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INTRODUÇÃO 
À LINGUÍSTICA 
Aline Azeredo Bizello
História da gramática 
tradicional e da 
reflexão linguística
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Descrever o percurso histórico das gramáticas tradicionais.
  Identificar as diferenças entre gramática como conceito teórico e 
gramática como instrumento linguístico.
  Analisar as diferentes abordagens que fundamentam as gramáticas 
contemporâneas brasileiras.
Introdução
Existem diferentes sentidos para gramática. Conhecê-los é uma forma 
de refletir sobre o funcionamento da língua. Qual é o papel e a origem 
da gramática tradicional? Que outras perspectivas existem? Para refletir 
sobre a língua materna, existe a perspectiva da competência linguística, 
a gramática tradicional e a gramática descritiva. Compreender cada 
perspectiva e avaliar as situações de aprendizagem que auxiliem os 
alunos a desenvolver sua gramática internalizada é o papel do professor 
de língua portuguesa.
Neste capítulo, você vai estudar a gramática tradicional e a reflexão 
linguística, acompanhando o percurso histórico das gramáticas tradicio-
nais, conhecendo as diferenças entre gramática como conceito teórico 
e como instrumento linguístico, além das diferentes abordagens que 
fundamentam as gramáticas contemporâneas brasileiras.
Percurso histórico das gramáticas tradicionais 
Ainda na atualidade, quando se pensa em refl exão linguística sobre a língua 
portuguesa brasileira, recorre-se aos preceitos da gramática tradicional. As 
gramáticas publicadas no século XXI também são oriundas de caminhos 
teórico-metodológicos percorridos pelos autores tradicionais. Para compreender 
esses manuais, é importante conhecer seu percurso histórico.
Os estudiosos da história das ideias linguísticas afirmam que há, desde a 
antiguidade clássica grega até hoje, uma espécie de continuidade nas reflexões 
sobre o uso da língua. Afinal, os pesquisadores costumam conhecer e respeitar 
as obras de seus predecessores. Assim, embora se encontrem alterações em 
teorias, nas definições ou nos métodos, é comum o estabelecimento de uma 
linha ininterrupta de erudição no tratamento da linguagem.
A história das ideias linguísticas é um ramo da linguística que analisa os estudos 
históricos sobre as línguas com ênfase aos dicionários e às gramáticas.
Platão foi um dos precursores nos estudos sobre os problemas linguísticos. 
Sua forma de analisar as questões linguísticas permaneceu até o final da Idade 
Média. Nessa época, o foco da investigação era a imanência e a sincronia do 
sistema linguístico. Pretendia-se descrever determinadas línguas (grego e 
latim) e refletir sobre as categorias linguísticas.
No Renascimento, surgiu o interesse pela história e pela comparação linguís-
tica, isto é, surgiu um olhar para as questões sociais e externas da linguagem. 
Nas palavras de Francisco Eduardo Vieira da Silva (2015, documento on-line):
Nota-se que esse olhar para a história dos estudos linguísticos a cinde em 
dois planos temporais, situados antes e depois do Renascimento, período 
marcado pela formação e consolidação dos estados nacionais modernos e de 
suas respectivas línguas de cultura. É verdade que, nessa época, os horizon-
tes dos estudos linguísticos, antes limitados à realidade greco-latina, foram 
ampliados e novas linhas de pensamento sobre a linguagem começaram a 
surgir, muito por conta da investigação de outras línguas, como o hebreu, o 
árabe, os próprios vernáculos europeus e as línguas ameríndias. 
História da gramática tradicional e da reflexão linguística2
Alguns estudiosos consideram que, ao longo da história dos estudos 
linguísticos, houve duas perspectivas paralelas para tratar sobre a língua. 
Bagno (2009) afirma que, atualmente, essas perspectivas podem ser traduzidas 
como gramática descritiva e gramática prescritiva. A primeira descreve 
o funcionamento e o uso da língua, e a segunda impõe usos considerados 
mais corretos ou elegantes. A origem das duas tendências é a Grécia antiga: a 
primeira, no contexto da filosofia clássica; a segunda, da filologia alexandrina.
