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1 Sumário INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 2 DEFINIÇÃO.................................................................................................................................... 3 EPIDEMIOLOGIA ........................................................................................................................... 3 ETIOLOGIA .................................................................................................................................... 4 QUADRO CLÍNICO ......................................................................................................................... 4 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS........................................................................................................... 8 DIAGNÓSTICO ............................................................................................................................ 12 TRATAMENTO ............................................................................................................................ 13 COMPLICAÇÕES BACTERIANAS .................................................................................................. 15 Supurativas ............................................................................................................................. 15 Não supurativas ..................................................................................................................... 16 SÍNDROME PFAPA ...................................................................................................................... 17 REFERÊNCIAS .............................................................................................................................. 19 2 INTRODUÇÃO Dentre as infecções do trato aéreo superior as faringites e tonsilites são as mais comuns, e estão entre os principais problemas de saúde das populações dos países desenvolvidos (DUARTE et al., 2007). Cerca de 30 a 40% das faringoamigdalites agudas são de etiologia estreptocócica (VAN ELDERE, 2000; SANTOS & BEREZIN, 2005) e a importância desse fato deve-se à possibilidade de complicações não-supurativas tardias causadas por este agente patogênico, como por exemplo, a glomerulonefrite difusa aguda e a febre reumática, que representam 90% das indicações de cirurgia para troca de valvas cardíacas em crianças no Brasil (ATIK et al., 1999). Além disso, particularmente na população infantil, as tonsilites agudas representam uma grande fonte de transtornos sociais como perda de aulas, além da necessidade do uso de antimicrobianos repetidamente, e do potencial de complicações supurativas (WECKX & TEIXEIRA, 1997). As causas de faringite podem ser infecciosas e incluem vírus respiratórios como o rinovírus e o adenovírus, além do coronavírus, influenza, parainfluenza e vírus sincicial respiratório, outros vírus importantes incluem o Ebstein-Barr, Coxsackie, HIV primário e Herpes simples. Dentre as etiologias bacterianas, as principais são os estreptococos beta-hemolíticos do grupo A, mas podem ser citados ainda o Arcanobacterium (Corynebacterium) haemolyticum, Corynebacterium diphteriae, Neisseria gonorrhoeae, Chlamyda pneumoniae, Tularemia, Mycoplasma pneumoniae e Fusobacterium necrophorum. As causas não infecciosas incluem alergia e fatores ambientais, principalmente. Os fatores de risco para faringite variam com a causa subjacente. Fatores de risco para causas não infecciosas de faringite incluem principalmente tabagismo (ou exposição à fumaça de segunda mão) e uma história de rinite alérgica. Variabilidade sazonal também é comum em causas alérgicas e muitas causas infecciosas, tais como vírus respiratórios e os estreptococos do grupo A beta-hemolítico, que são mais comuns no inverno e no início da primavera. Já que estas infecções são comumente transmissíveis, contato próximo com alguém que tem uma dor de garganta ou o frio também aumenta o risco para faringite. Outras causas, como a Neisseria gonorrhoeae e o HIV têm fatores de risco comportamentais bem descritos (por exemplo, atividade sexual). 