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1 CEDERJ – CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CURSO: GEOGRAFIA______ DISCIPLINA: GEOGRAFIA URBANA DO BRASIL CONTEUDISTA: Marcelo Werner da Silva Aula 13 – PROJETOS DE REQUALIFICAÇÃO URBANA NAS CIDADES BRASILEIRAS Meta Compreender os projetos de requalificação urbana nas cidades brasileiras, que via de regra buscam atender às demandas do capital, dotando as cidades de infraestruturas que melhor atendam às demandas do turismo e das empresas transnacionais. No Brasil muitas das intervenções mais recentes tiveram como justificativa a realização de eventos internacionais, como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, afetando, sobretudo, a cidade do Rio de Janeiro. Por isso vamos analisar o caso do grande projeto do Porto Maravilha, que busca transformar toda a área portuária da cidade do Rio de Janeiro, tornando-a atrativa aos investimentos e a instalação de grandes empresas na área. 2 Objetivos Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: 1. Entender o processo de valorização do espaço urbano como estratégia de acumulação capitalista; 2. Entender o contexto da realização de grandes obras de requalificação urbana das cidades brasileiras; 3. Entender as transformações ocorridas na cidade do Rio de Janeiro para os grandes eventos de 2014/2016, utilizando como estudo de caso o projeto Porto Maravilha, na região portuária do Rio de Janeiro. Introdução Na aula passada vimos como há uma demanda para adequação das cidades aos fluxos internacionais, tornando-as “cidades globais”. Nesta aula detalharemos o processo de valorização das cidades para atender às demandas do capital através de projetos de requalificação urbana. Essa valorização passa pela realização de grandes obras de infraestrutura, que por consequência, valorizam os imóveis detidos pelo capital (imobiliário). Ressalte- se que a distinção entre capital comercial, industrial, agrícola, imobiliário e financeiro, dentre outros é imperfeita, pois o capital assume várias formas para aumentar sua reprodução, ou seja, para que ele aumente sempre mais. Por fim, para ver um caso prático dessa valorização aplicada às cidades brasileiras, analisaremos o caso da cidade do Rio de Janeiro, que sofreu grandes transformações para a realização da Copa do Mundo de 2014 e para os Jogos Olímpicos de 2016. 3 1. A VALORIZAÇÃO DO ESPAÇO URBANO COMO ESTRATÉGIA DE ACUMULAÇÃO CAPITALISTA Para iniciarmos nossa aula é importante entender o processo de valorização da terra urbana. Costumamos chama-lo de capital imobiliário, mas em verdade não se trata de uma mercadoria igual às demais. O solo urbano é efetivamente uma mercadoria, rara, cara, que é um pressuposto das atividades existentes na cidade. Como há uma grande concentração de atividades na cidade, essa mercadoria necessária tem um grande valor, sendo altamente custosa e portanto, rentável. “O ‘capital’ imobiliário é, portanto, um falso capital. Ele é, sem dúvida, um valor que se valoriza, mas a origem de sua valorização não é a atividade produtiva, mas a monopolização do acesso a uma condição indispensável àquela atividade” (SINGER, p. 22). Portanto a renda obtida da terra (no caso da cidade significando qualquer renda proveniente de alugueis e imóveis) é uma renda predatória, que ademais acaba gerando os fenômenos já estudados da exclusão de grande parte da população da possibilidade de terem uma moradia digna. Isso pelo alto preço cobrado por ela nas áreas mais valorizadas da cidade, ou pela sua segregação para áreas da periferia ou menos valorizadas (encostas de morros e áreas insalubres). Na obra “Geografia Crítica: a valorização do espaço”, Antônio Carlos Robert Moraes e Wanderley Messias da Costa apontam a distinção fundamental entre valor no espaço e valor do espaço. A partir de uma concepção naturalista e empirista de uma geografia tradicional, aparece