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A RELEVÂNCIA PROBATÓRIA DA PALAVRA DA VÍTIMA

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Pelotas 
2019 
 
MÁRCIO ROBERTO FELICE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 A RELEVÂNCIA PROBATÓRIA DA PALAVRA DA VÍTIMA NOS 
PROCESSOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR 
CONTRA A MULHER PERANTE A LEI MARIA DA PENHA 
 
 
Pelotas 
2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 A RELEVÂNCIA PROBATÓRIA DA PALAVRA DA VÍTIMA NOS 
PROCESSOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR 
CONTRA A MULHER PERANTE A LEI MARIA DA PENHA 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado 
à Faculdades Anhanguera, como requisito 
parcial para a obtenção do título de graduado 
em Direito. 
Orientadora: Regiane Cremasco Molina. 
 
 
 
MÁRCIO ROBERTO FELICE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MÁRCIO ROBERTO FELICE 
 
 
 
 
 
 
 A RELEVÂNCIA PROBATÓRIA DA PALAVRA DA VÍTIMA NOS 
PROCESSOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR 
CONTRA A MULHER PERANTE A LEI MARIA DA PENHA 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado 
à Faculdades Anhanguera, como requisito 
parcial para a obtenção do título de graduado 
em Direito. 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pelotas, ____de _______________ de 2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico esta, bem como todas as minhas 
conquistas, à minha família. 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Agradeço à minha família que com todo o apoio e incentivo 
proporcionaram que eu chegasse até essa tão importante etapa da minha 
vida. 
 
A todos os professores do meu curso que foram imprescindíveis na 
minha trajetória acadêmica. 
 
 
FELICE, Márcio Roberto. A relevância probatória da palavra da vítima nos 
processos de violência doméstica e familiar contra a mulher perante a Lei 
Maria da Penha. 2019. 45 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em 
Direito) – Faculdade Anhanguera, Pelotas, 2019. 
 
 
RESUMO 
 
O propósito do presente trabalho tem como tema “a relevância probatória da palavra 
da vítima nos processos de violência doméstica e familiar contra a mulher perante a 
Lei Maria da Penha”, cujo objetivo é abordar a relevância do depoimento da mulher 
ofendida como fator probatório na busca da real verdade no processo penal 
brasileiro. Desta forma, propõe-se com embasamento em artigos, jurisprudências e 
doutrinas, elaborar uma análise, discussão e demonstrar uma problemática dessa 
forma de violência que, comumente, é exercida na inexistência de testemunhas ou 
outra forma de prova qualquer que venha a ser condescendente com a palavra da 
vítima, enfocando a valoração que é destinada a sua palavra, esta de maneira 
isolada ou frente ao conjunto probatório. Emprega-se o uso da pesquisa bibliográfica 
e a escolha do tema surgiu da conjectura de que a violência doméstica e familiar 
aferida à mulher tornou-se uma problemática social e de saúde pública, que engloba 
um grande número de mulheres, violentadas com base em qualquer relação íntima 
de afeto, onde o agressor convive ou conviveu com a vítima, imparcialmente de 
coabitação. Desta forma, também se analisa a conceituação de violência doméstica 
e familiar cometida contra a mulher, sua luta pela extinção desse tipo de violência, 
elegendo os principais aspectos inerentes e aprovados pela Lei Maria da Penha. Da 
mesma maneira, discorre-se acerca das provas no processo penal, enfatizando-se o 
valor que deve ser concedido às declarações relatadas pelas vítimas na busca de 
um processo sem qualquer forma discriminativa às mulheres buscando uma 
isonomia entre mulheres e homens no que se refere à violência. 
 
 
Palavras-chave: Violência doméstica e familiar. Lei Maria da Penha (11.340/06). 
Processos. Da palavra da vítima. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FELICE, Márcio Roberto. A relevância probatória da palavra da vítima nos 
processos de violência doméstica e familiar contra a mulher perante a Lei 
Maria da Penha. 2019. 45 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em 
Direito) – Faculdade Anhanguera, Pelotas, 2019. 
 
 
ABSTRACT 
 
The purpose of the present study is "the evidential relevance of the word of the victim 
in domestic and family violence against women before the Maria da Penha Law", 
whose objective is to address the relevance of the testimony of the offended woman 
as a probative factor in the search for real truth in Brazilian criminal proceedings. In 
this way, it is proposed based on articles, jurisprudence and doctrines, to elaborate 
an analysis, discussion and to demonstrate a problematic of this form of violence that 
is usually exercised in the absence of witnesses or other form of evidence that will be 
condescending with the word of the victim, focusing on the valuation that is destined 
for his word, is in an isolated way or in front of the probative set. The use of 
bibliographic research is used and the choice of topic arose from the conjecture that 
domestic and family violence against women has become a social and public health 
problem, which includes a large number of women, who are raped on the basis of 
any intimate relationship of affection, where the aggressor lives or lived with the 
victim, impartially of cohabitation. In this way, we also analyze the conceptualization 
of domestic and family violence committed against women, their struggle to 
extinguish this type of violence, choosing the main aspects inherent and approved by 
the Maria da Penha Law. In the same way, there is a discussion about the evidence 
in the criminal process, emphasizing the value that must be given to the statements 
reported by the victims in the search for a process without any discriminatory way to 
women seeking an equality between women and men, to violence. 
 
 
Keywords: Domestic and family violence. Maria da Penha Law (11.340 / 06). 
Proceedings. Of the victim's Word. 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 13 
 
2 A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR E A CRIAÇÃO DA LEI MARIA DA 
PENHA....................................................................................................................... 15 
2.1 A Lei Maria da Penha......................................................................................... 17 
2.2 A vitima conforme o Direito Penal Brasileiro...................................................... 21 
2.3 O agressor e seu perfil....................................................................................... 22 
2.4 A vítima e seu perfil............................................................................................ 23 
 
3 O PROCESSO PENAL BRASILEIRO E A TEORIA DA PROVA.......................... 25 
3.1 A valoração das provas.................................................................................... 26 
3.2 A prova documental.......................................................................................... 28 
3.3 A prova testemunhal......................................................................................... 29 
3.3 A prova da perícia.............................................................................................. 31 
 
4 A PALAVRA DA VÍTIMA E SUA RELEVÂNCIA NOS PROCESSOS DE 
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR.................................................................... 35 
 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................43 
 
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 46 
 
13 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
A violência, esta doméstica e/ou familiar cometida contra a mulher já é 
registrada há décadas, não sendo um fator atual, sendo que se mantém presente 
por todas as épocas da história da humanidade, atrelada às questões que enfatizam 
o poder da desigualdade entre as mulheres e os homens. 
É praxe no Brasil dizer-se que é notória uma cultura de discriminação quando 
envolve o gênero feminino, discriminação essa pertinentee percebida na sociedade 
e também na própria família, ditando uma regra de superioridade do homem perante 
a mulher, desencadeando assim um papel submisso desta, o que, acarreta sua 
afirmação como pessoa impedindo seu avanço em alguns sentidos. 
Assim, são recorrentes circunstâncias e notícias envolvendo abuso sexual e 
demais violências no Brasil envolvendo mulheres, estas na grande maioria dos 
casos, ocorrendo no espaço familiar, isto é, seus agressores fazem parte de seu 
circulo de convivência, e neste âmbito, a princípio com os homens dominando, usam 
a violência, mais especificamente a física, percebendo-se a partir disso um processo 
de manifestação de mulheres para que estas contradições historicistas sejam 
corrigidas. 
Em 1993, na Conferência das Nações Unidas que tratavam sobre Direitos 
Humanos, foi reconhecida formalmente a violência contra as mulheres, vista como 
uma maneira de violação dos direitos humanos. No decorrer, consagraram-se 
diversas Convenções/Tratados inseridos no Sistema Jurídico Brasileiro 
intencionando eliminar toda as maneiras de discriminação à mulher, baseando-se 
sobremaneira na Constituição da República, peculiarmente em seu Art. 1, inc. III, 
onde dispõe a fundamentação do amor próprio da pessoa humana. 
Com isso, se percebe que o Brasil envolveu-se num patamar civilizado de 
reconhecer a mulher como parte pertinente de direitos humanos, posicionando-se no 
mesmo patamar em relação aos homens, e assim, adotar métodos para prevenir, 
punir e desarraigar o abuso sexual bem como a violência doméstica e familiar contra 
as mulheres. 
Dessa maneira, neste trabalho de monografia, através de uma pesquisa 
bibliográfica, artigos, jurisprudências e doutrinas, realizado através de um método 
dedutivo e de procedimento técnico e documental, busca-se abordar uma análise 
 
14 
 
dos casos de violência doméstica e familiar que atormentava Maria da Penha Maia 
Fernandes juntamente com sua trajetória de lutas buscando eliminar esse tipo de 
violência ate a aprovação da Lei 11.340/2006, comumente conhecida como Lei 
Maria da Penha, que se tornou um instrumento de cunho legal coibindo e punindo a 
violência doméstica e familiar registradas contra as mulheres no Brasil, e a priori 
serão abordados alguns pontos significativos advindos da Lei, destacando-se que 
este estudo não pretende ser um fim em si mesmo, mas apresentar o intuito de 
fomentar a abordagem intencionando que a Lei possa cumprir com seu papel, 
assegurando às mulheres meios necessários para proteger e erradicar toda forma 
de violência, objetivando-se assim analisar alguns meios de provas pertinentes ao 
ordenamento penal brasileiro, abordando qual o valoração da palavra da vítima 
como a principal prova de crime afim de alcançar uma sentença condenatória. 
No primeiro capítulo aborda-se o surgimento da Lei Maria da Penha como 
resposta as diversas pressões sofridas pelas mulheres, logrando sucesso em 
diversos pontos, salientando que ainda que alguns pontos ainda sejam objetos de 
discussões no que refere-se a jurisprudência e a doutrina. 
No segundo capítulo discorre-se sobre a teoria da prova no processo penal 
brasileiro, juntamente com seu ônus probatório e sua valoração frente ao juiz, 
identificando os principais meios de provas empregados. 
Por último, disserta-se como a violência doméstica e familiar contra as 
mulheres, comumente cometidos sem testemunhas oculares, tirando partido da 
relação intima do âmbito familiar bem como da vulnerabilidade da vitima, abordando-
se sobre a relevância que possui a palavra da vitima como ferramenta probatória nos 
processos outorgados pela violência domestica e familiar contra as mulheres e sua 
posição jurisprudencial. 
 
