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1 VARICELA-ZÓSTER AGENTE ETIOLÓGICO • O agente etiológico da doença é um vírus com DNA de dupla-fita, pertencente à família Herpesviridae. • Ele infecta exclusivamente seres humanos e permanece em estado latente até o recrudescimento diante de situações de imunodepressão. EPIDEMIOLOGIA • Cerca de 90% da população já exibe imunidade aos 15 anos de idade (doença típica da infância, rara em idade reprodutiva). Doença mais grave ao ocorre em adultos. • Incide em 7/10000 gestantes. TRANSMISSÃO • O vírus é altamente transmissível, por meio de contato direto com o líquido vesicular das lesões cutâneas e/ou secreções do trato respiratório e inoculação na conjuntiva ocular ou mucosas do nariz e da boca. INFECÇÃO MATERNA • O período de incubação da varicela é de 13 a 17 dias, e durante esse período ocorrem dois estágios distintos de viremia: entre o quarto e o sexto dias, e entre o décimo e o 14° dias. DIAGNÓSTICO CLÍNICO • O quadro clínico característico da doença engloba lesões cutâneas maculopapulares pruriginosas. • O período de transmissibilidade tem início 2 dias antes do surgimento do quadro cutâneo e persiste por 7 dias, isto é, até que as lesões cutâneas estejam cobertas com crostas. • A complicação mais comum dessa infecção em adultos é a pneumonia, e os principais fatores de risco relacionados durante a gestação incluem tabagismo, gestação de terceiro trimestre, presença de doença pulmonar obstrutiva crônica e imunossupressão do organismo materno. • O quadro clínico é caracterizado por febre, tosse seca, dispneia e nos casos mais graves, ocorre hipoxemia materna; pode ser necessário suporte ventilatório. Diante dessa complicação, a taxa de mortalidade é maior (3 a 14%) do que na população geral, a despeito da disponibilidade de terapia antiviral atualmente. • Outras complicações de infecção materna incluem: meningite, encefalite, ataxia cerebelar, glomerulonefrite, miocardite, doença ocular, insuficiência adrenal e morte. • Na maioria dos indivíduos, a imunidade adquirida é permanente; entretanto, cerca de 15% dos indivíduos infectados pode apresentar reativação da infecção latente presente nos tecidos nervosos. Esse quadro é denominado herpes-zóster e é caracterizado por lesões vesiculares dolorosas e pruriginosas distribuídas ao longo de dermátomos. • Essa situação é rara na gestação, não parece estar relacionada à exposição recente ao vírus e não há casos confirmados de transmissão vertical, o que toma desnecessária a administração de imunoglobulina para a gestante que apresenta lesões dermatológicas sugestivas de herpes-zóster. • A reinfecção pode ocorrer em algumas pessoas diante de circunstâncias como falha na manutenção da imunidade permanente, falha na ativação da resposta imunológica ou carga virai excessiva durante a reexposição. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL • Na maioria das ocasiões, o quadro clínico da varicela é característico e o exame clínico é conclusivo. Diante da suspeita clínica, o estudo sorológico é importante para as orientações que se fazem necessárias quanto ao risco fetal e para o adequado acompanhamento dos casos. TRATAMENTO • Nos casos recentes de infecção materna (até 24 a 72 horas após o início do quadro cutâneo ), a administração de aciclovir à gestante tem reduzido a morbidade e a mortalidade associadas à doença. • A dose recomendada é de 10 a 15 mg/kg de peso ou 500 mg/m2 de superfície corporal, pela via intravenosa, a cada 8 horas por 10 dias. • Essa droga apresenta boa passagem transplacentária; no entanto, não há comprovação de que impeça a infecção fetal ou a varicela congênita. • Como alternativa, pode ser administrado valaciclovir pela via oral. O uso de ambas as drogas na gestação é considerado seguro. TRANSMISSÃO VERTICAL • A transmissão transplacentária ocorre durante o período de viremia materna. • A taxa de transmissão vertical documentada por técnica de reação em cadeia da polimerase é de 8% quando a infecção materna ocorre antes de 24 semanas. INFECÇÃO FETAL SÍNDROME DA VARICELA CONGÊNITA • A infecção materna por varicela-zóster durante a gestação apresenta risco global de síndrome da varicela congênita de cerca de 0,7%, ocorrendo a maioria dos casos no segundo trimestre. • A compilação das coortes publicadas na literatura mostra risco de 0,55% para 2 infecções durante o primeiro trimestre e de 1,4% no segundo trimestre. Não foram relatados casos de acometimento