o “valor do espaço”. Já a ideia de espaço econômico leva ao “valor no espaço”. Para os citados autores as duas perspectivas estão presentes e devem ser analisadas em uma perspectiva dialética: 4 Sendo o espaço (e tudo o que ele contém) uma condição universal e preexistente do trabalho, ele é, desde logo, um valor de uso, um bem de utilidade geral. A produção, desta forma, sempre se realizará sobre formas preexistentes, sejam naturais ou sociais (herdadas de trabalhos pretéritos). É por isso que o espaço é uma condição geral da produção. Daí ele possuir um valor intrínseco, não necessariamente produto do trabalho humano, uma ‘riqueza natural’. Daí, também, ele ser o receptáculo fundamental e geral do chamado ‘trabalho morto’. Sob esse ponto de vista, o desenvolvimento histórico é também uma progressiva e desigual acumulação de trabalho na superfície da terra. Essa acumulação, que desnaturaliza o espaço vai também complexizá- lo. Às desigualdades naturais da superfície da terra, sobrepõem-se as desigualdades de alocação de trabalho (MORAES, COSTA, 1987, p. 123-124). Portanto há uma condição “natural” do espaço que se dá a priori, a qual vão se somando as alocações de trabalho humano, na forma de construções, benfeitorias e infraestruturas, que também valorizam o espaço, que poderíamos chamar de “trabalho morto” ou de “rugosidades” (conceito proposto por Milton Santos). Portanto é “o valor do espaço que se manifesta em todas as formas de renda fundiária” (MORAES; COSTA, 1987, p. 126). Os autores mostram que a “...renda absoluta, expressa a propriedade privada do espaço, cobrando-se pela utilização de um espaço físico, seja para a produção, seja para a existência. É o aluguel, no caso do espaço urbano, ou o arrendamento, no caso da agricultura” (MORAES; COSTA, 1987, p. 126). Já a renda diferencial repousa nas qualidades específicas de um dado lugar, sejam naturais, sejam aquelas agregadas ao solo urbano através do trabalho. São as vantagens locacionais advindas de uma localização privilegiada (MORAES; COSTA, 1987, p. 126). Como exemplo podemos citar os maiores preços de venda e de aluguel de imóveis com vista para o Cristo Rendentor no Rio de Janeiro. David Harvey tem apontado a relação entre transformações nas cidades como estratégia de valorização do capital. Segundo ele (dentre outros autores), periodicamente o capitalismo sofre crises de superprodução, e, segundo Harvey, esse dinheiro excedente sem possibilidade de uma remuneração é canalizado para transformações e obras de valorização das cidades e portanto, do próprio 5 capital. Dentre essas transformações para a valorização do espaço urbano estão a periódica destruição e reconstrução de parcelas do tecido urbano. Esta relação, já estabelecida em aulas anteriores (ver aula 9, o direito à cidade e aula 12, A inserção do Brasil na Rede de Cidades Mundiais), aponta sempre no mesmo caminho. Vivemos em um sistema capitalista, com um Estado que defende os valores e necessidades das empresas capitalistas e a cidade passa a ser, não só local de morada de grande parte da população e sede de grande parte das atividades da sociedade humana, mas também um mecanismo de acumulação de capital. Esse também é o motivo do grande déficit habitacional existente no país, visto ser a terra urbana uma mercadoria cara. Esse fenômeno toma nomes diferentes de acordo com o(a) pesquisador(a). Alguns a chamam de “city marketing”, de “cidade-mercadoria”, de “cidade como negócio”, dentre outras designações. Todos se referindo a essa cidade dominada pelo “valor de troca”, pelo capital, conforme visto em aulas anteriores. Uma das faces desta moeda são os projetos de requalificação urbana, que muitas vezes levam à “gentrificação”, ou seja, ao encarecimento de determinada área, através da colocação de grandes empreendimentos, como museus e outros equipamentos culturais.Com isso a rentabilidade aumenta para os capitais investidos na área e a população mais pobre é “expulsa”, por não poder pagar mais os preços de alugueis, ou pela substituição dos antigos cortiços por atividades mais rentáveis ao capital. Desta forma, analisaremos a seguir o processo de transformação de grande parte da cidade do Rio de Janeiro com vistas aos grandes eventos realizados recentemente, qual seja, a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. 