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SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS PROPOSTAS, DISCUSSÕES E REFLEXÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS VOLUME 2 Francisco Ângelo Coutinho Fábio Augusto Rodrigues e Silva Gabriel Menezes Viana Organizadores 1 Francisco Ângelo Coutinho Fábio Augusto Rodrigues e Silva Gabriel Menezes Viana Organizadores Sequências didáticas Propostas, discussões e reflexões teórico-metodológicas Volume 2 Editora Na Raiz São Paulo 2020 2 Editora Na Raiz Editor-Chefe: Prof. Dr. Valdir Lamim-Guedes Conselho Editorial Prof. Dr. Alexandre Marcelo Bueno (Universidade Presbiteriana Mackenzie) | Profa. Dra. Annie Gisele Fernandes (USP) | Prof. Dr. António Manuel Ferreira (Universidade de Aveiro, Portugal) | Prof. Dr. Carlos Junior Gontijo Rosa (USP) | Profa. Dra. Deborah Santos Prado (Centro Universitário Senac) | Prof. Dr. Fábio Augusto Rodrigues e Silva (UFOP) | Prof. Dr. Felipe W. Amorim (Unesp) | Profa. Dra. Flavia Maria Corradin (USP) | Prof. Dr. Francisco Secaf Alves Silveira (Universidade Anhembi Morumbi) | Prof. Dr. Horácio Costa (USP) | Prof. Dr. Javier Collado Ruano (Universidad Nacional de Educación, Equador) | Prof. Dr. José Augusto Cardoso Bernardes (Universidade de Coimbra, Portugal) | Prof. Dr. Marcos Paulo Gomes Mol (Fundação Ezequiel Dias) | Prof. Dr. Pedro Roberto Jacobi (USP) | Prof. Dr. Renato Arnaldo Tagnin (Faculdades Oswaldo Cruz) | Profa. Dra. Suzana Ursi (USP) | Profa. Dra. Yasmine Antonini (UFOP). Contatos: https://editoranaraiz.wordpress.com/ | lamimguedes@gmail.com Esta obra foi inteiramente financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. T314t Coutinho, Francisco Ângelo (Org.) Sequências didáticas: Propostas, discussões e reflexões teórico-metodológicas volume 2 [livro eletrônico] / Francisco Ângelo Coutinho, Fábio Augusto Rodrigues e Silva, Gabriel Menezes Viana (Orgs.). Vários autores. – São Paulo: Na Raiz, 2020. 194f.: il.; 14,8 x 21 cm; pdf ISBN 978-65-991479-6-8 1. Educação. 2. Ensino de Ciências. I. Título. CDD: 370 https://editoranaraiz.wordpress.com/| mailto:lamimguedes@gmail.com 3 SUMÁRIO Prof. Dr. Marcio Roberto de Lima ......................................... 5 Gabriel Menezes Viana ......................................................... 20 Rodolfo Dias de Araújo ......................................................... 20 Fábio Augusto Rodrigues e Silva ........................................ 20 Alessandro Damásio Trani Gomes ...................................... 20 Marielze Pinto da Paixão ...................................................... 47 Fábio Augusto Rodrigues e Silva ........................................ 47 Evelyn Jeniffer de Lima Toledo ........................................... 47 4 Patrícia Viotti Leite Praça ..................................................... 67 Magno Inácio dos Santos ...................................................... 67 Luciana Resende Allain ........................................................ 99 Ana Paula da Silva Freitas .................................................. 131 Willian Arlison Santos Subrinho ....................................... 131 Rebeca Cássia Andrade ....................................................... 165 Laurisaura da Mota Ribeiro ............................................... 165 Vanessa Sena Tomaz ........................................................... 165 Francisco Ângelo Coutinho ................................................ 165 Ana Maria Rabelo Gomes ................................................... 165 5 PREFÁCIO Prof. Dr. Marcio Roberto de Lima Universidade Federal de São João del-Rei 6 O mundo contemporâneo apresenta muitos desafios aos sistemas educacionais, os quais envolvem a concepção de políticas públicas, a infraestrutura das escolas, a formação de professores, a pesquisa em educação, a gestão escolar, os métodos avaliativos, as práticas pedagógicas etc. Historicamente, o universo educacional brasileiro – quiçá mundial – parece não se estabilizar com facilidade e, dessa forma, está sujeito a contínuas reconfigurações. É nesse movimento de contínuas mutações que as práticas pedagógicas são incitadas a uma indispensável interlocução com o mundo em transformação, exigindo dos professores e professoras a busca constante pela excelência em suas intervenções didáticas no espaço e tempo escolares. Nessa perspectiva, Sequências Didáticas: propostas, discussões e reflexões teórico-metodológicas – Volume 2 – configura-se como um importante aliado para os educadores que buscam novas formas de empreenderem suas práticas de ensino. Em seu segundo volume, com organização de Francisco Ângelo Coutinho, Fábio Augusto Rodrigues e Silva e Gabriel Menezes Viana, o livro se apresenta como uma obra aberta, com sequências didáticas concebidas por 16 diferentes vozes de pesquisadores-educadores que se ocupam de fazer dos processos de ensino e aprendizagem uma via dialógica, que fomenta iniciativas de investigação por parte dos sujeitos envolvidos e estimula a criatividade, assim como o posicionamento cidadão frente aos eixos 7 de conhecimento trabalhados no cotidiano escolar. Esse desenho didático foi elaborado a partir de propostas reflexivas e que articulam diferentes conteúdos curriculares de ciências, em especial da Biologia. Em síntese, pode-se dizer que você está diante de uma iniciativa multidisciplinar e integradora de diferentes saberes e competências, os quais podem mobilizar e substanciar seu “fazer” docente. Influenciado pelos aspectos da Teoria Ator-Rede e do pensamento de Bruno Latour, este livro reconhece a materialidade como integrante das ações docente e discente. Dessa forma, entraram nas cenas das sequências didáticas elementos humanos e não humanos que, em associações e simetria analítica, formarão redes em que circularão ações de ensino e aprendizagem. Essa materialidade é evocada nas proposições didáticas por intermédio da lousa, do giz, de estetoscópios, de cadernos, de lápis, pincéis marcadores, colheres de madeira, tesouras, cartolinas etc. Junto desses materiais típicos do cenário escolar, artefatos técnicos digitais tais como computadores, smartphones, softwares, datashow, dentre outros, são arregimentados pelos autores desta obra como novos aliados da docência na cultura digital (LEMOS, 2020; LEMOS; LÉVY, 2010). A introdução dessas tecnologias digitais é desejável e necessária no ambiente escolar, pois esses objetos técnicos podem constituir-se como mediadores do ensino e da aprendizagem, transladando o campo de ação docente e discente. Em outras 8 palavras, a materialidade que é colocada em circulação nos espaços escolares pode propiciar transformações de diferentes ordens, traduzindo-se em novas relações de ensino e múltiplas aprendizagens na cultura digital. Focados no ensino de ciências, os planejamentos aqui sistematizados abrem um diálogo com você, professor/professora, como um convite que lhe permite (re)adequar, à sua realidade escolar, o que foi planificado. Assim, as sequências didáticas apresentadas ao longo do livro não pretendem assumir um tom prescritivo, mas, ao invés disso, ensejam formar contigo uma rede de agenciamentos que pressupõe e valoriza sua coautoria. Finalmente, é oportuna a retomada do pensamento do educador Seymour Papert, indicando a nós que, “na educação, a mais elevada marca do sucesso não é ter imitadores, mas inspirar outros a irem além” (PAPERT, 2008). Esse axioma alerta para o fato de que o fazer docente é sempre múltiplo e, como tal, gera realidades multifacetadas em suas redes performáticas. Contratempos? Dificuldades? Reveses? Sim! São e serão muitos. Entretanto, isso não pode fomentar a seduçãoda inércia e das ações sedimentadas no “mais do mesmo”. Na verdade, é preciso ousadia para se fazer “mais de si mesmo”! O chamamento está posto e o convite é para que você se associe às sequências didáticas aqui organizadas visando a um 9 fazer docente mais evocativo e com razão de ser para você e para seus alunos e alunas. Referências PAPERT, S. A máquina das crianças: repensando a escola na era da informática. Tradução de Sandra Costa. Porto Alegre: Artes Médicas, 2008. LEMOS, A. Epistemologia da comunicação, neomaterialismo e cultura digital. Galáxia, São Paulo, n. 43, p. 54-66, abr. 2020. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/gal/n43/1982-2553- gal-43-0054.pdf. Acesso em: 9 abr. 2020. LEMOS, A.; LÉVY, P. O futuro da Internet: Em direção a uma ciberdemocracia planetária. São Paulo: Paulus, 2010. http://www.scielo.br/pdf/gal/n43/1982-2553-gal-43-0054.pdf http://www.scielo.br/pdf/gal/n43/1982-2553-gal-43-0054.pdf 10 Introdução 11 Em 2016, publicamos o primeiro volume de Sequências Didáticas: propostas, discussões e reflexões teórico-metodológicas, com o financiamento da FAPEMIG, e a apresentamos como uma obra ainda em construção, pois entendíamos que os nossos textos alcançariam novos sujeitos e salas de aula e, principalmente, que os educadores encontrariam um material a ser adaptado e reescrito em suas práticas. Acreditávamos que o livro mobilizaria críticas e inspirações, proporcionando uma diversidade de atividades relacionadas a processos de educação científica interessados em incorporar as controvérsias e a compreensão das diferentes realidades que são criadas por nossas ações no mundo (RÚBIO; BAERT, 2012). Quatro anos depois, temos outro volume, com novas sequências didáticas que também têm como norte a abordagem Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente (CTSA); as questões sociociotécnicas ou tecnocientíficas e o ensino de ciências por investigação, privilegiando, é claro, a Teoria Ator-Rede (ANT)1. Além dessas tantas questões, neste novo projeto, retornamos com outro desafio: propor novas sequências didáticas que superem as limitações do discurso de “formação para a cidadania”. 