De forma geral, Platão, Aristóteles e os estoicos buscaram estabelecer 
categorias de palavras que serviram de inspiração para a criação de uma 
metalinguagem para a descrição e análise de suas línguas. Silva (2015, docu-
mento on-line) considera que:
[…] embora os alexandrinos sejam considerados os primeiros gramáticos do 
Ocidente, […] Dionísio e seus colegas beberam nos estudos linguísticos dos 
precursores […] para criar um modo inédito de se estudar a linguagem, então 
sinônimo de grego homérico. Foi esse modo que chegou posteriormente aos 
gramáticos latinos e, através deles, aos gramáticos medievais e renascentis-
tas, sendo estes últimos os responsáveis por nossa ‘colonização gramatical’.
Com essa forma de pensar a linguagem, os alexandrinos deram continuidade 
à tradição filosófica de estudar a linguagem e criaram uma gramatização das 
línguas. Eles consideravam os literatos os detentores da língua correta, e essa 
forma de falar e de escrever passou a nortear as concepções envolvidas no 
pensamento e na prática gramatical desde essa época. Assim, durante o Império 
Romano e a Idade Média, os latinos absorveram o sistema metodológico e 
ideológico baseado em noções arbitrárias de “certo” e “errado”. Esse fato 
demonstra que, desde a antiguidade clássica, já havia uma discussão: a língua 
seria constituída por regularidades ou irregularidades de forma e sentido?
O fato é que dois campos de estudos ocorreram concomitantemente ao 
longo dos estudos linguísticos desde a antiguidade até hoje: o teórico (refle-
xão sobre a linguagem para descrevê-la) e o doutrinário (estabelecimento de 
prescrições de uso correto da linguagem). Veja na Figura 1 as influências 
mútuas dos dois campos.
3História da gramática tradicional e da reflexão linguística
Figura 1. Perspectiva da ramificação e influências mútuas entre os campos teórico e 
doutrinário. 
Fonte: Silva (2015, documento on-line).
O campo doutrinário se originou no período helenístico, época em que o 
grego falado em Atenas passou a ser tratado como uma língua de prestígio por 
questões de poder político e econômico. Embora houvesse variedades nessa 
língua e surgissem novidades linguísticas a cada nova conquista territorial, 
houve uma manutenção do ideal linguístico-cultural de reverência à tradição 
História da gramática tradicional e da reflexão linguística4
literária anterior também no Império Romano. Na tentativa de preservar a 
língua “correta” de Homero, os gramáticos alexandrinos consideravam todas 
as mudanças da língua como negativas. Para Silva (2015, documento on-line),
Assim, os primeiros filólogos gramáticos da história ocidental estabeleceram 
juízos de valor negativos para as inevitáveis transformações e diferenças do 
grego homérico, cometendo dois equívocos fundamentais: a distorção das 
relações entre fala e escrita, duas entidades sociolinguísticas completamente 
distintas; e a assunção da visão negativa da mudança linguística, considerada 
prejudicial à pureza do idioma grego. É desse modo que os eruditos alexandri-
nos inauguraram a tradição prescritivo-normativa e o preconceito linguístico 
nos estudos gramaticais, dando as primeiras diretrizes epistemológicas e 
ideológicas do PTG.
Francisco Eduardo Vieira da Silva (2015) defende a ideia de que o paradigma tradicional 
de gramatização (PTG) é o modelo responsável por nortear, há mais de dois mil anos, 
a elaboração de gramáticas no Ocidente. 
Nesse contexto e com esses propósitos, surgiu a primeira gramática de 
uma língua europeia que recebeu respaldo como tal, a elaborada por Dionísio 
Trácio (170-90 a.C.). Ele dividiu a gramática em seis partes: leitura e prosódia; 
exegese dos tropos poéticos; restituição de sentido das palavras estranhas e das 
estórias; descoberta da etimologia; cálculo da analogia; crítica dos poemas.
Um dos legados dessa gramática de Dionísio é considerara frase/oração 
como a unidade máxima de análise. Nas gramáticas da língua portuguesa, 
encontra-se uma terminologia gramatical que “[…] advém direta ou indireta-
mente do legado dionisíaco e, consequentemente, das sucessivas gerações de 
filósofos, que deram o mote categorial e terminológico para o surgimento da 
tradição gramatical na Alexandria helênica” (SILVA, 2015, documento on-line).
Dessa forma, tanto a gramática dionisíaca quanto as contemporâneas 
tratam as classes como se fossem fixas e autônomas. Contudo, uma palavra 
não terá sempre a mesma classificação, pois o contexto de uso pode alterá-la. 