3 DEFINIÇÃO A faringite é a inflamação da mucosa faríngea (figura 1). Comumente, está associada à inflamação das tonsilas palatinas, sendo denominada farin-gotonsilite. Já quando a inflamação das tonsilas é isolada, denomina-se tonsilite. Figura 1. Representação da anatomia da faringe sob corte sagital. Fonte: Netter, Atlas de Anatomia Humana, 2014. EPIDEMIOLOGIA A faringotonsilite é mais prevalente entre escolares e adolescentes, principalmente na faixa etária de 5 a 11 anos, acometendo-os 3 a 5 vezes por ano. Já em crianças mais novas (com menos de 3 anos), a faringotonsilite é incomum, mas pode ocorrer, principalmente se elas tiverem contato com outras crianças da faixa etária escolar. As faringites virais são mais comuns, mas as bacterianas são responsáveis por quadros mais exacerbados. A faringite estreptocócica é a causa mais comum de faringite bacteriana na faixa etária de 5 a 15 anos, correspondendo a 15-30% de todos os casos de faringite. Esse percentual aumenta ainda mais durante o inverno e o início da primavera, chegando a 35-40%, porque nesse período há o pico de incidência de faringite estreptocócica. 4 ETIOLOGIA Faringites virais As infecções por vírus são mais comuns e autolimitadas. De acordo com a época do ano, há prevalências diferentes dos vírus que causam as faringites. Dessa forma, no inverno, há predomínio de vírus sazonais, como: Rinovírus, Coronavírus, Vírus Sincicial Respiratório (VSR) e Parainfluenza. Já na primavera e no verão, as infecções são, em sua maioria, por enterovírus. De uma forma geral, as faringites virais possuem quadro clínico mais discreto. Excetua- se a isso, as infecções causadas por três vírus específicos: Coxsackie A, Adenovírus e Epstein-Barr Vírus, que possuem sinais e sintomas mais exacerbados. Faringites bacterianas O principal agente bacteriano responsável por faringites é o Streptococcus pyogenes (também denominado Streptococcus ẞ-hemolítico do grupo A). Ele está presente na orofaringe de 10 a 20% da população, colonizando-a, sem causar sintomas. Mas nos pacientes em que esta bactéria gera uma infecção, há grande preocupação, uma vez que estre possíveis repercussões estão escarlatina, febre reumática e glomerulonefrite pós-estreptocócica (GNPE). Complicações. Entretanto, há também outras bactérias que levam a faringites: Haemophilus influenzae B, Mycoplasma pneumoniae, Corynebacterium diphtheriae e Neisseria gonorrhoeae. Esta última prevalece entre adolescentes sexualmente ativos ou crianças vítimas de abuso sexual (sendo necessária investigação e notificação). QUADRO CLÍNICO Os sinais e sintomas da faringite podem ser inespecíficos ou sugestivos de infecção viral ou infecção bacteriana. Entre os achados inespecíficos se encontram: 5 • Febre • Dor de garganta Os achados sugestivos de infecção viral são, no geral, sintomas típicos de resfriado comum (acometendo vias aéreas superiores), como: • Tosse; • Rinorreia; • Conjuntivite; • Rouquidão; • Diarreia (enterovírus); • Vesículas em orofaringe (Coxsackie A). Já os achados sugestivos de bactérias são: • Vômitos; • Petéquias em palato ou manchas de Forchheimer (figura 2); • Exsudato faríngeo ou tonsilar (figura 3); • Rash escarlatiniforme (figura 4); • Linfonodos cervicais dolorosos. 6 Alguns vírus causam sinais e sintomas mais acentuados, entre eles se encontram o Coxsackie A, Adenovírus e Epstein-Barr Vírus. O Coxsackie A é um enterovírus e pode se apresentar de diferentes formas clínicas: Herpangina A herpangina se caracteriza por ser uma faringotonsilite que cursa com lesões vesiculares e ulcerativas de1 a 2 mm em cavidade oral (figura 5), associado a febre, dor de garganta e dor abdominal. 