6 Atividade 1 (atende aos objetivos 1 e 2) Como poderíamos relacionar a valorização buscada através de projetos de requalificação urbana com os conceitos de “direito à cidade” e “gentrificação”? (deixar 6 linhas) Resposta Comentada: Esses grandes projetos de requalificação urbana buscam a valorização do espaço, transformando-o em instrumento de acumulação capitalista. Com isso ocorre a “gentrificação” dessas áreas, valorizando-a, o que significa dizer, encarecendo-a, o que acaba expulsando moradores de baixa renda. Esse processo é a antítese do direito à cidade, que seria a valorização da cidade para seus moradores e não apenas para o capital imobiliário. Fim da resposta comentada 2. AS OBRAS DE REQUALIFICAÇÃO URBANA NAS CIDADES BRASILEIRAS Apesar das confusões conceituais entre renovação, reabilitação, revitalização e requalificação urbanas, adotamos aqui o termo requalificação, pois revitalização passa a ideia de que será inserida vida em um local em que não havia, quando, na maioria dos casos, trata-se de retirar populações de baixa renda e inserir outras populações, equipamentos e infraestruturas urbanas mais adequadas à reprodução do capital. Os exemplos são muitos. Passando por Curitiba, tida como cidade-modelo e chegando, mais recentemente, ao Rio de Janeiro, com as obras para os grandes 7 eventos ocorridos na cidade. Desses projetos vamos analisar o “Porto Maravilha”, grande projeto de intervenção urbana que promete mudar completamente a antiga região portuária do Rio de Janeiro, que além da baixa densidade demográfica (de populações de baixa renda), conta com amplas áreas com construções antigas e não utilizadas do antigo porto da cidade do Rio de Janeiro. O projeto Porto Maravilha é um ótimo exemplo dessa ênfase no grande capital e não nos interesses das classes populares. Isso porque a ideia inicial não era realizar o empreendimento que afinal foi realizado. Durante mais de seis anos, as gestões do Ministério das Cidades era para que fosse realizado uma urbanização consorciada, unindo os três níveis de governo através do “Programa de Reabilitação de Áreas Centrais” da Secretária Nacional de Programas Urbanos. A ideia era construir habitações de interesse social e manter a população já residente no local (BELISÁRIO, 2016). A área era ideal para esse tipo de empreendimento, por ser 75% de terrenos públicos, a grande maioria do governo federal. Raquel Rolnik, grande referência sobre questões urbanas no Brasil, que comandou a Secretaria Nacional de Programas Urbanos do Ministério das Cidades de 2003 a 2007, conta como seria o consórcio: “A ideia seria ter uma empresa pública gerida pelos três níveis de governo que pudesse recepcionar o conjunto de terras públicas. Também começamos a desenvolver um plano de aproveitamento dos terrenos para habitação” (citado em BELISÁRIO, 2016). Paralelamente há uma negociação entre a Prefeitura do Município do Rio de Janeiro (PMRJ) e as empreiteiras, na modelagem de uma Parceria Público- Privada em Desenvolvimento Urbano, base do projeto efetivamente implementado. O poder das empreiteiras vence mais uma vez. 8 O projeto Porto Maravilha Abaixo, na figura 13.1, vemos a “Área de Especial Interesse Urbanístico” (AEIU) em que foi realizado o projeto Porto Maravilha. É uma área correspondente a 1/3 da área central da cidade do Rio de Janeiro. Na página da PMRJ sobre o Porto Maravilha, aparece a seguinte descrição do empreendimento: A Prefeitura do Rio criou a Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (Cdurp), instituída pela Lei Complementar 102/2011, para gerir e fiscalizar a revitalização. A Concessionária Porto Novo foi contratada via licitação para executar as obras e prestar serviços públicos municipais até 2026, na maior parceria público-privada do País. Dentre as obras contratadas estão a construção e renovação das redes de infraestrutura urbana (água, saneamento, drenagem, energia, iluminação pública, gás natural e telecomunicações), demolição dos 4.790 metros do Elevado da Perimetral e substituição do sistema viário atual por um novo conceito de mobilidade urbana que implanta novas vias, com destaque para as vias Expressa e Binário do Porto, 17 Km em ciclovias e grandes áreas para pedestres. Com a conclusão das intervenções, novo padrão de qualidade dos serviços urbanos começa a ser prestado, como, por exemplo, coleta seletiva de lixo e iluminação pública eficiente e econômica. A operação urbana consorciada é um recurso previsto no Estatuto das Cidades (Lei Federal nº 10257/2001) para recuperação de áreas degradadas. Com duração de 15 anos, receberá investimento de R$ 8 bilhões em obras e serviços no Porto Maravilha. Para conseguir recursos para a operação urbana, a prefeitura aumentou o potencial de construção de imóveis da Região Portuária, área que atrai a atenção de investidores do setor imobiliário para projetos comerciais e residenciais. Interessados em explorar esse potencial devem comprar Certificados de Potencial Adicional Construtivo (Cepacs), títulos usados para custear operações urbanas que recuperam áreas degradadas nas cidades. Todo o valor arrecadado com a venda dos Cepacs é obrigatoriamente investido na requalificação da região, inclusive áreas de preservação em que os imóveis não podem ter aumento de potencial. O dinheiro paga todas as obras e serviços do Porto Maravilha nos 5 milhões de m². O resultado é que o município não usa recursos do tesouro nas obras e ainda economiza nos serviços públicos. Além disso, pelo menos 3% da venda dos Cepacs são obrigatoriamente investidos na valorização do patrimônio material e imaterial da área (PORTO MARAVILHA, 2017). O texto esclarece pontos importantes, como a utilização de mecanismos presentes no Estatuto das Cidades e que a obtenção de recursos se dará através da emissão de Certificados de Potencial Adicional Construtivo (CEPACS), 9 através dos quais as empresas que desejam edificar construções com altura maior que o permitido pela lei de zoneamento, possam faze-lo. Figura 13.1 - Área de Especial Interesse Urbanístico (AEIU) da Região Portuária do Rio de Janeiro Fonte: PORTO MARAVILHA, 2017. Original em: http://portomaravilha.com.br/images/mapa-da-area-2-grande.jpg Verbete Cepac, que negócio é esse? Segundo o site do Porto Maravilha da PMRJ: - Cepac é a sigla para descrever Certificados do Potencial Adicional de Construção, títulos usados para financiar Operações Urbanas Consorciadas que recuperam áreas degradadas nas cidades. - Potencial de contrução é a quantidade de metros quadrados que se pode construir em determinado terreno, representada nos andares e na altura do prédio e metragem. A Lei que cria a Operação Urbana Porto Maravilha define um aumento do potencial de contrução, que varia em função do setor (conforme mapa). Para utilizar o Potencial Adicional de Contrução os interessados devem comprar Cepacs. 