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1 CEDERJ – CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CURSO: GEOGRAFIA DISCIPLINA: GEOGRAFIA URBANA DO BRASIL CONTEUDISTA: MARCELO WERNER DA SILVA. Aula 1 O FENÔMENO URBANO NO BRASIL META Nessa aula você terá um panorama geral do que verá na disciplina. Serão apresentados os conteúdos que posteriormente serão desenvolvidos em cada aula. Desta maneira, você poderá acompanhar os tópicos que compõem a disciplina de Geografia Urbana do Brasil. OBJETIVOS Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: 1. Identificar as temáticas do curso de Geografia Urbana do Brasil 2. Identificar como a Geografia Urbana do Brasil se constituiu processualmente, isto é, que a realidade urbana atual do país foi se constituindo historicamente; 3. Identificar a natureza social dos problemas urbanos 4. Identificar as relações existentes entre as urbanizações brasileira e mundial Introdução 2 Nesta aula inicial você terá contato com um apanhado geral do que se constituirá a disciplina de Geografia Urbana do Brasil. É preciso saber, primeiramente, que a leitura atenta, a resolução dos exercícios e desafios propostos levarão ao domínio da Geografia Urbana do território brasileiro. Como, por exemplo, passamos do cenário apresentado na figura 1.1 da cidade de Ouro Preto - MG, formada no período colonial, para outro apresentado na figura 2 da grande metrópole de São Paulo? FIGURA 1.1 – Ouro Preto, Minas Gerais. Original em: http://www.freeimages.com/photo/110900 3 FIGURA 1.2 – SÃO PAULO ATUAL Original em: https://www.flickr.com/photos/stankuns/11938799326/in/photolist-7v1gBr- 8F6JgF-85w89b-7xPiVh-fy7Wfq-dJ2Ngd-fyybDP-iZo1tr-4AhdRf-6Kk1Ju- jbZt6G-52Q988-9LEzg2-4Acrdx-cHu5pU-52UoFy-4NohRV-54Tddy-gKAwhx- ipK1aT-jNY7uA-5ZjBB2-5S59dj-9U5sfR-ihjFo7-54P1e4-4Ac9VZ-4AgSPd- cFEmxq-6dVcm5-9Qn6xb-4AcXxv-iQzSPk-cgK6KY-jHbd54-52QGvt-gc4cjN- fKJ3Qo-anYowi-8NXYpq-jUxDNH-6drCAk-nFcGwG-8DT2QZ-4AgGKo-4Na4hF- gKDXx5-4AhdHC-nF1SJf-n2EDm Isso se explica temporalmente, pela evolução processual por que passou a sociedade brasileira e sua acelerada urbanização. Por outro lado observe a imagem seguinte (1.3). O que podemos constatar de sua observação? A desigualdade sócioespacial das cidades brasileiras: prédios de classe média dividindo o espaço com favelas, ou seja, que há disparidades sociais na sociedade brasileira e que estas se refletem em nossas cidades... 4 FIGURA 1.3 - Praia de Cobacabana, Rio de Janeiro/RJ. Um dos lugares onde as disparidades sociais de nossa sociedade são mais gritantes. Fonte: Por Amadeu Júnior, (CC BR-NC-AS 2.0). Original em: https://www.flickr.com/photos/amadeujr/3073831286/in/set- 72157610512275105/ Outra coisa que podemos observar estudando as cidades brasileiras: é que há cidades de diversos tamanhos, pequenas, médias e grandes. As maiores denominamos metrópoles e que nessas observamos diversos municípios praticamente interligados, formando um único “organismo” urbano. “Organismo” no sentido de que funcionam interligadamente. A esse grande crescimento das cidades chamamos de “metropolização”. 5 Por outro lado dentro das cidades ou das regiões metropolitanas podemos observar o deslocamento diferencial de acordo com o horário. Podemos observar esse fenômeno no transporte coletivo das cidades brasileiras. Pela manhã os ônibus e trens estão cheios no sentido periferia-centro e no final da tarde no sentido contrário. Muitas vezes esses deslocamentos são para os municípios do entorno das metrópoles, chamados, algumas vezes, por essas características de “cidades- dormitórios”. Inicio do verbete Cidades-dormitório são áreas residenciais com elevada proporção de pessoas que realizam suas atividades cotidianas (trabalho, estudo ou lazer) em outra cidade, geralmente na sede metropolitana, originando os fluxos de deslocamento pendular (OJIMA Et. al, 2010, p. 396) Final do verbete São questões como estas que serão desenvolvidas durante o curso e que nesta primeira aula você terá uma visão geral do conteúdo da disciplina. Espero que você aproveite! Vamos começar? 1 - O fenômeno urbano no Brasil Os estudos sobre cidades dentro da geografia têm larga tradição, tanto na geografia mundial, quanto na brasileira. Segundo Pedro de Almeida Vasconcelos (1994) a geografia, vista como um todo, trataria: 1. Do estudo da superfície terrestre; 2. Do estudo da paisagem; 3. Do estudo da individualidade dos lugares; 6 4. Do estudo da diferenciação de áreas; 5. Do estudo das relações entre o homem e o meio ou entre sociedade e natureza; 6. Do estudo do espaço; 7. Da análise espacial; 8. Do estudo da sociedade através de sua organização espacial. É importante destacar que “em qualquer desses objetos indicados, a cidade pode ser considerada como campo de análise da geografia. Isso porque as cidades sempre foram uma das formas mais tradicionais de assentamento humano através da história, aumentando muito sua importância a partir da revolução industrial que ocorreu a partir do século XVIII na Inglaterra, espalhando-se por todo o mundo a partir de então. Porém quando a geografia é implantada como disciplina científica, não é de imediato que o assunto é tratado no âmbito da geografia clássica. Segundo Maurício de Almeida Abreu (1994) é, sobretudo, a partir do conceito de posição/situação que a cidade entra no temário geográfico moderno, a partir da influência de Friedrich Ratzel, que tem nesse conceito uma das bases fundamentais de toda a sua obra, sobretudo de sua “Geografia Política”. Boxe de Verbete Posição/Situação: “’Onde’, como o ponto de referência é fundamental ao pensamento geográfico. As expressões ‘localização’, ‘posição’, ‘situação’, ‘local’, ‘distribuição’ e ‘disposição’ são as mais freqüentes na literatura geográfica. Relacionam-se, todas, com a colocação das coisas sobre a superfície terrestre. (....) ‘Situação ” refere-se à localização de um lugar, em relação a outros: o lugar visto em interação com outros lugares” (BROEK, 1976, p. 45-46). 