7 Síndrome mão-pé-boca Síndrome clínica caracterizadas pela presença de vesículas orais e lesões pápulo- vesiculares que acometem principalmente palmas das mãos (figura 6), planta dos pés (figura 7) e região perioral (figura 8). Outras regiões como nádegas, dorsos das mãos e dos pés também podem apresentar as lesões. Febre faringoconjuntival O Adenovírus é responsável por causar a síndrome denominada febre faringoconjuntival, caracterizada pela presença de febre (por cerca de 5 dias), intensa 8 dor de garganta com exsudato faríngeo, associada a conjuntivite (sendo comum encontrar também exsudato em olhos). Mononucleose O Epstein-Barr Vírus (EBV) é o agente etiológico responsável pela mononucleose, uma faringotonsilite exsudativa, associada a febre prolongada (durando mais de 1 semana), linfonodomegalia cervical e esplenomegalia. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A queixa principal é desconforto ou dor na garganta, principalmente ao engolir, febre é frequente principalmente em pacientes com faringite estreptocóccica, mas pode ocorrer em outras etiologias. Os pacientes podem ainda se queixar de mal-estar e cefaleia, além de edema em região cervical por aumento de linfonodos e dor em região cervical anterior. As infecções virais têm quadro que muitas vezes se sobrepõe com quadros bacterianos, mas sintomas respiratórios como congestão nasal, coriza, rouquidão e sinais de rinosinusite são mais frequentes nestes pacientes. Alguns vírus podem ter sinais característicos adicionais e sintomas, em particular os vírus Ebstein-Barr (linfadenopatia generalizada e esplenomegalia), adenovírus (conjuntivite e linfadenopatia pré-auricular), e Herpes simples (gengivoestomatite). A faringite bacteriana é mais comumente causada pelo Streptococcus pyogenes e é responsável por 5% a 15% dos casos em adultos e 20% a 30% em crianças. Afeta principalmente as crianças de 5 a 15 anos de idade (idade de pico, 7-8 anos), e a prevalência é maior no inverno e início da primavera em climas temperados. O Streptoccos pyogens deve ser o principal agente avaliado em pacientes com faringite, por sua frequência e complicações não supurativas, como a febre reumática aguda e a glomerulonefrite pós-estreptocócica aguda e supurativas (por exemplo, abscesso periamigdaliano e retrofaríngeo, linfadenite cervical, sinusite, otite média). O início imediato da terapia antibiótica para faringite é associado com a redução do tempo de sintomas, interrupção da transmissão interpessoal, prevenção da IRA e complicações supurativas. Outros patógenos incluem estreptococos do grupo C e do grupo G. 9 Embora a faringite possa ser causada por uma ampla variedade de agentes patogênicos, já que estes são muitos difíceis de diagnosticar, ou os agentes etiológicos não necessitam de tratamento, ou são autolimitados, sem sequelas significativas. Por isso, não são necessários testes de laboratório adicional ou tratamento empírico. No entanto, certos agentes, tais como HIV e o Corynebacterium diphteriae, devem ser considerados nos pacientes específicos com os fatores de risco. A infecção primária pelo HIV pode não ter sinais ou sintomas clínicos antes da soroconversão, a maioria desenvolve uma síndrome retroviral aguda. Os sintomas geralmente começam 1-5 semanas depois que o vírus é contraído e persistem durante duas semanas, em média, embora possam continuar por oito semanas ou mais. Febre e fadiga são os sintomas mais comuns; e faringite é relatada em mais de 70% dos pacientes. A síndrome retroviral aguda pode ser confundida com mononucleose infecciosa, embora a primeira seja mais susceptível de ser associada com faringite não exsudativa. A manutenção de um elevado índice de suspeição para o HIV, especialmente em pacientes com fatores de risco como a atividade sexual de alto risco ou uso de drogas intravenosas, é particularmente importante durante a fase aguda porque a soroconversão pode não ter ocorrido e a sorologia ser negativa, neste caso o diagnóstico pode ser feito