Em linhas gerais, nota-se que os gramáticos atuais buscam encaixar definições 
em categorias que já estavam prontas/indicadas pela tradição e não criar uma 
teoria nova que dê conta de novas classes, por exemplo.
5História da gramática tradicional e da reflexão linguística
Conforme alerta Neves (1987), na atualidade, evidencia-se a influência 
gramatical do latino Varrão (I a.C.): seu modelo sistemático serviu para a 
elaboração das primeiras gramáticas vernaculares europeias. No século VI, 
o gramático Prisciano de Cesareia descreveu o latim dos autores clássicos, 
e sua obra chegou ao Ocidente. Até o Renascimento, seu livro serviu como 
base das teorias gramaticais e ainda permanece em nossos dias como base 
do ensino de latim. Nesse sentido, a gramática de Prisciano, representa o elo 
entre a erudição gramatical antiga e medieval. 
Com a Idade Média, a gramática passou a ser parte da doutrina cristã. As 
mudanças linguísticas, então, não receberam atenção nesse período. Desde a 
queda do Império Romano, as formas de falar regionais, chamadas de romances, 
passaram a ganhar mais espaço. Junto com as gramáticas latinas, surgiram 
transcrições fonéticas das línguas populares que aos poucos se organizariam 
em torno de normas mais ou menos consensuais (SILVA, 2015).
De qualquer forma, para todo processo de gramatização das línguas na-
cionais europeias, já na Idade Moderna, o latim esteve presente, e as primei-
ras gramáticas se basearam nos modelos latinos. Como as nações europeias 
precisavam alcançar unidade linguística em função das questões políticas, 
buscaram legitimar um padrão de língua (NEVES, 1987).
Em suma, as normas das gramáticas tradicionais surgiram da necessidade 
de manter um padrão linguístico venerado ou que representasse uma unidade 
política. Como os estudiosos bebem da fonte de seus predecessores, é comum 
que algumas estruturas de descrição e normatização da língua sejam utilizadas 
como modelo, embora os contextos se modifiquem.
Diferenças entre gramática como conceito 
teórico e como instrumento linguístico
É comum que as pessoas identifi quem o termo gramática apenas com um con-
junto de normas de uma língua. Entretanto, há pelo menos duas possiblidades 
de uso dessa palavra: uma como conceito teórico e outra como instrumento 
linguístico.
A primeira possibilidade de sentido de gramática refere-se a um manual 
de regras sobre o bom uso da língua e corresponde ao que se costuma chamar 
de gramática normativa. Nas palavras de Franchi (2006, p. 16),
Gramática é o conjunto sistemático de normas para bem falar e escrever, 
estabelecidas pelos especialistas, com base no uso da língua consagrado 
História da gramática tradicional e da reflexão linguística6
pelos bons escritores. Dizer que alguém ‘sabe gramática’ significa dizer que 
esse alguém ‘conhece essas normas e as domina tanto nacionalmente quanto 
operacionalmente’.
Note que, nessa definição de gramática, considera-se apenas a variedade 
padrão que, como alerta Travaglia (1998), mobiliza argumentos estéticos 
(valorização da elegância; depreciação da cacofonia, por exemplo), elitistas 
(estratificação entre linguagem popular e aristocrática); políticos (valorização 
do purismo e da vernaculidade e perseguição aos estrangeirismos); comuni-
cacionais (adequada expressão do pensamento) e históricos (valorização da 
tradição).
Para essa concepção, é preciso instrução formal, pois há regras específicas 
que diferenciam o uso cotidiano da língua do uso “certo”. 
Enunciados como “Eu vi ela no cinema” e “Me dá um pedaço de bolo” são considerados 
errados, pois não obedecem às regras de uso de pronomes oblíquos e de colocação 
pronominal. De acordo com as regras tradicionais, os pronomes retos (ela) não podem 
funcionar como objeto; essa função é dos pronomes oblíquos. Assim, teríamos: “Eu a 
vi no cinema”. Outra regra diz respeito à colocação de pronomes oblíquos: eles nunca 
podem iniciar uma frase. Assim, teríamos: “Dá-me um pedaço de bolo”.
