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Teorias sobre Gagueira

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TEORIAS SOBRE A GAGUEIRA 
Afinal, qual a relação entre a gagueira/espasmofemia e o Sistema Nervoso Central? Existe uma variedade imensa de teorias que tentam explicar as possíveis causas da gagueira e quais áreas do cérebro podem estar associadas com esse quadro de disfemia.
Os primeiros trabalhos científicos voltados para a investigação da gagueira datam da década de 1920. Alguns desses estudos traziam uma visão mais fisiológica do quadro e outros apontavam que sua manifestação poderia estar relacionada com fatores genéticos. Em 1928, Orton e Travis levantaram a hipótese de que a gagueira poderia estar associada com uma disputa entre os dois hemisférios do cérebro. Essa teoria ficou conhecida como Teoria da dinâmica cerebral. 
Com base nisso, Travis e Bryngelson fizeram um experimento em 301 indivíduos gagos que se diziam destros, mas na realidade, eram naturalmente canhotos. Os pesquisadores associaram o fato a patogenia da gagueira. Isso pode ser visto no filme O Discurso de Rei, onde o personagem Bertie, o Duque de York e segundo filho do rei Jorge V, da Inglaterra, era canhoto, tendo sido forçado a escrever com a mão direita, desenvolveu a gagueira. 
Posteriormente, na década de 1940, a psicanálise traz outra perspectiva etiológica para o quadro, associada a ideia de neurose. Segundo Winnicott, a criança tem a fala como uma ferramenta de poder sobre quem está a sua volta. As primeiras palavras pronunciadas fazem com que todos olhem para essa criança, ou seja, ela se torna o centro das atenções. O gaguejar por volta dos três anos de idade, é uma forma de autogratificação e uma manutenção do poder exercido sobre os outros, já a gagueira tardia seria uma tentativa de retorno a fase da vida onde essa criança sentia que tinha controle e dominava todos que estavam a seu redor. Os psicanalistas indicavam psicoterapia para a reversão do quadro.
Segundo esta teoria, inclusive reforçada pelo filme, a análise de traços de personalidade e das interações entre pais e filhos poderiam estar associados à gagueira, o que pode ser visualizado na ênfase dada pelo protagonista Bertie ao lembrar que seu irmão era preferido por todos, inclusive pela babá, ressaltando que a babá dele não o alimentava corretamente, o que o fez desenvolver diversos problemas como estomacais e autoestima. 
Outra teoria surge nos anos 50, apoiada nos estudos do fonoaudiólogo americano Wendell Johnson. Ele era gago e tinha muita dificuldade em lidar com o problema. Baseado na sua própria experiência, Johnson levantou a hipótese de que a gagueira era um comportamento aprendido. Segundo ele, durante a infância - quando começou a manifestar a gagueira - a participação de um professor e de seus pais foi decisiva para que ele acreditasse que tinha um problema de fala, fazendo com que ficasse extremamente apreensivo com o que dizia. Para ele, esses episódios o levaram a produzir sua própria gagueira. 
Objetivando verificar a teoria do comportamento aprendido experimentalmente, Johnson e uma de suas alunas da graduação se juntaram para realizar um experimento muito polêmico. O estudo foi realizado em um orfanato com um grupo de 22 crianças, dentre elas, 10 eram gagas e as outras 12 não apresentavam nenhum problema na fala. O experimento consistia em dizer para as crianças gagas que elas não tinham nenhum problema de fala, com o intuito de verificar se o comportamento - que segundo a teoria de Johnson era aprendido – poderia ser desaprendido. Porém eles não pararam por aí, o experimento também tentou verificar se as 12 crianças que não apresentavam gagueira poderiam começar a manifestar o quadro caso lhes fosse dito que elas tinham uma péssima fluência e que estavam começando a manifestar sinais de gagueira. 
O resultado final foi extremamente negativo. As crianças gagas não pararam de gaguejar e aquelas que não tinham nenhum problema na fala não adquiriram gagueira, mas em contrapartida se tornaram retraídas, com dificuldade para se comunicar com outras pessoas e manifestando medo de emitir palavras. Esse estudo muitos anos depois rendeu um processo multimilionário movido por alguns dos participantes que se sentiram prejudicados pelo experimento.
Em 1991, Perkins, Kent e Curlee trabalham com a teoria de que a fala é o produto da interação e comunicação entre diversos sistemas neuropsicolinguísticos. O estudo propunha que quando acorre algum tipo de erro na comunicação entre esses sistemas o resultado é a manifestação de defluências. Segundo os autores, para que a defluência se torne gagueira é necessária uma pressão exterior que leve o indivíduo a iniciar, continuar ou acelerar a fala.