apenas com a detecção do RNA vírus do HIV ou pela pesquisa do antígeno p24. A difteria, por sua vez, é uma doença infecciosa que pode causar risco de vida, causada por C. diphtheriae, a doença é rara hoje devido à vacinação universal. A difteria como doença secundária à C. ulcerans tem sido relatada em vários países desenvolvidos, incluindo partes dos Estados Unidos, mas é rara em humanos. A difteria cursa com um exsudato grosso, cinza na faringe. Esta pseudomembrana pode ser limitada às amígdalas, ou, se grave, pode estender-se para a faringe, a laringe e a traqueia resultando em edema importante de pescoço e de obstrução das vias aéreas.A Imunidade à C. diphtheriae diminui com a idade, mais de 90% das crianças em idade escolar têm imunidade em comparação com 30% dos adultos com idades entre 60-69 anos. A difteria deve ser suspeitada com base em motivos clínicos, especialmente se o paciente tem fatores de risco epidemiológicos, tais como vacinação incompleta e viajar para, ou a exposição a indivíduos de, uma região endêmica. Na avaliação dos pacientes com faringite, deve-se principalmente verificar a possibilidade de infecção pelo streptococo beta hemolítico do grupo A. As características desta etiologia são as seguintes: -Início súbito de dor de garganta; 10 -Idade 5-15 anos; -Febre; -Dor de cabeça; -Petéquias em palato; -Náuseas, vômitos, dor abdominal; -Exsudato tonsilar; -Adenite cervical anterior. A faringite estreptocóccica ocorre principalmente no inverno e no início da primavera. A erupção escarlatiniforme pode ser associada às características fortemente sugestivas de faringite viral, a saber: -Conjuntivite; -Coriza; -Tosse; -Diarreia; -Rouquidão; -Exantema viral; -Estomatite ulcerativa leve. Características sugestivas de uma doença grave ou sequelas de faringite: -Disfagia; -Estridor; -Babação; -Disfonia; -Edema cervical significativo; -Desconforto respiratório; -Faringe pseudomembrana; -Instabilidade hemodinâmica; 11 -Risco comportamental para HIV (por exemplo, uso de drogas, sexo anal); -Múltiplos parceiros sexuais; -Viajantes; -Falta de imunização para difteria . Outros organismos causadores de faringite dignos de comentários incluem o Fusobacterium necrophorum, que é o patógeno causador mais comum da doença Lemierre, uma infecção do espaço parafaríngeo que leva à tromboflebite séptica da veia jugular interna com bacteremia e nódulos pulmonares metastáticos. A doença de Lemierre pode ser complicada por septicemia; complicações intracranianas operatórias, abscesso e erosão da artéria carótida, o que pode ser fatal. A doença de Lemierre é frequentemente suspeita com base em dados clínicos em um paciente toxemiado; no entanto, vários relatórios europeus recentes também sugerem um possível papel causal de F. necrophorum em faringites complicadas em pacientes obstétricos. A doença de Lemierre também pode ser causada por Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA-CA) da comunidade. Como a terapia de primeira linha para F. necrophorum (ou seja, ampicilina-sulbactam) não trata a infecção por agentes meticilino-resistentes, a antibioticoterapia empírica para estes pacientes deve considerar a adição de medicações para este tipo de infecção. Embora a maioria dos casos de faringite resultem de infecção, muitos processos não infecciosos podem levar à irritação faríngea. Essas causas são geralmente identificadas por uma história cuidadosa e exame físico. Uma história de tabagismo e ar umidificado pode associar-se com faringite não infecciosa, assim como trauma faríngeo, lesões inalatórias e ingestão de substâncias cáusticas, tais como produtos químicos ou fumaça, ou de traumapenetrante direto, e estes doentes podem apresentar-se com estado geral comprometido e com achados adicionais de pneumonite ou comprometimento das vias aéreas. Disfagia e sensação de corpo estranho deve levar em consideração estes diagnósticos. A Infectious Diseases Society of