7 Fim do boxe Quando a geografia se institucionaliza como disciplina universitária, se contrapõem as escolas alemã e francesa de geografia. Friedrich Ratzel era o principal expoente da escola alemã. Ja na escola francesa, o principal nome é Vidal de La Blache, que enfatizava o conceito de “sítio”. Ainda em uma abordagem naturalista, mas a cidade já simbolizando a vitória da “vontade humana” sobre a natureza (ABREU, 1994). Boxe de Explicação Localização absoluta (sítio) e localização relativa (posição geográfica) A localização de cada cidade implica em duas escalas espaciais: uma se refere à localização absoluta (o sítio) e a outra em localização relativa, que se refere à posição geográfica. A localização absoluta, o sítio, é o chão sobre o qual a cidade se estende. Já a localização relativa ou posição geográfica refere-se à situação locacional de uma cidade em relação à aspectos externos a ela, envolvendo o conteúdo natural e social das áreas circunvizinhas. (CORRÊA, 2004, p. 317). Fim do boxe Prevalece, até o início do século XX, uma abordagem naturalista nos estudos sobre cidades dos geógrafos franceses. Podemos citar aqui Jean Brunhes que define a cidade “... como uma ‘espécie de organismo vivo ao qual se aplicam os métodos comparativos das ciências da observação” (ABREU, 1994, p. 203). No processo de implantação da geografia no Brasil, contamos com a colaboração de geógrafos franceses que realizaram trabalhos importantes sobre o Brasil e sobre suas cidades. Pode-se destacar Pierre Deffontaines, discípulo de Jean Brunhes, que traz em sua formulação a visão naturalista da geografia francesa. É dele o 8 estudo clássicosobre “Como se constituiu no Brasil a rede das cidades”, do qual falaremos mais adiante. Porém antes disso Carlos Delgado de Carvalho já disseminava as idéias da geografia francesa no país. No entanto, a chegada dos mestres franceses para a criação da Universidade de São Paulo e da Universidade do Distrito Federal (Rio de Janeiro) acrescentou grande impulso à geografia de matriz francesa implantada no Brasil (ABREU, 1994, p. 205). No Brasil o fenômeno urbano aumentou sobremaneira após 1930, tido como o marco do processo de industrialização do país. Isso fez com que, a partir desta data, fosse aumentando rapidamente a percentagem de população urbana em contraposição à população rural. 2 –O processo histórico da urbanização brasileira” Neste curso estudaremos a urbanização da sociedade brasileira e nessa primeira aula faremos um apanhado geral dos temas que serão estudados nos aulas posteriores. Também serão recordados alguns conceitos necessários. Na aula 2, denominado “O processo de urbanização no Brasil até o início do século XX”, falaremos sobre o processo de urbanização até 1930, período em que vigorou no país uma economia agro-exportadora, que manteve grande parte da população brasileira vivendo no campo. As cidades já existiram desde o início da colonização, servindo como “pontos de controle do território”. Nesse período, as cidades atuavam como locais preferenciais da atuação política que intermediava, através da Câmara das cidades e vilas, as ordens vindas de Portugal com os chamados “homens bons”, na verdade proprietários de terra que atuavam na Câmara e determinavam a execução das ordenações portuguesas. Nesse momento as cidades (e vilas) ainda eram muito pequenas, refletindo essa prevalência do rural sobre o urbano. Porém o número de cidades e vilas ia aumentando na medida em que o processo de ocupação das terras no interior do 9 país ia avançando. Aroldo de Azevedo, em seu estudo clássico “Vilas e Cidades do Brasil Colonial” mostra o progressivo avanço da colonização e como esse ia se espraiando para o interior a partir do litoral. É necessário destacar que a progressão da urbanização acontecia e se articulava com o sistema produtivo da colônia e com o aumento da população. Na medida em que os novos produtos de exportação eram incorporados ao sistema produtivo, novas áreas também iam sendo incorporadas e também o fenômeno urbano se estendia. Isso aconteceu, por exemplo, com a descoberta de ouro em Minas Gerais, que levou à ocupação dessas áreas e à formação de inúmeros núcleos urbanos. No século XIX são tomadas iniciativas para a imigração de população de origem europeia, que tiveram como objetivo: • Substituir a mão de obra escrava, que diminuía devido a uma série de dificuldades que se antepunham ao tráfico negreiro; • Atender ao objetivo ideológico de promover um “branqueamento” da população brasileira, pois era grande a quantidade de negros devido à escravidão vigente no país até 1889; • Ocupar áreas ainda não integradas ao sistema produtivo da época. Tais iniciativas também contribuíram para a expansão da urbanização em áreas, por exemplo, do sul do país. Já no final do século XIX, o Brasil sofre importantes transformações políticas e econômicas, que vão mudar a face do país. Com o final da escravidão em 1888 muda-se também o sistema político, com o final da monarquia e o início da República que ocorre no ano seguinte, em 1889. Essas grandes transformações também se refletem no plano econômico, com a crise do Encilhamento que se caracteriza como um período de crise econômica e especulação financeira. O final do século XIX e início do século XX coincidem com o crescimento das maiores cidades brasileiras, como o Rio de Janeiro, e a 10 implantação de reformas urbanísticas que procuravam adequá-la às necessidades de uma cidade. Reformas essas espelhadas naquelas ocorridas nas principais cidades européias, tendo como modelo a reforma Haussmann aplicada em Paris no século XIX. Imagem 1.x – Assinatura da Lei Áurea no Paço Imperial Fonte: Lago, Bia Corrêa do; Corrêa do Lago, Pedro. Coleção Princesa Isabel: Fotografia do século XIX. Rio de Janeiro: Capivara, 2008. ISBN 9788589063258 Original em: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/47/Povo_pa%C3%A7o_1888.jpg Inicio do verbete Encilhamento foi a crise econômica ocorrida no Brasil entre o final do Império e a proclamação da República (1889) como decorrência das políticas econômicas implantadas pelo ministro da fazenda, Ruy Barbosa, que causaram uma grande expansão financeira, com especulação, inflação e queda do valor da moeda, prejudicando as atividades econômicas e o cidadão comum. 