolutiva, vasculites e erupções cutâneas. Outra doença relacionada a hipersensibilidade do tipo III é o pulmão do fazendeiro, que se dá devido ao acúmulo crônico de fluidos, células e proteínas nos alvéolos por meio de estimulação crônica de antígenos que não induzem hipersensibilidade imediata, o que dificulta troca gasosa e pode levar a fibrose pulmonar. Ainda, a doença mais clássica é o lúpus eritematoso sistêmico, que é de natureza autoimune, sendo uma resposta contra componentes nucleares, ocorrendo 90% das vezes em mulheres (relação hormonal não esclarecida) e 10x mais frequentemente em pessoas com familiares também com lúpus (tem fator genético). Por fim, há a artrite reumatoide, que é a deposição de imunocomplexos em junções principalmente e em rins. HIPERSENSIBILIDADE DO TIPO IV A hipersensibilidade do tipo IV é dependente de células e anticorpos. Nesse tipo de hipersensibilidade há o acontecimento de todas as respostas, isto é, haverá linfócito B produzindo anticorpo (no caso IgG), linfócito T CD8 atuando na eliminação da célula infectada, linfócito T CD4 produzindo citocinas inflamatórias importantes para diferenciar outras populações de células (seja TH1, seja TH2), além de T CD4 atuando na ativação das funções fagocitárias de macrófagos e outros fagócitos. A hipersensibilidade do tipo IV, então, acaba sendo uma interação de fenômenos que estão relacionados com outros tipos de hipersensibilidade. Algumas características desse tipo de hipersensibilidade é que ele se dá em resposta a antígenos crônicos, ocorre a ativação de linfócitos T, ocorre uma resposta inflamatória local ou sistêmica (dependendo do tipo de Doença do Soro Hipersensibilidade tipo III Fonte: www.primehealthchannel.com Fonte: www.primehealthchannel.com Pulmão de Fazendeiro Hipersensibilidade tipo III Fonte: Roitt, Ivan et al. Imunologia. Doença do Soro Artrite Reumatoide Pulmão do Fazendeiro Lúpus Eritematoso Sistêmico 10 IMUNOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 antígeno), ocorre participação de células inatas (acúmulo de macrófagos principalmente), ocorre formação de granuloma, que por sua vez será responsável por uma lesão tecidual crônica. Algumas patologias e situações estão associadas a essa hipersensibilidade, como tuberculose, esquistossomose, Doença de Chagas, leishmaniose, rejeição à aloenxerto (transplante de órgãos), infecções por microrganismos e doenças inflamatórias intestinais (ex.: doença celíaca). Uma característica desse tipo é chamada de hipersensibilidade tardia, por demorar para ocorrer após a exposição antigênica (24 a 72 horas, no geral). GRANULOMA Estrutura muito característica na hipersensibilidade tardia, que é uma estrutura formada pelo acúmulo de leucócitos que vão se fundindo, formando uma célula “gigante” multinucleada, fácil de visualizar no microscópio, onde acontece uma tentativa de encapsular o antígeno, uma vez que o antígeno não consegue ser eliminado. Acontece que essas células vão perdendo as funções à medida que elas entram para o granuloma, e à medida que vão se acumulando diferentes granulomas em um determinado tecido, esse tecido também vai perdendo ao pouco suas funções. Basicamente, granuloma é um tipo de inflamação crônica em que a célula predominante é o macrófago ativado com aparência epiteloide. Consiste em um agregado de macrófagos circundado por um colar de linfócitos e delimitada por uma cápsula de tecido conjuntivo.
Compartilhar