America's (IDSA) sugere que o uso de um sistema de pontuação clínica pode reduzir testes e tratamento desnecessário por identificação de pacientes com risco muito baixo para esta infecção. Centor e colegas desenvolveram 12 um sistema de pontuação para avaliação de adultos com suspeita de faringite. Em 2004, McIsaac e colaboradores modificaram estes critérios para incluir idade, o que expandiu a aplicabilidade do sistema para a infância, assim como para os adultos. Há fortes evidências de que os adultos com 0-1 critério são considerados de suficientemente baixo risco para a faringite estreptocóccia e não requerem avaliação adicional ou tratamento. A IDSA e o American College of Physicians concordam que adultos com 2- 3 critérios devem ser avaliados para faringite estreptocóccica com um teste para antígeno de rápida detecção ou cultura de garganta. No entanto, as diretrizes para gestão de pacientes com 4 critérios diferem entre as sociedades profissionais. Embora a ACP recomende considerar o tratamento empírico em adultos com 4 critérios, isto não é recomendado pela IDSA ou pela American Heart Association (AHA). Os critérios de Centor são citados na tabela abaixo. DIAGNÓSTICO Devido à superposição entre sintomas sugestivos de vírus e de bactérias, o diagnóstico clínico é insuficiente. Dessa forma, mesmo com achados sugestivos de S. pyogenes, é necessária a cultura de orofaringe, que apresenta sensibilidade entre 90 e 95%, mas seu resultado demora cerca de 3 dias. É interessante solicitar o antibiograma associado, para verificar se há resistência da bactéria a algum antibiótico. Como alternativa à cultura, o Strep test pode ser realizado, já que o resultado é imediato e não há grande comprometimento da sensibilidade (80 a 90%). Além disso, a especificidade é de 95% e o valor preditivo negativo (VPN) também é alto, ou seja, 13 sendo o resultado do Strep test negativo, há alta probabilidade de a infecção realmente não ser estreptocócica. A cultura da garganta é o padrão-ouro para a detecção da presença de estreptococo no trato respiratório superior confirmando o diagnóstico de faringite aguda. A acurácia diagnóstica é reduzida quando o espécime não é obtido das tonsilas. A sensibilidade de uma única cultura de garganta é de 90% a 95% e a especificidade é > 95%. Apesar de um atraso de até 48 horas para confirmar o diagnóstico, o início do tratamento até nove dias após o início dos sintomas ainda é suficiente para terapia antibótica, evitar febre reumática e outras complicações da faringite estreptocóccica. TRATAMENTO Tratamento da faringite viral Como a infecção viral é autolimitada, o seu tratamento é somente de suporte, para controle dos sintomas. Assim, pode ser prescrito: • Ibuprofeno gotas (100 mg/mL), 1 gota/Kg (sendo o máximo de 20 gotas/dose), via oral, de 6/6 horas; • Extrato de própolis em spray, aplicar 2 jatos de 6/6 horas na orofaringe; • Hexomedine spray, aplicar 3 jatos de 4/4horas na orofaringe, preferencialmente antes das refeições (não deve ser prescrito para menores de 3 anos). Tratamento da faringite bacteriana Neste caso, é imprescindível a prescrição de antibiótico. Como os agentes mais comuns respondem bem a beta-lactâmicos, as principais opções são: • Amoxicilina, 20 a 40 mg/Kg/dia, divididos de 8/8 horas, via oral, por 10 dias; • Penicilina benzatina: ◊ Crianças ≤ 27 Kg – 25.000 unidades/Kg, intramuscular, dose única; ◊ Crianças > 27 Kg – 1.200.000 unidades, intramuscular, dose única. 