11 Final do verbete A década de 1930 marca então o início da modernização brasileira, com nova ênfase na industrialização e na urbanização. Com isso iniciamos a aula 3, “O processo de concentração urbana e as metrópoles brasileiras, que apontará os principais fatores “processuais” da urbanização brasileira após o início efetivo da industrialização brasileira. Com a industrialização tanto das cidades, quanto do campo, ocorre o fenômeno denominado “êxodo rural”, com a expulsão da população que vivia no campo e sua transferência para as cidades, que passam por um processo de crescimento acelerado. Com isso se dá a “verdadeira inversão quanto ao lugar de residência da população brasileira” (SANTOS, 2005, p. 31). Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2014), em 1940 apenas 31,2% da população residiam em áreas urbanas. Este percentual vai subindo sistematicamente até chegar a 84,36% no Censo Demográfico de 2010. Figura 1.4 – Gráfico mostrando o crescimento da população urbana brasileira entre os anos de 1940 e 2010 12 Fonte: IBGE, Censos Demográficos Original em: http://goo.gl/l2maF9 Em termos absolutos a população também cresce muito, passando de 41 milhões de habitantes no país em 1940 para 190 milhões no Censo Demográfico de 2010. Claro que a distribuição populacional não é igualitária entre as regiões, mas isso representa também o aumento da densidade demográfica no Brasil, que passa de 4,84 habitantes por km² em 1940 para 22,43 habitantes por km² em 2010. Esse aumento brutal na concentração da população nas cidades e mesmo o aumento a que é submetida a população total do país impactam fortemente nas cidades brasileiras. O processo de urbanização acelerado e o aumento no tamanho das cidades levam a que algumas cidades ganhem cada vez mais importância por concentrarem mais população, maior quantidade de indústrias ou de comércio, maior importância política, por serem capitais, gerando assim a formação de metrópoles. Boxe de Explicação Metrópoles Segundo Moraes (2006, p. 23-24) “...a metrópole é uma forma histórica de organização do espaço geográfico. Um tipo específico de habitatr humano. A forma pela qual expressa o maior nível de adensamento populacional existente na superfície terrestre. Trata-se de uma massa contínua de ocupação humana e de edificações contíguas, sem paralelo no globo. Uma grande aglomeração de pessoas e de espaços socialmente construídos, de magnitude ímpar na história. O fato metropolitano, é, portanto, temporal e espacialmente singular, expressando uma particularidade do mundo contemporâneo. 13 A metrópole pode ser, assim, definida como um lugar, e, nesse sentido, pode ser associada hoje a uma escala da análise geográfica (que ocupa o ápice da hierarquia urbana). Presta-se a ser – por essa via – um qualificativo espacial atual: a escala metropolitana. Sendo um espaço específico, a metrópole pode ser analisada nas diferentes dimensões recobertas pela geografia: - Posso falar de uma geografia econômica da metrópole, estudando suas funções produtivas (comercial,industrial e, cada vez mais, financeira e de serviços). A metrópole como um espaço de trocas, por excelência um lugar de atividades de circulação (mercantis e informacionais). E também um espaço básico da reprodução social, locus prioritário da economia ‘informal’; - Pode-se estudar também, ainda no campo do diálogo entre geografia e economia, a valorização do espaço na metrópole, avaliando o comportamento próprio de seu mercado fundiário ou a lógica locacional das diferentes atividades em seu interior. As formas de uso e de renda da terra específicas podem emergir de visão que aborde o movimento econômico interno do espaço metropolitano; - Posso falar de uma geografia política das metrópoles, enfocando, de um lado, a ação do Estado em sua produção, reprodução e organização, e, de outro, a atuação dos movimentos sociais em seu dinamismo com tais processos. Posso analisar a política urbana estatal (habitação, transporte, segurança, etc.) e a vida política dos atores sociais metropolitanos”. Fim do boxe Além dessa definição, pode-se destacar que a região metropolitana é um ente de gestão pública, regido por lei. Nesse sentido durante o regime militar, em 1973, é aprovado o I Plano Nacional de Desenvolvimento (I PND), que entre outras medidas 14 recomenda a criação de Regiões Metropolitanas, reconhecendo a importância crescente das cidades, não só como espaço de vivência, mas também de produção (GOUVÊA, 2005, p. 90). A partir da Constituição de 1988, a criação das regiões metropolitanas passa a ser prerrogativas dos Estados. O crescimento das principais cidades, que mais tarde se transformariam em metrópoles, pode ser apurado por alguns dados. A maior cidade em 1920 era o Rio de Janeiro, com uma população de 1.157.873 habitantes. Ela é ultrapassada por São Paulo em 1960, que nesta data registra 3.825.351 habitantes, contra os 3.307.163 habitantes da cidade do Rio de Janeiro. O crescimento a partir daí é vertiginoso, chegando São Paulo em 2010 a 11.253.503 habitantes e a cidade do Rio de Janeiro a 6.320.446 habitantes. O grande crescimento das principais cidades brasileiras e sua importância no contexto nacional pode ser avaliado pelo dado que em 2010 as metrópoles brasileiras e suas regiões metropolitanas concentravam 37,5% da população brasileira. Atividade 1 – Atende ao objetivo 1 Pesquise a data de fundação de sua cidade. Você consegue apontar, em sua cidade, aspectos que comprovem a afirmação de que as cidades brasileiras se formaram historicamente? (Diagramação: Favor deixar 10 linhas para a resposta) Resposta comentada: A partir da data de fundação de sua cidade você poderá ter uma idéia de quão antiga ela é. Mesmo que seja recente, ela pode ter sido desmembrada de um outro 15 município (como Búzios que já foi parte de Cabo Frio e Quissamã que se emancipou de Macaé) . No site IBGE CIDADES (http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/home.php), você encontra informações sobre sua cidade e sobre seu histórico. Quanto a aspectos da história da cidade, você pode apontar casas, edifícios e igrejas antigas que demonstram o passado de sua cidade. Fim da Atividade 3 –A metropolização no espaço brasileiro Essa dinâmica de formação de metrópoles ou processo de metropolitazação decorrente é abordado na aula 4, “A dinâmica das regiões metropolitanas no Brasil”. O grande crescimento urbano já assinalado na aula 3, leva ao surgimento de grandes cidades, de