 
 
 
15 
 
2. A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA FAMILIAR E A CRIAÇÃO DA LEI MARIA DA 
PENHA 
 
O simples fato de ser mulher desencadeia uma série de preconceitos e 
procedimentos ao longo da historia da humanidade, por isso, o direito concede o 
papel de permitir e assegurar a vida humana dentro de uma sociedade, e é através 
desse direito que se encontra a chance de reconhecer a igualdade da figura 
feminina frente à masculina, isto que as inúmeras formas de violência provêm das 
desigualdades vistas entre homens e mulheres. 
É perceptível que a violência contra as mulheres é vista como um fenômeno 
social preocupante e grave, sendo um problema de saúde pública que não só atinge 
as vítimas como também pessoas que com ela convivem, tais como pais, filhos, 
irmãos, etc. (LANGARO, et al., 2009) e, comumente esse tipo de violência é 
registrado em ambientes públicos ou privados, onde neste último na maioria dos 
casos, não há registro de testemunhas. 
Conforme aborda Cavalcanti (2007, p. 36), é constituído o ato de violência 
contra a mulher, [...] é qualquer conduta – ação ou omissão – de discriminação, 
agressão ou coerção, ocasionada pelo simples fato de a vítima ser mulher, e que 
cause dano, morte, constrangimento, limitação, sofrimento físico, sexual, moral, 
psicológico, social, político ou econômico ou perda patrimonial. 
Salienta-se que a violência contra a mulher aborda as relações de poder, 
historicamente, frente a desigualdade entre homens e mulheres, uma ofensa perante 
a dignidade humana que transpõe a sociedade, desconsiderando-se classe sociais, 
entre outros, desta maneira então, acabar com a violência contra a mulher é fator 
crucial para o seu desenvolvimento pessoal e social bem como sua plena 
participação em todas os âmbitos da vida (CAVALCANTI, 2007). 
Percebe-se nos tempos atuais que a cada dia as mulheres vêm 
demonstrando uma capacidade igual, mesmo até, superior à dos homens, mas 
mesmo assim ainda sofrem constantes agressões oriundas dos homens, e baseado 
nesse pressuposto cita-se Silva (2011, p. 31-32) onde descreve: 
 
[...] um crime bárbaro assolou a vida de uma mulher. Por duas vezes vítima 
de tentativa de homicídio por parte do marido, essa mulher reiteradamente 
denunciou as agressões que sofreu. Como nada acontecia ao agressor, 
quase concluiu que ele tinha razão de ter feito o que fez. A morosidade da 
 
16 
 
justiça somente aumentava sua indignação com os fatos, e quase vinte 
anos se passaram até a condenação final do agressor. A história toda foi 
tão absurda que instituições denunciaram o caso à Comissão 
Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados 
Americanos, que impôs multa a ser paga pelo Estado brasileiro à vítima. 
Além disso, pressionou o Brasil a cumprir as convenções e tratados 
internacionais que é signatário, desembocando na sanção da lei que trata 
sobre violência doméstica em 7 de agosto de 2006. Essa mulher é Maria da 
Penha Maia Fernandes, e em sua homenagem a Lei 11.340/2006 leva seu 
nome. 
 
 
É notória que a Lei Maria da Penha é uma proeza dos movimentos feministas 
que lutam pela eliminação, a prevenção e a punição da violência registrada contra a 
mulher, onde se verifica alto grau de impunidade face os fatos acontecerem em 
ambiente privado e íntimo, o que não permitia mensurar o tamanho do problema e, 
com isso percebia-se a banalização das circunstâncias e ocorrência de violência 
contra as mulheres, e, no decorrer dos tempos o estado brasileiro além de julgar os 
agressores deveria elaborar uma lei específica para proteger as mulheres que 
fossem vítimas de violência, coincidentemente pode-se citar que o agressor de Maria 
da Penha tentou matar-lhe inúmeras vezes e tais crimes estavam em vias de 
prescrever frente a perceptível morosidade da justiça brasileira. 
 Um marco para a legislação na mudança das normas jurídicas de proteção ás 
mulheres vítimas da violência doméstica e familiar, a Lei Maria da Penha veio para 
efetivar o §8º do Art. 226 da Constituição Federal, impondo ao estado a obrigação 
de “assegurar à família, na pessoa de cada um dos que a integram, criando 
mecanismos para coibir a violência, no campo de suas relações” e, através da Lei11.340/2006 criou-se o juizado de Violência Doméstica e Familiar, consagrando-se 
como um mecanismo mais favorável às mulheres vítimas de violência, através de 
uma série de medidas protetivas, primando pelas vítimas através de sua integridade 
física e psicológica, e sob este aspecto a referida Lei em seu Art. 22, disserta que: 
 
Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a 
mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao 
agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas 
de urgência, entre outras: 
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação 
ao órgão competente, nos termos da Lei nº. 10.826 de 22/12/2003; 
II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida; 
III - proibição de determinadas condutas, entre as quais: 
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando 
o limite mínimo de distância entre estes e o agressor; 
17 
 
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio 
de comunicação; 
c) freqüentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade 
física e psicológica da ofendida; 
IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a 
equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar; 
V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios. 
 
 A Lei em questão promulgou uma punição mais severa aos infratores, visto 
que em seu Art. 17, proíbe a substituição isolada da pena pelo pagamento de multa 
bem como a aplicabilidade de penas com pagamento de cestas básicas ou de 
indenização pecuniária, registrando ainda outro ponto que refere-se a assistência às 
mulheres vitimas dessa condição de violência, pois, conforme o Art. 9º. Da lei, as 
vitimas deverão ser inclusas em programas de apoio e assistência disponibilizados 
pelos governos Federal, Estadual e até mesmo o Municipal. 
 Analisando-se de uma forma geral, a Lei veio inovar os meios de proteção à 
mulher perante a violência sofrida, criando instrumentos na busca da redução das 
desigualdades historicistas, dispondo ás mulheres um aparato na busca de sua 
defesa. 
 Salienta-se ainda que, a violência doméstica e familiar é muito complexa 
ainda, perante até uma legislação mais especifica, gerando conseqüentemente, 
certas discussões justificadas por existirem muitas formas de agressão, pois a 
agressão física, por exemplo, deixa marcas visíveis, mas a psicológica não, e, na 
maioria das vezes essa ultima é muito mais danosa e difícil de comprovação e neste 
caso, a palavra da vitima é a maneira mais probatória e contundente. 
 A palavra da vítima não tem sido, na maioria dos casos, por si só suficiente 
para punir os infratores, sendo assim uma questão a ser abordada e tratada por 
todos os envolvidos nesse processo, para apurar-se o tipo de infração, correndo-se 
o risco de a lei tornar-se ineficaz em sua aplicabilidade perante casos específicos e 
reais. 
 
2.1 A Lei Maria da Penha 
 
 Com o princípio da Lei 11.340/2006, intitulada Lei Maria da Penha, criou-se 
mecanismos mais eficazes na busca de cercear a violência contra a mulher em seu 
ambiente doméstico e familiar, através de procedimentos criminais que alteram as 
18 
 
relações entre mulheres que são vitimas desse modo de violência e seus agressores 
(SILVA, 2011). 
 Conforme disserta Pasinato (2008), no decorrer dos tempos, a mulher tem 
enfrentado uma luta por seu espaço na sociedade livre dessas ocorrências, e nesse 
contexto vem objetivando-se reconhecer a violência doméstica cometida às 
mulheres como uma problemática social, e Cavalcanti (2007, p. 175) descreve que: 
 
[...] satisfazendo as expectativas das entidades de defesa dos direitos das 
mulheres e em cumprimento ao preceito do parágrafo 8 do art. 226 da CF, 
da Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação 
contra as mulheres e da Convenção Interamericana para prevenir, punir e 
erradicar a violência contra a mulher, a Lei Maria da Penha, 11.340-06, foi 
finalmente sancionada. A lei vem atender ao clamor contra a sensação de 
impunidade aos casos de violência doméstica e familiar praticada, contra a 
mulher. 
 
 Atualmente, a violência doméstica e familiar contra a mulher juntamente com 
a discriminação sofrida por essas vítimas tem alcançado índices relevantes se 
comparados ao sexo oposto levando-se em conta as distinções físicas e até mesmo 
por fatores culturais. 
 Frente a isso, a Lei Maria da Penha visa atingir o fim dessa violência e 
discriminação, onde em seu teor busca uma especial proteção ao gênero feminino, 
permitindo a desigualdade de tratamento entre homens e mulheres intencionando 
buscar a real igualdade de gênero no que se refere ao propósito de acabar com 
essa violência. 
 Atingida a igualdade entre mulheres e homens no que se refere à violência 
doméstica e familiar, esse comportamento não será eternizado, considerando-se a 
probabilidade igualitária entre os sexos, e sobre esse questionamento, Souza (2007, 
p. 38), ressalta que: 
 
[...] as medidas preconizadas na Lei Maria da Penha constituem políticas e 
ações afirmativas no sentido de possibilitar que em relação à questão da 
violência, as mulheres alcancem o respeito a sua dignidade enquanto seres 
humanos, bem como a almejada igualdade de condições em relação aos 
homens, estando, portanto, em plena consonância com os ideais insertos 
na Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988 (art.1º, inc. III; 
art 5º, incs. I e III e art. 226, § 8º). 
 