1 A manutenção da sigla em inglês se refere à analogia entre a formiga (ant, em inglês) e o pesquisador que trabalha com a ANT: “um viajante cego, míope, viciado em trabalho, farejador e gregário” (LATOUR, 2012, p. 28). 12 Sem desconsiderar a necessidade de uma formação diferenciada para transformar uma sociedade em que as desigualdades são perpetuadas, queremos abrir essa caixa-preta2, tão presente nos documentos curriculares e no vocabulário dos(as) professores(as) da educação básica, e pensar que tipo de cidadão estamos formando. É um eleitor que comparece de forma compulsória a uma zona eleitoral para registrar a sua presença em uma urna eletrônica? É um sujeito capaz de efetuar uma denúncia e procurar os seus direitos em um órgão do consumidor? Ou, de forma mais ampla, é um ser político, que busca entender as realidades de uma coletividade plural, sendo capaz de agir em um cenário de policrise (VAN BREDA, 2007) repleto de problemas socioambientais sobrepostos e interconectados? Ao refletir sobre essa questão, considerando os desafios atuais impostos pelo Antropoceno3, precisamos de escolas que contribuam não só para a formação de sujeitos competentes na identificação dos problemas, mas também capazes de se perceberem como gestores da sociedade, sendo, para isso, guiados por valores democráticos. 2 A caixa-preta se refere a conceitos, processos, estruturas que são assumidos como fatos concretos após a estabilização de uma rede (LATOUR, 2001). 3 O termo Antropoceno é utilizado para designar a nossa era geológica e propicia identificar a ação humana "[...] como uma força significante globalmente, capaz de interferir em processos críticos de nosso planeta, como a composição da atmosfera e outras propriedades” (ARTAXO, 2014, p.15). 13 Necessitamos de uma escola e de processos de ensino que propiciem novas aproximações, e, por consequência, outras relações entre os(as) estudantes, os objetos, os fenômenos naturais e tecnológicos, assim como entre estes e o mundo. Isto requer a configuração de novos ambientes de aprendizagens que, nas salas de aulas, proporcionem, por parte dos(as) alunos(as), uma ação política democrática (COUTINHO et al, 2016). Pensamos que as sequências didáticas apresentadas se comprometem a mobilizar intervenções pedagógicas e constituir espaços de consulta, que, como referem Coutinho et al: [...] possibilitam aos alunos uma compreensão da natureza de riscos e incertezas gerados pela produção e circulação do conhecimento tecnocientífico, uma percepção de si mesmos como cidadãos na deliberação sobre os problemas da sociedade e uma orientação por valores democráticos na resolução de problemas tecnocientíficos (2016, p.381-382). Ressaltamos ainda que as sequências didáticas deste volume se apresentam como objetos ou artefatos sociotécnicos (SANTOS et al, 2016) que propiciam o estabelecimento de diferentes redes sociomateriais, povoadas por humanos e não-humanos. Esses elementos, que, a partir de agora, passarão a ser denominados de actantes (LATOUR, 2000), possuem agência e a possibilidade de serem representados. Em nossas sequências didáticas, os actantes são convidados a trabalhar juntos e intensamente, além de poderem autorizar, permitir, dar suporte, incentivar, sugerir, influenciar, 14 bloquear, tornar possível e proibir os mais diferentes elementos (SAYES, 2014). Em nossas propostas de ensino, trazemos diversos materiais didáticos, pois entendemos que os objetos, como referido por Fenwick e Edwards, “não respondem apenas à intenção e força humanas. De fato, as coisas mudam e moldam as intenções, significados, relacionamentos, rotinas, memórias e até percepções do si” (2010, p.6). Quando trabalham, os actantes se aliam e configuram redes que nos propiciam evidenciar fluxos, circulações, movimentos. Essas redes são imprevisíveis e abertas, sempre passíveis de expansões com a inclusão de novos elementos (DOLWICK, 2009). Quanto mais aliados são arregimentados, mais duráveis e mais fortes se tornarão essas configurações sociomateriais (FENWICK, EDWARD, 2012). E como esses actantes se aliam ou interagem? Por meio de processos de translação que consistem em trabalhos capazes de fazer com que duas coisas diferentes se tornem equivalentes (LAW, 1992) e, além disso, capazes de permitir aos actantes, quando agem juntos, modificarem a sua forma de atuar (SISMONDO, 2010). Esses conceitos e processos nos permitem pensar, analisar e propor metodologias de ensino e aprendizagem que assumem a materialidade como elemento fulcral para as nossas atividades como educadores. Além disso, propiciam compreender a aprendizagem como um resultado de associações de diferentes actantes com as quais 15 um corpo interage ao longo de suas experiências no mundo e, a partir disso, transforma-se. Essa transformação nos torna mais amplos e mais aptos a sermos afetados por outros actantes, a expandir os limites de um corpo que pode, como expresso por Latour: “...aprender a ser “afetado”, ou seja, “efetuado”, movido, posto em movimento por outras entidades, humanas e não-humanas. Se você não está engajado nesta aprendizagem fica insensível, mudo, morto” (2004, p. 205). No primeiro capítulo, “‘Produção de ouvidos’: uma proposta de sequência didática para o ensino sobre sons nos conteúdos de ciências do Ensino Fundamental II”, Gabriel Menezes Viana, Rodolfo Dias de Araújo, Fábio Augusto Rodrigues e Silva e Alessandro Damásio Trani Gomes desenvolvem uma sequência didática com o objetivo de ensinar sobre o som na perspectiva da afetação do corpo. A proposta sugere que, ao mesmo tempo em que se ensinam conceitos e processos sobre os fenômenossonoros e suas percepções pelos ouvidos humanos, também se adote o som como uma entidade que provoque mediações nas relações de ensino-aprendizagem a partir da promoção de diferenças nos corpos dos aprendizes. Em seguida, no capítulo “Vamos investigar o saneamento básico de nossa comunidade?”, Marielze Pinto da Paixão, Fábio Augusto Rodrigues e Silva e Evelyn Jeniffer de Lima Toledo apresentam uma proposta de sequência didática com o intuito de 16 evidenciar os problemas socioambientais associados ao saneamento básico. O conjunto de atividades busca tornar visíveis, nos níveis locais, questões complexas de saneamento básico em seus subtemas: meio ambiente, saúde coletiva, economia e políticas públicas. O terceiro capítulo, “As relações humanas com o mundo: uma proposta de ensino a partir da Teoria Ator-Rede e da controvérsia do Antropoceno”, tem autoria de Patrícia Viotti Leite Praça, Magno Inácio dos Santos e Francisco Ângelo Coutinho. A sequência didática nele apresentada coloca em cena a promoção da reflexão com alunos(as) e professores(as) sobre as ações humanas e seus efeitos sistêmicos, trazendo, para o conjunto das ações pedagógicas, modos plurais de se perceberem as existências do homem e do mundo. O quarto capítulo “Permacultura: repensando modos de ser e estar no mundo a partir da performance do solo”, de Luciana Resende Allain, apresenta uma sequência didática que pretende fazer visíveis algumas performances de solo em práticas de permacultura como forma de (re)pensar e propor outras formas de viver. A sequência didática, por meio de um trabalho escolar interdisciplinar e integrador, alimenta-se do diálogo com saberes tradicionais para ressignificar conhecimentos científicos O quinto capítulo, “O controle alternativo de pragas em sistemas agroecológicos: uma proposta de sequência didática para alunos do Ensino Fundamental II de escolas do campo”, de Ana Paula 17 da Silva Freitas e Willian Arlison Subrinho, visando contribuir para a construção da consciência ambiental, apresenta contraste entre sistemas convencionais de produção de alimentos e outras propostas, como a dos sistemas agroecológicos, os quais adotam o controle alternativo de pragas. O sexto e último capítulo, “O milho na sala de aula: experiências a partir da educação escolar indígena”, é apresentado por Rebeca Cássia Andrade, Laurisaura da Mota Ribeiro, Vanessa Sena Tomaz, Francisco Ângelo Coutinho e Ana Maria Rabelo Gomes. Nele, a sequência didática é construída a partir da experiência de aulas em uma comunidade indígena, localizada na Terra Indígena Xakriabá, e traz para o centro da ação pedagógica o milho, como uma entidade que produz e faz circular conhecimentos e modos de interação com o ambiente. Como o leitor terá a oportunidade de acompanhar ao longo do livro, as seis propostas aqui apresentadas buscaram alinhar a Teoria Ator-Rede e alguns conceitos e ideias de Bruno Latour e de colaboradores no estudo de questões educacionais. Nesse sentido, o eixo que as une se construiu das tentativas de: i) estabelecer relações de simetria entre os humanos e não humanos nos espaços educacionais; ii) assumir que as entidades se organizam por meio de associações e vínculos que constituem redes sociotécnicas; iii) perceber fenômenos como ensino e aprendizagem enquanto efeitos 18 dessas redes; iv) entender as sequências didáticas construídas e aqui apresentadas também como entidades (actantes) que, quando nas mãos dos professores e professoras atuando nas redes de salas de aula, tomam caminhos plurais dadas as idiossincrasias dos atores e agrupamentos locais. Referências ARTAXO, P. Uma nova era geológica em nosso planeta: o Antropoceno? Revista USP, São Paulo, n. 103, p. 13-24, 2014. COUTINHO, F. A.; FIGUEIRÊDO, K. L.; SILVA, F. A. R. Proposta de uma configuração para o ensino de Ciências comprometido com a ação política democrática. Revista Brasileira de Ensino de Ciências e Tecnologia, Ponta Grossa, v.9, n.1, p. 380-406, jan./abr. 2016 DOLWICK, J. S. The Social and beyond: introducing actor-network theory. Journal of Maritime Archaeology, v. 4, n. 1, p. 21-49, 2009. FENWICK, T.; EDWARDS, R. Actor-Network Theory in Education. London: Routledge, 2010. FENWICK, T.; EDWARDS, R. Researching education through actor- network theory. New Jersey: John Wiley & Sons, 2012. LATOUR, B. Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora. São Paulo: Editora UNESP, 2000 LATOUR, B. A esperança de Pandora: ensaios sobre a realidade dos estudos científicos. Bauru, SP: EDUSC, 2001. 19 LATOUR, B. How to Talk About the Body? The Normative Dimension of Science Studies. Body & Society, Califórnia: Sage, v. 10, n. 2-3, p. 205-229, 2004. LATOUR, B. Reagregando o Social: uma introdução à teoria do Ator – Rede. Bauru, SP: EDUSC, 2012. LAW, J. Notes on the theory of the actor-network: Ordering, strategy, and heterogeneity. Systems practice, Berlim, v. 5, n. 4, p. 379- 393, 1992. RUBIO, F. D.; BAERT, P. Politics of Knowledge. An introduction. In: RUBIO, F. D.; BAERT, P. The politics of knowledge. London: Routledge, 2012. p. 1-10. SANTOS, V. M. F.; COUTINHO, F A.; RODRIGUES E SILVA, F. A. A proposta teoria ator-rede para a construção de sequência didática. In: COUTINHO, F. A., RODRIGUES E SILVA F. A. (Orgs.). Sequências didáticas: propostas, discussões e reflexões teórico-metodológicas. 1ed. Belo Horizonte: FAE/UFMG, 2016, v. 1, p. 9-16. SAYES, E. Actor Network Theory and methodology: Just what does it mean to say that nonhumans have agency? Social Studies of Science, Kingston, v. 44, n.1, p. 134-149, 2014. SISMONDO, S. An introduction to Science and technology studies. Oxford: Wiley Blackwell, 2010. VAN BREDA, J. Towards a transdisciplinary hermeneutics: A way of going beyond the science/religion debate. Transdisciplinarity in Science and Religion, v.2, 103-156, 2007. 20 1. “PRODUÇÃO DE OUVIDOS”: UMA PROPOSTA DE SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA O ENSINO SOBRE SONS NOS CONTEÚDOS DE CIÊNCIAS DO ENSINO FUNDAMENTAL II Gabriel Menezes Viana Rodolfo Dias de Araújo Fábio Augusto Rodrigues e Silva Alessandro Damásio Trani Gomes 21 E ali onde, na floresta fronteiriça, a audição era nossa mais importante faculdade (“Quando o homem tinha medo... todo o seu corpo transformava-se em um ouvido”) (SCHAFER, 2011a). Apresentação A educação escolar ainda é bastante alicerçada em uma cultura visual. Pode-se dizer que o ensino regular privilegia o aprendiz capaz de enxergar bem. Quando muito, a campainha, sinal ou sirene que registra os horários de início das aulas, intervalos e o término das aulas é ainda um dos poucos sons da escola que possui grande relevância pedagógica para os ouvintes que frequentam esse espaço. Da mesma forma, o ensino de Ciências lança mão de um amplo conjunto de recursos visuais nas escolas: inscrições em lousa, textos escritos, quadros, imagens, gráficos, tabelas, esquemas, dentre outras formas de representações visuais. A dimensão auditiva/sonora do ensino em sala de aula, em sua grande maioria, concentra-se quase exclusivamente na voz do(a) professor(a) de Ciências. Portanto, muito pouco, ou quase nada, do corpo do(a) estudante de Ciências é formado na perspectiva de ser afetado (LATOUR, 2004) pelos sons da escola no sentido de exercitarem uma percepção auditiva do mundo, uma sensibilização para o mundo sonoro ou, para o ambiente sônico (SCHAFER, 2011a). Pelo contrário, os sons, da escola e de seu entorno, 22 preenchem a atmosfera escolar e atravessam os corpos, orelhas e ouvidos, reverberando no tímpano de estudantes e professores(as), produzindo efeitos que parecem não interessar às dimensões de ensino-aprendizagem. O que mais comumente se observa nas salas de aulas é que o som, assim como outras entidades, costuma atuarcomo mero intermediário (LATOUR, 2012) na aprendizagem dos conceitos de Ciências. Queremos dizer com isso que, via de regra, esses elementos não são pensados para atuar com protagonismo na escola, mas, como apenas “transmissores da informação/conteúdo” (LATOUR, 2012) do que se quer ensinar. Talvez um dos raros momentos em que atentamos à importância do som em sala de aula é quando há uma controvérsia (LATOUR, 2011, 2012) e ele se torna um mediador (LATOUR, 2011, 2012) que nos perturba, dificultando ou proibindo que alunos(as) e/ou professores(as) se escutem e/ou se ouçam. Nesse sentido, nossa proposta entende que o som, quando bem utilizado pelos(pelas) professores(as), pode atuar como um mediador (LATOUR, 2011, 2012), afetando (LATOUR, 2004) os ouvidos dos(as) estudantes de ciências, permitindo-lhes aprender sobre conteúdos, processos e habilidades científicas relacionadas ao som. Assim, elaboramos uma sequência didática que se propõe ensinar sobre o som ao mesmo tempo em que produza nesses(as) estudantes capacidades que permitam ampliar seus corpos (LATOUR, 2004), 23 produzindo um ouvido capaz de melhor habitar no ambiente de sons (SCHAFER, 2011a). Portanto, as orientações teóricas que fundamentam esta proposta indicam que, estudantes, professor(a), som e materiais da sala de aula, ou actantes (LATOUR, 2011, 2012), vão sendo arregimentados (LATOUR, 2011) no desenvolvimento dos diferentes momentos e aulas que compõem a sequência didática. O coletivo formado pela associação dessas entidades em rede (LATOUR, 2012) terá em vista o desenvolvimento de mediações (LATOUR, 2011, 2012) permitindo uma afetação do corpo (LATOUR, 2004) dos sujeitos. Como resultado, espera-se que uma outra/nova performance (MOL, 2008; SØRENSEN, 2010; LATOUR 2011, 2012) seja produzida, proporcionando outras/novas relações com outros/novos mundos. Objetivos da sequência didática • Identificar os sons e a presença de vibração em fenômenos de produção de sons; • Reconhecer as características dos sons quanto à altura, intensidade e timbre e associá-las ao modelo ondulatório frequência, amplitude e forma de onda; • Reconhecer e descrever as estruturas e o funcionamento do ouvido humano; 24 • Desenvolver performances auditivas: escutar, ouvir, entender e auscultar; • Perceber as diferenças entre sons: ruídos, música, sons altos e baixos, contínuos e intermitentes; • Perceber a importância do silêncio; • Desenvolver um corpo (ouvido) que seja capaz de reconhecer diferentes qualidades sonoras. Materiais Necessários • Quadro/lousa e giz ou pincel; • Reprodutor de áudio e caixas de som; • Computador com software de projeção de slides; • Retroprojetor Datashow; • Celular ou tablet com aplicativos específicos; • Estetoscópio (ou material equivalente); • Modelo anatômico da orelha (físico ou virtual); • Softwares e sites para acesso: o Audacity® (https://www.audacityteam.org/) o SoundBible (http://soundbible.com/royalty-free- sounds-1.html) o Soundsnap(https://www.soundsnap.com/) o Zapsplat(https://www.zapsplat.com/) o WikiAves(https://www.wikiaves.com) http://soundbible.com/royalty-free-sounds-1.html http://soundbible.com/royalty-free-sounds-1.html 25 o Decibel Sound Meter Pro (http://dbmeterpro.com/) o PHET (https://phet.colorado.edu/pt_BR/simulation/legacy/s ound) o JAVA® instalado (https://www.java.com/pt_BR/download/) https://phet.colorado.edu/pt_BR/simulation/legacy/sound https://phet.colorado.edu/pt_BR/simulation/legacy/sound 26 Esquema da sequência didática Quadro 1.1: etapas da sequência didática Momento Título do Momento Aula Duração Atividades Temas e conceitos das aulas 1 Sensibilizando o ouvido para os sons e o silêncio. 1 1 aula de 50 minutos Prática “Silêncio orientado” e “ouvindo uma sobreposição de sons.” Afetando o corpo com o som e o silêncio. Desenvolvendo habilidades de escuta ativa. Escutar, ouvir, entender e compreender, poluição sonora, sobreposição de sons. 2 Produzindo um ouvido: arregimentando entidades físicas 2 e 3 2 aulas de 50 minutos cada “Produzindo uma onda”, “conhecendo o espectro sonoro” e “medindo o silêncio”. Ondas mecânicas; ondas sonoras. Som. Propriedades fisiológicas do som (a altura, a intensidade e o timbre). Unidades de medida. 3 Produzindo um ouvido: arregimentando entidades biológicas 4 1 aula de 50 minutos Prática “ouvir e conhecer a avifauna local.” Orelha e pregas vocais. (anatomia e fisiologia). Produção dos sons humanos; produção dos sons pelos animais e o foco no canto das aves. Incorporando o som. 4 Performando um “novo” ouvido. 5 e 6 2 aulas de 50 minutos cada Prática “performando um ouvido para/com os sons.” Afetando o corpo com o som e o silêncio: como o meu corpo está diferente? 