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Montes Claros/MG - 2013 Iara Soares de França Priscilla Caires Santana Afonso 2ª edição atualizada por Iara Soares de França Geografia 2ª EDIÇÃO 2013 Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei. EDITORA UNIMONTES Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG) Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089 Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214 Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - Unimontes Ficha Catalográfica: Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES REITOR João dos Reis Canela VICE-REITORA Maria Ivete Soares de Almeida DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES Humberto Velloso Reis EDITORA UNIMONTES Conselho Editorial Prof. Silvio Guimarães – Medicina. Unimontes. Prof. Hercílio Mertelli – Odontologia. Unimontes. Prof. Humberto Guido – Filosofia. UFU. Profª Maria Geralda Almeida. UFG Prof. Luis Jobim – UERJ. Prof. Manuel Sarmento – Minho – Portugal. Prof. Fernando Verdú Pascoal. Valencia – Espanha. Prof. Antônio Alvimar Souza - Unimontes Prof. Fernando Lolas Stepke. – Univ. Chile. Prof. José Geraldo de Freitas Drumond – Unimontes. Profª Rita de Cássia Silva Dionísio. Letras – Unimontes. Profª Maisa Tavares de Souza Leite. Enfermagem – Unimontes. Profª Siomara A. Silva – Educação Física. UFOP. REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA Carla Roselma Athayde Moraes Maria Cristina Ruas de Abreu Maia Waneuza Soares Eulálio REVISÃO TÉCNICA Gisléia de Cássia Oliveira Karen Torres C. Lafetá de Almeida Viviane Margareth Chaves Pereira Reis DESIGN EDITORIAL E CONTROLE DE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO Andréia Santos Dias Camilla Maria Silva Rodrigues Fernando Guilherme Veloso Queiroz Magda Lima de Oliveira Sanzio Mendonça Henriiques Sônia Maria Oliveira Wendell Brito Mineiro Zilmar Santos Cardoso Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes betânia maria Araújo Passos Diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS/ Unimontes maria das mercês borem Correa machado Diretor do Centro de Ciências Humanas - CCH/Unimontes Antônio Wagner Veloso Rocha Diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA/Unimontes Paulo Cesar mendes barbosa Chefe do Departamento de Comunicação e Letras/Unimontes Sandra Ramos de Oliveira Chefe do Departamento de Educação/Unimontes Andréa Lafetá de melo Franco Chefe do Departamento de Educação Física/Unimontes Rogério Othon Teixeira Alves Chefe do Departamento de Filosofi a/Unimontes Angela Cristina borges Chefe do Departamento de Geociências/Unimontes Antônio maurílio Alencar Feitosa Chefe do Departamento de História/Unimontes donizette Lima do nascimento Chefe do Departamento de Política e Ciências Sociais/Unimontes Isabel Cristina barbosa de brito Ministro da Educação Aloizio mercadante Oliva Presidente Geral da CAPES Jorge Almeida Guimarães Diretor de Educação a Distância da CAPES João Carlos Teatini de Souza Clímaco Governador do Estado de Minas Gerais Antônio Augusto Junho Anastasia Vice-Governador do Estado de Minas Gerais Alberto Pinto Coelho Júnior Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior nárcio Rodrigues Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes João dos Reis Canela Vice-Reitora da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes maria Ivete Soares de Almeida Pró-Reitor de Ensino/Unimontes João Felício Rodrigues neto Diretor do Centro de Educação a Distância/Unimontes Jânio marques dias Coordenadora da UAB/Unimontes maria Ângela Lopes dumont macedo Autoras Iara Soares de França Doutora em Geografia e Mestre em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU. Atualmente é professora do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes e Coordenadora do Laboratório de Estudos Urbanos e Rurais/ LAEUR. Priscilla Caires Santana Afonso Doutora em Geografia e Mestre em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU. Atualmente é professora do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes. Sumário Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9 Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 A geografia como ciência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 1.2 A evolução do pensamento geográfico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 1.3 A ciência geográfica: perspectivas históricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12 1.4 Categorias de análise geográfica: lugar, paisagem, região, território e espaço . . . . .20 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .26 Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27 A ciência cartográfica no estudo da geografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27 2.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27 2.2 A cartografia: alguns aspectos históricos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27 2.3 Os conceitos cartográficos: a orientação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .35 Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37 O espaço contemporâneo: unidade e diversidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37 3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37 3.2 Unidade, diversidade e fragmentação no mundo globalizado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .45 Resumo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .47 Referências básicas, complementares e suplementares . . . . .49 Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51 9 História - Geografia Apresentação Caro (a) acadêmico (a), O objetivo deste caderno é colaborar com a sua formação, no curso de História, promoven- do o seu envolvimento na vida acadêmica e, consequentemente, na vida em sociedade. Dese- jamos estimular sua criatividade para que o processo de ensino-aprendizagem possibilite o de- senvolvimento de habilidades necessárias ao debate crítico – elemento fundamental no ensino superior. O que se pretende, aqui, é contribuir com a formação de sujeitos ativos e dinâmicos, que participem como agentes de criação, de transformação e de compreensão dos espaços de vivência. Neste sentido, a disciplina Geografia, no curso de História, fortalece o debate da interdisci- plinaridade e a conexão existente entre esses dois ramos de ensino numa perspectiva de com- plementaridade. Para o desenvolvimento da disciplina, apresentaremos o conteúdo em três unidades.Cada unidade está organizada em tópicos e se inicia com uma breve contextualização do que será abordado. Ao final, apresentamos um resumo de cada unidade e uma série de atividades que buscam aprofundar os temas abordados através das técnicas de observação, descrição, análise e registro de fenômenos geográficos. Essas atividades têm a intenção de ajudá-lo (a) na leitura e interpretação de textos, pesquisas, debates e discussões. Ainda, integradas ao corpo do tex- to, são apresentadas indicações para estimular o estudo e a apreensão dos temas que permitem aprofundar ou complementar os conhecimentos adquiridos. Em termos gerais, a proposta do estudo da geografia, no curso de História, se desenvolve- rá, inicialmente, tendo como pressupostos uma contextualização da história do pensamento e da sistematização da ciência geográfica e de seu objeto de estudo. Para cumprir esse propósito, avançaremos com o estudo das categorias de análise da geografia: espaço, território, lugar, pai- sagem e região numa lógica de interdependência (Unidade 1). Posteriormente, introduziremos aspectos históricos da Cartografia e seus principais conceitos e, ainda, noções de orientação car- tográfica, sistema de referências, escala fusos horários, projeções cartográficas, mapas e cartas (Unidade 2). Por último, apresentaremos uma análise do mundo contemporâneo globalizado, dando enfoque à questão ecológica (Unidade 3). Em resumo, essa disciplina tem como objetivo analisar o pensamento em geografia, a fim de contribuir com a leitura do mundo globalizado. Para isso, realizou-se uma apresentação da evolução do pensamento geográfico, seus principais teóricos e suas categorias de análise. Intro- duziu-se, também, a cartografia, objetivando ler, analisar e interpretar mapas, considerando-os como elementos de representação de fatos e fenômenos espaciais/e ou espacializados. Por últi- mo, discutiu-se o mundo globalizado, tendo em vista a questão ecológica e seus principais desa- fios. Acreditamos que os debates, aqui, propostos suscitarão o desenvolvimento de reflexões acerca da sociedade atual e das transformações no mundo capitalista. Com efeito, devemos ter um olhar crítico diante das concepções de mundo, visando à transformação social – objetivo re- levante no interior das ciências humanas e sociais. Conteúdo Programático Correntes e paradigmas do pensamento geográfico. Evolução do pensamento geográfico brasileiro, principais teóricos. Categorias de análise geográfica: lugar, paisagem, região, territó- rio e espaço. Cartografia: evolução histórica e conceitos. Orientação cartográfica. Sistema de re- ferências. Escala. Fuso horário. Projeções cartográficas, mapas e cartas. O espaço contemporâneo: unidade-diversidade do mundo e questão ecológica. As unidades estão divididas em tópicos e subtópicos, conforme se segue. Organizamos esse texto com o objetivo de facilitar o entendimento do acadêmico do cur- so de história no que se refere aos aspectos básicos da ciência geográfica na atualidade, pois, entendemos, que essas duas ciências devem caminhar juntas, já que se aproximam e se comple- mentam por estudar tempo e espaço. Nesse sentido, buscamos incentivar o debate, pois acreditamos que essa é uma maneira de despertar no aluno o interesse pela disciplina, o que gera a necessidade de novas pesquisas. 