14 Em caso de alergia a betalactâmicos, as melhores opções são: • Clindamicina, 10 a 40 mg/Kg/dia, divididos de 6/6 horas, via oral, por 10 dias; • Eritromicina, 30 a 50 mg/Kg/dia, divididos de 8/8 horas, via oral, por 10 dias; • Claritromicina, 15 mg/Kg/dia, divididos de 12/12 horas, via oral, por 10 dias. Como leva certo tempo para que o antibiótico resulte em melhora clínica, as medidas de suporte devem estar inclusas (ibuprofeno, spray de propólis e hexomedine). Tonsilectomia A tonsilectomia é indicada, de forma geral, em infecções graves (dor de garganta e febre acima de 38,3oC, associada a exsudato tonsilar ou streptest positivo ou cultura positiva) e recorrentes de garganta, sendo levado em conta os seguintes critérios de recorrência: • ≥ 7 episódios graves em 1 ano; • ≥ 5 episódios graves por ano por 2 anos consecutivos; • ≥ 3 episódios graves por 3 anos consecutivos. Ademais, também têm indicação: pacientes com síndrome da apneia/hipopneia obstrutiva do sono (SAHOS) com comprometimento de qualidade de vida, baixo rendimento escolar, retardo do crescimento e desenvolvimento, enurese noturna ou problemas de comportamento. Adenoidectomia Comumente, quando se realiza a tonsilectomia, também se faz a ressecção da adenoide, mas há indicações específicas para a sua retirada. A indicação absoluta é: obstrução nasal grave com respiração nasal prejudicada, voz anasalada e hiposmia/anosmia, já que como pode ser observado na figura 1, a adenoide (ou tonsila faríngea) se localiza na região posterior da faringe nasal. Entre as indicações relativas se encontram: otite média aguda recorrente, otite média crônica com efusão com falha do tratamento com timpanostomia e sinusite crônica refratária. 15 A principal complicação destas ressecções tonsilares é o sangramento,que pode durar até 2 ou 3 semanas depois da cirurgia. COMPLICAÇÕES BACTERIANAS Supurativas Abscesso peritonsilar O abscesso peritonsilar consiste na infecção do tecido entre a cápsula da tonsila palatina e os músculos faríngeos, tendo etiologia polimicrobiana (com predomínio de Streptococcus e Fusobacterium). Acomete principalmente adolescentes e se caracteriza por sintomas prolongados e progressivos: dor de garganta, febre, disfagia, sialorreia e trismo. Ao exame físico, nota- se o abaulamento peritonsilar com desvio contralateral da úvula (figura 11) e pode haver massa cervical palpável ipsilateral. O diagnóstico é clínico e o tratamento consiste na drenagem do abscesso e na administração dos mesmos antibióticos para faringotonsilite. Abscesso retrofaríngeo 16 O abscesso retrofaríngeo é uma infecção profunda do pescoço, no espaço retrofaríngeo, localizado entre a base do crânio e o mediastino posterior). Neste espaço, há vários linfonodos que drenam faringe, orelha média, tuba auditiva, adenoide e seios paranasais. A infecção exacerbada deles gera o abscesso, que também é polimicrobiano, mas acomete preferencialmente meninos com menos 5 anos. O paciente geralmente cursa com febre, dor no pescoço, sinais de meningismo, odinofagia, massa cervical, disfonia, trismo, estridor à respiração e mal-estar geral. Devido ao risco de obstrução de via aérea e de mediastinite, o tratamento deve ser realizado com antibiótico endovenoso, com mesmo espectro dos já supracitados. Em caso de falha, é necessária a solicitação de uma tomografia computadorizada de cervical e, posteriormente, drenagem. Não supurativas Febre reumática A febre reumática (FR) é o resultadode uma resposta auto-imune à faringite causada pela infecção com o Streptococcus ẞ-hemolítico do grupo A (SBGA). A fisiopatologia desta doença envolve o mimetismo molecular entre a cepa de Streptococcus e as células do hospedeiro, levando as células de defesa a reagirem contra tecidos do hospedeiro: coração, cérebro, articulações e pele. Dessa forma, de acordo com o sítio atingido, o paciente pode desenvolver disfunções de valvas cardíacas, coreia de Sydenham, artrite, eritema marginado e nódulos subcutâneos. Sendoestes os sintomas correspondentes aos critérios maiores de Jones (tabela1), utilizados para o diagnóstico da FR, que é atestado havendo 2 critérios maiores ou 1 maior e 2 menores. 