27 Momento 1: sensibilizando o ouvido para os sons e o silêncio Este momento tem o objetivo de provocar as afetações (LATOUR, 2004) iniciais para o mundo sonoro, de modo que o(a) professor(a) deve provocar a turma a perceber o mundo sonoro ou a paisagem sonora (SCHAFER, 2011a) que compõe a sala de aula. É, ao mesmo tempo, a oportunidade de conhecer o entendimento dos(as) estudantes sobre conceitos envolvidos na compreensão dos fenômenos sonoros. Duração: 1 aula de 50 minutos Aula 1: Sensibilizando o ouvido para diferentes qualidades de sons. A limpeza dos ouvidos (SCHAFER, 2011a) envolve o reconhecimento do silêncio como importante para a percepção dos sons do ambiente. O(a) professor(a) pode começar a aula realizando minutos de silêncio sem explicações iniciais para os(as) alunos(as). Em seguida, deve pedir para digam o que foi escutado/ouvido naquele período. Conforme forem se pronunciando, é recomendável que o(a) professor(a) escreva no quadro os elementos enunciados pela turma. Em um segundo passo, os(as) estudantes podem ser conduzidos(as) a outro encontro com o silêncio. O(a) professor(a) pode orientá-los a prestarem atenção no que conseguem escutar/ouvir, tentando distinguir um som de outro e reconhecendo a fonte emissora. Da mesma forma, podem ser anotados no quadro os sons percebidos pela turma. De acordo com o nível de envolvimento 28 da turma, etapas extras podem ser adicionadas, levando a interagir com o silêncio e com aquilo que se pode escutar/ouvir com ele. Ao final, a turma terá tido seu primeiro contato com a atenção em relação ao silêncio e, no contraste, com os sons do ambiente. No quadro, estará registrado aquilo que foi percebido inicialmente pelos ouvidos dos(as) estudantes. Com o mundo escolar sonoro inicialmente mapeado, o(a) professor(a) pode passar à fase de “entender o som” (SCHAEFFER, 1977 apud GOMES, 2017), de modo a interagir com a turma, tentando perceber suas relações com os sons escutados/ouvidos, levando-os a refletir sobre, por exemplo, a importância do silêncio para se escutar e ouvir; a(s) fonte(s) emissora(s) de sons; o caráter agradável ou desagradável desses mesmos sons; a remissão a algum fato da própria vida dos(as) estudantes ou ao modo como lidam com os sons no dia a dia. Durante as interações com os(as) estudantes, o(a) professor(a) terá a oportunidade de apresentar o conceito de poluição sonora (SCHAFER, 2011a) das cidades e de como isso interfere em suas vidas. É recomendável até mesmo oferecer à turma a possiblidade de sensibilização relacionada aos indivíduos que apresentam algum tipo de deficiência auditiva ou visual, levando os(as) estudantes a se solidarizarem com aqueles que vivem em um ambiente de som quando não se pode percebê-lo ou quando ele é fundamental para interagir com o mundo. 29 A segunda etapa da aula é a prática do “sons e o contexto”. Nela, a turma irá interagir com uma gravação em áudio de uma “sobreposição de sons”. O(a) professor(a) pediráque todos escutem uma gravação de áudio, feita por ele, na qual se incluiu sobreposições de sons que vão desde aqueles produzidos em uma rua de alguma cidade movimentada, até sons produzidos por animais (como grilo, sapo, elefante, aves), por fenômenos da natureza (como ondas do mar e trovão) e aqueles produzidos por objetos sonoros urbanos (por exemplo, sinos, marteladas, buzina e turbina de avião). Para elaboração dessa gravação, o(a) professor (a) pode utilizar o programa editor de áudio Audacity4, que é disponibilizado gratuitamente. Depois de baixado e instalado em um computador, o(a) docente será capaz de abrir os arquivos de áudio no programa apenas arrastando outros arquivos de áudio para o seu interior, compondo, dessa forma, uma colagem sonora5. Em seguida, ele poderá ir até a aba “arquivo” e escolher a opção “exportar como mp3”, de forma que este já estará disponível para ser reproduzido. Os diferentes arquivos em áudio podem ser obtidos em sites como: • SoundBible (http://soundbible.com/royalty-free-sounds- 1.html), 4 Disponível em: https://www.audacityteam.org/ 5 Caso o(a) professora(a) encontre dificuldades para utilizar o programa Audacity, é possível facilmente encontrar vídeos explicativos no Youtube. http://soundbible.com/royalty-free-sounds-1.html) http://soundbible.com/royalty-free-sounds-1.html) https://www.audacityteam.org/ 30 • Soundsnap (https://www.soundsnap.com/) • Zapsplat (https://www.zapsplat.com/) • WikiAves (https://www.wikiaves.com) – especializado em aves. O objetivo é que o(a) docente possa ver quais são os sons reconhecidos pelos(as) estudantes. Quando se deslocam o contexto da produção do som e o ambiente em que o(a) ouvinte se situa para aquele produzido por outrem, é possível contrastar as relações entre som e ambiente. Assim, perguntas que podem guiar essa etapa são as seguintes: quais sons vocês reconhecem nessa gravação? Quem os produziu? Há algum que vocês não conhecem? Quais soaram estranhos? Do que vocês acreditam que se tratam? Recomendamos que esse mapeamento também seja registrado pelo(a) docente na lousa. 31 Momento 2: produzindo um ouvido: arregimentando entidades (LATOUR, 2011) físicas Neste momento, que terá a duração de duas aulas, o(a) professor(a) poderá desenvolver com os(as) estudantes o aprendizado de alguns dos conceitos relacionados à acústica. Os conceitos fundamentais a serem abordados são onda sonora e som, assim como suas qualidades fisiológicas (altura, intensidade e timbre). Esse é o instante em que o(a) professor(a) se concentrará em fazer com que os(as) alunos(as) percebam as propriedades físicas do som possíveis de serem captadas pelo ouvido humano. Duração: 2 aulas de 50 minutos cada Aulas 2 e 3: abordando os conceitos relacionados à acústica. Devido à reduzida carga horária destinada ao ensino de Ciências nas escolas, recomendamos que esta etapa seja desenvolvida de forma expositiva, mas sempre interativa e dialógica, aberta às interações com os(as) alunos(as) (MORTIMER, 2002). O objetivo é promover o primeiro contato formal dos(as) alunos(as) com conceitos da acústica que são muito presentes no dia a dia. Recomendamos que, dado o grau de abstração dos conceitos abordados, o(a) professor(a) faça uso de aplicativos, softwares, imagens e/ou vídeos ilustrativos de ondas mecânicas e de ondas sonoras para melhor compreensão destes. 32 O(a) professor(a) iniciará a aula identificando as concepções dos(as) alunos(as) sobre ondas e ondas sonoras, definindo o conceito e dando exemplos concretos, próximos às vivências deles, como um pulso provocado em uma corda esticada, as ondas do mar, o movimento da água quando uma pedra é jogada em um lago ou a coreografia da torcida, conhecida como a “ola” etc. Recomendamos que o(a) professor(a) utilize a simulação “Ondas em Corda”, disponível no site do projeto PhET6, da Universidade de Colorado Boulder, que disponibiliza simulações interativas gratuitas de matemática e ciências. Com o auxílio dessa simulação, o(a) professor(a) pode trabalhar, de forma concreta, a definição e o tipo de onda no caso, onda transversal e os conceitos de frequência e amplitude. Em seguida, o(a) professor(a) introduzirá o conceito de ondas sonoras, as quais podem ser definidas como a propagação de uma frente de compressão mecânica ou onda longitudinal, propagando-se tridimensionalmente pelo espaço e apenas em meios materiais líquidos, sólidos e gasosos (HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2006). Para que os(as) alunos(as) possam visualizar melhor a propagação de uma onda sonora e suas propriedades, o(a) professor(a) fará uso de outra simulação, chamada “Som”, também 6 Link para acesso ao site do Programa PHET: https://phet.colorado.edu/pt_BR/ https://phet.colorado.edu/pt_BR/ 33 disponível no site do projeto PhET. Com ela, pode-se alterar a frequência e a amplitude da onda sonora, possibilitando ouvir e observar os efeitos das alterações realizadas. O(a) professor(a) iniciará a segunda aula retomando o conceito de onda sonora e relembrando as duas características abordadas: frequência e amplitude. Continuando com a construção de um ouvido físico, nesta segunda aula, podem ser destacadas as propriedades fisiológicas do som. Pietrocola e colaboradores (2010) afirmam que, por meio das sensações causadas pelo som, podemos perceber diferentes características. É possível distinguir sons fortes de fracos quando a onda sonora vibra, respectivamente, com grande ou pequena amplitude, variando sua intensidade. É igualmente possível diferenciar sons graves de agudos se a onda sonora vibra, respectivamente, com baixa ou alta frequência. Pode-se também reconhecer diferentes fontes sonoras por meio de seus timbres. Ressalta-se que o que caracteriza um som ser ‘mais alto’ ou ‘mais baixo’ é o fato de este ter maior ou menor frequência. Não se pode confundir o conceito científico de altura sonora com o uso corriqueiro da palavra altura, que nós referimos como “volume”, ou seja, como a amplitude com que uma fonte sonora vibra, o que está ligado à quantidade de energia sonora que a fonte emite. É importante que o(a) professor(a) deixe claras as relações entre estímulo físico e resposta fisiológica para variações de 34 frequência e intensidade física. “O entendimento da relação entre o estímulo físico (frequência) e a resposta fisiológica (altura de um som) passa necessariamente pela discussão da natureza não linear da percepção de um som cuja frequência varia” (MONTEIRO JÚNIOR; MEDEIROS, 1998, p.5). O(a) professor(a) poderá utilizar o aplicativo Frequency Generator, com o celular conectado a uma caixa de som, para emitir ondas sonoras de 1 a 22.000Hz. Com estes recursos, é possível explorar o intervalo audível humano, uma vez que os seres humanos só podem escutar sons com frequências que variam de 20 Hz a 20000 Hz, aproximadamente. Além disso, pode-se observar a variação na representação da onda sonora ao variar a frequência e a amplitude e auxiliar os(as) alunos(as) a perceberem que o ouvido humano não responde linearmente às variações de frequência. Com esse recurso, é mais fácil mobilizar os(as) alunos(as) para a compreensão de que, mantendo-se a mesma amplitude, sons com maiores frequências são percebidos como “mais altos” do que sons com frequências menores. Interessante notar que, dessa forma, considerando a percepção do som e não apenas suas características físicas é que ocorre o estabelecimento da relação entre altura e frequência. Para detalhar melhor o conceito de intensidade sonora, o(a) professor(a) poderá utilizar outro aplicativo, chamado “Medidor de som – Medidor Decibel, Medidor de ruído”, que mede e 35 disponibiliza, numérica e graficamente, os valores mínimos, máximos e médios do nível de intensidade sonora captado pelo microfone do celular.Pode-se retomar a discussão da