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HOMOLOGAÇÃO DE PENHOR LEGAL (CPC, arts. 703-706) 1. INTRODUÇÃO • Penhor: direito real de garantia, por meio do qual o devedor oferece bem móvel de sua propriedade ao credor, que toma posse até o total adimplemento da dívida. Art. 1.431. Constitui-se o penhor pela transferência efetiva da posse que, em garantia do débito ao credor ou a quem o represente, faz o devedor, ou alguém por ele, de uma coisa móvel, suscetível de alienação. • Pressuposto: exercício da autotutela para proteção de certos credores ou titulares de direito em situação jurídica especialmente vulnerável (art. 1.467-1472, CC). CÓDIGO CIVIL Art. 1.467. São credores pignoratícios, independentemente de convenção: I - os hospedeiros, ou fornecedores de pousada ou alimento, sobre as bagagens, móveis, jóias ou dinheiro que os seus consumidores ou fregueses tiverem consigo nas respectivas casas ou estabelecimentos, pelas despesas ou consumo que aí tiverem feito; INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA II - o dono (locador) do prédio rústico ou urbano, com base em contrato escrito, sobre os bens móveis que o rendeiro ou inquilino tiver guarnecendo o mesmo prédio, pelos aluguéis ou rendas. Art. 1.468. A conta das dívidas enumeradas no inciso I do artigo antecedente será extraída conforme a tabela impressa, prévia e ostensivamente exposta na casa, dos preços de hospedagem, da pensão ou dos gêneros fornecidos, sob pena de nulidade do penhor (extra/judicial). Art. 1.469. Em cada um dos casos do art. 1.467, o credor poderá tomar em garantia um ou mais objetos até o valor da dívida. Art. 1.470. Os credores, compreendidos no art. 1.467, podem fazer efetivo o penhor, antes de recorrerem à autoridade judiciária, sempre que haja perigo na demora, dando aos devedores comprovante dos bens de que se apossarem. Art. 1.471. Tomado o penhor, requererá o credor, ato contínuo, a sua homologação judicial. Art. 1.472. Pode o locatário impedir a constituição do penhor mediante caução idônea. • Objeto: autorização para o credor constituir o penhor, apossando-se de bens móveis do devedor em garantia do pagamento do débito. • Exceção: bens impenhoráveis e bens do inquilino situados em locais diversos do imóvel locado. • Modalidades: judicial ou extrajudicial (art. 703, caput, §2º a 4°): Art. 703. Tomado o penhor legal nos casos previstos em lei, requererá o credor, ato contínuo, a homologação. Ato contínuo: até 30 dias do apossamento dos bens (cautelares, CPC/73; art. 308) Vencido o prazo: cabimento de ação possessória do devedor § 2º A homologação do penhor legal poderá ser promovida pela via extrajudicial mediante requerimento, que conterá os requisitos previstos no § 1º deste artigo, do credor a notário de sua livre escolha. § 3º Recebido o requerimento, o notário promoverá a notificação extrajudicial do devedor para, no prazo de 5 (cinco) dias, pagar o débito ou impugnar sua cobrança, alegando por escrito uma das causas previstas no art. 704, hipótese em que o procedimento será encaminhado ao juízo competente para decisão. § 4º Transcorrido o prazo sem manifestação do devedor, o notário formalizará a homologação do penhor legal por escritura pública. 2. LEGITIMIDADE • Legitimado ativo: credor (hospedeiros, ou fornecedores de pousada ou alimento; o dono (locador) do prédio rústico ou urbano). • Legitimado passivo: devedor (consumidores ou fregueses; rendeiro ou inquilino). 3. COMPETÊNCIA • Competência territorial: relativa. • Domicílio do réu (CPC, art. 46) Art. 46. A ação fundada em direito pessoal ou em direito real sobre bens móveis será proposta, em regra, no foro de domicílio do réu. § 1º Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer deles. § 2º Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele poderá ser demandado onde for encontrado ou no foro de domicílio do autor. § 3º Quando o réu não tiver domicílio ou residência no Brasil, a ação será proposta no foro de domicílio do autor, e, se este também residir fora do Brasil, a ação será proposta em qualquer foro. § 4º Havendo 2 (dois) ou mais réus com diferentes domicílios, serão demandados no foro de qualquer deles, à escolha do autor. 