 
19 
 
 Conforme aborda Dias (2007, p. 103), a Lei Maria da Penha “cria mecanismos 
para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar, visando assegurar a 
integridade física, psíquica, sexual, moral e patrimonial da mulher”. 
 Ainda, conforme o que descreve Souza (2007, p. 38), registrou-se apreensão 
proveniente dos legisladores “[...] em estabelecer uma lista de condutas que 
considera como formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, a qual, 
embora extensa, não é exaustiva, de forma que outras condutas também podem se 
enquadrar nesse contexto”, e conforme o que estabelece o Art. 7º, da Lei Maria da 
Penha, definem-se as formas de violência doméstica ou familiar contra a mulher: 
(I) A violência física, 
(II) A violência psicológica, 
(III) A violência sexual, 
(IV) A violência patrimonial e 
(V) A violência moral (BRASIL, 2006). 
 Referente a primeira forma, percebe-se que “[...] a violência física, entendida 
como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal” (BRASIL, 
2006). Abordando ainda tal tipo de violência, Dias (2007) descreve que mesmo que 
registrada a agressão e que não resulte em marcas aparentes no corpo da mulher, o 
uso de força física para atingir o corpo ou a saúde da mulher determina vis 
corporalis, um termo utilizado para definir e demonstrar a violência física e, salienta-
se que: “Não só a lesão dolosa, também a lesão culposa constitui violência física, 
pois nenhuma distinção é feita pela lei sobre a intenção do agressor” (DIAS, 2007, p. 
46). Quanto à violência psicológica: 
 
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause 
dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e 
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas 
ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, 
constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância 
constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, 
exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe 
cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação. (BRASIL, 2006). 
 
 Ainda, abordando acerca da violência psicológica cometida contra a mulher, 
vale registrar a colocação de DIAS (2007, p. 48): 
 
20 
 
A doutrina critica a expressão violência psicológica, que poderia ser 
aplicada a qualquer crime contra a mulher,pois todo crime gera dano 
emocional à vítima, e aplicar um tratamento diferenciado apenas pelo fato 
de a vítima ser mulher seria discriminação injustificada de gêneros. Ora, 
quem assim pensa olvida-se que a violência contra a mulher tem raízes 
culturais e históricas, merecendo ser tratada de forma diferenciada, até por 
que não ver esta realidade é que infringe o princípio da igualdade. 
 
 Cabe ressaltar ainda (DIAS, 2007) que disserta que a violência psicológica 
está embasada nas relações desiguais de poder entre os sexos, considerando-se 
que, apesar de ser o indicativo de violência contra a mulher mais comum e com 
maior freqüência, é a menos denunciada, pois a mulher, na maioria das vezes, não 
se dá conta das agressões verbais, silêncios prolongados, tensões, manipulações 
de atos e desejos, etc..., que sofre e que também são violências que devem sim 
serem denunciadas e, é necessário observar que para configurar o dano psicológico 
não se faz necessária a realização de perícia e/ou a elaboração de laudo técnico, 
pois conforme Dias (2007), ao ser reconhecida pelo juiz a ocorrência da violência 
psicológica, cabendo conceder medida protetiva de urgência, a majoração da pena 
se impõe, podendo ser agravada. E, sobre a colocação III – Violência Sexual: 
 
III a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a 
presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, 
mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a 
comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a 
impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao 
matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, 
chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de 
seus direitos sexuais e reprodutivos (BRASIL, 2006). 
 
 Sobre todo esse contexto de abordagem a respeito, Dias (2007, p. 49) 
esclarece alguns aspectos que envolvem a violência sexual contra a mulher, 
expondo que: 
 
Os delitos equivocadamente chamados de contra os costumes constituem, 
às claras, violência sexual. Quem obriga uma mulher a manter relação 
sexual não desejada pratica o crime sexual de estupro. Também os outros 
crimes contra a liberdade sexual configuram violência sexual quando 
destinados a mulher: atentado violento ao pudor; posse sexual mediante 
fraude; atentado ao pudor mediante fraude; assédio sexual e corrupção de 
menores. Todos esses delitos, se cometidos no âmbito das relações 
domésticas, familiares ou de afeto constituem violência doméstica, e o 
agente submete-se à Lei Maria da Penha. Mesmo o delito de assédio 
sexual, que está ligado às relações de trabalho, pode constituir violência 
doméstica quando, além do vínculo afetivo familiar, a vítima trabalha para o 
agressor. 
 
21 
 
 
 Com relação à forma IV, a denominada violência patrimonial, a qual é 
registrada através de qualquer ato “[...] que configure retenção, subtração, 
destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos 
pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a 
satisfazer suas necessidades” (BRASIL, 2006), pois conforme DIAS (2007), além de 
essas condutas constituírem crimes, faz-se necessário argumentar que, se tais 
crimes forem efetuados à mulher com quem o agente mantém vínculo familiar ou 
afetivo, ocorre o agravamento da pena (DIAS, 2007). 
 Por último, encontra-se a violência moral, ou seja: “entendida como qualquer 
conduta que configure calúnia, difamação ou injúria” (BRASIL, 2006). 
 Sobre esse prisma, é praxe observar que esse tipo de violência ocorra 
indiscriminadamente, mas, em virtude de, na maioria das vezes, a vítima não tomar 
conhecimento, não se dá seguimento a denúncia, tampouco a punições. (DIAS, 
2007). 
 
2.2 A vítima conforme o Direito Penal Brasileiro 
 
 Ao conceituar-se “vítima”, na maioria dos casos percebe-se que é o de uma 
pessoa apta a sofrer qualquer tipo de conseqüência, e hoje são consideradas 
vítimas toda aquela pessoa física, prejudicada por ação ou omissão humana que 
constitua infração penal, entendendo-se assim, que vítimas são as pessoas que 
coletivamente ou individualmente, tenham sofrido danos, tais como lesões físicas, 
mentais, emocionais, etc. (SOUZA, 2014). 
 Conforme Oliveira (1999) considera-se vítima de crime “toda pessoa física ou 
jurídica e ente coletivo prejudicado por um ato ou omissão que constitua infração 
penal, levando-se em conta as referências feitas no conceito de crime pela 
criminologia”. 
 Ainda, Souza (2014) descreve que “o Sistema Penal Brasileiro adota o 
discurso da ressocialização do criminoso, sem ter maiores preocupações com a 
vítima, abandonada a sua própria sorte e essa postura discordava das diretrizes 
recomendadas pelo direito internacional, a partir da Declaração de 1948 e de vários 
tratados que lhe sucederam, mas apesar de alguns avanços percebidos nesta área, 
22 
 
a vítima ainda ocupa posição de desvantagem, onde seus interesses são relegados 
a um plano absolutamente secundário e sob á ótica do processo penal sua 
participação é restringida a prestações de declarações em juízo”. 
 Ainda, Souza (2014) aborda que se encontram no Código de Processo Penal 
brasileiro as expressões: vítima, ofendido, pessoa ofendida e lesado, utilizando 
vítima para caracterizar a vítima penal, ou seja, o sujeito passivo do delito. No Art. 
188, III, do Código de Processo Penal pergunta-se ao réu se conhece a vítima; o Art. 
240, ss. determina que seja feita uma busca domiciliar no intuito de proceder a 
apreensão de vítimas de crimes; o Art. 458 do Código de Processo Penal trata da 
suspeição do jurado em função de seu parentesco com a vítima. 
 Analisando Carvalho (2016), há o propósito de se devolver à vítima o seu 
direito retirado pelo Estado (quando tomou para si o direito desta), dentro dos 
moldes da justiça penal consensual, observando-se, portanto, a tendência de tornar 
a vítima sujeito do processo e privatização do processo penal. 
 Sob esta ótica, é praxe considerar-se que o correto seria criar políticas 
públicas que buscassem o bem estar social não só dos infratores, bem como das 
vítimas que, por vezes, não encontram nenhum apoio do Estado. 
 
2.3 O agressor e seu perfil 
 
Em grande parte dos casos registrados o homem é o agressor, mesmo 
existindo mulheres agressoras quando se trata da violência doméstica e familiar e 
mesmo existindo poucos casos em que as mulheres são protagonistas ativamente 
do crime, na maioria das vezes aparecem como vítimas da violência doméstica, 
configurando com isso uma predominante característica no agressor, o fato de ter ou 
manter algum relacionamento afetivo íntimo com a vítima, e a respeito Souza (2014, 
p. 19-20), disserta que: 
 
O agressor pode ser qualquer tipo de homem, desde o mais sério e culto ao 
menos favorecido. Porém, em maioria absoluta, os que mais violentam as 
mulheres são os mais cultos em que, aparentemente, é um homem acima 
de qualquer suspeita. Aparenta ser um cavalheiro, de reputação ilibada e 
idônea, tanto no seu ambiente social e de trabalho, não demonstrando 
nenhuma atitude violenta, esta que, só aparece dentro de casa. Geralmente 
quando a mulher que foi vítima da violência pede algum tipo de ajuda, 
alguns vizinhos não acreditam que este “homem cavalheiro”, tenha sido 
capaz de tal atitude, pois é difícil associar a imagem pública do homem 
23 
 
respeitável à do espancador. Do ponto de vista psicológico, esses homens 
têm uma insegurança muito grande em relação à própria virilidade, ao papel 
masculino. São muito possessivos e ciumentos, vendo então as mulheres 
como sua propriedade e não agüentam perder o controle sobre elas, 
descreve a psicóloga Ruth Gheler. Em geral, conforme o relatório final da 
Comissão Parlamentar de Inquérito que investigou a questão da violência 
contra a mulher no país, os agressores são filhos de pais excessivamenteautoritários e eles próprios foram vítimas de violência física na infância. 
 