aula 1 sobre o silêncio em sala de aula e mostrar que, mesmo com os(as) alunos(as) quietos(as), ainda há o registro próximo a 40dB. O(a) professor(a) pode também exibir uma tabela contendo os níveis de intensidade de sons e ruídos comuns. Por fim, o(a) professor(a) pode trabalhar o conceito de timbre. Para melhor percepção, sugerimos o vídeo “Instrumentos e seus timbres”, disponível no Youtube7 e que apresenta a multiplicidade de sons produzidos a partir de diversos instrumentos musicais. Recomendamos cuidado ao abordar o conceito de timbre. Trata-se de um conceito complexo e sua compreensão envolve abstração e uma matemática relativamente avançada. Os timbres que caracterizam a voz das pessoas e os diferentes sons emitidos pelos diversos instrumentos, permitindo-nos diferenciá-los, apresentam-se por meio da diferença entre os harmônicos superiores que estão superpostos ao som fundamental, sendo que esta diferença é caracterizada em termos da diversidade de alturas e intensidades destes harmônicos. Assim, “muitos artigos e livros didáticos [...] insistem em reduzir o citado 7 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=XLX8ttNkr3E https://www.youtube.com/watch?v=XLX8ttNkr3E 36 conceito a fim de torná-lo mais ‘didático’ e, com isto, acabam por distorcê-lo” (MONTEIRO JÚNIOR, 2012, p. 32). Momento 3: produzindo um ouvido: arregimentando entidades (LATOUR, 2011) biológicas Neste momento, o(a) professor(a) irá desenvolver o aprendizado dos conteúdos das Ciências da Natureza relacionados aos sons. Também de forma interativa e dialógica (MORTIMER, 2002), pode lançar mão de uma aula expositiva para otimizar o uso do tempo. O objetivo é enfocar o ensino de conceitos relativos à percepção humana do som. Nesta aula, o(a) estudante será convidado(a) a reconhecer em si mesmo(a) as partes do corpo envolvidas na percepção dos sons, por meio do ensino sobre conceitos e estruturas das orelhas e do ouvido interno, assim como, do processo de condução do estímulo sonoro pelo corpo humano. Duração: 1 aula de 50 minutos Aula 4: anatomia da orelha, fala e sons dos animais A primeira etapa da aula é feita de modo expositivo- dialogado, de modo que o(a) professor(a) irá utilizar o Power Point ou um modelo anatômico da orelha – físico, caso haja um disponível na escola, ou virtual – a fim de identificar e descrever as partes da orelha, além de mostrar a sua contribuição para a captação sonora. Também será o momento de apresentação, ainda que inicial, das cordas vocais, o principal órgão produtor de som no corpo humano, utilizado para 37 comunicação. Recomendamos a exposição de um vídeo sobre pregas vocais8, proporcionando melhor visualização de como é produzido o som na fala humana. Em seguida, os(as) estudantes poderão ser convidados(as) para a segunda etapa da aula – “O som produzido pelo meu corpo”. O(a) professor(a) dividirá a turma em dois grupos em que um poderá ser responsável pela produção do som e o outro pela percepção dele. Eles podem ficar de costas um para outro ou, então, o segundo grupo poderá ser vendado. O primeiro grupo deve falar, bater as palmas das mãos ou os pés no chão, assim como pode assoviar, sussurrar e cantar. Enquanto isso, os integrantes do segundo grupo podem se aproximar ou distanciar do grupo emissor de sons, assim como é possível experimentarem tampar as orelhas e/ou fazer conchas com as mãos em torno delas para poderem abafar – produzindo “pálpebras auditivas” – e ampliar – aumentando a captação – dos sons produzidos no ambiente. Em outro momento, se tiver acesso, o(a) docente pode utilizar um estetoscópio para os(as) estudantes auscultarem as batidas do próprio coração e do de seus(suas) colegas. A terceira etapa da aula, visa ampliar o repertório sonoro dos(as) estudantes. O(a) professor(a) poderá reproduzir áudios com 8 Disponível no seguinte link: https://www.youtube.com/watch?v=NwKFMmJFgXw https://www.youtube.com/watch?v=NwKFMmJFgXw 38 sons de animais, como insetos, anfíbios, répteis e mamíferos em geral, até chegar a apresentar o som das aves. Dada a estética do canto das aves ser apreciada por uma boa parte da população humana, é recomendável nos determos mais tempo nos sons produzidos por esses animais. O(a) professor(a) pode fazer perguntas do tipo: “Como vocês acham que uma ave produz som?” Nesse momento, pode-se introduzir a discussão sobre como é a anatomia da vocalização das aves, descrevendo o funcionamento da siringe – órgão situado na extremidade posterior da traqueia, responsável pela vocalização das aves –, e comparando essa estrutura com aquela que permite a produção de sons pelos humanos. Também pode-se perguntar porque as aves cantam. Nesse momento, é recomendável ilustrar a diversidade de aves da região e apresentar suas vocalizações. Para isso, o(a) professor(a) pode acessar o endereço eletrônico do WikiAves9, buscar pelo nome do seu município e encontrar uma lista de aves pertencentes àquela região, com apresentação de fotos e de sons por elas produzidos. Quando forem executadas as vocalizações das aves, pode-se solicitar aos(às) estudantes escutarem e ouvirem atentamente a fim de entenderem os sons produzidos pelas aves. As modulações entre grave, médio ou agudo, assim como a altura e a intensidade 9 Disponível em: https://www.wikiaves.com https://www.wikiaves.com/ 39 permitirão que o ouvido seja relacionado com os elementos apresentados na aula sobre os conceitos físicos do som. É importante que os sons das aves que constem nesse áudio sejam os mesmos da gravação que foi executada no momento um da primeira aula. Momento 4: performando um “novo” ouvido (MOL, 2008; SØRENSEN, 2010; LATOUR 2011, 2012) Este momento está direcionado ao desenvolvimento de outra performance auditiva pelos ouvidos dos(as) estudantes. Duração: 1 aula de 50 minutos Aula 6: cérebro, equilíbrio e surdez. O(a) professor(a) pode iniciar a aula fazendo com que a turma se recorde dos sons que foram ouvidos nas aulas anteriores durante a prática de escutar os objetos e os sujeitos que estavam próximos da escola. É preciso relembrar que alguns deles foram interpretados como agradáveis ou não, comuns ou desconhecidos. Nesse momento, pode-se abrir a discussão levando os discentes a perceberem como os sons os afetaram (LATOUR, 2004) de maneiras variadas e fizeram com que neles fossem despertadas afecções variadas e distintas. Além disso, é importante mencionar a importância da orelha na capacidade de equilíbrio relacionado à cada uma de suas partes e aos movimentos como rotação, aceleração e parada. 40 A última etapa da aula se concentrará em como os(as) estudantes tentam perceber diferentes sons emitidos em uma gravação de áudio com uma sobreposição de sons – mesmo áudio executado na aula um. É importante que o(a) docente esteja aberto para perceber como os(as) estudantes se comportam durante a execução dessa gravação nesse outro instante de suas vidas. Recomendamos que seja registrado em uma folha o que ouviram. Duração: 1 aula de 50 minutos Aula 7: articulando um novo corpo a um novo mundo O(a) professor(a) pode procurar um local próximo à escola que permita explorar sons que emergem de ambientes mais preservados, como, por exemplo, um parque, uma praça, um terreno baldio ou alguma região mais arborizada – considerando sempre as condições de segurança dos(as) estudantes. A ideia é iniciar uma atividade para seres vivos escutarem os sons de outros seres vivos, ou produzidos pelo vento, cursos d’agua, entre outros. Aos alunos e alunas, deve-se pedir que fiquem em posições confortáveis e que façam silêncio para escutar os diferentes sons perceptíveis no ambiente. Cada aluno ou aluna que perceba um som muito diferente ou que gostaria de compartilhar com a turma, deve enunciaresse desejo. O(a) ouvinte precisa, então, falar em voz baixa, descrevendo o som e explicitando a sensação que lhe causa. Com essa atividade, pretende-se mobilizar o grupo para percepções 41 diferenciadas e para uma maior articulação desse novo ouvido com o ambiente que o circunda. A expectativa é mobilizar uma percepção sensorial diferenciada e que propicie uma maior articulação entre esses corpos e o ambiente no qual se realiza a atividade. Proposta de Avaliação Dada a possível pouca ou até mesmo não-familiaridade dos(as) estudantes com o conteúdo sobre som e com a forma heterodoxa de aprendizado proposta, recomendamos que o(a) professor(a) faça avaliação pelo nível de interação nas atividades. Em especial, nas últimas aulas, quando os(as) estudantes performam um outro ouvido. Eventualmente, se o(a) docente considerar pertinente, ele(a) pode elaborar atividades escritas, individuais ou em grupo, em que os(as) discentes possam expressar suas ideias sobre alguns dos principais conceitos envolvidos nos fenômenos sonoros e em sua percepção pelo corpo humano. É preciso destacar, contudo, que boa parte desses conceitos serão mais bem desenvolvidos em níveis mais avançados de ensino durante a escolarização básica. 