10 - O dinheiro da venda dos Cepacs paga todas as obras e serviços da Operação Urbana Porto Maravilha nos 5 milhões de m². Com isso, o município não desembolsa dinheiro para as obras e ainda economiza nos serviços públicos. - A quantidade de Cepacs de cada empreendimento varia com a localização do projeto e o tipo de utilização. Para imóveis residenciais são necessários menos Cepacs do que para não-residenciais.Em determinadas áreas, a diferença pode variar em até 50% na quantidade. Com isso, há o estímulo a uma ocupação mista e ao aumento do número de moradores. - As áreas preservadas, de morro e franja de morro não podem sofrer modificação, ou seja, não têm potencial adicional de construção. A altura dos prédios é limitada e não altera o projeto Sagas, que preserva os patrimônios arquitetônico e cultural dos bairros da Saúde, Gamboa e Santo Cristo. - Este instrumento foi criado pela Lei Federal 10.257/2001, mais conhecida como Estatuto da Cidade, com o objetivo de possibilitar o financiamento de grandes obras previstas em Operações Urbanas, sem que o município precise utilizar recursos vinculados ao orçamento municipal, tendo sido regulado pela Instrução 401/03 da CVM - Comissão de Valores Mobiliários. - Com a emissão dos Cepacs são gerados os chamados “direitos adicionais de construção” nas áreas definidas pelas Operações Urbanas. A Lei Municipal Complementar 101/2009 amplia o potencial construtivo na área. Para fazer uso desse benefício, o proprietário precisa comprar Cepacs, que são emitidos pela prefeitura. O dinheiro arrecadado é vinculado ao investimento em infraestrutura na região. É uma técnica de financiamento de renovação urbana a partir do próprio valor criado na operação, que não onera o orçamento público. - Para adquirir o CEPAC não é preciso ser proprietário de terrenos e nem mesmo ter que adquirir um imóvel na área da Operação Urbana, mas caso venha a ser titular de imóvel no local poderá aumentar a área construída ou alterar o seu potencial de utilização (PORTO MARAVILHA, 2017). 11 Figura 13.3 – Esquema de aplicação dos CEPACs Fonte: COSTA, 2015, p. 49. Na imagem, vemos como os CEPAC são vendidos para a construção que exceda o CAB (Coeficiente de Aproveitamento Básico) até o limite estipulado que é o CAM (Coeficiente de Aproveitamento Máximo). É portanto um valor pago para que se construa, na mesma área, uma altura maior, aumentando a lucratividade do empreendimento. Fim do Verbete Em relação à mobilidade urbana também são previstos investimentos, com ênfase no transporte público representado pelo VLT (Veículo Leve sobre Trilhos, o antigo bonde) e pelo BRT (Bus Rapid Transit), que está sendo construído para ligar o centro da cidade à zona oeste da cidade. Na figura abaixo aparece o trajeto dos modais previstos no projeto. 12 Figura 13.2 – Modais de transporte previstos no Projeto Porto Maravilha Fonte: PORTO MARAVILHA, 2017b. Original em: http://portomaravilha.com.br/uploads/tiny/1986b90593f905bb0812311d342f66ae.jpg As obras de mobilidade urbana, assim como demais obras, conservação e limpeza da área são responsabilidade da Concessionária “Porto Novo”, que administra essa imensa área do centro da cidade do Rio de Janeiro em uma Parceria Público-Privada. Para maiores informações sobre a concessionária basta acessar o site da companhia: http://www.portonovosa.com/pt-br/obras. É necessário destacar que muito do que foi projetado ainda não foi construído, como o total das linhas planejadas do VLT. Como em toda obra de requalificação urbana foram implantadas grandes infraestruturas culturais com a finalidade de mudar o perfil da região. Na região da praça Mauá foram implantados dois grandes museus: o Museu do Amanhã e o Museu de Arte do Rio. Além desses dois museus foram realizadas as seguintes obras de infraestrutura: • Elevado da Perimetral demolido 13 • Via Binário do Porto e Túnel Rio 450 • Via Expressa e Túnel Prefeito Marcello Alencar • Nova Orla Conde • Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT) • 70 km de vias reurbanizadas e 650.000 m² de calçadas refeitas • 700 km de redes de infraestrutura urbana reconstruídas (água, esgoto, drenagem) • 17 km de ciclovias • Plantio de 15.000 árvores (PORTO MARAVILHA, 2017a) Por outro lado a Concessionária Porto Novo, de acordo com a Operação Urbana Consorciada deve realizar os seguintes serviços: Conservação e manutenção do sistema viário, conservação e manutenção de áreas verdes e