A origem da construção desse tipo de gramática é bastante antiga: remete 
aos gregos, que pretendiam exaltar a literatura clássica cujos autores produziram 
obras em uma variante linguística não reconhecida pela população. A intenção 
dos gramáticos gregos era garantir ampliar o acesso à leitura dessas obras. 
O uso dessas gramáticas para prescrever o bom uso da linguagem inspirou 
muitos gramáticos e se perpetua até a atualidade. 
Essa é a concepção de gramática que costuma surgir nas avaliações das 
produções textuais dos estudantes brasileiros. Geralmente, os professores 
verificam se os alunos utilizam uma linguagem de acordo com as normas. 
Caso essa sintonia com as regras não ocorra, costuma-se afirmar que o texto 
está mal escrito. Essa valorização de uma modalidade de língua revela pre-
conceitos elitistas, acadêmicos e de classe.
Silva (2015, documento on-line) afirma que há alguns traços constitutivos 
do paradigma tradicional de gramatização:
7História da gramática tradicional e da reflexão linguística
A gramática é um instrumento que constrói um modelo artificial e ideal de 
língua. 
A gramática é um instrumento que regula a língua, prescrevendo suas formas 
legítimas. 
Descrever uma língua se confunde com normatizá-la, prescrevê-la. 
A gramática, independentemente do seu uso escolar, tem função pedagógica. 
A função da gramática é ensinar a língua correta. 
A melhor língua é a língua das camadas dominantes da sociedade. 
O português de Portugal é melhor que o português do Brasil. 
A língua é a expressão do pensamento. 
A língua é um objeto autônomo, independe dos seus usuários. 
A língua equivale à sua modalidade escrita. 
A língua é homogênea. 
Os usos que se afastam das formas legitimadas pela gramática são ignorados 
ou classificados como vícios. 
A língua é estática. 
A língua deve ser preservada. 
A língua literária é a mais bem elaborada e deve, portanto, servir de modelo. 
A língua das gerações pregressas é melhor que a das gerações atuais. 
O aparato conceitual e taxionômico de tradição greco-latina serve para todas 
as línguas. 
A gramática de uma língua se divide em fonologia, morfologia e sintaxe. 
A gramática de uma língua é a gramática das frases (períodos) da língua, 
tomadas como unidade máxima de análise. 
As frases de uma língua têm sentido pleno, bastam-se a si mesmas. 
A exposição do conteúdo da gramática é sistemática: categoria, definição, 
subdivisão e exemplo. 
As categorias gramaticais são fixas, estanques e avessas a controvérsias. 
As fontes teóricas não precisam ser apresentadas no corpo da gramática. 
Há ainda uma concepção de gramática chamada de descritiva, pois ela 
descreve o funcionamento, a forma e a função da língua. Travaglia (1998, p. 
27) a define como “[…] um conjunto de regras que o cientista encontra nos 
dados que analisa, à luz de determinada teoria e método”. Os gramáticos 
descritivos, nas palavras de Franchi (2006, p. 20):
Analisam a estrutura das expressões de uma língua, dividindo-a em unida-
des simples e associando cada uma dessas unidades, por diferentes critérios 
categoriais, a diferentes classes […] organizam essas diferentes classes em 
subclasses […] Verificam quais as relações (os modos de conexão) que se esta-
belecem entre essas diferentes unidades e classes, possibilitando a construção 
de unidades complexas […] Definem os papéis específicos que essas unidades 
desempenham ao entrarnas construções complexas em que se relacionam […] 
Enfim, consultam como se empregam, na língua considerada, as diferentes 
História da gramática tradicional e da reflexão linguística8
palavras […] dizem quais são as expressões autorizadas e quais as expressões 
não autorizadas pela gramática da língua.
Portanto, a gramática descritiva associa-se às variedades linguísticas, isto 
é, tudo que atende às regras de funcionamento da língua em determinada 
variedade linguística é considerado gramática. Nesse sentido, todos os enun-
ciados considerados agramaticais na gramática normativa são gramaticais 
para a gramática descritiva. 
Se o falante pronuncia “Nois voltemo cedo” ou “Isso é pra mim fazê”, é sinal de que 
ele sabe distinguir expressões da língua portuguesa, inserindo-as em categorias e 
funções e estabelecendo relações entre elas. 