10 UAB/Unimontes - 1º Período A tarefa de educador-cidadão e da universidade, como instituição formadora de opinião ( e de novos docentes), é fomentar as discussões que promovam o desejo da transformação de um mundo desigual, em um planeta mais justo e melhor para se viver, tanto na esfera social como na ambiental. Diante dessa complexa tarefa, que acreditamos se iniciar aqui, apresentaremos novas ideias, gestos e ações que conduzirão a uma nova reflexão sobre a vida planetária. Essa reflexão, já ini- ciada, terá sua continuidade nas nossas ações e práticas dentro e fora das salas de aula, ou seja, na prática cotidiana da vida de todos. Bons estudos! As autoras. 11 História - Geografia UnIdAde 1 A geografia como ciência 1.1 Introdução Entender o contexto em que a Geografia nasce e como ela evolui ajuda-nos a compreender essa ciência hoje. Esse conhecimento é fundamental para um profissional licenciado em História, uma vez que essas duas ciências caminham juntas. O objetivo dessa unidade é entender como a Geografia é sistematizada e como se desenvol- ve, bem como analisar seus principais pensadores. Para atender esse objetivo foi necessário sistematizar o texto da seguinte forma: Unidade I: A geografia como ciência 1.2 A evolução do pensamento geográfico 1.3 A ciência geográfica: perspectivas históricas 1.3.1 A Escola Alemã 1.3.2 A Escola Francesa 1.3.3 A Escola Anglo-Saxônica: o contexto da geografia Teorética ou Nova Geografia 1.3.4 A geografia Crítica 1.3.5 A geografia Brasileira 1.4 Categorias de Análise Geográfica: Lugar, Paisagem, Região, Território e Espaço 1.4.1 Espaço 1.4.2 Lugar 1.4.3 Paisagem 1.4.4 Região 1.4.5 Território As questões que serão sugeridas no decorrer dessa unidade são de fundamental importân- cia para a compreensão do conteúdo que queremos apreender. Sucesso em seus estudos! 1.2 A evolução do pensamento geográfico Muitos geógrafos que estudam a episte- mologia da Geografia discutem como essa ci- ência nasceu como instrumento de domínio, para servir ao poder no século XIX. A história nos permite compreender que a Geografia Científica (como foi chamada a partir de sua sistematização em 1750) nasce instituciona- lizada e foi criada por pessoas que estavam ligadas ao poder numa das potências mun- diais da época, a Alemanha. Os pensadores responsáveis por sua “criação” foram Ale- xander Von Humboldt, conselheiro do rei da Prússia, Karl Ritter, historiador e filósofo. Já o intelectual de formação antropológica Frien- derik Ratzel e o geólogo e botânico de for- mação, Kant, muito contribuíram para sua sistematização, como discutiremos adiante. Entretanto, essa ciência é de interes- se do homem des- de os tempos mais pretéritos, por estar relacionada às neces- Figura 1: Mapa de 1627 Fonte: Disponível em: http://upload.wiki- media.org/wikipedia/ commons/d/d6/Kepler- -world.jpg. Acesso em junho 2013. ▼ 12 UAB/Unimontes - 1º Período sidades de alimento e abrigo. Essa geografia cotidiana sempre esteve presente na socieda- de por fazer parte da própria natureza do ho- mem. Isso nos permite a análise de que essa ciência nasceu há muitos anos atrás, de forma desarticulada, dispersa, desde os gregos, os grandes exploradores do período Medieval, os navegantes da Modernidade, que produziram estudos sobre as características terrestres, co- mercializaram, guerrearam, dominaram povos. Todos esses acontecimentos foram subsidia- dos pelo conhecimento geográfico. A socie- dade grega, em especial, chama a atenção de muitos estudiosos do tema, pois essa socieda- de tinha todos os atributos necessários para se pensar a ciência geográfica, uma vez que essa travava lutas por democracia, tinha uma base econômica voltada para o comércio e, ape- sar de contar com escravos, esses não eram a principal fonte de riqueza da Grécia. Assim, a geografia nasce de um lado, junto às lutas de- mocráticas travadas nas cidades gregas e, de outro, servindo aos interesses dos mercadores. Com o apogeu de Roma e o submetimen- to dos povos e terras conhecidos a esse impé- rio, entre eles os próprios gregos, acontece à consolidação do modo escravista de produ- ção. Assim, a vertente das lutas democráticas entra em declínio. Com os romanos, a Geo- grafia se restringe e passa a se constituir em arma de formação desse vasto império em ex- pansão. O saber geográfico se limitou, desde então, aos fins expansionistas de Roma. Para Moreira (1985), a experiência romana serviucomo exemplo para a articulação entre a ciên- cia geográfica e o Estado, que anos mais tarde, torna o saber concebido por relatos e mapas, sinônimo do saber geográfico. Quanto à outra vertente, próxima à práxis social, essa fica res- trita a uma “Geografia Marginal”, a qual ficou adormecida durante um longo período, como analisaremos no decorrer dessa unidade. 1.3 A ciência geográfica: perspectivas históricas Como salientamos anteriormente, a Ge- ografia, a exemplo das demais ciências, dá um salto no tempo e no espaço, perpassa da Roma antiga para sua sistematização no século XIX. Entretanto, cabe a análise de que o conhecimento produzido pelo homem du- rante toda a sua história foi fundamental para que essa ciência começasse a acumular um arcabouço teórico-metodológico próprio. Moraes mostra a importância dos conheci- mentos acumulados das épocas anteriores para a sistematização da ciência geográfica: Outro pressuposto para o aparecimento de uma geografia unitária residia no aprimoramento das técnicas cartográficas, o instrumento por excelência do geógrafo. Era necessário haver possibilidade de representação dos fenôme- nos observados, e da localização dos territórios. Assim, a representação gráfi- ca, de modo padronizado e preciso, era um requisito da reflexão geográfica; era também uma necessidade posta pela expansão do comércio. O apareci- mento de uma economia global que articulava distintas e longínquas partes da Terra demandava mapas e cartas mais precisas. Era fundamental, para a navegação, poder calcular rotas, saber a orientação das correntes e dos ven- tos predominantes, e a localização correta dos portos. Estas exigências fize- ram desenvolver o instrumental técnico da cartografia. Finalmente, a desco- berta das técnicas de impressão difundiu e popularizou as cartas e os Atlas (MORAES, 2003, p 36-37). O desenvolvimento da cartografia foi de fundamental importância para a sistematização da ciência geográfica, uma vez que os mapas proporcionaram um melhor conhecimento do território. Entretanto, existia especialmente um contexto político e econômico que correspon- dia ao capitalismo imperialista que precisava de uma explicação em relação ao contexto fi- losófico e ideológico. Todo esse contexto pro- porciona o período de conquista de territórios, conhecido como período das Grandes Navega- ções. São esses sujeitos quem sistematizam o pensamento geográfico nas primeiras escolas, chamadas de escolas tradicionais. GLOSSÁRIO epistemologia da Geografia: a epistemo- logia estuda a origem, a estrutura, os métodos e a validade do conheci- mento (daí também se designar por filosofia do conhecimento). A epistemologia da geografia é composta por um conjunto de fundamentos gerais sobre essa ciência. dICA Para uma melhor análise sobre o período colonial e as formas de dominação e explora- ção dos povos con- quistados pelos povos europeus, sugerimos que assista ao filme: 1492 “A Conquista do Paraíso”. A história mos- tra vinte anos da vida de Colombo, desde quando se convenceu de que o mundo era redondo, passando pelo empenho em con- seguir apoio financeiro da Coroa Espanhola para sua expedição, o descobrimento da América. Além disso, retrata o desastroso comportamento que os europeus tiveram com os habitantes do Novo Mundo e a luta de Colombo para colonizar um continente, que ele descobriu por acaso, além de sua decadên- cia na velhice. 13 História - Geografia 1.3.1 A escola alemã A primeira escola geográfica é a escola alemã. Ela é que, a partir de 1754, dá à Geogra- fia status científico. A história dessa corrente de pensamento é a história do imperialismo alemão no mundo. Reconhecidamente, uma escola de pensamento tradicional por ser po- sitivista, ou seja, por seguir uma concepção filosófica e metodológica, dá aos estudos ge- ográficos um forte caráter empírico-dedutivo. Isso explica porque todos os estudos produ- zidos, nesse período, estão relacionados aos sentidos (empirista), ao domínio da aparência dos fenômenos, o que condiciona o cientista a um mero expectador. Assim, para o cientista positivista, os trabalhos estavam restritos aos aspectos visíveis do real, mensuráveis, palpá- veis. Daí, entendemos que o método de análi- se adotado por essa linha de pensamento era a indução, como consequência apenas através desse método seria possível alcançar uma “ex- plicação científica”. Nesse contexto, o precursor do positi- vismo, na ciência geográfica, foi o filósofo Immanuel Kant, que lecionava na Universida- de de Koenigsberg, antiga Prússia, o que hoje consideramos “geografia física”. Kant minis- trava aulas de geografia junto à antropologia pragmática que foi considerada uma forma de aplicar seu sistema filosófico. A geografia alemã, como todas as demais correntes que surgiram e se desenvolveram com o passar dos anos, se originou da filosofia kantiana, por isso cabe uma descrição do que esse pensador entendia por essa ciência. Para ele, a Geografia era uma ciência em- pírica que era responsável pela explicação da natureza; já a antropologia pragmática res- pondia por uma expiação interna do homem. A percepção do pesquisador orienta a experi- ência e essa, por sua vez, precisa ser sistema- tizada. À geografia cabe esta sistematização no plano do espaço, e à história no plano do tempo. Moreira (1985) adverte que, para Kant, a sistematização passa por dois processos: a narrativa (história) e a descrição (geografia). A descrição, a enumeração e a classificação dos fatos referentes ao espaço são momentos da apreensão de um es- tudioso da Geografia. Geografia e história nascem de um mesmo proces- so, o da localização dos fenômenos, porém nascem separadas. A geografia é a localização do fenômeno no espaço e a história é a sua localização no tempo [...]