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Aula 22 Prosa contemp.

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PROSA E CONTEMPORÂNEA– aula 22
Jadna Holanda
Murilo Rubião
Murilo Eugênio Rubião (Carmo de Minas, 1º de junho de 1916 — Belo Horizonte, 16 de setembro de 1991) 
Quando Murilo Rubião estreou com O ex-mágico, um crítico apontou a semelhança dos contos que compunham o livro e certas obras de Franz Kafka, especificamente A metamorfose. Embora o autor mineiro não conhecesse, na ocasião, o autor tcheco, havia de fato alguns traços comuns que permitiriam incluí-los numa mesma família estética, a da literatura fantástica.
 
Entende-se por literatura fantástica (ou realismo fantástico) aquelas narrativas em que ocorrem fatos inconcebíveis, inexplicáveis, surreais e que produzem uma grande sensação de estranhamento nas pessoas. Normalmente, esta atmosfera de irrealidade tem uma dimensão alegórica, ou seja, por meio do absurdo e do inverossímil, ela alude à realidade concreta da existência, cabendo ao leitor escolher um sentido realista para eventos aparentemente sobrenaturais.
 Todos os contos de Murilo Rubião trazem esta perspectiva que invalida a lógica e a racionalidade. Mas o absurdo das situações é apenas um artifício do escritor para questionar a realidade. Alguns de seus mais conhecidos contos apresentam – sob a forma de fantasias surrealistas – uma visão desencantada do homem
Obras e crítica
-O ex-mágico (1947)
-A estrela vermelha (1953)
-Os dragões e outros contos (1965)
-O pirotécnico Zacarias (1974) Romance
-O convidado (1974)
-A casa do girassol vermelho (1978)
-O homem do boné cinzento e outras histórias (1990)
-Contos reunidos (2005)
 
 
Todos os contos de Murilo Rubião trazem esta perspectiva que invalida a lógica e a racionalidade. Mas o absurdo das situações é apenas um artifício do escritor para questionar a realidade. Alguns de seus mais conhecidos contos apresentam – sob a forma de fantasias surrealistas 
 Lygia Fagundes Telles
Lygia Fagundes Telles, nascida Lygia de Azevedo Fagundes (São Paulo, 19 de abril de 1923) é uma escritora brasileira, galardoada com o Prémio Camões em 2005. É membro da Academia Paulista de Letras desde 1982, da Academia Brasileira de Letras desde 1985 e da Academia das Ciências de Lisboa desde 1987.
Lygia escreve investigando os recantos da alma humana , em sondagem psicológica permanente. Seus personagens em particular os femininos , são misteriosos e complexos, marcados pela reflexão e pela fragilidade, mais também pela inquietação. Procura apresentar com a palavra escrita a realidade envolta na sedução do imaginário e da fantasia. 
Escritora de linhagem humanista, na infância livre de "pés descalços" mergulham as raízes do seu fascínio/compaixão pelo lado oculto, submerso, dramático ou trágico dos seres humanos, matéria-prima da escrita. Lygia Fagundes Telles usa um estilo coloquial, conciso, luminoso, que se abre, depois, a uma estrutura narrativa mais dialogante, interrompida por monólogos interiores.
A ironia, a subtileza, a delicadeza são o nervo vital de uma discursividade pontuada também pelo gosto da aventura, pelo desconhecido.
Invenção e Memória, 2000 (Prêmio Jabuti)
Durante aquele estranho chá: perdidos e achados, 2002
Biruta, 2004
Conspiração de nuvens, 2007
Passaporte para a China, 2011
O segredo e outras histórias de descoberta, 2012
Livros de Contos
Porão e sobrado, 1938
Praia viva, 1944
O cacto vermelho, 1949
Histórias do desencontro, 1958
Histórias escolhidas, 1964
O Jardim Selvagem, 1965
Antes do Baile Verde, 1970
Romances:
Ciranda de Pedra, 1954
Verão no Aquário, 1964
As Meninas, 1973 (Prêmio Jabuti)
As Horas Nuas, 1989
Seminário dos Ratos, 1977
Filhos pródigos, 1978 (reeditado como A Estrutura da Bolha de Sabão, 1991)
A Disciplina do Amor, 1980
Mistérios, 1981
Venha ver o pôr-do-sol e outros contos, 1987
A noite escura e mais eu, 1995
Oito contos de amor, 1996
https://youtu.be/igISfKYbVHE
https://youtu.be/kcK7_PM1VWw
Fernando Sabino
Fernando Tavares Sabino (Belo Horizonte, 12 de outubro de 1923 — Rio de Janeiro, 11 de outubro de 2004) foi um escritor e jornalista brasileiro.