Isso demonstra que o usuário da língua está descrevendo a estrutura interna 
da língua a que tem acesso. O critério de gramaticalidade não está na varie-
dade linguística de prestígio ou na variedade utilizada nas obras clássicas e 
sim no atendimento às regras de funcionamento da língua em uma variedade 
específica.
Como se nota, a descrição gramatical e das regras de uso são o foco dessa 
gramática. Essa tendência é baseada em duas correntes teóricas: o estrutu-
ralismo e a teoria gerativa-transformacional, pois privilegia a descrição da 
língua oral e trabalha com enunciados ideais. Nesse sentido, essa gramática 
propõe também uma homogeneidade do sistema linguístico. Travaglia (1998, p. 
28) afirma que: “[…] as duas correntes básicas da gramática descritiva fazem 
o que se pode chamar […] de uma linguística da langue, do sistema formal 
e abstrato da língua, visto como algo uniforme que regula as variedades da 
parole (fala, uso)”.
A terceira possibilidade de uso da palavra gramática vai ao encontro da 
definição de Travaglia (1998, p. 28): gramática é “[…] um conjunto de regras 
que o falante de fato aprendeu e das quais lança mão ao falar”. Isso significa que 
o falante tem uma competência internalizada que se desenvolve gradualmente 
a partir de suas atividades linguísticas. Portanto, é um saber que não depende 
de escolarização. Depende apenas de interações comunicativas que levem o 
falante a ter contato e a utilizar uma variedade condizente com a sua sociedade. 
9História da gramática tradicional e da reflexão linguística
Em outras palavras, depende de ativação e de amadurecimento progressivo, de 
hipóteses sobre o que seja a linguagem, de suspeitas sobre como funcionam 
suas regras e princípios.
Essa gramática internalizada não pode ser descrita em livros: ela está 
atrelada a determinada situação comunicativa. Qualquer falante nativo tem um 
conhecimento implícito sobre sua língua, embora nem sempre consiga explicitá-
-lo. A aquisição desse conhecimento ocorre naturalmente e é o que permite 
ao falante construir diversas frases e textos. É justamente essa competência 
gramatical que oferece princípios que regem a conversação e a interpretação.
Como a gramática internalizada está em sintonia com contexto sócio-
-histórico-ideológico, não há erro na aplicação das regras e sim inadequação, 
ou seja, o texto e sua construção mudam conforme o efeito de sentido que 
se deseja produzir. Nas palavras de Travaglia (1998, p. 30) “[…] a gramática 
internalizada é a que constitui não só a competência gramatical do usuário, 
mas também sua competência textual e sua competência discursiva […] e, 
portanto, a que possibilita a sua competência comunicativa”.
Independentemente da modalidade de linguagem utilizada pelo falante, 
constata-se que toda criança já chega à escola dominando a gramática. Afinal, 
a linguagem não é algo que se aprende: ela surge espontaneamente e amadurece 
ao longo dos anos. Todas as crianças com acesso à linguagem dominam-na 
rapidamente, pois os princípios e regras internalizados lhes permitem cons-
truir ou ativar a gramática da sua língua. Franchi (2006, p. 25) afirma “[…] 
a gramática é uma práxis ou se desenvolve na práxis por um processo de 
balizamento das possibilidades e virtualidades da manifestação verbal, feitas 
ou aceitas pela comunidade linguística de que o falante participa”.
Portanto, não se pode buscar, nas aulas de língua portuguesa, tentar con-
trapor uma linguagem erudita a uma linguagem vulgar, por exemplo, ou 
determinar que uma é melhor do que a outra. Conforme orienta Franchi (2006, 
p. 32), o professor, em matéria gramatical deve:
▪ saber muito bem a gramática da modalidade culta;
▪ saber compreender a gramática da modalidade de seus alunos (e todas as 
questões relativas à variação linguística);
▪ dispor de um bom aparelho descritivo (pelo menos o que nos oferece a 
gramática tradicional) para ser capaz de analisar expressões nesse diferen-
tes modalidades, compará-las, identificar seus contrastes e, eventualmente, 
discorrer sobre tudo isso. 
Um dos papeis do professor é diagnosticar a realidade linguística dos alunos 
e o estágio do desenvolvimento linguístico para auxiliá-los a vivenciar mais 
História da gramática tradicional e da reflexão linguística10
experiências linguísticas. Desse modo, podemos oferecer às crianças não só 
condições de domínio da modalidade culta, mas também condições para que 
ampliem seus recursos linguísticos.