metrópoles e de regiões metropolitanas, reunido em torno de uma grande cidade uma série de outros municípios que passam a funcionar interligadamente, formando a “região metropolitana”. No Brasil as regiões metropolitanas contam com articulação para a execução conjunta de políticas urbanas, seja de transporte, seja pela articulação de áreas de ocupação e expansão. Veremos a legislação, sua implementação e como é a dinâmica populacional, econômica, de transportes, de efetiva interligação metropolitana. Analisaremos o caso concreto das duas maiores metrópoles, Rio de Janeiro e São Paulo, bem como as demais regiões metropolitanas, apontando tendências e similaridades entre os casos analisados. Por fim cabe destacar, que, como nos explica Sandra Lencioni, as elevadas taxas de urbanização no território brasileiro levam à uma “metropolização do espaço”, do conjunto do espaço brasileiro, imprimindo ao território “características que até então eram exclusivas da região metropolitana” (LENCIONI, 2003, p. 35). 16 O aumento das metrópoles em contraposição às demais cidades, colocando-as sob a influência das metrópoles nacionais ou regionais gera a formação de uma “rede urbana”, tema da aula 5, denominada “Configurações da rede urbana brasileira”. Uma rede urbana se constitui enquanto hierarquia entre os lugares, com as metrópoles nacionais influenciando praticamente todo o país e as metrópoles regionais influenciando suas respectivas regiões e assim sucessivamente. Até a menor cidade influencia o seu entorno imediato, mormente áreas rurais. Indica a subordinação existente entre metrópoles, cidades médias e cidades pequenas. Segundo classificação do IBGE realizada em 2007 (IBGE, 2008), a rede urbana brasileira pode ser assim caracterizada: uma grande metrópole nacional (São Paulo), duas metrópoles nacionais (Rio de Janeiro e Brasília), nove metrópoles (Manaus, Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Curitiba, Goiânia e Porto Alegre), setenta capitais regionais, centro e sessenta e nove centros sub- regionais, 556 centros de zona e as demais 4.473 cidades aparecem como centros locais. Como se pode perceber, a rede urbana se configura enquanto uma hierarquia urbana, demarcando a subordinação entre metrópoles, cidades médias e cidades pequenas. 17 Figura 5 – A hierarquia urbana brasileira Esse grande crescimento não foi acompanhado por uma explosão das metrópoles, pelo contrário, os dados apontam para a diminuição do ritmo de crescimento das grandes cidades, no que Milton Santos chamou de “involução metropolitana”. Esse fenômeno pode estar relacionado a uma desconcentração econômica, com muitas indústrias deixando São Paulo devido à suas deseconomias de aglomeração. Esse é o assunto da aula 6, “Involução metropolitana, desmetropolização e a dinâmica das cidades médias no Brasil”. Boxe Explicativo Deseconomias de aglomeração A excessiva centralização das atividades econômicas nas metrópoles causa “desvantagens” ocasionadas por essa centralização, tais como: 1. Aumento constante do valor da terra, impostos e aluguéis, afetando certas atividades que perdem capacidade de se manterem localizadas na Área Central. 18 2. Congestionamento e alto custo do sistema de transportes e comunicações, que dificulta e onera as interações entre as firmas; 4. Dificuldade de obtenção de espaço para expansão; 5. Restrições legais implicando na ausência de controle do espaço; 6. Ausência ou perda das amenidades, afetando atividades e população de alto status, mas também deve-se às pressões contra determinados tipos de uso da terra, com indústrias poluentes, por exemplo (CORRÊA, 2001, p. 125). Fim do boxe Verbete Milton Santos (1926-2001) é considerado por muitos o mais importante geógrafo brasileiro de todos os tempos. Produziu uma vasta e fecunda obra, trabalhou em diversos países (Europa, América e África), muito contribuindo para a teorização do espaço geográfico e da urbanização. Fonte: "Milton Santos (TV Brasil)" por TV Brasil - Conexão Roberto D'Avila - episódio "Uma homenagem a Milton Santos". Licenciado sob Creative Commons Attribution 3.0-br, via Wikimedia Commons – 19 Original em: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Milton_Santos_(TV_Brasil).jpg#medi aviewer/Ficheiro:Milton_Santos_(TV_Brasil).jpg Fim do verbeteMilton Santos criou vários termos (“involução metropolitana”, “desmetropolização”, “dissolução” da metrópole) para designar o mesmo fenômeno, a diminuição relativa da importância das metrópoles brasileiras. Por um lado o fenômeno está associado ao movimento de concentração-dispersão, próprio da dinâmica territorial, mas que no período histórico atual, a descentralização se impôs, ganhando maior importância e atingindo áreas mais vastas (SANTOS, 2005, p. 99-100). O fenômeno se associa, portanto, à fuga de atividades para fora das metrópoles, gerando o processo de desconcentração econômica, principalmente industrial. Essa desconcentração industrial leva também população a estas cidades ou impede a saída de população rumo aos grandes centros. Esse processo então gera novas centralidades que podem ser associadas a um fenômeno contemporâneo, que é o grande crescimento das cidades médias, que cada vez mais ocupam um lugar de destaque na rede urbana brasileira. O papel das metrópoles permanece muito importante, mas cresce também a importância destas cidades “intermediárias” ou cidades médias como um elo de ligação entre as metrópoles e as cidades pequenas. Sua importância não está ligada unicamente ao tamanho populacional, mas também às suas funções de centralidade, seu papel na hierarquia urbana, sua extensão física, suas características funcionais e econômicas (BRANCO, 2006, p. 245-246). 20 O aumento do papel das cidades médias também reflete o crescente papel das novas tecnologias, que dispensam a grande concentração de atividades produtivas nas grandes metrópoles. O fenômeno então está também ligado aos processos de desconcentração industrial em curso nas últimas décadas. Serão então estudadas as condições de uma tipologia de cidades médias, seu papel na rede urbana brasileira e as características dessas cidades nas diversas regiões brasileiras. 