 Observa-se que não existe um perfil característico de um homem agressor, 
desta forma não tem como a sociedade, de um modo geral, perceber ou registrar 
quem é um sujeito agressor ou não, e, apesar de ser difícil determinar razões e 
motivações que desencadeiam este tipo de violência, destaca-se que a maioria dos 
agressores sente uma necessidade de controle e dominação sobre sua vítima. 
 E ao analisar-se esse perfil de agressor comumente percebe-se um 
sentimento de poder frente à sua companheira e receio e medo de uma provável 
independência da mesma, e assim, os agressores liberam sua raiva em resposta ao 
fato de perceber que estariam perdendo a posição maioral de chefe da família 
(SOUZA, 2014). 
 Souza (2014), descreve que pesquisas demonstram que inexiste uma 
coincidência significativa quando relaciona-se idade, o nível social, a educação, 
tratando-se apenas de um grupo heterogêneo, e quando é configurada a violência 
doméstica praticada pela mulher, essa é estatisticamente sem expressão, visto 
segundo dados, ser inferior a 1% dos casos registrados. 
 Segundo pesquisas científicas, não há publicações retratando as patologias 
psiquiátricas dos agressores, mas é fato que os mesmos se dividem entre 
portadores de diversos tipos de transtornos como, transtorno explosivo de sua 
personalidade, de dependentes químicos e alcoólatras e, mesmo sendo uma 
característica marcante desses agressores, uma tendência à minimização de sua 
agressão e negação de um comportamento agressivo, muitos homens que batem 
em suas mulheres, afirmam na maioria das vezes que não praticam tais atos. 
 
2.4 A vítima e seu perfil 
 
 Estudos demonstram algumas padronizações de comportamento que 
sobressaem nos casos registrados de violência domestica e familiar, frisando-se que 
não á um padrão de vítima, pois comumente a violência se manifesta de maneira 
24 
 
reiterada, configurando um padrão de conduta continuado, onde tais agressores são 
normalmente homens, maridos, ex-maridos, companheiros ou ex - companheiros 
das vítimas. 
 Percebe-se que cidadãos que foram vítimas de maus tratos durante sua 
infância e adolescência, tendem a repassar esse comportamento desenvolvendo 
uma maior possibilidade de tornarem-se agressores e as agressões sofridas não são 
percebidas até um determinado período, salientando-se que a violência doméstica 
configura-se como uma violência física, psicológica, sexual, patrimonial ou até 
mesmo moral, onde as vítimas, na maioria das vezes, demonstram uma baixa auto 
estima, bem como vários problemas relacionados à saúde. 
 Conforme aborda Souza (2014), em grande parte das ocorrências as 
mulheres sofrem chantagem por parte de seus maridos ou companheiros e 
normalmente sedem às suas pressões, onde resulta na sua condição de sentirem-se 
incapazes de agir e por esse motivo estas vivem em pânico, necessitando de ajuda 
para perceber seu problema e buscar uma alternativa de resolução de tal condição, 
pois essa violência sofrida tem muitas conseqüências além de traumas e lesões 
corporais, pois se percebe que a violência doméstica esta sendo associada ao 
aumento de inúmeros problemas relacionados à saúde que gradativamente remete 
ao suicídio. 
 As situações que geram inúmeros traumas não estão muito explícitas na 
legislação, visto tratar-se de algo recente no País e o dano psicológico é oriundo 
através da ameaça à própria vida ou mesmo a integridade, a uma grave lesão física, 
a perda de alguém próximo e também o fato de expor-se ao sofrimento dos outros, 
ainda que não sejam próximos afetivamente (SOUZA, 2014). 
 Em estudos realizados envolvendo as vitimas de violência domestica e 
familiar, em grande parte, conforme Souza (2014) é vista uma união consensual, ou 
seja, o fato de possuir filhos com seus parceiros e o interessante é que na maioria 
das vitimas são constituídas por mulheres brancas, desbancando assim, a formação 
racial da sociedade brasileira e outro dado interessante é que em grande número 
das ocorrências de agressões são presenciados pelos filhos, bem como indicando a 
baixa renda das mulheres que são vitimas da violência doméstica e familiar. 
 Assim, em grandes centros, as estatísticas da violência doméstica e familiar 
são paralelas com as do interior do País, demonstrando que a violência é um 
25 
 
fenômeno social global que está presente em todos os países, independentes de 
desenvolvidos ou subdesenvolvidos e aqui no Brasil, essa violência está ligada à 
pobreza, ao baixo nível social e a condição de dependência das mulheres 
economicamente falando e o mais contundente é que o preconceito bem como a 
discriminação está na origem dessa violência contra as mulheres, e por esse fato, 
muitas delas sentem vergonha de admitir que um membro de sua família pratique 
violência, desencadeando com isso, o fato de não efetuar uma denúncia. 
26 
 
3. O PROCESSO PENAL BRASILEIRO E A TEORIA DA PROVA 
 
 A princípio deve-se relevar o papel do Direito Penal Brasileiro ao reconstruir-
se fatos alegados em uma inicial acusatória, cabendo analisar qual forma a 
produção das provas abrangem o item mais relevante dessa reconstrução, e desta 
maneira, Sousa e Silva (2008, p. 285) abordam que: 
 
Enquanto o processo penal pode ser entendido de forma simplificada sendo 
o meio pelo qual o Estado, através de uma série ordenada de atos, procede 
à reconstrução dialética dos fatos propostos na inicial acusatória, com vistas 
a determinar a viabilidade, ou não, de aplicação do jus puniendi, pode-se 
dizer que a prova se constitui no elemento mais importante dessa almejada 
reconstrução e da própria atividade processual, pois é através dela que se 
recria na mente do julgador como tais fatos ocorreram, dando-lhes 
indispensáveis subsídios a serem julgados, funcionando como a verdadeira 
alma do processo [...]. 
 
 Desta maneira, ao ocorrer uma infração penal, manifesta-se para o Estado o 
direito de punir, isto é, o intitulado jus puniendi e essa obrigação do Estado consiste 
na aplicação de uma pena contra quem praticou uma ação ou omissão causando um 
dano ou uma lesão jurídica a outrem, mas, para que este julgador venha a exercer 
seu papel formando seu conhecimento, é necessário elucidar e reconstruir os fatos 
através da colaboração das partes pertinentes. 
 Na conjuntura processual, na verdade, essa construção, conforme Nicolitt 
(2013) está plenamente atrelada à produção e efetivação de provas e certificando 
essa colocação Capez (2013) disserta que as provas são os olhos do processo, visto 
que são atos praticados pelas partes envolvidas, pelo juiz e ainda por terceiros, 
buscando convencer o magistrado a respeito da veracidade ou falsidade de uma 
afirmação, da existência ou não de um determinado fato e, além disso, são capazes 
de influir no poder decisório do processo, na responsabilidade penal bem como na 
fixação da pena ou medida de segurança, ocasionando assim uma adequada 
comprovação em juízo. 
 Já conforme aborda Greco Filho (2010), de nada resolve o fato de haver 
suspeita de que alguém violou a lei criminal, se o fato dessa suspeita não passar de 
uma opinião interior e torna-se necessário encaminhar até aos autos a prova 
substancial dos elementos necessários à condenação. Desta maneira é mais crucial 
para a atividade das partes envolvidas a demonstração dos fatos do que a 
 
27 
 
interpretação do direito por si só, porque esta compete ao juiz, ao passo que os fatos 
a ele devem ser trazidos e em se tratando de um Estado de Direito Democrático e 
Social é de se aguardar que a justiça seja cumprida por meios processualmente 
válidos e verdadeiramente controláveis que vá garantir ao julgador a certeza de sua 
decisão, principalmente, quando motiva processo condenatório. 
 Desta forma, o direito penal regulamenta os meios de prova, que são as 
ferramentas que fornecemos elementos de prova aos autos, isto é, o magistrado 
não forma a sua opinião através da prova pericial, prova testemunhal, dos 
questionamentos ao ofendido, da prova documental ou outro meio de prova aceito, 
mas de fato, pelo conteúdo retirado desses meios de prova como, por exemplo, 
laudo ou depoimento. 
 Conforme disserta Sousa e Silva (2008), a prova constitui o resultado da 
pesquisa a respeito dos fatos com relevância processual, atrelada à observância do 
devido processo legal, de posse de um conteúdo que seja útil na constituição da 
livre convicção do órgão julgador, isto é, a conceituação de prova ligada ao resultado 
e não a atuação ou meio que se permite o processo na investida de buscar o 
conteúdo probatório. 
 
3.1 A valoração das provas 
 
 O sistema adotado pelo Brasil para valorar as provas é o livre convencimento 
motivado ou a persuasão racional, e através disso é fornecido ao julgador uma 
grande margem de arbítrio, oportunizando a esse valorar livremente as provas 
conforme sua pessoal convicção, e esse sistema está afamado no Artigo 155 da 
Constituição Federal: 
 
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova 
produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão 
exclusivamente nos elementos colhidos na investigação, ressalvadas as 
provas cautelares, não repetitíveis e antecipadas. 
 