. A história é o registro dos acontecimentos na sua sucessão temporal; a geografia é este registro em sua contemporaneidade espacial. (MOREIRA, 1985, p. 24) Percebemos que apesar de distintos, os conhecimentos históricos e geográficos con- vergem para um ponto: o tempo e o espaço, sempre um completando o outro. Em relação a isso, Kant acreditava que a Geografia poderia ser subdividida, sendo a ge- ografia física (entendida como a base para to- das as outras “geografias”) a base para a histó- ria. É importante entender que Kant vivia em um momento histórico em que a natureza era interpretada como uma massa de matéria e força, ou ainda como natureza dotada de vida e movimento. Apesar das re- flexões de Kant, os sistematizadores da Geografia foram Ale- xander von Humbol- dt (1769-1859) e Karl Ritter (1779-1859). Es- ses expoentes deram ATIVIdAde Após assistir ao filme sugerido, faça uma análise crítica do vídeo. Ressalte os impactos resultantes do processo de colonização euro- peia no Novo Mundo e como se materializa na atualidade (século XXI) a Divisão Internacio- nal do Trabalho entre os principais países do mundo. Poste os comentários no fórum de discussões ▲ Figura 2: Immanuel Kant filósofo alemão criador do positivismo Fonte: Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ima- gem: Immanuel_Kant_(portrait).jpg. Acesso em junho 2013. Figura 3: Alexander von Humboldt sistematizador da geografia escolar e acadêmica Fonte: Disponível em: http://pt.wikipedia.org/ wiki/Imagem:Humboldt_ stor.jpg. Acesso em junho 2013. ▼ 14 UAB/Unimontes - 1º Período importantes contribuições para o pensamento geográfico moderno e, a partir deles, nasce a Geografia acadêmica, ou seja, a Geografia produzida a partir dos centros universitários e ensinada nas escolas. Embora esses pensado- res tenham se afastado do pensamento kan-tiano, pois Humboldt se apoiava na filosofia Schelling e Ritter na filosofia da história de He- gel, eles não romperam com a lógica kantiana. Assim, devemos entender que eles continu- aram concebendo a Geografia como conhe- cimento empírico, de síntese espacial, e com- partilhando das noções de tempo e espaço de Kant, o que quer dizer que tempo e espaço devem ser compreendidos como “lugares” se- parados. Para entender a contribuição desses es- tudiosos para a Geografia, é preciso compre- ender que Humboldt trouxe para essa ciência uma concepção de geografia-ecologia, ou seja, uma concepção do mundo como unida- de cósmica. No entanto, esse autor não subor- dina o homem ao meio. Já Ritter defendeu a geografia-história, ou ainda, compreendeu o mundo a partir do antropocentrismo, em que o homem é o ponto de partida para qualquer análise. Apesar de esses dois pensadores atri- buírem pesos diferentes à natureza e ao ho- mem, suas reflexões têm algo em comum: a Geografia é a totalidade das coisas naturais e humanas. Voltando à questão alemã, não foi por acaso que a Geografia nasceu exatamente nesse país, em uma nação arrastada para a guerra franco-prussiana em 1870, da qual sai vitoriosa. A “questão regional interna”, então, parecia caminhar para uma solução, uma vez que o país havia sido unificado. No entanto, um fato a ser considerado refere-se à “ques- tão regional externa” e, a esse respeito, surge à obra de Friedrich Ratzel (1844-1904), pensa- dor comprometido com os ideais da burgue- sia alemã. Ratzel incorporou à obra de Charles Darwin, que explica a evolução natural das espécies, ao seu estudo, ao entender que a sociedade estava subordinada às mesmas leis das espécies vegetais e animais. Esse é o nasci- mento do darwinismo social. A partir da leitura geográfica de Ratzel, tem-se o ponto de partida para a teoria do de- terminismo geográfico e da teoria do espaço vital. Sobre a teoria do espaço vital, Ratzel dirá que existe uma luta das espécies pelo espaço, dentre essas, os homens se organizam em Es- tados (que nessa perspectiva é um organismo) e para que sobrevivam é necessário que exista espaço, que é a fonte de vida. Ratzel acredita- va que a sociedade e o Estado são frutos orgâ- nicos do determinismo do meio em que estão inseridos, ou seja, só sobrevivem e se desen- volvem os Estados mais fortes, síntese do de- terminismo ambiental. É interessante que analisemos o que diz Moreira sobre a obra de Ratzel: Os Estados necessitam de espaço, como as espécies, por isso lutam pelo seu domínio como as espécies. A subsistência, energia, vitalidade e o crescimento dos Estados têm por motor a busca e conquista de novos espaços. Troquemos “Estado” por “imperialismo” e entenderemos Ratzel (MOREIRA, 1985, p. 33). As teorias ratze- lianas justificavam, assim, a expansão ale- mã sobre os demais povos, visto que estes não conseguiriam, por si só, se desenvolver e se tornar “civilizados”. Mais tarde, essas te- orias irão subsidiar as ações praticadas pelo Estado alemão e as teses racistas e antissemitas de Adolf Hitler. “Assimi- la deformação levada à monstruosidade - é a Geografia do fascismo.” (MORAES, 2003, p. 54). Essas teorias marcam ainda o fim da era da so- berania da escola alemã na Geografia, pois, a revolta francesa faz com que aquele país res- ponda à Alemanha com as mesmas armas que ela impunha ao mundo. A partir daí surge à es- cola francesa. 1.3.2 A escola francesa A escola francesa surge do clima de derro- ta criado pela guerra franco-prussiana de 1870, em que esse país perde a região de Alsárcia e Lorena, vitais para a industrialização francesa, para os alemães. A burguesia francesa tentava recuperar e ganhar novos territórios de influ- ência por meio de guerras. Do ponto de vista interno, a França queria recuperar sua imagem de grande potência que foi abalada pela guer- ra. Com a vitória da Alemanha na Guerra, o en- sino de Geografia se expandiu. Nesse contexto, o Estado francês também expande o ensino de Geografia para todas as escolas. Há, então, a mudança no ensino geográ- dICA Alexander Von Humbold e Karl Ritter viveram num período histórico em que a Alemanha se unifica- va (acordo de união aduaneira de 1834 [zollverein], firmado pelos Estados Alemães) e o capitalismo tardio se desenvolvia nesse país. dICA A primeira obra escrita por Ratzel foi Antro- pogeografia (1882) e, posteriormente, Geo- grafia e Política (1897), de grande relevância para a Geografia. As duas marcam o fim da soberania alemã na Geografia. ▲ Figura 4: Mapa ilustrativo de localização da guerra Franco-Prussiana, os territórios Alsácia e Lorena entre os dois países. Fonte: Disponível em: http://4.bp.blogspot. com/-KtegkkMs7Do/Tme- XXyrJIKI/AAAAAAAAB5Y/ pUCr2wUzxe0/s400/alsa- cia.jpg. Acesso em junho 2013. 15 História - Geografia fico. Na França, a geografia era descritiva e informativa e era ensinada nas universidades como disciplina auxiliar para o ensino da histó- ria. A intenção do Estado francês era transfor- mar, a partir de então, essa disciplina auxiliar em ciência como fizera a Alemanha. As teorias alemãs se desenvolvem, principalmente aque- las defendidas por Ratzel. Todavia, várias críti- cas foram feitas a essas teorias, notadamente ao determinismo geográfico. Nessa perspecti- va, nasce a nova teoria que marcará a “escola francesa”: a teoria do possibilismo geográfico, defendida e formulada por Paul Vidal de La Blache. La Blache (1845-1918), professor da Uni- versidade de Sorbonne em 1900, defendeu as teorias da escola francesa com muita proprie- dade, e deve-se à Sorbonne a responsabilida- de pela irradiação do discurso geográfico ofi- cial francês. Em outra vertente dessa escola, o geógra- fo Elisée Reclus (1830- 1905) foi um dos pen- sadores de expressão na Geografia francesa, contudo ele produziu teorias diferenciadas das lablacheanas, influenciado por lei- turas de socialistas utópicos. Reclus acreditava que “A anarquia é a mais alta expressão da ordem”. (E. Reclus, Manuscritos de Montauban). Sua grande contribuição política para a Geografia deve-se à análise crítica que realizou sobre as estratégias im- perialistas francesas que encoberta- vam os discursos que normalmente as veiculavam. Nesse sentido, os seguidores lablacheanos argumen- tavam que Reclus “personificava a Geografia descritiva e utilitária” que a modernização feita por La Blache havia superado. Somente muitos anos mais tarde as teorias de Reclus foram retomadas. Nesse sentido, a corrente francesa enten- de que o homem é um ser ativo, que sofre a influência do meio, porém