42 Conceitos importantes para o desenvolvimento da sequência didática Acústica: é a ciência que se dedica ao estudo das ondas sonoras e dos fenômenos ondulatórios que ocorrem durante a propagação dessas ondas, assim como às suas inter-relações com o ser humano. Altura: é a qualidade associada à frequência da onda sonora, ou seja, a frequência da vibração da fonte sonora que se propaga no meio. É este atributo que nos permite distinguir os sons graves dos agudos. Sons baixos ou graves correspondem a baixas frequências, enquanto os altos ou agudos, a altas frequências. Frequência: quando a vibração ou perturbação que origina uma onda é uniforme, a frequência dessa onda corresponde ao número de vibrações por segundo. No Sistema Internacional de Unidades (SI), a unidade de medida da frequência é o hertz, em homenagem ao físico alemão Heinrich Rudolf Hertz (1857-1894). Intensidade sonora e nível de intensidade sonora: A intensidade é o atributo associado que nos permite caracterizar se um som é forte ou fraco. A intensidade de uma onda sonora indica a quantidade de energia transportada pela onda. Quando as ondas sonoras são muito intensas, transportam muita energia, gerando sons fortes. No Sistema Internacional de Unidades (SI), a intensidade do som é medida em W/m2. A percepção do aumento de intensidade sonora pelo ouvido humano é aproximadamente logarítmica. Dessa forma, para fazer essa medição, é mais conveniente a utilização de uma escala logarítmica de intensidade, chamada de nível de intensidade sonora 43 (sound level). A unidade no SI é bel, em homenagem ao cientista escocês, Graham Bell (1847-1922). Na prática, usa-se mais comumente um submúltiplo desta unidade, o decibel (dB), 1dB = 0,1 bel. Onda: define-se uma onda como sendo uma perturbação que se propaga, transportando energia e momento, sem envolver, no entanto, o transporte de matéria. Hewitt (2002) descreve uma onda como movimentos oscilatórios que se propagam num meio, transportando apenas energia, sem transportar matéria. Onda sonora: é uma onda mecânica longitudinal, tridimensional e periódica de compressão e rarefação que se propaga em meio material elástico (sólido, líquido e gasoso). É provocada quando um corpo vibra e gera uma perturbação de densidade em um meio. Essa perturbação é propagada no meio graças às interações moleculares (TIPLER, 1994). Ruído: geralmente é entendido como um excesso de som em um ambiente acústico. É um “som indesejável”, “que interfere”, “destruidor do que queremos ouvir” (SCHAFFER, 2011b). Segundo Wisnik (2014, p. 27), é uma mancha sonora na qual não conseguimos distinguir frequência constante, causando uma oscilação que nos soa desordenada. Para Hewitt (2002), trata-se de uma vibração irregular, ainda bastante controversa em relação à sua distinção da música propriamente dita. Silêncio: é a ausência de som ou da percepção dele. Na verdade, o silêncio é constitutivo do som, afinal, como postula Wisnik (2014, p. 18): “Não há som sem pausa. O tímpano auditivo entraria em 44 espasmo. O som é presença e ausência, está, por menos que isso apareça, permeado de silêncio”. Som: são ondas sonoras perceptíveis pelo ouvido humano, sendo, portanto, ondas mecânicas que vibram em uma frequência entre 20 a 20.000 hertz (Hz). Ondas mecânicas longitudinais com frequências abaixo de 20 Hz são denominadas infrassônicas, e ondas com frequência superior a 20.000 Hz são chamadas de ultrassônicas. Timbre: é a qualidade que torna possível distinguir fontes sonoras. O timbre está relacionado à complexidade das vibrações responsáveis por produzir o som que, por sua vez, depende da fonte sonora e do modo como as vibrações são produzidas. Esse movimento vibratório complexo pode ser compreendido como o resultante da superposição de diversos sons de frequências múltiplas da frequência fundamental à qual aquela nota é relacionada. A menor frequência dessa sobreposição de sons é chamada de frequência fundamental (1º harmônico), e as demais frequências correspondem aos modos de oscilação de ordem superior (2º, 3º,4º) harmônico. O timbre de cada som depende, então, do número e da intensidade relativa dos harmônicos que acompanham o som fundamental. Referências Bibliográficas GOMES, H. Percepção e pesquisa na paisagem sonora: os fluxos do meio e o observador participante. OuvirOUver, v. 13, n.2, p.494-508, 2017. HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de Física 2: Gravitação, Ondas e Termodinâmica. 7ª Edição. Rio de Janeiro: LTC Editora S.A, 2006. 292 p. 45 HEWITT, P. G. Física Conceitual. Porto Alegre: Bookman, 2002. LATOUR, B. Jamais fomos modernos: ensaio de antropologia simétrica. Rio de Janeiro: 34, 1994. ________. How to Talk About the Body? The Normative Dimension of Science Studies. Body & Society, v.10, n. 2–3, p. 205–229, 2004. ________. Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora. 2. ed. São Paulo: Ed. Unesp, 2011. ______. Reagregando o social. Uma introdução à teoria ator-rede. Salvador/Bauru: Edufba/Edusc, 2012. ________.; WOOLGAR, S. Vida de laboratório. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1997. MORTIMER, E. F. Atividade discursiva nas salas de aula de ciências: uma ferramenta Sociocultural para analisar e planejar o ensino. Investigações em Ensino de Ciências, v.7, n.3, p. 283-306, 2002. MOL, A. Políticas Ontológicas: algumas ideias muitas perguntas. In: NUNES, J. A. e ROQUE, R. (Orgs.). Objectos impuros. Experiências em estudos sociais da ciência. Porto: Edic ̧ões Afrontamento. p. 63 - 79. 2008 MONTEIRO JÚNIOR, F. N. Educação sonora: encontro entre ciências, tecnologia e cultura. 2012. 315 f. Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências, Bauru, 2012. MONTEIRO JÚNIOR, F. N.; CARVALHO, W. L. P. O ensino de Acústica nos livros didáticos de Física recomendados pelo PNLEM: análise das ligações entre a física e o mundo do som e da música. Holos, v. 1, p. 137-154, 2011. 46 MONTEIRO JÚNIOR, F. N.; MEDEIROS, A. Distorções conceituais dos atributos do som presentes nas sínteses dos textos didáticos: aspectos físicos e fisiológicos. Ciência & Educação, v. 5, n. 2, p. 01-14, 1998. PIETROCOLA, M. et al. Física em Contextos: Pessoal, social e histórico. Energia, calor, imagem e som. Vol. 2. 1ª ed. São Paulo: FTD, 2010. SCHAFER, R. M. A afinação do mundo. São Paulo: Editora da UNESP, 2011a. ________. O ouvido pensante. São Paulo: Editora da UNESP, 2011b. SØRENSEN, E. The Materiality of Learning: technology and knowledge in educational practice. Cambridge: Cambridge UniversityPress, 2009. TIPLER, P. A. Física para cientistas e engenheiros: Gravitação, Ondas e Termodinâmica. V2. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1994, 300p. WISNIK, J. M. O som e o sentido. Uma outra história das músicas. São Paulo: Companhia das Letras, 1999, 285p. 47 2. VAMOS INVESTIGAR O SANEAMENTO BÁSICO DE NOSSA COMUNIDADE? Marielze Pinto da Paixão Fábio Augusto Rodrigues e Silva Evelyn Jeniffer de Lima Toledo 48 Apresentação A proposta desta sequência didática consiste em evidenciar os problemas socioambientais associados ao saneamento básico, abordados a partir de uma perspectiva da Educação em Direitos Humanos (OLIVEIRA; QUEIROZ, 2013) para desenvolver um processo de ação política democrática (COUTINHO et al., 2016) nas salas de aula. Dessa forma, pretende-se mobilizar conhecimentos híbridos para o ensino de ciências nos anos finais do Ensino Fundamental II. Pretendemos também, por meio desta proposta de atividades diversificadas, favorecer ações que criem oportunidades para que os(as) estudantes compreendam as políticas de saneamento básico de maneira mais ampla, e não se limitem a um entendimento restrito aos serviços de tratamento de água, esgoto e coleta de lixo. Ressaltamos que o saneamento básico é um tema complexo que envolve um conjunto de medidas ligadas a vários subtemas como meio ambiente, saúde coletiva, economia e políticas públicas, por exemplo. No Brasil, essas medidas abarcam o desenvolvimento de programas institucionais e também de uma legislação, Lei 11.445/2007, que versa sobre o saneamento integrado com o sistema de abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem urbana e manejo de resíduos sólidos (VALDUGA; DAL-FARRA, 2015). Importante ressaltar que, de acordo com a referida lei, o saneamento básico é um direito de 49 todos e, nesse sentido, deve abarcar a população urbana e também a população rural. Dessa forma, temos elementos para desenvolver um trabalho de Educação em Direitos Humanos que busca promover uma análise crítica das situações relacionadas à saúde pública, estabelecendo oportunidades para o empoderamento de sujeitos e de grupos sociais, ou seja, a formação de sujeitos de direito (OLIVEIRA; QUEIROZ, 2015). Mais do que investigar o seu ambiente, pretende-se movimentar conhecimentos necessários para ações políticas estabelecidas em uma arena híbrida. Isto exige reconhecer a necessidade de mobilizar elementos científicos, políticos, sociais, econômicos e culturais para enfrentar e modificar as situações de exclusão, assim como romper com as relações de subalternidade atualizadas em nossa sociedade Diante do exposto, a sequência didática servirá de apoio metodológico para o(a) professor(a) por ser um material que se adapta a qualquer região do Brasil, nas quais encontramos a precariedade histórica dos serviços públicos de saúde pública e coletiva e identificamos uma letargia para o desenvolvimento de obras e da aplicação das políticas públicas voltadas para as questões pertinentes ao saneamento básico. Entendemos que o tema saneamento básico proporciona controvérsias ligadas a vários contextos, tais como o sociohistórico, o 50 socioambiental, o sociopolítico, o socioeconômico e o sociocultural, os quais se associam, oportunizando o ensino de Ciências pautado na cidadania e na criticidade como preconiza a EDH. Objetivos da sequência didática • Mobilizar uma análise crítica de questões pertinentes ao saneamento básico embasada na Educação de Direitos Humanos; • Conhecer a legislação brasileira que versa sobre o saneamento básico; • Estimular os(as) alunos(as) a ampliarem a compreensão dos processos e políticas associadas ao saneamento básico; • Oportunizar a identificação das questões pertinentes à falta de saneamento básico na comunidade local. Materiais Necessários • Datashow; • Fotos da comunidade; • Caderno/lápis ou caneta; • Aparelho celular. 