O encontro marcado, ROMANCE uma de suas obras mais conhecidas, foi lançada em 1956, ganhando edições até no exterior, além de ser adaptada para o teatro. Sabino decidiu, então (1957), viver exclusivamente como escritor e jornalista. Iniciou uma produção diária de crônicas para o Jornal do Brasil, escrevendo mensalmente também para a revista Senhor.
Sabino manteve uma linguagem simples, direta e enxuta. O escritor mostrou-se capaz de escrever com um repertório curto de palavras e em frases rápidas, sem construções complexas. O jornalismo adaptou de certa forma a linguagem dele, ou seja, comunicação coloquial, rápida e de imediato entendimento do leitor. Neste quesito Sabino conseguiu uma linguagem depuradíssima, de fácil comunicação e um engendramento dos episódios de forma sensacional.
Apesar de simples, o que se esconde por trás desse estilo é uma elaboração complexa de ideias para fazer um texto fácil.
 Fernando Sabino - A última crônica
A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever.
A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: "assim eu quereria o meu último poema". Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.
Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.
Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom(...)
 Dalton Trevisan
Dalton Jérson Trevisan (Curitiba, 14 de junho de 1925) é um escritor brasileiro, famoso por seus livros de contos, especialmente O Vampiro de Curitiba (1965), e por sua natureza reservada.
Inspirado nos habitantes da cidade, criou personagens e situações de significado universal, em que as tramas psicológicas e os costumes são recriados por meio de uma linguagem concisa e popular, que valoriza os incidentes do cotidiano sofrido e angustiante.
Trabalhador incansável, fidelíssimo ao conto, elabora até a exaustão e a economia mais absoluta, formiguinha, chuvinha renitente e criadeira, a ponto de chegar ao tamanho do haicai
Obras publicadas entre contos e romances
Novelas nada Exemplares (1959)
Cemitério de Elefantes (1964)
Morte na Praça (1964)
O Vampiro de Curitiba (1965)
Desastres do Amor (1968)
Mistérios de Curitiba (1968)
A Guerra Conjugal (1969)
O Rei da Terra (1972)
O Pássaro de Cinco Asas (1974)
A Faca No Coração (1975)
Abismo de Rosas (1976)
A Trombeta do Anjo Vingador (1977)
Crimes de Paixão (1978)
Primeiro Livro de Contos (1979)
Vinte Contos Menores (1979
Virgem Louca, Loucos Beijos (1979)
Lincha Tarado (1980)
Chorinho Brejeiro (1981)Essas Malditas Mulheres (1982)
Meu Querido Assassino (1983)
Contos Eróticos (livro) (1984)
A Polaquinha (1985)
Noites de Amor em Granada
Pão e Sangue (1988)
Em Busca de Curitiba Perdida (1992)
Dinorá - Novos Mistérios (1994)
Ah, É? (1994)
234 (1997)
Vozes do Retrato - Quinze Histórias de Mentiras e Verdades (1998)
Quem tem medo de vampiro? (1998)
111 Ais (2000)
Pico na veia (2002)
99 Corruíras Nanicas (2002)
O Grande Deflorador (2002)
Capitu Sou Eu (2003)
Arara Bêbada (2004)
Gente Em Conflito (com Antônio de Alcântara Machado) (2004)
Macho não ganha flor (2006)
O Maníaco do Olho Verde (2008)
Uma Vela Para Dario (talvez 2008)
Violetas e Pavões (2009)
Desgracida (2010)
O Anão e a Ninfeta (2011)
O beijo na nuca (2014)
Ariano Suassuna
Ariano Vilar Suassuna (João Pessoa, 16 de junho de 1927 — Recife, 23 de julho de 2014) foi um dramaturgo, romancista, ensaísta e poeta brasileiro. É defensor da cultura do Nordeste e autor do Auto da Compadecida e A Pedra do Reino.