 A interpretação desse artigo remete a um suposto raciocínio desacertado: se 
constitui a impossibilidade de uma condenação baseada rigorosamente nos 
elementos de convicção do inquérito policial, há a possibilidade de utilizar-se outros 
elementos concomitante com as provas processuais 
28 
 
 Deve ser combatida tal explanação, conforme Dezen (2017) visto que a prova 
não deve ser embaralhada com os elementos de convicção, estes nunca utilizados, 
mesmo que a interpretação o permita, concomitantemente com as provas para 
buscar a condenação e se utilizados demonstra que a prova não teve teor suficiente 
visando a condenação e nesse caso o acusado tem direito à absolvição. 
 Por outro lado, não reflete somente a opinião do juiz em uma decisão judicial 
e a respeito, Lopes Jr. (2009) disserta que todas as provas são relativas e nenhuma 
delas oferece maior credibilidade do que a outra, e cabe ao juiz promulgar a 
valoração correta, não devendo submeter-se a interesses econômicos, políticos e 
até diante da vontade da maioria, mas deve ater-se ao aspecto democrático, que o 
legitima, enquanto depositário da eficácia do sistema garantido pela Constituição. 
 Desta maneira, ao abordar-se o Estado Democrático de Direito, pode-se 
também citar que ao juiz não cabe realizar juízos de valor ou desvalor, ao 
considerar-se sua preferência sexual, religiosa, estado civil, profissão etc., isto é, a 
prova não deve ser substituída em sentido jurídico pela prova em sentido moral e 
complementando conforme Lopes Jr. (2009) o mesmo cita que a determinação do 
juiz somente é legitima quando alicerçada na prova produzida no processo, o que 
significa uma limitação ao que está nos autos e que lá tenha regularmente 
ingressado, mas não bastando somente estar no processo, é preciso que se 
resguarde da qualidade de “ato de prova”, isto é, aquela adquirida na fase 
processual, com total observância do princípio da jurisdicionalidade. 
 Ainda, não poderá o juiz compor sua decisão baseado no silêncio do 
acusado, ou seja, não deverá presumir culpado o réu ou aplicar-lhe qualquer juízo 
de desvalor por estar exercendo um direito de não produzir a prova contra si mesmo, 
onde o princípio ao nemo tenetur se detegere acaba por ser um significante limite ao 
ato decisório e para tal, Lopes Jr. (2009) comenta que é essencial para a natureza 
do processo de acusação que o convencimento do juiz deva se formar a partir do 
que lhe é trazido, isto é, é cabível às partes trazer-lhe as informações e os 
elementos de concepção e não a ele buscá-los, e, um juiz consciente não pode 
transgredir a dinâmica do processo, devendo ele respeitar o tempo da acusação, da 
defesa, da prova e da própria maturação do ato decisório, ele deve experimentar as 
teses acusatórias e defensivas sob os teores da prova trazida, desviando de pré-
29 
 
julgamentos, guardando o ato decisório, de eleição das teses apresentadas, para o 
correto momento. 
 Endossando, deve haver sempre uma dúvida oriunda do juiz e este nunca 
deixar-se seduzir pela “sua” experiência de vida, visto que, como discorre Lopes Jr. 
(2009), o livre convencimento é, na verdade, muito mais limitado do que livre, e 
desta forma deve sê-lo, pois se está tratando de poder e, na ciranda democrática do 
processo, todo poder tende a ser abusivo, devendo por isso haver controle. 
 
3.2 A prova documental 
 
 A prova documental no CPC atual vem especificada em seus Artigos 405 a 
441, e a princípio a doutrina conceitua documento como qualquer coisa que possa 
expor a configuração de um fato, destinado a estabilizá-lo permanentemente e de 
forma idônea perante o juízo. 
 Conforme Nicollit (2013) considera-se prova documental qualquer substancial 
que possa demonstrar/representar um fato, isso relacionado a papeis escritos 
públicos ou particulares, mas num âmbito maior são considerados também objetos 
como revolveres, facas e/ou outros que demonstrem ou representem a ocorrência de 
um fato. 
 Conforme comenta Greco Filho (2010) para um documento ser considerado 
valor de prova o mesmo deve ser autentico, isto é, deve estar integro materialmente 
e ser veraz, pois além de ser integro quanto sua materialidade, o mesmo vem a 
retratar a verdade. 
 Em síntese, para Nicollit (2013) a prova em forma de documento pode ser 
anexada em um processo em qualquer de suas fases, obrigatoriamente dando 
ciência à parte contraria visando garantir o contraditório, mas existem algumas 
exceções como no caso do plenário do júri, onde a divulgação ou leitura de 
documento somente serão admitidas se estas tenham sido juntadas ao auto com no 
mínimo três dias de antecedência. 
 Por outra ótica Greco Filho (2010) coloca que em casos de documento 
redigido em língua estrangeira, caso necessário, o mesmo deverá ser traduzido por 
um tradutor público ou alguma pessoa indicado pelo juiz, não ocorrendo assim 
nenhum contratempo na sua juntada aos autos. 
30 
 
 Conforme o artigo 5º da Constituição Federal que presume a inviolabilidade 
das correspondências interceptadas ou advindas através de meios ilícitos, estas no 
caso, não serão aceitas em juízo. Para tal, Nicolitt, (2013, p. 405) disserta que: “O 
sigilo é referente à correspondência, que só existe enquanto sai da esfera do 
remetente e ingressa na esfera do destinatário, ou seja, a proteção se refere ao 
processo comunicativo. Após a entrega da respectiva carta, esta se consolida a 
natureza jurídica de documento”. 
 Reforçando esse contexto, Tourinho Filho (2010) enfatiza que se tratando da 
defesa do direito do destinatário, poderão ser exibidas em juízos as cartas mesmo 
que sem a devida autorização do signatário; 
 É fato também que se registram ocorrências de documentos passarem 
despercebidos pelas partes, nesse caso, cabe ao juiz tomar ciência destes e 
providenciar a juntada dos mesmos aos autos. 
 
Art. 234. Se o juiz tiver notícia da existência de documento relativo a ponto 
relevante da acusação ou da defesa, providenciará, independentemente de 
requerimento de qualquer das partes, para sua juntada aos autos, se 
possível. (BRASIL, 1941). 
 
 Da mesma forma, ainda escreve Tourinho Filho (2010), pode o juiz ordenar a 
busca e apreensão de documentos e, no caso de documentos de posse do defensor 
do acusado, o juiz somente poderá determinar o processo de busca e apreensão se 
formular elemento do corpo e delito e, no caso de documentos que revelam segredo 
profissional, as autoridades devem compreender que a negação é irrelevante para 
determinar a apreensão e, não havendo motivorelevante para a estadia dos 
documentos no processo, os mesmos poderão ser entregues à parte que os gerou, 
mediante requerimento desta e ouvindo-se o Ministério Público. 
 
3.3 A prova testemunhal 
 
 A prova testemunhal dentro do processo penal tem significativo valor 
baseando-se na palavra da testemunha e conforme Tourinho Filho (2010) o mesmo 
elucida que a palavra testemunha é derivada de testibus, o que significa dar fé da 
veracidade de certo fato, bem como que testemunho vem a ser uma declaração 
positiva ou mesmo negativa, da verdade promulgada perante o magistrado penal por 
31 
 
determinada pessoa (no caso a testemunha) diferenciada dos demais principais 
sujeitos do processo. 
 De acordo com Menna (2007) o conceito de testemunha vem a ser: 
 
É a pessoa física capaz, independente de condição econômica, raça, 
religião ou sexo, que pode depor, desde que não esteja no rol das pessoas 
suspeitas ou impedidas. Não se confunde com uma das partes do processo, 
pois não pode ter qualquer interesse na demanda. Sendo devidamente 
intimada, não prestar seu depoimento, poderá, dependendo do caso, ser 
coercitivamente conduzida a juízo para as declarações necessárias, para a 
comprovação da verdade dos fatos alegados. 
 
 Ao conceituar-se a prova testemunhal, conforme Souza (1998), ela é 
elaborada por oralidade e pessoalidade, e é somente considerada verdadeira sua 
prova testemunhal se a mesma for realizada em juízo. Na ausência de um juiz 
presenciando esse ato de oralidade, inexiste do que se falar em prova testemunhal. 
 Ainda, Gonçalves (2013) descreve que: 
 
A testemunha tem valor considerável no processo brasileiro. Seu valor é 
definido de acordo com a relevância de sua participação ou conhecimento 
dos fatos. Mas há restrições e todo o procedimento para obter tal prova. Em 
outras palavras, a prova testemunhal continua sendo fundamental, o juiz 
dará o valor que merecer, em comparação com os demais elementos de 
afirmação, observando o livre convencimento motivado. 
 