51 Esquema da sequência didática Quadro 2.1: etapas da sequência didática Momento Título do momento Aula Duração Atividades Temas e conceitos das aulas 1 Bases conceituais para o trabalho com controvérsias- saneamento básico 1 1 aula de 50 minutos Roda de conversa Saneamento básico e economia. 2 1 aula de 50 minutos Roda de conversa. Apresentação sobre audiência pública Divisão de grupos de trabalho Saúde coletiva e políticas públicas. 2 Introdução à controvérsia – Direitos Humanos 3 e 4 2 aulas de 50 minutos cada Exposição de vídeos e fotos. Elaboração de roteiros de entrevistas Saneamento básico: condições locais. Traçando redes sobre o saneamento básico embasado nos Direitos Humanos 3 Posicionamento da turma sobre a controvérsia: temos um saneamento básico eficiente? 5 e 6 2 aulas de 50 minutos cada Apresentação dos resultados da pesquisa. Elaboração da proposta de socialização dos vídeos produzidos. Saneamento básico na comunidade. 52 Momento 1: bases conceituais para o trabalho com a controvérsia-saneamento básico Esse momento tem o objetivo de instigar os(as) alunos(as) a conversar sobre o tema central: saneamento básico. Por isso, sugerimos que essas duas aulas, que compõem esse primeiro momento, sejam realizadas por meio de rodas de conversa. Vale ressaltar que, no final desta sequência didática, encontra-se o tópico “material de apoio”, com os links de toda referência sugerida. Para Melo e Cruz (2014), a roda de conversa se destaca como uma metodologia que possibilita a comunicação dinâmica e produtiva entre alunos(as) e professores(as). Por isso, apresenta-se como um rico instrumento para ser utilizado como prática metodológica de aproximação entre os sujeitos no cotidiano pedagógico. Uma das características interessantes dessa atividade, para este primeiro momento, é que ela permite aos participantes expressarem, concomitantemente, suas impressões, conceitos, opiniões e concepções sobre o tema proposto e ainda possibilita trabalhar reflexivamente as manifestações apresentadas pelo grupo. Dessa forma, a roda de conversa não se configura como um processo de aprendizagem diretivo e fechado no qual se alternam perguntas e respostas, e sim numa discussão focada em tópicos específicos a partir dos quais os participantes são incentivados a emitirem opiniões sobre o tema de interesse. 53 Como trataremos do saneamento básico e de seus subtemas, a roda de conversa oportunizará a fala dos(as) alunos(as) sobre os temas propostos pelo(a) professor(a), que aqui se configura como mediador(a). Esses temas serão discutidos pelos participantes sem a preocupação de se estabelecer um consenso, por isso, as opiniões poderão convergir ou divergir, provocando o debate e a polêmica. Dessa forma, cabe ao mediador garantir a participação igualitária de todos, bem como explicitar os critérios de estruturação da discussão, oferecendo possibilidades para que a roda de conversa seja um instrumento de compreensão de processos de construção de uma dada realidade. Diante do exposto, sugerimos um pequeno roteiro para que o(a) professor(a) possa implementar a roda de conversa. Seguindo essas indicações, pode-se: a) consultar o material de apoio apresentado nessa SD a fim de verificar se está de acordo com a realidade que se pretende abordar, bem como com a maturidade da turma; b) buscar um local na escola com espaço suficiente para que os(as) alunos(as) se organizem em círculo; c) orientar os(as) alunos(as) sobre o tema que será abordado em cada roda de conversa; d) orientar os(as) alunos(as) sobre a finalidade da roda de conversa; e) orientar os(as) alunos(as) sobre o número de aulas que serão disponibilizadas para as rodas de conversa; f) definir as regras para esse momento, indicando, por exemplo, que cada aluno(a) deverá 54 pedir a fala, a fimde manter a ordem durante a aula, e que deve haver o respeito às diferentes opiniões; g) o(a) professor(a), pode iniciar a primeira roda de conversa problematizando o tema central e comentando sobre a diferença entre epidemia e pandemia, inclusive ilustrando a questão com a COVID-19, por exemplo. Dessa forma, embasado na EDH, o(a) professor(a) poderá instigar os(as) alunos(as) a expor o que eles(as) compreendem sobre o tema saneamento básico e, ainda, abordar seus subtemas, tais como economia, saúde coletiva e políticas públicas. O objetivo desse primeiro momento é o de que, ao chegar no final da segunda aula, os(as) alunos(as) tenham conseguido mobilizar conhecimentos pertinentes ao tema central, tais como economia, saúde coletiva e políticas públicas, que poderão ser articulados pelo(a) professor(a) ao longo desse período. Pretende-se ainda que os(as) alunos(as) percebam a complexidade que envolve o tema saneamento básico. Duração: 1 aula de 50 minutos Aula 1: ampliando a compreensão sobre o tema saneamento básico e a economia local Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), bem como o artigo 225 da Constituição Federal de 1988, saneamento básico é o controle de todos os fatores do meio físico do homem que exercem ou podem exercer efeitos nocivos sobre o bem-estar físico, mental e social 55 (CARVALHO, 2012). Por isso, sugerimos que o(a) professor(a) promova uma roda de conversa a fim de ouvir os(as) alunos(as) e nortear a conversa sobre as seguintes questões: a) percepção dos(as) alunos(as) sobre o saneamento básico na comunidade onde eles(as) estão inseridos(as); b) limpeza da comunidade; c) capitação, distribuição e tratamento de água e esgoto da comunidade; d) se há serviço de saúde de qualidade com o qual a comunidade pode contar; e) atividade econômica da comunidade; f) se essa atividade econômica produz algum impacto no saneamento básico local; g) instituições presentes na comunidade que podem ser relacionadas com o saneamento básico; h) se o governo municipal tem alguma responsabilidade com a promoção do saneamento básico da comunidade. Diante dessa abordagem, o(a) professor(a) poderá comparar o saneamento básico da comunidade onde os(as) alunos(as) estão inseridos(as) com o saneamento básico implementado nos grandes centros urbanos, visando instigar controvérsias a respeito do saneamento básico. O(a) professor(a) ainda poderá explicar aos(às) alunos(as) que existe uma lei responsável por nortear os municípios nessa questão de implementação do saneamento básico. O(a) professor(a) poderá também solicitar que seja feita uma pesquisa sobre a Lei Federal 11.445/07 a fim de ser discutida na aula seguinte. Sugerimos que, a depender do diálogo e do entrosamento empreendido pela turma, o(a) professor(a) poderá conduzir o 56 pensamento dos(as) alunos(as) para a economia local. A partir de então, o(a) professor(a) poderá estabelecer diálogo entre o subtema, economia, e o tema central, saneamento básico. Nesse sentido, o(a) professor(a) poderá propor as seguintes questões: a) em torno de quais atividades se desenvolve a economia local; b) quais os impactos dessa atividade econômica para o meio ambiente; c) como é o comércio nessa comunidade; d) se existe empresas nessa comunidade; e) qual o impacto dessas empresas para o meio ambiente; f) qual o impacto dessas empresas para as pessoas que moram no entorno; g) o que essas empresas oferecem para a comunidade onde elas estão inseridas; h) que necessidade as empresas têm de utilização de água em sua cadeia produtiva; i) como a água utilizada pelas empresas é devolvida para a natureza; h) se essas empresas oferecem equipamentos de proteção individual (EPIs) para seus funcionários. Diante dessa abordagem, espera-se que os(as) alunos(as) consigam levantar várias questões pertinentes ao saneamento básico e à comunidade onde estão inseridos. Sugere-se então que, para o fechamento dessa aula, o(a) professor(a) aborde novamente o conceito de saneamento básico e confronte com a Lei 11.445/07, oportunizando aos(às) alunos(as) a ampliação da compreensão sobre esse tema complexo, que é o saneamento básico, sempre contextualizando com a realidade dos(as) alunos(as). 57 Duração: 1 aula de 50 minutos Aula 2: a saúde coletiva e suas implicações relativas às políticas públicas Sugerimos que o(a) professor(a) comece essa roda de conversa aprofundando o conceito de saneamento básico. Nesse sentido, sugerimos que o(a) professor(a) faça comentários sobre a atual pandemia covid-19. A partir desse assunto atual e pertinente, o(a) professor(a) poderá introduzir o subtema dessa aula: saúde coletiva e políticas públicas. Acreditamos que seja relevante o comentário do(a) professor(a) a respeito do Sistema Único de Saúde (SUS) e das parcerias entre as esferas de governo para a implementação de políticas públicas. Nesse sentido, o(a) professor(a) poderá articular nessa aula o subtema saúde coletiva e políticas públicas. Então, por meio da roda de conversa, sugere-se que o(a) professor(a) proponha as seguintes questões: a) se existe ou não uma Unidade Básica de Saúde (UBS) na comunidade; b) se a atividade que movimenta a economia local traz riscos à saúde do trabalhador e/ou da comunidade; c) quais são os riscos do trabalhador quando está envolvido com essa atividade; d) se o trabalhador sabe dos riscos aos quais está exposto; e) se a comunidade tem consciência dos riscos aos quais está exposta; f) quais as possibilidades de a comunidade deixar de praticar essa atividade que movimenta a economia local; g) se a UBS tem um programa de atendimento para esse grupo de risco. 