Nesse sentido, no trabalho de desenvolvimento da língua materna e no 
ensino de gramática, é conveniente reconhecer os variados tipos de gramática 
e que atividades podem ser trabalhadas com base neles. 
Diferentes abordagens que fundamentam as 
gramáticas contemporâneas brasileiras 
As diferentes concepções de gramática norteiam as abordagens que funda-
mentam as gramáticas contemporâneas brasileiras. Essas abordagens são: 
gramática normativa, descritiva, internalizada, implícita, explícita, refl exiva, 
contrastiva, geral, histórica e comparada. Vamos conhecer as características 
de cada uma delas?
A gramática normativa se debruça, principalmente, sobre os dados da 
língua escrita, descrevendo os fatos da norma culta. Quando essa abordagem se 
dedica a analisar a língua oral, compara-a à escrita, buscando uma homogenei-
dade entre as duas variedades. Suas descrições referem-se à classificação das 
formas morfológicas e léxicas que servem de parâmetro para o estabelecimento 
de regras que regem a fala e a escrita corretas. Travaglia (1998, p. 31) afirma:
Gramática normativa é uma espécie de lei que regula o uso da língua em uma 
sociedade. A parte de descrição da norma culta e padrão não se transforma 
em regra na gramática normativa até que seja dito que a língua só é daquela 
forma. É preciso, pois, separar a descrição que se faz da norma culta da 
língua, que é apenas gramática descritiva de uma variedade da língua, com 
a transformação do resultado dessa descrição em leis para uso da língua.
Isso significa que o gramático pode constatar, por exemplo, que, na va-
riedade padrão da língua portuguesa, as frases não começam com pronome 
oblíquo e descrever essa constatação. No entanto, quando essa descrição serve 
de base para a construção de regras de uso da língua, surge uma gramática 
normativa.
Esse é o tipo de gramática a que, geralmente, as pessoas se referem na 
escola. Um dos problemas do ensino dessa gramática é o privilégio à nomen-
clatura e à norma em detrimento da descrição. Além disso, as estratégias de 
aprendizagem e os conhecimentos trabalhados se detêm à modalidade escrita. 
11História da gramática tradicional e da reflexão linguística
Contudo, o ponto principal a criticar é que a escola, muitas vezes, entende que 
ensino de língua materna é ensino dessa gramática apenas.
A gramática descritiva descreve determinada variedade da língua em um 
dado momento (abordagem sincrônica). Não trabalha apenas uma variedade, 
como a tradicional. Ela surge das observações dos estudiosos sobre as unidades 
e as categorias linguísticas presentes na realidade e da criação de hipóteses 
que expliquem os mecanismos da língua identificados.
Asgramáticas descritivas se associam a determinadas correntes linguísticas. Podem, por 
isso, receber nomes diferentes, como: gramática estrutural, gerativa-transformacional, 
estratificacional, funcional (TRAVAGLIA, 1998). 
Outra abordagem que fundamenta as gramáticas contemporâneas brasileiras 
é a gramática implícita. Ela se refere à competência internalizada do falante. 
Este não tem consciência dela, por isso também é chamada de inconsciente. 
Travaglia (1998, p. 33) alerta que essa gramática “[…] por possibilitar o uso 
automático da língua, está diretamente relacionada com o que se chama no 
ensino de gramática, no trabalho escolar com a gramática, de gramática de uso”.
Já a abordagem explícita ou teórica pretende explicitar a estrutura, a 
constituição e o funcionamento da língua. Para tanto, são utilizadas atividades 
metalinguísticas relacionadas aos mecanismos dominados pelo falante e que 
possibilitam o uso da língua. Dessa forma, evidencia-se que essa abordagem 
se associa às gramáticas normativas e descritivas.
A gramática reflexiva refere-se às atividades de observação e reflexão “[…] 
sobre a língua que buscam detectar, levantar suas unidades, regras e princípios, 
ou seja, a constituição e funcionamento da língua” (TRAVAGLIA, 1998, p. 33). 
Portanto, é a gramática em explicitação, ou seja, aquela que busca explicar a 
gramática implícita do falante por meio de evidências linguísticas. Travaglia 
(1998) indica ainda mais possibilidades de tipos de gramáticas: contrastiva, 
geral, universal, histórica e comparada, conforme explicitado a seguir.