Ainda na década de 90, (POSTMA E KOLK, 1993) levantaram a hipótese de que a gagueira se manifestava por consequência de uma tentativa exagerada de corrigir erros da fala antes mesmo que esses erros fossem articulados, a teoria foi denominada de hipótese do reparo oculto. De acordo com os autores, “A detecção e correção interna de um erro obstrui a articulação simultânea de tal maneira que resultará em um evento de fala disfluente” (POSTMA E KOLK, 1993).
Todas as teorias citadas acima tiveram um papel importante na discussão sobre a gagueira, mas nos dias atuais uma das hipóteses mais aceitas na tentativa de desvendar os mistérios por trás do quadro vem sendo trabalhada pelo doutor em neuropsicologia Per Alm. Segundo ele existem muitos indícios de que os núcleos da base são os principais responsáveis pela manifestação da gagueira. Os núcleos da base são um conjunto de núcleos no cérebro que atuam como uma unidade funcional. Eles trabalham junto com outros órgãos do córtex cerebral na execução de funções motoras, cognitivas e motivacionais e são formados por um circuito de duas vias, uma direta e a outra indireta.
Segundo o autor a dopamina é o principal regulador das funções dos núcleos da base e as duas vias basais são “dominadas por tipos distintos de receptores dopaminérgicos, D1 vs. D2, resultando em efeitos diferenciados do neurotransmissor” (ALM 2006). Alguns estudos sugerem que quanto maior a quantidade de receptores dopaminérgicos D2, maior o risco de gagueira. 
Outro fator que sugere uma relação direta entre a gagueira e os núcleos da base é o fato de que a gagueira começa a se manifestar por volta dos 2,5 aos 3 anos de idade, apresentando um alto índice de melhora espontânea. “O único processo de desenvolvimento neurológico que parece se ajustar a esse padrão, com um pico aos 2,5-3 anos de idade, é o número de receptores dopaminérgicos nos núcleos da base” (ALM 2004 apud ALM, 2006). 
Um aspecto observado no filme O discurso do Rei demonstra que quando o personagem principal ficava nervoso os sintomas da gagueira se manifestavam com mais intensidade, segundo estudos, isso se dá em decorrência de que “os distúrbios motores dos núcleos da base caracteristicamente pioram durante estresse e tensão nervosa, e melhoram sob condições de relaxamento” Alm (2006).
Uma parte dos estudos de Per Alm se baseia no trabalho de Goldberg (1985, 1991) que propõe a teoria de que o cérebro humano é formado por dois sistemas motores, o pré-motor medial, que opera em paralelo com o sistema pré-motor lateral. Os núcleos da base fazem parte do sistema medial juntamente com a área motora suplementar (região responsável pela iniciação dos movimentos voluntários), enquanto que o sistema lateral é formado pelo córtex pré-motor lateral e o cerebelo. A partir da análise da teoria de Goldberg (1985,1991), o sistema medial seria responsável pela fala espontânea, transmitindo pensamentos ou emoções e se manifestando de maneira autônoma, enquanto que, o sistema lateral é ativado na fala controlada que trabalha em conjunto com um input sensorial - sinal externo - como quando o indivíduo canta ou lê em coro. 
É possível associar esse modelo com cenas do filme “O Discurso do Rei”, onde o personagem vivido pelo ator Colin Firth consegue falar cantando ou quando recita um trecho de uma das obras de Shakespeare sem gaguejar. Nesses episódios o sistema lateral foi dominante, conseguindo burlarde alguma forma o sistema medial e permitindo que a fala fosse expressa da maneira correta. 
Além do trabalho de Per Alm, um estudo realizado em 2017 no Hospital infantil de Los Angeles, nos EUA, trouxe outra hipótese para entender como a gagueira se manifesta. Para realizar a pesquisa foram recrutados 26 participantes com gagueira e 36 fluentes, depois de uma série de testes entre eles de QI e neuropsicológicos, os participantes foram submetidos a exames de ressonância magnética em repouso. Esse exame permitiu verificar que o fluxo sanguíneo regional cerebral (rCBF) na área de broca é reduzido em pessoas que gaguejam. Segundo o estudo, quanto menor o fluxo sanguíneo mais grave será o quadro de gagueira. 