4 – A desigualdade socioespacial das cidades brasileira A aula 7 denominada “Desigualdades socioespaciais das cidades brasileiras” vai desenvolver o que já apontamos em relação às metrópoles brasileiras, mas que se estende às demais cidades, que é a desigualdade socioespacial. Como já apontado, as cidades brasileiras cresceram muito e de maneira desordenada. Isso as levou a concentrarem a riqueza proveniente das mais diversas atividades produtivas, assim como a pobreza proveniente do sistema econômico e do crescimento acelerado. As cidades, assim como as demais construções humanas, refletem as características do sistema econômico capitalista. O espaço podendo ser visto como um reflexo da sociedade. Desta maneira podemos observar na paisagem urbana a pobreza e riqueza do sistema econômico vigente. À isto chamamos de desigualdade socioespacial (ver figura 1.3). Roberto Lobato Corrêa nos ensina que, no espaço urbano da cidade capitalista ocorre uma série de processos sociais, entre os quais a acumulação de capital e a reprodução social. “Estes processos criam funções e formas espaciais, ou seja, criam atividades e suas materializações, cuja distribuição espacial constitui a própria organização espacial urbana” (CORRÊA, 1995, p. 36). Esses processos sociais 21 geram as formas espaciais (dentre elas a própria cidade) através de processos espaciais. Deste modo, através dos processos espaciais, surgem todas as formas espaciais responsáveis pela cidade capitalista: áreas comerciais e de serviços, industriais, bem como áreas residenciais. No caso específico das áreas residenciais tem grande importância o processo de segregação residencial, através do qual as diversas classes sociais vão se isolando através da capacidade diferencial de acesso à moradia. Há também aqueles que não possuem nenhuma capacidade financeira, constituindo o lumpemproletariado. Boxe de Verbete Lumpemproletariado - Segundo a sociologia marxista, grupo social proletário formado por pessoas que, por estarem fora do mercado formal de trabalho, vivem na mais profunda miséria, sendo destituídos de qualquer tipo de consciência de classe (IDICIONÁRIO AULETE, 2014) Fim do Boxe Deste modo a cidade vai se constituindo de forma desigual, com áreas ricas, áreas de classe média e outras de pobres e excluídos. Analisaremos como isso acontece nos cidades brasileiras, obedecendo a mesma classificação apontada anteriormente entre metrópoles, cidades médias e cidades pequenas. No Brasil um dado importante é também a desigualdade regional, com a maior parte das riquezas se concentrando no chamado Centro-Sul do país. Essa desigualdade regional também será analisada no que tange ao seu papel para a desigualdade urbana. Essa desigualdade socioespacial será aprofundada na aula 8, “Segregação e pobreza urbana” que procura mostrar como as características de um país 22 subdesenvolvido, como o Brasil, se refletem no espaço urbano. Fenômeno característico de países subdesenvolvidos, mas que também ocorre nos países desenvolvidos, a pobreza urbana adquire contornos dramáticos de exclusão social e esta tende a se reproduzir em um ciclo contínuo de pobreza e mais exclusão. Sua característica espacial é a ocorrência do processo da favelização, que afeta todas as metrópoles brasileiras, bem como as cidades médias e pequenas. Milton Santos em seu livro “Pobreza Urbana” (2009) procura discutir seu significado e causas, principalmente em relação aos países subdesenvolvidos. Em sua análise procura discutir a pobreza em suas possíveis relações com o circuito inferior da economia urbana. Boxe Explicativo Circuitos inferior e superior da economia urbana Milton Santos em sua obra “O Espaço Dividido: os dois circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos” (2004) apresenta uma formulação teórica inovadora. Essa formulação é construída considerando as especificidades do espaço urbano dos países subdesenvolvidos. Sua consideração é que a cidade dos países subdesenvolvidos não é um bloco maciço, então sua economia urbana é constituída por dois circuitos: o circuito superior, que se origina-se da modernização tecnológica e seus elementos mais representativos são os monopólios. O essencial de suas relações se encontra fora da cidade/região, muitas vezes no exterior. Já o circuito inferior apresenta atividades de pequena dimensão e interessando principalmente às populações pobres. Encontra-se bem enraizado nas cidades, mantendo relações privilegiadas com a região. Compreende: fabricações tradicionais, como o artesanato, transportes tradicionais, prestação de serviços,etc. Porém não se confunde com o chamado “mercado informal”, tendo relações com o circuito superior da economia urbana. 23 Fim do boxe Como já citado anteriormente a pobreza urbana também se relaciona com as desigualdades regionais, mas através do fenômeno das migrações entre as diversas regiões brasileiras acaba se manifestando de maneira mais grave nas grandes metrópoles do Centro-Sul brasileiro. 5 – Movimentos Sociais e a luta pelo Direito à Cidade] A aula 9 abordará “A luta pelo direito à cidade no Brasil”. As extremas desigualdades existentes nas cidades brasileiras, leva a que movimentos sociais organizados lutem por condições mais dignas de moradia e para que a ênfase das políticas públicas não seja apenas voltada para a valorização dos capitais imobiliários. Essas reivindicações tiveram seu ápice em junho de 2013, com grandes manifestações em todo o país. As reivindicações dos movimentos por moradia e pela democratização do transporte podem ser resumidas através do conceito de direito à cidade. Henri Lefebvre, formulador desse conceito, contrapõe o valor de uso da cidade (a cidade, a vida urbana, o tempo urbano) e o seu valor de troca (a compra e venda dos espaços, dos produtos, dos bens). O direito à cidade seria o direito à priorização do valor deuso, o direito à vida urbana renovada e transformada e com a inscrição no espaço de um tempo promovido á bem supremo entre os bens (LEFEBVRE, 2001, p. 117-118). No próprio texto do “Estatuto da Cidade” está consignado que “garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana, ao transporte e aos serviços 24 públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações...” (ESTATUTO DA CIDADE: GUIA PARA IMPLEMENTAÇÃO PELOS MUNICÍPIOS E CIDADÃOS, 2002), o que já confirma