atua sobre esse, transformando-o. É o que se chama de possi- bilismo, agora a natureza é vista como possibi- lidades para a ação humana. A teoria de Vidal concebia o homem como hóspede antigo de vá- rios pontos da superfície terrestre, que em cada lugar se adaptou ao meio que o envolvia, criando, no relacionamento constante e cumulativo com a natureza, um acervo de técnicas, hábitos, usos e costumes que lhe permitiram utilizar os recursos naturais disponí- veis. A este conjunto de técnicas e costumes, construído e passado socialmente, Vidal denominou de “gênero de vida” [...] (MORAES, 2003, p. 71). Como ressaltamos anteriormente, a cor- rente de pensamento geográfico francesa, juntamente com a escola alemã integraram a geografia tradicional, uma vez que não rom- peram com o positivismo kantiano, que foi incorporado por essa escola através do funcio- nalismo. Assim, o pensamento francês questiona a teoria ratzeliana também no que diz respei- to à minimização do elemento humano, que aparecia passivo. Apesar disso, La Blache não rompeu totalmente com o conteúdo natura-lista da corrente alemã, e dizia explicitamente: “a Geografia é a ciência dos lugares, não dos homens”. Nesse sentido, o que interessaria de fato nos estudos geográficos seriam as paisa- gens, e essas como resultado da ação humana. Outra crítica ao pensamento de Ratzel dizia respeito à concepção fatalista e mecanicista da relação entre os homens e a natureza. Em outros termos, o determinismo alemão é dire- tamente questionado nessa escola. Nessa ótica, os diversos ambientes exis- tentes no planeta explicariam os diversos gê- neros de vida existentes. Dentro da concepção de La Blache, à Geografia caberia o estudo dos diferentes gêneros de vida, uma vez que os motivos de sua manutenção ou transformação, sua difusão, ou ain- da, a formação dos domínios de ci- vilização seria a transformação das obras humanas sobre o espaço. Deve-se deixar claro que essa é uma importante reflexão para a Geografia, visto que, até o século atual (XXI), diversos autores de outras correntes do pensa- mento geográfico, como da Geografia Cultural, por exemplo, se apropriam dessa teoria para construir novos conhecimentos. Ao criar a teoria dos gêneros de vida, La Blache explicou o imperialismo do mundo ca- pitalista dos continentes Asiático e Africano. Na perspectiva imperialista, esses continentes abrigariam sociedades estagnadas, imersas num equilíbrio primitivo, o que significaria negar o progresso. Nesse sentido, esse equilí- brio deveria ser quebrado, em nome do “pro- gresso” desses povos. Esse autor abre, então, a possibilidade de se falar em “missão civilizado- ra do europeu na África e na Ásia”, e, com efei- to, legitimou a ação colonialista francesa. La Blache trouxe algumas contribuições para a Geografia, mas não rompeu com a vi- são alemã sob o aspecto do método. A Ge- ografia era assim uma ciência empírica que ATIVIdAde Produza uma linha do tempo sobre o Período Colonial, destacando as principais trans- formações de ordem econômica, social, cul- tural e política e os seus impactos na produção dos diversos tipos de conhecimentos científi- cos, dentre eles, o geo- gráfico. Posteriormente, faça comentários sobre o tema no fórum de discussões. ▲ Figura 5: Paul Vidal de La Blache Fonte: Disponível em: http://confins.revues.org/ docannexe/file/6300/ vidal.gif. Acesso em junho 2013. ▲ Figura 6: Jean Jacques Elisée Reclus Fonte: Disponível em: http://upload.wiki- media.org/wikipedia/ commons/6/6a/EliseeRe- clusNadar.jpg. Acesso em junho 2013. 16 UAB/Unimontes - 1º Período privilegiava as observações de campo. Com isso, criou-se uma particularização da área en- focada (em seus traços históricos e naturais), contrapondo-a a visão generalista da corrente alemã. A perspectiva possibilista enfocava a comparação das áreas estudadas e do material levantado, além da classificação das áreas e dos gêneros de vida. Assim, o estudo geográfi- co culminaria com uma tipologia. Para Moraes, A Geografia vidalina fala de população, de agrupamento, nunca de sociedade; fala de estabe- lecimentos humanos, não de relações sociais; fala de técnicas e dos instrumentos de trabalho, porém não de processo de produção. Enfim, discute a re- lação homem-natureza, não abordando as relações entre os homens. É por esta razão que a carga natu- ralista é mantida, apesar do apelo à História, conti- do na proposta (MORAES, 2003, p. 74), Entretanto, “o espaço não para” e o mundo se transforma, e todas essas teo- rias vinculadas à geografia tradicional passam a não explicá-lo mais. Todavia, ratifica-se a relevância dessas teorias para a formação e consolidação da ciên- cia geográfica produzida nos dias atuais. Nesse contexto, temos o surgimento de uma nova corrente, a corrente quantitativa e teorética, que discutiremos a seguir. 1.3.3 A escola anglo-saxônica: a geografia teorética ou nova geografia Como se sabe, a Segunda Guerra Mun- dial (1939 a 1945) provocou grandes mudan- ças no planeta terra, mudanças estas que atin- giram quase todos os países e pessoas por se tratar de um acontecimento que estava direta ou indiretamente ligado a tudo em uma esca- la global. As ciências tiveram uma participação de destaque na Segunda Guerra, e, portanto, sofreram grande evolução nesse período, pri- meiramente no âmbito militar e pouco depois esses conhecimentos e tecnologias foram transferidos para a sociedade. Em decorrência disso, surgiu à necessida- de de deter a maior quantidade de informa- ções sobre a configuração terrestre do nosso planeta e sobre o espaço, levando os Estados Unidos da América e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (no contexto da Guerra Fria) investirem em uma quantidade exorbi- tante de capital para financiar as pesquisas científicas. Na Geografia, a situação não poderia ser diferente já que esta foi uma das ciências mui- to utilizada na Segunda Guerra Mundial e na Guerra Fria. Nesse cenário, algumas transfor- mações significativas aconteceram na ciência geográfica, dentre elas, podemos destacar o uso de tecnologias diversas aplicadas no reco- nhecimento do território. Na década de 1970, a Geografia Tradicio- nal não possuía mais o poder explicativo para aquele novo momento. Surge a Nova Geo- grafia, também conhecida como Teorética ou Quantitativa. A Geografia Teorética representava o novo modelo que revolucionaria a ciência ge- ográfica. Ao Adotar o neopositivismo como base filosófica, essa corrente aplicou a mate- mática nos estudos geográficos, pois acre- ditava tornar a Geografia mais precisa. O uso abusivo da matemática e da estatística foi ca- racterístico dessa Geografia. A esse respeito, podemos citar G. Dematteis para exemplificar essa teoria, pois ele defendia que a Geografia poderia ser totalmente explicada por méto- dos matemáticos, ou seja, todas as relações (fenômenos, variações de paisagem, a ação da natureza sobre os homens, etc.) seriam ex- pressas em forma de cálculos matemáticos e estatísticos. Prosseguindo, essa corrente adota o mo- delo sistêmico, em outros termos, propõe o uso de modelos que tentam expressar a es- trutura dos sistemas, conhecida em Geografia como “geossistema” ou “ecossistema”, tanto PARA SAbeR mAIS Para entender melhor sobre a obra deste geó- grafo visite o endereço eletrônico: http://www.faced.ufba. br/ra scunho_digital/ textos/568.htm GLOSSÁRIO Funcionalismo: é um ramo da Antropologia e das Ciências Sociais que procura explicar aspectos da sociedade em termos de funções realizadas por indiví- duos ou suas consequ- ências para sociedade como um todo. Trata-se de uma corrente socio- lógica associada à obra de Émile Durkheim. Figura 7: Robôs industriais em uma montadora de carros Fonte: Disponível em: http://juvencioterra.com. br/pop/wp-content/ uploads/2012/09/enge- nharia-de-controle-e- -automa%C3%A7%C3% A3o.jpg. Acesso em junho 2013. ► ATIVIdAde Pesquise sobre as principais descobertas científicas no período da Guerra Fria e analise as finalidades práticas dessas descobertas. Você perceberá que esses inventos foram voltados para o domí- nio de território. Após a pesquisa, comente as suas observações no fórum de discussões. 17 História - Geografia quanto fossem os sistemas e subsistemas exis- tentes na realidade. Muitos geógrafos criticaram a ciência neutra praticada e desenvolvida pela Geogra- fia Teorética, uma vez que as contradições so- ciais e econômicas se acirravam, daí decorre a necessidade de uma ciência preocupada com o comprometimento e a prática social. Outra crítica feita por geógrafos diz res- peito ao empobrecimento dos dados empíri- cos ao se traduzirem os estudos dessa escola. A observação direta da Geografia Tradicio- nal trazia umariqueza de detalhes aos estu- dos, mas a ausência dos trabalhos de campo, substituídos por cálculos matemáticos e esta- tísticos, simplificava demasiadamente o uni- verso de análise, que se tornava mais abstra- to e, portanto, distante da realidade. É o que Moreira (1985, p. 107) chama de “empobre- cimento aludido, que vem acompanhado de uma sofisticação técnica e linguística”. Uma abordagem também desenvolvida, nesse contexto, refere-se à Geografia da Per- cepção ou do Comportamento, muito pró- xima da Psicologia e da Sociologia porque buscou compreender como os homens per- cebem o espaço vivido. Moraes (2003) indi- ca a criação dessa vertente dentro da escola anglo-saxônica. Nesse momento de profundas transfor- mações sociais, políticas e econômicas, os ge- ógrafos assumem uma nova perspectiva de renovação, a qual foi chamada no Brasil de Ge- ografia Crítica. 