4. PROCEDIMENTO 4.1 HOMOLOGAÇÃO EXTRAJUDICIAL • Petição inicial (arts. 319 e 320). • Documentos indispensáveis (art. 703, §1°): contrato de locação ou a conta pormenorizada das despesas, a tabela dos preços e a relação dos objetos retidos. • Requerimentos obrigatório: notificação do devedor para pagar em 5 dias ou impugnar (art. 703, §1°). Art. 231, § 3º Quando o ato tiver de ser praticado diretamente pela parte ou por quem, de qualquer forma, participe do processo, sem a intermediação de representante judicial, o dia do começo do prazo para cumprimento da determinação judicial corresponderá à data em que se der a comunicação. • Posturas do réu (hóspede, freguês ou inquilino): a) Pagamento: se aceito pelo credor -> lavratura da ata notarial com a indicação do pagamento (quitação); se não aceito -> lavratura da ata notarial certificando a não homologação e remessa ao juízo competente (art. 703, § 3º). b) Impugnação: lavratura da ata notarial certificando os motivos, a não homologação e remessa ao juízo competente (art. 703, § 3º). c) Inercia: homologação por escritura pública -> consolidação da posse do credor sobre o bem empenhado (art. 703, § 4º; 784, XI). 4.2 HOMOLOGAÇÃO JUDICIAL • Petição inicial (arts. 319 e 320). • Documentos indispensáveis (art. 703, §1°): contrato de locação ou a conta pormenorizada das despesas, a tabela dos preços e a relação dos objetos retidos; ata notarial com a não homologação extrajudicial. • Requerimentos obrigatórios: citação do devedor para pagar ou contestar em audiência preliminar (art. 703, §1°) e homologação do penhor legal. • Designação de audiência preliminar. • Posturas do réu (hóspede, freguês ou inquilino): d) Pagamento: credor aceita -> reconhecimento jurídico do pedido -> sentença homologatória (art. 487, II); credor não aceita -> procedimento comum. e) Contestação em audiência (art. 704) -> procedimento comum. CPC Art. 704. A defesa só pode consistir em: I - nulidade do processo (inclusive, art. 337); II - extinção da obrigação; III - não estar a dívida compreendida entre as previstas em lei ou não estarem os bens sujeitos a penhor legal; IV - alegação de haver sido ofertada caução idônea, rejeitada pelo credor (CC, art. 1.472) Art. 705. A partir da audiência preliminar, observar-se-á o procedimento comum. CC Art. 1.468. A conta das dívidas enumeradas no inciso I do artigo antecedente será extraída conforme a tabela impressa, prévia e ostensivamente exposta na casa, dos preços de hospedagem, da pensão ou dos gêneros fornecidos, sob pena de nulidade do penhor (extra/judicial). Art. 1.472. Pode o locatário impedir a constituição do penhor mediante caução idônea. f) Revelia: sentença homologatória, exceto se for o caso de atuação da DP em favor do revel (art. 72, II); ou procedimento comum (art. 345). Art. 72. O juiz nomeará curador especial ao: I - incapaz, se não tiver representante legal ou se os interesses deste colidirem com os daquele, enquanto durar a incapacidade; II - réu preso revel, bem como ao réu revel citado por edital ou com hora certa, enquanto não for constituído advogado. Parágrafo único. A curatela especial será exercida pela Defensoria Pública, nos termos da lei. Art. 344. Se o réu não contestar a ação, será considerado revel e presumir-se-ão verdadeirasas alegações de fato formuladas pelo autor. Art. 345. A revelia não produz o efeito mencionado no art. 344 se: I - havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação; II - o litígio versar sobre direitos indisponíveis; III - a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei considere indispensável à prova do ato; IV - as alegações de fato formuladas pelo autor forem inverossímeis ou estiverem em contradição com prova constante dos autos. 4.3 SENTENÇA a) PROCEDENCIA Art. 706. Homologado judicialmente o penhor legal, consolidar-se-á a posse do autor sobre o objeto. B) IMPROCEDENCIA § 1º Negada a homologação, o objeto será entregue ao réu, ressalvado ao autor o direito de cobrar a dívida pelo procedimento comum, salvo se acolhida a alegação de extinção da obrigação. CASO CONCRETO Donald é proprietário de imóvel urbano e vem tentando há meses, sem sucesso, receber os alugueis de John, seu inquilino. O valor da dívida soma aproximadamente R$ 36.000,00 referente à locação, mais R$ 12.000,00 de despesas condominiais e tributos não pagos. Donald já ajuizou ação de despejo, ainda sem previsão de julgamento. Irritado com a lentidão do processo, Donald vai até o imóvel locado enquanto o seu inquilino está no trabalho, e de lá retira vários objetos, como televisores, computadores e dois armários. Coloca tudo no veículo do John e leva os bens, inclusive o veículo até a sua residência. O valor total dos bens é de R$ 48.000,00. Como advogado de Donald ou John, o que você propõe como remédio jurídico para a situação?
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