praças, manutenção e reparo de iluminação pública e calçadas, execução de serviços de limpeza urbana, coleta seletiva de lixo, manutenção da rede de drenagem e de galerias universais, manutenção da sinalização de trânsito, instalação e conservação de bicicletários, manutenção e conservação de pontos e monumentos turísticos, históricos e geográficos e atendimento ao cidadão (PORTO MARAVILHA, 2017a). A figura abaixo apresenta uma visão geral dos principais empreendimentos instalados na região. Em primeiro plano, a partir da Praça Mauá se projeto ao mar o Museu do Amanhã, obra do arquiteto espanhol Santiago Calatrava. Na Praça Mauá, a direita, está instalado o Museu de Arte do Rio (MAR). A direita, acompanhando a linha da costa, os antigos galpões do porto que foram preservados para atividades culturais. Na parte atrás desses galpões alguns dos prédios já construídos e ao fundo, o Morro da Providência, com a favela do mesmo nome, conforme visto em outras aulas, a mais antiga favela do país. 14 Figura 13.1 – Museu do Amanhã e região portuária do Rio de Janeiro/RJ Fonte: PORTO MARAVILHA, 2017c. Original em: http://portomaravilha.com.br/uploads/c0076a8d410af2fe49b82799cf3e3cfb.jpg; http://portomaravilha.com.br/fotos_videos/pagina/39 Na figura 13.2, podemos ver o processo de demolição do elevado da perimetral e na figura 13.3 como ficou a Orla Conde, colocada no lugar que ocupavam o elevado da Perimetral e a avenida Rodrigues Alves. Todo esse movimento de veículos que passava pela Perimetral e pela Av. Rodrigues Alves foram transferidos para a Via Binária (visível na figura 13.2) e para os túneis construídos em substituição, listados acima. Na figura 13.3 também se vê os galpões do porto reformados. O objetivo com a intervenção urbanística foi liberar o porto para a cidade, o que não acontecia enquanto aí ainda atracavam embarcações de carga. 15 Figura 13.2 - Obras de Demolição do Elevado da Perimetral Fonte: PORTO MARAVILHA, 2017c. Original em: http://portomaravilha.com.br/fotos_videos/pagina/24 16 Figura 13.3 - Orla Conde, Zona Portuária do Rio de Janeiro/RJ. Fonte: PORTO MARAVILHA, 2017c. Foto de Beth Santos. Original em: http://portomaravilha.com.br/uploads/79cf1f74477e2b0ea27de0fd1a44c595.jpg http://portomaravilha.com.br/fotos_videos/pagina/1 Em relação aos transportes os destaques são o VLT, que serve de vitrine á todo o projeto do Porto Maravilha. Na figura 13.4 vemos uma imagem institucional do projeto com o VLT em frente ao Museu de Arte do Rio, sendo mostrado como exemplo de modernidade. Até o nome mudou, mas o VLT nada mais é do que um bonde modernizado. Os bondes que foram praticamente erradicados do centro do Rio de Janeiro como exemplos de transporte antigo e obsoleto, não adequado aos “novos tempos”, agora voltam como símbolo de modernidade nos transportes. Já na figura 13.5 vemos outro símbolo de modernidade relacionado aos transportes, que são os teleféricos, nesse caso ligando a estação de trens e de ônibus urbanos Central do Brasil com o alto do morro da Providência. Foram construídos no Rio de Janeiro (no Morro do Alemão há outro) a partir da 17 experiência pioneira de Medellin, na Colômbia, em que foram instalados como parte de um plano de desenvolvimento urbano que e tido como modelo de sucesso na integração ao tecido urbano de favelas localizadas em áreas montanhosas da cidade. Figura 13.4 – VLT na Praça Mauá, com o Museu de Arte do Rio ao fundo. Fonte: PORTO MARAVILHA, 2017c. Foto de Bruno Poppe. Original em: http://portomaravilha.com.br/fotos_videos/pagina/40 18 Figura 13.5 – Teleférico do Morro da Providência. Fonte: PORTO MARAVILHA, 2017c. Original em: http://portomaravilha.com.br/uploads/3eabd21ce778ddd6d1bfb08a403952ec.jpgOutras iniciativas foram tomadas na preservação do patrimônio cultural. Escavações realizadas revelaram o antigo Cais do Valongo (figura 13.6), por onde chegaram ao menos 700.000 escravos