17 Vale salientar que a FR pode resultar de um único episódio grave ou de múltiplos episódios de faringite estreptocócica. Dessa forma, é fundamental a antibioticoterapia precoce, já que a FR é prevenível com o uso de antibiótico em até 9 dias do início da infecção. Glomerulonefrite pós-estreptocócica A glomerulonefrite pós-estreptocócica (GNPE) é o acometimento renal, também auto- imune, que ocorre comumente após faringite ou infecção de pele estreptocócicas. A fisiopatologia envolve o depósito de imunocomplexos na membrana basal glomerular e, após a ativação do complemento, a lesão desta membrana. Isso resulta em síndrome nefrítica: hematúria, oligúria, edema, hipertensão e insuficiência renal. Contrariamente à FR, a GNPE não é prevenível pela antibioticoterapia. Dessa forma, se a cepa do Streptococcus for nefritogênica, a criança pode desenvolver a GNPE, mesmo com o uso precoce de antibióticos. SÍNDROME PFAPA A síndrome PFAPA é uma sigla do termo em inglês Syndrome of Periodic Fever, Aphthous Stomatitis, Pharyngitis, and Adenitis. Logo é uma síndrome caracterizada por febre periódica, estomatite aftosa, faringite e adenite cervical. 18 É uma síndrome auto-inflamatória, ou seja, é uma disfunção em que independente da presença de agentes infecciosos, uma resposta inflamatória é desencadeada. É a síndrome auto-inflamatória mais comum da infância e predomina entre crianças menores de 5 anos e costuma ter resolução espontânea entre os 10 e 12 anos. Sua etiologia ainda é desconhecida. O quadro clínico não envolve sintomas de vias aéreas superiores e a criança cursa com episódios súbitos por 3 a 7 dias, de: • Febre elevada; • Faringite com úlceras aftosas; • Linfadenopatia cervical. Apesar dessa duração curta, há constantes recorrências no intervalo de 2 a 12 semanas. Para constatar o diagnóstico de PFAPA, é necessário observar os critérios supracitados e, portanto, acompanhar o quadro clínico ao longo do tempo, além de excluir outras causas. Alguns fatores que falam a favor da síndrome PFAPA são: a criança apresenta crescimento e desenvolvimento neuropsicomotor normais (ao contrário de infecções); Períodos assintomáticos entre os quadros; Leucocitose com neutrofilia moderada; Elevação de VHS e PCR; Culturas de orofaringe sempre negativas. O tratamento imediato consiste no uso de corticosteroides, sendo indicada a Prednisona 0,5 a 1 mg/Kg/dia, 1 vez ao dia, via oral por 3 a 5 dias. Já o tratamento definitivo é a tonsilectomia, que oferece a solução a longo prazo, mas é indicado somente quando os sintomas são graves a ponto de haver comprometimento da qualidade de vida ou quando há má resposta ao tratamento com corticoide. 19 REFERÊNCIAS ATIK, F. A, DIAS, A. R, POMERANTZEFF, P. M, BARBERO-MARCIAL, M., STOLF, N. A., JATENE, A. D. Immediate and long term evolution of valve replacement in children less than 12 years old. Arq Bras Cardiol. v. 73, n. 5, p. 419- 428, 1999. DUARTE, H.N., SATO, F.R.L., MORAES, M. Pericoronarite e infecções das vias aéreas superiores: revisão. Rev. Clín. Pesq. Odontol. v. 3, n. 2, p. 125-132, 2007. Pronto-socorro / Coordenadores Claudio Schvartsman, Amélia Gorete Reis, Sylvia Costa Lima Farhat. 3a edição. Barueri, São Paulo : Manole, 2018. (Coleção pediatria do Instituto da Criança do HCFMUSP; 7 / coordenação Benita G. Soares Schvartsman, Paulo Taufi Maluf Jr e Magda Carneiro-Sampaio). Sociedade Brasileira de Cardiologia; Sociedade Brasileira de Pediatria; Sociedade Brasileira de Reumatologia. Diretrizes Brasileiras para o Diagnóstico, Tratamento e Prevenção da Febre Reumática. Guia de Bolso. 2014. Sociedade Brasileira de Pediatria. Exame da Orofaringe em situações específicas: Faringotonsilites - Nota de Alerta. Abril de 2020. VAN ELDERE, J. The role of bacteria as a local defence mechanism in the ear, nose and throat. Acta Otol Belg., v. 54, p. 243-247, 2000. WECKX, L. L. M., TEIXEIRA, M. S. Amigdalites: aspectos imunológicos, microbiológicos e terapêuticos. JBM, v. 73, n. 5 e 6, p. 118-123, 1997. Weld, ER. Group A Streptococcal tonsillopharyngitis in children and adolescentes: Clinical features and diagnosis. UpToDate, Março de 2020.
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