DESAI et al. (2017) também pontuaram que:
“A redução do rCBF na região de Broca poderia, portanto, interromper o planejamento motor, o processamento fonológico e sintático e a recuperação lexical, levando à disfunção da fala. As correlações de gravidade se estendiam posteriormente para o tecido adjacente do fascículo arqueado, sugerindo que quando os distúrbios teciduais presentes na região de broca se estendem posteriormente para o fascículo arqueado, a função do circuito da linguagem piora para produzir sintomas mais graves. ” 
Assim, a área de Broca (Giro frontal inferior) – região identificada por Paul Broca em seus estudos com um paciente que sofreu uma lesão no lobo frontal - processa a fala e planeja a articulação da palavra, para que ela seja pronunciada de maneira correta e próxima ao modelo do adulto, além de acionar a resposta muscular da língua, da laringe e dos lábios – essenciais para pronunciar as palavras. Ao emitir frases, Wernicke (Giro Temporal) inicia o retorno das palavras, checando se elas soam de forma correta dentro da sentença, por se tratar de área de produção interpretativa. Entre essas duas áreas encontramos o fascículo Disponível em:http://cienciasecognicao.org/neuroemdebate/arquivos/1706 arqueado que é um conjunto de fibras nervosas responsável pela ligação e comunicação entre os dois sistemas. É importante destacar que o circuito da linguagem não se limita a essas regiões corticais. Estudos recentes com o uso de ressonância magnética funcional apontam que diferentes regiões dos dois hemisférios cerebrais tem uma participação importante na produção da linguagem. 
Outros estudos constataram que diversas áreas do cérebro auxiliam no processamento da fala, entre elas temos: O cerebelo, o córtex auditivo primário, o córtex visual primário, o hipocampo e o córtex pré-motor. (OLIVEIRA, 2013) aponta que “o cérebro trata a fala como algo que ouvimos, vemos e, inclusive, sentimos.”.
Referências 
ALM, P.A. Gagueira e Núcleos da base. Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/Per_Alm/publication/335110977_Gagueira_e_nucleos_da_base/links/5d514d0fa6fdcc370a8f0dff/Gagueira-e-nucleos-da-base.pdf. Acesso em 06 novembro 2020.
______. Um novo referencial para compreender a gagueira: o modelo pré-motor duplo. Departamento de Psicologia Experimental, Universidade de Oxford, Reino Unido. 2006.
BÜCHEL, Christian; SOMMER, Martin. O Que Causa a Gagueira? 2004. Disponível em: www.gagueira.org.br . Acesso em: 06 de novembro 2020.
DESAI, Jay. et al. Reduced Perfusion in Broca’s Area in Developmental Stuttering. Children’s Hospital Los Angeles, 2017.
LEFÈVRE, A.B. Considerações a propósito de dois casos de gagueira. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/anp/v3n4/06.pdf. Acesso em: 07 de novembro 2020.
OLIVEIRA, Ana Maria Roza de Oliveira Henriques de. As neurociências ao serviço da linguagem. L I N G VA R V M A R E N A - VOL. 4, 2013.
REYNOLDS, Gretchen. O Dossiê do “Estudo Monstro”. Nova York: The New York Times,2003.
RIBEIRO, Ignes Maia. Gagueira. 2003. Disponível em: https://books.google.com.br/books?hl=ptBR&lr=&id=HcVQT0kVa64C&oi=fnd&pg=PA17&dq=gagueira+ignes+ribeiro&ots=vehscqJScp&sig=8Wr22gOXt2wMk8_TxvLoMAgeTvc#v=onepage&q=gagueira%20ignes%20ribeiro&f=false . Acesso em: 06 de novembro 2020.
4MEDIC. Estudo descobre como o cérebro modula e controla a nossa fala! 2020. Disponível em: https://noticias.4medic.com.br/nossa-fala/. Acesso: 11 de novembro de 2020.
XINHUA. Estudo constata que o hipocampo do cérebro é associado a memória e a linguagem. 2016. Disponível em: http://portuguese.xinhuanet.com/2016-09/20/c_135700285.htm. Acesso em: 11 de novembro de 2020.
ARAUJO, Teo Weingrill. Apropriações da teoria psicanalítica nos textos iniciais de D. W. Winnicott. 2005. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-11382005000100005#:~:text=Os%20mais%20comuns%20s%C3%A3o%20a%20fala%20tardia%20e%20o%20gaguejar.&text=Os%20sintomas%20na%20fala%2C%20para,e%20com%20os%20sentimentos%20conflituosos. Acesso em: 11 de novembro de 2020.

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