1.3.4 A geografia crítica Essa corrente se difere de todas as outras propostas até então sistematizadas dentro do pensamento geográfico. Os geógrafos envol- vidos com um movimento de renovação pro- funda da Geografia a batizam de Geografia Crítica, devido à necessidade que se tinha de avançar nas perspectivas defendidas por ou- tras linhas de pensamento, como a Geografia Tradicional e Pragmática. Uma nova postura é assumida frente a essa necessidade e a Geo- grafia passa a pensar formas de transformação da realidade social, a partir de um saber que, para seus sistematizadores, significa uma arma nesse processo. É a partir daí que o conteúdo político passa a ser assimilado nessa ciência, e uma postura militante é uma necessidade entre os geógrafos. Para Moraes (2003, p.110), existe um “apego às velhas teorias, o cercea- mento da criatividade dos pesquisadores, o isolamento dos geógrafos, a má formação filo- sófica, etc.”. Assim, os geógrafos críticos franceses (corrente que nasceu na França) denunciam à velha “parceria” entre Geografia e Estado, que contribuiu para uma dominação de classes na sociedade capitalista. Um dos autores que se destacam nessa crítica foi Yves Lacoste, que escreveu o livro A Geografia serve antes de mais nada para fazer a guerra. Ele adverte em seu livro que existem duas geografias: a “Geo- grafia dos Estados Maiores” e a “Geografia dos Professores”. A primeira ligada ao poder e a se- gunda com uma dupla função: a de esconder a existência da “Geografia dos Estados Maio- res”, através de um ensino desinteressante que mascarava o valor estratégico de se conhecer o espaço, e a de levantar dados para a “Geo- grafia dos Estados Maiores” sobre os diferen- tes lugares da terra. Lacoste (2003, p. 65) afirma que “a Geo- grafia é uma prática social em relação à super- fície terrestre”. Outro geógrafo que comunga desta visão é Milton Santos (1996, p. 57) que diz ser “o espaço a morada do homem, mas pode ser também sua prisão”. Através dessas reflexões, podemos compreender que a Ge- ografia, agora, quer articular teoria e prática, a favor de uma prática social revolucionária onde não existe neutralidade científica, e sim a necessidade de transformação do mundo. Podemos afirmar que a Geografia Crítica desenvolveu diversas propostas internas que visavam responder as questões que emer- giram na crise. Dentre elas, ressaltamos os diversos estudos temáticos, como o da geo- grafia urbana que introduziu o legado teórico marxista na Geografia. Pensando esse espaço do ponto de vista global, temos um dos mais importantes geógrafos do mundo, o brasileiro Milton Santos, que escreveu entre várias obras, o livro “Por uma Geografia Nova”. Essa obra é uma tentativa de se apresentar uma proposta ▲ Figura 8: GPS em diversos formatos e marcas disponíveis no mercado Fonte: Disponível em: http://upload.wikimedia. org/wikipedia/commons/ thumb/6/6b/GPS_Recei- vers.jpg/800px-GPS_Re- ceivers.jpg. Acesso em junho 2013. 18 UAB/Unimontes - 1º Período geral para o estudo geográfico. O autor avalia a Geografia Tradicional, a crise do pensamento geográfico e as principais propostas de reno- vação da Geografia Pragmática. Milton Santos analisa o objeto de estudo da Geografia, e ten- ta analisar o que é a Geografia. Devido à importância do pensamento de Milton Santos para a Geografia Crítica, recorre- mos aos estudos de Moraes a fim de que você possa entender resumidamente a obra de Santos: Milton Santos argumenta que é necessário discutir o espaço social, e ver a pro- dução do espaço como o objeto. Este espaço social ou humano é histórico, obra do trabalho, morada do homem. É assim uma realidade e uma categoria de compreensão da realidade. Toda a sua proposta será, então, uma tentativa de apreendê-lo, de como estudá-lo. Diz que se deve ver o espaço como um campo de força, cuja energia é a dinâmica social. Que ele é um fato social, um produto da ação humana, uma natureza socializada, que pode ser explicável pela produção. Afirma, entretanto, que o espaço é também um fator, pois é uma acumulação de trabalho, uma incorporação de capital na superfície ter- restre, que cria formas duráveis, as quais denomina “rugosidades”. Estas criam imposições sobre a ação presente da sociedade; são uma “inércia dinâmica” – tempo incorporado na paisagem – e duram mais que o processo que as criou. São, assim, uma herança espacial, que influi no presente. Por esta razão, o es- paço é também uma instância, no sentido de ser uma estrutura fixa e, como tal, uma determinação que atua no movimento da totalidade social. (MORAES, 2003, p. 118-119). Acreditamos que Milton Santos avança em suas análises geográficas porque demonstra em seus estudos que a causa dos fenômenos são naturais, sociais e históricas, e que a organização do espaço se dá em função da “acumulação desigual de tempo”. Deixa claro, ainda, o papel do Estado no mundo em curso. Podemos concluir, então, que essa nova proposta dentro da concepção do conhecimento geográfico avança em vários sentidos, um deles é o de abrir novas perspectivas para os geógra- fos. É válido lembrar que o pensamento da Geografia Crítica se manifesta hoje no Brasil, sendo reproduzido por várias universidades que se dedicam na criação de novas propostas teórico-me- todológicas, cujo intento é ajudar a construir uma ciência cada vez mais comprometida com a prática social. Figura 9: imagem de uma favela. Fonte: Disponível em: http://upload.wiki- media.org/wikipedia/ commons/8/8d/Houses_ in_Pachuca.jpg. Acesso em junho 2013. ▼ 19 História - Geografia 1.3.5 A geografia brasileira A Geografia teve sua inserção e desenvol- vimento no Brasil a partir da criação da Uni- versidade de São Paulo- USP, já que, para isso, foi contratada uma equipe de pesquisadores franceses. Nesse grupo de franceses estava um geógrafo chamado Pierre Deffontaines que foi o responsável pela criação da AGB. Depois da saída de Deffontaines, a Associação de Geó- grafos Brasileiros - AGB foi presidida por outro geógrafo francês, Pierre Monbeig, que traba- lhou por vários anos, também na USP, sendo um dos fundadores do curso de Geografia nessa Instituição. Com o auxílio desses dois franceses, a geografia brasileira teve seu início entre as décadas de 1930 e 1940. Esse momen- to histórico é marcado pelas transformações no quadro político, época em que houve a re- volução de 1930 e, em decorrência, deu-se a adoção de um sistema de governo autoritário e centralizado, denominado Estado Novo. Nesse contexto, a Geografia passa a ser usada para instrumentalizar o Estado, atra- vés de pesquisas para o reconhecimento do território nacional. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE foi um órgão governamental importante para a afirmação da Geografia, mas sofreu críticas por usar de forma exagerada técnicas matemáticas e es- tatísticas nos estudosgeográficos. Simulta- neamente a essa concentração das pesquisas geográficas no IBGE, surgiu na UNESP de Rio Claro/SP a Associação de Geografia Teorética- -AGETEO, que foi formada por um grupo de geógrafos seguidores dessa corrente, incluin- do geógrafos afastados do IBGE. A Geografia Teorética que se instalou no Brasil e começou um processo de disseminação foi fortemente criticada por geógrafos de outras linhas, que alegavam ser essa nova Geografia segregacionista e defensora dos interesses dos mais ricos, uma vez que usava técnicas com- putacionais em seus estudos e essas não eram acessíveis a todos. Além disso, os métodos des- sa nova corrente mantinham o afastamento do pesquisador do seu objeto de estudo. Apesar dessas críticas, a Geografia Teoréti- ca contribuiu para o avanço da Geografia como um todo, pois criou tecnologias para se estudar o espaço e, atualmente, essas são utilizadas por outras correntes da Geografia. O geoprocessa- mento e o sensoriamento remoto são exemplos dessas tecnologias que, no Brasil, são intensa- mente usadas para reconhecer o território. Com a crítica à Geografia Teorética, uma nova proposta de Geografia chega ao Brasil, que obteve forte apoio dos geógrafos brasilei- ros, principalmente, aqueles ligados às univer- sidades e à AGB. O contexto político do Brasil, mais uma fez, influenciou na propagação das ideias dessa Geografia Crítica. Como o Brasil enfrentava um governo militar e os abusos do Estado eram frequentes, além de haver uma perseguição aos críticos desse modelo de go- verno, a Geografia Crítica foi uma forma de fazer críticas científicas a essa situação. Ao lon- go dos anos, até mesmo atualmente, essa cor- rente da geografia brasileira se desenvolveu bastante, em virtude do discurso social por ela defendido. Geógrafos brasileiros se destacaram en- tre os grandes nomes dessa geografia. Milton Santos foi, dentre esses, o de maior evidência, por causa de suas teorias sobre o processo de urbanização em países periféricos e pela pro- posta de um novo modelo de globalização. Esse sucesso foi ratificado com o prêmio máxi- mo da geografia, o Prêmio Vautrin Lud. Outra corrente que se propagou no Bra- sil foi a humanística e a UNESP de Rio Claro aparece como centro de propagação dessa proposta. Em seguida, a geografia humanísti- ca começou a se expandir, enquanto linha de produção científica nas universidades. Diante do exposto, percebemos que a Geografia brasileira sofreu influência do con- texto histórico nacional e da expansão de no- vas correntes que surgiram em outros países e encontravam apoio em alguma instituição de pesquisa brasileira. Essa evolução do pen- samento geográfico brasileiro tornou a nossa Geografia umas das mais respeitadas interna- cionalmente, isso pode ser mensurado pelos títulos e prêmios concedidos aos geógrafos brasileiros decorrentes da produção científica do Brasil em diversas áreas. ◄ Figura 10: Professor Milton Santos Fonte: Disponível em: http://www.nossosao- paulo.com.br/Reg_SP/ Educacao/MiltonSantos1. jpg. Acesso em junho 2013. 