Há a gramática contrastiva, também chamada de transferencial. Ela 
estuda duas línguas por meio da comparação: os padrões de uma língua 
são verificados na outra língua. Seu uso é comum no ensino de uma língua 
História da gramática tradicional e da reflexão linguística12
estrangeira, mas no ensino de língua materna pode ser útil para a observação 
das variedades linguísticas.
Já a gramática geral compara muitas línguas ao mesmo tempo. A ideia 
é reconhecer todos os fatos linguísticos e as condições para que eles se rea-
lizem. Para tanto, quanto mais línguas em análise, melhor. Diz-se que é uma 
gramática de previsão de possibilidades, pois está centrada em identificar os 
princípios gerais das línguas.
A gramática universal é muito próxima da geral, pois também tem base 
comparativa. Aliás, muitos estudiosos não costumam diferenciá-las. Entre-
tanto, a finalidade da universal é descrever e classificar os fatos linguísticos.
A gramática histórica investiga a história diacrônica de uma língua, isto 
é, pesquisa os fatos e as características de uma língua desde sua origem até 
suas transformações. Nesse sentido, quando se explica, nas salas de aula, a 
origem do português e se remete ao latim vulgar, por exemplo, utiliza-se a 
gramática histórica.
A gramática comparada também oferece um estudo diacrônico, pois 
também investiga as fases evolutivas das línguas, mas de forma comparada. 
Comparam-se pontos comuns entre línguas diferentes.
Essas diferentes abordagens estão presentes nas gramáticas brasileiras 
atuais, como: Gramática Houaiss da língua portuguesa, de José Carlos de 
Azeredo (2008), Gramática do português brasileiro, de Mário Alberto Perini 
(2010) e Gramática pedagógica do português brasileiro, de Marcos Bagno 
(2012). Nas introduções de cada gramática, estão expostas suas pretensões, 
mas se nota que há um desenvolvimento híbrido que não permite delimitar 
uma gramática como pertencente a uma vertente de forma estrita. A gramática 
de Azeredo (2008, p. 26) apresenta os fatores que nortearam a sua construção, 
que estão listados a seguir. 
a) A análise e o ensino do português escrito no Brasil ao longo do último 
século estão amparados numa tradição descritiva que obviamente precisa 
ser revista, mas nunca ignorada. 
b) Continuam a ser indevidamente estigmatizadas como ‘erros gramaticais’ 
muitas formas e construções regularmente empregadas em textos formais de 
circulação pública em território brasileiro escritos em português. 
c) A maioria dos compêndios escolares disponíveis já reconhece a língua de 
jornais, revistas e obras não literárias como expressão do uso padrão, mas 
ainda se revela tímida para a renovação conceitual e descritiva. 
d) Algumas vertentes da linguística contemporânea, muito influentes nos 
meios acadêmicos brasileiros, colocam a atividade discursiva — e o texto 
em que ela se materializa – no centro das preocupações dos pesquisadores. e 
13História da gramática tradicional e da reflexão linguística
e) Consequentemente, a tradicional unidade máxima da análise — a oração — 
perdeu este status e passou a ser descrita no contexto maior de sua ocorrência. 
Note que, pelos fatores que fundamentaram o planejamento da obra, 
evidencia-se que a gramática pretende romper com alguns posicionamentos 
tradicionais, mas também revela a necessidade de garantir os princípios da 
gramática descritiva. Dessa forma, a proposta da Gramática Houaiss é mesclar 
tradição e inovação.
Tanto que ela se constrói em tópicos gramaticais, mas com longos parágrafos 
explicativos que permitem uma reflexão e uma crítica à tradição. Na análise 
de Silva (2015, documento on-line), a Gramática Houaiss
[…] se desloca, em certos pontos, da tradição gramatical conceitual e descri-
tiva, a qual não segue à risca, mas também não ignora. Afirma que pretende 
reconhecer usos não literários como possíveis expressões do padrão linguístico, 
considerar aspectos da atividade textual-discursiva como indispensáveis à 
descrição gramatical e legitimar construções indevidamente estigmatizadas 
mas empregadas amplamente em nosso território.
A Gramática do português brasileiro, de Mário Alberto Perini (2010, p. 
21), nas páginas iniciais, declara uma ruptura com a tradição e uma tendência à 
gramática descritiva, pois se apresenta como uma gramática que “[…] pretende 
descrever como é o PB, não prescrever formas certas e proibir formas erradas”. 