fetal para infecções maternas no terceiro trimestre da gestação. • Durante a primeira metade da gestação, o risco de acometimento fetal é de 0,9%. Não há relatos de casos relacionados a quadro de herpes-zóster na gestação. • A síndrome é caracterizada por lesões cicatriciais dermatológicas com distribuição pelos dermátomos (72 a 73%), defeitos neurológicos (48 a 62%), encurtamento de extremidades (46 a 72%), hipoplasia muscular unilateral (20 a 24%), doença ocular (44 a 52%), anormalidades gastrointestinais (19 a 20%) e geniturinárias, além de atraso do desenvolvimento. OBS: Microcefalia, Coriorretinite, Microftalmia e Membros hipotróficos. • A restrição do crescimento fetal é mais frequente nessas gestações, e estima-se que a infecção pela varicela na gestação aumente a taxa global de malformações fetais em cerca de 1% acima da média populacional. Não foram observadas taxas maiores de abortamento ou óbito fetal nesses casos. VARICELA NEONATAL • Apesar de não constarem casos de síndrome da varicela congênita adquirida durame o terceiro trimestre da gestação, quando a infecção materna ocorre próximo ao parto há um risco substancial de acometimento do recém-nascido. Essa transmissão pode ocorrer pela passagem transplacentária ou por contaminação durante ou logo após o parto. • Mesmo quando há tempo hábil para produção de anticorpos protetores maternos e transferência para o produto conceptual, aproximadamente um quarto das crianças desenvolvem a varicela. • Nesses casos, a gravidade do quadro é maior quando a infecção materna ocorre até 1 semana antes ou após o parto. • Nos casos mais graves, o acometimento do SNC e visceral disseminado pode ser fatal. • Recomenda-se o isolamento dos recém- nascidos infectados devido ao risco de contaminação no berçário. DIAGNÓSTICO • Para o diagnóstico de infecção fetal, o método de escolha atual é a pesquisa viral por meio de técnicas moleculares (reação em cadeia da polimerase e hibridização in situ por fluorescência) em amostras de líquido amniótico e sangue fetal. • A positividade nesses testes, no entanto, só confirma a contaminação fetal e não implica acometimento fetal. • Para pesquisa da doença fetal propriamente dita, faz-se necessária propedêutica ultrassonográfica cuidadosa. • Os achados relatados incluem alterações de extremidades, microcefalia, hidrocefalia, polidrâmnio, calcificações teciduais e restrição do crescimento fetal. • Nessa infecção, recomenda-se período mínimo de 5 semanas entre o quadro clínico materno e a pesquisa ultrassonográfica. • Outro recurso útil na propedêutica fetal é o exame de ressonância nuclear magnética para o estudo detalhado do SNC. • A pesquisa de anticorpos no sangue fetal não apresenta eficiência diagnóstica satisfatória. PROGNÓSTICO • Os casos graves de varicela congênita apresentam taxa de mortalidade durante os primeiros meses de vida de até 30%. • O herpes-zóster é outra complicação frequente entre essas crianças (15%) e habitualmente se manifesta durante os primeiros 4 anos de vida. PREVENÇÃO • Para gestantes suscetíveis expostas ao vírus, recomenda-se a administração de imunoglobulina para varicela-zóster até 96 horas após o contato, com o intuito de reduzir as complicações maternas graves decorrentes da infecção. • Não se sabe se essa medida é capaz de prevenir a ocorrência de varicela congênita. A dose recomendadaé de 125 Ul/10 kg, até a dose máxima de 625 UI, administrados pela via intramuscular. • Mais recentemente foi desenvolvida uma fórmula que permite a administração intravenosa ( 400 mg/kg) e que pode atingir níveis séricos efetivos em menor intervalo de tempo. • Quando a infecção materna ocorre próximo ao parto, recomenda-se administrar imunoglobulina ao recém-nascido para reduzir as taxas de complicações e de mortalidade. • Alguns autores recomendam a utilização conjunta de aciclovir nesses casos. • A prevenção primária é realizada por meio de vacina específica composta por vírus vivo atenuado e com alto poder imunológico. Devido à sua composição, é recomendada contracepção por período mínimo de 1 mês após sua administração. • No entanto, nos casos de gestação inadvertida após a aplicação da vacina, as gestantes podem ser tranquilizadas, pois não há relatos de acometimento fetal. A aplicação é liberada no puerpério, pois não foi demonstrada excreção do vírus vacinal no leite materno. Referência: Obstetrícia – Zugaib – 3° edição
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