20 UAB/Unimontes - 1º Período 1.4 Categorias de análise geográfica: lugar, paisagem, região, território e espaço A partir do desenvolvimento da geogra- fia (científica e escolar) surgiram categorias que dão suporte para as análises desse ramo do conhecimento científico, sendo elas: Lugar, Paisagem, Espaço, Região e Território. O espaço geográfico é analisado levando em conta os lugares, as regiões, os territórios, as paisagens em constante transformação. Sendo assim, esses elementos de análise são utilizados pela geografia para interpretar a sociedade e sua relação com a natureza. Esses conceitos-chave conferem à geografia identi- dade no âmbito das ciências sociais e “são ca- pazes de sintetizarem a sua objetivação” (COR- RÊA, 1995, p.16). Lugar, Paisagem, Espaço, Região e Territó- rio são conceitos que trazem em si especifici- dades num contexto espacial e temporal de- terminado, todavia eles são interpenetrantes, ou seja, são complementares. Eles não estão isolados, pois eles são tênues. Assim, o nosso desafio aqui é ajudá-lo na identificação e interpretação das singularida- des de cada categoria geográfica. Precisamos ter clareza e domínio desses conceitos para compreensão dos fenômenos espaciais e so- ciais. E, para cumprir esse propósito, apresen- taremos, a seguir, uma explanação geral so- bre as categorias de análise geográfica, tendo como base seu significado a partir de alguns teóricos. Para isso, utilizaremos noções parti- culares à nossa vida e algumas imagens para retratar cada conceito e contribuir na sua apre- ensão. Acreditamos ser possível a compreen- são e a aplicação dos conceitos básicos de ge- ografia no cotidiano. Espaço A história do conceito de espaço permeia as correntes geográficas (Unidade I). Em ter- mos gerais, o conceito de espaço é original- mente aplicado na geografia tradicional e se relacionava a áreas naturais sem a presença humana. Nesse contexto, Ratzel sugere a ideia de espaço vital, que expressa “as necessidades territoriais de uma sociedade em função de seu desenvolvimento tecnológico, do total de população e dos recursos naturais”. (CORRÊA, 1995, p.18). Hartshorne trabalha com a noção de espaço absoluto, tratado como um conjun- to de partes com existência em si: “É como se cada porção do espaço absoluto fosse o lócus de uma combinação única (unicidade) em rela- ção a qual não se poderia conceber generali- zações. (CORRÊA, 1995, p.19). Na geografia Teorética Quantitativa “[...] o espaço aparece pela primeira vez na história do pensamento geográfico, como o conceito- -chave da disciplina”. O espaço aqui era consi- derado como planície isotrópica. A crítica ao conceito de espaço na escola teorética-quan- titativa diz respeito a sua visão limitada sem considerar as contradições, os agentes sociais, o tempo e as transformações da sociedade. Posteriormente, o espaço naturalizado passa a incorporar uma dimensão social, uma vez que o homem produz o espaço e dá conteúdo a ele conforme seus anseios. Nesse sentido, o espaço é abrangente e multidimensional, pois ele é a moradia de to- dos os homens que o modela através de prá- ticas sociais distintas e de diferentes grupos sociais. A geografia crítica atesta que o espaço é, sobretudo, de contradições – reflexo do pre- sente. Daí a importância de se pensar o espaço do ponto de vista social numa sociedade pau- tada por injustiças e desigualdades: “o espaço é concebido como lócus de reprodução das relações sociais de produção, isto é, reprodu- ção da sociedade”. (CORRÊA, 1995, p.26). As- sim, através do comprometimento social da geografia, podem-se estabelecer princípios que norteiam a reflexão homem versus socie- dade capitalista. Tal constatação possibilita- -nos a seguinte indagação: Quais são as cate- gorias de análise do espaço? Segundo Santos (1985), o espaço deve ser pensado em suas relações dialéticas com as categorias estrutura, processo, forma e função. Prosseguindo, forma, função, estrutura e processo são quatro categorias dialéticas. To- PARA SAbeR mAIS Para maior detalha- mento das categorias de análise do espaço, pesquisar em SANTOS, MILTON. Espaço e Mé- todo. são Paulo: Nobel, 1985. 21 História - Geografia madas individualmente, representam apenas realidades parciais, limitadas, do mundo. Con- sideradas em conjunto, porém, e relacionadas entre si, elas constroem uma base teórica e metodológica a partir da qual podemos dis- cutir os fenômenos espaciais em totalidade. (SANTOS, 1985, p. 52). Na geografia Humanista e Cultural – o es- paço é mítico, o espaço é vivido: “o espaço mí- tico é também uma resposta do sentimento e da imaginação às necessidades humanasfun- damentais”. (TUAN, 1893, p.112 apud CORRÊA, 1995). “O espaço vivido é uma experiência con- tínua, egocêntrica e social, um espaço de mo- vimento e um espaço tempo-vivido... (que)... se refere ao afetivo, ao mágico, ao imaginário”. (HOLZER, 1992, p.440 apud CORRÊA, 1995). Diante do exposto, vimos que a discussão do conceito de espaço, no âmbito da ciência geográfica, parte de diferentes concepções e noções acerca do termo, vinculadas às cor- rentes do pensamento geográfico e sua loca- lização histórica e espacial. No plano prático, o espaço pode ser percebido a partir dos ele- mentos que o contêm: materiais, imateriais, fi- xos, fluxos e sociais. O espaço é em primeiro lugar um dado que antecede a intervenção humana e ele possui duas faces: uma, é o plano da expres- são constituída por superfícies, distâncias e propriedades; e a outra, é o plano do conteú- do que tem seu significado dado pelos atores sociais. Para compreender melhor este conceito, observe as figuras abaixo que fazem correlação com a abordagem de espaço aqui apresentada. Lugar Lugar é a porção do espaço que se associa à ideia de vínculo, identidade e afetividade com ambiente de convívio. Normalmente as pessoas manifestam no lugar suas particularidades e a possibilidade de defendê-lo. Qual é o seu lugar? A casa, o quarto, a rua, o bairro, a cidade de nas- cimento e o que nela contém? Observando as duas figuras, verificamos si- tuações vividas no nosso cotidiano através dos fluxos de pessoas, capitais, mercadorias e veí- culos. Trata-se de espaços em constantes trans- formações pela ação humana, considerando que a Avenida e a Rua representadas na figura, em tempos passados, configuravam ambientes naturalizados, ou seja, livre da ação antrópica. A presença de indivíduos, prédios, lojas, semáfo- ros, sistema de pavimentação, entre outros de- monstram a categoria espaço em sua totalidade. A esse respeito, posiciona-se Carlos, o lugar é a porção do espaço apropriável para a vida – apropriada através do corpo – dos sentidos – dos passos de seus moradores, é o bairro, é a praça, é a rua, e nesse sentido poderíamos afirmar que não seria jamais a metrópole ou mesmo a cidade lato sensu, a menos que seja a pequena vila ou cidade – vivi- da/conhecida/reconhecida em todos os cantos (CARLOS, 1996, p.20). As relações que estabelecemos com o lugar nos proporcionam à sensação de pertencimen- to e reconhecimento do nosso cotidiano. Nesse sentido, o lugar é um acúmulo de história e uma ▲ Figura 11: Avenida Mestra Fininha - Montes Claros (MG) Fonte: FRANÇA, I. S. de. Nov./2005 (foto/autor) Figura 12: Rua Simeão Ribeiro ou “Quarteirão do Povo” – Montes Claros (MG) Fonte: FRANÇA, I. S. de. Nov./2005 (foto/autor) ▼ 22 UAB/Unimontes - 1º Período expressão do espaço geográfico na sua escala local e na perspectiva do mundo vivido. No mun- do moderno e globalizado, Carlos (1996, p.26) assegura que o lugar deve ser abordado de forma analítica, em sua multiplicidade de formas e conteúdos, em sua dinâmica histórica. Nessa perspectiva, Santos (apud Carlos, 1996) nos leva a refletir sobre a existência de uma dupla questão no debate sobre lugar: o lugar visto de “fora” e o lugar visto de “dentro”. Para esse autor, o conceito de lugar deve ser redefinido num contexto de globalização cada vez mais ace- lerada, estando esse associado à densidade técnica, informacional e comunicacional. Esse signifi- cado refere-se ao lugar visto de “fora” e atrelado às dimensões de tempo presente e passado. Continuando, Carlos (1996) destaca o lugar visto de “dentro”, ou seja, o lugar em sua dimen- são histórica que se instala na prática cotidiana em função de uma cultura/tradição/língua/há- bitos que lhe são próprios. Observe as figuras, atrelando-as às características da categoria geo- gráfica: lugar. A figura 13 retrata um elemento presente no convívio das pessoas: uma casa. Já, a figura 14 representa a apropriação da casa pelos seres humanos, demonstrando situações de êxito, felicidade e vínculo. A casa enquanto espaço de vivência e identidade para o casal se ex- pressa então como o seu “lugar”. Figura 13: Residência Fonte: Disponível em: http://www.femina.hu/ otthon/lakas_eladas/elad. jpg. Acesso em junho 2013. ► PARA SAbeR mAIS A categoria lugar refere-se ao nosso espaço de origem tam- bém. Para apreender essa categoria, desenhe o local de onde você veio e estará diante do seu lugar. Figura 14: Casa/Lar Fonte: Disponível em: http://www. cherylanswers.com/ wp-content/uploads/ Couple-at-new-house.jpg. Acesso em junho 2013. ► 23 História - Geografia Paisagem Quando observamos uma paisagem, seja ela uma cidade, uma área desmatada, uma praia ou uma igreja assumimos uma postura contemplativa no sentido de interpretar o passado, en- tender o presente e propor ações, visando o futuro. Diante disso, entendemos que o resultado da ação humana sobre o espaço está impresso na paisagem. A paisagem se apresenta como uma vitrine de ações que se processam no tempo e no es- paço. Ela representa tudo aquilo que os nossos olhos alcançam. Nessa perspectiva, a paisagem resulta da essência e da aparência dos seres, objetos e coisas. Nesse sentido, toda paisagem se apresenta ao geógrafo dotada de uma certa fisionomia. Seus distintos aspectos ou elementos, tanto visíveis como não visíveis, se encontram em uma de- terminada relação funcional (fisiológico e ecológico) [...]