Como os românticos, Ariano pratica uma literatura de alma nacionalista, com ênfase nos mitos, na tradição local e no legado espiritual. Ela se alinha, ainda, ao regionalismo dos anos 30, e a figuras emblemáticas como José Lins do Rego e Graciliano Ramos. Mas, ao optar por uma estética popular, Ariano relega a segundo plano a tradição literária e dá primazia aos folhetos de cordel, aos cantadores e aos ritos religiosos.
Ariano foi o idealizador do Movimento Armorial, que tem como objetivo criar uma arte erudita a partir de elementos da cultura popular do Nordeste Brasileiro. Tal movimento procura orientar para esse fim todas as formas de expressões artísticas: música, dança, literatura, artes plásticas, teatro, cinema, arquitetura, entre outras expressões.
Obras selecionadas
Uma mulher vestida de Sol, (1947);
Cantam as harpas de Sião ou O desertor de Princesa, (1948);
Os homens de barro, (1949);
Auto de João da Cruz, (1950);
Torturas de um coração, (1951);
O arco desolado, (1952);
O castigo da soberba, (1953);
O Rico Avarento, (1954);
Auto da Compadecida, (1955);
O casamento suspeitoso, (1957);
O santo e a porca, (1957);
O homem da vaca e o poder da fortuna, (1958);
A pena e a lei, (1959);
Farsa da boa preguiça, (1960);
A Caseira e a Catarina, (1962);
As conchambranças de Quaderna, (1987);
Fernando e Isaura, (1956)"inédito até 1994".
Romance
A História de amor de Fernando e Isaura, (1956);
O Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta, (1971);
História d'O Rei Degolado nas caatingas do sertão /Ao sol da Onça Caetana, (1976)
Poesia
O pasto incendiado, (1945-1970);
Ode, (1955);
Sonetos com mote alheio, (1980);
Sonetos de Albano Cervonegro, (1985);
Poemas (antologia), (1999).
Caio Fernando Abreu
Caio Fernando Loureiro de Abreu (Santiago, 12 de setembro de 1948 — Porto Alegre, 25 de fevereiro de 1996) foi um jornalista, dramaturgo e escritor brasileiro.
Apontado como um dos expoentes de sua geração, a obra de Caio Fernando Abreu, escrita num estilo econômico e bem pessoal, fala de sexo, de medo, de morte e, principalmente, de angustiante solidão. Apresenta uma visão dramática do mundo moderno e é considerado um "fotógrafo da fragmentação contemporânea".
OBRAS
Semana de Artes Modernas
Inventário do Irremediável, contos;
Limite Branco, romance;
O Ovo Apunhalado, contos;
Pedras de Calcutá, contos;
Morangos Mofados, contos;
Triângulo das Águas, novelas;
As Frangas, novela infanto-juvenil;
Os Dragões não conhecem o Paraíso, contos;
A Maldição do Vale Negro, peça teatral;
Onde Andará Dulce Veiga?, romance;
Na minha frente, ficamos nos olhando. Eu também dançava agora, acompanhando o movimento dele. Assim:
quadris, coxas, pés, onda que desce olhar para baixo, voltando pela cintura até os ombros, onda que sobe, então sacudir os cabelos molhados, levantar a cabeça e encarar sorrindo. Ele encostou o peito suado no meu. Tínhamos pelos, os dois. Os pelos molhados se misturavam. Ele estendeu a mão aberta, passou no meu rosto, falou qualquer coisa. O que, perguntei. Você é gostoso, ele disse. E não parecia bicha nem nada: apenas um corpo que por acaso era de homem gostando de outro corpo, o meu, que por acaso era de homem também. Eu estendi a mão aberta, passei no rosto dele, falei qualquer coisa. O que, perguntou. Você
é gostoso, eu disse. Eu era apenas um corpo que por acaso era de homem gostando de outro corpo, o dele, que por acaso era de homem também.
(Adaptado de: ABREU, C. F. Terça-feira gorda. In: . Morangos mofados. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 51.)
A arte permite a reflexão a respeito das contradições dos valores sociais e das transformações de padrões morais.
Artifícios narrativos modernos, tais como a desindividuação nominal e diálogos dinâmicos

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