 É dever da testemunha dizer a verdade, pois seu depoimento não apresentar 
como escopo um favorecimento para a parte por ela arrolada, e é seu dever vir a 
juízo somente para a narrativa da verdade a respeito daquilo que tem conhecimento, 
devendo ser imparcial, visto correr o risco de responder pelo crime de falso 
testemunho conforme o Art. 342 do Código Penal. 
 Quanto ao requerimento da prova testemunhal, deve o autor requerer esta na 
inicial, bem como o réu, na contestação, mas uma eventual omissão não 
desencadeia o fato da perda de ser requerida oportunamente, visto que o autor é 
conhecedor dos fatos controversos após a resposta do réu, bem como se será 
necessária a prova testemunhal. 
 De acordo com Tourinho Filho (2010), a testemunha não deve fazer 
conjunturas pessoais em seu depoimento, e cabe à autoridade indeferir a 
formulação das perguntas pelo que se refere a apreciações pessoais e, quanto a 
sua objetividade Nicolitt (2013, p. 400) complementa que “[...] a testemunha deve 
32 
 
pautar-se por objetividade, devendo falar sobre o que viu, ouviu ou de qualquer 
forma percebeu pelos sentidos, não lhe sendo permitido emitir opiniões ou juízo de 
valor”. 
 Quanto às restrições para ouvir um testemunho, qualquer pessoa pode ser 
ouvida como testemunha, mas existem três fatores que podem impedir esta de ser 
ouvida, dispostos no Art. 405 e parágrafos do Direito Processual Civil, a 
Incapacidade no Parágrafo 1º, o Impedimento no Parágrafo 2º e a Suspeição no 
Parágrafo 3º. Consideram-se suspeitos, de acordo com Direito Processual Civil a 
pessoa que já tenha sido condenada frente ao crime de falso testemunho; quem não 
for digno de boa fé; quem for amigo íntimo ou mesmo inimigo; e quem tiver algum 
interesse no litígio e no caso de testemunhas impedidas encontram-se o cônjuge e 
os parentes, a serem considerados até terceiro grau; quem for parte, no caso de 
litisconsórcio (fenômeno processual que consiste na pluralidade de partes em uma 
lide) uma parte testemunhar para comprovar fatos alegados; e também aquela 
pessoa que pode intervir em nome da parte (curador, tutor e/ou mandatário). 
 Em outros tempos, um único depoimento não desencadearia a condenação 
do réu, mas atualmente, vigorando o livre convencimento motivado, é provável e 
possível que um único depoimento, frente a sua firmeza, a sua coerência e sua 
precisão, venham a possibilitar uma credibilidade para argumentar a decisão do juiz 
e o valor do depoimento deve ser considerado por seu conteúdo, não rotulando a 
qualidade que por ventura venha a lhe ser auferido. 
 Assim, de acordo com Moreira (2015), o juiz, perante o sistema do livre 
convencimento, poderá vir a valorar a prova da testemunha à luz das demais provas 
elaboradas, importando realmente não o numero de testemunhas, mas sim a 
credibilidade de quem depõe juntamente ao critério a ser logrado pelo julgador. 
 
3.3 A prova da perícia 
 
 Denomina-se pericia o exame sobre a prova, seja este em forma de 
documento escrito, uma arma ou até mesmo um cadáver e de acordo com Nicolitt 
(2013) esse levantamento é efetuado por pessoas que tenham conhecimentos 
científicos, artísticos, técnicos ou mesmo prática a respeito de objetos, fatos, 
33 
 
condições pessoais ou circunstancias objetivas que se tornem importantes para do 
crime juntamente com sua autoria. 
 Conforme Tourinho Filho (2009) considera-se o perito um auxiliar da justiça, e 
perante a análise do exame que é produzido pelo mesmo, obtêm-se declarações 
que podem ser prestadas em juízo, mas suas narrativas serão consideradas 
componentes subsidiários ao valorar a prova perante o juiz, desta maneira, a perícia 
não consiste um meio de prova, mas sim um estudo aprimorado acerca de uma 
prova. 
 No que se refere ao exame de corpo de delito, este vem a ser o estudo que é 
feito sobre o “corpo de delito”, sendo este último relevante como um meio de prova, 
por constituir o conjunto de vestígios materiais ou algum elemento oriundo do fato 
criminoso. (NICOLITT, 2013) 
 Ainda, Nicolitt (2013) descreve que o cadáver vem a ser o corpo de delito, 
bem como que o exame cadavérico vem a ser o exame de corpo de delito, deste 
modo, o exame de corpo de delito tem o objetivo de encontrar subsídios para vir a 
valorar o meio de prova alcançado que é o corpo de delito, e este exame de corpo 
de delito vem a ser indispensável em crimes que configuram vestígios, sendo este 
direto ou indireto. 
 A realização do exame de corpo de delito é feita quando o crime por si só 
deixa rastros ou algum vestígio material, desta forma sendo realizado diretamente 
sobre o corpo de delito, e o exame indireto de corpo de delito é feito quando se 
apresentam outros meios de provas para realizar-se tal exame, tais como 
fotografias, relatos ou até mesmo documentos médicos. (NICOLITT, 2013) 
 A respeito dessas circunstâncias, o Código de Processo Penal, prevê: 
 
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de 
corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do 
acusado. 
[...] 
Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem 
desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta. 
(BRASIL, 1941) 
 
 Desta maneira, toda vez que são encontrados vestígios deixados por um 
crime, será efetuado o exame de corpo de delito direto, e não sendo possível tal 
procedimento, será feito de forma indireta, e, caso houver alguma inviabilidade do 
34 
 
exame indireto, a prova testemunhal poderá guarnecer o exame de corpo de delito, 
mas o juiz não poderá dar sua conclusão por materialidade do delito 
fundamentando-se somente na confissão, o que vem a ser exigido nesse caso, um 
reforço através do exame de corpo de delito indireto. 
 
Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por 
perito oficial, portador de diploma de curso superior. 
§ 1ºNa falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas 
idôneas, portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área 
específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a 
natureza do exame. 
§ 2º Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e fielmente 
desempenhar o encargo. 
§ 3º Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao 
ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação de quesitos e indicação 
de assistente técnico. 
§ 4º O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após a 
conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais, sendo 
as partes intimadas desta decisão. 
§ 5º Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes, quanto à 
perícia: 
I - requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para 
responderem a quesitos, desde que o mandado de intimação e os quesitos 
ou questões a serem esclarecidas sejam encaminhados com antecedência 
mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as respostas em laudo 
complementar; 
II - indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pareceres em prazo 
a ser fixado pelo juiz ou ser inquiridos em audiência. 
§ 6º Havendo requerimento das partes, o material probatório que serviu de 
base à perícia será disponibilizado no ambiente do órgão oficial, que 
manterá sempre sua guarda, e na presença de perito oficial, para exame 
pelos assistentes, salvo se for impossível a sua conservação. 
§ 7º Tratando-se de perícia complexa que abranja mais de uma área de 
conhecimento especializado, poder-se-á designar a atuação de mais de um 
perito oficial, e a parte indicar mais de um assistente técnico. 
[...] 
Art. 176. A autoridade e as partes poderão formular quesitos até o ato da 
diligência. (BRASIL, 1941). 
 
 De acordo com Nicolitt (2013), é cabível aos peritos responder os 
questionamentos formulados pelo juiz bem como pelas partes acerca do objeto do 
exame, mas caso a perícia vir a ser determinada na fase do inquérito os quesitos 
serão formulados pela autoridade policial e grande números desses exames não são 
repetíveis, necessitando encaminhamento ao contraditório durante o processo, e, 
essa formulação de quesitos relacionada a estas provas será pertinente, por parte 
da defesa, mesmo durante a fase do inquérito. 
 A consolidação da prova pericial de forma escrita é feita em um laudo pericial 
que descreverá a conclusão do exame bem como das respostas aos quesitos: “Art. 
35 
 
182. O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou 
em parte.” (BRASIL, 1941). 
 E, frente o princípio do livre convencimento do juiz, ao mesmo é concedido o 
direito de liberdade para a analise do conjunto probatório, cabendo-lhe aceitar ou 
não, em parte ou no todo o resultado da perícia, e desta forma, não oferece um 
vinculo o valor probatório da pericia, mas, não pode o juiz exercer a função de perito, 
ocorrendo com isso a determinação de novo exame e não ocorrendo um julgamento 
diante da rejeição do laudo. 
 
4. A PALAVRA DA VÍTIMA E SUA RELEVÂNCIA NOS PROCESSOS DE 
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR 
 
 Com a criação da Lei Maria da Penha foi inserida no universo fático, uma 
metodologia que busca a igualdade na relação homem e mulher, através de uma 
luta consideravelmente marcada por inúmeras injustiças e, ao colocar a mulher 
como uma figura que merece proteção, foi desencadeado um cenário onde as 
vitimas tivessem a opção de defender-se, através dos meios jurídicos necessários e 
disponíveis para garantir sua integridade e dignidade. 
 Medidas protetivas foram criadas, bem como delegacias da mulher, entre 
outras opções, oferecidas para àquelas mulheres que são vitimas da violência 
domestica, bem como veio a ser disponibilizado a impossibilidade de suspensão 
condicional do processo, do termo circunstanciado, da transação penal e da 
reparação civil de danos, todavia, bastante conveniente é o debate a respeito da 
possibilidade de ser considerada somente a palavra da vitima ao buscar-se a 
condenação do réu, pois a Lei Maria da Penha resulta de uma batalha histórica em 
função da decorrência da violência sofrida pela mulher e por vezes tal violência não 
deixa marcas físicas, sendo a palavra da vítima a única prova contundente de toda 
uma historia de violência sofrida. 
 Atualmente, grande parte da doutrina e jurisprudência considera a 
contingência de uma condenação envolvendo a palavra da vítima, e certos autores 
afirmam que, em alguns casos criminais, a palavra da vitima oferece um valor de 
fundamental importância para esclarecer fatos e efetivar a condenação do agressor, 
 
36 
 
considerando-se principalmente quando não existe prova alguma no processo que 
venha a corroborar as versões apresentadas. 
 Conforme Lopes Jr. (2009, p. 637) definir o papel da vítima no processo penal 
na maioria das vezes representa um papel muito complexo e difícil, desta forma o 
autor explica que: “Se de um lado pode ela ser portadora de diferentes tipos de 
intenções negativas (vingança, interesses escusos, etc.), que podem contaminar o 
processo, de outro não se pode deixá-la ao desabrigo e tampouco negar valor ao 
que sabe”. 
 Desta forma, a valoração probatória da palavra da vítima representa um fato 
problemático, onde a princípio a mesma participando do ato criminoso está 
contagiada pelo caso penal e isso tende a desencadear interesses múltiplos por 
parte desta, sejam estes em beneficio do réu, pode-se citar, por medo, por exemplo, 
ou até mesmo a prejudicá-lo, como por exemplo, através da vingança, e a respeito 
Lopes Jr. (2009) atenta para o fato de a vítima não prestar sua responsabilidade em 
falar a verdade estará abrindo precedente para mentiras que podem prejudicar um 
provável inocente (réu). 
 O autor Nucci (2011, p. 457) demonstra sua defesa nesse tipo de condenação 
ressaltando que “a palavra isolada da vítima, sem testemunha a confirmá-la, pode 
dar margem à condenação do réu, desde que resistente e firme, harmônica com as 
demais circunstâncias colhidas ao longo da instrução” e sob a mesma ótica Martins 
(1996, p. 117), no mesmo sentido afiança que: 
 
A vítima, por ter sido atingida pelo fato, portanto dele participado de alguma 
forma, pode esclarecer pontos relevantes, advindo do seus informes, 
mormente nos crimes sexuais – praticados, via de regra, a descoberto de 
testemunhas -, os dados que permitem o julgamento. 
 