negros traficados ao Brasil durante o período colonial e imperial. Essa quantidade o transforma no maior porto negreiros das Américas. Tal fato e a presença de remanescentes de quilombos na região fez com que fosse instalado um “Circuito Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança Africana”. Porém movimentos sociais negros e arqueólogos reclamam uma maior atenção aos achados arqueológicos encontrados durante as escavações realizadas na região, principalmente com os ossos do chamado “Cemitério dos Pretos Novos” (APUBLICA, 2016). A falta de cuidado com a preservação da memória negra, muito importante na região portuária do Rio de Janeiro, fez a equipe do projeto “Passados Presentes: 19 Memória da Escravidão no Brasil” realizar um roteiro que pode ser consultado a partir de um aplicativo para celular, que pode ser baixado na página do projeto. Dentre outros roteiros o que nos interessa é o “Pequena África”, que mapeia os principais pontos relacionados à cultura africana existentes na região portuária do Rio de Janeiro. O roteiro pode ver visualizado na figura 13.7. Figura 13.6 - Vista do Cais do Valongo Fonte: PORTO MARAVILHA, 2017c. Foto Bruno Bartholini. Original em: http://portomaravilha.com.br/fotos_videos/pagina/33 É importante destacar esse ponto, pois nenhuma intervenção urbana é neutra, sempre levando interesses do capital, na maioria das vezes, sendo os interesses culturais muitas vezes deixados de lado. Não podemos deixar de sempre entender a cidade, como a “acumulação desigual de tempos”, como disse Milton Santos se referindo à paisagem e ao espaço. Ou seja, ao cavarmos a região portuária do Rio de Janeiro descobrimos elementos enterrados, as vezes por outras intervenções, como a da Reforma Passos, por exemplo. 20 Box multimídia Aqui você encontra informações sobre o passado negro enterrado na região do Porto Maravilha: http://apublica.org/2016/07/o-porto-maravilha-e-negro/ Fim do Boxe Multimídia 21 Figura 13.7 – Roteiro “Pequena África”, na região portuária do Rio de Janeiro/RJ Fonte: PASSADOS PRESENTES, 2017. Original em: http://passadospresentes.com.br/site/Site/index.php/principal/index 22 Balanço do Projeto Porto Maravilha Como já vimos durante o texto, as expectativas quanto à utilização dos CEPACs para a promoção da região ficaram aquém das expectativas. Orçado para movimentar até 8 bilhões de reais, o mecanismo das CEPACs não teve a demanda esperada pelo projeto. A arquitetura financeira (e política) fez com que a Caixa Econômica Federal adquirisse a totalidade dos CEPACs emitidos por 3,5 bilhões de reais, mas se comprometendo a garantir os 8 bilhões necessários à toda a operação urbana. “A Caixa esperava, assim, que a valorização dos CEPACs no tempo fosse capaz não somente de arcar com os custos do Porto Maravilha como de devolver ao FGTS a remuneração pelo investimento” (WERNECK, 2017). A baixa procura dos papéis (em torno de 10%), somada à crise econômica, tornou necessário o aporte de dinheiro público para a recompra das CEPACs e a termos aditivos ao contrato, adiando as etapas da implementação de obras e serviços e exigindo o relançamento de mais títulos CEPACs e a compra dos mesmos pelo município, o que vai contra o princípio determinado no início, de que a Operação Urbana Consorciada do Porto Maravilha seria gerida pelo sistema de Parceria Público-Privada (PPP). Todos esses fatores fazem Mariana Werneck (2017) afirmar que “o episódio confirma o arranjo de ônus e benefícios criado para o Porto Maravilha: parceiros privados com interesses resguardados, entes públicos com os riscos e custos da operação – ficando o município, em especial, extremamente vulnerável”. Tal situação fez com que os partidos da oposição municipal lançassem a iniciativa de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para averiguar as operações, não tendo conseguido, até o momento, o número necessário de assinaturas para sua realização. 