que o conceito de Lefebvre, de uma cidade para seus moradores e não para o capital (imobiliário) está presente nos que pensam a política da cidade. Aí então entram as estratégias de movimentos sociais de luta principalmente pela moradia, como o “Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto” e demais “grupos sociais excluídos”, denominação utilizada por Corrêa (1995) para um dos agentes modeladores do espaço urbano, ao lado dos proprietários dos meios de produção, dos proprietários fundiários, os promotores imobiliários e o próprio Estado. Esses movimentos que envolvem estratégias de ocupação de imóveis não utilizados no espaço urbano, dando-lhes uma função social, ocorre em maior grau nas grandes metrópoles, onde as distâncias e as dificuldades de transporte fazem com que seja imperiosa a busca por moradias mais próximas dos locais de trabalho. As principais áreas visadas estão nos centros das grandes cidades, que estão próximas das áreas comerciais e de serviços e dispõem de imóveis abandonados. A luta dos movimentos sociais organizados também pressiona pela implementação de políticas públicas favoráveis ao direito à cidade. Porém grupos imobiliários e empresariais pressionam para que suas demandas de valorização capitalista também sejam atendidas. O fórum desta disputa que contrapõe, como já dito, valor de uso versus valor de troca é o próprio Estado e seus órgãos legislativos. Destacaremos aqui questões relativas às legislações pertinentes ao espaço urbano, juntamente com as diversas estratégias de planejamento urbano implementadas pelos municípios brasileiros. 25 Figura 1.5 – Manifestação do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) em frente à Câmara Municipal de São Paulo, no momento em que era votado o novo Plano Diretor da Cidade de São Paulo no dia 30/06/2014. Fonte: “Vitória do MST” por Ninja Midia (CC BY-NC-AS 2.0). Original em: https://www.flickr.com/photos/midianinja/14552402265/in/photolist-nTsscn- oaNJNY-oaNKu7-oaNJiQ-nTsysC-nTseu9-oaWSck-o8UMhY-ocHSNH- oaSdRJ-oaDxtt-2La821/ Muitas dessas lutas sociais estão associadas à mudança/implementação dos mecanismos da legislação urbana. Esse é o assunto da aula 10 “Marcos legais 26 para o planejamento urbano no Brasil”, em que as questões relacionadas à legislação aplicada às cidades brasileiras serão detalhados. Na constituição de 1988 houve a aceitação de demandas de movimentos sociais e a aprovação do “Estatuto da Cidade”. Porém sua regulamentação demorou 13 anos, o que demonstra a série de desafios para sua efetiva vigência. Mesmo aprovado, muitas das suas medidas de cunho social dependem de condicionantes, como a exigência de um “Plano Diretor” para cidades com mais de 20.000 habitantes. O plano diretor se constitui em um conjunto de normas que orientam e disciplinam a ocupação do espaço urbano. Tais legislações são também conquistas dos movimentos urbanos, porém sua efetiva implementação depende da luta política, não sendo de aplicação imediata, por isso a luta dos movimentos sociais urbanos é fundamental para que avanços ocorram (vide figura 1.5). Assunto de muita importância no estudo das cidades brasileiras é a questão da “mobilidade urbana”, assunto da aula 11 (Mobilidade urbana nas cidades brasileiras) As grandes manifestações que ocorreram em todo o país em junho de 2013 tiveram como detonador a questão do transporte público, submetido, à décadas, à lógica de mercado. Surgiram propostas para democratizar o transporte e até propostas de que todo o transporte público nas grandes cidades brasileiras fosse totalmente custeado pelo poder público (movimento passe livre), por sua grande importância na reprodução da classe trabalhadora. 27 Figura 1.6 – Manifestantes no teto do Congresso Nacional em 17 de Junho de 2013 Fonte: "ABr17062013JFC2558" por Jose Cruz/ABr - Agência Brasil. Licenciado sob Creative Commons Attribution 3.0-br, via Wikimedia Commons - Original em: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/fe/ABr17062013JFC2558.jpg A aula então busca analisar a gestão da mobilidade urbana nas cidades brasileiras, desde iniciativas pioneiras de interligação do transporte público, caso de Curitiba, até outras iniciativas como a da cidade de São Paulo de um bilhete único de interligação. Apesar de iniciativas como estas o quadro do transporte público no pais deixa a desejar, ainda mais que as cidades brasileiras cresceram sem um real política pública de expansão, crescendo horizontalmente o que aumentou as distâncias e os custos de deslocamento, principalmente para a classe trabalhadora, 28 mas também para a classe média, que se vê cada vez mais atrapalhada em sua mobilidade pelos congestionamentos recorrentes. Figura 1.7– Engarrafamento do Vale do Anhagabaú – São Paulo. Fonte: "Congestionamento no Vale do Anhagabaú" por Henrique Boney - Obra do próprio. Licenciado sob Creative Commons Attribution-Share Alike 3.0, via Wikimedia Commons Original em: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/ab/Congestionamento_no_ Vale_do_Anhagaba%C3%BA.JPG Essa cidade como campo de disputas entre a lógica privada e os movimentos sociais organizados, esconde uma cidade hegemonizada pelo capital. As cidades, principalmente as metrópoles são pólos de atração de capital e participam de uma 29 rede mundial de cidades, que concentram os principais centros decisórios do capitalismo mundial. Essas questões serão discutidas na aula 12, “A inserção do Brasil na rede de cidades mundiais”. 6 – A inserção brasileira na rede mundial de cidades O capitalismo atual passa por um aumento de revalorização espacial e com essa revalorização aumenta também a importância das cidades. Grandes cidades do mundo inteiro que passaram por períodos de decadência como foi o caso de Nova Iorque, retomaram seu protagonismo e se firmaram como grandes centros da economia mundial. Muito desse protagonismo passa pela promoção das cidades, de um marketing das cidades, ou city marketing, entendido “como instrumento necessário à busca de ‘um lugar ao sol’ para as cidades, no processo da globalização. Com efeito, as cidades passam a ser cada vez mais tratadas como produtos para ser vendidos e o marketing é utilizado como fundamental instrumento para aumentar a capacidade de atração do ‘produto cidade’” (SÁNCHEZ, 1999, p. 118). Figura 1.8 – Nova Iorque, uma das maiores e mais importantes metrópoles do mundo. 