58 Assim como as aulas anteriores, o(a) professor(a) pode provocar os(as) alunos(as) à reflexão sobre suas responsabilidades para com a comunidade. O subtema políticas públicas, geralmente, oportuniza avaliar as três esferas de governo – municipal, estadual e federal – e, consequentemente, avaliar nossas escolhas enquanto cidadãos de direito. Por isso, nessa roda de conversa, sugere-se que o(a) professor(a) proponha as seguintes questões: a) onde deve ser depositado o rejeito das atividades econômicas desenvolvidas na comunidade; b) se existe, na comunidade, um lugar específico para esse rejeito; c) se esse rejeito impacta a saúde da comunidade; d) se esse rejeito pode ser aproveitado; e) se existe uma maneira de aproveitar esse rejeito na própria comunidade; f) a quem devemos nos dirigir para tratar desse assunto; g) se há alguma instituição na comunidade que visa às necessidades imediatas da própria comunidade. Ao final dessa aula, sugere-se que o(a) professor(a) faça um breve comentário sobre as audiências públicas. O(a) professor(a) poderá ainda salientar a importância das associações bem estruturadas nas comunidades, tais como associações de bairro e de classe trabalhista por exemplo, uma vez que, por meio dessas instituições, “as vozes” da comunidade se fazem mais fortes, para que sejam ouvidas pelo poder público. Vale ainda lembrar aos(às) 59 alunos(as) que é por meio de situações como as que expusemos aqui que conseguimos avaliar a qualidade do governo da nossa cidade. Sugerimos ainda que o(a) professor(a) proponha que os(as) alunos(as) se dividam em grupo de 5 a 6 pessoas. A formação dos grupos poderá ser orientada pelo(a) professor(a) ou poderá ficar a cargo dos(as) próprios(as) alunos(as), a depender da maturidade da turma. Entretanto o(a) professor(a) é quem pode orientar sobre a necessidade da permanência desses grupos durante as próximas 4 aulas. Momento 2: introdução às controvérsias sobre saneamento básico e direitos humanos Duração: 100 minutos Aula 3 e 4 (geminadas): exposição dos vídeos sobre saneamento básico e apresentação de fotos da comunidade a fim de contextualizar a realidade local/roteiro de entrevistasNesta aula, o(a) professor(a) poderá solicitar aos(às) alunos(as) que se agrupem de acordo com a orientação da aula anterior para que possam discutir sobre os vídeos e fotos que serão apresentados. As fotos escolhidas e apresentadas devem retratar situações da comunidade que possam remeter aos problemas de saneamento básico da região. Salientamos que as fotos da comunidade, escolhidas para serem apresentadas, deverão dialogar com a apresentação dos vídeos, com a intenção de instigar a 60 criticidade dos(as) alunos(as) e sensibilizá-los(as) para situações que violam direitos humanos referentes à qualidade ambiental e à preservação da saúde. A partir da organização dos grupos, o(a) professor(a) poderá usar o Datashow – recurso audiovisual para apresentar um vídeo sobre o tema central: saneamento básico. Aqui trazemos duas sugestões de vídeos disponibilizados no canal do Youtube®: “Água, saneamento e qualidade de vida” (https://www.youtube.com/watch?v=- Tka19Nf0CA) e “Globo Ecologia Rio+20 – Saneamento, o Básico inexiste” (https://www.youtube.com/watch?v=KujlJMZBKV8). Importante ressaltar que o primeiro vídeo sugerido tem a duração de 15 minutos e 45 segundos, e o segundo apresenta 19 minutos e 14 segundos de duração. Por isso, sugere-se que o(a) professor(a) faça novas buscas no canal para que possa encontrar vídeos que atendam ao perfil da turma e/ou que se mostrem mais adequados às condições socioambientais da comunidade onde os(as) alunos(as) estão inseridos. Depois da apresentação das fotos, sugere-se que o(a) professor(a) retome os temas discutidos nas aulas anteriores, orientando os grupos para que desenvolvam o roteiro da entrevista nessa aula. Acreditamos, ainda, que, nesse momento, seja importante o(a) professor(a) explicar que o produto dessa oficina será o roteiro da entrevista que poderá ser gravada em horário extraclasse, por https://www.youtube.com/watch?v=-Tka19Nf0CA https://www.youtube.com/watch?v=-Tka19Nf0CA https://www.youtube.com/watch?v=KujlJMZBKV8 61 meio de aparelho celular e também agendar uma data para a socialização dos vídeos gravados pelos(as) alunos(as). Então, cada grupo deve escolher um sujeito, uma instituição ou entidade da comunidade e gravar uma entrevista sobre os problemas de saneamento básico da comunidade, articulando-os a um dos subtemas estudados em sala de aula, como, por exemplo, economia, saúde coletiva ou políticas públicas Para atingir o propósito desta oficina, o(a) professor(a) precisa observar a posição de cada grupo e analisar o fundamento das argumentações de acordo com o subtema escolhido e, ainda, orientar sobre possíveis dúvidas de cada grupo. Salientamos, aqui, alguns tópicos que podem compor os roteiros das entrevistas, com o intuito de auxiliar o(a) professor(a) a nortear o trabalho dos(as) alunos(as): a) apresentação pessoal e explicação ao entrevistado de qual o propósito da entrevista, ou seja, que se trata de uma pesquisa estudantil sobre o saneamento básico da comunidade; b) indicação do nome da instituição entrevistada; c) atividade que o(a) entrevistado(a) exerce; d) registro de há quanto tempo o(a) entrevistado(a) exerce essa atividade; e) indicação do impacto econômico da atividade exercida pelo(a) entrevistado(a) na comunidade; f) opinião do(a) entrevistado(a) a respeito do saneamento básico da comunidade; g) indicativo de produção ou não de algum tipo de resíduo pela atividade que o(a) entrevistado(a) exerce; h) confirmação da 62 existência ou não de destino correto para o resíduo gerado por essa mesma atividade; i) seu impacto no saneamento básico local; j) existência ou não de danos à saúde individual ou coletiva provocados pela atividade em questão. Diante do exposto, sob a orientação do(a) professor(a), os grupos devem construir os roteiros das entrevistas a serem gravadas, abrindo espaço para as controvérsias pertinentes ao tema do saneamento básico. É importante que o(a) professor(a), ao encerrar essa etapa da oficina, demonstre a necessidade de se conhecer a complexidade de um determinado tema, para que se possa construir opinião com coerência e de forma fundamentada de acordo com a alfabetização científica. Duração: 100 minutos Aulas 5 e 6 (geminadas): socialização dos vídeos Esse é o momento de encerramento da sequência didática e cada grupo deverá apresentar a entrevista que foi gravada, de acordo com o roteiro construído na aula anterior: oficina de pré-produção de vídeos. Essa aula tem o objetivo de oportunizar um ambiente propício à solução de dúvidas e trocas de informações a respeito do saneamento básico local, possibilitando retomar questões que possam ter ficado pendentes durante a realização da SD. Dessa forma, o(a) professor(a) poderá esclarecer quais são os objetivos e, também, estabelecer as regras para a apresentação das 63 gravações por meio do Datashow. Sugerimos ainda que o(a) professor(a) proponha um café didático ou uma sessão cinema/pipoca para esse momento de socialização dos vídeos. Dessa forma, deve ser estabelecida, previamente, qual a contribuição de cada aluno(a) para esse evento. Pressupomos que o café didático, ou mesmo a sessão cinema/pipoca, deverá proporcionar um ambiente descontraído e prazeroso para que cada grupo ou aluno(a), de forma individual, possa ter oportunidade de fazer as ponderações sobre o material apresentado, como resultado dessa SD. Material de apoio: Bibliografia complementar ALBUQUERQUE, M.I.N. de. Uma revisão sobre as políticas públicas de saúde no Brasil. Recife: [s.n.], 2005.33 p. Disponível em: https://ares.unasus.gov.br/acervo/html/ARES/3333/1/2saud_so cie_polit_public_saud_2016.pdf. Acesso em: 23 jun.2020. BENEVIDES, M.V. Educação em Diretos Humanos: de que se trata? Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Etica/9_benevides.p df. Acesso em: 12 abr.2020. BLUME, B.A.; VIEIRA, J.P.B. Mobilidade urbana: o que o prefeito deve fazer. Disponível em:https://www.politize.com.br/saude- municipio-qual-a-responsabilidade/. Acesso em: 23 jun. 2020 BRASIL. Lei nº. 11.445, de 05 de janeiro de 2007. Estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico; altera as Leis nos 6.766, de 19 de dezembro de 1979, 8.036, de 11 de maio de 1990, 8.666, de 21 de junho de 1993, 8.987, de 13 de fevereiro de 1995; revoga a https://ares.unasus.gov.br/acervo/html/ARES/3333/1/2saud_socie_polit_public_saud_2016.pdf https://ares.unasus.gov.br/acervo/html/ARES/3333/1/2saud_socie_polit_public_saud_2016.pdf http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Etica/9_benevides.pdf http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Etica/9_benevides.pdf https://www.politize.com.br/saude-municipio-qual-a-responsabilidade/ https://www.politize.com.br/saude-municipio-qual-a-responsabilidade/ 64 Lei no 6.528, de 11 de maio de 1978; e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007- 2010/2007/Lei/L11445.htm. Acesso em: 10/06/2020. CARLOS, E. Saneamento básico ainda é artigo de luxo no Brasil. Disponível em: http://www.tratabrasil.org.br/saneamento- basico-ainda-e-artigo-de-luxo-no-brasil--portal-do- saneamento. Acesso em: 12 abr.2020 OPAS. FOLHA informativa-COVID-19 (doença causada pelo novo corona vírus). Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&vi ew=article&id=6101:covid19&Itemid=875. Acesso em: 23 jun.2020. LABORATÓRIO de tecnologias educacionais. Água, saneamento e qualidade de vida. Youtube. 10:47 min. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-Tka19Nf0CA. Acesso em: 15 jun.2020. SANARMED. Pandemias na história: o que há de semelhante e de novo na COVID-19, mar.2020. Disponível em: https://www.sanarmed.com/pandemias-na-historia- comparando-com-a-covid-19. Acesso em: 12 abr.2020. RODRIGUES, L. Conheça as 5 maiores pandemias da história. Revista Galileu, São Paulo, mar.2020. Disponível