 Conforme cita Oliveira (2012, p. 425), “Semelhante conclusão assume 
relevância ainda maior no que se refere aos chamados crimes contra a dignidade 
sexual, quando a palavra da vítima é sempre de capital importância, para fins de 
condenação.” Nesses casos as declarações do ofendido, baseado em alguns 
conceitos mais modernos, tendem sim efetivar uma condenação, observando-se 
necessariamente que, a proteção oferecida à vítima não condiz com sua realidade e 
a possibilidade de condenação com a falta de produção de qualquer prova para 
ratificar essa versão demonstraria um fato de injustiça frente ao réu. 
37 
 
 Percebe-se em uma analise mais criteriosa que tais atos geram uma 
marginalização acentuada do provável ofensor, com isso, não configurando uma 
defesa efetiva dos réus, ao aceitar-se que tal palavra tem fator relevante, estar-se-ia 
desencadeando a inversão do ônus para que o réu produzisse provas em sua 
defesa, desobrigando a vítima e desta forma, é inevitável mencionar que, da mesma 
maneira que existe certa dificuldade para a vítima para a elaboração da prova, já 
que tais fatores ocorrem em ambientes fechados, se esses fatos forem imputados 
baseados em inverdades ao réu, também será difícil adquirir provas defensivas, indo 
contrário assim ao princípio da isonomia e da proporcionalidade, tão benquisto pelo 
ordenamento jurídico. 
 Ao analisar-se a Jurisprudência, percebe-se que a mesma vislumbra 
majoritariamente visando a possibilidade de condenaçãoconsiderando somente a 
palavra da vítima: 
 
PALAVRA DA VÍTIMA DE ESPECIAL RELEVÂNCIA. MANUTENÇÃO DA 
CONDENAÇÃO. SENTENÇA HÍGIDA. PRELIMINARES: Correta a 
decretação de revelia do réu, pois em consonância absoluta com o art. 367 
do Código de processo penal, considerando que o acusado modificou de 
endereço sem comunicar o juízo. Outrossim, considerando que cumprido o 
disposto no art. 254 do CPC/2015, não há como acolher o pedido de 
nulidade da citação por hora certa, mormente porque inexiste exigência 
legal de comprovação do recebimento da carta AR pelo destinatário. 
Preliminares rejeitadas. MÉRITO: Não há que se falar em insuficiência 
probatória, porquanto devidamente comprovadas a materialidade e a autoria 
do delito por meio de boletim de ocorrência e da prova oral coligida, de onde 
se pode inferir que o denunciado praticou vias de fato e ameaças a sua 
companheira. Ressalte-se que, em delitos relativos à Lei Maria da Penha, a 
palavra da ofendida assume especial relevância probatória, sendo 
suficiente, se coerente, para ensejar condenação. APENAMENTO: O art. 
147, do Código Penal, e o art. 21, do Decreto Lei nº. 3.688/41, não prevêem 
o cometimento dos crimes no âmbito doméstico, razão pela qual a 
incidência da...agravante do art. 61, II, f, do CP, nestes casos não implica 
bis in idem. Agravante mantida. À UNANIMIDADE, REJEITARAM AS 
PRELIMINARES E NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO 
DEFENSIVO. (Apelação Crime Nº. 70078866035, Segunda Câmara 
Criminal, Tribunal de Justica do RS, Relator: Rosaura Marques Borba, 
julgado em 18/12/2018). Encontrado em: Segunda Câmara Criminal Diário 
da Justiça do dia 25/01/2019 – 25/1/2019 Apelação Crime ACR 
70078866035.(Grifo do autor) 
 
 
 Conforme verificado no acórdão da jurisprudência acima, houve sentença de 
julgamento procedente a reivindicação punitiva visando a condenação do réu, 
conforme os artigos abaixo, pertinentes ao Código de Processo Penal: 
 
38 
 
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: 
[...] 
§ 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, 
cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, 
ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação 
ou de hospitalidade. 
[...] 
Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro 
meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave. 
(BRASIL, 1940). 
 
 Percebe-se que prevaleceu o fato da relação doméstica, de coabitação e 
assim houve a ocorrência da Lei Maria da Penha. 
 
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. LEI Nº. 11.340/06. MATERIALIDADE E 
AUTORIA COMPROVADAS. CONDENAÇÃO MANTIDA. 
IMPOSSIBILIDADE DE AFASTAMENTO DA AGRAVANTE. APENAMENTO 
RATIFICADO. 1. Comprovada a existência do fato e recaindo a autoria 
sobre a pessoa do acusado, descabe aventar fragilidade probatória para 
fins condenatórios. Nos crimes praticados no âmbito doméstico, a palavra 
da vítima assume especial relevância. Na espécie, o relato da ofendida 
veio corroborado pelos demais depoimentos colhidos em juízo. Precedentes 
desta Corte. 2. Pena-base mantida em 20 dias de prisão simples, diante da 
valoração negativa da vetorial motivos. Na segunda fase, confirmada a 
agravante prevista no art. 61, inc. II, f, do Código penal, bem como o 
aumento da pena em 10 dias. Pena definitiva ratificada em 30 dias de prisão 
simples. Regime aberto mantido. Inviável a s substituição da pena privativa 
de liberdade por pena restritiva de direitos, nos termos do art. 44 do Código 
Penal e da Súmula 588 do STJ. Mantida a suspensão condicional da pena, 
nos termos do art. 77 do Código penal. Mantida as demais disposições 
sentenciais. RECURSO DEFENSIVO DESPROVIDO. (Apelação Crime Nº. 
70079282851, Quinta Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS,... 
Relator: Lizete Andreis Sebben, Julgado em 30/01/2019). 
 
 
 A materialidade e a autoria delitiva são comprovadas através do relato e 
prova oral da vítima havendo substrato suficiente para a condenação do réu. 
 
APELAÇÃO CRIME. CRIMES CONTRA A PESSOA. LESÃO CORPORAL. 
VIOLENCIA DOMÉSTICA. AUTORIA E MATERIALIDADE 
COMPROVADAS. SUFICIENCIA PROBATÓRIA. PALAVRA DA VÍTIMA. 
REDIMENSIONAMENTO DA PENA. NÃO ACOLHIMENTO. REFORMA DO 
SURSIS. Nos crimes de violência doméstica, a palavra da vítima configura 
meio de prova extremamente relevante para formar a convicção do julgador, 
pois esses delitos geralmente são praticados sem a presença de 
testemunhas, ou seja, na clandestinidade, prevalecendo-se o agressor da 
condição de vulnerabilidade da ofendida. A magistrada a quo valorou 
negativamente a circunstancia judicial referente às circunstancias do crime, 
fundamentado que a vitima fora agredida com o filho no colo, tendo esta 
urinado nas calças em decorrência da agressão. O meu entendimento vai 
ao encontro da compreensão da magistrada, pois o acusado, visto que a 
ofendida estava com o filho do casal em seus braços, deveria ter agido de 
maneira diversa, já que poderia, também, ter lesionado o bebê. A fim de 
evitar a cumulação, o acusado deverá: no primeiro ano do prazo, prestar 
39 
 
120 horas de serviço à comunidade, a serem cumpridas na forma do art. 46 
do Código Penal; no segundo ano do prazo, comparecer pessoalmente, de 
dois em dois meses, em juízo, para informar e justificar suas 
atividades,...participar de uma reunião/palestra do juizado da Violência 
Doméstica da Comarca de São Leopoldo, durante o período de prova, pelo 
mínimo uma vez. Apelo parcialmente provido. (Apelação Crime Nº 
70078293024, Primeira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, 
Relator: Manuel José Martinez Lucas, Julgado em 05/09/2018). 
 
 As decisões desencadeadas pelas Cortes Superiores demonstram claramente 
que a condenação baseada pura e simplesmente considerando a palavra da vitima é 
uma realidade nos casos que envolvem a violência doméstica e familiar contra as 
mulheres na realidade atual do Brasil. 
 