23 Atividade Final (atende aos objetivos 2 e 3) Diante do exposto sobre o projeto Porto Maravilha como poderíamos enquadrar a resistência de moradores contra a perda da identidade da área, ligada à cultura negra e os objetivos dos promotores imobiliários, de uma maior valorização da área. (deixar 5 linhas) Resposta Comentada Enquadra-se no direito à cidade, a luta para a manutenção de preservação dessa atividade, do reconhecimento das áreas de quilombo, para que não sejam expulsos pela dinâmica de valorização do espaço urbano pelo capital imobiliário. Fim da resposta comentada Conclusão A discussão da presente aula tratou dos grandes projetos de requalificação urbana que são lançados, de tempos em tempos, em muitas cidades brasileiras. Tratam de adequar às cidades às demandas do capital, que através destes processos procuram aumentar sua lucratividade em áreas “degradadas” e portanto, mais baratas, valorizando-as com o decisivo apoio estatal, que passa a adequar as áreas de insfraestrutura necessária a essa valorização. No caso do projeto de Porto Maravilha, toda a engenharia financeira dos CEPACs foi e está sendo responsável pelas obras de infraestruturas que estão sendo 24 construídas pela Concessionária Porto Novo. Se eventualmente o dinheiro não for suficiente, como vimos, aportes governamentais por parte da Prefeitura do Município do Rio de Janeiro são necessários para o andamento das obras. Claro que aqui somos tentados a pensar que tais iniciativas poderiam ter uma ênfase mais social, mas isso levaria a uma nova forma de gerenciar a cidade que utilizasse, por exemplo, a ideia de “direito à cidade”, valorizando o valor de uso dos moradores em detrimento do valor de troca dos empreendedores imobiliários. Resumo A aula tratou dos projetos de requalificação urbana que são periodicamente lançados para a “recuperação” de áreas consideradas degradadas da cidade, dando outra destinação, mais propícia à valorização do capital imobiliário. Para isso vimos como se dá essa valorização, já estudada também em aulas anteriores. O caso analisado para detalhar esses projetos foi o projeto Porto Maravilha, na cidade do Rio de Janeiro, grande projeto de intervenção para transformar essa região subaproveitada da cidade e adequá-la a grandes empreendimentos imobiliários de apartamentos e, sobretudo, de grandes prédios de escritórios. Referências Bibliográficas APUBLICA. O Porto Maravilha é Negro. 19 jun. 2016. Disponível em: <http://apublica.org/2016/07/o-porto-maravilha-e-negro/>. Acesso em 02 jun. 2017. 25 BELISÁRIO, Adriano. A outra história do Porto Maravilha. Apública, 9 ago. 2016. Disponível em: <http://apublica.org/2016/08/a-outra-historia-do-porto- maravilha/>. Acesso em 17 mai. 2017. COSTA, Alex Franulovic da Costa. A evolução urbana da região portuária e os cinco primeiros anos da operação consorciada. 2015. 84 F. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização) –Escola de Políticas Públicas e Gestão Governamental (EPPGG), Rio de Janeiro, 2015. MORAES, Antonio Carlos Robert; COSTA, Wanderley Messias da. Geografia Crítica: a valorização do espaço. São Paulo: Hucitec, 1987. PASSADOS PRESENTES: Memória da Escravidão no Brasil. Disponível em: <http://passadospresentes.com.br/site/Site/index.php/principal/index>. Acesso em 02 jun 2017. PORTO MARAVILHA. Porto Maravilha. Disponível em: <http://portomaravilha.com.br>. Acesso em 17 mai 2017a. PORTO MARAVILHA. Mobilidade Urbana. Disponível em: <http://portomaravilha.com.br/mobilidadeurbana>. Acesso em 17 mai 2017b. PORTO MARAVILHA. Fotos e Vídeos. Disponívelem: <http://portomaravilha.com.br/fotos_videos/>. Acesso em 24 mai 2017c. SINGER, Paul Israel. Uso do solo urbano na economia capitalista. In: Ermínia Maricato. (Org.). A produção capitalista da casa (e a cidade) no Brasil industrial. São Paulo: Alfa-Omega, 1979.
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