. (TROLL, 1997, p.2). Assim, a paisagem se apresenta com dois enfoques: um espaço de totalidade sob qualquer ponto de vista e um espa- ço onde seus elementos físicos, humanos, econômicos e sociais se encontram em interação. Daí distinguir paisagens naturais e culturais. A paisagem registra heranças culturais, estruturas, formas e processos diversos. Nas palavras de Troll (1997, p.3), “Todas as paisagens refletem também transformações temporais e conservam testemunhos de tempos passados”. A partir dela observam-se os sentidos: sons, cores, cheiros, sensações, indicando relações e processos. Exemplo: uma imagem de satélite permite visualizar uma totalidade, diversos domínios. Assim, a paisagem é dotada de elementos visíveis (objetos), não visíveis (o cheiro) e fisionômicos (conteúdo e forma). Exemplos: Algumas paisagens de sua cidade podem ser indicadas: a igreja, o rio, a fazenda, a escola, a feira, a praça, o shopping popu- lar, o mercado, etc. Após refletir sobre essa noção, qual a sua concepção de paisagem? Vejamos o que diz Santos: A dimensão da paisagem é a dimensão da percepção, o que chega aos senti- dos. Por isso, o aparelho cognitivo tem importância crucial nessa apreensão, pelo fato de que toda educação formal ou informal, é feita de forma seletiva, pessoas diferentes apresentam diversas versões do mesmo fato (SANTOS, 1993, p.83). As figuras que se seguem são paisagens que podem ser vislumbradas a partir do olhar que permite a visualização das coisas e dos objetos. Nesse caso, enxergamos, respectivamente, as se- guintes paisagens: uma praia, a área central de uma cidade e sua vista panorâmica. No interior de cada uma dessas paisagens podemos apreender a ação humana ao longo do tempo e do espaço. Figura 15: A praia Fonte: Disponível em: http://2.bp.blogspot. com/-4HDPogfwga4/ UiMtG35YplI/AAAAAAA- AqNU/mvuRWWTmQg8/ s1600/St_Maarten.gif. Acesso em junho 2013. ▼ 24 UAB/Unimontes - 1º Período 1.4.4 Região Região é um termo polissêmico, ou seja, utilizado por vários ramos do conhecimento cien- tífico e em várias circunstâncias: região industrial, região da seca, região rica ou região de expan- são das fronteiras agrícolas. Isso demonstra os vários sentidos que podem ser atrelados à palavra região. Todavia, independente dos múltiplos significados assumidos por esse termo e, indepen- dentemente dotamanho, as regiões são áreas que se diferenciam do seu entorno por uma ou mais particularidades. O conceito geográfico de região remete à fragmentação do mundo moderno que não é ho- mogêneo, uma vez que a superfície da terra é diferenciada. Associa-se à ideia de localização e extensão, limites que caracterizam uma área ou uma divisão regional com o exercício de hierarquia e o controle na administração dos estados. A região pode ou não respeitar li- mites administrativos para organização do espaço, sendo, portanto, uma área passível de administração. Mas a região é, sobretudo, uma área de influência e atuação de grupos diversificados. Como exemplo, podemos falar da Divisão Ofi- cial do IBGE (1970) que utiliza elementos naturais ou socioeconômicos para fins de delimitação e regionalização, como a Regionalização da Saúde: o Estado não tem condições de sozinho instrumentali- zar este setor para atender todos. Em tempos de globalização, o con- ceito de região deve ser adequado no sentido de pensar as especificidades do mundo num espaço cada vez mais fluí- do e regionalizado. Há que se destacar que, com o avanço desse processo, mui- tas regiões ampliaram o alcance de suas relações deixando de ter importância apenas local, se tornando espaços co- nectados a outras partes do mundo. As regiões vão criando novas identidades e se redefinindo com as novas tecnolo- gias, demandas de mercados, informa- ções, trocas ou estranhamentos culturais (conflitos). Figura 17: Praça Dr. Carlos Versiani Montes Claros - MG Fonte: FRANÇA, I. S. de. nov./2005 (Foto/ Autor) ▲ Figura 16: Vista Parcial de Montes Claros (MG) Fonte: Disponível em: http://3.bp.blogspot. com/_wrzpdcaGz3g/RmS- BuiTWyII/AAAAAAAAA- Aw/c1_isRWVmBU/s400/ panoramica17.jpg. Acesso em junho 2013. Figura 18: Mapa do Núcleo Central da Cidade de Montes Claros/MG Fonte: França, 2007 ► 25 História - Geografia Resumidamente, Corrêa pesquisou os diversos domínios da noção de região: a) Na linguagem cotidiana do senso comum, a noção de região parece existir relacionada a dois princípios fundamentais: o de localização e o de extensão; b) A região tem também um sentido bastante conhecido como unidade admi- nistrativa e, neste caso, a divisão regional é o meio pelo qual se exerce frequen- temente a hierarquia e o controle na administração dos Estados; c) O conceito de região natural – ideia de que o ambiente tem certo domínio sobre a orientação do desenvolvimento da sociedade. (CORRÊA, 1995, p.53-57). Nas palavras desse autor “A região é uma realidade concreta, física, ela existe com um qua- dro de referência para a população que aí vive. [...]. Ao geógrafo cabe desvendar, desvelar a com- binação de fatores responsáveis pela sua configuração”. A figura 18 retrata a delimitação do Núcleo Central da Cidade de Montes Claros/MG. Consi- derando sua localização, extensão, delimitação e dinamicidade econômica, o núcleo central des- ta cidade pode ser concebido como uma de suas várias regiões. No âmbito nacional, o território brasileiro foi dividido (neste caso) em regiões administrati- vas (N, NE, SE, CO e S) baseadas em características sociais, econômicas e naturais. Podemos ob- servar na figura 19 que cada uma dessas regiões possui particularidades no país. Território O território é um espaço de produção transformado pela ação do homem onde se exerce relações de poder. Sendo o espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder, pos- suindo caráter político. Sobre isso, Raffestin (1993) ratifica: “o território é, então, uma construção relacionada ao poder, ao domínio do espaço e a como os homens organizam e instituem suas ações e comportamentos”. ◄ Figura 19: Território brasileiro Fonte: Disponível em: http://4.bp.blogspot. com/-0Ayod7luKYc/ UGNY3C8NlzI/AAAAAA- AABwQ/Yrb0KrQGARQ/ s1600/20797.jpg. Acesso em junho 2013. 26 UAB/Unimontes - 1º Período Além disso, no território estabelecem- se relações de posse, domínio, onde vigoram determinadas regras e leis. Portanto, o território é um espaço transformado, cons- truído e organizado de acordo com o uso (Raffestin, 1993), trata-se de um espaço funcional e especializado. Como exemplos, temos: os territórios rurais e os territórios ur- banos, os territórios das drogas. Os centros das cidades se apresentam também como verdadeiros territórios, pois ne- les criam-se estruturas de poder, com limites no espaço. O poder se dá no cotidiano, não só no âmbito estatal, mas também emana do próprio homem, via ação de Prefei- turas, proprietários de estabelecimentos comerciais, consu- midores. No contexto de formação do Estado-Nação, os territó- rios se institucionalizavam por meio das guerras, como é o caso da França, Inglaterra e Alemanha no século XVIII que buscavam a unidade territorial de seus estados. Em função disso, o conceito de território sempre privilegiou a política e a dominação com relações de poder existentes numa de- termina da sociedade. Na globalização, os territórios são formalizados a par- tir dos usos de diversos atores, muitas vezes à revelia do Es- tado com a finalidade de exercício de poder e controle de áreas estratégicas. As fotos de uma favela, um lixão e da Bolsa de Valores podem ser pensadas como territórios, uma vez que são es- paços passíveis de dominação por agentes humanos. Com isso, emergem relações de poder baseadas em intenciona- lidades econômicas, políticas, territoriais e culturais numa luta constante por e pelo espaço. Em relação às noções discutidas, podemos compreen- der que os trabalhos de campo em geografia constituem ferramenta importante para que os alunos possam apreen- der os conceitos atrelados à análise geográfica a partir de sua realidade vivida e com a observa- ção participante. Esta atividade é um momento de valorização da geografia, possibilitando ao aluno poder se portar não só como objeto, mas também como sujeito da pesquisa com diálogos e trocas de experiência. Tal momento promove o contato da teoria com o empirismo. Referências LACOSTE, Y. A Geografia – isso serve, em primeiro lugar, para fazer a Guerra. Trad. Maria Ce- cília França. 