30 Fonte: "New York Midtown Skyline at night - Jan 2006 edit1" por Diliff - Obra do próprio. Licenciado sob Creative Commons Attribution-Share Alike 3.0, via Wikimedia Commons – Original em: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:New_York_Midtown_Skyline_at_nigh t_- _Jan_2006_edit1.jpg#mediaviewer/File:New_York_Midtown_Skyline_at_night _-_Jan_2006_edit1.jpg Além disso, em praticamente todas as cidades brasileiras existem empresa multinacionais, ao menos como franquias, como é o caso de redes como Bob’s, Mcdonalds e de refrigerantes como Pepsi-Cola e Coca-Cola. Elas são a face visível, em nossas cidades, do processo de globalização, da mundialização da economia. BOXE EXPLICATIVO Cidades Mundiais A discussão que se desenvolve atualmente sobre as grandescidades mundiais, ou cidades globais, está centralizada nas teses de Sassen (1998), envolvendo, fundamentalmente, Nova Iorque, Londres e Tóquio. Porém outras cidades vêm sendo consideradas nesse rol, e a discussão abre-se para dois pontos: quais são efetivamente as cidades que podem ser chamadas de globais? E, sobre os efeitos polarizadores no nível das estruturas sociais e dos espaços urbanos, eles não estariam ocorrendo em outras grandes cidades, mesmo fora desse circuito global? É importante, portanto, delimitar as diferentes dimensões do urbano que estão envolvidas na polêmica. Assim, temos as cidades globais, que são os centros fundamentais nos novos circuitos do capital, e as metrópoles, ou grandes cidades em geral, que constituem as concentrações urbanas que podem ser encontradas 31 em vários países, como são exemplos, na América Latina, as cidades do México, de Buenos Aires, de São Paulo e do Rio de Janeiro. Em relação à hierarquia urbana do Brasil, a noção de metrópole vem sendo estendida para o que conhecemos como áreas metropolitanas (BARCELLOS, MAMMARELLA, 2001, p. 248). Figura 1.9 – Tóquio, a capital do Japão. Sua Região Metropolitana possui mais de 37 milhões de habitantes, sendo a área urbana mais populosa do mundo. Fonte: "Skyscrapers of Shinjuku 2009 January" por Morio - Obra do próprio. Licenciado sob Creative Commons Attribution-Share Alike 3.0, via Wikimedia Commons – Original em: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Skyscrapers_of_Shinjuku_2009_Jan uary.jpg#mediaviewer/File:Skyscrapers_of_Shinjuku_2009_January.jpg FIM DO BOXE 32 Atividade 2 – Atende ao Objetivo 2 Quais seriam as formas para alterar vários dos “problemas urbanos” apontados para as cidades brasileiras? Você sabe a importância da Câmara de Vereadores para a resolução de vários desses problemas? Você sabe se sua cidade tem um plano diretor? (Diagramação: Favor deixar 10 linhas para resposta) Resposta comentada: Muitos desses problemas tem origem no próprio sistema capitalista em que vivemos, mas vários poderiam ser minimizados politicamente através dos vereadores de sua cidade. Ocorre que estes atendem à demandas que não necessariamente são àquelas da população. Portanto é necessária a mobilização popular, para que estes legisladores criem e apliquem planos diretores que diminuam muitos desses problemas. Se sua cidade tem mais de 20 mil habitantes ela deverá ter um plano diretor. Ocorre que nem todas ainda o fizeram. Se informe sobre o andamento do plano diretor de sua cidade. FIM DA ATIVIDADE No Brasil São Paulo e Rio de Janeiro cumprem esse papel de cidades mundiais, conectando a rede urbana brasileira ao restante do mundo. Nesse tópico também inserimos a discussão da realização no país de grandes eventos políticos, principalmente na cidade do Rio de Janeiro, que além da Copa do Mundo de 2014 também sediará as Olimpíadas de 2016, gerando grandes transformações urbanas e adequação da metrópole carioca à possibilidade de uma maior inserção mundial gerada pela valorização de sua paisagem e também de seu espaço urbano. 33 Estas transformações fazem a ponte com a aula 13, “Projetos de requalificação urbana nas cidades brasileiras” em que se discute essa transformação das cidades através de sua revalorização como produto turístico através do processo de gentrificação e da valorização de aspectos da história urbana daquela localidade. A homogeneização gerada pela globalização gera a busca pela diferenciação através da memória da cidade, do resgate de seu patrimônio arquitetônico. Esse é um movimento que atinge várias cidades com a valorização das “cidades históricas” que preservaram muito de suas construções pretéritas, mas também gerando movimentos de recriação de uma memória inventada. É a mercantilização da paisagem que se faz por duas vias principais: pela revalorização de paisagens antigas e pela criação de novas paisagens (CORRÊA, s/d). Verbete Gentrificação: ação ou resultado de gentrificar; retorno à condição de nobre; processo de recuperação do valor imobiliário e de revitalização de região central da cidade após período de degradação; enobrecimento de locais anteriormente populares (IDICIONÁRIO AULETE, 2014). Fim do Verbete Assim nessa aula serão analisados os casos das cidades históricas mineiras, mas também de outras regiões brasileiras (São Luis, Recife, Salvador, etc.), bem como projetos como o da transformação radical do porto da cidade do Rio de Janeiro (Projeto Porto Maravilha) e da cidade de Curitiba, dentre outras. Tais projetos de valorização urbana se inserem em uma tendência de transformação das cidades para o turismo e para a promoção de negócios, gerando impactos, de maior ou menor grau, nas demais cidades brasileiras. Atividade 3 (atende ao objetivo 3) 34 Existe relação entre as cidades brasileiras e outras cidades do mundo? Justifique. (Diagramação: Favor deixar 5 linhas para a resposta) Resposta comentada: Sim, pois A chamada globalização da economia atua através das cidades (mundiais). Mas também em todas as cidades brasileiras há produtos ou empresas cujas sedes estão em outros países, o que demonstra que as relações não se limitam apenas às metrópoles, mas, levando em conta as redes urbanas, acabam atingido o mais diversos cantos do Brasil. Fim da atividade 7. Problemática ambiental nas cidades brasileiras No aula 14 abordaremos a “Problemática ambiental nas cidades brasileiras”. A discussão de temas ambientais é recorrente nos dias atuais, em que enfrentamos uma crise ecológica em vários aspectos da vida humana. Associado à questão ambiental está o conceito de “desenvolvimento sustentável”. Mesmo esse conceito sendo utilizado, no discurso oficial, como um meio de ocultar as contradições de classe (RODRIGUES, 2005), é patente que o capitalismo tem levado ao esgotamento de muitos recursos naturais e à uma crise ecológica que se materializa na produção de resíduos lançados na natureza e também à mudanças climáticas, por exemplo. Isso se reflete nas cidades reduzindo a qualidade de vida pela poluição (e até o tempo de vida) e pela escassez de certos recursos naturais necessárias à vida (por exemplo, a crise de abastecimento de água para a cidade de São Paulo em 2014). 