 
PALAVRA DA VÍTIMA DE ESPECIAL RELEVÂNCIA. MANUTENÇÃO DA 
CONDENAÇÃO. SENTENÇA HÍGIDA. MÉRITO: Não há que se falar em 
insuficiência probatória a ensejar a condenação, pois a materialidade e a 
autoria do delito de lesão corporal restaram comprovadas pelos incoerentes 
relatos da vítima, corroborados pela ocorrência policial e laudo pericial. Em 
se tratando de fatos relativos à Lei Maria da Penha, a palavra da ofendida 
assume especial relevância probatória, principalmente quando confortada 
pelo auto exame de corpo de delito, sendo suficiente, se coerente, para 
ensejar condenação. SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE 
LIBERDADE POR RESTRITIVA DE DIREITOS: Inviável a substituição da 
pena privativa de liberdade por restritivas de direitos, porquanto não 
preenchidos os requisitos do art. 44, do CP. Vencido o Des. Victor Luiz 
Barcellos Lima que o provia no ponto. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À 
COMUNIDADE: Não cabe ao réu escolher as condições do sursis que mais 
lhe convém, não se verificando no caso inadequação das determinações 
impostas, razão pela qual entendo pela manutenção da prestação de 
serviços à comunidade como condição de suspensão condicional da pena, 
pois adequada ao caso em tela... POR MAIORIA, NEGARAM 
PROVIMENTO AO RECURSO DEFENSIVO. (Apelação Crime Nº. 
70078825395, Segunda Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, 
Relator: Rosaura Marques Borba, Julgado em 11/10/2018). Encontrado em> 
Segunda Câmara Criminal Diário da Justiça do dia 09/11/2018 – 9/11/2018 
Apelação Crime ACR 70078825395. 
 
 
 A suficiência probatória encontra-se baseada no Boletim de Ocorrências e 
Laudo Pericial juntamente com a palavra da vítima em juízo condiz para o ensejo da 
condenação do acusado. 
 
 
PALAVRA DAS VÍTIMAS. PROVA SUFICIENTE. A palavra das vítimas 
“possui especial relevância”, como admite a defesa (fl. 169), especialmente 
em se tratando de crimes cometidos no âmbito doméstico, contra duas 
mulheres (companheira e sogra), ambas descrevendo com minúcias e sem 
contradições o ocorrido, sob pena de inviabilizar a punição do agressor. 
PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE.1) Básica mantida nos patamares 
estabelecidos na sentença, ante as particularidades do caso. 2) Tendo em 
40 
 
vista que o réu é reincidente específico nos dois crimes praticados, 
adequado o aumento da multa não tem amparo legal. Porem, é reduzida ao 
patamar mínimo previsto em lei. Apelação parcialmente provida. (Apelação 
Crime Nº. 70076411370, Sétima Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do 
RS, Relator: Jucelana Lurdes Pereira dos Santos, Julgado em 28/03/2018). 
 
 
 
 As decisões acarretadas pelas Cortes Superiores evidenciam que a 
condenação baseada unicamente na palavra da vítima é fato real nos episódios de 
violência doméstica e familiar contra as mulheres na atualidade brasileira. E essa 
abordagem já foi mais assídua a respeito da valoração dessa palavra, mas com o 
passar dos tempos, a jurisprudência se impôs acerca da hipótese de acolher a 
palavra da vítima como prova substancial para a condenação do acusado, por outro 
lado, em posição contrária, ainda se encontra parte minoritária da doutrina, mas 
considerada menos significativa, e autores dessa doutrina alegam que o 
posicionamento ideal a respeito do tema é aquele que incide num maior 
questionamento à palavra da vítima, propondo com isso, o mínimo de provas 
passíveis de sustentá-la, conforme discorre Aranha (2012, p. 141): 
 
A situação psicológica da vítima no processo é bem paradoxal: de um lado, 
está capacitada mais do que qualquer outra de reproduzir a verdade, e, do 
outro, a sua vontade não pode ser considerada como isenta de fatores 
emocionais. Em primeiro lugar, por ter suportado a ação [...] estaria a tal 
ponto desperta que possibilitaria uma reprodução fiel do ocorrido, inclusive 
minúcias e detalhes. Contudo, sua vontade fatalmente estaria atingida, 
possuída de indignação ou dor, a ponto de ser impossível uma total 
isenção. Não se pode encontrar uma vítima despida totalmente de 
sentimentos, com tal frieza emocional que seja possível falar-se em 
imparcialidade. Além do mais, não podemos esquecer que não são raros os 
casos de pseudo vítimas, criadas por uma imaginação traumatizada [...] 
 
 
 Conforme as colocações do doutrinador Aranha (2012) é praxe afirmar que a 
palavra da vítima, por mais insignificante, conterá sempre uma forte argumentação 
emocional em si, porém, questiona-se se a possibilidade de uma condenação 
baseada meramente na palavra da vitima pode ser absoluta e, ao analisar tal 
proposição é incontestável a estabilidade de casos de pseudo vítimas ou vitimas 
provocadoras no universo da Lei Maria da Penha, demonstrando dessa maneira 
para os autores participantes dessa corrente minoritária a inviabilidade de 
condenação baseada e sustentada somente na palavra da vítima, e, conforme 
41 
 
aborda Greco (2010, p. 473) são comuns os casos de réus sendo acusado de forma 
injusta, bem como vítimas que deveriam estar no banco dos réus: 
 
Quem tem alguma experiência na área penal percebe que, em muitas 
situações, a suposta vítima é quem deveria estar ocupando o banco dos 
réus, e não o agente acusado de estupro. Mediante a chamada síndrome da 
mulher de Potifar, o julgador deverá ter a sensibilidade necessária para 
apurar se os fatos relatados pela vítima são verdadeiros, ou seja, comprovar 
a verossimilhança de sua palavra, haja vista que contradiz com a negativa 
do agente. A falta de credibilidade da vítima poderá, portanto, conduzir 
absolvição do acusado, ao passo que a verossimilhança de suas palavras 
será decisiva para um decreto condenatório. 
 
 
 É cabível comentar a importante postura dos julgadores sensíveis perante a 
realidade dos casos, sabendo-se que a permissividade junto às Cortes acarreta o 
fato de julgadores recepcionarem a palavra da vitima como a única prova para 
condenações sem esta ao menos interagir com as versões colhidas das partes 
envolvidas e muitas vezes percebe-se a discriminação perante o réu frente 
simplesmente a sua posição processual, descartando a versão apresentada pelo 
mesmo. 
 Conforme Nucci (2011) mesmo que isolada e sem a presença de 
testemunhas afins de conformações, a palavra da vítima, desde que harmoniosa 
com as demais circunstâncias obtidas durante a instrução, pode sim dar suporte á 
condenação do réu. 
 Para o autor Pedroso (1994) as declarações da vítima oferecerão 
credibilidade na convicção da verdade quando tais declarações forem racionais e 
lógicas ao ser ponderado o recato e a honestidade da referida vitima. 
 No âmbito de violência doméstica e familiar, a palavra da vitima deve ser 
levada em consideração, permitindo até ser prova fundamental no intuito do 
encaminhamento do processo ao rumo desejado, mas, no instante em que as Cortes 
Superiores perceberam que somente a palavra da vítima, mesmo que, possibilite 
efetivar decretos condenatórios, obtiveram valor demasiado a essa palavra, abrindo 
um precedente para maiores desvios dos propósitos da Lei 11.340/06, e o correto é 
que a Lei teve o intuito de proporcionar benefícios a um designado gênero da 
sociedade, propondo igualar uma desigualdade e, como tais benefícios muitas vezes 
são exarcebados, isso possibilita um mau uso da Lei, o que comumente é repudiado 
pelo Direito Penal. 
42 
 
 É fato que a jurisprudência e grande parte da doutrina são a favor de uma 
maior valoração da palavra da vítima em crimes que envolvem violência doméstica e 
familiar, por serem crimes peculiares e normalmente anônimos, mas mesmo que 
minoritários, alguns posicionamentos não devem ser ignorados, visto que, acreditam 
que a palavra do ofendido carece de uma carga valorativa maior relacionando-se 
com as demais provas, e isto acarreta o questionamento de que os casos devem sim 
serem analisados com um maior critério para que não se cometam injustiças perante 
uma verdade real. 
43 
 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 
O presente trabalho monográfico abordou um problema atual, social e de 
saúde pública, que é a violência doméstica e familiar exercida contra a mulher, 
percebendo-se que essa forma de violência é desencadeada por uma ação ou 
omissão do sujeito ativo, este sujeito tanto pertinente ao sexo masculino como do 
feminino, contra o sujeito passivo, que comumente trata-se do sexo feminino. 
Percebeu-se que para a forma desses delitos, que independem de local, 
podem configurar tanto nos espaços públicos como também nos espaços privativos, 
é a de que mais comumente ocorram nos ambientes domésticos e familiares ou até 
mesmo em função de alguma relação afetiva entre os envolvidos, onde o agressor 
tenha laços de convivência ou não mais com a vítima, percebendo-se assim que a 
discriminação enfrentadas pelas mulheres, normalmente, provém de um cunho 
cultural, pois estas sempre foram tratadas com desigualdade em relação aos 
homens, consideradas e vistas como um sexo frágil. 
No decorrer dos tempos, muitas foram as lutas pelos direitos das mulheres na 
busca de uma vida carente de violência, isso, com o intuito de transformar e mudar 
essa triste realidade, e esses fatos desencadearam o incentivo por discussões 
acerca do tema no Brasil, e, frente a tamanha pressão e indignação, veio a resultar 
no advento da Lei Maria da Penha, atendendo a indignação contra a impunidade nos 
casos de violência doméstica e familiar exercida contra a mulher, compreendendo-se 
que essa prática necessita da adoção de procedimentos legais por parte das 
autoridades. 
Na elaboração da Lei Maria da Penha, houve a contingente preocupação e 
principalmente, punir àqueles homens que aplicavam a violência doméstica 
acreditando ainda viverem numa sociedade patriarcal, machista e discriminador, 
onde não existiam os direitos concedidos às mulheres, daí percebe-se que esta lei 
veio a lograr êxito, pois veio oferecer varias formas preventivas de ocorrência de 
violência doméstica, ressaltando-se que a lei trouxe uma visibilidade no intuído de 
erradicar a violência domestica e familiar praticada contra a mulher.

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