Ao longo da obra, essa ruptura com a gramática tradicional se evidencia 
com, por exemplo, o alerta de que não se pode afirmar exatamente a quan-
tidade de classes gramaticais do português do Brasil. Entretanto, embora o 
autor tente revelar a complexidade da tarefa de descrever o funcionamento 
da língua, não foge das categorias convencionais. Na análise de Silva (2015, 
documento on-line):
Em linhas gerais, digo que a GP descreve a norma culta falada brasileira em 
contexto informal, embora efetue a homogeneização dessa norma, priorizando 
os falares do Sudeste urbano. Se, por um lado, a obra gramatiza aspectos 
morfossintáticos do PB — tais como as mudanças no paradigma dos pronomes 
pessoais e possessivos, o enfraquecimento do paradigma de flexão verbal, a 
possibilidade de ausência de concordância verbal e nominal, as novas estraté-
gias de indeterminação do sujeito, as mudanças nas formas verbais de alguns 
tempos e modos etc. —, por outro lado, opõe dicotomicamente fala e escrita, 
considerando a primeira enquanto sinônimo de PB e a segunda enquanto o 
português padrão, purista, castiço.
História da gramática tradicional e da reflexão linguística14
A Gramática pedagógica do português brasileiro, de Marcos Bagno (2012), 
apresenta uma parte inicial dedicada a revelar a teoria do conhecimento e da 
linguagem que fundamenta os posicionamentos da obra. Estes são relacio-
nados à não finalidade de uso escolar e à intenção de proporcionar reflexões 
sobre mudanças/aprimoramentos da prática do professor no ensino da língua 
materna. Silva (2015, documento on-line) afirma:
[…] a despeito dos muitos pontos em comum entre as regularidades gramaticais 
do PB e as regras da norma-padrão do português (inclusive em se tratando 
dos tópicos listados acima relativos ao verbo), os aspectos morfossintáticos 
em evidência e o modo de abordá-los condizem com a postura militante e 
propositiva da GB em favor do reconhecimento do PB como língua plena e 
autônoma. Em linhas gerais, essa obra se revelauma gramática de contrastes 
entre a prescrição tradicional e a descrição real da língua dos brasileiros, 
focalizada não em sua totalidade, mas sim em seus aspectos essenciais a 
uma pedagogia de ensino de língua que promova a reflexão crítica sobre os 
verdadeiros usos linguísticos contemporâneos dos brasileiros cultos e urbanos.
Em suma, atualmente as gramáticas brasileiras revelam uma intenção em 
romper com a tradição, embora ainda demonstrem alguma relação com as 
convenções da norma culta. O interessante é que elas servem de instrumento 
e objeto de análise para que surjam reflexões sobre a língua portuguesa. 
Portanto, embora esses materiais possam ser utilizados como uma ferramenta 
de trabalho para pesquisa, estudar os fenômenos linguísticos a partir dessas 
gramáticas também demanda uma postura investigativa.
AZEREDO, J. C. de. Gramática Houaiss da língua portuguesa. São Paulo: Publifolha, 2008.
BAGNO, M. Gramática: passado, presente e futuro. Curitiba: Aymará, 2009.
BAGNO, M. Gramática pedagógica do português brasileiro. São Paulo: Parábola, 2012.
FRANCHI, C. Mas o que é mesmo gramática. São Paulo: Parábola, 2006.
NEVES, M. H. de M. Vertente grega da gramática tradicional: uma visão do pensamento 
grego sobre linguagem. São Paulo: Unesp, 1987.
PERINI, M. A. Gramática do português brasileiro. São Paulo: Parábola, 2010.
15História da gramática tradicional e da reflexão linguística
SILVA, F. E. V. Gramáticas brasileiras contemporâneas do português: linhas de continuidade 
e movimentos de ruptura com o paradigma tradicional de gramatização. 2015. 446 f. 
Tese (Doutorado) — Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2015. Disponível em: 
https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/15665/1/TESE%20-%20Francisco%20
Eduardo%20Vieira%20da%20Silva.pdf. Acesso em: 16 dez. 2019.
TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 
1º e 2º graus. São Paulo: Cortez, 1998.
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História da gramática tradicional e da reflexão linguística16

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