35 As iniciativas para uma melhor gestão ambiental das cidades ainda são tímidas. Mesmo a separação e coleta do lixo reciclável não é feita na maior parte do país. Questões sanitárias primordiais para a saúde da população, como abastecimento regular de água potável e saneamento básico ainda não são estendidos a todas as cidades, fazendo com que os índices de mortalidade infantil sejam altos. Portanto nesse aula será abordado o tratamento dado à problemática ambiental nas cidades brasileiras, analisando a situação nas metrópoles e nas cidades médias e pequenas e as conseqüências resultantes da desigualdade regional brasileira. Figura 1.10 – Lixão à céu aberto em Taguatinga/DF Fonte: Foto por João Guilherme de Carvalho, (CC BY-NC 2.0). Original em: https://www.flickr.com/photos/jotagedf/5855212787/in/photolist- 9VpuLB-9VpLhD-5sEnyn-6RkvRh-6qaAi1-6RnUeh-6RnUe9-6RfVZX-6RkvSu- 6RfW18-6RkvRA-6KFHJJ-9DaEGj-4Ufpyu-4iUr1Y-6PDufW-7chpU-7chpS- 36 9D7Kvr-9D7KEe-9DaHcy-4JuLWH-61yWjA-9VsNEw-9VpyX6-9VsKfA-9VpocX- 9VpSD2-9Vq2ug-9VpGAP-9VpPgc-9VprHg-9Vs9aU-6rAj2B-hy9DT-hy9DV- hy9DP-hy9DS-6KfEfc-75Dams-75Daiy-75DajL-4jF6oJ-7TDUfx-5TEbS3- 9HKtgy-9HGzCV-61ynky-4T2fjK-9HGyEc/ 8 - Dinâmica recente da urbanização brasileira Na aula 15, “Dinâmica recente da urbanização brasileira”, faremos um balanço das informações apresentadas em todo o curso e serão analisadas as tendências mais recentes da urbanização brasileira, apontando caminhos para a reflexão urbana dentro da geografia. ConclusãoComo você pode perceber, apontamos os principais elementos que estudaremos em todo o curso, aula por aula. A idéia é desenvolver, através dos tópicos apontados, elementos para que a Geografia Urbana do Brasil passe a ser compreensível e sirva como instrumental para sua futura atuação como profissional da geografia. Atividade Final – Contempla todos os objetivos Com base na aula, reflita sobre a cidade em que vive, apontando de que modo os “problemas urbanos” apontados na aula, como falta de serviços públicos, favelização, pobreza urbana, falta de segurança pública, falta de saneamento, etc. se relacionam com a sua cidade e à sua vida cotidiana. (Diagramação: Favor colocar 15 linhas para resposta) Resposta comentada: 37 Se você vive em uma grande cidade, provavelmente vivencia as questões apontadas no texto, como a desigualdade socioespacial, a favelização, a violência, a falta de mobilidade urbana, problemas de saneamento, a questão da destinação do lixo urbano. Tudo potencializado pelo tamanho da cidade e suas grandes distâncias. Se você vive em uma cidade média várias das questões apontadas também estarão presentes, apenas que em uma escala menor. E se você vive em uma cidade pequena talvez muitos dos problemas apontados não façam parte de sua realidade, mas alguns já estarão presentes, visto que não vivemos em uma ilha e os problemas das grandes cidades se expandem até às cidades menores. Fim da atividade Resumo Nessa aula foram apresentados elementos para uma compreensão geral da disciplina de Geografia Urbana do Brasil. Foi mostrado como as cidades que temos hoje se formaram historicamente, atendendo a processos sociais e econômicos que levaram à grande concentração de população nas cidades brasileiras. Por um lado um processo de “metropolização” do espaço, em que as características das grandes cidades (metrópoles) foram se expandindo às cidades menores, por exemplo. Por outro o fortalecimento recente do fenômeno das cidades médias, contraponto ao crescimento exagerado das metrópoles brasileiras e aos problemas decorrentes deste crescimento. Foi mostrado como o conjunto das cidades brasileiras estabelece uma “rede urbana” interligada, que funciona como uma estrutura importantíssima para o funcionamento da sociedade brasileira. Em relação à estrutura interna das cidades brasileiras foram discutidas questões como a desigualdade socioespacial existente e a conseqüente pobreza e exclusão social que, infelizmente, caracterizam nossas cidades. A superação desta desigualdade passa pela luta por uma cidade em que não prevaleça apenas os interesses 38 capitalistas de reprodução do capital, mas também o “direito à cidade”, que a cidade seja feita para e por seus moradores. Aí entram as lutas de movimentos sociais para que os mecanismos existentes de planificação urbana sejam postos a serviço dos moradores de cada cidade. Para melhorar as condições de vida das populações urbanas é importantíssima a melhoria da mobilidade urbana, da construção de um sistema de transporte que atenda aos interesses da população e por um preço justo. Essa luta por uma cidade mais justa se contrapõe, como já dito, aos interesses capitalistas que a vêem como lócus privilegiado da reprodução capitalista. Deste modo também abordaremos a inserção das grandes cidades brasileiras na rede mundial de cidades, através das quais o capital, em nível internacional, realiza sua acumulação e valorização. As cidades procuram então se adequar aos novos tempos através de projetos de (re) qualificação urbana, que atendam aos novos interesses do capital. Contraponto a esse desenvolvimento urbano é a crise ambiental que vivemos, com questões como saneamento, processamento do lixo urbano e abastecimento de água sendo cada vez mais importantes, desafios a serem superados pelas cidades brasileiras e seus moradores. 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