7. ed. Campinas: Papirus, 2003. MENDONÇA, F; KOZEL, S. (Org.) Elementos de Epistemologia da Geografia Contemporânea. Curi- tiba: UFPR, 2002.MORAES, Antônio Carlos Robert. Geografia: pequena história crítica. 19. ed. São Paulo: Annablume, 2003. MOREIRA, R. O que é Geografia. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 1985. RECLUS, E. A evolução, a revolução e o ideal anarquista. Imaginário: São Paulo. 2002. 131p. SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Edusp, 2002 (Coleção Milton Santos). ______. Por uma geografia nova. 4. ed. São Paulo: Hucitec, 1996. Figura 20: Espaço urbano/Favela Fonte: Disponível em: http://www.latiname- ricanministries.net/_/ rsrc/1283875851266/con- fig/F0009352.jpg. Acesso em junho 2013. ► Figura 21: Lixo urbano Fonte: Disponível em: http://t3.gstatic.com/ima ges?q=tbn:ANd9GcQbzn zswpZHB2d5w3hQulMb yvZuTCwo25Ir3NoXO1u- -uSw43h8&t=1. Acesso em junho 2013. ► Figura 22: Bolsa de valores. Fonte: Disponível em: http://economia. culturamix.com/blog/ wp-content/gallery/ organizacao-e-paciencia/ organizacao-e-paciencia-2. jpg. Acesso em junho 2013. ► 27 História - Geografia UnIdAde 2 A ciência cartográfica no estudo da geografia 2.1 Introdução O desenvolvimento da ciência cartográfica foi de fundamental importância para a sistema- tização da Geografia, pois proporcionou o conhecimento de territórios distantes e ainda uma lei- tura mais aprofundada e articulada do mundo. A Cartografia está tão próxima da Geografia que os mapas, em especial, se tornam uma linguagem que expressa à ciência geográfica. Na atualidade, saber fazer a leiturade mapas, gráficos e tabelas é uma habilidade muito importante, uma vez que, na sociedade globalizada, há uma gama de informações que estão a nossa disposição. Quem possui o domínio da linguagem cartográfica tem a possibilidade de ler criticamente o mundo. Nesse sentido, o objetivo desta unidade é fornecer noções básicas de Cartografia, o que pro- porcionará ao aluno a leitura e compreensão de mapas, gráficos e tabelas. Para alcançar esse objetivo, preparamos a unidade ‘A ciência cartográfica no estudo da Geo- grafia’ com a seguinte disposição: 2.2 A cartografia: alguns aspectos históricos 2.3 Os conceitos cartográficos: a orientação 2.3.1 Os Mapas e as Cartas na Cartografia 2.3.2 Projeções Cartográficas 2.3.2.1 A Projeção de Mercator 2.3.2.2 A Projeção de Peters 2.3.2.3 Projeção Azimutal Equidistante 2.3.3 As Escalas 2.3.4 Sistemas de Coordenadas Geográficas 2.3.5 Fusos Horários Desejamos que esse estudo possa contribuir para o seu desenvolvimento cartográfico. Bom estudo! 2.2 A cartografia: alguns aspectos históricos O homem desde os tempos mais remotos sempre reconheceu a necessidade de conhecer novas áreas e de se localizar no espaço, sendo necessário, para isso, criar pontos de referência. As pinturas rupestres e os curiosos mapas (primários, mas de razoável precisão) e, mais tarde, a invenção da bússola ilustram essa perspectiva. Durante o Renascimento, os conhecimentos car- tográficos tornam-se instrumentos vitais de conhecimento e de controle de rotas comerciais. Era o período de expansão capitalista, momento histórico, conhecido como as “grandes navegações”. Nessa época, houve um avanço dessa ciência que se torna de grande importância no sentido de suprir as necessidades capitalistas. 28 UAB/Unimontes - 1º Período Até então, a Cartografia não era sistematizada como ciência, os mapas eram apenas uma expressão artística da realidade ou seu esboço, mas que começam a ter bases matemáticas só- lidas que iriam garantir exatidão na localização. Do século XVII ao século XIX surgem os mapas mais detalhados, usados principalmente para fins militares. Como consequência, podemos en- tender que essa ciência é um importante instrumento de poder do mundo capitalista, uma vez que pode contribuir para o domínio, conquista e ampliação de territórios. Na atualidade, com os avanços tecnológicos, temos uma Cartografia moderna, capaz de utilizar recursos, como: fo- tografias aéreas, imagens de satélite e computadores para gerar mapas detalhados e localizar, precisamente, qualquer ponto ou objeto sobre a superfície da Terra. Nesse sentido, a Cartografia torna-se um importante instrumento para a compreensão da realidade, portanto, de muita importância para a ciência geográfica e para a sociedade em geral, já que a utilização de gráficos, tabelas e mapas está cada vez mais presente em revistas, jornais e na televisão. No entanto, para acompanharmos essa realidade, é necessário que estejamos pre- parados para fazer a leitura dessas informações. dICA Cartografia (do grego chartis = mapa e graphein = escrita) é a ciência que trata da concepção, produção, difusão, utilização e estudo dos mapas, gráficos e tabelas. Das muitas definições dis- poníveis na literatura, adotamos, aqui, a atual- mente adaptada pela Associação Cartográfica Internacional (ACI): Conjunto dos estudos e operações científicas, técnicas e artísticas que intervêm na elaboração dos mapas a partir dos resultados das obser- vações diretas ou da exploração da docu- mentação, bem como da sua utilização. Figura 23: Mapa primitivo, feito pelos aborígenes das Ilhas Marshall. Fonte: MAGNOLI, ARAÚ- JO, 2000 ► dICA Os pontos cardeais indicam direção, não há um ponto fixo no hori- zonte que determina- remos norte, sul, leste ou oeste. Com o passar do ano, é possível notar que a trajetória do sol no céu vai se modifi- cando. Dessa forma, o nascente e o poente não acontecem sempre no mesmo ponto, existe uma pequena alteração. 29 História - Geografia 2.3 Os conceitos cartográficos: a orientação Como já discutimos anteriormente, os homens da antiguidade sempre se preocuparam com a localização e, por isso, desenvolveram técnicas de orientação. O termo orientação significa a procura pelo oriente, e podemos concluir que o sol, foi a referência para o homem. Portanto, a di- reção onde o sol nasce, denominamos de nascente, oriente ou leste. O lado oposto, onde o sol se põe, denominamos de poente, ocidente ou oeste. A partir desses dois pontos e da posição dos polos, se determinou os quatro pontos cardeais: norte, sul, leste e oeste. QUADRO 1 Pontos Cardeais Colaterais N – Norte S – Sul E – Leste W - Oeste NW – N oroeste NE – N ordeste SE – S udeste SW – S udoeste Subcolaterais NNW – Nor-Noroeste NNE – Nor-Nordeste SSE – Su-Sudeste SSW – Su-Sudoeste ENE – Es-Nordeste ESE – Es-Sudeste WSW – Oes-Sudoeste WNW – Oes-Noroeste Entre os pontos cardeais, existem os pontos colaterais nordeste (entre norte e leste), noro- este (entre norte e oeste), sudeste (entre sul e leste), e sudoeste (entre sul e oeste). Por sua vez, entre os pontos colaterais, existem os pontos subcolaterais; são eles: o leste-nordeste, o norte- -nordeste, o norte-noroeste, o oeste-noroeste, o oeste-sudoeste, o sul- sudoeste, o sul-sudeste e o leste-sudeste. ▲ ▲ Figura 24: Rosa dos Ventos mostrando a abreviatura dos pontos cardeais, colaterais e subcolaterais. Fonte: Disponível em:http://www.invivo.fiocruz.br/media/ rosadosventos.gif. Acesso em junho 2013. Figura 25: Os polos geográficos e magnéticos da Terra Fonte: CASTELAR e MAESTRO, 2001. Os pontos cardeais apresentam alguns sinônimos, que devem ser lembrados: NORTE – setentrional ou boreal; SUL – meridional ou austral; LESTE – oriental ou nascente; OESTE – ocidental ou poente. dICA Se observarmos o céu em horários distintos, percebemos que há um movimento do sol para quem o observa da Terra. A esse fenômeno chamamos de movi- mento aparente do sol, uma vez que é a Terra que realiza o movimen- to de rotação no entor- no dele. O movimento de rotação também é responsável pelos dias e pelas noites. 30 UAB/Unimontes - 1º Período Durante a noite, o homem se orienta pelas estrelas e pela lua, uma vez que a lua sempre de- saparece na mesma posição que o sol. Portanto, a orientação pela lua é feita da mesma forma que a orientação pelo sol. Quanto às estrelas, a primeira coisa que deve ser feita é se levar em conside- ração a localização de uma pessoa ou objeto em relação ao hemisfério (norte ou sul). No hemis- fério sul, por exemplo, a referência é a constelação do Cruzeiro do Sul. Já no hemisfério norte, as referências são a constelação da Ursa Maior e a estrela Polar, que fazem parte dessa constelação. Quanto à bússola, essa foi uma invenção que representou, sobretudo, uma revolução para a navegação. A prática dessa atividade em lugares mais distantes exigia aparelhos que forne- cessem uma orientação mais precisa. Criada pelos chineses, até hoje, esse é um instrumento muito utilizado, por ser simples, mas muito eficiente. A bússola é composta por uma agulha magnetizada ou imantada, móvel, em torno de um eixo, apontando sempre a direção norte- -sul magnético. Isso acontece porque a Terra funciona como um imã e os seus polos (norte e sul) estão localizados próximos ao polo norte e polo sul geográficos. 2.3.1 Os mapas e cartas na cartografia Como discutimos até aqui, os mapas são, representações da realidade, adotados pela so- ciedade mesmo antes da escrita, com o objetivo de contribuir para a localização dos homens e objetos. Esses mapas representam elementos da paisagem, elementos humanos, demográficos, econômicos, históricos, entre outros. Mapa é a representação no plano, normalmente
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